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4 . ESTUDOS DE CASO : INVENTÁRIO ANALÍTICO
4.1 MISSION BAY, SÃO FRANCISCO, EUA
4.1.1 Introdução
Desde 1948, ano de criação da Agência de Redesenvolvimento de São Francisco, vários projetos
urbanos foram criados em São Francisco para o desenvolvimento econômico e urbanístico da
cidade (figura 40). Mission Bay, antiga área portuária, próximo ao centro financeiro de São
Francisco, e antiga área industrial
produtiva, teve seu declínio a
partir dos anos 70, a partir da
reestruturação do processo
produtivo do capitalismo.
Com a reestruturação produtiva
na área de tecnologia de todo o
Vale do Silício14, São Francisco
entrou na corrida pelo
14 R egião da C alifórnia, que se extende desde San Jose a O akland, um conglom erado de cidades conurbadas que, em franca expansão há 30 anos, form am o poderoso V ale do S ilício.
Figura 39 – Vale do Silício, região da Califórnia.Fonte: www.corbis.com.br
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desenvolvimento de clusters de alta tecnologia, ciências da vida e biotecnologia.
Figura 40 – Áreas de redesenvolvimento de São Francisco. Indicação da localização de Mission Bay Fonte: www.sfgov.org
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Para tanto, a implementação da UCSF como instrumento propulsor dessas novas atividades
econômicas, foi fundamental para o sucesso da implementação desse projeto urbano. Essas
novas atividades, de desenvolvimento e pesquisas em biotecnologia, exigem a concentração
única e fundamental em capital humano de especial talento, e são elementos determinantes
nesses novos formatos de desenvolvimento econômico e urbano. Nessa região da Califórnia,
estima‐se cerca de 250 mil pessoas o número de pesquisadores e técnicos ligados a esse setor, e
investimentos anuais de 2 bilhões de dólares.
Veremos que nesse caso, o reaproveitamento dessas áreas desutilizadas, desses vazios urbanos
em área central, para reestrutura produtivamente com essas novas atividades econômicas, vai
de encontro à nossa busca por tais projetos
urbanos. O destaque desse estudo de caso, é
o total investimento por parte da iniciativa
privada, onde as empresas participam
ativamente desde o desenvolvimento do
projeto, uma característica norte‐americana.
Para a instalação de todo o complexo de
Mission Bay está previsto um custo de 4
bilhões de dólares, a ser executado até 2020. Figura 41 – Laboratório da UCSF em Mission Bay.Fonte: www.ucsf.edu
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4.1.2 A Agência de Desenvolvimento
A Agência de Redesenvolvimento
de São Francisco é uma entidade
pública, que gerencia diversos
programas de desenvolvimento
urbano e econômico, e é
responsável pelo serviço de
recolocação imobiliária de São
Francisco. Em 1998, a SFRA criou
dois programas para Mission Bay:
o Plano de Redesenvolvimento
Mission Bay Norte e o Plano de
Redesenvolvimento Mission Bay
Sul, resultante do plano
preliminar formado pela
comissão de planejamento em
dezembro de 1996.
Figura 42 – Projeto de Desenvolvimento de Mission Bay (geral).Fonte: www.sfgov.org
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Proprietária da área, a Catellus Development, em parceria com a SFRA e a UCSF, desenvolve um
projeto urbano para gerenciar um empreendimento que agregasse o campus biotecnológico da
UCSF, a reutilização do vazio urbano da área, acessibilidade, espaços empresariais para as
empresas filiadas ao setor e à UCSF, e que promovesse o uso misto da região, com moradia,
trabalho, estudo e pesquisa, prestação de serviços e lazer, como já constava nos programas
criados pela Agência. A Catellus criou um centro de visitação, para que a comunidade local
pudesse participar e opinar sobre o projeto desenvolvido. Porém, a UCSF e as empresas filiadas
contrataram arquitetos para os projetos de cada edifício, e os programas elaborados pela SFRA
já possuíam especificações claras de índices urbanísticos para a área.
