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GERAIS BELÉM, DOMINGO, 16 DE MARÇO DE 2014 VIGILÂNCIA ON-LINE É s pais modernos de Belém e Ananindeua ganham mais um aliado para ajudar a cui- dar de seus bebês. Existe na cidade uma creche que há pouco tempo oferece sistema on-line, que per- mite o acompanhamento e moni- toramento do cotidiano da criança, por celular ou pelo computador, enquanto seus pais realizam ou- tras atividades. Essa nova tendên- cia que surge de cuidados com as crianças, além da maior exigência no cumprimento da lei das domés- ticas na sociedade brasileira, são as principais razões que fazem com que alguns pais optem em deixar seus filhos nesse espaço. “Quando terminou minha li- cença maternidade as opções que tínhamos eram babá ou creche. Analisamos que a creche por, ter horário fixo, seria mais viável, e não teria problema com atraso de horário constante de babá. Além disso, como em casa vivem a Alice, meu marido e eu, a bebê ficaria em casa somente com a babá, e lá não temos sistema de monitoramento. Diferente da creche, porque pode- mos acompanhar pelo vídeo tudo o que acontece com ela. Além disso, a Alice tem sua agenda preenchida, as pessoas são profissionais e se- guem uma rotina mais elaborada. Além do mais, o pagamento é bom, porque hoje os serviços domésti- cos ficaram mais caros devido às leis trabalhistas e fica mais custoso ter uma babá em casa para cuidar de uma criança somente”, afirma Adriana Rodrigues, administrado- ra pública, 41 anos, que há um mês passou a levar sua filha, Alice Maria Rodrigues Callif, que tem nove me- ses de idade, para a creche. Na opinião da administradora pública, a utilização do serviço on- line a deixa mais tranquila enquan- to está no trabalho. “Sinto-me me- lhor com a garantia do sistema. Hoje a tecnologia oferece para a gente essa facilidade para criar dos filhos e auxilia bastante. Meu esposo, mi- nha mãe e eu já instalamos o siste- ma nos celulares e computadores, e sempre olhamos para ver como ela está. Eu não fico o tempo todo on- line porque tenho que trabalhar, mas mantenho ainda um hábito meio tradicional e sempre dou uma ligadinha para a creche para saber notícias. Outro fator positivo, é que, a partir da creche, Alice convive mais com outras crianças e quan- do chegamos em casa ela começa a fazer testes de ações que antes não fazia. A sociabilidade tem ajudado bastante no desenvolvimento dela. Quando ela não sai de casa para ir para a creche já estranha”, conta a mãe da pequena Alice, que fica na creche das 7h às 15h. Em agosto de 2013, aos dois anos de idade, logo após uma viagem de visita aos seus avós em outro esta- do, os pais de logo Diogo Paes Eri- ceira decidiram colocá-lo em uma creche para manter a socialização do menino, porque quando voltou para casa mudou seu comporta- mento. “Ela passou a ficar triste, não comia direito, ficava muito sozinho com a babá, que era óti- ma, mas não o suficiente para ele. Fizemos várias buscas na internet e encontramos uma creche com serviço on-line que nos atraiu e encantou meu filho. Confesso que senti um pouco de resistência, mas o pai dele gostava da ideia da interação, da socialização com outras crianças, e também o cuidado era realmente encontrar um lugar que pudesse dar o apoio necessário para o aprendiza- do do meu filho”, relata a mãe de Dio- go, a relações públicas Amália Paes, 31 anos, que mora em Ananindeua, e acompanha direto o dia a dia do filho na creche, pela internet. Para ela, a tecnologia ajuda no monitoramento do menino e considera importante, princi- palmente, para quem fica o dia inteiro no trabalho. “A vantagem de acompanhar meu filho pela internet é porque nos deixa (meu esposo e eu) um pouco menos SISTEMA FACILITA VIDA DE PAIS, QUE FICAM VENDO FILHOS PELA INTERNET O preocupado, pois eu vejo o que ele está fazendo. A desvantagem é quando cai o acesso, mas ligo para creche, peço que envie fotos das atividades, acompanho pela Fan Page da creche no Facebook, enfim, me viro para saber como está o meu filho”, diz. “Com a vida corrida, ter que trabalhar distante de casa, deixá-lo na creche e com profissionais capacitados facili- tou bastante nossa vida. Quando chega a hora de buscá-lo vamos juntos. Sempre pergunto como foi o dia do Diogo às professoras e em casa perguntamos como foi o dia dele na escolinha. Além dis- so, sempre cantamos, pulamos e brincamos para corremos atrás do dia que não passamos juntos. Acredito, sim, que a tecnologia ajuda nesse acompanhamento, principalmente para quem fica o dia inteiro no trabalho, mas é preciso dosar o uso, se não fica distante do cuidado pessoal e da participação dos pais na vida real dos filhos”, completa Amália. O pequeno Diogo permanece na creche em tempo integral, das 7h às 18h. O investimento feito pe- los seus pais é de R$ 700,00 ao mês. “Acho que vale a pena, pois o desen- volvimento dele está cada vez mais acelerado, a fala está mais desen- volvida, come sozinho, as brinca- deiras são bem mais participativa, enfim, percebemos, sim, um de- senvolvimento bem interessante e as atividades ajudam a garantir uma rotina para ele”, finaliza a rela- ções públicas. n Equipe multidisciplinar e as crianças atendidas na creche. Pais “vigiam” tudo pelo computador. ARY SOUZA/AMAZÔNIA CLEIDE MAGALHÃES Da Redação IDEIA FOI COPIADA DO SUL DO PAÍS, ONDE OS ESPAÇOS SÃO COMUNS A proprietária da creche em Belém, localizada no bairro do Marco, Ana Clícia de Souza, gra- duada em serviço social, conta que a ideia de trazer a novidade para a cidade surgiu da necessi- dade de oferecer esse tipo de ser- viço, das experiências que teve na atuação como orientadora educacional, na área da infância e adolescência e como mãe de qua- tro filhos. “Trabalhei na Vara de Justiça da Infância e Adolescência e trabalhei em escolas públicas, onde pude observar que tinham muitas crianças pequenas que precisavam de babá e a necessi- dade desse mercado em Belém. Como mãe vi que não havia lu- gar apropriado para deixar meus filhos. Viajei para o sul do País e verifiquei que praticamente em cada esquina há uma creche. A ideia surgiu, então, dessa neces- sidade. Há mais de 10 anos, abri a primeira creche também no Mar- co, que atende crianças a partir de dois anos de idade. Em decorrên- cia disso, vi que havia um público com crianças menores que pro- curavam espaço para seus filhos, porque não queriam deixar com babá. A partir dessa demanda, re- solvi criar mais um espaço e dessa vez para atender crianças de três meses até dois anos”, explica Ana. Segundo a proprietária da cre- che, o sistema online traz duas for- mas de os pais o acessarem: pelo celular e computador. Para evitar crimes contra a criança pela inter- net, a creche busca garantir a segu- rança das imagens com a criação de senha, que é diversificada com frequência. “A senha é repassada para os pais, que instalam o sis- tema nos seus equipamentos. Há pais que passam para pessoas da família. Sempre alteramos a senha para evitar qualquer tipo de crime, principalmente o da pedofilia”.

