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36 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu a cobertura vegetal de forma preocupante. As fotos aéreas do projeto FAB/SUDENE (GERAN-1970) e do projeto FIDEM (1983), provenientes do aero-levantamento do 1º/6º GAV da Base Aérea do Recife, vem comprovar que a área do entorno da reserva, na década de 70, apresentava cobertura vegetal quase contígua. As fotos da década de 80 demonstravam que a UC estando inserida em área insularizada e quase nenhuma ocorrência de vegetação nativa no entorno tendo conseguido manter parcialmente sua integridade. Porém, preocupa atualmente o avanço dos cultivos sobre as matas e quanto ainda será derrubado pelos agricultores. Talvez a área não suporte mais 10 anos de pressão antrópica. Foram identificadas duas unidades de conservação próximas a Gurjaú. A Reserva Ecológica da Mata do Contra Açude, pertencente a duas propriedades privadas, localizadas a Nordeste da Usina Bom Jesus, no município do Cabo de Santo Agostinho, com 114,56 hectares, defendida pela mesma Lei Estadual que criou Gurjaú (Nº 9989 de 1987). A área apresentava-se, em 1988, em bom estado de Conservação, com monocultura da cana-de-açúcar no entorno (PERNAMBUCO, 2001:32). E Reserva Ecológica da Mata do Bom Jardim, inserida em única propriedade privada próxima ao Engenho Monte, localizada no mesmo município, com 245,28 hectares definida pela mesma lei estadual. Apresentava-se, em 1988, sem alteração, com monocultura de cana-de-açúcar no entorno (PERNAMBUCO, 2001:33). Essas Unidades de Conservação e áreas protegidas que foram criadas e não pertenciam às categorias previstas no SNUC, serão reavaliadas no prazo de até dois anos (SNUC, 2000:29). As atividades desenvolvidas em toda a bacia do Gurjaú interferem direta ou indiretamente na dinâmica do manancial hídrico. As massas de água não são sistemas fechados; antes precisam ser consideradas como parte de maiores bacias de drenagem ou sistemas hidrográficos (ODUM, 1983:122). Os principais problemas que afetam os mananciais hídricos são decorrentes do manejo inadequado do solo e também da utilização incorreta de agrotóxicos,

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4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo

Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu a cobertura

vegetal de forma preocupante. As fotos aéreas do projeto FAB/SUDENE

(GERAN-1970) e do projeto FIDEM (1983), provenientes do aero-levantamento

do 1º/6º GAV da Base Aérea do Recife, vem comprovar que a área do entorno

da reserva, na década de 70, apresentava cobertura vegetal quase contígua.

As fotos da década de 80 demonstravam que a UC estando inserida em área

insularizada e quase nenhuma ocorrência de vegetação nativa no entorno

tendo conseguido manter parcialmente sua integridade. Porém, preocupa

atualmente o avanço dos cultivos sobre as matas e quanto ainda será

derrubado pelos agricultores. Talvez a área não suporte mais 10 anos de

pressão antrópica.

Foram identificadas duas unidades de conservação próximas a Gurjaú. A

Reserva Ecológica da Mata do Contra Açude, pertencente a duas propriedades

privadas, localizadas a Nordeste da Usina Bom Jesus, no município do Cabo

de Santo Agostinho, com 114,56 hectares, defendida pela mesma Lei Estadual

que criou Gurjaú (Nº 9989 de 1987). A área apresentava-se, em 1988, em bom

estado de Conservação, com monocultura da cana-de-açúcar no entorno

(PERNAMBUCO, 2001:32). E Reserva Ecológica da Mata do Bom Jardim,

inserida em única propriedade privada próxima ao Engenho Monte, localizada

no mesmo município, com 245,28 hectares definida pela mesma lei estadual.

Apresentava-se, em 1988, sem alteração, com monocultura de cana-de-açúcar

no entorno (PERNAMBUCO, 2001:33). Essas Unidades de Conservação e

áreas protegidas que foram criadas e não pertenciam às categorias previstas

no SNUC, serão reavaliadas no prazo de até dois anos (SNUC, 2000:29).

As atividades desenvolvidas em toda a bacia do Gurjaú interferem direta ou

indiretamente na dinâmica do manancial hídrico. As massas de água não são

sistemas fechados; antes precisam ser consideradas como parte de maiores

bacias de drenagem ou sistemas hidrográficos (ODUM, 1983:122). Os

principais problemas que afetam os mananciais hídricos são decorrentes do

manejo inadequado do solo e também da utilização incorreta de agrotóxicos,

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realizada por moradores que praticam agricultura de subsistência e cultivo de

cana de açúcar no entorno da reserva pela Usina Bom Jesus e seus engenhos.

Essa atitude causa poluição, assoreamentos, contaminações dos cursos

d’água e margens dos açudes e rio.

Nos açudes de Gurjaú, Secupema e São Salvador observou-se margens

assoreadas e cultivadas com lavouras de subsistência.

O açude de Gurjaú foi construído sob o leito inundável do rio de mesmo nome,

localizado na porção Sul da Reserva, em terras do antigo Engenho São João.

As margens encontram-se bem protegidas, salvo em alguns pontos onde se

avista cultivo. No trecho do açude de Gurjaú pelo rio, até o Engenho São Bráz

observam-se alguns sítios de bananas (Musa sp), macaxeira (manihot sp), e

mamão (Carica sp), alternados, onde deveria estar a mata ciliar. Em alguns

“braços” do rio morto, incrustam-se sítios de bananeiras (Musa sp) dentro da

mata ciliar, competindo com pioneiras em regeneração, formando um disclímax

antropogênico. Esses sistemas de culturas não são estáveis da forma como

são gerenciados, pois estão sujeitos à erosão e lixiviação.

Nas margens do açude encontramos algumas gramíneas e vegetação aquática

no leito como: Eichhornia e Nymphaea. Não há moradores nessas localidades,

mas avistam-se cais para atracamento de barcos e jangadas.

O açude de Secupema apresenta características distintas: foi construído

posteriormente ao Açude de Gurjaú, sob o leito do Riacho São Salvador,

localizado na região central da reserva, em terras do antigo Engenho

Secupema. Em área de relevo ondulado, possui suas margens com algumas

encostas íngremes, por vezes desprovidas de vegetação ciliar.

Alguns moradores vivem no local há mais de 35 anos e relataram que o açude

era “limpo” periodicamente pela SANER (atual COMPESA). Há pelo menos dez

anos, eles roçavam até cinco metros da margem para fazer manutenção nos

açudes.

Hoje os moradores afirmam que “tem muito lixo no açude”, proveniente das

residências próximas. As pessoas não têm como se "livrar" do lixo então jogam

dentro do açude. Não há coleta de lixo nem saneamento básico, os dejetos

humanos são lançados diretamente ao ar livre, sujeito a lixiviamento. Os

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moradores confirmam que usam o açude para banhos, lavar roupas e

pescarias nas quais já capturaram: Traíra, Cará, Piaba, Gundelo e alguns já

viram Capivara.

Avistam-se nas margens locais de criação de Caprinos, Suínos, Eqüinos,

Patos, etc. e pontos de armadilhas para Capivara. As encostas desmatadas do

açude contrastam com a vegetação ciliar.

O açude de São Salvador foi construído sob o leito inundável do riacho de

mesmo nome, localizado na porção Norte da Reserva, em terras do antigo

Engenho São Salvador. É o açude com presença de maior ação antrópica

dentro da reserva. Sua lâmina d’água apresenta-se bastante reduzida. As

margens não se encontram protegidas, em toda a borda observa-se a prática

da cultura de subsistência, especialmente a macaxeira. Há vários pontos onde

são avistados cultivos de posseiros e moradores das margens usam bombas

para puxar água. Também se observam alguns sítios de bananas (Musa sp),

macaxeira (manihot sp), onde deveria estar a mata ciliar.

Da mata ciliar que margeava o açude, pouco resta. Na área que foi assoreada,

próxima ao açude, é fácil identificar processos de competição com capins,

espécies pioneiras como a embaúba (Cecropia sp.), formando um disclímax

antropogênico.

Numa das margens existe um córrego chamado Córrego do Abacaxi, que foi

parcialmente destituído de vegetação para cultivos diversos. Os moradores são

antigos, provavelmente, estão no local há cerca de 30 anos. Nos últimos

meses, foi intensificada a construção de moradias nas redondezas do açude e

em toda a Reserva.

Os posseiros visam a resultados econômicos a curto prazo e devastam as

florestas para plantio de cana-de-açúcar, por ser uma cultura de fácil

manutenção, ter mercado certo (a Usina Bom Jesus compra toda a produção),

e por utilizarem veículos da própria usina para escoar o produto. Os poucos

gêneros alimentícios produzidos pelos posseiros são levados de ônibus a feiras

livres de Jaboatão ou Cabo.

Há características que dão certo grau de homogeneidade à área estudada: a

pobreza, a falta de informação e os poucos recursos. Reproduzida nesses

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aspectos fica a situação geral da problemática ambiental, com todas as

dificuldades para encontrar soluções. Talvez apenas medidas de pequeno

alcance, quase paliativas, possam ser tomadas em nível regional ou local.

Sabe-se do desprestígio de certos órgãos de planejamento junto à

comunidade, seja das mais diferentes esferas. Levantamentos, Diagnósticos,

Relatórios, Recomendações, Planos e Projetos existem em quantidade, mas

faltam medidas concretas na solução dos problemas fundamentais.

A regularização do uso do solo implicaria no disciplinamento deste e

recuperação das áreas desflorestadas e matas ciliares prevendo a manutenção

dos açudes e nascentes. Porém a ausência desta faz da existência de

atividades agrícolas com expansão desenfreada e "loteamentos" de chácaras

um perigo para a manutenção do ecossistema.

4.2 Meio Biótico 4.2.1 Levantamento de anfíbios

Introdução

A Mata Atlântica tem papel de destaque entre os ecossistemas do mundo.

Apresenta alto número de espécies e elevado grau de endemismo. Todavia,

trata-se de um dos habitats mais ameaçados do planeta - razão pela qual foi

recentemente incluída na lista de hotspots globais (Myers et al. 2000). Ações

antrópicas, cuja implementação remonta aos idos de 1500, reduziram este

patrimônio biológico e genético a um conjunto de pequenos remanescentes

florestais (Fundação SOS Mata Atlântica 1992, Lima 1998). No Nordeste do

Brasil, os fragmentos que ainda restam da Mata Atlântica totalizam apenas

cerca de 3% de sua extensão original (Câmara 1992). Tal redução de áreas

florestadas representa um perigo iminente à fauna e flora brasileiras, em

especial às espécies endêmicas do Nordeste, podendo causar alterações na

abundância das populações naturais e eventualmente provocar a extinção de

espécies locais (Laurance e Bierregaard 1997).

Em cenários como o acima descrito, populações naturais de anfíbios merecem

especial atenção dada sua vulnerabilidade a mudanças ambientais. A maioria

das espécies de anfíbios (cujo nome vem do grego amphi = duas, bios = vida)

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possui dois modos de vida distintos: de seus ovos eclodem larvas aquáticas, ou

girinos, que se metamorfoseiam em jovens com modo de vida terrestre. A pele

permeável destes animais torna-os particularmente expostos a alterações

físicas e químicas da água, do solo, e do ar, fazendo deste grupo um excelente

bio-indicador. Adicionalmente, anfíbios constituem elementos-chave na cadeia

alimentar dos ecossistemas naturais (Stebbins e Cohen 1997, Pounds et al.

1999).

A despeito de sua importância ecológica e como patrimônio genético, pouco

sabemos sobre os anfíbios do Nordeste do Brasil (dos Santos e Carnaval

2002). Ironicamente, é possível que o desaparecimento da Mata Atlântica nesta

região esteja levando à extinção espécies ainda desconhecidas da comunidade

científica. Frente ao supracitado, foi com satisfação que participamos dos

levantamentos das espécies de anfíbios da Reserva de Gurjaú, numa iniciativa

com vistas à conservação deste remanescente florestal situado na Zona da

Mata Sul do Estado de Pernambuco.

A Reserva de Gurjaú constitui um dos fragmentos de mata que compõem o

Complexo Catende, área amplamente reconhecida como prioritária para

conservação e estudos aprofundados da fauna e flora no Nordeste do Brasil.

São dignas de nota as recomendações referentes a esta micro-região

encontradas nos documentos gerados pelo workshop “Áreas Prioritárias para

Conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica no Nordeste”, realizado no

ano de 1993 em Itamaracá, PE, e no workshop “Avaliação e Ações Prioritárias

para a Conservação dos Biomas Floresta Atlântica e Campos Sulinos”,

realizado em Atibaia, SP, em 1999. Atualmente, a área consta como prioritária

para pesquisa e conservação no Estado de Pernambuco (Secretaria de

Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco 2002).

O presente relatório apresenta e discute os resultados obtidos durante o

levantamento quantitativo e qualitativo das espécies de anfíbios da Reserva de

Gurjaú, efetuado no período de Agosto de 2002 a Abril de 2003. Ao fim do

presente, são feitas algumas recomendações conservacionistas com base nas

informações levantadas.

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METODOLOGIA

Esforço de Coleta e Áreas Amostradas

De modo a gerar dados qualitativos sobre a anurofauna da Reserva de Gurjaú,

efetuaram-se 233 horas-homens de busca ativa de anfíbios em diferentes

partes da Reserva, entre Agosto de 2002 e Abril de 2003. Durante os meses de

Agosto, Setembro, Novembro, Dezembro, Fevereiro, Março e Abril, os

trabalhos de busca foram executados por dois membros da equipe, variando

entre 16 e 26 horas-homem por mês. Nos meses de Outubro e Janeiro, três

membros participaram das buscas em campo, as quais corresponderam a 46 e

41 horas-homem, respectivamente (Figura 3).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Ago.2002

Set.2002

Out.2002

Nov.2002

Dez.2002

Jan.2003

Fev.2003

Mar.2003

Abr.2003

Ho

ras-

ho

mem

de

bu

sca

ativ

a

Figura 3 - Esforço mensal de captura de anfíbios na Reserva de Gurjaú através de busca ativa durante os meses de Agosto de 2002 a Abril de 2003.

Para os trabalhos de busca ativa, percorreram-se a pé aproximadamente 22

km de trilhas em áreas florestadas e áreas abertas dentro da área da Reserva

de Gurjaú, amostrando-se os seguintes ambientes:

Trilha A – Aproximadamente, 2,4 Km de borda de mata ao longo da

estrada de terra paralela à represa e que conecta a Barragem de Gurjaú

à Barragem de Sucupema, incluindo poças laterais, poças temporárias,

ambientes inundados pela água da barragem e vegetação adjacente. A

trilha corresponde ao trecho inicial da estrada de terra, estendendo-se

da Barragem de Gurjaú até a área de cultura de cana;

Trilha B - Aproximadamente 1,3 Km de borda de mata ao longo da

estrada de terra que conecta a Barragem de Gurjaú à Barragem de

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Secupema, incluindo poças laterais, poças temporárias, ambientes

inundados pela barragem e vegetação adjacente. A trilha estende-se da

cultura de cana até a Barragem de Secupema;

Trilhas C, D e E – Margem leste do riacho formado pela Barragem de

Gurjaú e entorno da mata a oeste da Barragem de Gurjaú;

Trilha F - Area de lavoura e cultivo de frutas nas proximidades da Trilha

A;

Trilha G - Trilha na Mata da Porteira Preta;

Trilha H - Trilha na Mata do Sítio do Pica-Pau, passando pela Barragem

de Secupema, dirigindo-se para oeste até a cultura de cana;

Trilha I - Trilha na Mata do Bonde;

Trilha J - Trilha na Mata do Enxofre (alcançada com auxílio de bote);

Trilha K - Arredores dos tanques de decantação e alojamento, junto à

sede da COMPESA.

Com vistas a complementar os dados gerados por procura ativa,

registraram-se também os exemplares eventualmente capturados em 39

armadilhas tipo pitfall montadas pela Equipe de Répteis, sendo cada armadilha

composta por quatro baldes (Heyer et al. 1994). Ao longo dos meses de Agosto

a Abril, 30 armadilhas foram mantidas abertas na mata adjacente à trilha

principal que conecta a Barragem de Gurjaú à Barragem de Secupema (Trilha

I), sendo conferidas a cada três dias. Entre os meses de Novembro a Abril,

nove armadilhas adicionais foram colocadas na Mata do Enxofre (Trilha J),

seguindo-se a mesma metodologia.

PROCEDIMENTOS DE BUSCA ATIVA

Durante todos os dias de visita à Reserva, foi efetuada uma saída a campo no

período noturno para busca ativa de indivíduos. Saídas a campo também foram

executadas durante o dia, para coleta de indivíduos com atividade diurna,

coleta de larvas e desovas.

A cada saída noturna percorreu-se ao menos uma das trilhas selecionadas

para amostragem. Indivíduos adultos foram localizados visualmente, com o

auxílio de lanternas, ou através de suas vocalizações. O tempo de

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permanência na trilha variou conforme o número de indivíduos presentes,

oscilando entre duas e quatro horas. Saídas diurnas também oscilaram em

duração, variando de meia hora a cinco horas.

Para cada saída de campo foi preenchida uma ficha (Anexo I), em que se

anotaram dados a respeito da data de coleta, equipe de trabalho, horário de

início dos trabalhos de campo, horário de término dos trabalhos de campo,

temperatura, condições do tempo, espécies encontradas, número de indivíduos

avistados para cada espécie, ambiente utilizado por cada espécie (mata,

reservatório, poça temporária, água corrente, etc.), e micro-ambiente utilizado

(folhas sobre poça, galhos de árvores, chão da mata, etc.).

Representantes adultos das espécies encontradas foram manualmente

coletados e posteriormente sacrificados e preservados em meio líquido, de

modo a constituirem testemunhos da identificação taxonômica. Girinos também

foram coletados com auxílio de peneiras durante excursões diurnas, e

mantidos em lotes individuais.

LEVANTAMENTO QUANTITATIVO

Com vistas a permitir uma comparação quantitativa a respeito da freqüência de

encontro das diferentes espécies de anfíbios da Reserva de Gurjaú,

compilaram-se todos os registros visuais efetuados nas trilhas A, B, C, D, E, e

H, bem como nas áreas das trilhas G, I, e J onde a borda da mata se aproxima

da água da barragem, totalizando 20 noites de observação. O levantamento

quantitativo se restringiu às áreas acima mencionadas uma vez que as

mesmas se assemelham quanto aos micro-ambientes que apresentam, sendo

aparentemente ocupadas pelo mesmo conjunto de espécies. De modo a

manter a amostragem uniforme, os dados compilados para fins de análise

quantitativa foram coletados por dois componentes da equipe (G. Moura e M.

Silva). Visando a uniformizar os dados, o número de indivíduos observados por

espécie foi dividido pelo número total de homens-hora de amostragem efetuado

na noite do registro. Para fins de comparação, os resultados foram plotados por

espécie.

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15%

46%

35%

4%

Bufonidae

Hylidae

Leptodactylidae

Ranidae

PROCEDIMENTOS EM LABORATÓRIO

Os exemplares coletados para fins de identificação foram trasportados em

sacos plásticos para o alojamento. Antes de serem sacrificados, os indivíduos

foram fotografados e observados quanto à sua coloração em vida. Seguindo

recomendações e metodologias discutidas na literatura (Heyer et al. 1994), os

indivíduos foram anestesiados em solução de clorobutanona ou etanol e

fixados em solução de formaldeído a 10%. Após uma semana de fixação, todas

as carcaças foram transferidas para solução de etanol a 70%. Girinos

coletados em estágios iniciais de desenvolvimento foram mantidos em

aquários, para que se desenvolvessem, permitindo assim sua identificação.

Girinos em estágios mais avançados tiveram seu padrão de colorido descrito e

foram fixados e mantidos em solução de formaldeído a 5% (Heyer et al. 1994).

Os exemplares coletados foram adicionados à Coleção Herpetológica do

Laboratório de Vertebrados da Universidade Federal de Pernambuco.

Resultados

Componentes da Biodiversidade

Vinte e seis (26) espécies de anfíbios, todas pertencentes à Ordem Anura,

foram registradas em Gurjaú. Quatro famílias encontram-se representadas na

Reserva, a saber: Bufonidae (04 espécies), Hylidae (12 espécies),

Leptodactylidae (09 espécies) e Ranidae (01 espécie) (Tabela I, Figura 4).

Figura 4 -

Representatividade das famílias de Anuros na Reserva de Gurjaú.

A acumulação de registros de espécies não se deu de forma homogênea ao

longo dos trabalhos de levantamento. Vinte anfíbios foram registrados durante

a primeira metade dos trabalhos de campo (de Agosto a Novembro de 2002),

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45

0

5

10

15

20

25

30

9Ago

.

11 A

go.

31 A

go.

8Set.

15 S

et.

17 O

ut.

19 O

ut.

21 O

ut.

3 Nov.

6Dez.

21 D

ez.

16 Ja

n.

19Ja

n.

22 Ja

n.

9Fev

.

23 F

ev.

8 M

ar.

30M

ar.

20 A

br.

27 A

br.

enquanto seis táxons adicionais foram registrados entre Dezembro de 2002 e

Abril de 2003 (Figura 5).

Figura 5 - Total acumulado do número de espécies de anfíbios registradas na Reserva de Gurjaú entre os meses de Agosto de 2002 e Abril de 2003.

Tabela 6 - Lista dos anfíbios anuros da Reserva de Gurjaú. Nomes populares, quando existentes, são fornecidos na coluna à direita.

ORDEM ANURA Família Bufonidae Bufo crucifer Wied-Neuwied, 1821 “sapo cururu”

Bufo granulosus Spix, 1824 “cururuzinho”

Bufo jimi Stevaux, 2002 “sapo cururu grande”, “sapo boi”

Frostius pernambucensis (Bokermann, 1962)

Família Hylidae Hyla albomarginata Spix, 1824 “perereca verde”

Hyla atlantica Caramaschi and Velosa, 1996

Hyla branneri Cochran, 1948 “pererequinha amarela”

Hyla decipiens Lutz, 1925

Hyla aff. nana Boulenger, 1889

Hyla raniceps (Cope, 1862) “rã”

Hyla semilineata Spix, 1824 “rã de listra”

Phyllodytes luteolus (Wied-Neuwied, 1824) “sapinho amarelo”

Phyllomedusa hypochondrialis (Daudin,

1800)

Scinax auratus (Wied-Neuwied, 1821)

Scinax nebulosus (Spix, 1824)

Scinax x-signatus (Spix, 1824) “perereca de banheiro”, “raspa côco”

Família Leptodactylidae

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Adenomera cf. marmorata Steindachner,

1867

Eleutherodactylus sp. “sapinho da mata”

Leptodactylus labyrinthicus (Spix, 1824) “gia pimenta”, “rã pimenta”, “gia boi”

Leptodactylus natalensis Lutz, 1930 “caçote marrom”, “caçote”

Leptodactylus ocellatus (Linnaeus, 1758) “rã manteiga”

Leptodactylus troglodytes Lutz, 1926 “caçote da barreira”

Physalaemus cuvieri Fitzinger, 1826 “sapinho do oi”, “foi-não-foi”

Proceratophrys boiei (Wied-Neuwied, 1824) “sapo boi”, “sapo de chifre”

Pseudopaludicola sp.

Família Ranidae Rana palmipes Spix, 1824 “caçote verde”, “caçote”

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL

Os anfíbios de Gurjaú diferiram no tocante à utilização do espaço físico da

Reserva (Tabela 7).

Tabela 7 - Sítios de encontro das espécies de anuros da Reserva de Gurjau.

Espécie Entorno da Represa

Interior da Mata

Adenomera cf. marmorata X X

Bufo crucifer X X

Bufo granulosus X X

Bufo jmi X

Eleutherodactylus sp. X X

Frostius pernambucensis X

Hyla atlantica X

Hyla albomarginata X

Hyla branneri X

Hyla decipiens X

Hyla aff. nana X

Hyla raniceps X

Hyla semilineata X X

Leptodactylus labyrinthicus X X

Leptodactlys natalensis X

Leptodactylus ocellatus X

Leptodactlus troglodytes X

Phyllodytes luteolus X

Phyllomedusa hypochondrialis X

Physalaemus cuvieri X X

Proceratophrys boiei X

Pseudopaludicola sp. X

Rana palmipes X X

Scinax auratus X

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Scinax nebulosus X

Scinax x-signatus X

A maioria das espécies (58% do total) foi encontrada nas proximidades da

água represada pelas barragens da COMPESA. São elas: Bufo jimi, Frostius

pernambucensis, Hyla atlantica, H. albomarginata (Figura 6), H. branneri, H.

decipiens, H. aff. nana, H. raniceps, Leptodactylus natalensis, L. ocellatus,

Phyllomedusa hypochondrialis, Pseudopaludicola sp., Scinax auratus, S.

nebulosus e S. x-signatus. A existência de discos adesivos nos dedos das

espécies pertencentes à família Hylidae (H. atlantica, H. albomarginata, H.

branneri, H. decipiens, H. aff. nana, H. raniceps, P. hypochondrialis, S. auratus,

S. nebulosus e S. x-signatus) permitem às mesmas ocupar a vegetação semi-

aquática, arbustiva, ou arbórea junto à água. Já as espécies pertecentes às

famílias Bufonidae e Leptodactylidae (como B. jimi, L. natalensis, L. ocellatus e

Pseudopaludicola sp., por exemplo), desprovidas de discos adesivos, se

restringem ao chão das trilhas, matas, e áreas alagadas no entorno da represa.

Figura 6 - Hyla albomarginata, Gurjau, janeiro de 2003.

Oito espécies (31% do total) foram registradas tanto nas imediações da

represa, quanto no interior da mata. São elas: Adenomera cf. marmorata, Bufo

crucifer, B. granulosus, Eleutherodactylus sp., Hyla semilineata, Leptodactlys

labyrinthicus, Physalaemus cuvieri e Rana palmipes. Dentre essas,

Eleutherodactylus sp. e H. semilineata são capazes de utilizar a vegetação

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48

local como abrigo e área de vocalização. As demais se limitam a ocupar o chão

da mata.

Três espécies – Leptodactylus troglodytes, Phylodytes luteolus e

Proceratophrys boiei (Figura 7) – foram registradas exclusivamente em áreas

de mata. Novamente se observaram diferenças no tocante ao micro-habitat

utilizado pelas espécies: enquanto P. luteolus foi capaz de utilizar a vegetação

local como sítio de abrigo, os leptodactylideos L. troglodytes e P. boiei se

restringiram ao chão da mata, tendo sido capturados em armadilhas do tipo

pitfall.

Figura 7 - Proceratophrys boiei (Fotografia de S.A. Roda).

SÍTIOS DE VOCALIZAÇÃO E SÍTIOS REPRODUTIVOS

Através da observação de desovas, girinos, e atividades de vocalização, foi

possível registrar os ambientes utilizados para fins reprodutivos por 18 das 26

espécies locais (Tabela 8). Oito espécies – Hyla atlantica (Figura 7), H.

albomarginata, H. semilineata, H. raniceps, Phyllomedusa hypochondrialis,

Scinax auratus, S. nebulosus e S. x-signatus – vocalizaram sobre vegetação

arbustiva ou arbórea próxima à represa. Três espécies – H. branneri, Hyla aff.

nana (Figura 8) e Hyla decipiens – vocalizaram unicamente sobre as

gramíneas parcialmente submersas pela água da represa e/ou sobre a

vegetação subaquática.

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49

Figura 8 - Hyla atlântica Gurjaú, janeiro de 2003.

No tocante às espécies de chão, quatro espécies – Bufo jimi, Leptodactylus

labyrinthicus, Pseudopaludicola sp. e Rana palmipes – utilizaram as margens

da represa como sítio de vocalização. Pseudopaludicola sp. diferenciou-se das

demais por vocalizar unicamente em áreas encharcadas e elameadas,

geralmente por entre gramíneas parcialmente inundadas.

Figura 9 - Hyla aff. nana Gurjaú, janeiro de 2003.

Hyla semilineata e Rana palmipes foram capazes de utilizar, como sítio de

desova, a água corrente por entre as rochas abaixo da Barragem de Gurjaú.

Pseudopaludicola sp. e Scinax x-signatus também utilizaram este ambiente

como sítio de vocalização.

Leptodactylus natalensis e Physalaemus cuvieri destacaram-se das demais

espécies da Reserva por reproduzirem-se em poças temporárias, às vezes

utilizando ambientes aquáticos de curta duração. Em várias ocasiões,

indivíduos reprodutivamente ativos foram encontrados na água acumulada em

depressões rasas formadas pelos pneus dos carros que circulavam nas trilhas

A e B.

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50

As atividades de vocalização de Eleutherodactylus sp. Diferenciaram-se das

demais por ocorrerem na borda e no interior da mata, muitas vezes em locais

afastados da água.

No tocante à utilização de diferentes tipos de corpos d’água como sítio de

reprodução, observamos que o entorno da represa foi a área em que se

registrou o maior número de espécies com atividade de vocalização, desovas

e/ou girinos (14 táxons). Todavia, poças temporárias e áreas de gramíneas

inundadas não diferiram muito quanto ao número de anfíbios aí registrados,

tendo sido utilizadas por 11 e 10 espécies, respectivamente (Tabela 8).

Tabela 8 - Sítios de vocalização, desova, e/ou desenvolvimento de girinos pelas espécies de anuros da Reserva de Gurjau.

Espécie RepresaPoças

Temporárias AlagadosÁgua

Corrente MataBufo jmi X

Eleutherodactylus sp. X

Hyla albomarginata X X X

Hyla atlantica X X X

Hyla branneri X X X

Hyla decipiens X X

Hyla aff. nana X

Hyla raniceps X

Hyla semilineata X X X

Leptodactyluslabyrinthicus

X X X

Leptodactlys natalensis X

Phyllomedusa hypochondrialis

X X X

Physalaemus cuvieri X

Pseudopaludicola sp. X X X

Rana palmipes X X X

Scinax auratus X X X

Scinax nebulosus X X X

Scinax x-signatus X X

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51

TOLERÂNCIA À AÇÃO HUMANA

As espécies de anuros da Reserva de Gurjaú diferiram no que diz respeito ao

grau de tolerância a modificações ambientais causadas pelo Homem (Tabela

9). Indivíduos de Adenomera cf. marmorata, Bufo crucifer, B. jimi,

Eleutherodactylus sp., Hyla semilineata, Phyllodytes luteolus, Rana palmipes e

Scinax x-signatus foram registrados em locais onde a vegetação local

encontra-se em contato com, ou é parcialmente substituída por, áreas de

cultivo e lavoura. Representantes de Bufo granulous, B. jimi, Leptodactlylus

labyrinthicus e S. x-signatus foram encontrados em imediações de construções

humanas, tal como a sede da COMPESA. Nenhuma das demais 16 espécies

(i.e., 62% do total) foi registrada em áreas intensamente modificadas por ação

humana.

Tabela 9 - Ocorrência das espécies de anfíbios em ambientes modificados pelo Homem.

EspéciesÁreas de Cultivo e

LavouraImediações de Construções

Adenomera cf. marmorata X - Bufo crucifer X - Bufo granulosus - X Bufo jmi X X Eleutherodactylus sp. X - Frostius pernambucensis - - Hyla atlantica - - Hyla albomarginata - - Hyla branneri - - Hyla decipiens - - Hyla aff. nana - - Hyla raniceps - - Hyla semilineata X - Leptodactylus labyrinthicus - X Leptodactlys natalensis - - Leptodactylus ocellatus - - Leptodactlus troglodytes - - Phyllodytes luteolus X - Phyllomedusahypochondrialis

- -

Physalaemus cuvieri - - Proceratophrys boiei - - Pseudopaludicola sp. - - Rana palmipes X - Scinax auratus - - Scinax nebulosus - -

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52

Scinax x-signatus X X

DADOS QUANTITATIVOS

Dezoito espécies foram registradas visualmente durante os levantamentos

quantitativos: Bufo crucifer, B. granulosus, B. jimi, Eleutherodactylus sp.,

Frostius pernambucensis, Hyla albomarginata, H. atlantica, H. branneri, H.

raniceps, H. semilineata, Leptodactylus labyrinthicus, L. natalensis, L. ocellatus,

Phyllomedusa hypochondrialis, Physalaemus cuvieri, Rana palmipes, Scinax

auratus e S. x-signatus.

O número de indivíduos avistados variou entre táxons (Figura 9). Hyla

semilineata e Rana palmipes foram as espécies registradas com mais

freqüência, sendo encontradas em relativa abundância. Enquanto as

observações de indivíduos de H. semilineata deram-se de forma homogênea

ao longo dos trabalhos de campo, um maior número de indivíduos de R.

palmipes foi registrado nos primeiros meses de amostragem do que nos meses

seguintes.

Bufo jimi, Eleutherodactylus sp. e Leptodactylus labyrinthicus apresentaram

razoável número de registros visuais, sendo encontrados na maioria dos

meses. Uma das noites de levantamento (7 de Dezembro) apresentou

condições apropriadas à reprodução de B. jimi, acarretando em um grande

número de encontros de indivíduos da espécie, todos em atividade reprodutiva.

Bufo crucifer, Hyla albomarginata, H. atlantica, H. branneri, Leptodactylus

natalensis e Physalaemus cuvieri foram avistados em menores números,

porém ao menos em três ocasiões. Bufo granulosus, Frostius pernambucensis,

Hyla raniceps, Leptodactylus ocellatus, Phyllomedusa hypochondrialis, Scinax

auratus e S. x-signatus apresentaram as mais reduzidas taxas de encontros

visuais, sendo avistadas uma ou duas vezes dentre as 20 noites de

amostragem.

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53

Bufo crucifer

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15Set

.

2 Nov.

25 N

ov.

6Dez.

7Dez.

21 D

ez.

2Fev

.

9 Fev

.

16 F

ev.

23Fev

.

8M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26 A

br.

Bufo granulosus

012345678

10Ago

.

11Ago

.

07Set

.

07Set

.

15 S

et.

2Nov.

25Nov

.

6 Dez.

7 Dez.

21Dez

.

2 Fev

.

9Fev

.

16Fev

.

23 F

ev.

8M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20Abr

.

26Abr

.

Frostius pernambucensis

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2 Nov.

25Nov

.

6 Dez.

7 Dez.

21 D

ez.

2 Fev

.

9Fev

.

16 F

ev.

23 F

ev.

8 M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26 A

br.

Hyla albomarginata

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2 Nov.

25 N

ov.

6Dez.

7 Dez.

21 D

ez.

2Fev

.

9Fev

.

16 F

ev.

23 F

ev.

8M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26 A

br.

Hyla branneri

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2 Nov.

25Nov

.

6 Dez.

7 Dez.

21 D

ez.

2 Fev

.

9Fev

.

16 F

ev.

23 F

ev.

8 M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26 A

br.

Hyla atlantica

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2 Nov.

25 N

ov.

6 Dez.

7 Dez.

21 D

ez.

2 Fev

.

9 Fev

.

16 F

ev.

23 F

ev.

8 M

ar.

23M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26 A

br.

Hyla raniceps

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2 Nov.

25Nov

.

6 Dez.

7 Dez.

21 D

ez.

2 Fev

.

9Fev

.

16 F

ev.

23Fev

.

8 M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26 A

br.

Hyla semilineata

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2Nov.

25Nov

.

6Dez.

7Dez.

21 D

ez.

2Fev

.

9 Fev

.