Figura 43 – A linha amarela demarca a área de Figura 44 – Centro de visitação da Catellus na intervenção, e a linha vermelha demarca a área de área de intervenção implantação da UCSF Fonte: www.sfgov.org Fonte: www.sfgov.org
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4.1.3 Projetos Urbanos
Os projetos de desenvolvimento para Mission Bay foram inicialmente, pré‐determinados nos
Planos de Redesenvolvimento Mission Bay Norte e Sul, e determinavam os índices urbanísticos,
como ocupação, volumetrias possíveis, alturas, e seus usos.
Figura 45 – Padrões de ocupação e volumetria Figura 46 – Uso das quadras. Plano de Redensev. MB Norte Fonte: www.sfgov.org Fonte: www.sfgov.org
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Tabela 7 – Padrões de ocupação, por zoneamento. Figura 47 – Zoneamento do Plano de Redensev. MB Sul. Fonte: www.sfgov.org Fonte: www.sfgov.org
A proposta final foi efetivamente concluída em 1998, sendo desenvolvida pelo escritório
Johnson Fain, de Los Angeles, com a colaboração dos paisagistas Simon Martin‐Vegue,
Winkelstein & Moris, de São Francisco.
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Toda a área de Mission Bay equivale a 122ha, sendo 23ha só para o Campus biotecnológico da
UCSF. Inaugurado recentemente (em 2003), o Campus biotecnológico da UCSF é o grande
propulsor no desenvolvimento econômico local desta área tradicionalmente industrial. Até 2030,
os complexos residenciais (alguns com uso misto) prevêem a construção de 6000 unidades
habitacionais. Atualmente, há 6 projetos residenciais concluídos, totalizando 1224 unidades
(75% para locação, e o restante para
venda) construídas pela Catellus,
Mission Housing Development
Corporation, AvalonBay Communities,
Mercy Housing, Signature Properties,
completos em 2002, 2003 e 2004. Para
os prédios comerciais, já está
construído 70.000m² para laboratórios
de pesquisa em ciência da vida e
biotecnologia, todos afiliados com a
UCSF.
Foram contratados vários escritórios
de arquitetura para a elaboração de Figura 48 – Projeto Urbano para o Campus da UCSF.Fonte: www.sfgov.org
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projetos e execução dos edifícios, destaque para o escritório de Skidmore Owings & Merril LLP,
responsável pelo Centro de Tecnologia Genética da UCSF, sua construção custou U$ 223 milhões
de dólares para uma área construída de 36.500m², e para o escritório de Ricardo Legoretta,
responsável pelo Campus Centro Comunitário da UCFS, custo da construção em U$ 70 milhões
de dólares para a área construída de 15.000 m2.
Figura 49 – Centro de Tecnologia Genética. Fonte: www.usfc.org
Figura 50 – Centro de Tecnologia Genética.Fonte: www.ucsfc.org
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Figuras 51, 52, 53 e 54 – Campus Centro Comunitário da USCFFonte: www.ucsfc.org
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4.1.4 Desenvolvimento Urbano Sustentável
O planejamento permitiu a instalação prévia de infra‐estruturas de alta tecnologia nas principais
ruas de acesso, como cabeamento de fibra óptica e tratamento de água, além de parques,
estacionamentos, extensão da linha do metrô de superfície (MUNI), que passa a conectar a
região com o distrito financeiro da cidade, além da Cal‐Train Station, que integra todo o Vale do
Silício. Todavia, foi reaproveitado o leito
ferroviário original que cruza todo o território de
Mission Bay.Além disso, a UCSF se
responsabilizou em implantar uma nova linha de
ônibus para atender a região.
Figura 56 – Linha de metro que liga Mission Bay ao Centro de São Francisco. Fonte: www.ucsfc.org
Figura 55 – Metrô de superfície em Mission Bay. Fonte: www.ucsfc.org
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Mission Bay é um projeto urbano com estratégias de inovação urbana que estabelece o
desejável processo de reestruturação produtiva de um vazio urbano em uma área central.