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BELÉM, doMingo, 16 dE Março dE 2014

vigilância on-line é s pais modernos de Belém e Ananindeua ganham mais um aliado para ajudar a cui-

dar de seus bebês. Existe na cidade uma creche que há pouco tempo oferece sistema on-line, que per-mite o acompanhamento e moni-toramento do cotidiano da criança, por celular ou pelo computador, enquanto seus pais realizam ou-tras atividades. Essa nova tendên-cia que surge de cuidados com as crianças, além da maior exigência no cumprimento da lei das domés-ticas na sociedade brasileira, são as principais razões que fazem com que alguns pais optem em deixar seus filhos nesse espaço.

“Quando terminou minha li-cença maternidade as opções que tínhamos eram babá ou creche. Analisamos que a creche por, ter horário fixo, seria mais viável, e não teria problema com atraso de horário constante de babá. Além disso, como em casa vivem a Alice, meu marido e eu, a bebê ficaria em casa somente com a babá, e lá não temos sistema de monitoramento. Diferente da creche, porque pode-mos acompanhar pelo vídeo tudo o que acontece com ela. Além disso, a Alice tem sua agenda preenchida, as pessoas são profissionais e se-guem uma rotina mais elaborada. Além do mais, o pagamento é bom, porque hoje os serviços domésti-cos ficaram mais caros devido às leis trabalhistas e fica mais custoso ter uma babá em casa para cuidar de uma criança somente”, afirma Adriana Rodrigues, administrado-ra pública, 41 anos, que há um mês passou a levar sua filha, Alice Maria Rodrigues Callif, que tem nove me-ses de idade, para a creche.

Na opinião da administradora pública, a utilização do serviço on-line a deixa mais tranquila enquan-to está no trabalho. “Sinto-me me-lhor com a garantia do sistema. Hoje a tecnologia oferece para a gente essa facilidade para criar dos filhos

e auxilia bastante. Meu esposo, mi-nha mãe e eu já instalamos o siste-ma nos celulares e computadores, e sempre olhamos para ver como ela está. Eu não fico o tempo todo on-line porque tenho que trabalhar, mas mantenho ainda um hábito meio tradicional e sempre dou uma ligadinha para a creche para saber notícias. Outro fator positivo, é que, a partir da creche, Alice convive mais com outras crianças e quan-do chegamos em casa ela começa a fazer testes de ações que antes não fazia. A sociabilidade tem ajudado bastante no desenvolvimento dela. Quando ela não sai de casa para ir para a creche já estranha”, conta a mãe da pequena Alice, que fica na creche das 7h às 15h.

