4· FLORIANÓPOLIS, 1995·CURSO...

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N!! ANO XII· FLORIANÓPOLIS, FEVEREIRO DE 1995· CURSO DE JORNALISMO DA UFSC Ç3 AO QI.1ADRINHO NACIONAL! ::- ,!tíi."�;V"" ...t".., ... '""'-- l .... I);::,_, •• to/- _" _" SUMMER EDI ION LOS 3 AMIGOS Mais sexo, drogas & guacamoles com o �amigo SANGUINHO NOVO Talentos brasileiros desenham os maiores da Marvel ; MAURICIO O plano infalível que deixou até a Disney para trás SPAWN X BATMAN Miller e MacFarlane cobrem as grandes editoras de porrada GIBITECAS Pouca grana e muita paixão pelas HQs fazem essa aventura Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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N!! 4· ANO XII· FLORIANÓPOLIS, FEVEREIRO DE 1995· CURSO DE JORNALISMO DA UFSC

Ç3

AO QI.1ADRINHO NACIONAL!::- ,!tíi."�;V"" - ...t"..,... '""'--

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SUMMER EDI ION

LOS 3 AMIGOSMais sexo, drogas& guacamolescom o �amigo

SANGUINHO NOVOTalentos brasileiros

desenham os

maiores da Marvel

;

MAURICIOO plano infalívelque deixou até a

Disney para trás

SPAWN X BATMANMiller e MacFarlanecobrem as grandeseditoras de porrada

GIBITECASPouca grana e muita

paixão pelas HQsfazem essa aventura

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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uma o o teI'

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CONS�U'RJZçRo?

CLAROQueSIM;

5-18

Crlaturae e criazíoree de ficção e realidade ee;tão povoando eataa 24

páginaa que entregamoa a você, Eet-a é a aegund41 vez que fazemosuma edição tratando excluelvamerrte do tema cartum &

quadrinhoa. O Zero Zlne II é uma lncuraão honeet.a que revela noaea

reverêncía a uma arte (e um meio de expreaaão) que eatá para.

completar 100 anoe em 1996. Cobrimoa com maia apuro o que aconteceu com

o vigoroao e deareapeitado quadrinho nacional, que tem em Ângelo Agoatinium doa ada grandea precuraoree; mundíale da área. Kevelamoe uma

de6Conhecida lei que protege a produção e o eapaço do autor braelleiro e com

vergonha conf'eeaamoe que quem maia burla, a 31 anoe, ee;ta legialação, aãojuet.arnerrte oe grandea jornale e editoraa maia conaideraaaa do mercado.

Deade o aéculo paaaado, eata arte regie;tra peraonagem como a popularMafalda, que completou 30 anoe de exiet.êncla - embora seu criador, o

argentino Quino, a tenha abandonado. Fomoa a Porto Alegre para fazer o

perfil de tr�a gaúchoa com propoataa novae: lotti, com e;eu Gibizón Radicci;Santiago, com o novo álbum Povaréu; e Edgar Vaaquea, que enfrenta algumaadeaventuraa com a grande imprenaa, mae continua publicando Separatie;mo,corta ee;e;a e Cere» Pintadae;. Para fechar o noaao material do Cone Sul,report.amoe o que aconteceu no III Salão Internacional de Deaenho de

lmprenaa - evento que ganha f8lego e tradição.De São Paulo, o lançamento da bem-aucedida aérie de álbuna/livroa de Loe

Trae; Amigoe;, que eoma ao trio Angeli, Glauco e Laerte o deaenhiata Adão

lturruegaral, tema de matéria no Zero Zlne I. Outro que também retorna àanoaaaa páginaa é Lourenço Mutarelli, um talento inegável, de carreirameteórica e premiada. O eecritor Álvaro de Moya fala aobre oe; dee;enhoa

didático-ecológicoa de Cláudia Lévay, e o conaagrado Maurício de Souaa tem

eua trajetória ao auceaao r capitulada. Ainda eem aair da paullcéía,regiatramoa o louvável trab o da Gibiteca Henfll, que meemo eem apoioaegue atendendo a centena e aflccíonadoe gratuitamente.Na cena internacional, o Zero lne lncurelona por quatro doa maloree autores

�-'l vanguarda: o iuguslavo Enki ílal, o brit�nico Neil Gaiman e oe americanos

Frank Miller e Todd MacFarlane. Nossa abordagem reagata publicaçõeaantológicaa e deaaparecidas, como a francesa Métal Hurlant, uma daa

precuraoras de uma imprenaa c bativa que insiste em pipocar por todo o

planeta, até mesmo na China e leete europeu. Ae not.ae deatoantea aão ae

perdae de dois mestre. tado como um doa ce� rnaioree

cartunistas do mundo, e Hilde Weber.

Maa vamoe alegrar ae coisael Afinal, eeta é uma edição de verão. Na página14, fazemoe uma homenagem ao quadrinho underground e preeenteamoe vacacom o deeenho -demente- do americano Robert Crumb, para cortar e colar na

porta do guarda-roupa. Depois de uma edição lon9a e eúada (mae; acima de' Ltudo gratificante), eeperal110e 't..

que este Zero eeja lido com o

mesmo prazer com que foi feito.Só nee resta agora arejar acabeça, pegar uma prainha e

gozar o que sobrou dae

noaaae fériae.

ANO XII· N!! 4FLORlANÓPOUS

• EDiÇÃO DE VERÃO·FEVEREIRO 95

*****MELHOR PEÇA GRÁFICA

I, II, III, IV, VSET UNIVERSITÁRIO88, 89, 90, 91, 92

Dalmoro, Katluscla Zanatta, Laura Tuyama, Lúcio Lambranho, MarceloSantos, Marina Moros, Paulo de Tarso, Renê Müller, Tharclla Werllch,

Van Boechat

EdHoraçio eletrônicaAndréa Luswarghi, Crlstlane Cardoso, Crlstiane Miranda, Diógenes

Fischer, Drlca Martorano, Emerson Gasperin, Glancarlo Proença, JaimeLuccas, Pablo Claudina, Zé Dassllva

FotografiaPaulo de Tarso, Van Boechat

Laborat6rlo fotográficoPaulo de Tarso

LevlsãoCebolinha e Hortellno Troca-letra

Secretaria gráficaJosemar SehnemTrilha sonora

Beatles, Caetano, Clarence "Gatemouth" Brown, Charlie Parker, DexterGordon, Eric Clapton, Gene Vincent, Gilberta Gil, Guru, Janis Joplin,

Jefferson Airplane, Jimmy Hendrix, Miles Davis, Prince, Rolling Stones,Second Come, Sonic Vouth, The Clash

Apolo etlllenAmstel Beer (from Amsterdam, Holland)

Cheque-ApufscBlue

Redação .

Curso de Jornalismo (UFSC-CCE), Trindade, Florlanópolis/SC - CEP88040-900Telefones

(048)234-9490 e 231-9215Telexllax

(048 )234-4069Impressão

Diário Catarlnense

Distribuição gratuitaCirculação dirigida

ZERO

eo IMPERIO

DO QlIAORINHOJAPONES

A primeira versão

do Zero ZineJeitaem março de 92

o CENrENARIO 0.11. O/rAVA ARTE

*3!! MELHOR

JORNAL-LABORATÓRIO DO BRASILINTERCOM 94EXPECOM

Jornal-laborat6rio do Curso de Jornalismo da universidade Federalde Santa Catarina, editado pelo laborat6rio de Infografia.

ArteMichelson Borges e Zé Dassilva

Colaboração espontâneaAI Ortega, Amâncio Chiodi (Agência Estado), General, IstoÉ, Paulo

Vasconcelos, Robert Crumb, Wizard

ColaboraçãoAgecom, Álvaro de Moya, Drica Martorano, Emerson Gasperin, Kátia

Klock, Paulo Neves, Paulo Noronha, Clark Kent, Jimmy Olsen, Lois Lane

(Planeta Diário), Peter Parker e J.J. Jameson (O Clarim), Donald e

Peninha (A Patada)Copy-wrHe

Diógenes Fischer, Josemar Sehnem, Paulo de Tarso, Ricardo Barreto,Ulysses Dutra Neto, Van Boechat

DiagramaçãoAndréa Luswarghi, Giovana Borini, Gisele Souza, Jaime Luccas,

Josemar Sehnem, Jussara Campelli, Pablo Claudlno, Ricardo Barreto,Ulysses Dutra Neto, Van Boechat, Zé Dassilva

Direção de arte e de redaçãoProfessor Ricardo Barreto

Ed Itores-sên lorDiógenes Fischer, Josemar Sehnem, Zé Dassilva

Ed.Hores-jOniorAlessandra Pereira, Andréa luswarqhí, Daniela Cunha, Fábio Bianchini,Gabriela Veras, Giovana Borini, Gisele Souza, Ivan Jerônimo, Jefferson

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Nós temos talento_13rasileiros invadem mercado americanode quadrinhos desenhando clássicoscomo Homem-Aranha, Hulk e X-Men

Quetat desenhar sua re- ��j--:..r.JW,..,�OgériO vem

vista -prefci.'4a, fazer "'á.;seiffiando o A-Men. Parasucesso nos-"1.stados chegar a 'esse estágio, ele fezUnidos e ainda por cima um teste para o estúdio Art &

pas, outro brasileiro, está de­senhando a Liga da Justiça.O paulistano Luciano Queirós(Luke Ross) é quem faz a arte

do Homem Aranha 2099. A

adaptação para os quadrinhosde A Rainha dos Condena­

dos, da escritora americanaAnne Rice, foi feita pelopernambucano Otávio Cari­ello. Anne queria que Cariello

adaptasse também Entrevis­ta com o Vampiro, mas comoestava sem tempo, ele indicouo amigo Alexandre Gibran. Eo atual responsável pela Mu­lherMaravilha é o paraibanoDeodato Filho, filho de Deo­dato Borges, que em 1963 de­senhava o Flama, super-he­rói de criação e

circulação naci­onal.