Podemos pontuar as questões de sustentabilidade aqui
discutidas:
‐ Ele faz a metrópole crescer para dentro, reabilitando
funcionalmente essa área central, em contraposição ao
espraiamento urbano periférico típico da urbanização
americana.
‐ A criação de um pólo de ambientes inovativos, com
uso misto, oferecendo habitação, trabalho, estudo e
pesquisa, lazer e qualidade de vida para seus
habitantes.
‐ A criação de ciclovias e calçadas largas, permite que as
atividades físicas tornem‐se agradáveis, tirando os
automóveis das ruas, diminuindo drasticamente o nível
de poluição e ruído causado pelo automóvel.
‐ Com a instalação do metrô de superfície, os
habitantes podem se locomoverem ao centro da cidade, Figuras 57 – Rotas de Pedestres e Ciclovias Fonte: www.ucsfc.org
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e demais pontos de acesso integrado, como todas as cidades do Vale do Silício.
Mission bay é atualmente, um bairro próspero e cheio de vida, pois proporcionou uma alta
densidade, e acumulou pontos vitais de sustentabilidade ao desprezar o espraiamento urbano e
o uso do transporte individual como condicionantes
da vida urbana. Trouxe a riqueza do encontro, do
inesperado, do contato “olho no olho” entre as
pessoas.
Concluímos assim, que o projeto de desenvolvimento
urbano Mission Bay nos proporcionou uma rica
experiência em nosso trabalho de pesquisa. Não se
trata de importar para nossa realidade, pois ainda
não dispormos de tamanhos recursos, mas serve para
nos despertar quanto à potencialidade dos ambientes
inovativos no processo de reestruturação produtiva
de áreas centrais ociosas, que estão na expectativa de
projetos que regenere seu tecido urbano.
Figuras 58 – Espaço público no campus da UCFS. Fonte: www.ucsfc.org
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4.2 CITÉ MULTIMÉDIA, MONTREAL, CANADÁ15
4.2.1 Introdução
Cité Multimédia é um projeto de regeneração
urbana e reestruturação produtiva de um
vazio urbano em uma área central de
Montreal, capital de Quebec, que sofreu com
o esvaziamento industrial dessa área na
década de 70. Na década de 90, quando
Montreal assistia a grande saída de capital
humano, e pessoas de talento e capacitadas
para os Estados Unidos, o governo de Quebec
criou os Programas de Assistência Corporativa,
para incentivar a criação e a permanência de
empresas voltadas ao setor tecnológico e
informacional.
15 Todas as informações foram obtidas do site oficial das entidades públicas e privadas envolvidas, e dos artigos do
Profº Carlos Leite e do Profº Fábio Duarte disponíveis em www.vitruvius.com.br
Figuras 59 – Montreal, em destaque Cité Multimédia. Fonte: www.citemultimedia.com
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No início de 1997, foi criado o programa CDTI (Centres de développement des technologies de
l'information, Centros de Desenvolvimento de Tecnologia da Informação), e em menos de um
ano, já havia mais de 200 empresas interessadas nesses programas, pois buscavam inicialmente,
o reagrupamento espacial das empresas do setor, desconsiderando assim, o que vários autores
pensavam a respeito do novo gerenciamento descentralizado, que não exigiria uma
concentração espacial para o controle e gerenciamento das atividades produtivas.
As empresas do setor
tecnológico, informacional e
de multimídia buscavam além
de tudo, a concentração
espacial de empresas do
mesmo setor, onde pudessem
concentrar e estabilizar a
aquisição e desenvolvimento
de capital humano, pessoas
de talento que buscam
crescimento intelectual.
Dentro desse contexto, a
Figuras 60 – Localização das principais áreas de Montreal.Fonte: www.citemultimedia.com
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interatividade entre as esferas governamentais foi essencial para um entendimento maior sobre
as políticas públicas possíveis atrair e concentrar espacialmente essas empresas.