Em agosto de 2013, aos dois anos de idade, logo após uma viagem de visita aos seus avós em outro esta-do, os pais de logo Diogo Paes Eri-ceira decidiram colocá-lo em uma creche para manter a socialização do menino, porque quando voltou para casa mudou seu comporta-mento. “Ela passou a ficar triste, não comia direito, ficava muito sozinho com a babá, que era óti-ma, mas não o suficiente para ele. Fizemos várias buscas na internet e encontramos uma creche com serviço on-line que nos atraiu e encantou meu filho. Confesso que senti um pouco de resistência, mas o pai dele gostava da ideia da interação, da socialização com outras crianças, e também o cuidado era realmente encontrar um lugar que pudesse dar o apoio necessário para o aprendiza-do do meu filho”, relata a mãe de Dio-go, a relações públicas Amália Paes, 31 anos, que mora em Ananindeua, e acompanha direto o dia a dia do filho na creche, pela internet.

Para ela, a tecnologia ajuda no monitoramento do menino e considera importante, princi-palmente, para quem fica o dia inteiro no trabalho. “A vantagem de acompanhar meu filho pela internet é porque nos deixa (meu esposo e eu) um pouco menos

sistema facilita vida de pais, que ficam vendo filhos pela internet

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preocupado, pois eu vejo o que ele está fazendo. A desvantagem é quando cai o acesso, mas ligo para creche, peço que envie fotos das atividades, acompanho pela Fan Page da creche no Facebook, enfim, me viro para saber como está o meu filho”, diz. “Com a vida corrida, ter que trabalhar distante de casa, deixá-lo na creche e com profissionais capacitados facili-tou bastante nossa vida. Quando chega a hora de buscá-lo vamos juntos. Sempre pergunto como

foi o dia do Diogo às professoras e em casa perguntamos como foi o dia dele na escolinha. Além dis-so, sempre cantamos, pulamos e brincamos para corremos atrás do dia que não passamos juntos. Acredito, sim, que a tecnologia ajuda nesse acompanhamento, principalmente para quem fica o dia inteiro no trabalho, mas é preciso dosar o uso, se não fica distante do cuidado pessoal e da participação dos pais na vida real dos filhos”, completa Amália.

O pequeno Diogo permanece na creche em tempo integral, das 7h às 18h. O investimento feito pe-los seus pais é de R$ 700,00 ao mês. “Acho que vale a pena, pois o desen-volvimento dele está cada vez mais acelerado, a fala está mais desen-volvida, come sozinho, as brinca-deiras são bem mais participativa, enfim, percebemos, sim, um de-senvolvimento bem interessante e as atividades ajudam a garantir uma rotina para ele”, finaliza a rela-ções públicas.

n Equipe multidisciplinar e as crianças atendidas na creche. Pais “vigiam” tudo pelo computador.

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CLEIDE MAGALHÃESDa Redação

ideia foi copiada do sul do país, onde os espaços são comuns A proprietária da creche em

Belém, localizada no bairro do Marco, Ana Clícia de Souza, gra-duada em serviço social, conta que a ideia de trazer a novidade para a cidade surgiu da necessi-dade de oferecer esse tipo de ser-viço, das experiências que teve na atuação como orientadora educacional, na área da infância e adolescência e como mãe de qua-tro filhos. “Trabalhei na Vara de Justiça da Infância e Adolescência e trabalhei em escolas públicas, onde pude observar que tinham muitas crianças pequenas que precisavam de babá e a necessi-

dade desse mercado em Belém. Como mãe vi que não havia lu-gar apropriado para deixar meus filhos. Viajei para o sul do País e verifiquei que praticamente em cada esquina há uma creche. A ideia surgiu, então, dessa neces-sidade. Há mais de 10 anos, abri a primeira creche também no Mar-co, que atende crianças a partir de dois anos de idade. Em decorrên-cia disso, vi que havia um público com crianças menores que pro-curavam espaço para seus filhos, porque não queriam deixar com babá. A partir dessa demanda, re-solvi criar mais um espaço e dessa

vez para atender crianças de três meses até dois anos”, explica Ana.