16 F

ev.

23 F

ev.

8 M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26 A

br.

Bufo jimi

012345678

10Ago

.

11Ago

.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2 Nov.

25 N

ov.

6 Dez.

7 Dez.

21Dez

.

2 Fev

.

9 Fev

.

16 F

ev.

23 F

ev.

8M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26 A

br.

Eleutherodactylus sp.

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2Nov.

25Nov

.

6 Dez.

7Dez.

21 D

ez.

2Fev

.

9Fev

.

16 F

ev.

23 F

ev.

8 M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26 A

br.

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54

Figura 9 - Número de indivíduos avistados por horas.homem de amostragem para cada espécie de anfíbio em trilhas da Reserva de Gurjaú (detalhes em Metodologia).

AMOSTRAGEM EM PITFALL

Um pequeno número de indivíduos foi capturado em armadilhas do tipo pitfall

(Tabela10).

Leptodactylus labyrinthicus

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2 Nov.

25 N

ov.

6 Dez.

7 Dez.

21 D

ez.

2Fev

.

9Fev

.

16 F

ev.

23 F

ev.

8M

ar.

23M

ar.

30M

ar.

13Abr

.

20Abr

.

26 A

br.

Leptodactylus natalensis

012345678

10Ago

.

11Ago

.

07Set

.

07Set

.

15Set

.

2Nov.

25 N

ov.

6 Dez.

7 Dez.

21Dez

.

2Fev

.

9Fev

.

16Fev

.

23Fev

.

8 M

ar.

23M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26Abr

.

Leptodactylus ocellatus

012345678

10Ago

.

11Ago

.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2 Nov.

25Nov

.

6 Dez.

7 Dez.

21 D

ez.

2 Fev

.

9Fev

.

16Fev

.

23Fev

.

8M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13Abr

.

20Abr

.

26Abr

.

Phyllomedusa hypochondrialis

012345678

10 A

go.

11Ago

.

07Set

.

07Set

.

15Set

.

2Nov.

25 N

ov.

6 Dez.

7 Dez.

21 D

ez.

2Fev

.

9Fev

.

16Fev

.

23Fev

.

8M

ar.

23M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20Abr

.

26Abr

.

Physalaemus cuvieri

012345678

10Ago

.

11Ago

.

07Set

.

07 S

et.

15 S

et.

2Nov.

25 N

ov.

6 Dez.

7Dez.

21Dez

.

2 Fev

.

9 Fev

.

16 F

ev.

23Fev

.

8M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26 A

br.

Rana palmipes

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15Set

.

2Nov.

25 N

ov.

6 Dez.

7Dez.

21 D

ez.

2Fev

.

9Fev

.

16Fev

.

23 F

ev.

8M

ar.

23M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20 A

br.

26Abr

.

Scinax x-signatus

012345678

10Ago

.

11 A

go.

07 S

et.

07Set

.

15Set

.

2 Nov.

25 N

ov.

6 Dez.

7 Dez.

21Dez

.

2 Fev

.

9 Fev

.

16Fev

.

23Fev

.

8 M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13Abr

.

20 A

br.

26 A

br.

Scinax auratus

012345678

10 A

go.

11 A

go.

07 S

et.

07 S

et.

15 S

et.

2Nov.

25 N

ov.

6 Dez.

7 Dez.

21 D

ez.

2Fev

.

9Fev

.

16Fev

.

23 F

ev.

8 M

ar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 A

br.

20Abr

.

26 A

br.

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55

Tabela 10 - Número de indivíduos capturados em 30 armadilhas na Trilha I (Agosto de 2002 a

Abril de 2003) e em 9 armadilhas na Trilha J (Novembro de 2002 a Abril de 2003).

Espécie Número de Indivíduos

Trilha I

Número de Indivíduos

Trilha J Adenomera cf. marmorata 3 -

Bufo crucifer 5 -

Bufo granulosus 1 -

Bufo jmi - -

Eleutherodactylus sp. 3 -

Frostius pernambucensis - -

Hyla atlantica - -

Hyla albomarginata - -

Hyla branneri - -

Hyla decipiens - -

Hyla aff. nana - -

Hyla raniceps - -

Hyla semilineata 3 1

Leptodactylus labyrinthicus - -

Leptodactlys natalensis - -

Leptodactylus ocellatus - -

Leptodactlus troglodytes 3 -

Phyllodytes luteolus - -

Phyllomedusa hypochondrialis - -

Physalaemus cuvieri 5 -

Proceratophrys boiei - 5

Pseudopaludicola sp. - -

Rana palmipes 1 -

Scinax auratus - -

Scinax nebulosus - -

Scinax x-signatus - -

Dentre as 26 espécies registradas na Reserva, apenas nove (35% do número

total) foram capturadas em pitfall. São elas: Adenomera cf. marmorata, Bufo

crucifer, B. granulosus, Eleutherodactylus sp., Hyla semilineata, Leptodactylus

troglodytes, Physalaemus cuvieri, Proceratophrys boiei e Rana palmipes. O

número de indivíduos coletados oscilou ligeiramente entre as espécies,

pertencendo todos à mesma ordem de grandeza e variando entre 1 e 6.

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56

DISCUSSÃO

A Classe Amphibia é composta por três ordens: Anura (incluindo os sapos, rãs

e pererecas), Caudata (salamandras) e Gymnophiona (cecílias) (Stebbins e

Cohen 1997). Os levantamentos da Reserva de Gurjaú registraram apenas a

ocorrência de anuros. Tal ausência de representantes das ordens Caudata e

Gymnophiona não surpreende. No que se refere à Ordem Caudata, apenas

uma espécie ocorre no Brasil. Trata-se de Bolitoglossa altamazonica (Cope),

cuja distribuição no território nacional é restrita à Amazônia (Frost 2002). No

que se refere à Ordem Gymnophiona, o número de representantes no país

também é baixo quando comparado ao número de anuros (Duellman 1999).

Adicionalmente, o hábito fossorial das cecílias torna sua amostragem difícil. A

maior parte dos registros para este grupo é feita graças a encontros casuais,

geralmente após fortes chuvas (Heyer et al. 1994). Dado que os trabalhos de

levantamento biológico em Gurjaú foram executados em meses de pouca

pluviosidade, não é de se estranhar a ausência de representantes dessa

Ordem nas amostragens.

No tocante aos anuros registrados em Gurjaú, nota-se a grande

representatividade das Famílias Hylidae e Leptodactylidae – as quais

corresponderam, respectivamente, a 46% e 35% das espécies amostradas

(Figura 4). Uma vez que essas constituem as famílias mais ricas em espécies

na região Neotropical (Duellman e Trueb 1994), não causa surpresa que o

mesmo padrão seja observado a nível local.

No que se refere a questões taxonômicas, 21 anfíbios anuros de Gurjaú

puderam ser identificados ao nível de espécie. Todavia, somente através de

uma ampla revisão das espécies brasileiras dos gêneros Adenomera,

Eleutherodactylus e Pseudopaludicola, incluindo exemplares provenientes de

outras regiões do país, será possível esclarecer a taxonomia dos exemplares

de Adenomera cf. marmorata, Eleutherodactylus sp. e Pseudopaludicola sp.

coletados na Reserva. Esses três gêneros de leptodactilídeos são notoriamente

conhecidos por sua complexidade taxonômica e pelo número de questões

ainda pendentes no que se refere à sua sistemática. Hyla aff. nana também

merece especial atenção, podendo tratar-se de uma espécie ainda não

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57

descrita. De modo a confirmar a sua identificação, será necessário coletar uma

série maior de exemplares em Gurjaú, comparando-a a espécimes de H. nana

obtidos em diversas áreas do país e fora dele. Atualmente, H. nana é tida como

espécie amplamente distribuída na América do Sul, existindo registros do

Nordeste do Brasil ao Paraguai, incluindo o norte da Argentina, leste da Bolívia,

Uruguai e Bacia do Prata (Frost 2002). É provável que uma revisão desses

exemplares revele que os mesmos representem um conjunto de espécies

distintas, fazendo de H. nana um complexo de espécies.

A anurofauna de Gurjaú contém elementos e representantes de diversos

ecossistemas brasileiros. Onze espécies encontradas em Gurjaú (ou seja, 42%

do total) são endêmicas da Mata Atlântica. Trata-se de Adenomera cf.

marmorata, Bufo crucifer, Eleutherodactylus sp, Frostius pernambucensis, Hyla

atlantica, H. branneri, H. decipiens, H. semilineata, Phyllodytes luteolus,

Proceratophrys boiei e Scinax auratus. Cinco táxons ocorrem na Mata

Atlântica, Cerrado e Caatinga: Bufo jimi, Leptodactylus labyrinthicus, L.

natalensis, L. troglodytes e Physalaemus cuvieri. Cinco espécies são

encontradas na Mata Atlântica, Amazônia/Guianas, Cerrado e Caatinga: Bufo

granulosus, Hyla raniceps, Leptodactylus ocellatus, Phyllomedusa

hypochondrialis e Scinax x-signatus. Três espécies ocorrem na Mata Atlântica

e Amazônia - Hyla albomarginata, Scinax nebulosus e Rana palmipes

(Duellman 1999). Nenhuma das espécies registradas até o momento encontra-

se na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de

Extinção, recentemente atualizada pelo Ministério do Meio Ambiente e

disponível em seu website, http://www.meioambiente.gov.br /port/sbf/index.cfm.

A ocorrência de Frostius pernambucensis na Reserva de Gurjaú merece

destaque. Trata-se de uma espécie endêmica da Mata Atlântica Nordestina,

cuja distribuição conhecida limitava-se, até o momento, ao Horto Florestal Dois

Irmãos (PE) e à Reserva de Murici (AL) (Bokermann 1962, Peixoto e Freire

1998). O registro de F. pernambucensis em Gurjaú amplia sua área de

ocorrência dentro do Estado de Pernambuco, e faz da Reserva área prioritária

para conservação da espécie.

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À excessão de Hyla aff. nana, todas as demais espécies de anuros

encontradas em Gurjaú (Tabela 6) possuem registro de ocorrência em

Pernambuco. Compilações recentes indicam que 65 espécies de anfíbios

anuros encontram-se registradas para o Estado (dos Santos e Carnaval 2002,

O. L. Peixoto, comunicação pessoal). A anurofauna representada na Reserva

de Gurjaú inclui 40% desse número. Táxons habitat-específicos, avistados em

outras áreas de mata do Estado, não foram, até o momento, registrados em

Gurjaú. É o caso, por exemplo, de Hylomantis granulosa (Cruz), espécie

endêmica de Pernambuco e listada pelo Ministério do Meio Ambiente como

criticamente em perigo, e Scinax gr. catharinae, registrada em Jaqueira. Fato

semelhante ocorre com alguns táxons que utilizam bromeliáceas como abrigo

ou sítio de reprodução, tal como Gastrotheca fissipes (Boulenger), registrada

no Horto Dois Irmãos, Caetés e Jaqueira, e Scinax pachycrus (Miranda-

Ribeiro), encontrada em Tapacurá, Jaqueira, Brejo dos Cavalos, e na Reserva

Biológica de Serra Negra. Também não foram registradas em Gurjaú algumas

espécies tolerantes a ambientes de borda de mata e áreas abertas,

normalmente encontradas em diversas altitudes no Estado de Pernambuco. É

o caso, por exemplo, de Hyla crepitans Wied-Neuwied, H. elegans Wied-

Neuwied, H. minuta Peters e Scinax eurydice (Bokermann) (dos Santos e

Carnaval 2002).

A ausência de tais registros pode se dever ao fato da anurofauna de Gurjaú

ainda estar subestimada. Apesar da curva de acumulação de espécies ter

alcançado um platô, estabilizando-se ao fim dos trabalhos de campo (Figura 4),

é importante ter em mente que o período do ano em que o presente

levantamento foi efetuado não constitui o mais apropriado para amostragens de

anfíbios. Anfíbios são facilmente observados durante sua época de reprodução,

a qual, no Nordeste do Brasil, está intimamente relacionada ao período de

chuvas (Arzabe 1998). Uma vez que o presente levantamento iniciou-se ao fim

da estação chuvosa, tendo que ser concluído antes do início das fortes chuvas

na região da Zona da Mata Sul de Pernambuco, é possível que o número real

de espécies de anfíbios existentes na Reserva de Gurjaú exceda os 26 táxons

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registrados até o momento. Futuros trabalhos de campo na Reserva deverão

contribuir com novos registros para a localidade.

A ausência de determinadas espécies na Reserva pode estar também

associada às características topográficas locais. Por estar localizada em área

de mata de baixada e próxima ao mar, é natural que a anurofauna de Gurjaú

apresente diferenças em relação às observadas nos brejos, florestas de

altitude, e/ou áreas de caatinga do Estado de Pernambuco.

Observações sobre os ambientes ocupados pelas diferentes espécies de

anfíbios em Gurjaú mostraram que as mesmas são capazes de partilhar os

sítios de abrigo e reprodução existente na Reserva através da utilização

diferenciada dos vários micro-habitats disponíveis (Tabelas 3 e 4). O

estabelecimento de mecanismos de partilha de recursos entre espécies de

anfíbios – através de diferenças temporais e espaciais no que se refere aos

seus sítios de reprodução e vocalização, por exemplo – é um tema

amplamente reconhecido na literatura (Duellman e Trueb 1994, Heyer et al.

1994). Todavia, uma vez que a maioria das espécies de Gurjaú depende de

corpos d’água para se reproduzir, é importante ressaltar que a manutenção de

poças permanentes, poças temporárias, alagados e riachos na mata é crucial à

permanência das populações locais.

Quatro espécies registradas na Reserva são reconhecidamente restritas a

ambientes florestados. Trata-se de Adenomera cf. marmorata,

Eleutherodactylus sp., Frostius pernambucensis e Proceratophrys boiei.

Adenomera marmorata e espécies do gênero Eleutherodactylus depositam

seus ovos no chão úmido da mata ao invés de utilizarem o meio aquático como

sítio de desova – e conseqüentemente dependem da existência de florestas

úmidas (Lutz 1949, Heyer 1973). De modo a garantir a manutenção dessas

populações em Gurjaú, é imprescindível proteger os remanescentes de Mata

Atlântica incluída na área da Reserva, se possível reflorestando as áreas

antropicamente impactadas que hoje existem na propriedade e conectando os

fragmentos de mata ainda existentes. A baixa taxa de captura de indivíduos de

P. boiei em armadilhas (Tabela 10) pode ser interpretada como um alerta para

o perigo de extinção de algumas populações locais. Ademais, as observações

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de campo sugerem que apenas uma pequena parte do conjunto das espécies

locais é capaz de ocupar as áreas da Reserva mais intensamente alteradas

pelo Homem, tais como zonas de cultivo, lavoura, e habitações.

Duas espécies registradas em Gurjaú são reconhecidamente associadas à

bromélias, utilizando-as como sítio de abrigo e/ou reprodução. Trata-se de

Phyllodytes luteolus e Frostius pernambucensis (Peixoto 1995, Peixoto e Freire

1998). Uma vez que bromeliáceas consistem em grande foco de atenção por

sua exploração comercial e uso ornamental, é importante que se estabeleça

um mecanismo de fiscalização sobre a retirada dessas plantas na área da

Reserva.

No que se refere às freqüências de encontro de anuros em Gurjaú (Figura 9), o

fato de algumas espécies terem sido registradas uma única vez não deve ser

visto como alarmante. Em verdade, é extremamente difícil avaliar o tamanho de

uma população de anfíbios sem se amostrar uma imensa quantidade de dias.

Como exemplo, podemos citar o caso das espécies com reprodução explosiva,

cujos machos e fêmeas vêm à água para se reproduzir durante poucas noites

ao ano, escondendo-se sob folhas, em troncos de árvores, ou permanecendo

enterrados pelo restante do tempo (Duellman e Trueb 1994). Todavia, foi

surpreendente, em Gurjaú, a baixa taxa de encontros de espécimens de Hyla

raniceps, espécie geralmente abundante em ambientes de borda de mata e

áreas abertas no Nordeste do Brasil (dos Santos e Carnaval 2002, Frost 2002).

Resultados obtidos com armadilhas do tipo pitfall (Tabela 10) foram

consistentes com as informações geradas por busca ativa. Representantes das

famílias Bufonidae, Hylidae, Leptodactylidae e Ranidae foram registrados

através da técnica. É interessante observar que uma espécie da família Hylidae

(a saber, Hyla semilineata) tenha sido amostrada nos pitfalls. Representantes

dessa família possuem discos adesivos nas pontas dos dedos dos pés e das

mãos, permitindo-lhes escalar os tubos de PVC que compõem as armadilhas, e

assim escapar com relativa facilidade. Os repetidos encontros de indivíduos de

H. semilineata no interior dos tubos de PVC dos pitfalls sugerem que a espécie

esteja utilizando-os como local de abrigo.

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CONCLUSÕES

Dado o presente estado de conservação da Floresta Atlântica Nordestina, é

essencial o estabelecimento de reservas e áreas de proteção ambiental que

efetivamente protejam e restaurem o ambiente natural outrora presente nesta

região. Neste contexto, a Reserva de Gurjaú tem condições de exercer um

importante papel na conservação dos recursos florestais brasileiros. Com vistas

à manutenção das populações naturais ainda existentes na Reserva, é

imprescindível que se restaurem os ambientes florestados aí existentes.

Futuramente, é desejável que se promovam corredores de mata para

comunicação entre a Reserva e outros remanescentes da Zona da Mata Sul de

Pernambuco. Vinte e seis espécies de anfíbios anuros foram registradas na

área da Reserva, das quais onze são endêmicas da Mata Atlântica. A

ocorrência de Frostius pernambucensis faz de Gurjáu a terceira área para a

qual essa espécie, endêmica da Mata Atlântica Nordestina, é conhecida. No

que se refere especificamente à comunidade de anfíbios de Gurjaú, é

importante não somente preservar e conectar os remanescentes de mata ainda

existentes na área da Reserva, mas também garantir a manutenção de

diferentes sistemas de água doce como forma de se maximizar a gama de

sítios reprodutivos disponíveis às espécies. Adicionalmente, a fiscalização

sobre retirada de bromélias é crucial para manutenção de algumas populações

locais.

AGRADECIMENTOS

Dr. Sergio P. C. Silva, Dr. Oswaldo L. Peixoto, Dr. Ulisses Caramaschi, Dr.

José Pombal Jr. e Ednilza M. Santos permitiram o acesso às coleções

herpetológicas ZUFRJ, EI-UFRRJ, MNRJ, e Coleção Herpetológica-UFPE para

fins de comparação de material, auxiliando na identificação de alguns

exemplares. Joca e Bibiu auxiliaram nos trabalhos de campo.

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ANEXO I

Resultado dos levantamentos da anurofauna de Gurjaú obtidos via busca ativa

Data 10 Ago. 11 Ago. 30 Ago.31 Ago. 07 Set 08 Set 14 Set 15 Set 17 Out. 17 Out. 18 Out. 18 Out. 19 Out. 19Out. 19 Out. 19 Out. 20 Out. 20 Out.Trilha * A B C D E F G H A C H I K J J A G CHorário N N N N N N N N N N D N D N N N D NHomens.hora 6 4 4 4 4 4 4 4 9,5 0,5 2 6 0,5 1,5 6 3,5 4,5 6Adenomera cf. marmorata 1Bufo crucifer 1 2Bufo granulosus 2Bufo jimi 1 2Eleutherodactylus sp. 1 2 2 2 5 1 2Frostius pernambucensisHyla atlantica 1 2 1Hyla albomarginata 2 1 2 1 2Hyla branneri 1 4 3 4Hyla decipiensHyla ranicepsHyla aff. nanaHyla semilineata 4 10 20 13 4 3 2 2 12 3 4 2 1Leptodactylus labyrinthicus 1 3 2 1Leptodactylus natalensis 3 3Leptodactylus ocellatus 1 1Phyllodytes luteolusPhyllomedusa hypochondrialis 1Physalaemus cuvieri 1 2 1Pseudopaludicola sp. 5 7Rana palmipes 7 28 1 3 3 3 6 1 4 1 1 3Scinax auratus 2 1 1Scinax nebulosus 4 3 1 1Scinax x-signatus 1

Data 21 Out. 21 Out. 2 Nov. 3 Nov. 25 Nov. 6 Dez. 7 Dez. 21 Dez.22 Dez. 16 Jan. 16 Jan. 17 Jan. 18 Jan. 18 Jan. 18. Jan.18 Jan. 18 Jan. 19 Jan.Trilha * G G A, B, I C G H J C, D, E C C A H, B,A J J A C H,B,A CHorário N N N N N N N N D N N N n N N N D DHomens.hora 2 4 6.5 6 6 5.5 8 8.5 4 4 1.5 4 1 7 1 3 4.5 2Adenomera cf. marmorata 2 1 1Bufo crucifer 1Bufo granulosus 1 1Bufo jimi 1 1 1 30 2 11 1Eleutherodactylus sp. 4 2 2 1 2 1 1 1Frostius pernambucensisHyla atlantica 2 2Hyla albomarginata 1 1 1Hyla branneri 1 1 4 1Hyla decipiens 1Hyla raniceps 1Hyla aff. nana 4 3Hyla semilineata 6 2 8 4 2 2 7 8 6 girinos 1 girinosLeptodactylus labyrinthicus 1 2 1 1 1Leptodactylus natalensis 2Leptodactylus ocellatus 1Phyllodytes luteolus 1Phyllomedusa hypochondrialis 1 1Physalaemus cuvieri 1Pseudopaludicola sp. 20 7Rana palmipes 5 1 1 1 3 1 girinos 4 1 1 2 girinosScinax auratus 1Scinax nebulosus 2 1Scinax x-signatus 1 2 1

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4.2.2 Levantamento de Répteis

Introdução

Dentre as 50.300 espécies de vertebrados, existem no mundo 7866 espécies

de répteis assim distribuídas: 4470 lacertílios (57%), 2920 serpentes (37%),

292 quelônios (4%), 156 anfisbenídeos (2%), 23 crocodilianos (0,3%) e 2

tuataras (0,025%) (Uetz 2000).

De todos os representantes vertebrados da fauna brasileira, o répteis são os

menos estudados, principalmente no litoral da região Nordeste (Morais e

Morais 1987; Borges 1991). Os poucos trabalhos existentes consideram,

basicamente, descrições de espécies e algumas poucas informações de sua

biologia, havendo por isso muita carência de dados para realização de estudos

mais aprofundados.

Em Pernambuco, o conhecimento desse grupo animal está restrito a poucas

informações sobre algumas espécies de diferentes regiões do estado,

principalmente, da caatinga (Ramos 1941; Cordeiro e Hoge 1973; Vanzolini et

al. 1980; Morais e Morais 1987; Silva 2001). Nas décadas passadas, muitos

trabalhos demográficos foram realizados com répteis, embora quase que sua

Data 19 Jan. 19 Jan. 20 Jan. 20 Jan.21 Jan. 2 Fev. 9 Fev. 9 Fev. 16 Fev. 23 Fev. 8 Mar. 23 Mar. 30 Mar. 30 Mar. 13 Abr. 20 Abr. 26 Abr. 27 Abr.Trilha * I A G G F A G G A,B C,D J A G G J B, I D,E CHorário N N N N DHomens.hora 1 3 2 4 3 4 2 2 9 9 10.5 4 2 3 6 6 6 4Adenomera cf. marmorata 1 1Bufo crucifer 1 1Bufo granulosus 1Bufo jimi 1 1 1 2 1 1 1Eleutherodactylus sp. 1 2 1 1 1Frostius pernambucensis 1Hyla atlantica 1 1 3 1Hyla albomarginata 1Hyla branneri 3 1Hyla decipiens 1Hyla raniceps 1Hyla aff. nanaHyla semilineata 1 1 girinos 1 3 8 2 1 5 4 2 5 6Leptodactylus labyrinthicus 1 3 2 2 1 1 1Leptodactylus natalensis 2Leptodactylus ocellatus 1Phyllodytes luteolusPhyllomedusa hypochondrialis 1Physalaemus cuvieriPseudopaludicola sp.Rana palmipes 1 1 14 5 2 5 1 3 7 1 6 10 1 4Scinax auratus 2 1Scinax nebulosus 2Scinax x-signatus 2 2

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totalidade realizada na América do Norte e África (Pianka 1967; Pianka 1973;

Huey e Pianka 1977).

No Brasil, são poucos os estudos que enfocam os répteis em áreas de grande

empreendimento e que supostamente sofrem forte influência da ação

antrópica. Apenas recentemente tenta-se fazer tais estudos, entretanto, quase

todos realizados nas regiões central e sudeste (Pinto 1999; Sluys 2000).

A tentativa de monitorar populações oferece a oportunidade de estimar seus

tamanhos e a distribuição de seus representantes no ambiente. Com essas

informações pode-se, com maior precisão, fazer afirmações quanto ao seu

nível atual de conservação.

O presente estudo tem como objetivo disponibilizar uma listagem das espécies

de répteis encontradas na Reserva Ecológica de Gurjaú, determinar os níveis

de conservação e oferecer informações que subsidiem um plano de manejo

sustentável considerando as atividades realizadas na estação de tratamento de

água e as populações humanas residentes na área.

METODOLOGIA

Área de Estudo

A área de estudo está contida na Reserva Ecológica de Gurjaú, município do

Cabo de Santo Agostinho (34o 56’ 30’’ W; 8o 21’ 30’’ S). A temperatura e a

pluviosidade para o município apresentam valores anuais médios,

respectivamente, de 25o C e 180 mm, enquanto a altitude varia de 30 a 50 m. A

reserva possui 600 ha, divididos em 15 matas, além de três rios e três represas

utilizadas no abastecimento de grande parte do Recife. Foram escolhidos os

maiores fragmentos de Mata para o estudo: Mata Secupema e Mata Cuxio,

cujas dimensões são, aproximada e respectivamente, 1,0 km x 0,8 km e 0,8 km

x 0,6 km.

COLETA DE DADOS

As atividades de campo foram realizadas no período de agosto de 2002 a maio

de 2003. A metodologia utilizada para avaliar a biodiversidade de répteis

consistiu no uso de três técnicas: procura ativa, uso de armadilhas de

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interceptação e queda (pit-fall) segundo a técnica de Gibbons e Semlitsch

(1981) e captura por terceiros.

A técnica de procura ativa consistiu na realização de caminhadas lentas, em

diferentes horários, desde o amanhecer até à noite, em abrigos que os lagartos

e serpentes poderiam usar como refúgio. A procura de quelônios foi realizada,

durante o período diurno, em trilhas e poças temporárias. A procura de

crocodilianos foi realizada com embarcação, à noite, com a utilização de

lanternas e laços de captura apropriados.

Foram instaladas 40 armadilhas de interceptação e queda, formadas por quatro

recipientes (canos de PVC) com 0,4 m de profundidade por 0,25 m de largura,

enterrados até a borda do solo e interligados por cercas-guia (drift-fences) de

lona plástica de 5 m de comprimento por 0,4 m de altura, formando um “Y”

(Figuras 10 e 11).

Figura 10: Esquema gráfico da armadilha de interceptação e queda. As letras A, B, C e M representam os recipientes enterrados até a margem superior do solo.

B

A

C

M

Lona plástica com

5 m de comprimento

0,4 m

0,25 m

m

0,4 m

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Figura 11 - Armadilha de interceptação e queda utilizada no levantamento dos répteis da Reserva Ecológica de Gurjaú, no período de agosto de 2002 a maio de 2003. (Foto: Maria Eduarda Larrázabal, 2002).

As armadilhas foram instaladas a cada 25 m, ao longo de um transecto de

775m na Mata Secupema (30 armadilhas) e em um transecto de 250 m na

Mata Cuxio (10 armadilhas) (Figura 11).

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Figura 12 - Área de instalação das armadilhas de queda para levantamento dos répteis da Reserva Ecológica de Gurjaú. (Fonte: FIDEM, 1987).

Embora a captura por terceiros não tenha sido incentivada, alguns exemplares

mortos foram obtidos por doação da comunidade local. Esse material foi

preservado em formol 10% até o momento da identificação e tombado na

Coleção Didática de Répteis da Universidade Federal de Pernambuco.

A maioria dos répteis foi capturada, identificada e devolvida ao mesmo local da

captura. Alguns animais foram levados ao Laboratório de Animais Peçonhentos

e Toxinas da UFPE para identificação ao nível de espécie, sendo

posteriormente soltos no mesmo ponto de captura. Alguns lagartos foram

fotografados e as fotos enviadas para o Dr. Miguel Trefault Rodrigues, Diretor

do Museu de Zoologia da USP, que gentilmente procedeu à identificação.

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ESFORÇO DE CAPTURA

A equipe empreendeu, aproximadamente, 175 horas para instalação das

armadilhas e 240 horas para coleta dos animais. A instalação das armadilhas

foi realizada utilizando períodos contínuos de quatro dias ao mês, com exceção

do mês de agosto de 2002 quando foram utilizados oito dias. A verificação das

armadilhas e a procura ativa dos répteis foram realizadas a cada três dias no

período de setembro de 2002 a maio de 2003.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram capturados e avistados um total de 246 espécimes de répteis (220

capturas e 26 avistamentos), sendo a maioria da subordem Sauria (181 spp.,

175 capturas e 6 avistamentos), seguido de Serpentes (42 spp., 40 capturas e

2 avistamentos), Crocodylia (14 spp., 5 capturas e 9 avistamentos) e Quelonia

(10 spp., 2 capturas e 8 avistamentos) (Figura 13).

Serpentes17,0%

Quelônios4,0%

Crocodilianos5,7%

Lagartos73,3%

Figura 13 - Distribuição proporcional entre número de capturas e avistamentos de répteis na Reserva de Gurjaú, de Agosto de 2002 a Maio de 2003.

O número de capturas e avistamentos de serpentes e lagartos variaram

significativamente nos meses estudados. As serpentes foram mais

abundantes nos períodos de agosto a outubro de 2002 e abril a maio de

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2003, enquanto os lagartos foram mais abundantes exatamente no período

complementar a estes meses: novembro de 2002 a abril de 2003. Os

quelônios foram avistados durante todo período de estudo e os crocodilianos

a partir de outubro de 2003 (Figura14).

Figura 14 - Distribuição mensal de capturas e/ou avistamentos dos grupos de répteis na Reserva de Gurjaú, de Agosto de 2002 a Maio de 2003. As barras representam o número de animais coletados e avistados.

Dentre os répteis capturados e avistados, os lacertílios foram os mais

abundantes. A espécies Kentropyx calcarata (Figura 15) foi capturada 60 vezes

nas armadilhas de interceptação e queda durante o período de estudo, seguida

de Anotosaura sp n. (39) e Mabuya heathi (22), porém a maioria dos animais

apresentou um número reduzido de capturas e avistamentos (Figura 16).

0

5

1 0

1 5

2 0

2 5

3 0

3 5

4 0

ago/0

2

set/02

out/0

2

nov/0

2

dez/02

jan/0

3

fev/0

3

mar/0

3

abr/03

mai/0

3

L a g a r t o s S e r p e n te s C r o c o d il ia n o s Q u e lô n io s

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Figura 15 - Kentropyx calcarata (calango) capturado na Mata do Secupema, na Reserva de Gurjaú (Fotografia Maria Eduarda Larrázabal, 2002).

Figura 16 - Número de capturas e avistamentos das espécies de répteis mais abundantes da Reserva de Gurjaú, durante o período de agosto de 2002 a maio de 2003.

Dentre todas as serpentes capturadas, a serpente fossorial Typhops sp1. foi

encontrada em maior número (Figura 17). Com certeza esse resultado não

reflete a abundância relativa dessa espécie, provavelmente, deve-se ao tipo de

armadilha utilizada, que privilegia a captura de animais terrícolas e fossoriais. O

0

10

20

30

40

50

60

K. cal

carat

a

Anatos

aura

sp

M. n

igro

punct

ata

C. lat

iross

tis

E. cat

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S. torq

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A. punc

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s

P.geo

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T. teg

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E. cen

chria

I. ce

nchoa

O. t

rigem

inus

A. punctatus

P.geoffranus

Typhops sp.

LagartosQuelôniosSerpentes

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encontro dessa serpente foi fortemente relacionado com o aumento da

pluviosidade. Esse comportamento também foi encontrado na distribuição

relativa de serpentes da Amazônia.

Figura 17 - Typhops sp1 capturada na Mata do Sucupema, na Reserva de Gurjaú (Fotografia Maria Eduarda Larrázabal, 2002).

A única espécie de quelônio identificada na Reserva de Gurjaú, Phrynops

geoffroanus, pertence à família Chelidae (Figura 18, Tabela 11). Essa espécie

já havia sido descrita para o estado de Pernambuco, sendo também

encontrada na caatinga (Vanzolini et al 1980; Rodrigues 2000).

Figura 18 - Vista dorsal (A) e ventral (B) de Phrynops geoffroanus (cágado de barbicha) capturado na Mata do Secupema, na Reserva de Gurjaú. (Foto: Cláudio Cazal, 2003).

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Figura 19 - Representatividade das famílias de Lagartos na Reserva de Gurjaú, durante o período de agosto de 2002 a maio de 2003.

Os lagartos foram distribuídos em 15 espécies e sete famílias, que não

variaram significativamente em representatividade: Polychrotidae (03 sp.),

Gekkonidae (03 sp), Teiidae (03 sp), Tropiduridae (2 sp.), Scincidae (02 sp) e

Gymnophaltidae (01 sp) (Figura 19, Tabela I.). Esse resultado apresenta certa

discrepância com o padrão esperado (em que as famílias Teiidae, Iguanidae e

Gekkonidae, seriam as mais abundantes em termos de espécies capturadas).

As serpentes representaram o maior número de espécies encontradas (25

espécies), distribuídas em apenas quatro famílias, apresentando significativa

representatividade na família Colubridae (18 sp), e menor número de espécies

nas famílias Boidae (03 sp), Viperidae (02 sp) e Typhlopidae (02 sp) (Figura 20,

Tabela 11). Esse resultado está compatível com o esperado, uma vez que a

família Colubridae compreende 63% das espécies de serpentes conhecidas

(Uetz 2000).

P o ly c h ro t id a e1 4 %

G e k k o n id a e2 2 %

S c in c id a e1 4 %

T ro p id u r id a e1 4 %

G y m n o p h ta lm id a e7 %

Ig u a n id a e7 %

T e i id a e2 2 %

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Figura 20 - Representatividade das famílias de Serpentes na Reserva de Gurjaú,

durante o período de agosto de 2002 a maio de 2003.

Apenas uma espécie de crocodiliano, pertencente à família Alligatoridae foi

registrada na Reserva de Gurjaú (Figura 21, Tabela 11).

Figura 21. Caiman latirostris (jacaré-do-papo-amarelo) capturado na Barragem, na Reserva de Gurjaú. (Fotografia Cláudio Cazal, 2002).