Incentivos fiscais a longo prazo (até 10 anos) foram cedidos às empresas desse setor que, ao
demonstrar seus interesses, os CDTI’s tratavam de organizar espacialmente as instalações de tais
empresas. Cité Multimédia é reconhecida hoje como uma importante ferramenta de
reordenamento urbano do distrito de Faubourg des Récollets, localizado à oeste do Old Centre
da cidade, e ao norte do agora restaurado Canal Lachine.
Nesse estudo de caso, uma agência conciliou os interesses de investimentos públicos e privados,
que consolidou a parceria e regenerou o tecido urbano de uma área que há apenas 10 anos, era
uma área degradada e suja, mal vista pela
população. Todavia, um espaço centralizado,
dotado de infra‐estruturas, acessibilidade, e
potencial construído.
Figuras 61 – Vazio urbano, espaços desutilizado.Fonte: www.citemultimedia.com
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4.2.2 A Agência de Desenvolvimento
Com o claro objetivo de conciliar os interesses, em 1998, fundou‐se a Public Land Development
Corporation, PLDC, corporação formada por uma parceria entre o Fundo de Investimento
Público do Governo de Quebec e o Qem fen Labour Unions' Economic Development Fund para
reconversão da área como um cluster de empresas alta tecnologia e mídias.
Com uma área de um milhão de metros quadrados comercializáveis, até 2006, oito edifícios
foram realizados dentro de um master plan desenvolvido pelo Groupe Cardinal Hardy com apoio
de Provencher Roy and Associates, que mantém o bairro histórico de edifícios industriais
(recuperação e revitalização do patrimônio) de Faubourg e insere novas edificações dentro do
mesmo padrão de escala. Até
muito recentemente, o setor foi quase
completamente tomado por usos de
escritórios e incubadoras, mas nos últimos
anos alguns edifícios foram convertidos para
uso residencial.
Figuras 62 – Espaço em transformaçãoFonte: www.citemultimedia.com
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A parceria público‐privada previa:
Estabelecer uma parceria diversificada e produtiva, alinhando recursos das esferas
públicas e do setor privado
Representar e gerenciar um investimento de mais de CAN $ 400 milhões de dólares
canadenses para a revitalização da área e construção de um parque tecnológico
Deste montante, as entidades participaram da seguinte forma: 62,5% de investimentos públicos
na construção e na reconversão de 8 edifícios para parque tecnológicos, em infra‐estrutura
urbana, subsídios de isenções de taxas para as empresas, em programas de incentivos às
Figuras 64 – Edifício reconvertido em Cité Multimédia Fonte: www.citemultimedia.com
Figuras 63 – Edifício construído em Cité MultimédiaFonte: www.citemultimedia.com
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empresas, e 37,5% de investimentos privados na renovação dos espaços construídos, tanto em
espaços comerciais como espaços residenciais (mais de 500 unidades habitacionais), e em
investimentos de renovação dos espaços públicos.
O programa da agência buscava ainda:
• 6000 empregos diretos (15% estrangeiros)
• Idade média de 32 anos
• Renda familiar anual média de CAN $ 73.000 ‐ 50 % maior que a média geral de Montreal
• Estabelecimento de 100
empresas na Cité
Multimédia, voltadas para
a indústria da tecnologia
da informação, entre elas:
multimídia
desenvolvimento
de softwares
comércio eletrônico
telecomunicações
Figuras 65 – Motorola, uma das empresas à se estabeler na áreaFonte: www.citemultimedia.com
I 96 I
4.2.3 Projetos Urbanos
Cité Multimédia ocupa uma área de
20ha, e possui um milhão de metros
quadrados comercializáveis, e até 2006,
oito edifícios foram realizados dentro
de um master plan desenvolvido pelo
Groupe Cardinal Hardy com apoio de
Provencher Roy and Associates, que
mantém o bairro histórico de edifícios
industriais (recuperação e revitalização
do patrimônio) de Faubourg e insere
novas edificações dentro do mesmo
padrão de escala. Até muito
recentemente, o setor foi quase
completamente tomado por usos de
escritórios e incubadoras, mas nos
últimos anos alguns edifícios foram
convertidos para uso residencial. Figuras 66 – Implantação da área e diversos usosFonte: www.citemultimedia.com
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O desenho urbano procura respeitar e valorizar o tecido urbano existente de ruas estreitas e
edifícios relativamente baixos, enquanto fornece novos espaços comercializáveis, de usos mistos
e flexíveis necessários às diversas empresas que adentram a Cité Multimédia.