Com essa "in­

vasão", os artis­tas tupiniquinsacabam tendomais acesso às

grandes editorasestrangeiras do

que ao sempreingratomercadonacional. Pelo

viver só disso? Este sonho,até pouco tempo considerado

impossível está se tomandoreal para toda uma geraçãode desenhistas brasileiros.

Alguns dos títulos de maior

vendagem da DC e Marvelsão hoje desenhados por bra­sileiros que fazem isso sem

sair de casa.

Quem se deu melhor com

essa história foi o paulistaRogério Cruz, de 23 anos,

que assina Roger Cruz para o

mercado americano. Faz qua-

Comics, que o mandou paraos EUA. A primeira interes­sada foi a editora Continuity,que incumbiu Rogério de de­senhar o gibi Armor. Logodepois, a Marvela chamou

para fazer aHyperkind, cujospersonagens eram criados

pelo escritor inglês CliveBarker.A partir daí foi uma ques­

tão de tempo. Rogério dese­nhou algumas páginas do

Motoqueiro Fantasma, de­

pois passou para �n Hulk, atéque cJl�gou ao sonhado traba­lho com o X-Men. Agora elerecebe US$ 30 (salário de

iniciante)por cada página quedesenha no aconchego de seu

lar em São Paulo. Ele recebeos roteiros e faz os desenhos,que depois de prontos sãoenviados aos EUA pela Art &Comics, que o agencia. O pro­cesso é o mesmo para os de­mais brasileiros que traba­lham no mercado americano,todos agenciados pela Art &Comics.Artista tupiniquim - É as­

sim que Edilbenes Bezerra

(pseudônimo: Ed Benes) fazas histórias do Exterminador,GunFire e Flash sem sair deLimoeiro do Norte, interiordo Ceará. Em Belém do Pará,Benedito José do Nascimento

(ou Joe Benet) desenhaRavage ,a obra mais recente

de Stan Lee. Marcelo cam-

ogério Cruz antes deassumir o traço dos X­Men

FEV 95 - ZERO ZINE

menos os dese-nhistas. Dos brasileiros, os

americanos só querem os tra­

ços. Argumentos, roteiros e

criação de personagens con­

tinuam fora do alcance dosartistas da terrinha.Resta saber como esses

quadrinistas poderiam traba­lhar no Brasil. Fora a produ­ção underground, não existe

por aqui um mercado de HQ

que não seja o infantil. O tra­

balho de Rogério Cruz & Cia.só chega ao país como produ­to estrangeiro, depois de apro­vado pelo público americano.Mesmo porque eles só teriam

emprego no Brasil se fossemtrabalhar na revistinha doLeandro e Leonardo ou coisadesse tipo.

Fábio BianchiniMutante, por "Roger Cruz" 3

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\/

Verísimo lançalivro e assinacolunanoJB

Desde o dia 8 de dezerriJro,a sisuda página de opinião

do Jornal do Brasil vemrecebendo um especialtoque de humor. Luis

Fernando Veríssimo, um dosmais conceituados escrito­

res do país, assina uma

coluna onde deve aparecerde tudo "desde política e

crítica, até bobagens emgerar, como diz.

Dono de uma página na

Revista de DolTingo,tainbém do JB, Veríssimo

resistiu umpouco aoconvite. O jornal fica no Rioe ele mora em Porto Alegre."Émelhorpara o cronistil'

viver onde o jornal éproduzido, mas na era daTV. do computador e fax,todo mundo é do rrl!smo

lugar. E eu disfarço bem o

sotaque", garante.Antes de estrear sua nova

coluna, Veríssimo já dava

indicações de que a futuraprirrl!ira-dama Ruth Cardososeria uma das figuras quemais seria retratada, por

ser, em sua opinião, apessoa mais iT1fJortante da

República. "Ela é quemconvive mais intimarrl!ntecom o presidente, cuida da

sua alirrl!ntação, do seudes_canso e de seu coração.

Eela quem nos separa doMarco Maciel. Não descui­de, Dona Ruth!, iT1fJlora.

"

Com vários projetos emmeme, ele lança já nos

próximos dias o livroAmérica, editado pela Art e

Ofícios. O livro contémalguns textos que Veríssimoescreveu durante a cobertu­ra da Copa do Mundo, alémde observações antigas e

novas sobre os EstadosUnidos, onde viveu duranteoito anos. Há personagens

como o Dunga, representan­do a "estranha seleção de

Parreira, que ganhou a Copapara o Brasil mas deixou o

país ressentido": e tambémmuita coisa sobre "a

América que eu vivi com o

rabo do olho enquantoolhava a Copa".

Odia 30 de janeiro foiinstitucionalizado pelaAssociação dos

Quadrinistas e Caricaturistas doEstado de São Paulo como «Diado Quadrinho Nacional". Mas,afinal de contas, que diabosaconteceu no tal 30 de janeiro?No ano de 1869, precisamentenesse dia, a publicação de AsAventuras de Nhô Quim, ouimpressões de uma viagem à

corte na revista carioca Vida

Fluminense marcava o início deuma saga que já dura mais de 120

anos. O responsável - um italiano

que passou a infância em Pariscom a avó - chegara dez anosantes ao Brasil, ainda adolescen­te. considerado um dos pioneirosda HQ mundial e homenageadopela mesma AQCESP em sua

premiação anual, AngeloAgostini dedicou-se à oitava arteaté o fim de seus 66 anos.

Ala che?!? Então quer dizer queos quadrinhos no Brasil surgiramao mesmo tempo, ou até antes,que em outros países considera­dos "berços" da HQ? Se é assim,porque será que o quadrinhonacional (salvo raras exceçõesmoMauricio de Sousa) sofrento para se manter de pé,

abrindo picadas aqui e ali naverdadeira selva de ediçõesestrangeiras que é o mercadobrasileiro? Essa, como dizia o

Fotão, é outra história para umoooutro pôr-do-sol. O que nos

interessa, por enquanto, éAgostini.Pois então ... Coma o ano de1864 quando, no pasquimpaulista Diabo Coxo, estreou umjovem artista que começava a

criar um estilo que durante anos

seria a maior influência no

trabalho dos desenhistas nacio­

nais, definindo o chamado "traçobrasileiro". No Diabo e, maistarde no Cabrião e O Arlequim(este já no Rio de Janeiro), asilustrações de Agostini impressio­navam pela riqueza de movimen­

tação e pela sátira mordaz à

política do Segundo Reinado.Três anos depois o desenhistamuda-se para o Rio e, em 1868,entra na Vida Fluminense, ondepublica o marco da HQ no Brasil.Em nove episódios semanais,editado na horizontal, As Aventu­ras de Nhô Quim contam as

peripécias de um caipira na ex­

capital federal. Agostini conti­nuou na revista até 1871, desen­volvendo suas observações sobre

lJ

tipos populares como o caixeiro­viajante, o mascate, a mucamaalcoviteira e uma série de outras

figuras que caracterizavam a

sociedade carioca da época.Durante o Segundo Reinadohavia uma enorme tolerânciacom relação à ímprensa e a

liberdade de � .:�'-:ar o governo.Angelo Agostini soube aprov.z­tar muito bem esse ambiente,defendendo através dos dese­nhos suas idéias republícanas,anti-clericais, e abolicionistas.Criou um personagem-símbolodo cidadão brasileiro: um índiotodo pintoso, no melhor estilo OGuarani, que sempre apareciacarregando os podres doimpério nas costas ou observan­do indignado as trapalhadas dacorte.

Agostini só foi ter sua própriapublicação em 1876, quandofundou a Revista Ilustrada,onde desenhou mais umahistória retomando o tema deNhô Quim: AsAventuras de Zé

Caipora. A personagem feztanto sucesso que voltou a ser

publicada anos mais tarde noDom Quixote e n'OMalho.

Dirigiu a revista até 1888,quando partiu para a Europa,

ZERO ZINE • FEV 95

Há 126anos

AngeloAgostinipublicou a

primeiraHQbrasileira, com o

personagem• •

catptraNhôQuim

depois de "enamorar-se" porAbgail, sua aluna de desenho.Nosso herói era casado e tinha doisfilhos. Três agora; contando com a

pequena Angelina. que nasceu emParis.

Quando o escândalo esfriou. lá por1895, Angelo voltou ao Brasil etrabalhou por três anos no jornalDom Quixote. Em 11 de outubrode 1905, juntamente com LuizBartolomeu de Souza e Silvafundou O TiCD-Tico, a publicaçãoinfantil mais importante da época.Criou o logotipo da revista, ondeum pássaro pousava no meio deum grupo de garotinhas nuas quebrincavam por entre as letras.