B o id a e1 2 %

T y p h lo p id a e8 %

V ip e r id a e8 %

C o lu b r id a e7 2 %

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Tabela 11 - Lista de espécies identificadas na Reserva de Gurjaú

Classificação Nomenclatura científica – Espécie Nome popular

ORDEM TESTUDINATA

SUBORDEM PLEUDIRA

FAMÍLIA CHELIDAE 1 Phrynops geoffroanus Schweigger, 1812

Cágado de barbicha

ORDEM SQUAMATA

SUBORDEM SAURIA

FAMÍLIA IGUANIDAE 2

Iguana iguana Linnaeus, 1748 Camaleão

FAMÍLIA

TROPIDURIDAE

3 Strobilurus torquatus Wiegmann,

1834

Lagartixa

4 Tropidurus hispidus Spix 1825 Lagartixa

FAMÍLIA

POLYCHROTIDAE 5 Anolis punctatus Daudin, 1802 Papa-vento

6 Enyalius catenatus Wied 1821 Papa-vento

7 Polychrus acutirostris Spix, 1825 Camaleão

FAMÍLIA GEKKONIDAE 8 Coleodactylus meridionalis

Boulenger 1888

9 Gymnodactylus darwinii Gray 1845

10 Hemidactylus mabouia Moreau de Jones 1818

Víbora

FAMÍLIA TEIIDAE 11 Ameiva ameiva Linnaeus, 1758 Calango

12 Kentropyx calcarata Spix, 1825 Calango

13 Tupinambis teguixim Linnaeus, 1758 Teju

FAMÍLIA

GYMNOPHTALMIDAE 14Anotosaura spn.

FAMÍLIA SCINCIDAE 15 Mabuya macrorhyncha Hoge, 1946

16 Mabuya heathi Spix, 1825

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Tabela 11 - Continuação da lista de espécies identificadas na Reserva de Gurjaú.

Classificação Nomenclatura científica - Espécie Nome popular

SUBORDEM SERPENTES

FAMÍLIATYPHLOPIDAE

1718

Typhlops sp1 Typhlops sp2

Cobra –cega Cobra –cega

FAMÍLIA BOIDAE 19 Boa constrictor Linnaeus, 1758 Jibóia 20 Corallus hortulanus Linnaeus, 1758 21 Epicrates cenchria Linnaeus, 1758 Cobra siri-de-fogo

FAMÍLIACOLUBRIDAE 22 Apostolepis sp.Cope 1862

23 Atractus potschi Fernandes 1995 24 Clelia clelia Daudin, 1803 Mussurana 25 Clelia plumbea Wield, 1820 26 Dendrophidion dendrophis Schlegel,

1837 27 Drymarchon corais Boie 1827 28 Helicops leopardinus Schlegel, 1837 Cobra-d’água 29 Imantodes cenchoa Linnaeus, 1758 30 Leptodeira annulata Linnaeus, 1758 Dormideira 31 Liophis cobellus Linnaeus 1758 Jararaquinha 32 Oxybelys aeneus Wagler, 1824 Cobra-cipó 33 Oxyrhopus trigeminus Duméril, Bibron e

Duméril, 1854 Falsa-coral

34 Oxyrhopus petola Linnaeus, 1758 Falsa-coral 35 Philodryas olfersii Lichternstein, 1823 Cobra-verde 36 Pseudoboa nigra Duméril, Bibron e

Duméril, 1854 Mussurana

37 Siphlophis compressus Daudin 1803 38 Spilotes pullatus Linnaeus, 1748 Caninana 39 Linnaeus, 1748

FAMÍLIA VIPERIDAE 40 Bothrops sp. Jararaca 41 Crotalus durissus cascavella Wagler,

1824Cascavel

ORDEM CROCODYLIA

FAMÍLIAALLIGATORIDAE

42 Caiman latirostris Daudin 1802 Jacaré-do-papo-amarelo

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Vinte espécies de serpentes foram identificadas através da captura dos animais

e duas através de avistamento (Spilottes pulatus e Drymarchon corais). A

última foi avistada junto da lona de uma das armadilhas na Mata deSecupema

o que permitiu a estimativa de seu comprimento (2,6m), apresentando cor

negra uniforme e comportamento agressivo característico dessa espécie, ao

avistar a equipe (levantou a região anterior do corpo, inflando a região gular

avermelhada) (Coborn 1991; Wolfgang Wüster, comunicação pessoal).

A maioria das espécies de serpentes encontradas na reserva de Gurjaú foi

encontrada em ambientes alterados como Liophis cobella (Martins 1994) ou

tolerantes a ambientes abertos (campos ou caatinga) e fechados (matas) tais

como Boa constrictor, Clélia clelia, Corallus hortulanus, Crotalus durisus

cascavella, Epicrates cenchria, Dendrophidion dendrophis, Helicops

leopardinus, Leptodeira annulata, Oxybelis aeneus,Oxyrhopus trigeminus,

Philodryas olfersii, Psedoboa nigra, Spilotes pullatus e Crotalus durissus

cascavella (Vanzolini 1948; Cordeiro e Hoge 1973; Rodrigues 1986;

Nascimento et al 1987; Cunha e Nascimento 1993; Martins 1994; Rodrigues

2000; Marques 2001; Silva 2001; Pinho 2002). O que sugere que as Matas

estudadas na Reserva de Gurjaú, escolhidas por estarem em melhor estado de

conservação, apresentam áreas abertas, que possibilitam a presença de

animais não exclusivos às regiões de Mata Atlântica.

Da mesma forma, algumas espécies de lagartos estão relacionadas a áreas

mais ensolaradas, sendo facilmente encontradas tanto em borda quanto no

interior das matas, estando associadas a grandes clareiras no interior destas

(Pough et al 1998; Zug et al 2001). Na reserva de Gurjaú foram relatados

Ameiva ameiva, Kentropyx calcarata, Tropidurus hispidus, Tupinambis teguixin

e Mabuya heathi, espécies que apresentam pouca exigência quanto ao nível de

preservação de áreas florestais. A espécie Strobilurus torquatus destaca-se por

ser um lagarto heliófilo relativamente raro, encontrado no solo somente em

áreas degradadas, pois originalmente preferem copas de grandes árvores

(Rodrigues et al. 1989). Por outro lado, Gymnodactylus darwinii e Anotosaura

sp. n. são espécies fortemente associadas a áreas sombreadas e folhiço de

mata representadas em fragmentos bem preservados. Espécies como Anolis

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puncatatus, Enyalius catenatus e Polychrus acutirostris apresentaram baixo

nível de captura, provavelmente devido à natureza arborícola dessas espécies

(Zamprogno et al 2001).

Com relação à distribuição geográfica, apenas duas espécies de serpentes são

exclusivas de Mata Atlântica (Clelia plumbea e Siphophis compressus)

(Nascimento et al 1987; Marques 2001), cinco espécies são encontradas na

Mata Atlântica e na Amazônia (Atractus potschi, Dendrophidion dendrophis,

Imantodes cenchoa, Liophis cobellus e Oxyrhopus petolaI) (Cordeiro e Hoge

1973; Vanzolini 1986; Nascimento et al 1987; Nascimento e Lima Verde 1989;

Cunha e Nascimento 1993; Martins 1994; Marques 2001), quatro espécies são

encontradas na caatinga e Mata Atlântica (Corallus hortulanus, Helicops

leopardinus, Pseudoboa nigra e Crotalus durissus cascavella) (Cordeiro e Hoge

1973; Rodrigues 2000; Silva 2001; Pinho 2002) e oito espécies são

encontradas na caatinga, Amazônia e Mata Atlântica (Boa constrictor, Epicrates

cenchria, Clelia clelia, Leptodeira annulata, Oxybelys aeneus, Oxyrhopus

trigeminus, Philodryas olfersii e Spilotes pullatus) (Vanzolini 1948; Cordeiro e

Hoge 1973; Vanzolini 1986; Nascimento et al 1987; Nascimento e Lima Verde

1989; Cunha e Nascimento 1993; Martins 1994; Rodrigues 2000; Silva 2001;

Marques 2001).

Embora não tenham sido registrados endemismos dentre as 25 espécies de

serpentes amostradas em Gurjaú, sete representam novas descrições para o

estado de Pernambuco (Corallus hortulannus, Atractus potschi, Clelia plumbea,

Dendrophidion dendrophis, Drymarchon corais, Imantodes cenchoa e

Oxyrhopus petola).

Portanto, dentre as 57 espécies de serpentes registradas para o Estado de

Pernambuco, incluindo-se as sete espécies identificadas nesse estudo, a fauna

herpetológica da Reserva de Gurjaú inclui 43,86% do total de espécies do

estado de Pernambuco (Cordeiro e Hoge, 1973; Silva 2001; Pinto 2002).

Dentre as 15 espécies de lagartos capturadas em Gurjaú, quatro espécies

(Enyalius catenatus, Gymnodactylus darwinii, Strobilurus torquatus e

Anotosaura sp.n.) são endêmicas de Mata Atlântica, apresentando raríssimos

relatos em outros ambientes. Anotosaura sp. n. é uma espécie ainda não

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descrita, capturada apenas na Paraíba, portanto, constitui o primeiro relato

para Pernambuco (Rodrigues 1990).

As demais espécies são também encontradas em outros biomas: cinco

espécies são encontradas na caatinga, cerrado, Amazônia e Mata Atlântica

(Ameiva ameiva, Hemidactylus mabouia, Mabuya heathi, Mabuya

macrorhyncha, Tropidurus hispidus) (Vanzolini 1972, 1974, 1976, Vanzolini et

al 1980, Rodrigues 1987, 1990 e 2000), duas espécies em caatinga, Amazônia

e Mata Atlântica (Iguana iguana, Tupinambis teguixin) (Cunha 1961; Vanzolini

1972, 1974, 1976; Vanzolini et al 1980; Cunha 1981; Rodrigues 1987, 1990;

Silva Jr e Site Jr 1995; Rodrigues 2000), uma espécie em caatinga, cerrado e

Mata Atlântica (Polychrus acutirostris) (Vanzolini 1972, 1974, 1976, Vanzolini et

al 1980, Rodrigues 1987, 1990; Vitt 1991, Araujo e Colli 1998; Rodrigues 2000)

e uma espécie em caatinga e Mata Atlântica (Coleodactylus meridionalis)

(Vanzolini 1972, 1974, 1976; Vanzolini et al 1980; Rodrigues 1987, 1990 e

2000).

Embora tenhamos que considerar o vício de amostragem devido ao uso de

armadilhas de interceptação e queda, a grande maioria das serpentes

identificadas foi terrícola e fossorial (22 espécies terrícolas e fossoriais e três

arborícolas e subarborícolas), o que indica que um percentual alto da ofiofauna

tem condições mínimas de nicho estrutural para resistir a perturbações na

floresta (Vanzolini 1986). As armadilhas utilizadas oferecem grande sucesso de

captura para quase todos os tipos de lagartos encontrados na reserva, com

exceção dos grandes lagartos (Tupinambis teguixin) e aqueles com hábitos

extremamente arborícolas (Iguana iguana, Anoles puincatatus e Polychrus

acutirostris) ou fortemente associados a outros habitats/microhabitats.

A curva de espécies, representando o total acumulado de táxons durante o

período de estudo, sugere que não tenha sido alcançado o plateau de

saturação de espécies para serpentes. Por outro lado, os demais grupos foram

eficientemente amostrados (Figura 22).

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0

5

10

15

20

25

AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI

Serpentes Lagartos

Quelônios Crocodilianos

Figura 22 - Curva de acumulação de espécies de serpentes e lagartos na Reserva de Gurjaú, com base em resultados de busca ativa, captura em armadilhas de interceptação e queda e captura por terceiros, entre os meses de agosto de 2002 e maio de 2003.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos sugerem que os fragmentos avaliados na Reserva de

Gurjaú apresentam relevante diversidade de répteis principalmente de

serpentes e lagartos, que apresentam oito novos registros para o estado de

Pernambuco, quatro espécies endêmicas e uma rara. Por outro lado, os

mesmos fragmentos estão submetidos a forte impacto pela ação antrópica.

Esta pode ser comprovada pela presença de várias espécies adaptáveis a

ambientes degradados, pelo pequeno número de animais registrados de cada

espécie, bem como pela constante destruição de armadilhas durante o estudo

e pela presença de trilhas, armadilhas de caçadores e cães domésticos no

interior das matas examinadas.

Cabe ressaltar que se faz necessário um trabalho intenso de educação

ambiental, uma vez que as serpentes são consideradas animais perigosos e

por isso são sacrificadas indiscriminadamente pela população humana local,

apesar de apenas duas espécies dentre as 22 registradas oferecerem risco.

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Além dessa atividade predatória, os lagartos Iguana iguana e Tupinambis

teguixin, o quelônio Phrynops geoffroanus e o crocodiliano Caiman latirostris

são espécies de potencial sinergético, sendo consumidas de forma não

sustentável pela população humana local.

Diante do exposto, sugere-se que há forte necessidade de execução de

medidas mitigadoras dos impactos ambientais para manutenção e recuperação

da importante fauna herpetológica evidenciada na Reserva.

Deve-se lembrar que quanto maior a área protegida, tanto maior será a

diversidade e a resistência dos animais ao desgaste causado pela proximidade

e inserção das populações humanas (Vanzolini 1986). Com certeza, medidas

que visem reconstituir os fragmentos originais trarão grandes benefícios para

fauna de répteis, tão significante e ainda tão pouco conhecida, da Reserva

Ecológica de Gurjaú.

4.2.3 Levantamento de Aves

Introdução

A Mata Atlântica é considerada o bioma de maior diversidade biológica do

planeta, no entanto, é pouco conservada. Segundo Almeida (2000), baseado

nos níveis atuais de degradação, esta floresta encontra-se com a

biodiversidade comprometida, onde muitas espécies já foram extintas, sem

mesmo serem descritas. A Floresta Atlântica colabora de forma expressiva

para que o Brasil seja considerado o país da megabiodiversidade, possuindo

um alto nível de endemismo em todos os grupos taxonômicos, incluindo aves,

primatas, borboletas e plantas (Aleixo 1997, Silva e Tabarelli 2000). É

considerada, pela UNESCO, Reserva da Biosfera, sendo uma das três maiores

prioridades de conservação do mundo (Consórcio Mata Atlântica UNICAMP,

1992; Meyrs et al. 2000)

Dos 36,8% de área original da Floresta Atlântica Nordestina, restam apenas

cerca de 3% (Willis e Oniki 1992). Para o estado de Pernambuco esta área

apresentava 34,14% do original, restando atualmente 4,6% (Gonzaga de

Campos 1912, SNE 1994).

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Segundo Sick (1997), o Brasil possui 1677 espécies de aves, entre residentes

e visitantes, das quais 212 são endêmicas e de distribuição restrita nos limites

da Mata Atlântica. As observações realizadas sobre aves em Pernambuco

ocorreram principalmente na mata Atlântica (Forbes 1881, Pinto 1940, Berla

1946, Coelho 1979, Azevedo Júnior 1990 e Azevedo Júnior et al. 1998, Telino

Júnior et al. 2000).

Segundo Roda (2002), foram registradas 498 espécies de aves para

Pernambuco, das quais 46 estão listadas como ameaçadas (IBAMA 2003).

A avifauna pode funcionar como bioindicadora das condições ambientais

constituindo um dos grupos que melhor responde a impactos causados ao

meio ambiente, uma vez que desaparecem rapidamente quando este é

alterado, atingindo níveis insuportáveis (Regalado e Silva 1997).

O levantamento avifaunístico contribui não só para a caracterização de um

ambiente, como também para um melhor conhecimento da distribuição

geográfica das espécies, além de funcionar como subsídios para trabalhos de

monitoramento e manejo (Almeida 2000, Regalado et al. 2000). Dessa forma,

fornece dados relevantes para a conservação da diversidade biológica,

extremamente ameaçada no Brasil.

A conservação consiste em uma premissa básica para a manutenção da

biodiversidade. Dentre os diversos fatores que acarretam na perda da

diversidade biológica, destaca-se a redução das áreas naturais e a caça de

comercialização, sobretudo nas proximidades dos centros urbanos (Azevedo

Júnior et al. 1998).

Desta forma, pretende-se com este estudo conhecer a composição

avifaunística da Reserva Ecológica de Gurjaú, bem como fornecer subsídios

para projetos conservacionistas, principalmente no que tange ao manejo

sustentado da Unidade.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

Inserida em uma única propriedade, pertencente à Companhia Pernambucana

de Abastecimento de Água (COMPESA), onde existe uma Estação de

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Tratamento de Água (ETA), a Reserva de Gurjaú possui uma área de 1.077,10

ha definida pela Lei Estadual Nº 9.989 de 1987. Apresenta-se como uma área

típica de uma mata, ainda bem conservada, com vegetação de grande porte

associada à vegetação de médio e pequeno porte. O local encontra-se

bastante ameaçado, não só em decorrência da exploração canavieira, como do

uso indiscriminado pelos posseiros para pecuária, fruticulltura e agricultura de

subsistência. O trabalho foi realizado nas matas do Mané do Doce, Cuxio e de

Secupema.

MÉTODOS DE AMOSTRAGEM DA AVIFAUNA

Amostragem Quantitativa.

O levantamento quantitativo foi realizado no horário compreendido entre 5h e

30 min às 9h e 30min, durante cinco dias consecutivos. As observações foram

realizadas em uma trilha pré-existente na Reserva, com cerca de 4.000 metros,

abrangendo o interior e a borda da mata. Além das espécies já registradas no

levantamento da trilha, foram realizadas caminhadas pelo interior e pela borda

dos fragmentos com pontos de escuta e observação (Almeida et al. 1999),

durante cinco dias, das 15h às 17h e 30min. Os ambientes adjacentes aos

fragmentos foram considerados nesta amostragem. Foram anotadas as

espécies com o tipo de registro (visual ou escuta), estrato ocupado (dossel,

sub-bosque ou solo), local do registro (interior, borda ou áreas adjacentes),

observações gerais sobre o comportamento dos indivíduos e algumas

condições ambientais relevantes. As observações foram realizadas com

binóculos 8mm x 30mm e as vocalizações registradas através de gravador

AIWA modelo TP560 com microfone externo para casos dúbios.

CAPTURAS

Foram utilizadas 20 redes de neblina de 36mm de malha, 12 m de

comprimento e 2,5m de altura. Essas redes foram dispostas em linhas de rede,

em uma seqüência única, segundo a metodologia adotada por Bierregaard Jr. e

Lovejoy (1989). Foram armadas desde o interior da mata até atingir a borda e

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área adjacente, amostrando os ambientes da área (Figura 23). A captura

ocorreu em cinco dias consecutivos a cada mês amostrado, permanecendo as

redes abertas das 5h às 10h, e das 15h às 17h, horários que concentram maior

número de indivíduos ativos (Figura 24).

A Identificação das espécies foi realizada através de referências básicas e

guias de campo ilustrados (Dunning 1987, Ridgely & Tudor 1994a, b e Sick

1997) e as vocalizações gravadas foram comparadas às existentes no arquivo

sonoro dos pesquisadores. A separação de indivíduos machos e fêmeas foi

realizada através da análise da plumagem.

AMOSTRAGEM QUALITATIVA

Foram consideradas para a elaboração da listagem específica as espécies

registradas nos levantamentos quantitativos, nas capturas e os registros visuais

e auditivos de aves através de caminhadas realizadas pelos diversos

fragmentos de mata de Gurjaú.

Figura 23 - Mata da Reserva de Gurjaú evidenciando as Matas do Cuxió e Secupema, locais de captura e de levantamento quantitativo para o grupo aves.

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Figura 24 -: Rede de captura (rede de neblina) armada na Mata do Cuxió na Reserva de Gurjaú, detalhando um indivíduo de Leptopogon amaurocephalus no momento da captura em 2 de outubro de 2002.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram relacionadas 225 espécies de aves para a reserva de Gurjaú, com um

total de 14 ameaçadas, de acordo com a listagem apresentada pelo Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis em 2003. As

espécies ameaçadas relacionadas para Gurjaú foram: Thalurania watertonii,

Momotus momota macgraviana, Picumnus exilis pernambucensis,

Conopophaga liineata cearae, Conopophaga melanops nigrifons, Curaeus

forbesi, Tangara cyanocephala corallina, Tangara fastuosa, Xenops minutus

alagoanus, Myrmeciza ruficauda, Pyriglena leuconota pernambucensis,

Thamnophilus aethiops distans, Thamnophilus caerulesces, Platyrinchus

mystaceus niveigularis (Figuras de 25 a 28).

No que se refere ao censo, foram registradas 177 espécies, correspondendo a

78,67% do total de espécies catalogadas para a área. A freqüência de

ocorrência variou de 0,09% a 8,36% para os não Passeriformes; de 0,03% a

9,46% para os Passeriformes Suboscines e de 0,04% a 14,55% para os

Passeriformes Oscines (Tabela 12).

As espécies mais abundantes dos não Passeriformes foram: Laterallus viridis,

Porphyrula martinica, Jacana jacana, Pionus maximiliani, Piayia cayana,

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Crotophaga ani, Glaucis hirsuta, Phaethornis ruber e Galbula ruficauda. (Figura

29). Para os Passeriformes Suboscines os mais abundantes foram:

Herpsilochmus rufimarginatus, Formicivora grisea, Sittasomus griseicapillus,

Zimmerius gracilipes, Elaenia flavogaster, Hemitriccus zosterops, Todirostrum

cinereum, Tolmomyias flaviventris, Pitangus sulphuratus, Myiozetetes similis,

Legatus leucophaius, Tyrannus melancholicus, Chiroxiphia pareola e Manacus

manacus (Figura 30). Os Passeriformes Oscines mais abundantes foram:

Thryothorus genibarbis, Troglodytes musculus, Ramphocaenus melanurus,

Turdus leucomelas, Cyclarhis gujanensis, Vireo chivi, Coereba flaveola,

Thraupis palmarum, Euphonia violacea, Arremon taciturnus e Saltator maximus

(Figura 31)

Foi registrada a presença da placa de incubação em algumas aves capturadas

na reserva de Gurjaú. Segundo Sick (1997), a placa incubatória costuma ser

restrita às fêmeas, entretanto, Davis (1945) registrou a presença da placa de

choco em machos de tiranídeos. A tabela 13 relaciona as aves, sexo, e os

períodos que foram observados o sinal de choco. Os exemplares da tabela 13,

sem dimorfimo sexual aparecem com o sexo indeterminado. Foram registrados

Camptostoma obsoletum, Coereba flaveola, transportando material para

construção do ninho em um arbusto em 13 de setembro de 2002. Estas

observações sugerem o mês de setembro como parte do período reprodutivo

destas espécies.

Trabalhos desenvolvidos nas matas da Estação Ecológica de Tapacurá

detectaram o período de maio a outubro para a reprodução de algumas aves

de mata (Azevedo Júnior e Serrano 1987 e Azevedo Júnior 1990). Em Gurjaú,

o período reprodutivo foi de setembro a fevereiro com registro em março e

outro em junho.

Foram observados na beira da Mata Mané do Doce, um bando com cinco

Tangara fastuosa e um Tangara cyanocephala corallina, em 28 de agosto de

2002. Em 14 de setembro, dois indivíduos de Tangara fastuosa foram vistos

comendo frutos de bananeira na borda da mata acima citada. Comumente

essas aves são observadas em beira de mata e são muito apreciadas por

passarinheiros (Sick, 1997).

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Os beija-flores: Glucis hirsuta, Phaethornis ruber, Eupetomena macroura,

Amazilia vesicolor e Heliothrix aurita foram observados visitando o “mangará”

das bananeiras na mata do Mané do Doce. Na mesma localidade, Euphonia

violacea, Tangara fastuosa, Tangara cyanocephala, Dacnis cayana, Cyanerpes

cyaneus e Saltator maximus, alimentavam-se de bananas cultivadas entre os

fragmentos de mata da reserva de Gurjaú.

A riqueza da avifauna de Gurjaú constituída por 225 espécies, com

representantes ameaçados e endêmicos reforça a necessidade da implantação

de uma unidade de conservação que proteja esses recursos, considerando,

sobretudo, a pressão antrópica do desmatamento, da implantação de culturas

agrícolas e da caça de comercialização.

As Matas do Mané do Doce, Cuxio e do Secupema, em função da ocorrência

de exemplares ameaçados e endêmicos, deveriam ser interligadas por

corredores, acelerando o processo de restauração.

76

64

3754

88

77

4843

34

Laterallus viridis

Porphyrula martinica

Jacana jacana

Pionus maximiliani

Piaya cayana

Crotophaga ani

Glaucis hirsuta

Phaethornis ruber

Galbula ruficauda

Figura 25 - Freqüência de ocorrência das espécies de aves mais abundantes (Não Passeriformes), quantificadas entre agosto de 2002 a abril de 2003 na Reserva de Gurjaú, Pernambuco.

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87

111

108

119

251

178

136290

171

119

126

212103117

157

Herpsilochmus rufimarginatusFormicivora griseaSittasomus griseicapillusZimmerius gracilipes Elaenia flavogaster Hemitriccus zosterops Todirostrum cinereum Tolmomyias flaviventrisPitangus sulphuratusMyiozetetes similis Legatus leucophaius Tyrannus melancholicus Chiroxiphia pareola

Figura 26 - Freqüência de ocorrência das espécies de aves mais abundantes (Passeriformes: Suboscines), quantificadas entre agosto de 2002 a abril de 2003 na Reserva de Gurjaú, Pernambuco.

162

126

142

192

147

247223

341

96

103

173Thryothorus genibarbis Troglodytes aedonRamphocaenus melanurusTurdus leucomelas Cyclarhis gujanensis Vireo chivii Coereba flaveola Thraupis palmarum Euphonia violaceaArremon taciturnus Saltator maximus

Figura 27 - Freqüência de ocorrência das espécies de aves mais abundantes (Passeriformes: Oscines), quantificadas entre agosto de 2002 a abril de 2003 na Reserva de Gurjaú, Pernambuco.

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Figura 28 - Tangara fastuosa capturado na Mata do Mané do Doce, Reserva de Gurjaú em 13 de setembro de 2002 (espécie ameaçada)

Figura 29 - Conopophaga melanops (macho) capturado na Mata do Secupema, Reserva de Gurjaú em 2 de outubro de 2002 (espécie ameaçada).

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Figura 30 - Conopophaga melanops (fêmea) capturado na Mata do Secupema, Reserva de Gurjaú em 3 de outubro de 2002 (espécie ameaçada).

Figura 31 – Platyrhynchos mystaceus capturado na Mata do Sucupema, Reserva de Gurjaú em 3 de outubro de 2002 (espécie ameaçada).

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Tabela 12 – Listagem das aves da reserva de Gurjaú apresentando a freqüência de ocorrência (FO) das espécies relacionadas.

ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME POPULAR FOORDEM TINAMIFORMES FAMÍLIA TINAMIDAE

001 Crypturellus soui nhambu-mata-cachorro 0,47002 Crypturellus parvirostris nhambu-espanta-boiada 0,28003 Crypturellus tataupa nhambu-de-pé-roxo004 Nothura boraquira codorna-de-cabeça-preta 0,19

ORDEM PODICIPEDIFORMES FAMÍLIA PODICIPEDIDAE

005Tachybaptus dominicus mergulhão-pequeno

006 Podilymbus podiceps mergulhão-caçador 0,19 ORDEM CICONIIFORMES FAMÍLIA ARDEIDAE

007 Casmerodius albus garça-branca-grande008 Egretta thula garça-branca-pequena 0,09009 Bulbucus ibis garça-vaqueira 0,85010 Butorides striatus socozinho 0,09011 Tigrisoma lineatum socó-boi 0,47012 Ixobrychus exilis socoí-vermelho013 Botaurus pinatus socó-boi-marron 0,09

FAMÍLIA CATHARTIDAE 014 Coragyps atratus urubú-de-cabeça-preta 1,71015 Cathartes aura urubú-de-cabeça-vermelha 1,8 016 Cathartes burrovianus urubú-de-cabeça-amarela

ORDEM ANSERIFORMES FAMÍLIA ANATIDAE

017 Dendrocygna viduata irerê018 Amazonetta brasiliensis patarrona019 Nomonyx dominicus bico-roxo

ORDEM FALCONIFORMES FAMÍLIA ACCIPITRIDAE

020 Elanus leucurus gavião-peneira 021 Gampsonyx swainsonii gavião-pombo022 Leptodon cayanensis gavião-de-cabeça-cinza 1,04

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023 Buteo albicaudatus gavião-de-cauda-branca 024 Asturina nitida gavião-pedrez 0,19025 Buteo brachyurus gavião-de-cauda-curta 0,28026 Rupornis magnirostris gavião-carijó 2,37027 Buteogallus urubutinga gavião-preto 0,09028 Spizaetus tyrannus gavião-pega-macaco 0,28

FAMÍLIA FALCONIDAE

029 Herpetotheres cachinnans acauã 0,47030 Micrastur semitorquatus gavião-relógio 0,09031 Micrastur gilvicollis gavião-mateiro 0,28032 Milvago chimachima carrapateiro 0,19033 Caracara plancus carcará 0,28

ORDEM GALLIFORMES FAMÍLIA CRACIDAE

034 Ortalis araucuan aracuã ORDEM GRUIFORMES FAMÍLIA ARAMIDAE

035 Aramus guarauna carão 0,19Continuação da Tabela 12

Ordem/Família/Espécie Nome Popular FoFAMÍLIA RALLIDAE

036 Aramides cajanea três-potes 0,28037 Porzana albicollis sanã-carijó038 Laterallus viridis saracura-marron 3,23039 Gallinula chloropus frango-d'água-preta040 Porphyrula martinica frango-d'água-azul 7,22

ORDEM CHARADRIIFORMES FAMÍLIA JACANIDAE

041 Jacana jacana jaçanã 6,08 FAMÍLIA CHARADRIIDAE

042 Vanellus chilensis tetéu 0,38 ORDEM COLUMBIFORMES FAMÍLIA COLUMBIDAE

043 Columbina passerina rolinha-cinzenta 044 Columbina minuta rolinha-cafofa 0,85

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045 Columbina talpacoti rolinha-caudo-de-feijão 0,76046 Leptotila rufaxilla juriti 7,5 047 Geotrygon montana parari 1,04

ORDEM PSITTACIFORMES FAMÍLIA PSITTACIDAE

048 Aratinga leucophthalmus maritaca 0,09049 Aratinga cactorum gangarra 0,19050 Forpus xanthopterygius tuim 0,95051 Touit surda apuim-de-cauda-amarela 1,61052 Pionus maximiliani maitaca-de-maximiliano 3,51

ORDEM CUCULIFORMES FAMÍLIA CUCULIDAE

053 Piaya cayana alma-de-gato 4,56054 Crotophaga ani anu-preto 4,08055 Guira guira anu-branco056 Tapera naevia peitica 0,19

ORDEM STRIGIFORMES FAMÍLIA STRIGIDAE

057 Otus choliba corujinha-do-mato058 Pulsatrix perspicillata murucututu 059 Glaucidium brasilianum caburé 0,09

ORDEM CAPRIMULGIFORMES FAMÍLIA NYCTIBIIDAE

060Nyctibius griseus mãe-da-lua FAMÍLIA CAPRIMULGIDAE

061 Nictidromus albicollis bacurau 0,09062 Hydropsalis brasiliana bacurau-rabo-de-tesoura

ORDEM APODIFORMES FAMÍLIA APODIDAE

063 Reinarda squamata tesourinha 0,57 FAMÍLIA TROCHILIDAE

064 Glaucis hirsuta balança-rabo-de-bico-torto 5,13065 Phaethornis pretrei rabo-branco-de-sobre-amarelo 0,47066 Phaethornis ruber besourinho-da-mata 8,36067 Eupetomena macroura beija-flor-rabo-de-tesoura 0,66

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068

Melanotrochilus fuscus beija-flor-de-rabo-preto-e-branco

069 Anthracothorax nigricollis beija-flor-de-veste-preta 1,23070 Chrysolampis mosquitus beija-flor-vermelho 1,52071

Chlorestes notatus beija-flor-safira-de-garganta-azul 2,47

072 Chlorostilbon aureoventris besourinho-de-bico-vermelho 0,28073 Thalurania watertonii * beija-flor-das-costas-violeta 1,14074 Hylocharis cyanus beija-flor-roxo 0,47075 Amazilia versicolor beija-flor-de-banda-branca 0,09076 Amazilia fimbriata beija-flor-de-garganta-branca 0,19077 Amazilia leucogaster beija-flor-de-barriga-branca 0,19078 Heliothryx aurita beija-flor-de-bochecha-azul 0,38079 Heliactin cornuta chifre-de-ouro

ORDEM TROGONIFORMES FAMÍLIA TROGONIDAE

080 Trogon viridis surucuá-de-barriga-amarela 0,28081 Trogon curucui surucuá-de-coroa-azul 0,76

ORDEM CORACIFORMES FAMÍLIA ALCEDINIDAE

082 Ceryle torquata martin-pescador-grande083 Chloroceryle amazona martin-pescador-verde 0,19084 Chloroceryle americana martin-pescador-pequeno 1,52085 Chloroceryle aenea martin-pescador-anão 0,09

FAMÍLIA MOMOTIDAE

086 Momotus momota * udu-de-coroa-azul

ORDEM PICIFORMES FAMÍLIA GALBULIDAE

087 Galbula ruficauda bico-de-agulha 7,31 FAMÍLIA BUCCONIDAE

088 Nystalus maculatus joão-bobo 0,38 FAMÍLIA RAMPHASTIDAE

089 Pteroglossus aracari araçari-de-bico-branco 2,75090 Pteroglossus inscriptus araçari-miúdo-de-bico-riscado 0,85

FAMÍLIA PICIDAE

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091 Picumnus cirratus pica-pau-anão-barrado 0,76092 Picumnus exilis * pica-pau-anão-dourado 2,56093 Picumnus fulvescens pica-pau-anão-de-pernambuco 2,09094 Dryocopus lineatus pica-pau-de-banda-branca 0,09095 Veniliornis passerinus pica-pau-pequeno 0,76096 Veniliornis affinis pica-pau-de-asa-vermelha 1,61

ORDEM PASSERIFORMES FAMÍLIA FORMICARIIDAE

097 Taraba major cancão-de-fogo 098 Thamnophilus doliatus choca-barrada099 Thamnophilus palliatus choca-listrada 0,36100 Thamnophilus caerulescens * espanta-raposa 0,42101 Thamnophilus aethiops * choca-lisa 0,82102 Dysithamnus mentalis choquinha-lisa 0,39103 Thamnomanes caesius ipecuá 0,39104 Myrmotherula axillaris choquinha-de-flancos-brancos 2,61105 Herpsilochmus rufimarginatus chorozinho-de-asa-ruiva 3,36106 Herpsilochmus atricapillus chorozinho-de-chapéu-preto 0,49107 Formicivora grisea papa-formiga-pardo 3,62108 Pyriglena leuconota * papa-taoca 109 Myrmeciza ruficauda * papa-formiga-de-cauda-ruiva 0,36110 Conopophaga melanops * chupa-dente-de-máscara-preta 111 Conopophaga lineata * chupa-dente

FAMÍLIA FURNARIIDAE 112 Furnarius leucopus amassa-barro113 Synallaxis frontalis tio-antônio 0,36114 Poecilurus scutatus estrelinha-preta 0,13115 Certhiaxis cinnamomea casaca-de-couro 0,33116 Phacellodomus rufifrons ferreiro 0,88117 Xenops minutus * bico-virado-miúdo 0,42118 Xenops rutilans bico-virado-carijó 0,1

FAMÍLIA DENDROCOLAPTIDAE 119 Sittasomus griseicapillus arapaçu-verde 3,52120 Xiphorhynchus picus arapaçu-de-bico-branco 2,41121 Lepdocolaptes angustirostris arapaçu-do-cerrado 0,03122 Lepdocolaptes fuscus arapaçu-rajado 0,55