Figuras 67 – Vista aérea de MontrealFonte: www.citemultimedia.com
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A construção da Cidade Multimídia teve um claro impacto social. Antes de 1997, o bairro era um
lugar para o vandalismo generalizado: edifícios queimados, terra arrasada, espaços vagos,
fechados. A imagem do público em relação a este setor da cidade era de deterioração e
abandono. Agora, a cidade tem agora um personagem novo, de imagem urbana de vida segura e
high‐tech, e os trabalhadores dali inserem‐se nesta imagem de urbanismo de vanguarda.
Um cluster que promoveu o desenvolvimento combinado de atividades como novas tecnologias
da informação e mídias, concentração de talento, bem como moradia para uma classe média
crescente, e gerou sinergias inovadoras em operações de reabilitação urbana no Canadá.
Figuras 68 e 69 – Vista externa e interna de um dos edifícios da Cité Multimédia.Fonte: www.citemultimedia.com
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4.2.4 Desenvolvimento Urbano Sustentável
Apesar de sua área ser relativamente bem menor que os outros estudos de caso, vimos nesse
projeto urbano a importância do papel conciliador que a agência teve ao promover a
reestruturação produtiva de uma área deteriorada, esquecida pela sociedade local, e que se
tornou num ambiente inovador e próspero, e trouxe novas atividades produtivas, atuando
espacialmente sobre o tecido urbano.
Sobre as questões de
sustentabilidade, novamente
a reconversão de uma área
traz benefícios ambientais
essenciais, pois evita o
espraiamento urbano,
agrega valores a região
central da cidade, e com os
usos mistos, propicia a
população residente um
ambiente de convívio
agradável. Somado ao Figuras 70 – Canal Lachine após sua revitalização.Fonte: www.citemultimedia.com
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processo de revitalização do Canal Lachine, próximo da Cité Multimédia, e a criação de ciclovias,
a área na sua totalidade estabelece um ambiente agradável, produtivo e inovador.
As novas formas de produção inovadoras, detentoras de valor agregado, clamam por tais
ambientes, com funções sobrepostas e espaços multifuncionais.
Cité Multimédia é um exemplo prático dos benefícios propiciados por uma parceria público‐
privada, com objetivos claros e com uma agência regulamentadora e conciliadora.
Figuras 71 e 72 – A revitalização do Canal Lachine e a criação de ciclovias.Fonte: www.citemultimedia.com
I 101 I
4.3 22@, BARCELONA, ESPANHA 16
4.3.1 Introdução
Entre os projetos urbanos discutidos nesse trabalho, com caracter de regeneração urbana e
reestruturação produtiva, em vazios urbanos de áreas centrais, com base conceiptual em
sustentabilidade e ambientes inovativos, o projeto urbano de 22@ em Barcelona é o de maior
expressão, desde sua
área de abrangência até
a sua efetivação.
O bairro de Poblenou,
antiga área industrial da
cidade, acompanhou
seu declínio na década
de 70, com a saída das
indústrias de seu
território, a partir do
16 Todo o material desta parte do trabalho foi coletado na agência 22@, em visita feita pelo autor em julho de 2007, pelos site oficiais das entidades envolvidas, e pelo artigo do Prof. Dr. Carlos Leite, publicado em 2007.
Figura 73 – Transformação do território de Poblenou.Fonte: www.22barcelona.com
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processo de reestruturação produtiva já descritos neste trabalho. A partir daí, iniciou uma
discussão intensa sobre o futuro de Plobenou. Por fim, em 2000 foi criado pela prefeitura a
agência 22@, responsável pela regeneração urbana do bairro, através de implementações de
empresas do setor de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), do setor de biotecnologia
e demais setores inovativos, que seriam negociadas pela própria agência.