Segundo a proprietária da cre-che, o sistema online traz duas for-mas de os pais o acessarem: pelo celular e computador. Para evitar crimes contra a criança pela inter-net, a creche busca garantir a segu-rança das imagens com a criação de senha, que é diversificada com frequência. “A senha é repassada para os pais, que instalam o sis-tema nos seus equipamentos. Há pais que passam para pessoas da família. Sempre alteramos a senha para evitar qualquer tipo de crime, principalmente o da pedofilia”.

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novidade em crecheEm todo o prédio há 12 câme-

ras todas com imagens disponíveis para os pais. No espaço superior há o espaço baby 1, que conta com crianças de três meses a um ano de idade e o baby 2, a partir de um ano até dois. No andar debaixo ficam as turmas de maternal 1, maternal 2 e jardim 1, que variam entre um até quatro anos de idade. Funciona de segunda a sexta, das 7h às 18h15. No mês de julho as atividades são normais.

“Hoje já contamos com 50 crianças. Fora as demandas que estão chegando. Há muitas mães procurando pela creche por conta, principalmente, da exigência da lei das domésticas. Aqui, dividimos as atividades pedagógicas, que são planejadas e dirigidas por faixa etá-ria. Em geral, envolvem brincadei-ras, colagem, pintura, músicas, lei-tura, escrita, trabalhamos também a questão afetiva, porque a criança que tem boa maturidade afetiva será um adulto mais equilibrado. As crianças tem horário das ativi-dades, de descanso, de limpeza, de alimentação, enfim, todos os cui-dados para que tenham bom de-senvolvimento cognitivo”, diz Ana.

Alguns diferenciais da creche é que os pais formam a carga horária que mais lhe convém, pois é flexível, mas consta em um contrato assina-do, porque para cada criança é feito um planejamento de atividades. Além disso, a creche oferece um ou dois dias para as mães conhecerem os serviços sem ter que pagar. Os va-lores são de acordo com a carga ho-rária contratada e variam de três ho-ras e meia até onze horas de tempo na creche. O investimento mínimo é R$ 434,60 e o máximo R$ 926,64.

“A escolha de uma creche é

sempre um momento difícil para os pais, porque é algo novo, mas aqui todos são acolhidos. A gente não deixa a mãe ficar angustiada, procuramos sempre conversar. Mas nada substitui a atenção dos pais. Por isso, sempre orientamos que quando eles voltarem para casa, deem atenção necessária aos seus filhos, porque as crianças já têm todo um ritmo e na hora de ir embora estão esperando os pais, e estes precisam suprir a falta que fazem para os pequenos durante o dia”, observa Ana de Souza.

doze câmeras monitoram movimentos de bebês e profissionaisO psicólogo Caetano Diniz, mes-

tre em Psicologia Social pela Uni-versidade Federal do Pará (UFPA) e professor da Universidade do Es-tado do Pará (Uepa), explica que o ideal é que pelo menos até os cinco anos de idade as crianças tenham maior contato possível com os pais e familiares, porque os primeiros cinco anos de vida são importantes para o fundamento da personali-dade do ser humano. “Quanto mais tempo as crianças estiverem com os pais, mais elas vão absorver as qualidades que os pais querem que elas absorvam”.

Porém, diante da impossibilida-de de os pais estarem o tempo todo com as crianças e recorrerem às cre-ches, eles precisam ter certos cui-dados. “Um deles está relacionado à influência que a criança vai sofrer nos primeiros anos de vida, quais são as outras personalidades que não são os pais que passam a convi-ver com a criança. Aí a importância de conhecer o espaço em que o fi-lho vai ficar e se fazerem presentes também nos outros momentos da vida da criança. Isso pode compen-sar essas horas e reduzir os efeitos negativos de estarem distantes em

um momento tão importante da vida dos pequenos”, orienta Diniz, que também atua como psicólogo clínico em uma Unidade Básica de Saúde, que atende pelo Sistema Único de Saúde.

Entretanto, Diniz destaca que o lado positivo das creches é que es-tas oferecem maior socialização às crianças. “Lá elas convivem com regras, com outras autoridades que não são somente os pais e se socia-lizarem com seus pares. Quando mais atividades construtivas e rela-cionadas à socialização das crian-ças com certeza trará melhores benefícios a elas”.

Ao final, o psicólogo se mostra favorável à nova tendência que sur-ge de cuidados com as crianças nas creches. “É mais uma forma de os pais saberem o que acontece com seus filhos, principalmente diante de vários fatos que ocorrem hoje de violência contra a criança. Além disso, outro ponto positivo é porque a própria creche também sabe que está sendo monitorada e, assim, vai ter maior preocupação de garantir atendimento de qualidade É im-portante essa ferramenta”, afirma o psicólogo Caetano Diniz.

psicólogo diz que família precisa avaliar

n Casal Ana Carolina e Rafael Pacheco tem o filho Tito na creche

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