Sábado, 22 de janeiro de 1910.Abalado pela morte do amigoJoaquim Naouco, cinco dias antes,Angelo Agostini volta para casa

após uma reunião com antigosmembros da ConfederaçãoAbolicionista, castigado pelo sol deverão e pelos anos de trabalho.Durou ainda mais um dia. No

domingo, deixava a vida parafinalmente para entrar para a his­tória da História em Quadrinhos.

Diógenes RacherAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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"Não me preocupa tanto os

30 anos dela, mas os séculos de aniversárioda direita em todo o mundo"Quino

JoaquimSalvador Lavado, o

Quino, já era um cartunista

respeitado na Argentinaquando o chamaram para traba­lhar em uma campanha publicitá­ria de eletrodomésticos. O pedidoera que ele criasse uma série detiras em quadrinhos,protagonizada por uma tipicafamília de classe média. Acampanha acabou não se reali­zando, e Quino arquivou omaterial. Meses depois, emsetembro de 1964, aquelastirinhas saíram da gaveta paraserem publicadas 1:\0 Primera

Plana, o mais important".'�')",.�­nário argentino da época. NasciaMafalda, a menina contestadoraque iria cativar milhares deleitores em todo o mundo e

chegar aos trinta anos de existên­cia como assunto para discussãoentre intelectuais.Mafalda não é apenas uma

criança encurralando os pais comperguntas. Quando diz que a tevêé uma ameaça e avalia os sonhosde consumo de seus amigos e

pais, ela argumenta com serieda­

de, preocupada com o futuro das

pessoas e do planeta. Mafaldarecusa o mundo como ele é, odeiasopa e permanece alerta para não

pensar e nem se portar como

adulto. Não acredita em gover­nos, lê jornais e ouve rádio paratentar entender o mundo, e se

mantém insatisfeita.Todos os "porquês" de Mafaldafizeram dela um sucesso entre os

contestadores do i<},.al dos anos60 e inicio dos 7(FUm ponto a

mais no charme.ia enfantterrible (como fifi apelidada naFrança) era o fato de ela ter sidocriada na Argentina, distante das

grandes fontes da indústriacultural. Ela.j.ira especial, poistinha bagag� para discutir

assun�'il�')ãrln1!'41£I'5�iampe'la cabeça de Charlie Brown.

Não foi dificil para Mafalda

conquistar o mundo. Com meio

ano de publicação, a tirinha jásaía nos principais jornaisargentinos. Em 1966, o primeiroálbum de tiras se esgotou em 12

dias. Era o início do boom deMafalda.A primeira tradução aconteceu

em 1968, para o italiano. No

prefácio do álbumMafalda la

Contestaria, o intelectualUmberto Eco avisava: "já quenossos filhos vão se tornar, por·escolha nossa, outras tantas

Mafaldas, será prudente tratar­mos Mafal�� com o respt:::;quemerece um personagem real". Em

.:. .. .: :.'

.: .

:. � : ': :

seguida, foi a vez de Espanha e

Portugal. A ditadura franquistaimpôs à primeira edição doálbum espanhol a tarja "somentepara adultos". Mafalda tocava em

questões que não eram coisa de

criança.Depois da Europa, álbuns e tirasem jornal foram publicados aténo Japão e na Austrália. EmIsrael, Mlialda falava em

hebraico. O Brasil, apesar de servizinho da Argentina, só foi ter oprimeiro álbum em 1981.

Enquanto Mafalda passeava pelomundo, em Buenos Aires eram

produzidos desenhos animados e

o marketing da personagem era

expandido para as capas decadernos e cartazes.

Mafaldófilos - Apesar do sucesso

da menina inquieta, Quinoresolveu matar a galinha dos ovos

de ouro. Emjulho de 1973, eleanunciou que, "pelo menos porenquanto", não retomaria a

personagem. Voltou a fazerMafalda uma única vez, a pedidoda Unicef, para ilustrar a "Decla­ração dos Direitos da Criança",lançada em 1978.As entrevistas de Quino revelam

que ele nunca foi entusiasmado

pela menina que odiava sopa. Ele

já repetiu várias vezes que, entre

os personagens que criou,Mafalda era a que menos lhe

agradava. "Essa menina quefalava de paz mundial e das

Nações Unidas foi concebida deuma maneira muito artificial. Elanasceu como garota-propagandade eletrodomésticos. Acho que os

outros personagens são mais

espontâneos e mais reais", avalia.Em abril passado, um grupo deintelectuais europeus se reuniucom Quino, em Milão, paracelebrar os 30 anos da Contesta­ria. Liderados por Umberto Eco,os semiólogos analisaram o

caráter de Mafalda e o que ela

estaria pensando do mundo hoje."Mafalda se fez popular entreVós", expljçou Eco, "poXgu.e suas

posições diante da vida são

européias. Enquanto CharlieBrown lia Freud, Mafaldacertamente lia Che Guevara".

Quino evita discutir com os

mafaldófilos sobre a importânciada personagem. No encontro em

Milão, ele deu uma de Mafalda:"não me preocupa tanto 030 .

aniversário dela, mas os séculosde aniversário da direita em todoomundo".

Textos Zé Dassilva

Lúcifer lançasanguenovono mercadoChegou às bancas, no finalde novembro, a ediçãonúmero um da revistaLúcifer. O lançamento émais uma tentativa de

reaquecer o quadrinhonacional. A bolação é deToninha Mendes e sua

editora Circo, responsávelpelos títulos Geraldão,Chiclete com Banana, Piratasdo Tietê e Striptiras. A

edição traz, em capacolorida e mioio preto- e­branco em papel off-set,quadrinistas que já andaram

publicando - mas também. com a pretensão de lançargente nova. Lúcifer abrecom uma HQ de Pavanelli,ilustrador da Folha de S.Paulo. Há também trabalhosde Maringoni (do Estadão),André ToraI, Mosquil,Carlos Matuck, Franco de

Rosa, José Daval e Louren­

ço Mutarelli, premiadocomo a revelação da Bienalde HOs em 1991. Ainda dá

para achar a Lúcifer, por R$5,00.

FEV 95 - ZERO ZINE

5Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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vocalista e líder da banda TheDoors.

Luis Mendes é outro super­herói da Ilha. Luis tem 28 anos, éilustrador do DC e faz cartuns

para a revistaEmpreendedor. Luisaprendeu a desenhar com ClóvisGeyer, chargista do DC, e obser­vando outros desenhistas. AlémdeGeyer,foi influenciadoporKikaNovaes, mas como elemesmo diz,está "personalizando o traço" e

tentando seguir os estilos deDaveMckean e KentWilliams. Quantaà publi�ll de �us trabalhos,descbc� triste, mas não existemercado de trabalho em SantaCatarina" e acrescenta que "lar­garia tudo para viver dos quadri­nhos" e ser conhecido por suas

criações.LuisMendes estáusando seus

super-poderes para conciliar tra­balho e um curso supletivo, tudoiSSO para tentar cursar arquitetu­ra. Ele diz que escolheu este cursoporque vai ajudá-lo a aperfeiçoarseu traço e a encontrar novos ân­gulos e sombras no desenho.

Fé nos quadrinhos - Masexistem os que usam o talento e

amor aos quadrinhos em traba­lhosalternativos eaproveitamparadivulgar suas idéias. Um exemploéMichelson Borges, 22 anos, quetambém cursa Jornalismo na

UFSC. Michelson, que cita Deo­dato Borges Filho e John Byrnecomo suas influências junto com

váriosdesenhistas das editorasDCe Marvel. Ele faz parte da IgrejaAdventista do Sétimo Dia. Hápouco tempo, escreveu e ilustrouuma HQ para adultos pregandoreligião. Agora está trabalhandoem um similar para crianças, queserá distribuído pela Igreja.

Michelson ilustrou o primei­ro RPG (jogo onde cada pessoarepresenta um personagem) cata­rinense, que também foi um dosprimeiros do Brasil. Depois de se

formar, Michelson tem empregogarantido na Casa PublicadoraBrasileira, editoraAdventista quetambém publica livros e revistascom mensagens para crianças e

adultos. Comooprópriodesenhis­ta acentua, a finalidade de seu

trabalho é "tornar a Bíblia e a

religiosidademais acessíveis àju­ventude".

£.,

NovaSampatraz de volta

Capitão MarvelA Nova Sampa Diretriz

Editora está trazendo devolta ao Brasil as

aventuras do CapitãoMarvel. As histórias sãooriginais dos anos 40,

onde o Capitão Marvel éimbatível, teimoso e até

mesmo ingênuo. A revistafoi relançada com o nome

de Shazam!,provavelmente para não

criar confusão com o

nome da editora norte­americana Marvel.