FAMÍLIA TYRANNIDAE

123 Zimmerius gracilipes poairo-de-sobrancelha 3,88

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124 Camptostoma obsoletum risadinha 1,11125 Phaeomyias murina bagageiro126 Myiopagis viridicata guaracava-esverdiada 127 Myiopagis gaimardii maria-pechim 0,49128 Elaenia flavogaster maria-já-é-dia 8,18129 Elaenia spectabilis guaracava-grande 0,1 130 Elaenia mesoleuca gordinho 0,06131 Elaenia cristata papa-enxeico 0,03132 Mionectes oleagineus abre-asas 0,23133 Leptopogon amaurocephalus cabeçudo 2,09134 Capsiempis flaveola marianinha 1,21135 Hemitriccus zosterops sebinho-olho-branco 5,8 136 Hemitriccus margaritaceiventer sebinho-olho-de-ouro 0,42137 Todirostrum cinereum relojinho 4,43138 Poecilotriccus fumifrons ferreirinho 0,07139 Ryncocyclus olivaceus bico-chato-olivaceo 0,68140 Tolmomyias sulphurescens bico-chato-de-orelha-preta 0,1 141 Tolmomyias poliocephalus bico-chato-de-cabeça-cinza 0,78142 Tolmomyias flaviventris bico-chato-amarelo 5,12143 Platyrinchus mystaceus patinho144 Myiobius barbatus assadinho-de-peito-dourado 0,03145 Myiophobus fasciatus felipe-de-peito-riscado 0,23146 Lathrotriccus euleri enferrujado 0,1 147 Cnemotriccus fuscatus guaracavuçu 0,03148 Fluvicola nengeta lavadeira 1,01149 Arundinicola leucoephala viuvinha150 Machetornis rixosus bem-te-vi-do-gado 0,13151 Rhytipterna simplex planadeira 0,16152 Myiarchus ferox mané-besta 0,52153 Miyarchus tyrannulus mané-besta 0,16154 Myiarchus swainsoni irrê 0,16155 Myiarchus tuberculifer maria-cavaleira-pequena 2,41156 Pitangus sulphuratus bem-te-vi 9,46157 Megarhynchus pitangua bem-te-vi-de-bico-de-gamela 1,04158

Myiozetetes similisbem-te-vizinho-de-coroa-vermelha 5,58

159 Myiodynastes maculatus bem-te-vi-rajado 0,03160 Legatus leucophaius bem-te-vi-pirata 3,88161 Empidonomus varius peitica 0,03162 Tyrannus melancholicus suiriri 4,11163 Pachyramphus viridis caneleiro-verde 0,03164 Pachyramphus polichopterus caneleiro-preto 1,24165 Pachyramphus validus caneleiro-de-chapéu-preto 0,1

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FAMÍLIA PIPRIDAE

166 Pipra rubrocapilla cabeça-encarnada 2,28167 Chiroxiphia pareola tangará 6,91168 Manacus manacus rendeira 3,81169 Neopelma pallescens fruxu 0,16170 Schiffornis turdinus flautin-marron 0,03

FAMÍLIA HYRUNDINIDAE 171 Tachycineta albiventer andorinha-do-rio 2,05172 Progne chalybea andorinha-doméstica-grande173 Alopochelidon fucata andorinha-morena 0,04174 Stelgidopteryx ruficollis andorinha-serrador 2,01175 Hirundo rustica andorinha-de-bando 0,13

FAMÍLIA TROGLODYTIDAE

176 Donacobius atricapillus chauá 1,83177 Thryothorus genibarbis garrinchão-pai-avô 6,91178 Troglodytes musculus cambaxirra 5,38

FAMÍLIA MUSCICAPIDAE 179 Ramphocaenus melanurus balança-rabo-de-bico-curvo 6,06180 Polioptila plumbea balança-rabo-de-chapéu-preto 0,77181 Turdus rufiventris sabiá-laranjeira 1,37182 Turdus leucomelas sabiá-branca 8,19183 Turdus amaurochalinus sabiá-poca 0,04184 Turdus fumigatus sabiá-da-mata 0,09

FAMÍLIA VIREONIDAE

185 Cyclarhis gujanensis pitiguari 6,27186 Vireo chivi juruviara 10,5187 Hylophilus poicilotis verdinho-coroado 0,04

FAMÍLIA EMBEREZIDAE 188 Basileuterus flaveolus canário-do-mato 0,64189 Basileuterus culicivorus pula-pula190 Coereba flaveola sebito 9,51191 Cissopis leveriana pêga192 Thlypopsis sordida saíra-canário 0,04193 Nemosia pileata saíra-de-chapéu-preto 0,38194 Tachyphonus cristatus tiê-galo 0,68195 Tachyphonus rufus joão-moleque 0,3 196 Ramphocelus bresilius sangue-de-boi

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197 Thraupis sayaca sanhaçu-de-bananeira 0,43198 Thraupis palmarum sanhaçu-de-coqueiro 14,5199 Euphonia chlorotica vem-vem 0,64200 Euphonia violacea guriatã 4,1 201 Tangara fastuosa * pintor202 Tangara cyanocephala * verdelin203 Tangara cayana frei-vicente 1,96204 Tangara velia saíra-diamante205 Dacnis cayana saí-azul 0,81206 Cyanerpes cyaneus saíra-beija-flor 0,55207 Sicalis luteola mané-mago208 Volatinia jacarina tiziu 0,34209 Sporophila lineola bigode210 Sporophila nigricollis papa-capim ou cabeça-preta 0,04211 Sporophila albogularis golado212 Sporophilla leucoptera patativa-chorona 0,09213 Sporophila bouvreuil caboclinho214 Tiaris fuliginosa cigarra-de-coqueiro215 Arremon taciturnus tico-tico-da-mata 4,39216 Paroaria dominicana galo-de-campina217 Saltator maximus trinca-ferro 7,38218 Cacicus solitarius bauá219 Icterus cayanensis xexéu 0,3 220 Icterus jamacaii concriz 0,09221 Leistes superciliaris espanta-boiada222 Curaeus forbesi * papa-arroz 0,3 223 Molothrus bonariensis chopim, galdério

FAMILIA PASSERIDAE

224 Passer domesticus pardal 0,64 FAMÍLIA ESTRILDIDAE

225 Estrilda astrild bico-de-lacre 0,13

*Espécies ameaçadas de acordo com IBAMA (2003)

Tabela 13 – Presença de placa de incubação em aves capturadas no centro da mata de Secupema (08 13 33,3” S , 35 03 44,1” W), na Reserva de Gurjaú, Pernambuco.

Espécie Quantidade Sexo PeríodoTurdus leucomela 5 Indeterminados 01-10-2002Manacus manacus 2 Fêmeas 01-10-2002\\Chiroxiphia pareola 2 Fêmeas 01-10-2002Gluacis hirsuta 2 Indeterminados 02-10-2002

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98

Turdus rufiventris 1 Indeterminado 02-10-2002Leptopogon 1 Indeterminado 02-10-2002Conopophaga cearae 1 Indeterminado 02-10-2002Myrmotherula axilaris 1 Macho 03-10-2002Manacus manacus 1 Fêmea 03-10-2002Hemitriccus zosterops 1 Indeterminado 03-10-2002Pipra rubrocapilla 1 Fêmea 03-10-2002Rhynchocyclus olivaceus 1 Indeterminado 03-10-2002Myrmotherula axillaris 1 Macho 04-10-2002Myrmotherula axillaris 1 Fêmea 04-10-2002Chiroxiphia pareola 1 Fêmea 05-11-2002Platyrinchus mystaceus 1 Fêmea 05-11-2002Glaucis hirsuta 1 Indeterminado 05-11-2002Manacus manacus 1 Fêmea 05-11-2002Conopophaga cearae 1 Indeterminado 06-11-2002Manacus manacus 4 Fêmeas 07-11-2002Pipra rubrocapilla 6 Fêmeas 06-12-2002Manacus manacus 1 Fêmea 06-12-2002Mionectes oleagineus 1 Indeterminado 07-12-2002Tolmomyias flaviventris 1 Indeterminado 07-12-2002Veniliornis affinis 1 Indeterminado 07-12-2002Chiroxiphia pareola 2 Fêmeas 08-12-2002Saltator maximus 1 Indeterminado 08-12-2002Neopelma pallescens 1 Fêmea 08-12-2002Pipra rubrocapilla 1 Fêmea 16-01-2003Chiroxiphia pareola 1 Fêmea 16-01-2003Glaucis hirsuta 1 Indeterminado 16-01-2003Manacus manacus 3 Fêmeas 17-01-2003Myiobius barbatus 1 Indeterminado 15-02-2003Rhynchocyclus olivaceus 1 Indeterminado 15-02-2003Thamnophilus aethiops 1 Fêmea 16-02-2003Neopelma pallescens 1 Fêmea 23-03-2003*Rhynchocyclus olivaceus 2 Indeterminado 17-06-2003

* Foram capturados ao mesmo tempo na mesma rede. Esta informação sugere que seja um casal com o macho também apresentando a placa de incubação. Davis (1945) relata a observação de placa em macho de alguns tiranídeos.

4.2.4 Levantamento de Mamíferos

Introdução

De acordo com Meyrs et al. (2000) a Mata Atlântica apresenta 250 espécies de

mamíferos, das quais 55 são endêmicas. A fragmentação tem produzido

graves conseqüências para este grupo, em particular para as espécies de

maior porte, verificando-se o desaparecimento total de algumas delas em

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certas regiões e localidades. A conjunção desses fatores levou a inclusão de

69 dessas na lista oficial de espécies da fauna brasileira ameaçadas de

extinção (MMA, 2003).

Poucas Unidades de Conservação (UC) localizadas em áreas de Mata

Atlântica, particularmente no Nordeste brasileiro, foram inventariadas de modo

satisfatório, havendo consideráveis lacunas no conhecimento taxonômico e

biogeográfico da maioria dos gêneros e espécies, de forma que novas espécies

e novas localidades de ocorrência são freqüentemente registradas a cada novo

estudo. As listas de espécies ameaçadas constituem-se nas ferramentas mais

apropriadas para guiar as ações governamentais e políticas públicas com

vistas à preservação. O controle do tráfico e comércio ilegal de animais,

também não pode prescindir dessas listas (MMA/SBF, 2002b). Daí a

importância da realização do inventário da biodiversidade das matas do

Sistema Gurjaú que servirá de subsídio para a recategorização e embasará o

plano de manejo desta UC.

Assim, o presente estudo objetivou inventariar a mastofauna terrestre existente

em Gurjaú. Esse trabalho inicial deverá também dar origem a futuros estudos

de monitoramento, que possibilitem o acompanhamento da dinâmica das

populações de mamíferos da área (Monteiro da Cruz, 1998), principalmente

daquelas espécies cuja instabilidade populacional possa comprometer a

sobrevivência das mesmas nos fragmentos desta UC.

METODOLOGIA

Área de Estudo

Preparaçãoda Área

O presente estudo foi desenvolvido em vários fragmentos da RESG (Figura

32). As capturas dos animais foram antecedidas pela abertura de novas trilhas

e mapeamento das trilhas já existentes, com o uso de GPS (para

georreferenciamento das localidades de amostragem), e bússola e trenas para

a definição dos pontos de coleta, devidamente identificados através de fitas

plásticas, e distantes 50m um do outro. Para cada área de amostragem

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selecionada foi utilizada de uma a duas trilhas cuja extensão variou entre 300m

e 1000m.

Inventário

Para o levantamento da mastofauna foram utilizadas quatro metodologias: 1)

captura com armadilhas metálicas (do tipo Tomahawk); 2) visualização em

campo; 3) identificação através de vestígios; 4) entrevistas com a comunidade

local (Wilson et al., 1996). Foram realizadas excursões mensais com duração

de 04 a 06 dias consecutivos cada, entre agosto de 2002 e abril de 2003. A

classificação taxonômica adotada neste estudo foi a de Wilson e Reeder

(1992).

Captura e Processamento

Nas capturas, foram utilizadas armadilhas de dois tamanhos (45X15X15cm e

75X30X30cm), dispostas em cada ponto de coleta, em número de 01 a 03,

procurando-se, quando possível, colocar ao menos uma no solo e outra

suspensa (a cerca de 1,5m - 2,0m do solo). Como iscas, foram utilizados frutos

(banana e abacaxi) e paçoca de amendoim, sendo as armadilhas iscadas e

revisadas a cada 24 horas. O esforço de captura, no presente estudo, foi

calculado adotando-se a fórmula: EF = NA X NC, onde EF= esforço de captura,

NA= número de armadilhas utilizadas e NC= número de dias de captura. As

armadilhas foram colocadas em 03 fragmentos: Mata da Zabé (01 trilha), Mata

do Cuxio (02 trilhas) e Mata Gurjaú-Secupema (02 trilhas), como pode ser visto

na Figura 32. Além disso, em apenas uma ocasião, fez-se uma amostragem na

região próxima à Estação de Tratamento de Água (ETA) da Compesa.

Os animais capturados foram levados a uma sala de processamento onde

foram anestesiados com Cloridrato de Quetamina (50mg/ml), para em seguida

serem processados. A dosagem do anestésico (10 a 30mg/Kg de peso) variou

de acordo com a espécie e a classe etária de cada animal. Os dados de

morfometria, peso, estado clínico e reprodução foram coletados e anotados em

fichas individuais. Além disso, todos os indivíduos foram marcados através de

tatuagem na cauda. Os animais cuja identificação não foi possível foram

sacrificados, após anestesia, e adequadamente conservados para posterior

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identificação, através de chaves taxonômicas específicas para cada grupo, ou

por comparação com material depositado nas coleções da UFPE e UFRPE. Os

espécimens assim coletados encontram-se depositados na coleção de

mamíferos do Departamento de Biologia, Área de Zoologia, da UFRPE.

Visualizações em Campo

As visualizações em campo dos mamíferos (avistamentos), foram feitas

durante os percursos realizados no transecto Gúrjaú/Secupema (a pé ou de

carro) e nas trilhas de diversos fragmentos de mata (a pé), em diferentes

horários (Figura 32). Para os animais avistados foram anotados os nomes da

espécie, o horário e o local da observação, além do número de indivíduos. Aqui

foram consideradas não apenas as visualizações feitas pela equipe de

mastofauna, mas também àquelas realizadas pelos componentes das demais

equipes de levantamento de fauna.

Identificação Através de Vestígios

Durante os percursos, também foram realizadas observações de vestígios dos

animais: pegadas, restos alimentares, fezes, pêlos e carcaças. Além dos

fragmentos de mata onde foram realizadas as capturas, a busca de vestígios

também foi realizada em outros fragmentos da região percorridos pela equipe

de mastofauna e no transecto Gurjaú/Secupema de 4Km de extensão

(Figura 32). As pegadas e carcaças encontradas foram fotografadas e

identificadas com o auxílio de guias específicos (Becker e Dalponte 1991;

Emmons e Feer, 1999).

Entrevistas com a Comunidade Local

Foi utilizado um questionário para as entrevistas com a comunidade local,

dividido em três partes: identificação, grau de conhecimento/consciência sobre

a situação da flora e fauna locais e informação sobre as prováveis espécies

que existem ou já existiram na área (sob foco qualitativo e quantitativo). Para

esta última parte, foram utilizados desenhos e pranchas coloridas (Emmons e

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Feer, 1999; Eisenberg e Redford, 1999) para orientar os entrevistados quanto à

identificação dos animais. Deu-se prioridade às pessoas que moram na área há

muitos anos, e àquelas que já praticaram ou ainda praticam a caça. A segunda

parte do questionário inclui a coleta de informações sobre o estado de

conservação do bioma e da biota atual e remota da UC, e buscou indícios

sobre a pressão de caça a que está submetida à mastofauna local. Para

inclusão de espécies citadas nas entrevistas na lista de mamíferos das matas

do Sistema Gurjaú, levou-se em consideração a confiabilidade nas respostas

dos entrevistados e a porcentagem de citações (a partir de 70% de

concordância).

Figura 32 – Matas do Sistema Gurjaú

Resultados

Durante o período do estudo foram inventariadas 32 espécies de mamíferos

para as matas do Sistema Gurjaú, pertencentes às ordens Didelphimorphia (04

gêneros, 06 espécies), Xenarthra (05 gêneros, 05 espécies), Rodentia (11

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gêneros, 11 espécies), Lagomorpha (01 gênero e 01 espécie), Carnivora (08

gêneros, 08 espécies) e Primates (01 gênero, 01 espécie), como pode ser

constatado na Tabela 15. Dentre estas, o gato-do-mato (Leopardus tigrinus)

encontra-se na lista oficial da fauna brasileira ameaçada de extinção, na

categoria vulnerável (MMA, 2003). Além disso, vale ressaltar, a existência de

uma espécie endêmica do Nordeste brasileiro, Callithrix jacchus (sagüi), e de

um pequeno marsupial, Monodelphis americana (Figura 33), endêmico da Mata

Atlântica. Os resultados obtidos através de cada uma das metodologias

adotadas se encontram pormenorizados a seguir.

Capturas

Ao longo do estudo, através da utilização das armadilhas metálicas, ocorreram

44 capturas e 04 recapturas de mamíferos de pequeno porte (Tabela 14). Além

disso, 04 marsupiais caíram nas armadilhas montadas para répteis, do tipo pit-

fall, e 01 tamanduá-mirim, Tamandua tetradactyla (Figura 34), foi capturado

manualmente por uma pessoa da comunidade, e encaminhado à equipe de

pesquisadores. As espécies mais capturadas foram Didelphis albiventris e

Marmosa murina (Figura 35), com 10 e 9 indivíduos, respectivamente. Durante

o processamento dos espécimens capturados, constatatou-se que 01 de

Didelphis albiventris e 03 fêmeas de Didelphis marsupialis tinham filhotes no

marsúpio (Figura 36).

Figura 33 – Monodelphis americana capturado na Mata Secupema em novembro de 2002

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Figura 34 – Tamandua tetradactyla encontrado na Mata Secupema em março de 2003.

Figura 35 – Marmosa murina capturada na Mata da Zabé em setembro de 2002.

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Figura 36 – Didelphis marsupialis com filhote capturado na Mata do Cuxiu em dezembro de 2002.

Visualizações em Campo

Através das visualizações em campo, pôde-se observar 07 espécies de

mamíferos, das quais 02 também foram capturadas. Assim, os avistamentos

permitiram a inclusão de 05 espécies diferentes na lista (Tabela 15), das

ordens Xenarthra (01), Rodentia (02), Lagomorpha (01) e Carnivora (01).

Identificação Através de Vestígios

A maioria dos vestígios encontrados constitui-se de pegadas. Quatro espécies

(03 roedores e 01 carnívoro) puderam ser identificadas e acrescentadas à lista

através dos rastros. Além disso, duas carcaças de Bradypus variegatus foram

encontradas flutuando no Lago Gurjaú (Tabela 15).

Durante o trabalho de campo, também foi possível constatar a existência da

atividade de caça nos vários fragmentos de mata percorridos, através da

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presença de “esperas”, “fojos”, armadilhas para tatus, cápsulas de balas de

espingarda, tiros de arma de fogo, presença e latido de cães e perfuração à

bala na mandíbula de uma das carcaças de preguiça. Além disso, observou-se

a existência de grandes canis de cães de caça (da raça Fox Hunter) em várias

propriedades e posses da área.

Foram também identificados indícios de caça associada à venda de animais,

especificamente a capivara – Hydrochaeris hydrochaeris – a maior espécie

vivente de roedor do planeta. Em uma ilhota (com menos de 01ha), no açude

de Secupema, um tipo de armadilha grande foi construída para a captura de

capivaras, em local escondido da visão de quem faz o percurso de carro ou a

pé na margem do açude. Cultivou-se um milharal, cercado com arame e

estacas resistentes, limitado por apenas dois acessos em forma de “fojo” – um

tipo de armadilha artesanal para captura de animais vivos, semelhante a um

alçapão – que, no caso específico, correspondia a valas de 1,0m X 1,0m X

1,5m, cobertas por uma base estrutural de gravetos, forrada por materiais da

serrapilheira local. Pelo alto investimento do empreendimento, questionou-se

sobre a possibilidade de que esta captura não se limitasse à caça para

alimentação ou criação do animal como pet (animal de estimação) pela

comunidade local, mas pudesse estar associada ao comércio ilegal da espécie.

Entrevistas com a Comunidade Local

No total, foram realizadas 32 entrevistas. A partir das informações contidas nos

questionários, foi possível listar mais 11 espécies de mamíferos (06 carnívoros,

02 roedores e 03 tatus), como pode ser observado na Tabela 15. Constatou-se

ainda que, há cerca de 30 anos atrás, existiam macacos-prego (Cebus apella),

veados (Mazama gouazoupira) e porcos-do-mato (Tayassu tajacu), que hoje se

encontram extintos na região.

Também através das entrevistas foi possível tomar conhecimento de quão

grande é a pressão de caça local, que não se limita aos caçadores da própria

comunidade mais inclui também os provenientes dos municípios do entorno.

Os mamíferos mais caçados são, sobretudo, cutias, tatus e pacas, secundados

por quatis, raposas e capivaras. O método tradicional de se caçar na região é

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através do uso de espingardas, cães de caça e construção de “esperas”,

seguido do uso de armadilhas artesanais. A caça geralmente serve para ser

comida como petisco, acompanhada por bebidas alcoólicas (principalmente a

cachaça), e mais raramente para servir de animal de estimação (cutia, papa-

mel, quati, tatu, coelho, paca, capivara).

Foi unânime e enfaticamente negada, a caça comercial de animais vivos,

apesar dos indícios levantados nesta pesquisa. Foram freqüentes os relatos de

que a “caça à raposa” vem sendo praticada há muitos anos como esporte,

utilizando-se inclusive, afora cães farejadores e espingardas, de cavalos de

montaria. Segundo os entrevistados, esta modalidade de esporte tem sido

praticada, quase que exclusivamente, pelas classes mais abastadas da

população.

Tabela 14 – Áreas de amostragem, esforço de captura, número de animais capturados com respectivas ordens, da mastofauna inventariada nas matas do Sistema Gurjaú.

EXCURSÃO ÁREAS ESFORÇO DE CAPTURA

NÚMERO DE ANIMAIS

CAPTURADOS

ORDENS

1 ETA, Mata da Zabé 30 X 2 = 60 7 Rodentia e

Didelphimorphia

2 Mata da Zabé, Mata

Gurjaú/Secopema

60 X 3 = 180 1 Didelphimorphia

3 Mata Gurjaú/Secopema 60 X 3 = 180 3 Didelphimorphia e

Primates

4 Mata Gurjaú/Secopema 73 X 2 = 146 4 Didelphimorphia

5 Mata Gurjaú/Secopema 73 X 6 = 438 8 Rodentia e

Didelphimorphia

6 Mata Gurjaú/Secopema 73 X 6 = 438 5 Rodentia e

Didelphimorphia

7 Mata Gurjaú/Secopema,

Mata do Cuxiu

54 X 3 = 162 6 Rodentia e

Didelphimorphia

8 Mata Gurjaú/Secopema,

Mata do Cuxiu

74 X 4 = 296 10 Rodentia,

Didelphimorphia e

Primates

9 Mata Gurjaú/Secopema,

Mata do Cuxiu

74 X 4 = 296 4 Rodentia,

Didelphimorphia e

Primates

TOTAL ETA, Mata da Zabé,

Mata Gurjaú/Secopema,

Mata do Cuxiu

2196 48 Rodentia,

Didelphimorphia e

Primates

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Tabela 15 – Lista da mastofauna inventariada nas matas do Sistema Gurjaú

ORDEM FAMÍLIA ESPÉCIE NOME VULGAR

MÉTODO DE AMOSTRAGEM

Didelphimorph

ia

Didelphidae Didelphis albiventris (Lund, 1840)

Timbú C, E

D. marsupialis(Linnaeus, 1758)

Cachorro do

mato

C, E

Marmosa murina(Linnaeus, 1758)

Cuíca C

Monodephis domestica (Wagner, 1842)

C

M. americana (Müller,

1776)

C

Micoureus demerarae (Thomas, 1905)

Rato fidalgo C, E

Xenarthra Bradypodidae Bradypus variegatus (Schinz, 1825)

Preguiça VC, A, E

Dasypodidae Dasypus novemcinctus(Linnaeus, 1758)

Tatu

verdadeiro

E

Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758)

Tatu peba E

Cabassous unicinctus(Linnaeus, 1758)

Tatu rabo de

couro

E

Myrmecophagida

e

Tamandua tetradactyla

(Linnaeus, 1758) Tamanduá

mirim

C, VP, E

Rodentia Muridae Rattus sp. (Fisher,

1803)

Ratazana,

rato

C, E

Mus

musculus

(Linnaeus, 1758)

Catita C, E

Nectomys sp. (Peters,

1861)

Rato d’água C

Akodon sp. (Meyen,

1833)

Rato C, A

Holochilus sp. (Brandt, 1835)

Rato de cana E

Agoutidae Agouti paca (Linnaeus, 1766)

Paca E

Dasyproctaprymnolopha (Wagler,

1831)

Cutia VP, E

Cavidae Cavia aperea(Erxleben, 1777)

Preá A, E

Erethizontidae Coendu prehensilis (Linnaeus, 1758)

Coendu VP, E

Sciuridae Sciurus aestuans Paracatota A, E

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(Linnaeus, 1766)

Hydrochaeridae Hydrochaerishydrochaeris(Linnaeus, 1766)

Capivara VP, E

Lagomorpha Leporidae Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1758)

Coelho do

mato

A, E

Carnivora Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766)

Raposa A, E

Felidae Leopardus tigrinus(Schreber, 1775)

Gato

maracajá

E

Felis yagouarondi (Lacépède, 1809)

Raposa de

gato

E

Mustelidae Eira barbara (Linnaeus, 1758)

Papa mel E

Galictis vittata (Schreber, 1776)

Furão E

Lontra longicaudis (Olfers, 1818)

Lontra E

Procyonidae Procyon cancrivorus (G. Cuvier, 1798)

Guará de

cana

VP, E

Nasua nasua (Linnaeus, 1766)

Quati E

Primates Callitrichidae Callithrix jacchus

(Linnaeus, 1758) Sagüi C, A, E

Legenda: C = Captura; VC = Vestígio/carcaça; VP = Vestígio/pegadas; A = Avistamento; E = Entrevista

DISCUSSÃO

A diversidade da mastofauna terrestre encontrada nas matas do Sistema

Gurjaú assemelha-se às de outros estudos realizados em remanescentes de

Mata Atlântica no estado de Pernambuco como, por exemplo, o Parque

Estadual Dois Irmãos, a Estação Ecológica de Tapacurá, a Estação Ecológica

de Caetés e a Área Piloto RBMA-Complexo Igarassu/Itapissuma/Itamaracá

(Monteiro da Cruz et al., 2002); também é bastante similar àquela do inventário

de mamíferos realizado por Fernandes (2003) em fragmentos de mata no

estado de Alagoas.

Apesar da quantidade de espécies registradas (32) ter sido razoável, o número

de capturas (48, ocorrendo 04 recapturas) foi pequeno em relação ao esforço

de captura realizado (2196). Vale salientar que apenas 12 espécies foram

capturadas em armadilhas; 09 foram adicionadas à lista através de vestígios

e/ou avistamentos e outras 11, através das entrevistas com a comunidade.

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Provavelmente o uso de outros tipos de armadilhas, como as de Sherman

(para animais bem pequenos), ou laços e grades pit-fall (para animais de médio

e grande porte) (Wilson et al., 1996), possibilitaria o aumento do número de

indivíduos capturados, mas não necessariamente o de espécies.

O fato da maioria dos mamíferos encontrados constituir-se de animais de

pequeno porte era um resultado já esperado para a região estudada. Isto se

deve, provavelmente, ao alto grau de fragmentação da área, que encontra-se

próxima a centros urbanos, apresentando uma grande pressão antrópica e

conseqüente uso dos recursos naturais, de maneira desordenada. A presença

de assentamentos humanos pode agir como meio de introdução de espécies

exóticas e domésticas que passam a competir, ou até mesmo predar, as

espécies nativas de plantas e animais (Miller e Hobbs, 2002). No caso

específico dos mamíferos, a caça e o desmatamento exacerbados são os

prováveis agentes responsáveis pelo seu desaparecimento gradual nas matas

de Gurjaú, pois estes, segundo How e Dell (2000), são os vertebrados em

maior desvantagem nos remanescentes de mata urbanos. De acordo com

Miller e Hobbs (2002), os assentamentos humanos representam inúmeras

barreiras para o deslocamento dos vertebrados terrestres, especialmente no

caso das espécies de mamíferos que possuem uma grande área de uso e que

acabam confrontando com pessoas. Pimentel (2000), em estudo realizado na

Costa Rica, também aponta os fatores caça e desmatamento como causas da

diminuição da mastofauna terrestre da região.

Observou-se também que a maioria das espécies inventariadas estão bem

adaptadas a áreas perturbadas, sobretudo àquelas próximas a cursos d`água,

plantações e pastagens (Emmons e Feer, 1999; Eisenberg e Redford, 1999), o

que é comum de se encontrar em Gurjaú. De acordo com Terborgh (1984 apud

Pimentel, 2000), em florestas perturbadas, observa-se o desaparecimento de

mamíferos de grande porte e o estabelecimento de espécies generalistas e de

menor tamanho, sem muito valor de caça. Assim, espécies como Leopardus

tigrinus e Felis yagouarondi, essencialmente carnívoras e bastante caçadas,

terão poucas chances de continuar existindo na região. Um fato preocupante

em relação à atividade de caça local de mamíferos, é que esta não é de

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subsistência, servindo como uma forma de lazer para a comunidade, além de

haver indícios do comércio ilegal de algumas espécies. A falta de fiscalização é

resultado, inequivocamente, do descaso do proprietário da área, o próprio

governo.

Espirito Santo (2002) fala sobre um consenso, amplamente aceito hoje, de que

áreas protegidas não podem ser administradas isoladas do que ocorre no seu

entorno. Ele propõe vários modos de abordagem para que a comunidade do

entorno passe a se responsabilizar pela preservação da área, pois, de acordo

com Shutkin (2000, apud Miller e Hobbs, 2002), os esforços para proteção de

habitats obtêm melhores resultados quando a comunidade local se mantém

informada e envolvidos no processo, do que quando as ordens e

regulamentações vêm de um órgão superior.

Pelo potencial que as matas do Sistema Gurjaú demonstram ter, nesta rápida

avaliação ecológica, e pelo nível de ameaça que parte considerável de sua

mastofauna vem sofrendo, sugerimos que sejam contemplados no seu Plano

de Manejo a implantação de corredores ecológicos, em curto prazo,

concebidos a partir de novos cenários para a conservação de sua

biodiversidade.

4.2.5 Levantamento da vegetação

Introdução

As florestas tropicais são ecossistemas que abrigam alta biodiversidade,

englobando cerca de dois terços do total de espécies existentes no planeta. O

Brasil graças as suas duas grandes florestas – a amazônica e a atlântica – se

destaca como um dos países possuidores da maior biodiversidade do mundo,

possuindo cerca de 357 milhões de hectares de florestas, 30% de todas as

florestas tropicais do planeta, mais que o dobro da área de quem ocupa o

segundo lugar, a Indonésia (Almeida, 2000).

Sendo o Brasil detentor da maior biodiversidade que se conhece, dos cerca de

1,4 milhão de organismos conhecidos pela ciência, 10% vivem em território

brasileiro (Mittermeier et al, 1992), é imperativo que a população nordestina se

conscientize sobre o valor ambiental e sócio-econômico da biodiversidade.

Page 77: 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo · 2010-08-03 · O açude de Gurjaú foi construído sob o leito inundável do rio de mesmo nome, ... As margens encontram-se

112

Entretanto este bioma vem sendo destruído pela ação antrópica onde grande

parte de sua diversidade está sendo extinta antes mesmo que se conheça o

potencial ecológico, genético e a importância econômica das espécies.

Alguns grandes fragmentos ainda estão conservados, como é o caso da

reserva ora em estudo que é a de Gurjaú, que apresenta uma biodiversidade

incomparável à de outras reservas faltando apenas que o governo do estado

de Pernambuco defina urgentemente uma forma de preservar e conservar

aquela unidade.

METODOLOGIA

Localização

A área em estudo localiza-se no litoral sul de Pernambuco entre os municípios

do Jaboatão dos Guararapes e Cabo de St° Agostinho, ditando 40 Km do

centro de Recife entre a latitude 8°13’33” e longitude 35°13’44” oeste de

Greenwich e XXX ocupando uma área de 1070 hectares.

Clima

Os municípios de Jaboatão dos Guararapes e Cabo de St° Agostinho

apresentam na classificação de Köeppen clima do tipo Am’s que pode ser

definido como clima tropical chuvoso de monção com verão seco e menos de

60mm no mês mais seco, com precipitação pluviométrica anual total muito

elevada (SUDENE, 1973).

No litoral sul, o domínio absoluto da massa equatorial atlântica caracterizada

pelos ventos alísios do hemisfério sul que sofrem reforço com as invasões das

massas polares ocasionam as chuvas de inverno. Os meses mais chuvosos

são junho e julho, enquanto os meses mais secos são outubro, novembro e

dezembro. A precipitação anual total atinge valores acima de 2000mm

(SUDENE 1973).

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113

PROCEDIMENTO DE CAMPO E LABORATÓRIO

Flora

Conforme metodologia apresentada, as visitas a campo foram realizadas duas

vezes ao mês seguindo a sistemática das trilhas existentes. Como também

novas trilhas implantadas para observações e coletas. O período de coleta

ainda se estendera por 5 a 6 meses devido a maioria das espécies arbóreas e

arbustivas não se encontrarem na fase reprodutiva.

As espécies botânicas foram classificadas seguindo o sistema de Cronquist

(1998). Cada indivíduo que foi coletado recebe um único número de coleta cujo

respectivo registro constará na caderneta de campo. Nestas cadernetas foram

anotadas todas as observações relativas ao hábito de crescimento e

características específicas (cor da flor, odor, presença de látex ou resina no

caule e algumas características no fruto), isto é, características florais e

vegetativas que possam ser modificadas e processo de secagem das

amostras. O número de duplicatas coletadas foram sempre três. Observaram-

se também os nomes vulgares dados pelo mateiro, que foram anotados e

comparados com os já existentes na literatura. O material foi processado

segundo o método de Mori et al (1989) e incorporados aos acervos dos

herbários IPA e UFRPE.

No laboratório, o material foi secado em estufa a 60°C e identificado usando-se

como auxílio, microscópio esterioscópico binocular tipo lupa, comparando-se

com espécies do acervo do herbário e usando literatura especificada.

Resultados

Os resultados encontrados estão além do esperado, principalmente com

relação à quantidade e qualidade das espécies, de importância da preservação

da flora, interesse econômico para a região tais sejam: formação de bancos de

sementes de espécies madeireiras a serem usadas para produção de mudas

no reflorestamento com espécies nativas, plantas alimentícias, ornamentais,

extração de cipós para uso em artesanato (Figuras 36 a 39).

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114

Lista das Espécies

As espécies foram coletadas nos diversos fragmentos existentes na área em

estudo, onde foram separadas nas diversas matas que possuem nomes locais

denominados pelo mateiro que nos acompanha e população local (Tabela 16 e

17).