A instalação de instituições de ensino voltadas a esses novos setores, o aumento do potencial
construtivo e a determinação dos uso misto foram fatores essencial no planejamento da agência,
pois agrega valores, e
contribui para a sinergia
nos contratos de
cooperação entre
empresas e instituições
voltadas para pesquisa e
desenvolvimento.
No entanto, devemos
ressaltar o
desenvolvimento Figura 74 – Vista aérea do bairro Plobenou, em BarcelonaFonte: www.22barcelona.com
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Figura 75 – Projeto que demarca as quadras de intervenção na aérea do bairro Plobenou, em BarcelonaFonte: www.22barcelona.com
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econômico espanhol nas últimas décadas, e especificamente, a cidade de Barcelona que desde
as Olímpiadas de 1992 vem realizando um trabalho bastante premiado no tocante ao
desenvolvimento urbano que a cidade tem contemplado.
Neste estudo de caso,
com altos
investimentos oriundos
do setor público na
implementação das
infra‐estruturas
urbanas, vimos
novamente a
importância da parceria
público‐privada nesse
processo de
desenvolvimento
urbano promovido.
Figura 76 – Projeto de um edifício em uma das quadras.Fonte: material adquirido na agência.
I 105 I
4.3.2 A Agência de Desenvolvimento
A agência 22@bcn, instituída para gerenciar, promover e criar um bairro de uso misto de
elevada qualidade urbana, necessária para o desenvolvimento das atividades intensivas em
conhecimento e alta tecnologia. O programa estima um tempo de 20 anos para a efetivação dos
projetos desenvolvidos. Os programas de desenvolvimento econômico estão baseado na
diversidade, principalmente na coexistência de atividades cívicas com atividades econômicas, na
compactação, na acessibilidade e
na sustentabilidade, de acordo
com um modelo de cidade coesa
e equilibrada, com força
econômica e eficiência ecológica.
As novas atividades produtivas,
baseadas nos setores de
investigação científica,
informacional, multimídia e
biomedicina, requerem infra‐
estruturas de alta tecnologia, e
para tanto, o setor público Figura 77 – Prédio da T‐systems, construído em [email protected]: foto do autor
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Figura 78 – Planta de infra‐estruturas a serem instaladas.Fonte: www.22barcelona.com
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investiu em 43% dos recursos necessários, nas áreas que foram determinadas como primárias e
de prioridade para a instalação e funcionamento das empresas e instituições de pesquisa e
desenvolvimento.
A agência negocia diretamente com as empresas interessadas em instalar‐se na área, fazendo o
papel de conciliadora
entre os interesses
públicos, privados e
dos proprietários das
áreas, além de
desenvolver projetos
para a reconversão e
reuso dos edifícios,
pré‐catalogados em
um arquivo
patrimonial.
Figura 79 – Instalação de novas infra‐estruturas.Fonte: foto do autor
I 108 I
4.3.3 Projetos Urbanos
A regeneração urbana de Plobenou, inserida na nova sociedade do conhecimento, exigiu a
modificação do Plano Geral Metropolitano,
em vigor desde 1976. Com as modificações,
fez‐se necessário a elaboração de um Plano
Especial de Infra‐estruturas (PEI), capaz de
garantir a modernização necessária com
novas infra‐estruturas, redes de
telecomunicações, sistemas de energias
renováveis, e outras. Utilizando um
mecanismo de participação da comunidade
local, segundo legislação e metas elaboradas
pela prefeitura de Barcelona, o MPGM
permitiu novas atividades, dentre elas a
indústrias, oficinas, habitação, comércio,
equipamentos especiais, além das atividades
inovativas. Figura 79 – Prédio em processo de reconversão.Fonte: foto do autor
I 109 I
A MPGM assume a estrutura urbana existente, advindas do Plano de Cerdá e hierarquiza e
espacializa as vias: a composição das vias são compostas de vias para automóveis, ciclovias, vias
de acesso para transporte público, e largas calçadas para pedestres.