A revista faz parte dacoleção Invectus e estásendo vendida por R$

1,95. Impressa em papeljornal com desenhos em

preto e branco não muitosofisticados, contém

várias histórias, não sódo Capitão Marvel, mas

também de toda a

extensa família Marvel. Acapa é colorida e em

papel couché. A ediçãoconta ainda com um

prefácio de René Ferrique narra a história doCapitão marvel desde

1939, ano de sua

criação.Jefferson Da/moro

ZERO ZINE - FEV 95

Onde encontrar: NovaSampa Diretriz Editora

Ltda; Av. SenadorCasemiro da Rocha, 464

Cep: 04047-000São Paulo

Fone/Fax: (011)579-71976

Quadrinistas de Santa Catarina esperam em vãoporpatrocínio de editoras

Florianópolisnãotemmer­

cado de trabalho para os

artistasdosquadrinhos. Aseditoras estão nos grandes

centros e não existem patroci­nadores que aceitem bancar umapublicação. Com tantas dificulda­des seria fácil desistir de desenhar.Mas os heróis daqui fazem bemmais do que os super-heróis dosquadrinhos. Enquantoesperam uma

oportunidade de publicar algo ou

de ir atrás das editoras, eles traba­lham, desenham para publicaçõesalternativas e estudam. O que elesnão fazem é perder tempo.

Um desses corajosos é ZéDassilva, de 21 anos, que tambémescreve para este jornal, não poracaso. Zé se formou no Curso deJornalismo e, depois de adotar umpseudônimo, porachar onome Joséda Silva Jr. "comum demais", se

tomou mais um catarinense com

muitos trabalhos debaixo do braçoe com sonho de "viver das históriasque cria". "O problema é não teronde publicá-las" reclama Zé, quetem uma galeria de personagensinéditos, aguardando a hora de vi­sitar as bancas.

Zé ainda está na dúvida entre

seguir a carreira de jornalista ou sódesenhar. A faculdade the rendeuuma intimidade com o texto e esse

pode ser um mercado mais garan­tido aqui. Enquanto não decide, elesegue escrevendo e, quando surgeuma oportunidade, publica seus

desenhos. Zé diz ter influências dequadrinistas como Laerte, Fernan­do Gonsales, Miguelanxo Prado e

Will Eisner. Ele também ilustra a

revista Inside, ex-chargista do jor­nal O Estado, faz trabalhos para oZero e trabalha como free-lancerpara a imprensa sindical, além depublicidade. Está publicando seus

quadrinhos no jornal/revistaifanzine Futio.

Migração - Para Zé, não háalternativa: o pessoal tem que sairpara fazer sucesso. E o lugar é SãoPaulo: "lá estão as editoras", mas oRio de Janeiro também tem algummercado. O desenhista gaúchoKipper, que já foi chargista do Di­ário Catarinense - DC, por exem­plo,juntou suas histórias e persona­gens e foi para São Paulo. Hoje elemanda desenhos para as editorasdos Estados Unidos e recebe sem

sair do pais. Seu último trabalhopara a indústria norte-americanafoi a biografia de Jim Morrison,

_-- - - ----- - --- _--=_ - -

Confira o traçode Zé Dassilva e

Michelson

Borges (acima),e Luís Mendes

(ao lado), que se

auto-retratam

. especialmentepara o

Zero Zine Katiuscia Zanafta

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 7: 4· FLORIANÓPOLIS, 1995·CURSO Ç3hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1995fev004.pdf · Verísimolança livroeassina colunanoJB Desdeodia8dedezerriJro, asisudapáginadeopinião

DO TRAÇO EM PORTO ALEGREo III Salão Internacional de Desenho de

Imprensa reuniu mais de cem trabalhosbrasileiros, uruguaios e argentinos

Históriaem quadrinhos

foi a categoria quemaisteve trabalhos selecio­nados para a final do ill

Salão Internacional de Desenhode Imprensa, promovido pelosGrafistas Associados do RioGrande do Sul (Grafar) e a

Secretaria de Cultura de PortoAlegre. Os cinco premiados,escolhidos entre os mais de cemtrabalhos inscritos por dese­nhistas brasileiros, argentinos e

uruguaios, foram anunciados nodia da inauguração da exposiçãono saguão da Usina do Gasô­metro, 15 de dezembro. Depoisdo encerramento, previsto para30 de janeiro, o Curso deJornalismo da UFSC pretendetrazê-la para Florianópolis.

A idéia do primeiro Salãosurgiu durante um debate sobrehistórias em quadr, ...

.,s. com

palestras de Joaquirrreonseca,Edgar Vasques, Goida e San­tiago. Neste ano, subiu a pre­miação para cada categoria - deUS$ 200 para R$ 1.000 - e o

nível dojúri, formadoporJaguar,Luiz Fernando Verissimo, An­geli, os irmãos Chico e PauloCaruso (que seapresentaramcom

. sua banda no dia da premiação)e �rgarete �oraes, represen­tante da SecretariaMunicipal deCultura.

Na categoria Cartum, venceuEduardo Ferreira Grosso, dePiracicaba (SP). Amelhorchargefoi do argentino Sabat Herme­negildo. Mandril/os Sphinx, dobrasiliense Carlos César LealXavier, venceu entre as históriasem quadrinhos. O prêmio na

categoria llustração ficou com o

"dono da casa"Eduardo Reis deOliveira, do jornal Zero Hora. A

melhor caricatura foi MichaelJackson, do também porto­alegrense Ricardo Botega.

Retomo - O artista home­

nageado nesta edição foi João

Baptista Mottini (1923-1990).Gaúcho de Santana do Livra­mento, ele começou aos 15 anos

cornoilustradordaEditoraGlobodePortoAlegre. Aomesmotem­po em que participava de obrasdidáticas e livros infanto-juvenis,cornoOs três�que-teiros eAsaventurasdeG /;lliver, dedicava­se à pintura. �jn 1946, foi paraBuenos AireirJ. onde colaboroucorn as prir .:ipais revistas doperíodo áurêo dos quadrinhosargentinos. Suas séries Aurélio,El Audaz e Las aventuras deBordon tojna,ram-se conhecidasem todo�aís.Ot1i'.6a"�I).og?rtQ Alegre, em11':5-L, rviottini for Uni. dos fun­dadores daCooperativaEdi-toradeTrabalhos e tomou-se célebrecom a série Os crimes queabalaramRioGrande,publicadapelo jornal Ultima Her-ra. Nosúltimos anos de vida dedicou-seà publicidade, rece-bendo o

prêmio Salão da Pro-pagandaGaúcha em 1980 e 1984.

FEV 95 - ZERO ZINE

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Entre os selecionados do III salão, a charge cáusticado pintor Iberê Camargo por André Lieban, dois cartuns (esquerda e centro) do veterano Ronaldo Cunha Dias e

o talento emergente deMoacir Gutterres, Moa, da edição anterior.

Florianópolis está mal servida de lojas especializadas em

quadrinhos. Uma pesquisa feita na cidade sobre opçõesdas bancas e livrarias mostrou que o acervo de Has na

ilha deixa a desejar, se comparado ao que o mercado podeoferecer. Somente em poucas lojas é possível encontrarvariedade e qualidade.

A livraria Ex-Libris, no Beiramar Shopping, é a que ofereceo melhor estoque de histórias em Quadrinhos. Lá, o leitorencontra a série-saga da editora portuguesa Meribérica Líder,que ilustra histórias da Idade Média e compõe verdadeirasobras de arte. Um exemplar da série, que tem o tamanho deum caderno universitário, custa R$ 25,00. Bem mais em

conta, uma Ha de Moebius está custando R$ 8,45. A livrariavende também exemplares do autor Enki Bilal

Da mais procurados são os brasileiros Piratas do Tietê(R$ 16,00). Chiclete com Banana (R$ 16,00) e Los TresAmigos (R$ 10,00). Mas atualmente o gibi mais vendido em

Florianópolis é Sandman. Clássicos como Steve Canyon,

Mandrake, Flash Gordon e Dick Tracy, todos a R$ 6,35,tambémtêm boa vendagem. As novidades para osaficcionadossão as revistas espanholas Zona 84 e Cimoc e a ediçãoespanhola da francesa Metal Hurlant. Zona 84é composta porvários autores de diferentes linhas, mas as vendas da revistasão baixas. A falecida Metal Hurlant (ver texto nesta edição)tinha uma excelente equipe, vale a pena garimpá-Ia nos sebos.

locação - As eróticas são outra boa opção: Little Ego deRotundo e V81entina, de Guido Crepax, custam respectivamenteR$ 8,45 e R$ 8,00. A novidade da Ex-Libris é o sistema "HotLine". Basta você preencher um cadastro e pedir qualquernúmero das revistas distribuídas pela editora Devir que no

máximo em 20 dias você recebe os exemplares requisitados.A Banca Central é a mais antiga em atividade e tem

quadrinhos importados da Marvel e DC Comics por R$ 1,50.Outras publicações, nacionais ou importadas, em formatomaior e papel nobre, também podem ser encontradas. Alémdas Has tradicionais, a banca da rua Tiradentes, no centro,

vende e compra histórias em quadrinhos usada .. As revistasmenorescustam R$ 0,50 easmaiores, R$1 ,50 - ostítulos sãovariados.