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11

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11

6

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11

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11

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11

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Discussão e Conclusão

Dos grandes fragmentos de Mata Atlântica existentes em Pernambuco, a

reserva de Gurjaú ainda está entre as mais conservadas em relação à

vegetação e flora pernambucana. É grande o número de áreas com beleza

sênica do conjunto água, vegetação, flora e fauna, que precisam ser

conservadas para as gerações futuras.

A proteção da flora existente na área requer urgência, já que existe uma

comunidade habitando a área e retirando para o sustento os materiais da

floresta para uso na alimentação, construção de moradias, artesanato, etc. O

que concorre para a degradação do ecossistema ali existente.

Devido aos endemismos a alta ocorrência de espécies raras de árvores

(Micropholis gardneriana (DC) Warb, prejuí), arbustos (Psychotria sp.

possivelmente espécie nova) ervas ornamentais de grande porte (Costus sp.) e

ervas de valor medicinal incontestável precisam ser estudadas antes que se

acabem.

Por essas evidências, salienta-se a importância da preservação da área pela

biodiversidade sugerindo a criação de uma Unidade de Conservação para as

Matas de Gurjaú.

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Figura 37 - Heliconia psittacorum Sw.(paquevira) espécie abundante nas matas de Gurjaú. Abril de 2003.

Figura 38 – Centropogon cornutus (L) Druce observado na borda da Mata do Cuxió, Gurjaú, em abril de 2003.

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Figura 39– Cayaponia tayuya Cogn. (Cucurbitaceae) observada na Mata do Mané do Doce, Gurjaú, em abril de 2003.

Figura 40 – Calathaea sp (Marantaceae) observada na borda da Mata do Mané do Doce, Gurjaú, em abril de 2003.

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4.2.6 Ecologia da vegetação arbórea

Introdução

Por ser um ecossistema complexo, a floresta tropical sempre é um desafio para

a ciência florestal. O conhecimento desse recurso é uma necessidade, visto

que, a cada momento, intervenções sucessivas acontecem, sem a mínima

preocupação com a conservação desse recurso natural. O entendimento da

complexa dinâmica que envolve as florestas tropicais inicia-se pelo

levantamento da florística e fitossociologia. A identidade das espécies e o

comportamento das mesmas em comunidades florestais são o começo de todo

processo para a compreensão deste ecossistema. Com o conhecimento de

parâmetros básicos da vegetação, as técnicas de manejo surgem como uma

forma de conservação e preservação da diversidade das espécies e, até

mesmo de subsidiar a recuperação de fragmentos florestais, em processo de

degradação Marangon (1999).

Os trabalhos em florestas nativas, embora de importância crescente, sofrem

grandes limitações, motivadas pela falta de informações das espécies. Além do

desconhecimento das espécies existentes, se desconhece também os

fenômenos que ocorrem nas florestas ou em espécies isoladas, mesmo os

mais simples como floração, mudança foliar e frutificação.

Por outro lado, atualmente, uma má utilização do solo e da água e a forma de

utilização dos recursos florestais têm proporcionado sérios danos a esses

recursos, comprometendo seriamente a biodiversidade. No momento, a

cobertura vegetal da região Nordeste se apresenta muito fragmentada e em

mal estado de conservação, principalmente, as áreas, anteriormente ocupadas

por contínuos florestais. Esses remanescentes necessitam urgentemente de

pesquisas básicas, no sentido de subsidiar ações de conservação, preservação

e recuperação dessas áreas.

Desde o início da colonização do Estado de Pernambuco, a vegetação da mata

atlântica vem sendo explorada para diversos fins, o que causou a

descaracterização da paisagem natural e do clima regional, gerando perdas de

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biodiversidade local e alterações da dinâmica das populações e comunidades

vegetais e animais. Somente na última década tem crescido o interesse em

resgatar as informações sobre a vegetação de mata atlântica no Estado,

especialmente a florística e a fitossociologia (Ferraz et al. 2002). Desta forma, a

compreensão da dinâmica de sucessão e crescimento das florestas tendem a

contribuir para a utilização racional desses recursos, por meio de técnicas

adequadas de manejo. Segundo Rolim (1997), a discussão em torno da

sustentabilidade das florestas tropicais é de extrema importância para a

aplicação de técnicas de manejo. Nesse sentido, Jardim et al. (1993) afirmam

que os vários sistemas silviculturais aplicáveis ao manejo da floresta,

objetivando o rendimento sustentável, ainda exigem conhecimentos básicos

sobre a dinâmica de crescimento e recomposição da floresta nativa original,

para que possam ser aplicados com sucesso, sem comprometer a estabilidade,

a renovabilidade e a sustentabilidade desse recurso.

Lamprecht (1964), afirma que o estudo da estrutura da floresta secundária

produz análises importantes sobre a dinâmica e as tendências do

desenvolvimento futuro da floresta. Nesse sentido, os estudos fitossociológicos

se tornam imprescindíveis, pois estabelecem as bases para a dinâmica de

florestas naturais.

A fitossociologia envolve o estudo das interrelações de espécies vegetais

dentro de uma dada comunidade vegetal, no caso em questão, comunidades

vegetais arbóreas. Tal estudo se refere ao conhecimento quantitativo da

composição, estrutura, funcionamento, dinâmica, história, distribuição e

relações ambientais da comunidade vegetal.

A taxonomia vegetal, fitogeografia e as ciências florestais servem de base para

a fitossociologia que se apóia nessas áreas e possui estreitas relações com as

mesmas. Sendo assim pretende-se analisar o estado atual de conservação da

vegetação arbórea da reserva de Gurjaú.

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MATERIAL E METODOS

Levantamento Fitossociológico

Nas matas Mané do Doce, Cuxio, Passarinho e Prejuí foram lançadas um total

de 40 parcelas de 10 x 25 m (250 m²), distanciadas entre si 25 m. Em cada

mata, instalaram-se 10 parcelas sistematizadas no sentido do maior

comprimento da área de estudo. Nas parcelas foi mensurado e identificado

todo vegetal arbóreo, com circunferência à altura do peito (CAP) maior ou igual

a 15,0 cm, a 1,30 m do solo, conforme Marangon (1999).

PARÂMETROS FITOSSOCIOLÓGICOS

Na análise fitossociológica foram usadas estimativas dos parâmetros da

estrutura horizontal que envolve a freqüência, a densidade e a dominância.

Tais parâmetros, quando reunidos em uma única expressão, determinam o

valor de importância e o valor de cobertura que proporcionará o conhecimento

da importância de cada espécie na comunidade florestal estudada. A

distribuição diamétrica foi analisada por meio da distribuição do número de

árvores por classes de diâmetro com intervalos de 5,0 cm, a partir de um CAP

(circunferência à altura do peito) mínimo de 15,0 cm, que equivale a um DAP

(diâmetro a altura do peito) de 4,77 cm.

Diversidade Florística

Para a análise da heterogeneidade, calcularam-se os índices de diversidade

de Shannon (H'), conforme Mueller-Dombois & EllenberG (1974).

Regeneração Natural

A regeneração natural das espécies será baseada na metodologia empregada

por Finol (1971) e modificada por Volpato (1994).

Nas unidades amostrais implantadas para o estudo fitossociológico foram

locadas sub-unidades de 5 m x 5 m (25 m²). A classe 1 contemplou indivíduos

com altura mínima de 1,0 a 2,0 m; a classe 2, com indivíduos de 2,0 m a 3,0 m

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e a classe 3, com indivíduos superiores a 3,0 m e CAP (circunferência à altura

do peito) menor que 15,0 cm. Para cada espécie foram estimados os

parâmetros: freqüência e densidade absoluta e relativa em cada classe de

altura pré estabelecida.

RESULTADOS

Mata Mané Do Doce

FITOSSOCIOLOGIA

Em uma área amostrada de 2500 m2 (0,25 ha), equivalente a 10 parcelas de 10

m x 25 m, foram encontrados 296 indivíduos arbóreos, com 18 indivíduos

mortos. A maior altura foi detectada em um indivíduo de Simarouba amara

(Simarubaceae) com 35 m e o maior diâmetro encontrado foi em um segundo

indivíduo da mesma espécie com 70,03 cm. Nesta mata foram amostradas 23

famílias, 49 gêneros, 55 espécies e um índice de diversidade de SHANNON e

WEAVER (H') 3,52 nats/espécies. Quando se estima o número de indivíduos

por hectare, que é de 1180 indivíduos, é um número baixo para Floresta

Atlântica. Ferraz (2002), em estudo realizado na zona da Mata Norte, município

de São Vicente Férrer, Pernambuco, encontrou 1521 indivíduos por hectare. Fica

evidente, e os dados irão mostrar isto, que a mata Mane do Doce sofreu um

corte seletivo bastante intenso nos últimos anos. Os parâmetros fitossociológicos

(Tabela 18) mostram a estrutura da mata com as espécies mais presentes na

área com ênfase em Densidade Relativa, Freqüência Relativa e Dominância

Relativa.

Tabela 18 – Parâmetros fitossociológicos da Mata Mané do Doce, onde DR = Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa, DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância

Nome científico DR(%) FR(%) DOR(%) VISimarouba amara 3,72 3,31 16,68 23,70 Annona glabra 9,46 6,62 4,84 20,92 Brosimum discolor 10,81 4,64 4,54 19,99 Caraipa densifolia 3,38 3,97 8,90 16,25 Diplotropis purpurea var. brasiliensis 2,36 1,99 11,12 15,48 Pogonophora schomburkiana 4,73 3,97 6,07 14,78

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Eschweilera ovata 4,73 3,31 3,54 11,58 Mabea occidentalis 4,39 3,31 3,15 10,85 Tapirira guianensis 3,72 2,65 3,86 10,22 Schefflera morototoni 2,03 2,65 3,93 8,61 Thyrsodium schomburgkianum 2,36 3,31 2,36 8,04 Brosimum conduru 2,70 2,65 2,37 7,72 Euphorbiaceae 1,35 1,99 2,95 6,29 Protium giganteum 2,70 2,65 0,87 6,23 Ocotea opifera 2,70 1,99 0,90 5,59 Dialium guianensis 1,69 2,65 1,05 5,39 Manilkara salzmanii 1,69 1,99 1,39 5,06 Maprounea guianensis 2,36 1,99 0,61 4,96 Guatteria schlechtendaliana 2,70 1,99 0,27 4,96 Pera ferruginea 0,68 1,32 2,52 4,52 Pourouma guianensis 1,69 1,99 0,61 4,28 Sttyphnodendron pulcherrimum 0,68 0,66 2,87 4,20 Psychotria sessilis 1,69 1,99 0,33 4,01 Macrosamanea pedicellaris 0,68 1,32 1,84 3,84 Aspidosperma discolor 1,01 1,99 0,66 3,66 Cupania racemosa 1,35 1,99 0,30 3,64 Bowdichia virgilioides 0,68 1,32 1,57 3,57 Lecythes pisonis 0,68 1,32 1,34 3,34 Himatanthus bracteatus 1,35 1,32 0,51 3,19 Myrcia fallax 1,01 1,99 0,11 3,11 Cecropia glaziovi 1,35 0,66 0,80 2,82 Trichilia silvatica 1,01 1,32 0,19 2,52 Psychotria cartaginensis 1,35 0,66 0,49 2,51 Rheedia gardineriana 1,01 1,32 0,15 2,49 Miconia albicans 0,68 1,32 0,34 2,34 Nectandra cuspidata 0,68 1,32 0,17 2,17 Pouteria grandiflora 0,68 1,32 0,17 2,17 Ocotea glomerata 0,68 1,32 0,14 2,14 Helicostylis tomentosa 0,68 1,32 0,11 2,11 Byrsonima sericea 0,34 0,66 0,35 1,35 Inga thibaudiana 0,34 0,66 0,24 1,24 bucho de viado 0,34 0,66 0,21 1,21 Virola gardneri 0,34 0,66 0,04 1,04 Casearia arborea 0,34 0,66 0,03 1,03 Peltophorum dubium 0,34 0,66 0,03 1,03 Sorocea hilarii 0,34 0,66 0,03 1,03 Amaioua guianensis 0,34 0,66 0,02 1,02 Guapira oposita 0,34 0,66 0,02 1,02 Psychotria martiana 0,34 0,66 0,02 1,02

As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Simarouba amara,

Annona glabra, Brosimum discolor, Caraipa densifolia, Diplotropis purpurea var.

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brasiliensis, Pogonophora schomburkiana, Eschweilera ovata, Mabea

occidentalis, Tapirira guianensis e Schefflera morototoni. Em relação ao total de

espécies amostradas, as famílias mais presentes foram Euphorbiaceae e

Moraceae, com 9,09 % cada. Leguminosae Mimosoideae, com 7,27 %,

Lauraceae e Rubiaceae, com 5,45 % cada. Anacardiaceae, Annonaceae,

Apocynaceae, Lecythidaceae, Leguminosae Caesalpinioideae e Leguminosae

Papilionoideae, com 3,63 % cada.

DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICA

Quando se analisa a distribuição diamétrica (Figura 40) na Mata Mané do

Doce, verifica-se, na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0 cm) 13 indivíduos.

Na segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo no número de

indivíduos que sobe para 115. Nas classes subseqüentes ocorre uma queda

gradativa até a ultima Classe, que é a décima quinta (15). No caso das

primeiras classes, devido ao fato de existir um corte seletivo na área, há uma

regeneração natural nas clareiras, provocada pelas derrubadas, que vem

recompondo a mata. Esta dinâmica ocorre em função da ação antrópica na

área que induz a distribuição diamétrica na forma de “J” invertido, o que é

esperado para uma floresta ineqüiânea secundária.

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Mata Mané do Doce

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duos

Figura 41– Distribuição diamétrica dos indivíduos arbóreos da Mata Mané do Doce em Classes de diâmetros com intervalo entre classes de 5,0 cm.

Da quarta classe (15,1 – 20,0 cm) até a oitava (35,1 – 40,0 cm) há uma

tendência das espécies se distribuírem de forma mais balanceada na

comunidade florestal ali instalada. Nestas classes, as espécies predominantes

são as secundárias iniciais e tardias, apesar da distribuição diamétrica

caracterizar um estágio de sucessão ainda inicial. Este comportamento prova

mais uma vez que o corte seletivo vem provocando este comportamento na

comunidade. As demais classes apresentam indivíduos remanescentes que

sobreviveram aos cortes seletivos e se destacam em relação à comunidade

como um todo (Figura 41). Indivíduos de Diplotropis purpúrea var.brasiliensia

60,80 cm de DAP, Caraipa densifolia, com 64,94 cm de DAP e Simaruba

amara com 70,03 cm de DAP caracterizam bem estes remanescentes na Mata

Mané do Doce.

A presença de espécies com declínio no número de indivíduos nas classes

diamétricas de valores intermediários e mais altos pode estar comprometida na

evolução dos estágios sucessionais, visto que, nesse caso, pode não estar

sendo eficiente o seu processo de regeneração ou, até mesmo, por se tratarem

de espécies pioneiras, que em condições normais não toleram competição e à

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medida que os diâmetros vão aumentando essas espécies vão desaparecendo.

Por outro lado, a presença de espécie em várias classes de diâmetros,

apresentando uma distribuição mais uniforme, tendendo a um balanceamento,

neste caso indica um estágio sucessional mais avançado com estratos melhores

definidos. A presença das espécies que compõem estes estratos, nas três

classes de alturas em regeneração indica a garantia das mesmas na tipologia

florestal da área estudada.

REGENERAÇÃO NATURAL

Nas dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 205 indivíduos,

pertencentes a 27 famílias, e 38 espécies no levantamento da regeneração

natural da Mata Mané do Doce. As estimativas dos parâmetros

fitossociológicos da regeneração natural encontram-se na Tabela 19 a seguir.

Tabela 19 – Parâmetros fitossociológicos de regeneração natural da Mata Mané do Doce, onde DR = Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de.Importância.

Nome científico DR(%) FR(%) DOR(%) VIAnnona glabra 18,14 8,60 13,79 40,53 Protium giganteum 8,82 6,45 23,82 39,10 Pogonophora schomburkiana 4,41 5,38 22,96 32,75 Nectandra cuspidata 8,82 4,30 6,49 19,61

Eschweilera ovata 5,88 5,38 4,36 15,62 Siparuna guianensis 4,41 3,23 3,80 11,44 Gratteria schlechtendaliana 5,88 2,15 2,78 10,82 Brosimum discolor 3,92 4,30 2,57 10,79 Brosimum conduru 4,41 5,38 0,76 10,55 Myrcia rostrata 2,94 5,38 0,61 8,93 Miconia albicans 1,96 4,30 2,01 8,27 Maprounea guianensis 2,45 2,15 1,85 6,45 Caraipa densifolia 2,45 2,15 1,22 5,83 Pouteria grandiflora 1,47 3,23 0,86 5,56 Psychotria sessilis 2,45 2,15 0,91 5,51 Cordia nodosa 1,47 3,23 0,26 4,96 Campomanesia xanthocarpa 1,47 3,23 0,23 4,93 Mabea occidentalis 1,96 2,15 0,50 4,61 Sorocea hilarii 1,47 2,15 0,66 4,28 Rheedia gardneriana 1,47 2,15 0,51 4,14 Ficus gomeleira 1,96 1,08 1,08 4,11 Simarouba amara 0,98 2,15 0,86 3,99

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Dialium guianensis 0,98 1,08 1,72 3,78 Indeterminada 0,98 2,15 0,33 3,46 Eugenia sp 0,98 2,15 0,18 3,31 Cestrum megalophyllum 1,47 1,08 0,34 2,89 Manilkara salzmanii 0,49 1,08 1,19 2,76 Pourouma guianensis 0,49 1,08 1,19 2,76 Trichilia silvatica 0,98 1,08 0,66 2,72 Pera ferruginea 0,49 1,08 0,53 2,10 Thyrsodium schomburgkianum 0,49 1,08 0,38 1,95 Ocotea opifera 0,49 1,08 0,13 1,70 Allophylus sericeus 0,49 1,08 0,13 1,70 Agonandra sp 0,49 1,08 0,08 1,65 Casearia arbórea 0,49 1,08 0,06 1,63 Erythroxylum squamatum 0,49 1,08 0,06 1,63 Swartza pickelii 0,49 1,08 0,05 1,61 Aspidosperma discolor 0,49 1,08 0,03 1,60

As dez espécies mais presentes na regeneração natural que mais se

destacaram em todos os parâmetros fitossociológicos estudados foram:

Annona glabra, Protium giganteum, Pogonophora schomburkiana, Eschweilera

ovata, Siparuna guianensis, Gratteria schlechtendaliana, Brosimum discolor,

Brosimum conduru, Myrcia rostrata e Miconia albicans.

Ao se comparar com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada na

regeneração possui representantes desenvolvendo-se normalmente na Mata

Mané do Doce. Analisando a composição da vegetação arbórea da Mata Mané

do Doce verifica-se que as espécies com grande número de indivíduos nas

classes menores de diâmetro tendem a estar presentes na floresta futura

daquele local. Essa afirmativa é constatada quando se observam na

regeneração os resultados e se verifica a presença dessas espécies em

destaque no povoamento. Fica evidente, no entanto, que a Mata Mané do Doce

está desenvolvendo seu processo sucessional de forma eficiente e garantindo

a fitofisionomia da região, ou seja, a Floresta Ombrófila Densa de Encosta.

Citiadini-Zanette (1995), afirma que as espécies que ocorrem em todas as

classes de altura teoricamente possuiriam maior potencial para participar da

composição futura da floresta, ou seja, são as que melhor conseguem

estabelecer-se na floresta futura.

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135

O destaque fica para Annona glabra, com 38 indivíduos. É uma espécie

secundária inicial, que normalmente possui altura média de 12 m e diâmetro

em torno de no máximo 25,0 cm. Essa espécie é seguida por Protim giganteum

com 18 indivíduos amostrados. É também uma espécie secundária inicial cujas

dimensões estão próximas da Annona glabra.

Mata do Cuxio

FITOSSOCIOLOGIA

Em uma área amostrada de 2500 m2 (0,25 ha), equivalente a 10 parcelas de 10

m x 25 m, foram encontrados 274 indivíduos arbóreos, com 13 indivíduos

mortos. A maior altura foi detectada em indivíduos de Esclerolobium

densifolium e Parkia pendula, ambas com 35 m, os maiores diâmetros

encontrados foram das espécies citadas, com respectivamente 72,75 cm e

80,85 cm. Foram amostradas 22 famílias, 44 gêneros, 50 espécies e um índice

de diversidade de SHANNON e WEAVER (H') 3,50 nats/espécies. O número

de indivíduos estimado por hectare é de 1096. Resultado muito próximo da

Mata do Mané do Doce com 1180 indivíduos. Os parâmetros fitossociológicos

(Tabela 20) mostram a estrutura da mata com as espécies mais presentes na

área com ênfase em Densidade Relativa, Freqüência Relativa e Dominância

Relativa.

As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Caraipa densifolia,

Manilkara salzmanii, Diplotropis purpurea var. brasiliensis, Euphorbiaceae,

Brosimum discolor, Annona salzmanii, Protium heptaphyllum, Thyrsodium

schomburgkianum, Pogonophora schomburkiana e Parkia pendula estas

espécies são as de maior destaque na Mata do Cuxio. Em relação ao total de

espécies amostradas, as famílias mais presentes foram Euphorbiaceae com

9,09 %, Lauraceae e Myrtaceae com 5,45 % cada, Anacardiaceae,

Apocynaceae, Burseraceae, Lecythidaceae, Leguminosae Caesalpinioideae,

Moraceae, Rubiaceae e Sapotaceae com 3,63 % cada.

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Tabela 20 – Parâmetros fitossociológicos da Mata do Cuxio, onde DR = Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.

Nome científico DR(%) FR(%) DoR(%) VICaraipa densifolia 4,03 2,58 16,88 23,49 Manilkara salzmanii 9,89 6,45 4,22 20,56 Diplotropis purpurea var. brasiliensis 2,56 3,23 10,16 15,95 Euphorbiaceae 4,40 3,23 6,66 14,28 Brosimum discolor 6,96 3,87 2,59 13,42 Annona salzmanii 5,49 3,87 3,50 12,87 Protium heptaphyllum 5,49 5,16 2,20 12,86 Thyrsodium schomburgkianum 5,49 3,87 3,24 12,60 Pogonophora schomburkiana 4,03 5,16 2,51 11,70 Parkia pendula 1,47 2,58 6,58 10,63 Sclerolobium densiflorum 1,10 1,29 8,05 10,44 Protium giganteum 2,93 3,87 2,97 9,78 Guatteria schlechtendaliana 4,40 3,87 1,06 9,33 Brosimum conduru 3,30 2,58 2,36 8,24 Nectandra cuspidata 3,30 3,23 0,46 6,98 Pouteria grandiflora 2,56 2,58 1,79 6,93 Aspidosperma discolor 2,93 1,94 1,86 6,72 Eschweilera apiculata 1,83 2,58 1,98 6,39 indeterminada 1,47 1,94 2,13 5,53 Eugenia sp 2,20 2,58 0,41 5,19 Himathantus bracteatus 1,47 2,58 1,02 5,06 Tapirira miriantha 0,73 1,29 3,01 5,03 Eschweilera ovata 1,47 1,94 1,37 4,77 Dialium guianensis 1,47 1,94 1,26 4,66 Pourouma guianensis 1,47 1,94 1,24 4,64 Schefflera morototoni 1,47 1,94 0,64 4,04 Rheedia gardneriana 1,47 1,94 0,41 3,81 Cecropia glaziovi 1,47 1,29 1,03 3,79 Virola gardineri 1,10 1,94 0,72 3,76 Psychotria sessilis 1,47 1,94 0,18 3,58 Bowdichia virgilioides 0,37 0,65 2,45 3,46 Mabea occidentalis 1,10 1,29 0,66 3,05 Calipthrantes sp 1,47 0,65 0,48 2,59 Pera ferruginea 0,73 1,29 0,47 2,50 Miconia calvescens 0,37 0,65 1,18 2,19 Simarouba amara 0,73 0,65 0,71 2,09 Ocotea opifera 0,73 1,29 0,05 2,08 Zanthoxyllum rhoifolium 0,37 0,65 0,51 1,53 Lonchocarpus guilleminianus 0,73 0,65 0,08 1,45 Bucho de veado 0,37 0,65 0,39 1,41 Hyeronima alchorneoides 0,37 0,65 0,09 1,10 Cupania racemosa 0,37 0,65 0,08 1,09 Annona glabra 0,37 0,65 0,07 1,08

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Maytenus ilicifolia 0,37 0,65 0,06 1,07 Psychotria cartaginensis 0,37 0,65 0,06 1,07 Trichilia silvatica 0,37 0,65 0,04 1,06 Mapronea guianesis 0,37 0,65 0,04 1,05 Myrcia rostrata 0,37 0,65 0,04 1,05 Ocotea odorifera 0,37 0,65 0,02 1,04 Vismia guianesis 0,37 0,65 0,02 1,03

DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICA

A distribuição diamétrica (Figura 41) na Mata do Cuxio é bastante semelhante à

Mata do Mane do Doce. Verifica-se na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0

cm) 19. Na segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo no

número de indivíduos que sobe para 124 indivíduos. Nas classes subseqüentes

ocorre uma queda gradativa até a ultima Classe que é a décima sexta (16). No

caso das primeiras classes, a situação é semelhante à Mata Mane do Doce,

existe corte seletivo na área, há uma regeneração natural nas clareiras,

provocadas pelas derrubadas, que vêm recompondo a mata. Esta dinâmica

ocorre em função da ação antrópica na área o que provoca, com mais

intensidade, uma distribuição diamétrica na forma de “J” invertido o que,

normalmente, é esperado para uma floresta ineqüiânea secundária.

Da terceira classe (10,0 - 15,1 cm) até a oitava (60,1 - 65 cm) há uma

tendência das espécies se distribuírem de forma decrescente e gradativa na

comunidade florestal ali instalada. Quando se compara com a Mata Mané do

Doce, o que se verifica é a presença de um corte seletivo ainda mais intenso.

Nestas classes as espécies predominantes são as secundárias iniciais e

tardias. As demais classes apresentam indivíduos remanescentes que

sobreviveram aos cortes seletivos e se destacam em relação à comunidade

como um todo. Indivíduos de Esclerolobim densiflorum com 72,75 cm de DAP,

e Parkia pendula com 80, 85 cm de DAP são os representantes destes

remanescentes.

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Mata do Cuxio

19

124

41

2722

11 105 5 2 3 2 1 0 1 1

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

130

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Classess de Diâmetro

Núm

ero

de I

ndiv

íduo

s

Figura 42 – Distribuição diamétrica dos indivíduos arbóreos da Mata do Cuxio em Classes de diâmetros com intervalo entre classes de 5,0 cm.

REGENERAÇÃO NATURAL

Nas dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 228 indivíduos pertencentes

a 20 famílias e 34 espécies no levantamento da regeneração natural da Mata

do Cuxio. As estimativas dos parâmetros fitossociológicos da regeneração

natural encontram-se na Tabela 21 a seguir.

Tabela 21 – Parâmetros fitossociológicos de regeneração natural da Mata do Cuxio, onde DR = Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.

Nome científico DR(%) FR(%) DoR(%) VIMyrcia rostrata 21,49 6,80 7,37 35,66 Manilkara salzmanii 4,82 5,83 17,02 27,67 Protium giganteum 1,75 2,91 18,09 22,76 Mabea occidentalis 10,53 3,88 3,81 18,22 Pouteria scytalophora 7,89 7,77 0,27 15,93 Euphorbiaceae 5,70 5,83 1,50 13,03 Miconia calvescens 2,19 3,88 5,05 11,13 Rheedia gardneriana 3,95 4,85 2,30 11,10 Ingá tibaudiana 3,51 6,80 0,40 10,71 Brosimum conduru 2,63 3,88 3,47 9,99 Siparuna guianensis 1,32 2,91 5,69 9,92 Psychotria sessilis 4,82 2,91 1,92 9,66 Annona glabra 0,88 0,97 7,06 8,91 Nectandra cuspidata 2,19 3,88 1,81 7,88

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Miconia albicans 3,51 3,88 0,27 7,66 Thyrsodium schomburgkianum 2,63 2,91 2,03 7,57 Eschweilera apiculata 2,19 3,88 1,26 7,33 Pogonophora schomburkiana 1,75 2,91 1,72 6,39 Brosimum discolor 0,44 0,97 4,97 6,38 Ixora sp 2,63 2,91 0,40 5,95 Swartza pickelii 3,07 1,94 0,27 5,28 Rheedia sp 1,75 2,91 0,14 4,81 Cupania racemosa 1,32 1,94 1,32 4,58 Parkia pendula 0,88 0,97 2,40 4,25 Eschweilera ovata 0,44 0,97 2,83 4,24 Simaruba amara 1,75 1,94 0,30 4,00 Campomanesia xanthocarpa 0,44 0,97 2,40 3,81 Protium heptaphyllum 0,88 1,94 0,68 3,50 Cordia nodosa 0,44 0,97 1,72 3,13 Pouteria grandiflora 0,44 0,97 1,03 2,44 Schefflera morototoni 0,44 0,97 0,20 1,61 Miconia sp 0,44 0,97 0,15 1,56 Zanthoxylum roifolium 0,44 0,97 0,10 1,51 Diplotropis purpurea var. brasiliensis 0,44 0,97 0,04 1,45

As dez espécies mais presentes na regeneração natural que mais se

destacaram em todos os parâmetros fitossociológicos estudados foram: Myrcia

rostrata, Manilkara salzmanii, Protium giganteum, Mabea occidentalis, Pouteria

scytalophora, Euphorbiaceae, Rheedia gardneriana, Inga tibaudiana e

Brosimum conduru.

Quando se compara com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada em

regeneração possui representantes desenvolvendo-se normalmente na Mata

do Cuxio. A situação da comunidade é a mesma da Mata Mané do Doce, ou

seja, a composição da vegetação arbórea da Mata do Cuxio apresenta as

espécies com grande número de indivíduos nas classes menores de diâmetro

tendendo a estarem presentes na floresta futura desta comunidade.

O destaque fica para Myrcia rostrata que apresenta características de

secundária inicial, também em destaque Manilkara salzmanii e Protium

giganteum. São espécies que possuem características de tardia e secundária

inicial, respectivamente. Muito provavelmente estarão na floresta futura.

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Mata do Piriquito

FITOSSOCIOLOGIA

Em uma área amostrada de 2500 m2 (0,25 ha ), equivalente a 10 parcelas de

10 m x 25 m, foram encontrados 251 indivíduos arbóreos, com 7 indivíduos

mortos. A maior altura foi detectada em indivíduos de Taprira guianensis e

Boudichia virgilioides. A primeira, com 66,53 cm de diâmetro e 35 m de altura. A

segunda, com 62,71 cm de diâmetro e 38 m de altura. Foram amostrados 19

famílias, 43 gêneros, 48 espécies e um índice de diversidade de SHANNON e

WEAVER (H') 3,47 nats/espécies. O número de indivíduos estimado por hectare

é de 1004, muito próximo da Mata do Cuxio, que foi de 1096, e menor da Mata

Mané do Doce, com 1180 indivíduos. Os parâmetros fitossociológicos (Tabela

22) mostram a estrutura da mata com as espécies mais presentes na área, com

ênfase em Densidade Relativa, Freqüência Relativa e Dominância Relativa.

As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Pera ferruginea,

Thyrsodium schomburgkianum, Eugenia sp, Protium heptaphyllum, Helicostylis

tomentosa, Nectandra cuspidata, Annona glabra, Ocotea opifera, Bowdichia

virgilioides e Eschweilera ovata. Em relação ao total de espécies amostradas

as famílias mais presentes foram Moraceae 8,33 %, Euphorbiaceae,

Leguminosae papilionoideae e Sapotaceae com 6,25 % cada e.

Anacardiaceae, Burseraceae, Lauraceae, Lecythidaceae, Leguminosae

Mimosoideae com 4,16 % cada.

Tabela 22 – Parâmetros fitossociológicos da Mata do Periquito, onde DR = Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa, DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.

Nome científico DR(%) FR(%) DOR(%) VIPera ferruginea 1,71 1,42 20,02 23,15 Thyrsodium schomburgkianum 11,11 4,96 0,02 16,10 Eugenia sp 1,28 1,42 12,40 15,10 Protium heptaphyllum 8,12 4,96 0,53 13,61 Helicostylis tomentosa 7,26 4,96 0,56 12,79 Nectandra cuspidata 5,98 4,96 1,51 12,46 Annona glabra 0,43 4,96 6,06 11,45 Ocotea opifera 2,56 3,55 5,05 11,16 Bowdichia virgilioides

4,27 3,55 2,04 9,86 Eschweilera ovata 4,27 4,26 0,44 8,97 Casearia arborea 0,85 1,42 5,97 8,24 Erythroxylum squamatum 0,85 1,42 5,74 8,02

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141

Euphorbiaceae 2,56 2,13 3,20 7,89 Myrcia fallax 4,70 2,84 0,18 7,72 Tapirira guianensis 2,99 4,26 0,03 7,28 Schefflera morototoni 2,56 3,55 1,14 7,25 Pogonophora schomburkiana 0,43 0,71 5,64 6,78 Lonchocarpus guilleminianus 1,71 2,13 2,82 6,65 Parkia pendula 2,14 2,84 1,54 6,52 Aspidosperma sp 3,85 2,13 0,22 6,20 Maclura sp 2,99 2,84 0,31 6,13 Miconia bentaniana 2,99 2,84 0,24 6,07 Himathantus bracteatus 1,28 2,13 2,60 6,01 Simarouba amara 2,99 2,84 0,17 6,00 Caraipa densifolia 1,28 1,42 3,13 5,83 Trichilia silvatica 0,85 1,42 3,31 5,59 Myrcia rostrata 1,28 1,42 2,43 5,13 Prunus sellowii 1,71 2,13 0,60 4,44 Eschweilera apiculata 1,28 2,13 1,01 4,42 Siparuna guianensis 2,14 2,13 0,04 4,31 Mapronea guianensis 0,85 0,71 2,50 4,07 Inga thibaudiana 1,71 2,13 0,16 4,00 Miconia albicans 1,28 2,13 0,50 3,90 Diplotropis purpurea var. brasiliensis 0,43 0,71 2,55 3,68 Protium giganteum 0,85 1,42 0,47 2,75 Manilkara salzmanii 1,28 0,71 0,74 2,73 Ideterminada 0,43 0,71 1,04 2,18 Artocarpus integrifólia 0,43 1,42 0,12 1,97 Pouteria grandiflora 0,43 0,71 0,82 1,96 Chrysophyllum gonocarpum 0,43 0,71 0,65 1,78 Sloanea obtusifolia 0,43 0,71 0,58 1,71 Sebastiana sp 0,85 0,71 0,02 1,59 Couepia rufa 0,43 0,71 0,35 1,48 Tapirira miriantha 0,43 0,71 0,19 1,33 Ficus gomeleira 0,43 0,71 0,18 1,32 Sorocea hilarii 0,43 0,71 0,13 1,27 Pourouma guianensis 0,43 0,71 0,04 1,18

DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICA

A distribuição diamétrica (Figura 42) na Mata do Periquito é bastante

semelhante à Mata do Cuxio. Verificam-se, na primeira classe de diâmetro (0,0

– 5,0 cm), 6 indivíduos. Na segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento

expressivo no número de indivíduos, que sobe para 109. Nas classes

subseqüentes ocorre uma queda gradativa até a ultima Classe que é a décima

quarta (14). No caso das primeiras classes, a situação é semelhante à Mata do

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Cuxio. Há corte seletivo na área, o que promove uma regeneração natural nas

clareiras, provocadas pelas derrubadas, e conseqüentemente um número

grande de indivíduos jovens no local. Esta dinâmica ocorre em função da ação

antrópica na área onde a distribuição diamétrica apresenta-se na forma de “J”

invertido, o esperado para uma floresta ineqüiânea secundária.