Destaque para a Avenida Diagonal, que comporta um parque linear, tendo no centro da rua,
uma praça linar com ciclovia e espaço para pedestre, e arborização linear (figura 80 e 81). Trata‐
se de uma diagramação feita em La Rambla, principal via do centro histórico de Barcelona.
A efetiva regeneração urbana de mais de 200ha e sua reestruturação produtiva faz do projeto
urbano 22@ um dos projetos mais bem sucedidos da Europa.
Figura 80 e 81 – Prédios residenciais e parque linear.Fonte: foto do autor
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Figura 84 – Vista do parque linear e da orla marítima de Barcelona, ao término da Avenida Diagonal.Fonte: www.22barcelona.com
Figura 82 e 83 – Avenida Diagonal.Fonte: foto do autor
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4.3.4 Desenvolvimento Urbano Sustentável
As questões de sustentabilidade no projeto urbano criado em Barcelona são diversas, e buscam
sempre seu aprimoramento. O fato de se reaproveitar o espaço construído, criando um catálogo
do patrimônio, e projetando seu reuso ou sua reconversão para usos mistos, já traz a satisfação
já descritas nos outros dois estudos de caso.
No entanto, Barcelona se destaca nos ambientes urbanos propiciados pela renovação urbana em
Poblenou. Ficamos surpresos ao ver como o bairro vive um verdadeiro canteiro de obras, com
Figura 85 – Catálogo do patrimôminio arquitetônico de Poblenou.Fonte: material adquirido na agência.
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gruas e guindastes formando um skyline incrível. Barcelona se transformou em uma cidade
almejada pelos investidores, como vimos nos índices da pesquisa da Cushman & Wakefield (ver
pg. 68).
As benfeitorias ambientais são inúmeras. A cidade promove dia após dia, o desejável
desenvolvimento urbano sustentável, implantando ações sociais de inclusão social e digital, e o
convívio saudável
entre as pessoas,
promovido pela
substituição dos
automóveis por
ciclovias, por espaços
publicos de boa
qualidade e pela
reorganização dos
transportes públicos de
massa.
Com o projetos de
recuperação da orla Figura 86 – Skyline formado pelas gruas e guindastes em Poblenou.Fonte: foto do autor
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marítima, Barcelona dispõe hoje de um complexo de praias estruturadas para receber um
número considerável de turistas. Com parques lineares, bicicletas para turistas, e com uma boa
rede de hotéis, Barcelona se tornou uma cidade requisitada e de valores agregados, gerada
através de planejamento urbano contínuo.
Figura 87 e 88 – Antigos prédios industriais reconvertidos.Fonte: foto do autor
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5 . CONCLUSÕES
Concluímos assim, nosso trabalho de pesquisa sobre o tema proposto: A cidade compacta e os
projetos urbanos contemporâneos, inventário analítico de estudos de casos em vazios urbanos
em áreas centrais. Ficou claro a impossibilidade de se fazer um inventário analítico comparativo
pois cada projeto urbano tem sua história, sua cultura, sua sociedade e seus diferenciais.
Também por causa desses fatores, não é possível importar esses projetos como modelos a
serem seguidos e transportados para a nossa realidade paulistana.
Ficou claro que um projeto urbano agregado a um projeto de desenvolvimento econômico, que
estabeleça como objetivo as novas formas de produção inovativa, é altamente requisitado pela
nova ordem econômica mundial. São Paulo precisa promover tais políticas públicas e projetos
urbanos que favoreçam o desenvolvimento urbano sustentável, pois está claro seu papel como
cidade representativa de um país em desenvolvimento no atual cenário econômico. O que não
está claro é sua posição frente as novas questões e desafios ambientais.
A abordagem do trabalho foi considerada relevante, frente às novas necessidades de recursos de
pesquisa e estudos da área, e promove a construção do conhecimento pela análise dos estudos
de caso propostos, além do repertório conceitual para tanto.
I 115 I
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