Na banca de revistas Ilhabel, na rua Anita Garibaldi,podem serencontradosos importados E/leryOueen, Asimov's,HeavyMetal e Mad e os quadrinhos da coleção L & PM, quetraz títulos como Hagar, o Horrível, Nick Holmes (de AlexRaymond), Spirit (de Will Eisner), Billie Holiday - a DamaNegra do Jazz (do argentino Munoz Sampaio) e Valentina e

Anita.Outra alternativa é a Livraria Catarinense, que oferece

toda a coleção da L & PM, além do Diário de um Mago em

quadrinhos, de Paulo Coelho, por R$ 7,00 (Deodoro, 225). NaPapa-Livro, o acervo de Has é pequeno. A livraria alugaclássicos ilustrados de Edgar Allan Poe, Charles Dickens e

Herman Melville, cobrando cadastro de R$ 20,00 e mensalidadede R$ 10,00 (Ceisa Center, bloco B).

Daniela Cunha

Roteiro da HQ em Florianópolis

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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ZERO ZINE - FEV 95

Ai caramba!!!el Matador

está chegandoo quadrinista Angeli investe

na fama de 'essssino' e

lança este ano uma publica­ção que promete detonar.Matadorvai ter uma equipede produção, cor em todasas páginas e papel de luxo.A revista deve ser lançadapela Circo Editorial, quepublicava Chiclete com

Banana, e não terá apenasQuadrinhos. "Vou fazer um

joguinho de xadrez com

textos, fotos, fotonovelas e

sacadas em geral', avisaAngeli. Matador pretende seruma versão aperfeiçoada daChiclete, que foi um grande

sucesso editorial, chegandoa uma tiragemde 110mil

exemplares. "Com maisinfra e muitos colaborado­

res", acrescenta o

quadrinista. AdãoIturrusgarai, criador doscowboys gays Rocky e

Hudson, deve assumir ocargo de diretor assistente.

Ulysses Dutra Neto

" .

... ". ...' ..

�T.�

SI MPRI' C.Ai wc MAlS UNO

Somambiente: salsa.

Margarita de birita.Guacamoles praapimentar.Quer más? Vá pro México.Ou então assuma o seu lado

junkie e dê as mãos pros Três Ami­

gos. Más sexo, más drogas y más

guacamoles é com eles.O segundo livro de Angeli,

Laerte eGlauco pede tudo "demás".O lançamento, em novembro, naPaulicéia Desvairada, foi mui típi­co. O cenário mexicano foi monta­do naEscolaPanamericanadeArte,no bairro Jardins, por onde anda afina flor paulistana. Depois de umahora e meia de atraso los três ami­

gos adentraram ao recinto embala­dos pelosmariachis. Três tocadoresde violas deram o ritmo da noitecaliente. O coquetel foi regado a

tequila e aquela pasta verde deabacate - a tão conhecida

guacamole. Blerc.Los amigos foram de copo em

copo autografando centenas de li­vros. A galerinha delirou com a

dedicação gráfica dos ídolos. É queeles não se contentam em-mandar

beijinhos e assinar o nome. Esque­ceu que eles são artistas da pesada?E melhor: super animados com os

fanzocas. Rabiscam a primeira pá­gina do livro com os personagensmais sarcásticos. Isso quando nãoinventam na hora um novo

Miguelito. Isso depende da cara dodono do livreto.

Só que desta vez a obra-primanão passava pela mão de três, masde quatro. Adão Iturrusgarai, omaisnovo amigo, chegou para formar o

quarteto. Neste dia ele debutou ofi­cialmente. Completou a mesa "flo­rida de cabeças feitas". Los mata­

dores de miguelitos são, no fundo,bonzinhos, simpáticos e brilhantes.

Los quatro amigos declaradosfizeram a festa. De vez em quandoum mostrava pro outro o que tinhaacabado de criar na mesa" de autó­

grafos. Além dos livros; os pupilosentraram na fila com a coletânea do

anterior, os antigos Chiclete com

Banana, agendas e folhas amassa­

das. Tudo valia de recordação. Nahora que Paulo Caruso e Kid Vinil,com seus livros debaixo do braço,se aproximaram, roubaram 30 mi­nutos de atenção e as mais interes­santes dedicatórias.

Please. Dá um time pra eu darumabicada na tequila. Ahh!! ! Mais

limão, mais sal. Que calor de loco!

Angeli, Laerte e Glauco lançam livro novo

de Los Três ...Amigos e apresentam o "quarto amigo"para a sociedadepaulistana

\NS'CRtPC'. N£$PArA �O CJJ.-��Or_

,..,AMIG.O ' t

MIGIJELIMS, TREMEI!/

"Más sexo, más drogas y más guacamoles" em Marisales

SLOSTrês Amigos fosse passar na telinha da

V acho que eles correriam o risco de ser

ensurados. Como os

scrotinhos Beavis and ........Butthead, queficarampor

,

um tempo fora do ar na MTV.Gracias que. os heróis­

machistas-mexicanos ainda nãoentraram pra era eletrônica.Numa dessa eles pulam direto

pro CD-ROM. Quem sabe?Mas, porenquanto, estãoman­

tendo a saudosa fase literária.

I.:en�oo segundo livro fui dire­to ver quem era o homenageadodessa edição. "El terrible Jaguar,que além de deixar su marca de

sangre, pólvora y terror por todoserton de Marisales, el infermolimpôel 'palo' nacortina". Pode?

E apolêmicadoquartoamigo tambémpinta nessacoletânea. Uma das histórias, 'EI Cuarto', faz umaparódia. Glauquito, Laertón e AngelVillaabremum

concursopara a escolhadesse camarada. Os inscritossão: Gerald Thomas, Jô Soares, Sharon Stone, Cae­tano e Gil. Os únicos que tiram um sarro dos mexi­canos são os músicos, que obrigaram los três amigosa vestir parêo. Como dizem os garotos papa-macho:viraram maricóns. Politicamente incorreto, mas en­graçado.

Vários personagens novos e repetidos aparecemnesse livro. Píter Coyote é um aliado para zombar dos

miguelitos.Don José Cuervo, arcebispo

de Marisales, tem um ninho defr e i r i n has-passar i n hoenclausuradas porbaixo dabati­na. E élouquinhoporumapiDgaOutro muito doido é O Vierro deLa Lata. A barba dele tapa a

historinhadaMônica tatuada nabarriga OvelhoéCClllhecidotam­bém por não passar a bola. E o

pior é que nuncaninguémdesco­briu onde ficaa suaplantaçiodemarijuana Que peninha!

As hermanas gipntas e sia­mesas, ConchayToro, acho quesão as mais sem sal. Na real 05iimira, mira, el cuarto amigo!!nossos amigos não conseguem

fazer asmulhéres brilharem. As que aparecem, até semimportância numa história, são deformadas pelas ma­ravilhosas mãos radicais dos chargistas. Até a ptaSharon Stone émassacrada. AsmulheresparaLosTrêssão solamente fêmeas, no más.

Dáparaficar puta, mas tudobem, eles sãoadoráveis.

KIIfla Klock

Jornalista, repórter da 1V Bandeirantes-SP.Participou do primeiro ZERO-ZINE.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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_-

Criador dapersonagem-simbolo da miséria

nacional, Edgar Vasques é boicotadopelosprincipaisjornais do país

Houveum tempona acredita que Betinho sabe queimprensabrasilei- filantropia não resolve o problema,ra, na década de masacampanhaserveparacolocar70, em que Edgar aquestãonabocadaspessoas. "Che­Vasques tinha no gou-se a falar nisso a nível nacio­sui dopaís otraba- nal, mas

eu�-ome articulei para

lho mais radical sobre a situação propor Ran como símbolo debrasileira na área de quadrinhos. porra nenhu a, mas se quiserem o

Pioneirona criação de personagens perSOnage�eleestá àdisposição",

que tratam damiséria e da fome no comenta R: , que ganhou doisBrasil, o gaúcho de 44 anos com- prêmios ARI (Associaçãopletou no ano passado 25 anos de Riograndense de Imprensa) decarreira e 20 anos de Rango, o cartum, um de charge e outro de

personagem mais antigo da im- ilustração no Salão Internacionalprensabrasileira. Para comemorar, de Des o de Imprensa de Portoeditou pela LPM seuprimeiro livro Alegre: �tualmente, Edgar dividesolo, Caras Pintadas, uma retros- s. e cartunista com a

pectiva de set...trab&�catu-.....�_ .&íçãodEnU'uriTa'asscssori� deraso

'

- _.