Mata do Piriquito

2132335610

20

30

51

109

6

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Classes de diâmetro

Núm

ero

de in

diví

duos

Figura 43 – Distribuição diamétrica dos indivíduos arbóreos da Mata do Piriquito em Classes de diâmetros com intervalo entre classes de 5,0 cm.

Da terceira classe (10,1 - 15,0 cm) até a oitava (60,1 - 65 cm) há uma

tendência das espécies se distribuírem de forma decrescente e gradativa na

comunidade florestal do local. Situação muito semelhante à Mata do Cuxio,

descrita anteriormente. As demais classes apresentam indivíduos

remanescentes que sobreviveram aos cortes seletivos e se destacam em

relação à comunidade como um todo. Indivíduos de Taprira guianensis e

Boudichia virgilioides são, sem dúvidas, representantes autênticos destes

remanescentes com, respectivamente, 66,53 cm de diâmetro e 35 m de altura

e 62,71 cm de diâmetro e 38 m de altura.

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REGENERAÇÃO NATURAL

Das dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 193 indivíduos pertencentes

a 18 famílias e 35 espécies no levantamento da regeneração natural da Mata

do Piriquito. As estimativas dos parâmetros fitossociológicos da regeneração

natural encontram-se na Tabela 22, a seguir.

Tabela 22 – Parâmetros fitossociológicos da regeneração natural da Mata do Piriquito, onde DR = Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.

Nome científico DR(%) FR(%) DoR(%) VISiparuna guianensis 16,06 7,79 14,37 38,23

Helicostylis tomentosa 10,88 6,49 14,81 32,19 Eschweilera ovata 11,92 5,19 10,79 27,90 Protium giganteum 4,66 9,09 9,03 22,78 Annona glabra 6,22 7,79 5,66 19,67 Cordia nodosa 8,29 5,19 3,04 16,52 Protium heptaphyllum 6,74 5,19 2,70 14,64 Thyrsodium schomburgkianum 4,15 3,90 5,84 13,88 Inga blancheitiana 3,11 1,30 9,23 13,64 Sorocea hilarii 3,63 6,49 0,71 10,83 Brosimum discolor 1,04 2,60 3,93 7,56 Pouteria grandiflora 2,59 2,60 1,41 6,59 Myrcia rostrata 2,07 1,30 3,17 6,54 Brosimum conduru 2,07 2,60 1,85 6,52 Miconia albicans 2,59 2,60 0,98 6,17 Nectandra cuspidata 0,52 1,30 3,80 5,62 Eschweilera apiculata 1,55 2,60 0,69 4,84 Psychotria sessilis 1,55 2,60 0,23 4,38 Myrcia fallax 1,04 2,60 0,37 4,00 Parkia pendula 0,52 1,30 2,03 3,85 Cestrum megalophyllum 1,04 1,30 0,64 2,97 Macrosamanea pedicellaris 1,04 1,30 0,56 2,90 Ocotea opifera 0,52 1,30 0,95 2,77 Cupania racemosa 0,52 1,30 0,68 2,50 Aspidosperma sp 0,52 1,30 0,46 2,27 Eugenea sp 0,52 1,30 0,36 2,18 Miconia bentaniana 0,52 1,30 0,36 2,18 Caraipa densifolia 0,52 1,30 0,28 2,09 Maclura sp 0,52 1,30 0,28 2,09 Campomanesia xanthocarpa 0,52 1,30 0,20 2,02 Pogonophora schomburkiana 0,52 1,30 0,20 2,02 Casearia arborea 0,52 1,30 0,14 1,96 Cecropia glaziovi Snethlage 0,52 1,30 0,09 1,91 Inga thibaudiana 0,52 1,30 0,09 1,91

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Manilkara salzmanii 0,52 1,30 0,09 1,91

As dez espécies mais presentes na regeneração com destaque em todos os

parâmetros fitossociológicos estudados foram: Siparuna guianensis,

Helicostylis tomentosa, Eschweilera ovata, Protium giganteum, Annona glabra,

Cordia nodosa, Protium heptaphyllum, Thyrsodium schomburgkianum , Inga

blancheitiana e Sorocea hilarii.

Comparadas com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada em

regeneração possui representantes desenvolvendo-se normalmente na Mata

do Periquito. A situação da comunidade é a mesma das Matas até então

estudadas, ou seja, a composição da vegetação arbórea da Mata do Periquito

apresenta as espécies com grande número de indivíduos nas classes menores

de diâmetro tendendo a estarem presentes na floresta futura desta

comunidade.

O destaque fica para Siparuna guianensis, uma espécie secundária bem

característica das florestas Estacionais Semidecíduas e das Florestas

Ombrófilas Densas. Também se destaca Helicostylis tomentosa e Eschweilera

ovata. Possuem características de secundária inicial e tardia, respectivamente.

São espécies garantidas na fitofisionomia futura.

Mata do Prejuí

FITOSSOCIOLOGIA

Na área de amostral de 2500 m2 (0,25 ha ), equivalente a 10 parcelas de 10 m x

25 m, foram encontrados 256 indivíduos arbóreos, com 10 indivíduos mortos. A

maior altura foi detectada em um indivíduo de Pera ferruginea com 35 m e o

maior diâmetro em um indivíduo de Parkia pendula com 89,45 cm. Foram

amostrados 24 famílias, 53 gêneros, 58 espécies e um índice de diversidade de

SHANNON e WEAVER (H') 1,59 nats/espécies. Quando se estima o número de

indivíduos por hectare, é de 1024. Número próximo da Mata do Piriquito, que foi

de 1004, difere um pouco da Mata do Cuxio, de 1096, e menor que a Mata Mané

do Doce, com 1180 indivíduos. Os parâmetros fitossociológicos (Tabela 23)

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mostram a estrutura da mata com as espécies mais presentes na área com

ênfase em Densidade Relativa, Freqüência Relativa e Dominância Relativa.

Tabela 23 – Parâmetros fitossociológicos da Mata do Prejuí, onde DR = Densidade Relativa,

FR = Freqüência Relativa, DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.

Nome científico DR(%) FR(%) DoR VIPera ferruginea 1,95 1,41 77,96 81,33 Annona glabra 11,72 7,04 2,04 20,80 Guatteria schelchtendaliana 8,20 2,82 0,67 11,69 Thyrsodium schomburgkianum 5,47 4,93 0,66 11,06 Nectandra cupidata 3,91 4,93 1,31 10,15 Parkia pendula 1,56 2,11 4,29 7,97 Brosimum discolor 3,52 3,52 0,51 7,55 Euphorbiaceae 3,91 2,82 0,78 7,51 Diplotropis purpurea var. brasiliensis 3,13 2,11 2,27 7,50 Eschweilera ovata 3,91 2,82 0,55 7,27

Helicostylis tomentosa 3,13 2,82 0,35 6,29 Protium heptaphyllum 3,13 2,82 0,32 6,26 Tapirira guianensi 2,73 2,11 1,40 6,25 Pouteria grandiflora 3,13 2,82 0,22 6,16 Protium giganteum 2,34 3,52 0,11 5,97 Miconia albicans 1,95 2,82 0,63 5,40 Dialium guianensis 1,95 2,82 0,51 5,28 Myrcia rostrata 1,56 2,82 0,04 4,42 Mabea occidentalis 2,34 1,41 0,39 4,14 Simaruba amara 1,56 2,11 0,24 3,92 Rheedia gardneriana 1,56 2,11 0,08 3,76 Ezembeckia sp 2,73 0,70 0,31 3,75 Pogonophora schomburgkiana 1,95 1,41 0,27 3,64 Pourouma guianensis 1,17 2,11 0,12 3,40 Schefflera morototoni 1,17 2,11 0,06 3,35 Pouteria scytalophora 1,56 1,41 0,30 3,27 Bowdichia virgilioides 1,17 1,41 0,59 3,17 Clusia nemorosa 1,17 1,41 0,20 2,78 Byrsonia sericea 0,78 1,41 0,53 2,72 Rubiaceae 1,17 1,41 0,08 2,66 Erythoxilum scamatum 1,17 1,41 0,04 2,62 Indeterminada 0,78 1,41 0,20 2,39 Croton gladulosum 0,78 1,41 0,19 2,38 Virola gardneri 0,78 1,41 0,08 2,27 Cordia selloriana 0,78 1,41 0,06 2,25 Ocotea odorifera 0,78 1,41 0,03 2,22 Cupania racemosa 1,17 0,70 0,02 1,90

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Ocotea opifera 0,39 0,70 0,34 1,43 Sttyphnodendron pulcherrimum 0,39 0,70 0,28 1,37 Maclura sp 0,39 0,70 0,18 1,27 Piptocarpa sp 0,39 0,70 0,16 1,26 Annona glabra 0,39 0,70 0,13 1,22 Manilkara salzmanii 0,39 0,70 0,08 1,18 Hirtella racemosa 0,39 0,70 0,08 1,17 Caraipa densifolia 0,39 0,70 0,07 1,16 Rudgea erythrocarpa 0,39 0,70 0,06 1,16 Aspidosperma sp 0,39 0,70 0,06 1,16 Brosimum conduru 0,39 0,70 0,05 1,15 Sloanea obtusifolia 0,39 0,70 0,03 1,12 Gomidesia blanchetiana 0,39 0,70 0,02 1,11 Sebastiana sp 0,39 0,70 0,01 1,11 Psyconthria cartaginensis 0,39 0,70 0,01 1,10 Sorocea hilarii 0,39 0,70 0,01 1,10

Ouratea castanaefolia 0,39 0,70 0,01 1,10 Swartza pickelii 0,39 0,70 0,01 1,10 Eschwelera apiculata 0,39 0,70 0,00 1,10 Lonchocarpus guilleminianus 0,39 0,70 0,00 1,10 Symphonia globulifera 0,39 0,70 0,00 1,10

As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Pera ferruginea, Annona

glabra Guatteria schlchtendaliana, Thyrsodium schomburgkianum, Nectandra

cuspidata, Parkia pendula, Brosimum discolor, Euphorbiaceae, Diplotropis

purpurea var. brasiliensis e Eschweilera ovata., as de maior destaque na Mata

do Prejuí. Em relação ao total de espécies amostradas, as famílias mais

presentes foram Euphorbiaceae 10,34 %, Moraceae 6,89 %, Annonaceae e

Sapotaceae 5,17 % cada, Anacardiaceae, burseraceae, Guttiferae, Lauraceae,

Lecythidaceae, Leguminosae Mimosoideae, Leguminosae Papilionoideae e

Myrtaceae 3,44 % cada.

DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICA

A distribuição diamétrica (Figura 43) na Mata do Prejuí é semelhante à Mata do

Cuxio e do Piriquito. Verifica-se na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0 cm)

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19 indivíduos. Na segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo

no número de indivíduos que sobe para 97. Nas classes subseqüentes ocorre

uma queda gradativa até a sétima classe (30,1 – 35,0). No caso das primeiras

classes, a situação é semelhante às Matas até aqui analisadas. Há corte

seletivo na área, promovendo uma regeneração natural nas clareiras

provocadas pelas derrubadas, e conseqüentemente, um número grande de

indivíduos jovens no local, recompondo a mata. Esta dinâmica ocorre em

função da ação antrópica na área que induz ainda mais a distribuição

diamétrica na forma de “J” invertido, o esperado para uma floresta ineqüiânea

secundária.

Da terceira classe (10,1 - 15,0 cm) até a sétima (35,1 – 40,0 cm) há uma

tendência das espécies se distribuírem de forma decrescente e gradativa na

comunidade florestal ali instalada. Situação muito semelhante ás matas

anteriormente descritas. As demais classes apresentam indivíduos

remanescentes que sobreviveram aos cortes seletivos e se destacam em

relação à comunidade como um todo. Indivíduos de Parkia pendula e Pera

ferruginea são representantes autênticos destes remanescentes com,

respectivamente, 89,45 cm de diâmetro e 25 m de altura e 35,33 cm de

diâmetro e 35 m de altura.

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Mata do Prejuí

1101112117

512

18

33

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97

19

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Classes de Diâmetro

Núm

ero

de I

ndiv

íduo

Figura 44– Distribuição diamétrica dos indivíduos arbóreos da Mata do Prejuí em Classes de diâmetros com intervalo entre classes de 5,0 cm.

REGENERAÇÃO NATURAL

Nas dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 217 indivíduos pertencentes

a 23 famílias e 43 espécies no levantamento da regeneração natural da Mata

do Prejuí. As estimativas dos parâmetros fitossociológicos da regeneração

natural encontram-se na Tabela 24 a seguir.

Tabela 24 – Parâmetros fitossociológicos da regeneração natural da Mata do Prejui, onde DR = Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.

Nome científico DoR DR FR VIAnnona glabra 10,37 12,44 8,65 31,46 Guatteria schlechtendaliana 6,08 13,36 3,85 23,29 Pouteria grandiflora 10,01 5,53 4,81 20,35 Brosimum discolor 6,84 6,45 5,77 19,06 Protium giganteum 8,87 4,15 5,77 18,79 Brosimum conduru 5,28 4,61 4,81 14,69 Siparuna guianensis 5,25 5,07 3,85 14,16 Protium heptaphyllum 8,30 1,84 2,88 13,03 Eschweilera ovata 0,91 5,07 6,73 12,71 Helicostylis tomentosa 6,85 3,69 1,92 12,46 Mabea occidentalis 7,80 1,84 0,96 10,61

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Rheedia gardineriana 3,72 2,30 3,85 9,87 Myrcia sylvática 2,55 1,38 2,88 6,81 Psychotria sessilis 2,01 1,84 2,88 6,74 Miconia albicans 1,11 2,30 2,88 6,30 Nectandra cuspidata 1,46 1,84 2,88 6,19 Eugenia sp 1,34 1,84 2,88 6,07 Thyrsodium schomburgkianum 1,03 1,84 2,88 5,76 Pouteria scythalophora 1,09 2,30 1,92 5,32 Licania rigida 1,57 2,30 0,96 4,83 Cassia ferruginea 3,05 0,46 0,96 4,47 Eschweilera apiculata 0,72 1,38 1,92 4,03 Simaruba amara 0,25 1,38 1,92 3,56 Erythroxyllum scamatum 0,70 1,38 0,96 3,04 Campomanesia Xanthocarpa 0,10 1,84 0,96 2,90 Sorocea hilarii 0,26 1,38 0,96 2,60 Cordia nodosa 0,42 0,92 0,96 2,31 Swatza pickelii 0,38 0,92 0,96 2,26 Allophyllus edulis 0,28 0,92 0,96 2,16 Psychotria carthaginensis 0,53 0,46 0,96 1,95 Allophyllus sericeus 0,08 0,46 0,96 1,51 Cordia sellowiana 0,08 0,46 0,96 1,51 Erythroxyllum squamatum 0,08 0,46 0,96 1,51 Macrosamanea pedicellaris 0,08 0,46 0,96 1,51 Ocotea glomerata 0,08 0,46 0,96 1,51 Pogonophoraschomburgkiana 0,08 0,46 0,96 1,51 Pouruma guianensis 0,08 0,46 0,96 1,51 Symphonia globulifera 0,08 0,46 0,96 1,51 Casearia arborea 0,05 0,46 0,96 1,47 Inga thibaudiana 0,05 0,46 0,96 1,47 Prunus selowii 0,04 0,46 0,96 1,46 Dialiuim guianensis 0,02 0,46 0,96 1,44 Inga thibaudiana 0,02 0,46 0,96 1,44 Psychotria sessilis 0,01 0,46 0,96 1,44 indeterminada 0,01 0,46 0,96 1,43

As dez espécies mais presentes na regeneração natural que se destacaram em

todos os parâmetros fitossociológicos estudados foram: Annona glabra,

Guatteria schlechtendaliana, Pouteria grandiflora, Brosimum discolor, Protium

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150

giganteum, Brosimum conduru Protium heptaphyllum, Siparuna guianensis

Protium heptaphyllum, Eschweilera ovata, e Helicostylis tomentosa.

Se comparadas com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada em

regeneração possui representantes desenvolvendo-se normalmente na Mata

do Prejuí. A comunidade encontra-se com a mesma tendência, em termos de

estrutura, das matas até então estudadas, ou seja, a composição da vegetação

arbórea da Mata do Prejuí apresenta espécies com grande número de

indivíduos nas classes menores de diâmetro tendendo a estarem presentes na

floresta futura da comunidade arbórea estudada.

O destaque fica para Annona glabra., espécie secundária característica da

Floresta Ombrófila Densa. Destaca-se ainda Guatteria schlechtendaliana e

Pouteria grandiflora, espécies que possuem características de secundária

inicial, sendo que as mesmas estariam garantidas na floresta futura.

Análise da Reserva de Gurjaú

FITOSSOCIOLOGIA

Na área amostrada de 1,0 hectare, equivalente a 40 parcelas de 10 m x 25 m

(250 m2), correspondendo às quatro matas estudadas, foram encontrados 1075

indivíduos arbóreos, com 48 indivíduos mortos. A maior altura foi detectada em

um indivíduo de Pera ferruginea com 35 m e o maior diâmetro em um indivíduo

de Parkia pendula (Figura 44) com 89,45 cm. Foram amostrados 36 famílias, 81

gêneros, 104 espécies e um índice de diversidade de SHANNON e WEAVER

(H') 3,97 nats/espécies. Ferraz (2002) encontrou 1521 indivíduos arbóreos em

1,0 ha, pertencentes a 58 famílias, 96 gêneros e 151 espécies arbóreas em

estudo realizado no município de São Vicente Férrer – PE.

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Figura 45 – Exemplar de Parquia pendula com 89,45 cm de diâmetro e 25,0 m de altura, mostrando a exuberância de remanescentes presentes nas matas da Reserva de Gurjaú.

Segundo Martins (1991), o índice de diversidade de SHANNON é influenciado

pela amostragem, oferecendo uma boa indicação da diversidade específica e

possibilitando comparar florestas em locais distintos. Estudos em Mata Atlântica

realizados por Melo & Matovani (1994), na ilha do Cardoso-SP apresentaram

valor de 3,64; Citadini-Zanette (1995), em Orleans-SC e Negrelle (1995), em

Itapoá-SC, mostram, respectivamente, valores de 3,81 e 3,62.

Nota-se uma grande variação nos valores de índice de diversidade

apresentados mesmo dentro de uma mesma região fitogeográfica. Isso se

deve, principalmente, às diferenças nos estágios de sucessão somados às

discrepâncias das metodologias diferenciadas de amostragem, níveis de

inclusão, esforços de identificações taxonômicas além, obviamente, das

dissimilaridades florísticas que as diferentes comunidades apresentam.

O número de indivíduos (1075) para Mata Atlântica não é dos melhores. Isto se

deve tão somente ao corte seletivo na área, ocorrendo em tempos passados

com mais intensidade que nos dias atuais, porém, ainda continua nas matas da

Reserva de Gurjaú.

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Espécies com maiores valores de VI das Matas da Reserva de Gurjaú:

Simarouba amara, Annona glabra, Brosimum discolor, Caraipa densifolia,

Diplotropis purpurea var. brasiliensis, Pogonophora schomburkiana,

Eschweilera ovata, Mabea occidentalis, Tapirira guianensis, Schefflera

morototoni, Manilkara salzmannii,, Euphorbiacea, Annona salzmannii, Protium

heptaphyllum, Thyrsodium schomburgkianum, Parkia pendula, Pera ferruginea,

Eugenia sp, Helicostylis tomentosa, Nectandra cuspidata, Ocotea opifera,

Bowdichia virgilioides e Guatteria schlechtendaliana.

Famílias mais presentes nas matas da Reserva de Gurjaú: Anacardiaceae,

Annonaceae, Apocynaceae Burseraceae, Euphorbiaceae, Guttiferae, Lauraceae,

Lecythidaceae, Leguminosae Caesalpinioideae, Leguminosae Mimosoideae,

Leguminosae Papilionoideae, Moraceae, Myrtaceae, Sapotaceae e Rubiaceae.

DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICA

Quando se analisa a área como um todo, verifica-se que, nas três primeiras

classes de diâmetro (0,0 – 5,0 cm de 5,1 – 10,0 cm e 10,1 – 15,0 cm),

encontra-se o maior número de indivíduos da comunidade em questão, ou seja,

697 (Figura 46). As demais apresentam uma diminuição no número de

indivíduos à medida que o diâmetro aumenta. Isso é esperado para uma

floresta inequiânea secundária em estágio inicial de sucessão, que apresenta

uma curva em forma de “J” invertido na sua distribuição diamétrica. As matas

que constituem a Reserva de Gurjaú possuem características de floresta

natural inequiânea, (Figura 45) conforme conceito dado por François De

Lioucourt, em 1898, segundo Meyer et al. (1952), citados por Mariscal Flores

(1993).

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153

Figura 46 – Detalhe da distribuição diamétrica de indivíduos das espécies arbóreas na Reserva de Gurjaú.

O número muito grande de indivíduos nas classes iniciais mostra que esta

comunidade é jovem. Essa característica em classes de diâmetro menores

significa que a regeneração está eficiente, garantindo a formação da tipologia

florestal da região. Para Silva-Júnior (1984), um maior número de indivíduos

nas classes mais baixas mostra que a comunidade está em fase inicial de

desenvolvimento. Afirmação semelhante faz Martins (1991) ao estudar a Mata

da Capetinga, no Estado de São Paulo. Segundo o referido autor, o excesso de

classes baixas, em detrimento das médias, indica que a população arbórea

dessa mata ainda está em crescimento, sendo constituída na maioria por

jovens (Figura 46).

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154

Figura 47 – Distribuição diamétrica de indivíduos arbóreos da Reserva de Gurjaú, por classes diamétricas, cujo intervalo entre classes é de 5,0 cm.

Na realidade, a reserva de Gurjaú sofre corte seletivo em toda a sua extensão.

Tais cortes, clandestinos, geram grandes clareiras e o processo de sucessão

naquele local se reinicia. Por serem várias em toda área, as predominâncias de

indivíduos jovens na mata é sempre incrementado, o que sugere um estágio

sucessional ainda inicial, mesmo com indivíduos remanescentes que escapam

do corte seletivo, e são, na maioria das vezes, de porte considerável. Isto ficou

bem claro quando destacamos por mata as espécies de maior porte para cada

área específica.

Reserva de Gurjaú

1212351081215

313846

78

126

197

444

56

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Classes de diâmetro

Núm

ero

de in

diví

duos

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155

REGENERAÇÃO NATURAL

Nas 40 subparcelas, de 5,0 x 5,0 m, lançadas para estudo de regeneração,

foram amostrados 843 indivíduos, evidenciando uma excelente capacidade de

regeneração das espécies arbóreas na área de estudo. Ao se comparar com as

adultas, verifica-se que a maioria das espécies encontradas em regeneração

possui indivíduos adultos desenvolvendo normalmente na área de estudo.

Analisando a composição da vegetação arbórea do local, verifica-se que as

espécies com grande número de indivíduos nas classes menores de diâmetro

tendem a estar presentes na floresta futura do local. Essa afirmativa é

constatada quando se observa na regeneração os resultados e se verifica a

presença dessas espécies em destaque no povoamento. Fica evidente, no

entanto, que a vegetação arbórea estudada vem desenvolvendo seu processo

sucessional de forma eficiente, garantindo a fitofisionomia da região. Citadini-

Zanette (1995) afirma que as espécies que ocorrem em todas as classes de

altura da regeneração teoricamente possuíriam maior potencial para participar

da composição futura da floresta, ou seja, são as que melhor conseguem

estabelecer-se na floresta futura.

Na Figura 47 pode se verificar o desempenho da regeneração na área

estudada, que apresenta em sua dinâmica tendências diferenciadas,

principalmente quanto ao número de indivíduos por parcela. Para cada local,

ao longo da amostragem, ficaram claras as mudanças neste sentido, em

função basicamente do dossel mais fechado (Figura 48) ou mais aberto e

ambiente com mais umidade ou com menos.

Espécies que mais se destacaram na regeneração em termos de parâmetros

fitossociológicos das matas da Reserva de Gurjaú são: Annona glabra,

Guatteria schlechtendaliana, Pouteria grandiflora, Brosimum discolor, Protium

giganteum, Brosimum conduru, Protium heptaphyllum, Siparuna guianensis,

Eschweilera ovata, Helicostylis tomentosa, Cordia nodosa, Thyrsodium

schomburgkianum, Inga blancheitiana, Sorocea hilarii, Myrcia rostrata,

Manilkara salzmannii, Mabea occidentalis, Pouteria scytalophora,

Euphorbiaceae, Rheedia gardneriana, Inga tibaudiana, Pogonophora

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schomburkiana e Miconia albicans. Estas espécies, além de possuírem

representantes adultos, aparecem nas três classes de altura de regeneração.

Neste caso as mesmas estarão garantidas na floresta futura e, sem dúvidas,

farão parte da fitofisionomia da região.

Figura 48 – Detalhe da regeneração nas matas da Reserva de Gurjaú, em local de dossel mais aberto, apresentando uma grande densidade.

Figura 49 - Detalhe do dossel mais fechado da área de estudo, com tronco de Macrosamanea pedicellaris, em primeiro plano.

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Introdução

O fim do século XX e a passagem do segundo para o terceiro milênio

trouxeram algumas preocupações e novos desafios. O “ano 2000” tem sido

ligado com freqüência à denominação de iniciativas internacionais que

consideram um planejamento a longo prazo para as atividades de natureza

global. São exemplos: a Agenda 21, Educação 2000+, Botânica 2000, espécies

2000, Agenda Sistemática 2000. Entretanto, novos paradigmas sobre a

mudança global, diversidade e sustentabilidade emergem como resultado de

um aumento crescente na escala de percepção e de compreensão do mundo.

Eles refletem também uma maior consciência do poder da humanidade para

influenciar seu ambiente de forma dramática, chegando a modificar o curso de

sua própria evolução.

Além disso, as questões que emanam da diversidade biológica, mudança

global e desenvolvimento sustentável constituem a tríade sobre a qual se

baseou a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

realizada em 1992, no Rio de Janeiro (ECO 92). A Convenção sobre a

Diversidade Biológica, assinada nessa época por mais de 162 países, foi

ratificada. Esta Convenção representa uma importante conquista, visando frear

a destruição das espécies, habitats e ecossistemas, considerando a

biodiversidade um recurso para a construção do desenvolvimento.

A biodiversidade pode ser entendida de duas formas: pode ser vista como um

recurso e/ou como uma propriedade da vida. A percepção pública da

biodiversidade evoluiu rapidamente de um estágio dominado pelo medo da

perda de certas espécies carismáticas da fauna e flora, para aquele da

Convenção, no qual a biodiversidade é percebida como um recurso precioso

que devemos conservar e manejar para benefício de gerações humanas

presentes e futuras.

Há pouco mais de dez anos, pouca importância era dada ao conceito de

diversidade biológica, surgindo o termo biodiversidade aproximadamente em

1986. Geralmente os taxonomistas tratam os grupos florísticos e faunísticos

4.2.7 Biologia da Conservação

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158

como organizações em mosaicos de espécies. A descrição e os índices de

diversidade biológica tratam apenas do número de espécies que integram as

comunidades, ecossistemas e paisagens. Por outro lado, os biólogos

moleculares, os geneticistas e os biólogos do desenvolvimento se centram,

sobretudo, em demonstrar a unidade da vida, mais que explicar qual o

significado da biodiversidade (Dobson 1995; Younès 2001).

A biologia da conservação é uma ciência multidisciplinar que foi desenvolvida

como resposta à crise com a qual a diversidade biológica se confronta

atualmente (Soulé 1985).

A biologia da conservação tem dois objetivos: primeiro, entender os efeitos da

atividade humana nas espécies, comunidades e ecossistemas, e, segundo,

desenvolver abordagens práticas para prevenir a extinção de espécies e, se

possível, reintegrar as espécies ameaçadas ao seu ecossistema funcional

(Primack e Rodrigues 2001).

Diante da necessidade de tratar as sérias ameaças à diversidade biológica,

não solucionada pelas disciplinas tradicionais aplicadas, é que surgiu a biologia

da conservação.

A biologia da agricultura, silvicultura, do gerenciamento da vida silvestre e da

piscicultura ocupam-se basicamente com o desenvolvimento de métodos para

gerenciar umas poucas espécies para fins mercadológicos e de recreação.

Geralmente estas disciplinas não tratam da proteção de todas as espécies

existentes nas comunidades, e caso as tratem, o fazem como um assunto

secundário (Primack e Rodrigues op cit).

A biologia da conservação complementa as disciplinas aplicadas fornecendo

uma abordagem mais teórica e geral para a proteção da diversidade biológica;

ela se difere das demais disciplinas porque leva em consideração, em primeiro

lugar, a preservação a longo prazo de todas as comunidades biológicas, e

coloca os fatores econômicos em segundo plano (Primack e Rodrigues op cit).

As disciplinas de biologia populacional, taxonomia, ecologia e genética

constituem o centro da biologia da conservação e muitos profissionais

procedem dessas áreas.

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159

Uma vez que grande parte da crise da biodiversidade tem origem na pressão

exercida pelo homem, a biologia da conservação também incorpora idéias e

especificidade de várias outras áreas, além da biologia. Por exemplo, a

legislação e a política ambiental dão sustentação à proteção governamental de

espécies raras e ameaçadas e de habitats em situação crítica. A ética

ambiental oferece fundamento lógico para a preservação das espécies. As

ciências sociais, tais como antropologia, sociologia e geografia fornecem a

percepção de como as pessoas podem ser encorajadas e educadas para

proteger as espécies encontradas em seu ambiente imediato. Os economistas

ambientais analisam o valor econômico da diversidade biológica para sustentar

argumentos em favor da preservação. Ecologistas e climatologistas de

ecossistemas monitoram as características físicas e biológicas do meio

ambiente e desenvolvem modelos para prever as respostas para os distúrbios.

Sob vários aspectos a biologia da conservação é uma disciplina de crise. As

decisões sobre assuntos relativos à conservação são tomadas diariamente,

muitas vezes com informação limitada, e com forte pressão do tempo. A

biologia da conservação tenta fornecer respostas a questões específicas

aplicáveis a situações reais. Tais questões são levantadas no intuito de

determinar as melhores estratégias para proteger as espécies raras, conceber

reservas naturais, iniciar programas de reprodução para manter a variação

genética de pequenas populações e harmonizar as preocupações

conservacionistas com as necessidades do povo e governo locais.

As funções ambientais de regulação, suporte, produção e informação são

atribuídas, sobretudo, às áreas naturais. A Biologia da Conservação tem por

finalidade proteger essas áreas naturais, promover a qualidade de vida, e

conseqüentemente viabilizar o desenvolvimento sustentado. Dessa forma, a

Biologia da Conservação busca assegurar que as populações possam

continuar a responder as variações ambientais de uma forma adaptativa. A

Reserva de Gurjaú constitui uma dessas áreas naturais de Pernambuco.

A Reserva de Gurjaú encontra-se inserida na porção Sul da região

metropolitana do Recife, precisamente na divisa dos municípios de Jaboatão

dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Moreno. Está situada a Noroeste

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160

da usina Bom Jesus, entre os engenhos São Salvador, São Brás e São João

Rochas Velhas, com cerca de 744,47 ha inserida no município do Cabo de

Santo Agostinho, 157,44 ha em Jaboatão dos Guararapes e 157,19 ha em

Moreno, totalizando 1.077,10 ha. A reserva foi criada através do Decreto

Estadual no 9.985 de 13 de janeiro de 1987.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) criado pela Lei

Federal no 9.985 de 18 de junho de 200 não contempla a categoria de Reserva

Ecológica, daí a necessidade da recategorização em área de proteção integral

ou de uso sustentado, no entanto, a legislação estabeleceu cerca de dois anos

para enquadramento sem que o Estado tomasse qualquer decisão sobre suas

reservas, dentre elas a Reserva Ecológica de Gurjaú.

Por outro lado, Gurjaú, que apresenta mais de 1000 ha, enquadra-se em um

tamanho mínimo necessário para torna-se viável como unidade de

conservação segundo alguns autores. Dessa forma, pretende-se caracterizar

os moradores da Reserva de Gurjaú, quanto ao uso do solo, relação com o

meio ambiente e percepção ambiental. Associando essa diagnose os

resultados dos levantamentos da biodiversidade, para elaboração de um

zoneamento da área e proposição de uma unidade, segundo critérios

estabelecidos pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

METODOLOGIA

Foi realizado um reconhecimento de toda a área da Reserva, servindo-se de

mapas, evidenciando-se os marcos topográficos, assim como com a ajuda de

um morador de Gurjaú.

Para um melhor aproveitamento das visitas de campo e a título de metodologia

de trabalho, a Reserva Gurjaú foi dividida em dois subconjuntos, sendo o

primeiro (Área 1) compreendido por: Rua da Capela, Rua da Cachoeira, Rua

dos Ventos, Porteira Preta, Sítio Porteira Preta, Jaqueira e Sítio dos Periquitos

e o segundo (Área 2), por São Salvador. Primeiramente os trabalhos de

Biologia da Conservação foram aqueles relacionados à área 1. A segunda

etapa foi a área 2, localizada em São Salvador, onde foi encontrado o maior

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adensamento populacional de posseiros com atividades agrícolas de

subsistência e comercial, assim como pecuária. Assim, a Área 1 foi aquela que

constituiu a primeira etapa dos levantamentos. Dando-se continuidade a de

São Salvador, a Área 2, foi trabalhada por um período mais longo por tratar-se

de uma área onde foi observado um maior adensamento populacional de

posseiros com atividades agrícolas de subsistência e comercial e também de

pecuária de pequeno porte (Fig. 49). Para um melhor reconhecimento das

áreas recenseadas, foram confeccionados croquis dividindo a reserva em

setores – em São Salvador, setores de A a L - tendo-se o cuidado de

georeferenciar cada casa.

Questionários foram aplicados entre os posseiros/moradores da reserva de

Gurjaú com o objetivo de aferir a forma de uso do solo, conflitos, relação com o

meio ambiente e percepção ambiental na área da reserva, avaliar o tipo de

atividade agrícola, relação do posseiro com a reserva (forma de uso),

perspectivas com a implantação de uma unidade de conservação, dentre

outras, conforme modelo em anexo.

Os questionários sócio-econômico-ambientais foram aplicados durante seis

dias por mês no período do levantamento. Por ocasião da diagnose, foram

anotadas as coordenadas geográficas de todas as posses.

Ao final do levantamento foram associados os resultados obtidos na diagnose

sócio-econômica-ambiental com aqueles da biodiversidade resultando na

proposta de zoneamento da unidade, assim como a sugestão da sua forma de

uso.

Resultados

Uma vez conhecida a área da Reserva Gurjaú, foi dado início o levantamento

para o estudo da Biologia da Conservação. Ao total, foram aplicados 284

questionários entre os posseiros da reserva de Gurjaú. Menos de 5% desse

total não foram entrevistados, uma vez que as casas encontravam-se fechadas

ou desocupadas. Nestes casos foram feitas outras tentativas no intuito de

encontrar os moradores, mas não houve sucesso. Mesmo assim, as casas

foram georeferenciadas. Este percentual foi encontrado em São Salvador.

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Foram evidenciadas 23 casas de farinha, sendo 20 em São Salvador (área 2) e

3 entre Porteira Preta e Cuxio (área 1). Diversas religiões e crenças estão

presentes entre os posseiros, encontrando-se desde a religião católica, à

evangélica e os cultos afro-brasileiros, como expressões da religiosidade. Para

uma melhor compreensão das diversas situações encontradas ao longo do

trabalho estão apresentados a seguir resumo de cada rua e localidade, como

também figuras (Figs. 50 a 66 para a área 1 e Figs. 67 a 85 para a área 2) que

ilustram as respostas obtidas durante o levantamento.

Figura 50 – Mapa da reserva Gurjaú, mostrando o adensamento populacional de posseiros.

Área 1

Rua da Capela:

Rua principal de acesso à estação de tratamento de água da COMPESA. Nela

localizam-se as casas mais antigas, construídas pelo então Departamento de

Saneamento e Esgoto (DSE). Nessa rua foram contactadas oito famílias. A

média de idade dos entrevistados foi de 45,8 anos. A maioria é nascida e

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criada em Gurjaú, apesar de alguns desenvolverem atividades em outras

localidades. Nela encontra-se instalada uma escola que atende uma pequena

parte das crianças do Ensino Fundamental do entorno. O Ensino Médio é

assegurado pelas escolas da cidade do Cabo e de outras localidades. Existe

uma capela católica que atualmente não exerce atividades religiosas, estando

fechada.

Rua da Cachoeira:

Rua de maior movimento de Gurjaú. Foram contactadas 25 famílias, cuja

média de idade dos entrevistados foi de 42,24 anos. Todas as casas, em

alvenaria, foram construídas pelo DSE, visando abrigar os seus funcionários.

As moradias possuem em média dois quartos, duas salas, cozinha e banheiro.

São abastecidas com água da COMPESA e possuem energia elétrica.

Entretanto, atualmente não são saneadas. O sistema de esgoto implantado na

gestão do DSE, não mais funciona. Consistia em sistema de tubulação

conduzindo os esgotos domésticos a uma espécie de lagoa de decantação,

situada próximo ao portão principal da ETA. Atualmente este sistema encontra-

se desativado, tendo a maioria das casas um sistema de fossa séptica ou até

mesmo lançamento de seus dejetos diretamente no rio Gurjaú. Em todas as

casas entrevistadas há presença de crianças em idade escolar. Foi

evidenciada uma igreja evangélica. Nessa rua podem ser encontrados os

moradores mais antigos de Gurjaú, dentre eles, D. Báia, com 103 anos de

idade, nascida e criada em Gurjaú. Sua família constitui a maioria dos

moradores da rua da Cachoeira, entre filhos, netos e bisnetos. No final dessa

rua pode ser encontrada uma cachoeira, que, nos finais de semana, constitui a

única forma de lazer para os moradores de Gurjaú, atraindo também turistas da

região. Esse tipo de atividade favorece a economia local, onde alguns

moradores montam barracas visando a venda de diversos produtos, a exemplo

de bebidas alcoólicas e alimentos. Esse tipo de atividade, apesar de agradar a

alguns, desagrada à maioria dos moradores que se queixa do aumento de

pessoas estranhas transitando nas imediações, diminuindo a tranqüilidade. A

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totalidade dos moradores aprecia a moradia pela calma do local. Esse ponto é

extremamente importante, já que a maior riqueza para eles é a tranqüilidade e

calma de Gurjaú, motivo pelo qual não demonstram interesse em morar em

outro lugar. Do total de entrevistados dessa rua, 68% foram mulheres, das

quais 100% não possuem atividade fora do domicílio. Trinta e sete crianças

foram registradas, sendo a maioria em idade escolar. Dessas, poucas estudam

na escola situada na Rua da Capela. A maioria freqüenta escolas em São

Salvador e outras na cidade do Cabo. Dos entrevistados do sexo masculino

(32%) a maioria é aposentada do então DSE e COMPESA. Uma pequena

quantidade possui roçado em pequenos latifúndios próximos à barragem de

Gurjaú e outra tem plantação de subsistência no quintal de casa. Essas

culturas são basicamente constituídas por roça, macaxeira e banana. Apenas

um morador negocia com frutos extraídos da mata. Do total de casas

existentes nessa rua, 64% delas retiram lenha seca da mata para fogões à

lenha, alegando a falta de condições financeiras para adquirirem botijões de

gás que atualmente apresentam preço elevado. Quando indagados quanto às

questões relacionadas ao Meio Ambiente, nota-se uma falta de informação

muito grande e um despreparo, mesmo entre aqueles que possuem certa

escolaridade. Entretanto, quando perguntados sobre o estado de conservação

da Reserva Gurjaú, a grande maioria respondeu que a área não estava sendo

bem cuidada e sempre se referem a períodos remotos em que a segurança da

ETA era efetiva, atribuída ao maior número de pessoal de vigilância, os portões

sempre fechados e um maior cuidado com o ambiente. Alguns consideram que

a área está abandonada e que qualquer pessoa pode adentrar. Apesar do

desconhecimento sobre conceitos que poderiam aferir o conhecimento

ambiental da comunidade, algumas questões são ligadas ao bom senso de

cada um e aparecem claramente. Um exemplo é a apreensão de animais

silvestres. A maioria das casas possui animais silvestres em cativeiro, sem

objetivar o comércio, visto a pouca quantidade encontrada. Culturalmente, as

pessoas costumam ter esse tipo de atividade sem envolver tráfico. Foi

observado que, ao serem abordados sobre a questão, muitos tentavam omitir

tais informações, temendo que a equipe de entrevistadores pertencessem ao

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IBAMA ou CPRH, e levassem seus animais de estimação, o que segundo

informações fornecidas por eles, aconteceu em algum momento. Após

absorverem o verdadeiro objetivo da pesquisa, tratavam de informar o mais

próximo à realidade, ajudando sobremaneira a melhor diagnose. Um dos

problemas aqui detectado foi o lançamento de poluentes no rio Gurjaú. Apesar

de não se identificarem temendo represálias, afirmam que constantemente é

colocado carrapaticida no rio para facilitar a pesca do Pitú, camarão

pertencente à espécie Machrobachium carcinus, comumente encontrada na

região, apesar de seu declínio populacional. Para uns, são pessoas de fora da

comunidade que realizam esse tipo de crime ambiental, para outros são

antigos moradores de Gurjaú que atualmente residem em outras localidades,

mas que têm conhecimento sobre esse recurso faunístico e que voltam para tal

atividade. Para outros, existem moradores atuais que praticam tal ação. Na

realidade, a totalidade dos entrevistados lamenta esse tipo de atividade. Outro

problema apontado por eles é a falta de um posto médico. Uma questão

relevante foi levantada não só nessa rua como também nas demais levantadas

foi a ausência completa de coleta de lixo. Todo o lixo produzido é lançado entre

as bananeiras (atrás de casa) próximo à estrada, ou então à margem do rio.

Esse tipo de problema é o mais preocupante, uma vez que a comunidade

tende a aumentar e, conseqüentemente, produzir maior quantidade de lixo.

Eles não têm idéia de reciclagem. Propõem para a futura uma ação mais

efetiva no sentido de viabilizar oficinas que permitam minimizar esses impactos

ao meio ambiente, capazes de comprometer sobremaneira a qualidade

ambiental da Reserva Gurjaú.

Rua dos Ventos:

Rua situada nas proximidades da Sede da ETA Gurjaú, fazendo a ligação entre

a rua da Capela e a rua da Cachoeira. Foram entrevistadas 25 famílias, com

média de idade entre eles de 33,5 anos. O acesso a essa rua é assegurado

pela rua da Capela. O conjunto de casas é bem heterogêneo, possuindo

construções mais antigas, da época do DSE, como também outras em taipa.

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Quarenta e quatro crianças vivem entre os entrevistados, em sua maioria

estudando em escolas da localidade ou de São Salvador. As casas possuem

em sua maioria dois quartos, duas salas, banheiro e cozinha. Pelo relevo, os

quintais das casas ficam localizados nas encostas dos morros, o que de certa

forma representa um fator negativo às atividades de agricultura de

subsistência. A criação de animais se restringe às aves (Passeriformes em

cativeiro, como animais de estimação e poucas galinhas para o consumo). São

raras outras criações, exceto alguns que possuem criação de suínos, atividade

esta que incita controvérsias entre moradores, alegando mau cheiro, etc. Da

mesma forma, na rua anterior a maioria dos entrevistados foi do sexo feminino,

representando 64%. A grande maioria nasceu e foi criada em Gurjaú. As

mulheres se ocupam do lar, não contribuindo em termos de remuneração para

a renda familiar. As atividades exercidas pelos moradores da rua dos Ventos

assemelham-se aquelas da rua da Cachoeira. Foram identificados funcionários

da COMPESA e outros possuindo atividades externas a Gurjaú, como, por

exemplo, funcionários de empresas de bebidas, localizadas na região, assim

como zeladores e porteiros de prédios da Zona Sul da Região Metropolitana do

Recife. O nível de escolaridade dos entrevistados vai desde o analfabetismo

até o primeiro grau menor, muitas vezes incompleto. Apesar dessa situação,

todos acreditam na educação, e esforçam-se para que seus filhos freqüentem a

escola. Da mesma forma que as demais ruas levantadas, são unânimes em

reivindicarem um posto médico para a comunidade, pois alegam que é grande

a distância que separa Gurjaú do posto médico mais próximo, agravada pela

falta de transporte em caso de emergência. Não existe coleta de lixo nessa rua

como também nas demais.

Porteira Preta

Área mais afastada da Sede da ETA Gurjaú. Essa área conhecida como

Porteira Preta é distinta de outra localidade conhecida como Sítio Porteira

Preta. Essa divisão deve-se ao fato da área ser muito grande e de difícil

configuração para a localização. Os próprios moradores fazem essa diferença.

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167

A área levantada tem início na estrada que liga à Usina Bom Jesus a São Braz

até a Fazenda de Sr. Manoel. As coordenadas de cada casa foram anotadas,

com a intenção de, no futuro, apresentar um mapa com a localização, visando

uma melhor compreensão. Nesse trecho são evidenciados desde conjuntos de

casas construídas de taipa até granjas de pequeno, médio e grande porte,

constituindo os maiores latifúndios dentro da área da reserva. Os moradores de

baixa renda são originários de Gurjaú, tendo nascido nas imediações, mas há

até os que já constituem a terceira geração de posseiros de Gurjaú. Outros têm

suas propriedades utilizadas apenas em finais de semana. Outros possuem

atividade pecuária envolvendo gado leiteiro e ovino. É nesse trecho que pode

ser observada uma maior ação antrópica que vem diminuindo a área da

reserva Gurjaú. As propriedades avançam em direção às matas, tornando mais

e mais escasso este recurso. Foi observada uma grande quantidade de

caçadores nesse trecho. Foram entrevistadas 15 famílias, cuja média de idade

entre as pessoas entrevistadas foi de 45,8 anos. Existem poucas crianças. As

atividades exercidas pela comunidade de baixa renda são variadas, indo desde

o plantio de roça para a extração da farinha, até fruteiras (banana, graviola,

acerola, mamão, etc:), como também o plantio de cana-de-açúcar para a Usina

Bom Jesus. Entre os posseiros, poucos utilizam agrotóxicos, exceto aqueles

que possuem uma maior área e que plantam cana-de-açúcar. Estes recorrem à

utilização de adubos químicos e defensivos agrícolas para a obtenção de

melhores colheitas. Nesse trecho encontram-se instaladas duas casas-de-

farinha que, além de servirem aos proprietários (posseiros), são alugadas aos

demais interessados pelo valor médio de R$ 5,00/dia (Cinco reais/dia). No local

pode ser evidenciado no entorno a vegetação de Mata Atlântica,

constantemente ameaçada pelo desmatamento. São duas matas importantes

da região, a do Cuxio e a do Manoel do Doce, nomes esses bastante

conhecidos dos moradores locais. Dos 38 moradores, 15 são crianças em

idade escolar. Do total de entrevistados, 60% são do sexo feminino. As

mulheres participam das atividades agrárias, trabalhando no plantio.

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168

Jaqueira

Trecho localizado entre a Porteira Preta e o Sítio Porteira Preta. São poucas

famílias de posseiros que ali vivem. A atividade exercida pela maioria é a

agricultura. Foram entrevistadas sete famílias, cuja média de idade entre eles

foi de 46,14 anos. Existem 26 adultos e 13 crianças em idade escolar morando

nessa “rua”. Como nas demais localidades, o índice de analfabetismo é

elevado e a percepção ambiental é limitada. Todas as atividades exercidas

pelos posseiros não são por eles consideradas como prejudiciais ao meio

ambiente. As construções são em sua maioria de alvenaria, possuindo fossa

séptica. A coleta do lixo não é assegurada e quando perguntados sobre que

destino se dá ao lixo gerado, a maioria afirmou que, quando em grande

quantidade, queimam, mas normalmente jogam nas bananeiras como forma de

adubo. Nota-se que, de forma geral, para essa e outras localidades os

entrevistados não têm consciência do que seja reciclagem. Para eles, mesmo

os sacos plásticos servem de adubo para as bananeiras que após essa ação

tornam-se viçosas e produzem frutos de melhor sabor. Entretanto, já

verificaram que garrafas tipo PET não são ideais e nesse caso, as queimam.

Muitos dos posseiros não possuem empregos, exceto um deles que trabalha

na COMPESA. Nessa área foi registrada uma casa de farinha que atende não

somente ao proprietário, como também aos vizinhos que utilizam essas

instalações no sistema de aluguel.

Sítio dos Periquitos/ Sítio Porteira Preta

Encontra-se perfazendo o conjunto Porteira Preta, entretanto constitui-se de

dois sítios de mais ou menos 10 hectares cada, pertencentes a duas famílias,

originárias da região. Com a morte de um dos posseiros, um desses sítios foi

dividido entre os herdeiros que possuem casas na localidade. Essas

habitações são construídas em taipa e não possuem saneamento básico

fazendo com que os posseiros utilizem a natureza para as suas necessidades

fisiológicas. Não existe coleta de lixo, piorando ainda mais as condições

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169

sanitárias locais. Poucas casas possuem fossas, que atendem, muitas vezes,

vários moradores que não tiveram condições de construírem as suas. O

segundo sítio também em condições próximas ao primeiro possui atividade de

agricultura, plantando cana-de-açúcar, roça e banana. Ao total têm posse no

Sítio Porteira Preta 23 famílias, cuja média de idade entre os entrevistados é

40,13 anos. Foi observado um número elevado de desempregados e como nas

demais localidades uma ociosidade acentuada por parte das mulheres.

Localidade mais afastada das demais abriga apenas uma família que não é

originária da região. A ocupação desse sítio foi decorrente de uma ação

idenizatória por parte de Governo do Estado ao posseiro que vivia em outro

sítio próximo à Barragem Pirapama. Há dois anos foi comprada a posse e

atualmente é exercida a atividade de agricultura, com o plantio de milho, feijão,

banana, maracujá, roça, macaxeira, tanto para o comércio, como para

subsistência.

Figura 51 - Percentual de adultos e crianças residentes da Área 1, entre agosto e dezembro de 2002.

67%

33%

Adultos

Crianças

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170

Figura 52 - Grau de instrução dos posseiros na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

Figura 53 – Tipos de construção encontrados na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

Grau de Instrução

22%

2%

33%

17%

22%

3%

1% Analfabeto

Alfabetizado

1º Grau Menor

1º Grau Maior

Ensino Médio

Magistério

Contabilidade

71%

29%

Alvenaria

Taipa

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171

Figura 54 – Número de cômodos por casa encontrados na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

Figura 55 – Situação do fornecimento de energia elétrica por casa na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

0%

100%Sim Não

6%

27%

5%

62%

Cacimba

Poço

Poço e cacimba

Compesa

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172

Figura 56 – Estado de saneamento na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

Figura 57 – Coleta de lixo na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

37%

9%18%

36%

Rio Gurjaú

Córrego

Céu aberto

Canalização comunitária

0%

100%

Sim Não

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173

Figura 58 – Prática de atividade agrícola na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

Figura 59 – Situação da utilização de defensivos agrícolas na agricultura na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

64%

36%Sim

Não

3%

97%

Sim

Não

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174

Figura 60– Situação da utilização de fertilizantes na área 1 da reserva Gurjáu, entre agosto e dezembro de 2002.

Figura 61 – Prática de atividade pecuária na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

10%

90%

Sim

Não

47%

53%

Sim

Não

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175

Figura 62 – Objetivo das atividades agrícolas e pecuárias desenvolvidas pelos posseiros da área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

Figura 63 – Retirada de lenha seca da mata pelos posseiros da área 1 da reserva Gurjaú para os fogões de lenha, entre agosto e dezembro de 2002.

2%

30%

25%

43%

Comércio

Subsistência

Comércio/Subsistência

vazias

59%

41%

Sim Não

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176

Figura 64 – Utilização de recursos vegetais pelos posseiros da área 1 da reserva Gurjaú, para fins medicinais, construção e subsistência, entre agosto e dezembro de 2002.

Figura 65 – Atividade de caça exercida pelos posseiros da área 1, entre agosto e dezembro de 2002.

25%

75%

Sim

Não

Retira algum outro recurso vegetal?

22%

1%

2%

71%

2%2%

Casca deÁrvores

Casca/Resina/Folha

Casca/Folhas

Raiz

Caibros eLinhas

Não utiliza

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177

Área 2

São Salvador:

Esta área corresponde àquela de maior adensamento populacional da reserva

Gurjaú. Ao total foram contabilizadas 177 moradias de posseiros, em sua

maioria de taipa (89%), sendo detectada uma forte expansão de construção de

novas casas. O trabalho de aplicação de questionários foi desenvolvido entre

dezembro de 2002 a abril de 2003, apesar de terem sido realizadas visitas

desde abril de 2002. Existe no local uma atividade de subsistência indo desde

pequenos lotes ao redor das casas até sítios de maior importância, onde se

verifica uma diferença social entre os moradores. Foram evidenciadas cerca de

20 casas de farinha, atividade esta que requer uma maior vigilância pelo

processo em si, desde a utilização de madeira para os fornos e fogões o

resíduo que é lançado diretamente no ambiente sem qualquer tipo de

tratamento. Desde que a área foi visitada pela primeira vez até a conclusão das

entrevistas, houve um aumento considerável nas construções de novas casas.

Acredita-se que o fato de estar por vir um novo direcionamento para a reserva

fez com que os posseiros se interessassem em ampliar as suas posses para

uma posterior indenização. Este crescimento é notado pelos posseiros quando

são questionados sobre as novas construções. As posses também são

ampliadas pelo crescimento da família. As crianças crescem e formam novas

famílias próximas às casas dos pais. As atividades ali realizadas vão desde a

cultura de subsistência até às atividades comerciais, a exemplo de cana-de-

açúcar, banana, mamão, entre outras. São Salvador sofre fortemente o

problema do desmatamento, seja por alguns moradores que aumentam suas

posses avançando em direção às matas, com técnicas silenciosas

(estrangulamento de árvores de grande porte, técnicas estas comuns na

região), até pela utilização de equipamentos mais sofisticados por exploradores

de madeiras de lei que não residem na localidade. Estes últimos realizam o

corte da madeira, muitas vezes durante o dia, vindo buscar os toros caídos

durante à noite. Os moradores têm ciência dessas atividades, entretanto, não

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178

comentam por temerem represálias contra a família. A situação financeira dos

posseiros em sua maioria é bastante crítica, tendo sido encontradas algumas

famílias vivendo em total miséria, sem ter condições mínimas de vida. Poucos

são aqueles que se destacam dessa situação, tendo esses um trabalho digno,

como agricultor, comerciante, ou então trabalham fora da reserva, mantendo,

entretanto, suas casas na reserva. O desemprego é o maior problema

enfrentado pelos posseiros. É geral a desocupação seja pelas mulheres quanto

pelos homens. As famílias são numerosas e a quantidade de crianças é muito

grande. O índice de analfabetismo é considerável por parte dos adultos. As

crianças vão à escola, apesar da distância entre as moradias e a mesma.

Existe uma linha de ônibus que assegura o transporte dos moradores. Trata-se

de uma empresa particular pertencente a um dos moradores da reserva.

Durante a estação chuvosa, os deslocamentos ficam bastante prejudicados já

que as condições das estradas de barro impossibilitam o acesso. Existem

muitas igrejas nessa área, em sua maioria, evangélicas. Os posseiros que

moram perto dos açudes utilizam a água para a irrigação de suas lavouras,

para o consumo humano e de animais, assim como para a lavagem de roupa.

Nos finais de semana, a área é visitada por parentes e amigos dos posseiros

que, em busca de lazer, utilizam-se dos açudes da COMPESA para banho,

esportes. As figuras 67 a 85 mostram a realidade de São Salvador a partir de

informações obtidas durante a aplicação dos questionários sócio-econômico-

ambientais.

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179

Figura 66 – Faixa etária dos posseiros de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 67 – Percentual de adultos e crianças de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

61%

39%

Adultos Crianças

7%

23%

21%14%

12%

12%

7%

3%

1%

< 20

20 - 29

30 - 39

40 - 49

50 - 59

60 - 69

70 - 79

80 - 89

> 90

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180

Figura 68 – Grau de instrução dos entrevistados em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 69 – Tipos de construção encontrados em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

40%

6%

40%

9%5%

Analfabeto

Alfabetizado

1º Grau Menor

1º Grau Maior

Ensino Médio

Magistério

11%

89%

Alvenaria

Taipa

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181

Figura 70 – Número de cômodos por casa em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 71– Situação de fornecimento de energia elétrica entre os posseiros de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

2% 4%

7%

9%

11%

13%

16%

18%

20%

1

2

3

4

5

6

7

8

9

99%

1%

Sim

Não

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182

Figura 72- Estado de saneamento das casas situadas em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

45%

55%

Fossa

No mato

91%

9%

Cacimba

Poço

Poço e cacimba

Compesa

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183

Figura 73 – Formas de abastecimento d´água das casas de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 74 - Coleta de lixo em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

0%

100%

Sim Não

82%

18%

Sim Não

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184

Figura 75 – Atividade agrícola em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 76 - Situação da utilização de defensivos agrícolas na agricultura em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

19%

81%

Sim Não

19%

81%

Sim Não

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185

Figura 77 - Situação da utilização de fertilizantes em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 78 – Prática de atividade pecuária em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

45%

55%

Sim

Não

98%

2%

Sim

Não

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Figura 79 - Objetiva das atividades agrícolas e pecuárias desenvolvidas pelos posseiros em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 80 - Retirada de lenha seca da mata pelos posseiros em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Utiliza outro recurso vegetal?

9% 2%

2%

87%

Casca de Árvores

Casca/Resina/Folha

Casca/Folhas

Folha

Caibros e Linhas

Não utiliza

Cultivo e Criação destinado a que?

2%

37%

61%

Comércio

Subsistência

Comércio/Subsistência

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187

Figura 81 – Utilização de recursos vegetais pelos posseiros de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

14%

86%

Sim

Não

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188

Figura 82– Retirada de frutos da mata para uso de subsistência pelos posseiros de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Conclusões

Tanto a área 1 quanto a 2 não possuem nenhum tipo de saneamento

básico ou coleta de lixo, fazendo com que os dejetos sejam lançados a

céu aberto ou diretamente no rio. O lixo não sofre nenhum tipo de

reciclagem, sendo queimado, lançado à beira da estrada ou

simplesmente jogado entre as bananeiras. Não existe nenhum tipo de

coleta de lixo, agravando os impactos ambientais;

O índice de analfabetismo ultrapassa 70% dos entrevistados;

A totalidade dos entrevistados preocupa-se com a qualidade da água,

mesmo contribuindo para a poluição da mesma;

As atividades exercidas nas proximidades das matas põem em risco a

integridade da biodiversidade;

A maioria dos entrevistados não tem conhecimento das questões

relacionadas ao Meio Ambiente;

Com relação à biodiversidade encontrada na reserva Gurjaú, assim

como a forma de uso do solo entende-se que:

Considerando,

26%

74%

Sim

Não

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189

Os anfíbios endêmicos da Mata Atlântica (Bufo crucifer, Hyla atlantica,

H. branneri, H. semilineata, Phyllodytes cf. luteolus, Scinax auratus,

Adenomera sp., Eleutherodactylus sp. e Pseudopaludicola sp.);

Os répteis endêmicos da Mata Atlântica (Enyalius catenatus, Strobilurus

torquatus, Mabuya macrorrhyncha e Anotosaura sp.);

As aves ameaçadas: Thalurania watertonii, Momotus momota

macgraviana, Picumnus exilis pernambucensis, Conopophaga liineata

cearae, Conopophaga melanops nigrifons, Curaeus forbesi, Tangara

cyanocephala corallina, Tangara fastuosa, Xenops minutus alagoanus,

Myrmeciza ruficauda, Pyriglena leuconota pernambucensis,

Thamnophilus aethiops distans, Thamnophilus caerulesces, Platyrinchus

mystaceus niveigularis.

Os mamíferos: Monodelphis americana, endêmico da Mata Atlântica,

Callithix jachus, endêmico para o Nordeste e Leopordus tigrinus

ameaçado de extinção;

As espécies vegetais endêmicas para Pernambuco (Maprounea sp ,

Calathea cf. pernanbucensis, Ctenanthe pernambucensis Arns et Mayo

e Maranta andersoniana Arns et Mayo);

As espécies vegetais endêmicas da Mata Atlântica (Erythroxylum cf.

grandifolium Mart. e Henriettea succosa DC.);

Que a Mata Atlântica constitui um dos biomas mais ameaçados do

Planeta sendo considerado um dos “hotspots” de biodiversidade;

A baixa densidade da população humana, historicamente composta por

funcionários de Gurjaú, próximos aos fragmentos onde foram

relacionadas às espécies endêmicas/ameaçadas;

Propõe-se uma unidade de conservação do tipo proteção integral, a

exemplo de uma Estação Ecológica (ESEC).

Considerando,

O grande adensamento populacional em São Salvador, o uso e

ocupação do solo (atividades de subsistência, agricultura de cana-de-

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190

açúcar, banana e pecuária) que vem ao longo dos anos ocasionando

uma grande perda da cobertura vegetal original;

Propõe-se então para esta área, uma unidade de conservação de uso

sustentável, a exemplo de uma Área de Proteção Ambiental (APA).

Figura 83 – Mapa proposto para a criação de duas unidades de conservação em Gurjaú, a em azul compreende a UC de uso sustentável e a de linha pontilhada vermelha a linha a UC de proteção integral.

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191

Figura 84 - Cenas de uso dos recursos hídricos em São Salvador, onde são observadas famílias lavando roupas. Área sugerida de uso sustentável.

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192

Anexo I

QUESTIONÁRIO SOBRE DADOS SÓCIO-AMBIENTAIS DA POPULAÇÃO RESIDENTE NA

RESERVA ECOLÓGICA DE GURJAÚ, CABO DE SANTO AGOSTINHO, JABOATÃO DOS

GUARARAPES E MORENO.

PESQUISADOR: DATA: / /

NOME:

Sexo: M ( ) F ( ) Idade: Estado Civil: casado ( ) solteiro ( ) viúvo ( ) outros:

Nº residentes: adultos ( ) crianças (

)

Quantas crianças estudam:

Instrução: analfabeto ( ) alfabetizado ( ) 1º grau menor ( )

1º maior ( ) ensino médio ( ) outros:

Quantos trabalham: Em que:

Ocupação pesquisado: Renda: R$ Renda da família: R$

Tempo de moradia na Reserva:

Moradia construída pela COMPESA:

S N

Outros:

Motivo: nascido ( ) trabalha ETA ( ) chegou criança ( )

Casamento ( ) outros:

Tipo de construção: alvenaria ( ) taipa ( ) outros: Nº cômodos: Eletricidade: S N

Saneamento: S ( ) N ( ) Tipo:

Se for fossa, qual a localização:

Água: poço ( ) Compesa ( ) outros:

Coleta de lixo:

Se não tiver saneamento nem coleta de lixo qual os tratamentos dados aos dejetos e aos resíduos:

Atividade agrícola: S ( ) N ( ) Onde: Por quem:

Pecuária: S ( ) N ( ) Tipo:

Localização:dentro da Reserva ( )fora ( )

Criação: confinado ( ) solto ( )

Tipo de cultivo:

Dentro da reserva: S ( ) N ( )

Local: várzea ( ) Próximo ao açude ( )

encosta ( ) clareiras ( ) outros:

Tempo cultivo ( )

Criação e/ou cultivo destinado a que: comércio ( )

subsistência ( )

comércio e subsistência ( )

Tempo: pecuária ( )

Utilização de agrotóxicos: S ( ) N ( ) como é utilizado:

Utilização de fertilizantes: S ( ) N ( ) Quais:

Onde compra:

Utiliza irrigação no cultivo: S ( ) N (

)

Como é feita:

Tira lenha da Mata: S ( ) N ( ) Como é retirada:

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Que outro tipo de recurso vegetal?

Folhas ( ) casca de árvores ( ) outros

( )

Quais?

Como é retirado:

Para que fim?

Caça: S ( ) N ( ) Quais: cutia ( ) teju ( ) aracuã ( ) tatu ( ) quati ( ) capivara ( ) rolinha ( ) pomba

( ) jacaré ( ) outros:

Tipo: comércio ( ) subsistência ( ) lazer ( )

Captura animal silvestre: S ( ) N ( )

Quais: curiatã ( ) pinto( ) sabiá ( )

Outros:

Para que fins: criação( )comercialização ( )

Retira frutos da mata?

ingá( )inhame( )jaca( )outros ( )

Quais:

Para que fins:

Aspectos positivos de se morar dentro da Reserva:

Aspectos negativos:

Se tivesse opção de morar fora da Reserva, se mudaria?

O que vem a ser meio ambiente?

Acha que a Reserva está sendo bem protegida?

Por que?

A presença de pessoas morando na Reserva põe em risco sua conservação?

Por que?

As atividades exercidas dentro da Reserva comprometem sua conservação?

Por que?

Qual a importância da Reserva para a região?

O que poderia ser feito para manter ou melhorar a Reserva?

Como morador o que poderia fazer para conservar a Reserva?

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4.3 Meio Antrópico 4.3.1 Característica da população da Reserva

O perfil dos moradores da Reserva Ecológica de Gurjaú tem mudado desde o

último cadastramento feito pela COMPESA em 1988, no levantamento

realizado próximo a ETA Gurjaú (CAMINHA 2002), a área apresentou um

significativo aumento populacional, com o crescimento familiar novas casas

foram sendo construídas para absorver as novas famílias que iam sendo

criadas, os chefes de família deixavam seus filhos recém-casados construírem

nos “quintais” de suas casas aumentando o número de residências como

caracterizado abaixo:

30,30% não apresentam nenhum vínculo com a COMPESA;

25,50% são parentes de funcionários da COMPESA;

14,00% são funcionários da COMPESA;

11,65% são ex-funcionários/aposentados da COMPESA;

11,60% são funcionários de firmas terceirizadas pela COMPESA;

6,95% são funcionários do Estado de Pernambuco.

O número de pessoas sem vínculo com a COMPESA é quase um terço da

população moradora no entorno da ETA, o que representa uma invasão da

área. O número de parentes de funcionários também é expressivo, justificado

pela construção de moradias nos quintais das casas dos pais, quando os filhos

casam ou, como expressou uma entrevistada: - “meu pai se aposentou, para

não entregar a casa preferiu deixar eu morar aqui”.

Segundo Caminha (2002), a religião de quase metade dos moradores é a

Católica Apostólica Romana, com 48,84%, seguida da Evangélica, com

37,20%, distribuída entre Batista e Adventista. 13,96% dos entrevistados não

têm religião.

Os dados referentes à escolaridade do chefe de família mostram que 18,60%

não têm escolaridade; 6,98% são alfabetizados; 30,24% possuem o 1º grau

menor; 20,93% o 1º grau maior e 23,25% estão cursando ou cursaram o 2º

grau, um percentual elevado de moradores não iniciaram o 2º grau. Dentre os

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chefes de família, 39,54% apresentam uma renda familiar mensal menor que

dois salários-mínimos; 4,65% estão desempregados; 34,88% apresentam uma

renda entre 2 a 4 salários-mínimos e 9,30% recebem mais de 4 salários-

mínimos. Destes últimos, muitos são aposentados da COMPESA.

No que diz respeito à relação homem /mulher entre os moradores da ETA de

Gurjaú a proporção é de 48,65% de homens para 51,35% de mulheres

(CAMINHA 2002).

4.3.2 Condições de Infra-estrutura

As moradias são, em sua maioria, de alvenaria tendo ainda algumas casas

construídas de taipa, o abastecimento de água é realizado pela COMPESA na

grande maioria, havendo poucas casas com poço/cisterna onde consomem a

água sem nenhum tratamento.

Com relação às condições de manejo de resíduos sólidos o destino final do lixo

representa um grande problema, já que não há coleta na Reserva e nenhuma

das três Prefeituras dos municípios que a integram têm uma ação sistemática

para coleta de lixo. Os moradores jogam seus resíduos diretamente na mata,

fazem queimadas destes a céu aberto ou criam seus próprios “pontos de lixo” ,

criando um grave impacto por conta da poluição tanto do solo quanto dos

lençóis freáticos e proliferação de ratos.

No que se refere ao saneamento básico, a maioria das casas possuem

banheiro e fossa séptica, entretanto a grande maioria não possui nenhuma

forma de tratamento do esgoto que é lançado no Rio Gurjaú causando a

contaminação da rede hidrográfica que leva a morte de vários peixes e

camarões. A situação tende a causar sérios problemas tanto para a população

local que utiliza a água do rio para beber e cozinhar, como para a região

metropolitana do Recife que utiliza a água tratada do mesmo rio. Apesar das

condições precárias de saneamento e destino final do lixo, não há relatos de

doenças infecto-contagiosas, sendo a gripe e a diarréia as mais comuns

principalmente nas crianças.

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Outros responsáveis pela poluição hídrica e do solo são as populações

flutuantes (sitiantes e veranistas), que após as estadias dos finais de semana e

feriados deixam seus resíduos sólidos acumulados nas margens da cachoeira,

barragens e mata.

Dentro da Reserva existe a Escola Municipal Dr. Eudes Sobral de 1ª a 4ª séries

e com turma de Alfabetização para Jovens e Adultos. A escola faz parte do

Projeto Criança Cidadã que paga aos pais R$ 25,00 (vinte e cinco reais) para

que as crianças permaneçam na escola e é mantida pela Prefeitura do Cabo de

Santo Agostinho, contando com verbas do Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério

(FUNDEF), o tema “ Meio Ambiente” é desenvolvido com os alunos através de

uma proposta pedagógica da Secretaria de Educação.

4.3.3 Visão das Comunidades sobre a U.C.

Nos últimos cem anos, o homem adquiriu o poder de influenciar decisivamente

na constituição e equilíbrio dos ecossistemas, de alterar os padrões de

distribuição geográfica dos animais, plantas, microorganismos e de acelerar o

ritmo dos processos de evolução da crosta terrestre e da biosfera (ROCHA

1997).

Erosão, poluição e extinção das espécies animais e vegetais constituem

eventos ou processos naturais, mas sua aceleração e desorganização como

subprodutos das atividades humanas descontroladas, comprometem a

estabilidade dos sistemas ecológicos e dos ciclos naturais.