-

comunicação social da prefeituraEdgar se formou em arquitetura de Porto Alegre.

mas nunca exerceu a profissão. O Em 1991, Santiago, outro dese­interessepor quadrinhos surgiu em nhistaarnigo de Edgar, teve um dos1970, ainda na faculdade publicou seus personagens, o MacanudopelaprimeiravezRango, na revista Taurino (típico gauchão), compra­Grilus.Rangocontinuadesdeaque- dopelojornal Zero Hora. Só que ola época, sendo um retrato nu e cru jornal publicou a tira do persona­dopovão, "nadando sempre contra gem apenas uma vez, sem cumprira corrente", como Vasques definiu o contrato. Para Edgar, "a socieda­seupersonagem. AacidezdeRango de gaúcha já discute bem mais o

provocou boicote dos grandes da papel destaimprensa, especialmen­mídia e hoje até mesmo no Rio te quando ela se diz imparcial e aoGrandedoSul, dificilmente as tiras mesmo tempo promove um candi­são publicadas. ''Eles continuam dato".Estamesmaimprensaboico­nos ignorando olimpicamente. O tou Rango, que chegou a sumirpoder político é tão grande que, se algumas vezes do jornal, não poranoticianãoaparecernoZeroHora, proibição da ditadura, mas por sernão aconteceu", dizEdgar, que não um personagemmarginal. O únicovê possibilidade dessa. situação choque direto com os militares foimudar. Rango já foi publicado no em 1977. Ano em que��uim foiMéxico e em Paris. "Uma leve recolhícn de todas as bancas docarreirinha internacional". Atual- país. .

mente, as tiras deRango são distri- Em uma tira, durante a semana

buídas pela Pacatatu do Rio de da Pátria, Rango fazia alusão ao

Janeiro. Osjornais quepublicam as modo como os militares se apossa­tiras são: O Povo de Fortaleza, Di- vam dos símbolos nacionais. Eleário dePernambuco,FolhadeLon- respondia a outro personagem di­drina e Diário de Bauru. zendo que estava amarelado de ic-

Rango foi adotado como símbo- terícia, azulado de anemia e

lo da campanha contra a fome em esverdeadodefome. EdgartevequePorto Alegre, quando ninguém se responder inquérito na Polícia Fe­preocupava com o assunto. Edgar deral junto com Jaguar, editor do

.......�.

rjornal. No final, quando o processochegou à justiça, os juízes civil emilitar acabaram achando que nãovalia a pena encrespar e que "eratudo bobagem".

Trabalhando no extinto jornalFolha da Manhã, Edgar e Fraga,seu companheiro e humorista detexto,propuserampara adireçãodojornal a seçãoQuadrão. Eles acha­vam que havia muita gente quefazia cartuns e quadrinhos em Por­to Alegre, mas não tinha lugar para

.

publicar. A direção do jornal con­cordou e o Quadrão, que começoua ser editado com apenas umapági­na, terminou em quatro. Durantetrês anos, entre 73 e 75, foi publica­do todos os sábados e depois repeti­do no Coojomal. A seção recebiatrabalhos de cartunistas como San­tiago e Schroeder, que trabalhamhoje no Correio do Povo.

Sabendo que o cartum é a artemais premiada no Rio Grande doSul e que era necessário dar um

", tv6

,

nunnno de insntuciouanoace paratodos os artistas, Edgar e o;

cartunistas veteranos criaram en

1988 a Grafar (Grafistas Associados doRio Grande do Sul), que tev.nomes hoje conhecidos nacional­mente comoAdão Iturusgarai, Iottie Moa. Edgar vê a Grafar comouma associação "totalmente anár­quica, sem carteirinha e sem men­

salidades, mas que transmite novosconhecimentos para a nova gera­ção". No dia 14 de dezembro a

Grafar promoveu a terceira ediçãodo Salão Internacional de Desenhode Imprensa (ver texto nesta edi­ção). O evento surgiu de várioscursos de desenho e roteiro que a

Associação já realizou. A Grafarpromove reuniões todas as quintasno CentroMunicipal de Cultura dePorto Alegre.

Lúcio Lambranho

mar

em

da

FEV 95 - ZERO ZINE

1mpreDsa 9

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Arco-íris deCaruso retraia

opicadeiroOs políticos nunca conse­

guem escapar das mãos doscartunistas. Uma prova sãoos políticos brasileiros, quetêm agora suas "peripéci­

as" reunidas no livroO Circo do Poder,

do cartunista PauloCaruso. São 60 charges,publicadas durante 1994

na revista lstoé, queretratam os acontecimentos

políticos do ano.

O livro é o sexto da sérieAvenida Brasil. Já foram

lançados os livros branco,vermelho, amarelo, azul e

verde. O último é roxo e

completa o arco-íris dasobras do cartunista. O

lançamento foi em dezem­bro no Circo Escolar

Picadeiro, com a presençado também cartunista Chico

Caruso, irmão gêmeo e

parceiro de Paulo.

Daniela Cunha

-

ZERO ZINE - FEV 95

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izoti- -

iceiJ{Q de Bombacha é moia entre gaúcfws

a vida de Fellini, o gato. setas, bonés, abrigos, cue- uruguaio Tabaré. Todos pu­Iottitambém já produziu a cas,adesivoseatécofrinhos blicados em preto-e­HQ de uma guerra de mídia com a estampa do persona- branco e com personagensentre Deus e o Diabo, pu- gem. Em Caxias, �� capital cômicos, propícios ao es­

blicada em formato de li-

enointeriOr,onde<'iICjibizónpaço da HQ brasileira.

vrinho. circula, Radicci é .

n bem- Radicci consegue serum

Opersonagemprincipal, sucedido personag m de personagem multimídia.

Radicci, tem sua aceitaç}o HQ regionalista.' Além dos quadrinhos, umaimpulsionadapelaidentifi- OcriadordeRadiccinão banda foi formada em Ca­

caçã� �m o gaúcho de ori - acredita que estesuc�s-o se xias il:,spirada no persona­gem italiana, Radicci apre- restrinja aos locais ? !\� gem. E o "Conjunto Produ­cia chimarrão, usa chapéu, obr� provoca IQ�tificaçci.u . "'0 da�_S'W};da<Íç Caxi­

lenço no pesco- .:7 ....-,. . ---: com o leitor. ense", onde o vocalista é o

ço e possui uma P"fu�:��z e» iJ'r) : "Histórias desse próprio Iotti. O quadrinista

barba picada e � fi], t .

..,. tipo possuem faz as letras das músicas e

um bigodão..;

tema universal e as interpretacom o sotaqueAlém dos leito- são inteligíveis de Radicci, típico do local:res usuais de emqualquerpar- gurrizada, rivista, botemo,quadrinhos, o te". Como exem- gibizon. A banda foi citada

personagem al- plo, ele cita os na revista Bizz e tem algunscança gente de caubóis e o hits nasFM's dePorto Ale-todas as idades hollywoodiano gre, como Me perdoe Ge-

-noextintojomal caxiense Crocodilo Dundee, "o noveva e Chá de Cogu.Folha de Hoje, Iotti publi- Radicci da Austrália", na Casado, pai de um filhocava um suplemento infan- visão de�. "com dois anos de idade e

til, inclusive com uma pá- Na formação do d:se- 38 graus de febre", Iottigina doRadicci parapintar. nhista caxiense Iotti não conquistou o mercado do

Loja do Radicci - A re- constam os considerados gaúcho com um persona­vista, mantida pelos anún- "grandesquadrinistasinter- gem regional. E, mais: comcios,mostraoRadiccisem- nacionais". Ele lembra de uma editora própria, inde­precomogaroto-propagan- ter sofrido influências do pendente das grandes edi­da Há também uma loja, a trabalho de Angeli, dos toras que insistem em não

"Radicci Club", que vende quadrinistas gaúchos das apostar na HQ nacional.avental dechurrasco, cami- décadas de 70 e 80, e do ZéDa_lva

uito além dos

grandes centros edas principais

editoras, o quadrinho naci-onal faz sucesso. EmCaxiasdo Sul, no interior do Rio

, Grande do Sul, o persona­gem Radicci é moda na ci­dade. O responsável pelaobra é Carlos Henrique

I.

Iotti, 30 anos, caxiense,quadrinista e músico.

A âncora do sucesso deIotti é a revista Gibizán do

Radicci, lançada em feve­reiro deste ano, em ediçõesbimestrais. A capa é colori-

da, papel couchê e o miolo

completa as 40 páginas empreto e branco. Com cola­boradores como Santiago e

Verissimo, a revista saltoudos 3 mil exemplares inici­aispara os 10mil,nonúme­ro 4, publicado em outubro.

O Gibizon traz coletâne­as de tiras já publicadas emjornais junto com históriascurtas e inéditas. Além do

Radicci, a revista apresentaoutros personagens criados

por lotti. Um caso é a duplaFederido eFellini. Federicoé ummenino que atormenta

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Extremamente regio�al -

e extremamente uruver­

sal, a um só tempo. Estarara capacidade de travar contatoe empatiaimediatas comvariados

tipos de leitores, através de um

grafismo de linhas claras, sofisti­cadamente simples, pode ser no­

vamente constatada no álbumPovaréu. Nas 28 páginas da obra,lançadahápoucopelaL&PM Edi­

tores, de Porto Alegre, NeltairRebés Abreu, oSantiag�aao público uma coletânea especi­al. Ou melhor, com uma de suas

especialidades: os grandes pai­néis, lotados de gente e de huma­nidade. São 13 panorâmicas, de­senhos onde consegue dar plenaindividualidade a cada membroda multidão.

Com uma apurada capaci­dade de observação, a serviço dohumor, do lirismo, da critica soci­al e até do insólito, o gaúcho San­tiago retrata nas 13 pranchas quecompõem Povaréu uma síntesedo ser humano e suas principaisnecessidades, motivações, alegri­as e problemas. O cenário podevariar do rural (cenas da vida

campeira, um boteco de gaúchos)ao caótico centro de uma grandecidade, ou ao falso chique de umrestaurante caro. O que nãomudaé a abundância de detalhes, a vi­são minimalista que a todos os

elementos retratados confere im­

portância.Em Santiago, o absurdo e o

inusitado convivem - mais oume­nos pacificamente - coma norma­

lidade aparente das coisas. O te­

são, a raiva, a ostentação, a ami­zade, a briga e o ódio - tudo isso e

muito mais, filtrados pelo humore oamor aos personagens, tornamessas panorâmicas atraentes. Épreciso atenção, e uma segunda -

ou mesmo terceira - leitura parasacar todas as armadilhas que o

desenhista armou. Aí então vocêvai notar uma inesperada transa

de cachorros através deumaárvo­reo Ou um autêntico extra-terres-

."