A Reserva Ecológica de Gurjaú retrata a aceleração do esgotamento dos

recursos naturais por possuir uma grande quantidade de moradores em seu

interior, que tendo em vista a precariedade em que vivem sob diferentes

aspectos sociais, como a falta de trabalho, infra-estrutura precária, crescimento

desordenado da população e outros, vêm-se tendo que desmatar a área para

cultivo da cana-de-açúcar e agricultura de subsistência, além de utilizarem a

madeira para lenha e construção de casas.

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Partindo dessas problemáticas, faz-se necessária a caracterização de todos os

moradores da Reserva, pois o envolvimento da comunidade é de total

importância. Sem o entendimento, o apoio, a participação e a colaboração da

população nenhum projeto tem sustentabilidade. Para Ellen (1982, apud

MORÁN, 1990), as relações ambientais do Homo sapiens só podem ser

compreendidas se incluírem o papel da cultura e das instituições sociais que

intervêm entre o homem e o ambiente.

Cada pessoa, psicologicamente, tem uma percepção do meio ambiente e de

sua qualidade que é individual, incomunicável e irreversível. Conforme Morán

(1990, p. 89), a percepção influi no comportamento, tanto ou mais do que a

realidade física do ambiente. Biologicamente, esta percepção encontra-se

limitada às condições anatômicas e fisiológicas da espécie humana e se

processa dentro dos padrões culturais, geográficos e históricos. Sendo, então,

os mecanismos perceptivos e cognitivos para conhecer o meio ambiente

próprios da espécie humana, a imagem mental que as pessoas constroem

desse meio ambiente segue determinados padrões e o somatório destas

imagens individuais representa a imagem pública, que determina a qualidade

ambiental. Assim, como variam as percepções e as imagens mentais a respeito

da qualidade ambiental, também variam as atitudes diante do meio ambiente e

os valores a ele atribuídos. As respostas ao meio ambiente variam, então, de

acordo com as escalas de percepção e de valor (OLIVEIRA, 1983, apud

MACHADO, 1997).

Partindo de todos esses pressupostos, é que foi iniciado um trabalho

classificado como Etnoecológico, onde procura-se entender a percepção que o

indivíduo tem do local a partir de sua experiência de vida. Pois entende-se que

a criação de uma verdadeira Unidade de Conservação não pode terminar com

a publicação ou determinação do ato público.

Dando continuidade ao trabalho etnoecológico iniciado com a população

residente do entorno da ETA, partiu-se para outras duas áreas denominadas:

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Engenho São Salvador e Engenho Porteira Preta.

O Engenho São Salvador localiza-se ao norte da ETA, onde as maiorias das

atividades agrícolas são exercidas e possui duas associações (Associação dos

Pequenos Produtores Rurais de São Salvador- ASPROSA e Associação dos

Pequenos Moradores de São Salvador). Com uma população acima de 1000

pessoas e mais de 550 famílias, segundo informação de Everaldo José da

Silva, vice-presidente da última associação citada, a área apresentou um

aumento populacional grande por conta de construções desordenadas,

provenientes da especulação imobiliária realizada por alguns moradores do

local, como cita um morador “nem a COMPESA, nem a polícia podem me tirar

daqui, pois a madeira que eu construí a minha casa eu comprei em uma

madeireira, e o terreno eu comprei por R$ 2.500,00”, “ aqui nesse local há 10

anos havia uma casa, hoje tem 18”

A maioria dos moradores do local demonstram nostalgia ao falar de como era a

Reserva no passado “é uma pena ver isso aqui sendo tomado pela cana,

principalmente pela queimada que deixa a terra pobre”, “isso aqui era uma

beleza, dava gosto, cada morador pagava para morar aqui e quando não podia

trabalhar dava um dia de serviço para limpar ou fiscalizar, hoje tá tudo

abandonado” “a mata acabou-se porque o pessoal foi fazer roça” “ meu pai

dizia, meu filho não entre no asseiro, antes o dono do sítio tinha o compromisso

de deixar o asseiro quando havia vigilância, hoje todo mundo invade a mata

para roçado”.

Quando questionados sobre qual seria a alternativa para que a mata voltasse a

ser como antes, a grande maioria diz que “se voltasse a vigilância, não tinha

mais derrubada de madeira”, “ aqui só tinha um vigia e dava conta da mata

todinha, meu pai quando quiz fazer a casa dele teve que dar 10 viagens a

Gurjau para conseguir autorização para construir a sua casa, cada casa era

construída assim o cabra tinha que batalhar muito para conseguir autorização

para construir ou derrubar um pau” “ se a comunidade for envolvida, isso aqui

volta a ser mata”, “quando a estrada é ruim, não tem como passar carro

pesado e não tem como tirar madeira”.

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A população apesar de não entender os termos: Reserva Ecológica, Unidade

de Conservação, Área protegida; demonstram conhecimento nativo com

relação à importância de preservação da área ao fazer comentários do tipo

“esse Engenho é rico em água, tem pra mais de 200 olhos d’água aqui, moça”,

“sabe porque não tem bicho? por causa da caça e derrubada da madeira”,

“daqui a pouco a gente não vai ter mais água, porque quase não tem mais

planta aqui”, “era bom que a associação comprasse outro engenho e coloca-se

algumas famílias lá, porque São Salvador tá lotado” “ o bicho é ser vivo, tem

direito de viver, a mata sem criação não é mata” “ só o céu é melhor para morar

do que São Salvador” .

Outro Engenho levantado foi o de Porteira Preta. Localizado a leste da ETA,

possui os dois maiores fragmentos de mata da Reserva: Mata do Cuxio e Mata

da Zabé. Possui o menor núcleo populacional de toda a Reserva, mas nem por

isso os problemas são menores, como em toda a área há pequenos sítios com

culturas de subsistência, plantio de cana-de-açúcar com conseqüente prática

de queimada, falta de coleta de lixo e o mais agravante: grandes propriedades

particulares, com pastos, viveiros, canis e cultivos que avançam subtraindo a

mata.

A visão da comunidade também não destoa das demais. Segundo moradores,

a invasão e o desmatamento ocorrem por “falta de vigilância, quando tinha

vigia na mata, ninguém tirava um pau seco daqui” “a gente vê o desmatamento,

mas não pode fazer nada, vem gente de fora desmatar, quando o governo

tomava conta era muito diferente” “moça, aqui tem até canil, como é que numa

terra do Governo, o cabra chega, faz a casa e cria até cachorro para caçar? Se

tivesse vigilância isso não acontecia não”.

Desde que se iniciou o contato com os moradores, reforçou-se a idéia da

Reserva só existirá enquanto Unidade de Conservação quando sua função

sócio-cultural estiver assegurada, ninguém pode apreciar ou proteger uma

coisa que não conhece ou julga ser inútil ou até mesmo perigosa ou nociva. É

na educação que reside o principal problema a ser superado para despertar

uma consciência geral do povo, da necessidade e importância da conservação

dos ecossistemas (ROCHA 1997).

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4.4 Análise de risco ambiental 4.4.1 Fogo e energia

A Reserva Ecológica de Gurjaú situa-se numa área considerada de risco de

incêndios devido a uma prática secular implantada nos cultivos da monocultura

cana-de-açucar que usa o fogo como auxiliar na limpeza de cana para o corte,

além da queima do lixo doméstico praticado pela comunidade.

O cultivo da cana-de-açucar, no entorno imediato da Reserva, nos engenhos

pertencentes à Usina Bom Jesus, não contam com nenhuma faixa de proteção

ou aceiro em todo o perímetro que possa impedir a disseminação do fogo,

durante a época da colheita.

Na Área de Gurjaú, não há coleta de lixo, motivo pelo qual os moradores

armazenam e queimam os resíduos sólidos atrás de suas casas, podendo

ocasionar incêndios na mata.

A maioria das residências localizadas no interior da reserva possui energia

elétrica, sendo este mais um fator de risco, visto que um curto circuito poderá

provocar incêndios. Outra situação de risco é a presença de ligações

clandestinas, com fios desencapados, atravessando as matas para energizar

algumas residências mais afastadas.

4.4.2 Passivo ambiental

Como passivo ambiental pode-se destacar as principais intervenções

antropicas. A presença de estradas no interior da Reserva é potencialmente

danosa para a conservação desta, pois favorece a exploração clandestina de

madeira e o acesso de pessoas à procura de novas áreas para moradia e

atividades agrícolas.

Existem três estradas principais que cortam a reserva:

Estrada de Secupema tem aproximadamente 3,7 km que margeia o

açude de Gurjaú, desde a Barragem até o açude de Secupema. É uma

estrada estreita cuja manutenção esporádica é feita pela COMPESA.

Normalmente é interditada por troncos acidentalmente caídos durante o

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período de chuvas. É usada pela comunidade para retirada de lenha

seca, e transporte dos produtos agrícolas colhidos nas roças existentes

dentro da mata, bem como para lazer e caça. Possui uma estrada

secundária que leva ao Engenho Roças Velhas e várias trilhas estreitas

que levam a roças existentes nas matas. Esta estrada corta as matas

do Macaco Macuca, Limão e Periquito.

Estrada do Cuxiu, com aproximadamente 1,8Km se inicia atrás da

casa de D. Maria Cabocla indo até à Mata de Cau, e termina no acesso

ao perímetro de entorno da Reserva. Apresenta-se em estado razoável

de conservação. Esta estrada corta as matas do Cuxiu e São Brás,

possui algumas trilhas secundárias que levam a cultivos nas margens

do Açude de Gurjaú.

Estrada de São Salvador corta toda a Reserva na sua porção Norte. É a

mais extensa e com intenso fluxo de veículos dando acesso aos três

municípios (Cabo, Moreno e Jaboatão), onde transitam os transportes

coletivos. Apresenta diversas pontes de madeira que cobrem cursos

d’água e muitas estão em péssimo estado de conservação, ficando

intransitáveis nos períodos de chuvas. A manutenção da mesma é feita

pela Usina Bom Jesus no período que antecede a colheita da cana.

Outro passivo ambiental é o gasoduto da Transpetro que corta a Reserva, tem

uma extensão de 556m por 12m de largura. O duto está a 1,5m de

profundidade do solo e transporta gás natural. Todo o percurso da tubulação

dentro da Reserva é marcado com piquetes de 5m em 5m. A inspeção da área

é realizada trimestralmente por helicóptero e semanalmente por andarilhos

(funcionários que passam no local). O corte da vegetação é feito com

freqüência, mensalmente no período chuvoso, o que mantém esta faixa sempre

aberta impossibilitando a recuperação natural da vegetação.

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4.5 PLANEJAMENTO

4.5.1 Proposta de Pré-Zoneamento da Reserva Ecológica de Gurjaú

O zoneamento constitui um instrumento de ordenamento territorial usado como

recurso para se atingir melhores resultados no manejo da Unidade, pois

estabelece usos diferenciados para cada zona, segundo seus objetivos. Para

obter, desta forma, maior proteção, pois cada zona será manejada seguindo

normas para elas estabelecidas.

O zoneamento é identificado pela Lei nº 9.985/2000: definição de setores ou

zonas em uma Unidade de Conservação com objetivos de manejo e

normas específicas, com propósito de proporcionar os meios e as

condições para que todos os objetivos da Unidade possam ser

alcançados de forma harmônica e eficaz. (Roteiros Metodológicos do

IBAMA, 2002).

Com o objetivo de mostrar a aplicabilidade e necessidade do zoneamento para

efetiva aplicação dos demais instrumentos da Política Nacional do Meio

Ambiente foi proposto um Pré - Zoneamento da Reserva elaborado pela equipe

da FADURPE e os Técnicos Nahum Tabatinich (CPRH) e Maria Catarina

Cabral de Medeiros (IBAMA). Estes mapas temáticos que derão subsídio à

primeira reunião técnica que tem como objetivo discutir a reclassificação e

zoneamento da Reserva.

A proposta de pré-zoneamento ambiental da Reserva Ecológica de Gurjaú foi

elaborada com os seguintes objetivos:

Conservar e recuperar os ecossistemas naturais de relevância

ecológica;

Proteger os mananciais hídricos, bem como riachos e açudes.

Definir as áreas que terão manejo e normas específicas.

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A área foi dividida em cinco 5 zonas (Figura 88):

Zona de uso Extensivo;

Zona de uso Especial;

Zona de Recuperação 1;

Zona de Recuperação 2;

Zona de Ocupação Temporária.

Este zoneamento foi realizado levando-se em conta áreas onde existe o maior

risco de ocorrência de erosão, uso e ocupação do solo e ausência ou

fragmentação da vegetação nativa. Os corpos d’água que atravessam a Reserva

merecem maior atenção pois estão submetidos a maiores riscos e são os

principais pontos a serem visitados e monitorados, devido ao assoreamento e

por serem mantenedores do sistema hídrico de abastecimento.

Cabe destacar que o zoneamento pressupõe uma constante revisão e uma

atualização periódica dos dados sociais, econômicos, culturais e ambientais.

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Figura 85 – Proposta de Zoneamento da Reserva Ecológica de Gurjaú

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4.5.2 Zona de Uso Extensivo

É aquela constituída em sua maior parte por áreas naturais, podendo

apresentar algumas alterações humanas. O objetivo do manejo é a

manutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, apesar de

oferecer acesso aos públicos com facilidade para fins educativos e recreativos.

Essa área abrangerá os fragmentos compreendidos entre os açudes de Gurjaú

e Secupema.

ALTERNATIVAS DE USO

Educação Ambiental;

Visitação disciplinada;

Pesquisa científica de acordo com as normas do Plano de Manejo;

Fiscalização;

Monitoramento Ambiental;

Trânsito de veículos a baixa velocidade, máximo de 40 km e proibição

do uso de buzina;

No caso de embarcações, não será permitido o uso de motores abertos

e mal regulados.

4.5.3 ZONA DE USO ESPECIAL

Visa criar oportunidades e facilitar a recreação educativa e a educação

ambiental, concentrando os visitantes nessa zona fornecendo todas as

informações sobre a importância da Unidade, de forma a minimizar os impactos

sobre as zonas mais restritivas.

Toda a infra-estrutura disponível dentro da UC como centro de visitantes,

alojamentos, prédio da ETA (Estação de Tratamento de Água da Compesa),

deverá estar inserida nessa zona, estando sua utilização condicionada à

capacidade de suporte estabelecida para as mesmas, bem como deverão estar

harmonicamente integradas com o meio ambiente, não sendo permitido que o

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material usado para construção ou reforma seja retirado dos recursos naturais

da UC, os resíduos sólidos gerados nas infra-estruturas previstas deverão ser

acondicionados separadamente, recolhidos periodicamente e depositado em

local destinado para tal.

As atividades previstas devem levar o visitante a entender a filosofia e as

práticas de conservação da natureza. O trânsito de veículos será feito a baixas

velocidades (máximo de 40km), sendo proibido o uso de buzinas. A

fiscalização será intensa nessa zona.

ALTERNATIVAS DE USO

Deverá conter sede da Unidade e centralização dos serviços da mesma;

Estacionamento de veículos só será permitido para funcionários e

prestadores de serviços;

A fiscalização deverá ser permanente e intensiva;

Proibido o uso de buzina;

O centro de visitantes, museu e outros serviços oferecidos ao público,

como lanchonetes e instalações para serviços de guias e condutores,

somente poderão estar localizados nesta zona;

Visitação com fins recreativos e educacionais;

Essa zona poderá conter sinalização educativa, interpretativa ou

indicativa.

4.5.4 Zona de Recuperação

Essa zona tem por objetivo recuperar o ecossistema de forma natural, por meio

de processos de sucessão ecológica, ou por ações de recuperação projetadas

e acompanhadas.

Essa classificação contempla áreas alteradas pelo homem, sendo considerada

provisória que, depois de restauradas deverão ser incorporadas a uma zona

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permanente. Está constituída por Áreas de Preservação Permanente

desprovidas de cobertura florestal e áreas degradadas por agricultura anual e

sazonal. As áreas deverão ser objeto de manejo específico e a restauração

poderá ser natural ou induzida, somente sendo permitida a utilização de

espécies nativas, devendo ser eliminadas as espécies exóticas porventura

existentes.

Os trabalhos de recuperação induzida poderão ser interpretados para o público

no Centro de Visitantes, as pesquisas sobre os processos de regeneração

natural deverão ser incentivadas.

Não serão instaladas infra-estruturas, com exceção daquelas necessárias aos

trabalhos de recuperação induzida, que serão provisórias e preferencialmente

construídas de madeira. Os resíduos sólidos gerados nestas instalações terão

o mesmo tratamento citado na zona de uso intensivo.

O acesso a ela será restrito aos pesquisadores e pessoal técnico, ressalvada a

situação de eventuais moradores.

Devido às características dos fragmentos de matas e à situação atual da

Reserva, a área de recuperação foi subdividida em duas outras.

Zona de Recuperação I: Mata do Cuxiu e margens dos açudes São Salvador,

Secupema e Gurjaú, bem como bordas de nascentes e riachos.

Zona de Recuperação II: Fragmentos de matas na área sul do Engenho São

Salvador, nas proximidades do açude de Secupema.

ALTERNATIVAS DE USO

Zona de Recuperação I

Recuperação natural ou induzida das áreas degradadas, principalmente

nas APP’s (Áreas de Preservação Permanente);

Acesso restrito aos pesquisadores, pessoal técnico e eventuais

moradores;

Delimitação das áreas dos posseiros;

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Não será permitido o aumento das áreas de plantio pelos posseiros;

As pesquisas sobre os processos de regeneração natural deverão ser

incentivadas;

A fiscalização será permanente nesta zona;

Serão priorizadas tecnologias agrícolas com alternativas de baixo

impacto.

Zona de Recuperação II

Disciplinamento da área com delimitação dos cultivos dos posseiros;

Recuperação Induzida da vegetação de borda das nascentes e cursos

d’água;

Educação Ambiental com a população residente (mata ciliar, nascentes,

saúde e meio ambiente);

Fiscalização permanente;

Estudo específico para possível recuperação da mata nativa em

consórcio com agrofloresta;

Avaliar a possibilidade de Implementação de corredores ecológicos

entre os fragmentos.

4.5.5 Zona de Ocupação Temporária

Esta zona tem por objetivo utilizar sustentavelmente os recursos florestais e

faunísticos, promover sistemas de produção sustentáveis que utilizam

componentes arbóreos (floricultura, agroflorestas, fruticulturas) desenvolver

pesquisa científica e apoiar as atividades de recreação, educação e

interpretação ambiental.

Para esta zona será estabelecido um Termo de Compromisso com as

populações residentes dentro da UC que definirá caso a caso as normas

específicas (Roteiro Metodológico do IBAMA,2002).

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ALTERNATIVAS DE USO

Fiscalização permanente;

Realizar cadastramento da população com o objetivo de evitar novas

ocupações;

Elaborar Termo de Compromisso com os moradores sobre o uso da

terra (como recomenda o Roteiro Metodológico do IBAMA, 2002);

Delimitar a área de cultivo de cada morador;

Iniciar a Educação Ambiental de base;

Recuperação com reflorestamento induzido das APP’s (Áreas de

Preservação Permanente) e nascentes;

Proceder estudos para implantação de fossas sépticas de baixo custo e

impacto ambiental;

Implantação de sistema de tratamento da água cinza oriunda da

lavagem de roupas, louças e banho;

Estimular o cultivo da agricultura sustentável (orgânica) com rotação de

culturas;

Avaliar a possibilidade de implantar sistemas de agrofloresta;

Planejar o condicionamento das estradas localizadas nesta zona,

utilizando como subsídio o mapa de restrições.

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4.5.6 Locais de Interesse Histórico-Cultural

Alguns resquícios de interesse histórico-cultural são encontrados tanto na

Reserva como no entorno imediato.

INTERIOR DA RESERVA

Ruínas de São Salvador: Onde existia a casa grande do

engenho São Salvador, fotografada por Gilberto Osório de Andrade, em 1984,

está restrito a um banheiro (denominado banheiro das princesas) e resquícios

de uma casa de moenda.

Banheiro das princesas: Local onde as sinhazinhas da antiga

Casa Grande do Engenho São Salvador faziam seus banhos. Esse banheiro foi

edificado dentro do riacho São Salvador. Foi construído em estrutura de

alvenaria com piso de cerâmica provavelmente usando mão de obra escrava.

Era usado para banhos e trocas de roupas. Até bem pouco tempo,

permaneciam de pé as paredes do banheiro que serviam a moradores locais,

estes disseram que a estrutura de pedra e telhas que cobriam o banheiro foi

retirada por vândalos, e que havia uma porta no local. Restam o piso e o

mecanismo de renovação de água que é muito engenhoso. Parecendo uma

piscina estilo colonial.

Casa da Moenda: No mesmo Engenho, acharam-se estruturas de

uma antiga casa de moenda de pedras e um eixo de ferro. Há pouco tempo

atrás tinha no local os mecanismos de moer a cana. Um morador explicou que

a água descia pelo cano do açude de São Salvador e vinha para a moenda

mover o eixo e os mecanismos. O antigo proprietário levou os mecanismos

quando foi desapropriado. O local devia ser restaurado e incluído num roteiro

de visitação pública e construído um museu onde se mostraria um antigo

engenho de cana de açúcar.

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Resquícios da estrada do troler: (Engenho Gurjaú) Com o

objetivo de transportar todo o material necessário às obras de abastecimento

de água da capital e transporte da cana-de-açúcar produzida nos engenhos da

área, foram construídos, provavelmente em 1914, alguns quilômetros de via

férrea de 1 bitola de largura, para uma locomotiva inglesa do tipo troler

provavelmente de 1870 (século XIX). Esta locomotiva, que pertenceu à Usina

Dr. José Rufino, funcionou até cerca de trinta anos atrás. Os trilhos foram

retirados pela Usina Bom Jesus, ficando a trilha de pedras. Na escritura lavrada

em 1913, o proprietário que vendeu a área para o Governo do Estado, se

obrigou a construir a referida via, aproveitando o leito da estrada de rodagem

que vai do Engenho São João até a cidade do Cabo.

O percurso dos trilhos que atravessavam a Reserva ia do Pontilhão que existiu

sobre o rio Gurjaú no Engenho São Brás, indo ao longo deste, atravessando o

Tributário do riacho São Salvador seguindo ao Norte para as terras do

Engenho Roças Velhas e Usina Bom Jesus.

Esta trilha foi muito usada pelos moradores antigos, havendo relatos de que a

área dos trilhos era limpa periodicamente. Na época em que a via era usada

existia um ponto de abastecimento de água para o troler no local onde os

trilhos deixavam o Açude de Gurjaú.

Segundo funcionários PETROFLEX, na BR-101, o antigo troler que era

usado para transportar cana-de-açúcar para a Usina Bom Jesus é o que está

exposto na frente da mesma.

Conjunto arquitetônico da ETA: importante por se tratar da

primeira estação de tratamento de água do Estado de Pernambuco, construída

entre 1944/1952. A citada ETA Gurjaú substituiu a implantada por Saturnino de

Brito em 1918 e constava de 04 baterias, cada uma com 08 filtros de pressão,

alojadas em um prédio que foi paulatinamente ampliado à medida que se

aumentava a capacidade do tratamento. Esta edificação foi objeto de recente

restauração para preservação de suas características arquitetônicas originais,

estando o patrimônio em perfeito estado (COMPESA - ACS Assessoria de

Comunicação Sócia l- Histórico do Saneamento e Dados Institucionais).

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ENTORNO IMEDIATO DA RESERVA

A demarcação do perímetro da Reserva lançou dúvidas acerca dos limites da

barragem de Gurjaú. É provável que a área onde está situada a sede do

Engenho São Brás (conjunto edificado) pertença ao extinto DSE

(Departamento de Saneamento do Estado), tendo sido desapropriado por

ocasião da ampliação da barragem. Se os marcos encontrados forem levados

em consideração e os documentos forem localizados, parte do engenho São

Brás deverá ser incorporado aos limites da Reserva Ecológica de Gurjaú.

Conjunto edificado do Engenho São Brás: Este Engenho foi

indicado, entre outros, pela FIDEM (Fundação de Desenvolvimento da Região

Metropolitana do Recife) para ser preservado pelo Estado ou pelo Município,

porém, nada foi feito para a sua preservação. Conforme esta indicação, deve-

se fazer o tombamento e restauração a nível estadual do conjunto edificado,

tombamento a nível federal (IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional) da Capela e da Casa Grande, demolição da construção recente

situada entre a Capela e a Senzala e a integração a um roteiro turístico.

Nos estudos de 1978, feitos pela FIDEM, o Engenho foi fundado em data

anterior a 1630, por Antônio da Silva e tem uma capela consagrada a São

Brás.

Por ocasião da dominação holandesa em Pernambuco o Engenho São Brás

pertenceu aos invasores que ali construíram benfeitorias. Com a restauração

de Pernambuco, o Engenho, então de fogo morto passou a pertencer a

Fazenda Real e foi entregue aos seus antigos moradores. Em meados do séc.

XIX, o Engenho São Brás pertencia a João de Barros Accioly (FIDEM, 1978).

O engenho acha-se implantado em um sítio de relevo acidentado cuja

topografia varia de cota de 60 m a 130m, com uma paisagem marcada pelas

reservas vegetais e grandes espelhos d’águas, próximo aos açudes de

Secupema e Gurjaú.

A sede, em 1978, achava-se composta de Capela e Casa Grande, com as

características antigas preservadas. Sendo a Capela um exemplo excepcional

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da arquitetura religiosa, apresenta-se como a mas rica e valiosa dos engenhos

da Região Metropolitana do Recife e também o elemento de maior importância

do conjunto. Destacando-se os trabalhos de talha do altar–mor dos altares

colaterais, do púlpito e das sanefas. FIDEM, 1978.

O estado de conservação que em 1978 era regular, hoje é péssimo. O imóvel

deve ser considerado urgentemente por risco de perda do Patrimônio Histórico.

Está sem uso e já foi saqueado por diversas vezes, sendo as ossadas e

lápides de túmulos contidos em seu interior, remexidos e revirados, em busca

de jóias e dentes de ouro, devido ao valor de nobreza que tais senhores

tinham.

A igreja está com risco de desmoronar e o altar-mor já tombou. A Casa Grande

é de apenas um pavimento envolvido por alpendres, com cobertura em quatro

águas, o estado de conservação é regular e o uso residencial.

A Senzala assentada à esquerda da Capela, ainda possui a estrutura original

embora o estado de conservação e as condições de habitabilidades sejam

precárias. É utilizada como moradia de trabalhadores do engenho. Entre a

Capela e a Senzala foi construída uma casa recente de pavimento único,

prejudicando a qualidade do conjunto.

4.6 MAPEAMENTO TEMÁTICO

Introdução

A necessidade de conhecer a realidade física atual da área da Reserva de

Gurjaú com a situação de Uso e Ocupação de Solos é a primeira atividade a

ser realizada para se traçar planos necessários à definição do futuro da

Reserva.

A inexistência de material cartográfico recente reforçou a necessidade de se

elaborar uma base cartográfica digital e um conjunto de mapas temáticos para

servirem de fonte de informação e de base para as equipes multidisciplinares

que deverão trabalhar nas ações envolvidas na coleta de informações sobre o

meio ambiente e da população que hoje ocupa a área da Reserva.

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A região foi inicialmente mapeada na Década de 70 pela então FIDEM, que

produziu ortofotocartas em escala de 1:10.000. Buscando atualizar este

material adquiriu-se um recorte com 64 km² de imagem do Satélite Quickbird. A

partir desses dois produtos disponíveis foram elaborados ortofotocartas atuais,

modelo digital de terreno e um conjunto de mapas temáticos (vegetação,

casas, rede hídrica, uso do solo e malha viária).

A importância do mapeamento é fornecer as bases para estudos ambientais

compostos da:

Modelagem do Terreno;

Estudos Hídricos (redes, bacias, volumes de água, vazão);

Cálculo Real de Áreas com Cobertura Vegetal;

Base para levantamentos quantitativos e qualitativos de

Biodiversidade;

Ferramenta para Engenharias (Agronomia, Civil, Mecânica);

Mapas geológicos e pedológicos;

Estudos de Áreas Impactadas;

Mapas de declividade;

Elaborar Sistemas de Informações Geográficos.

Todo o material produzido foi disponibilizado em formato digital para futuras

referências nos grupos de pesquisa e para futura criação do Sistema de

Informações Geográficas para manejo ambiental da Reserva Ecológica de

Gurjaú.

4.6.1 Objetivo Principal

Mapear a área da Reserva Ecológica de Gurjaú utilizando imagens de satélite

de alta resolução Quickbird para produção de Ortofotocartas digitais e mapas

temáticos para uso em estudos ambientais

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Processar imagem Quickbird, corrigindo-a em função de pontos de

controle em campo;

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Processar ortofotocartas FIDEM para elaboração de MDT;

Elaborar mapas temáticos da Reserva Ecológica de Gurjaú;

Elaborar Ortofotos Digitais em escala 1:2000 da Reserva Ecológica de

Gurjaú;

Elaborar Sistema de Informação Geográfico.

Materiais e Métodos

Seqüência dos Trabalhos

4.6.2 Processamento das Ortofotos

Para se iniciar as atividades do mapeamento fez-se levantamento do material

cartográfico existente. Foram utilizadas as Ortofotocartas FIDEM 78/50, 78/55,

79/00, 79/05, 79/50 e 79/55, em escala 1:10.000 do ano de 1975.

O objetivo do processamento é a conversão do material do formato analógico

para o formato digital, extraindo-se a hipsometria para a elaboração de um

Modelo Digital de Terreno para ser utilizado na ortorretificação da imagem de

satélite Quickbird.

As ortofotocartas foram digitalizadas utilizando-se metodologia desenvolvida no

GEOLAB/DTR/UFRPE, capturando-se 25 imagens raster para cada carta, com

área de 1 km². As imagens finais possuem formato TIF, padrão RGB e

resolução de 600 dpi.

ORTOFOTOCARTAS IMAGEM QUICKBIRD

DIGITALIZAÇÃO

PROCESSAMENTO: - Equalização

- Georreferenciamento - Mosaicagem

RECORTE DA IMAGEM

PROCESSAMENTO: - Ortocorreção

- Fusão Pancromática

MDT

VETORIZAÇÃO

MAPAS TEMÁTICOS

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Após a digitalização, as imagens foram processadas para reduzir os efeitos da

captura, retificação, realce, georreferenciamento e mosaicagem.

A retificação tem por finalidade alinhar as imagens em função da malha de

coordenadas originais, assumindo-se que a mesma esteja no Sistema de

Projeção Cartográfica UTM, datum SAD69 médio. Foram utilizados 9 pontos de

controle considerando-se as linhas da grade existentes. O método de ajuste

utilizado foi o polinomial de 2ª ordem por convolução cúbica. Esta mesma

operação tende a reduzir o efeito das distorções da captura.

Foi realizado o realce com a finalidade de melhorar a capacidade visual para a

vetorização das isolinhas hipsométricas, tomando-se como base o histograma

para o processamento do conjunto total de imagens.

Após o realce procedeu-se a mosaicagem das imagens para o conjunto de

quadrículas originais de cada ortofotocarta.

Das ortofotos mosaicadas fez-se a vetorização de todas as isolinhas da

hipsometria produzindo-se arquivos em formato “tab”.

Elaboração do Modelo Digital de Terreno

Modelar o terreno é representar as suas feições através de um modelo

matemático que se aproxime da realidade em campo.

Para este procedimento, utilizou-se o conjunto de isolinhas hipsométricas do

terreno. As etapas e parâmetros da modelagem foram as seguintes:

Conversão de isolinhas em pontos;

Interpolação matemática usando método do Vizinho Próximo;

O modelo de agregação de pontos foi de células quadradas;

A distância de interpolação 0,65 com média em pontos coincidentes;

O método de solução foi por declividade;

Fator de assimetria: 2,00;

Fator de suavização: 2,00 com exponencial 6ª ordem;

Limites de borda por convexidade;

Tamanho do pixel: 2,00 m;

Triângulo máximo (lado): 1.198,30m.

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4.6.3 Processamento da Imagem de Satélite

A imagem adquirida foi um recorte de Imagem de Satélite Quickbird com as

seguintes características:

A imagem foi entregue com os dados necessários a ortocorreção;

Foram entregues duas imagens, uma contendo 4 bandas (R,G,B e NIR –

Pixel 2 m) e outra com a banda PAN (0,61 m);

Área total do recorte: 64 km²;

Cobertura de nuvens: 3%.

Foi realizada uma ortocorreção para corrigir o efeito da distorção radial da

imagem utilizando-se pontos obtidos em campo por alvos facilmente

identificáveis, utilizando o MDT obtido das ortofotos corrigidas e o coeficiente

de correção disponibilizado pelo fornecedor.

Após a ortocorreção fez-se uma fusão pancromática, que é a ampliação do

pixel das bandas VNIR (RGB e NIR) em função da banda PAN.

4.6.4 Elaboração das Ortofotocartas

Após a panfusão foram criadas 48 ortofotocartas com 1 km² em formato vetorial

“tab” para serem editadas no software MapInfo e em formato de impressão

“pdf”.

4.6.5 Elaboração dos Mapas Temáticos

Por classificação visual elaboraram-se vários mapas temáticos que refletem o

uso e ocupação dos solos existentes no interior da área demarcada pela

COMPESA como sendo da Reserva Ecológica de Gurjaú e das áreas

adjacentes à mesma, compreendendo os seguintes temas: matas, rede

hidrográfica, vias de acesso, habitações, áreas cultivadas.

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4.6.6 Produtos Finais

a) 48 Ortofotocartas em escala 1:2. 000 editáveis no software MapInfo;

b) 48 Ortofotocartas em formato de impressão pdf;

c) Conjunto de mapas temáticos editáveis no MapInfo correspondentes

aos temas de cobertura vegetal, vias de acesso, rede hidrográfica,

habitações no interior da reserva, áreas cultivadas.

d) Modelo Digital de Terreno editável no MapInfo com módulo Vertical

Mapper.

5. CARACTERIZAÇÃO DA ZONA DE AMORTECIMENTO 5.1 Avaliação dos impactos sobre o entorno.

O critério utilizado para identificação da Zona de Amortecimento foi o da

Resolução CONAMA 13/90, onde o limite de 10km ao redor da Unidade deverá

ser o ponto de partida para a definição da Zona, a partir deste limite vai-se

aplicando critérios para a inclusão, exclusão e ajuste de áreas da zona de

amortecimento, aproximando-a ou afastando-a da Unidade. 2

O Zoneamento constitui-se em um instrumento de manejo que apóia a

administração na definição das atividades que podem ser desenvolvidas em

cada setor, orienta as formas de uso das diversas áreas, ou mesmo proíbe

determinadas atividades por falta de zonas apropriadas.

A transição de zonas de proteção e pouca intervenção para aquelas com

menor nível de proteção e com grande interferência humana, deve- se dar de

forma harmônica e gradual, passando, de preferência, pelas categorias

intermediárias de zonas.

Como existe a necessidade de serem “amortecidos” os impactos das atividades

de uma zona para outra, dentro de uma Unidade de Conservação, é preciso

“frear-se” os efeitos das atividades externas às Unidades de Conservação

sobre o interior desta. Muitas Unidades de Conservação tem seus limites

caracterizados por mudanças drásticas entre a natureza e a agricultura, a

produção madeireira ou o desenvolvimento urbano.