GOtre desapercebido na multidão

apressada. Ou a personagemMafalda (do cartunistaargentinoQuino) entre as crianças no pátioda escola. Ou ainda um

indefectível punguista que, comarte certeira (inexistente nos atu­

aisassaltantes e trombadões), pin­ça a carteira no bolso da vitima,enquanto olha inocentemente

para o lado.Seu desenho é registro de

nosso tempo e de suasmudanças,e é também invenção. E não raro- como em outros criadores visu­ais (Hitchcock, por exemplo) -

podemos encontraropróprio San­tiago auto-retratado em algumcanto de suas pranchas. Nota-seque a seleção e edição destas pa-

norâmicas (de várias épocas dacarreira do artista) busca pegarcarona no sucesso mundial, e bra­sileiro, da série Onde está Wally?Tambémnas pranchas criadas peloamericano Martin Handford en­

contram-se multidões, nos maisvariados cenários e atividades. E,nomeio delas, difícil de ser locali­zado, embora a camisa listrada e o

gorro na cabeça, o protagonistaWally.

. Atento ao apelo potencialque seu trabalho tem junto às cri­

anças (apesar de nunca ter editadonada especialmente para elas, aoque parece), Santiago avisa, na

capa de Povaréu: "Não é proibidocolorir, pintar, bordar, nem procu­rar o cachorrinho." Nas páginas

Jornalista e escritor, autor de Tiques e Taques(poemas, Editora Klaxon, São Paulo, 1983), A

Impressão da Cultura (ensaios jornalísticos, Edi­tora Sulina, Porto Alegre, 1990) e Lá Vem o QuePassou (poemas, Secretaria Municipal da Cultu­ra, Porto Alegre, 1993).

finais do livro (um dos campeõesde vendagem da 40 Feira doLivrode Porto Alegre, entre outubro e

novembro de 94), fichas de leituradesafiam o público a encontrar

este ou aquele bonequinho nos

desenhos - exatamente comoacon­

tece na série Wally. Só que, nocaso de Santiago, o chavão é per­feitamente cabível e verdadeiro:trata-se de diversão qualificada -

com uma pitada de reflexão críti­ca - para leitores de todas as ida­des. Mesmo.

José Antônio Silva

o caricaturista brasileiroLoredano Cássio Silva Filholançou recentemente, pelaEditora Globo, o livro Loredano,um balanço dos seus 22 anos decarreira. Em 176 páginas, a obratraz interpretações de 300personalidades, brasileiras e

estrangeiras, do mundo político,cultural e artístico.Carioca, 46 anos, Loredanocomeçou a trabalhar na imprensacomo jornalista e por volta de1972 conheceu o caricaturistaargentino Luiz Trimano, o artistaque mais o influenciaria. Depoisde alguns anos dedicados a

caricaturas não políticasLoredano partiu para a Europa,onde durante seis anos foicolaborador de diversos jornais.Entre esses se destacam LaStampa e La Repubblica, na Itália,Libération, na França e FrankfurterAllgemeine, na Alemanha. Entre1984 e 1992 viveu na Espanhacolaborando intensamente com o

jornal EI País, principalmente com

caricaturas políticas.Atualmente vivendo no Rio,Loredano decidiu publicar suacoletânea de caricaturas como

conseqüência natural de seu

trabalho de revalorização dasobras de grandes caricaturistas,como Nássara e Trimano. Emoutubro, o artista brasileiroapresentou seus trabalhosnaFeira Internacional de

Frankfurt.

Jaime Luccas

FEV 95 - ZERO ZINE

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Lei completa 32 anos sem ser cumprida·Decreto nº 52497, de 23 de setembro de 1963,

disciplina a publicação de histórias em quadrinhose dá outras providências

o Presidente da Re­

pública, usando da

atribuição que lheconfere o art. 87, itemI, da ConstituiçãoFederal e

Considerando a impe­riosa necessidade de

disciplinar a explora­ção das chamadas his­tórias em quadrinhos,dada a influência queexercem sobre o con­

dicionamento emocio­naI e a formação mo­

ral da infância e da

adolescência;Considerando quemuitas dessas publi­cações inserem histó­rias de cunhopolítico­ideológico, ou estam­

pam cenas altamenteprejudiclais à boafor­maçãomoral e mental

da adolescência e da

infância;Considerando a fre­qüência com que as

histórias publicadaspelas revistas e jornaissão divorciadas no

nosso contexto cultu­ral;Considerando a con­

veniência de se utiliza­rem, para a formaçãode uma consciênciahistórica nacional danossa juventude, cer­

tos tipos e mitos fol­clóricos brasileiros,inclusive curiosidade

referentes ao meio fí­sico, fauna e flora;Considerando que a

enorme quantidade domaterial estrangeirodestinado à substitui­ção do gênero entra

no país sem pagarqualquer taxa;Considerando quecumpre ao Governoevitar a evasão de divi­sas com importação dematerial desnecessári­os em virtude da exis­tência de congêneresde produção nacionaldecreta:Art 1- As empresaseditoras de históriasem quadrinhos deve­rão publicar no con­

junto de suas edições,histórias em quadri­nhos nacionais nas se­

guintes proporçõesmínimas: 30% (trintapor cento) a partir deI de janeiro de 1964;400/0 (quarenta porcento) a partir de 1 de

janeiro de 1965; e,

finalmente, 60% (ses­senta '���" cento) ..�partir de 1966.

1 - Para efeito decálculo da percents­gem a que se refereeste artigo, levar-se-áem conta tanto o nú­mero total de revistasde histórias em qua­drinhos publicadaspor editora, quanto o

número de páginas do

conjunto de ediçõesdo gênero, feitas men­salmente por empre-sas.

2 - Quando se tratarde jornais, a percen­tagem será contadaem função do númerode "tiras" de históriasem quadrinhos publi­cadas por exemplar.

Lei de reserva de mercado garante60% para produção nacional mas não

é cumprida por jornais e editoras

osquadrinhos nacionais nunca che­

garam a ter o mesmo espaço dasHQs importadas, por isso os

argumentistas e desenhistas brasi­leiros sempre precisaram enfrentar a

falta de interesse do público e, principalmente,das editoras. A concorrência desleal do materialimportado, publicado massivamente no país -

porque custamais barato para a editora do quebancar uma produção nacional - mantém a

maioria dos desenhistas desempregados ou tra­balhando em outras áreas.A vontade demudar esta história émais velha

que amaioria dos leitores de HQ no Brasil. Em1963, o presidente João Goulart assinou urn

decreto que garantiareserva demercado de 60%� para histórias nacionais. Mas os interesses po-�,ol líticos das grandes editoras e dos jornais, que

_e, 1\ não queriam e não querem este tipo de lei,, dos n. :��baram �d(Pcom que ela não fosse regu­

lamentallii: --Antes mesmo do decreto ser promulgado, o

jornal O Estado de São Paulo publicou, em 29de junho de 1961, urn artigo em que dizia ser

"absurdo o projeto visando anacionalização dashistórias em quadrinhos." Junto com as pres­sões de outros grandes jornais da época, a leiacabou praticamente esquecida e os desenhistassem urna posição definida, já que o decreto.previa a regulamentação de um código profissi­onal para a classe. Além disso, a lei foi criadapara tentar evitar a entrada de histórias estran­geiras no Brasil, que não pagavam impostos e

ainda difundiam valores culturais de outros

países. Para combater isso, outro item previa o

uso das HQs produzidas aqui para divulgar acultura brasileira.Em 1981, um deputado paulista reapresentou

a lei ao Congresso Nacional, mas as editorasconseguiram que o texto fosse alterado antesmesmo de ir à votação. Todas as históriastraduzidas no Brasil passariam a ser considera­das nacionais. Desta maneira, qualquer HQimportada tornava-se brasileira e os 60% dareserva de mercado eram cumpridos. Com este

artificio, não havia mais necessidade de se

pagar a produção nacional e, pela segunda vez,as editoras deram uma rasteira nos artistas bra­sileiros e inviabilizaram um mercado potencialpara a sua produção.O ex-deputado Ibsen Pinheiro percebeu o

"engano" na redação do decreto e levou o

problema à Comissão de Justiça da CâmaraFederal, que convocou representantes das edi­toras e dos desenhistas para resolver a questão.Henfil, Fortuna, CláudioPaivaeEdgarVasquezforam a Brasília representando os quadrinistas,mas o acordo entre empresários e arti stas não

Luta porespaço divideartistaso Zero ouviu alguns dos auto­

res do mundo dos quadrinhos,chargese cartunsbrasileiros, so­bre o decreto n!! 52497, que ga­rante a reserva de mercado de60% para as HQs nacionais.

"Já fui a favor, já fui contra. Acho queuma reserva de mercado não tem senti­do. O espaço pode ser conquistado, e

uma lei assim não ajuda em nada. É difícilganhar da DC e da Marvel. O quadrinhobrasileiro jamais vai se firmar em defini­tivo, por causa das características dacultura brasileira. Vou procurar outrasáreas de trabalho, como o teatro e o

cinema."

Angeli, criador da revistaChiclete com Banana

"Acho meio ridícula esta lei. Não se podeimpor condições no mercado. A HQ bra­sileira deve se impor para o leitor. A saídaé o humor como o Laerte e as editoraspequenas estão fazendo. O público nãoacredita no material brasileiro porque a

cultura estrangeira é muito forte aqui."Leandro Luigi Del Manto,editor da Editora Globo

"É bom uma reserva de mercado que criaum mercado livre para a HQ nacional.Nossos quadrinhos só são ruins porfaltade incentivo."Santiago. ca�nnrtagaúcho

"Sou a favor dalei. O mercado de quadri­nhos no Brasil já é definitivo e viável."

lotti,criador do Radicci

"Uma lei assim pode ser complicadapara os quadrinhos brasileiros. Como o

preço dos importados é bem mais bara­to, isto pode acabarfazendo com que as

editoras simplesmente parem de publi­car quadrinhos de qualquer nacionalida­de."

Fernando Gonsalescriador do Níquel Náusea..

FEV 95 - ZERO ZINE

saiu. Os deputados preferiram ficar em cima domuro e pediram veto à lei de 1981 para o entãopresidente João Figueiredo. A Comissão deJustiça exigiu uma nova redação para a lei e umacordo posterior entre as partes, que nunca

chegou a acontecer.Conforme o Prodasen (Processamento de

Dados do Senado), responsável pela atualiza­ção das leis brasileiras, o decreto continua em

vigor, sem ser cumprido. Há 31 anos a situaçãodos quadrinhos nacionais continua amesma, asoportunidades oferecidas pelas grru;eies edito­ras aos desenhistas são mínimas. 1, para não

depender deste "espaço", a saída éíerriscar nasproduções independentes. Para ; desenhistaSantiago, que atualmente faz charges e cartuns

para jornais sindicais do Rio cgande do Sul,essa situação poderia começar�l mudar se os

desenhistas de todo o país se /�issem em um

sindicMo.lije acredita que fi'" t.::n���:. ...1� -ssim

teriamais ffli 'Y" �"tÍlaIlCeS de brigar pela regula­mentação da lei. "

"Seria muito bom se o

público percebesse que o

material produzid.o no

Brasil, e por brasileiros,é tão bom ou até. melhordo que muita coisa Q4J;6ifPvem de fora. Mas paraisso acontecer é preciso

(tUB. exista um lugar dignoe definifvo para a HQbrasileira no mercado"

Edgar VasquezJá Edgar Vasquez, criador do Rango (veja

perfil nesta edição) e diretor de arte da assesso­ria de comunicação da prefeitura de Porto Ale­gre, acha que um sindicato não é a saída ideal.Para ele, a "classe é muito desunida e algunscartunistas não querem a lei. Como o Ziraldo,que é contra a reserva de mercado e acha que o

quadrinho nacional deve competir com o es­

trangeiro. Seria muito bom se o público perce­besse que o material produzido no Brasil, e por

brasileiros, é tão bom oumelhor quemuita coisaque vem de fora. Mas para isso acontecer, épreciso que exista um lugar digno e definitivopara a HQ brasileira no mercado."lotti, criador dos personagens Frederico &

Fellini, também acha isso. Completamente a

favor da reserva de mercado, ele afirma que háum campo de trabalho definido e que a HQnacional é viável. A prova disto é a editora doautor, que lança no Rio Grande do Sul os

trabalhos dos desenhistas gaúchos, com tira­gens mensais de 10 mil exemplares.Outro exemplo é a Agência Funarte - uma

versão nacional dos Syndicates norte-america­nos (detentores dos direitos de distribuição) -

que publ.cou, de 1985 até ser extinta pelogoverno Collor, uma página só com tiras deartistas brasileiros no Jornal de Brasília. O

preço do material era o mesmo das tiras ameri­canas e 70% do lucro ia para os desenhistas,euquanto o restante ficava para a agência.Logo depois do fim da Funarte, um dos seus

membros resolveu continuar dando força aos

quadrinhos brasileiros. O ex-colaborador dojornal Pasquim,Ricki Goodwin, fundou aPaca­Tatu e continua distribuindo as HQs brasileiraspara diversos jornais do país.Sacanagem - Apesar deste apoio, os qua­

drinhos nacionais continuam marginalizados e

quase desconhecidos do grande público. A edi­tora Abril, por exemplo, não publica nenhumahistória nacional desde que Mauricio de Souzalevou a Turma da Mônica para a editora Globono fim da década de 80. O diretor responsávelpelaAbril Jovem, Sílvio Fukumoto, afirma quea editora já publicou HQs brasileiras, mas nãodeu certo. "Publicamos Os Trapalhões e OMeninoMaluquinho, mas o mercado não acei­tou. O público prefere o material estrangeiro,que tem melhor qualidade.

"

Fukumoto garante que a Abril é a favor doquadrinho brasileiro, tanto que a editora man­

tém urna equipe de desenhistas, roteiristas e

arte-finalistas produzindo o material dos Estú­dios Disney no Brasil, em Zé Carioca,Marga­rida, Urtigão e O Pato Donald. Se é que pode­mos considerar o mundo Disney como "quadri­nho nacional."Mas, com certeza, a HQ brasileira foi traída

por quem tradicionalmente mais dá apoio aos

quadrinhos: os jornais. As tiras diárias, queimortalizaram asHQs, não oferecemmais espa­ço para os desenhistas do Brasil. A maior partedelas, publicadas em quasetodososjornais, sãoimportadas e apenas a Folha de São Paulo e o

Jornal do Brasil cedem espaço considerável aoautor nacional.

Reportagem: Alessandro da Silva

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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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,

ararso

')"Tem uns caras que casam e

trazem a coleção aqui, porque a

mulher não quer aquela bagulhadaem casa e a mãe diz que não tem

mais nada a ver com isso. "

.FEV 95 - ZERO ZINE

A Gibiteca Henfilpossui 30 mil obras e

recebe 200 leitorespor dia, mesmo sem

apoio da Secretaria de Cultura de SP

Umano e meio lendo ou quatro malucos". MágoaAntiga - Além de

�uadrinhos sem p�rar! Este Agendacheia-Oacervofoicrescendo tudo isso, os faozines Saga,e o tempo que sena neces- à medida em que a Gibiteca foi Panacea, Marvel News,sário para esgotar os 30mil ganhando divulgação nos meios de Círculo dos Quadrinhos e

volumes da Gibiteca Henfil, de São comunicação. "Temcarasquecasam Clipping também têm horasPaulo. As opções vão do infantil ao e trazem a coleção aqui. A mulher reservadas para suas reuniões de

pornô e incluem, além das revistas de não quer aquela bagulhada em casa pauta. No escasso tempo que sobra,linha, centenas de álbuns, outro tanto e a mãe diz que não tem mais nada os membros da Associação dede faozines, quase todos os livros com isso" , diverte-se Klink. Quadrinistas e Caricaturistas de Sãopublicados no Brasil sobre o assunto Entretanto, ultima te a falta de Paulo (AQC-SP) se encontram. Sãoe cerca de quatro mil obras pessoal, de material todas iniciativas sem qualquer ajudaestrangeiras, entre elas gibis feito com que as daPrefeitura,atéporqueoficialmenteportugueses da década de 30 - as recusadas. aGibitecanemexiste,jáqueoProjetomaiores raridades do acervo. As revistase oarquivadasem de Lei que a cria não foi aprovado.

Há oito mil sócios da gibiteca, caixas de leit' adaptadas, os A bro. dos fundadores dana maioria adolescentes. Para se faozines empi dos em caixas de Gibitecaoofiia SecretariadeCulturacadastrar e poder levar os gibis para televisão, os

.

ngás ainda nem remonta a uma questão anterior àcasa, não é preciso pagar taxa de foram catalogad se - o pior de tudo financeira. Ela se chamaria Victor

inscrição nem mensalidade, basta - é comum mirem revistas. Civita, em homenagem ao então re-morarnaGrandeSãoPauloeterficha "Esqueç qua rcoisaqueenvolva cém-falecido fundador da Editora

limpa no SPC. Cerca de 200 pessoas dinheir()� ". \ �»�do por Abril. Marilena Chauí, secretária dovisitam a Gibiteca pordia�W ·�et apoio dã"'Secret�l�,�emodeLuízaErundina,mandouler sentadas à mesa ou dei�----apesar de toda a badalação da mídia ãóis bil},,�ha� primeiro diziaalmofadas. Estão à disposição quase - do Fantástico inclusive - e do "pensem no nom 'de Henfil" e o

lOmilvolumes, os números repetidos sucesso dos eventos promovidos. segundo "a Gibiteca irá se chamareos 800mangásjaponeses. Revistas E são muitos oS.J:.",�ntos_EV1 . Henfil", "É inegável o .mérito daque têm um único exemplar ficam meados de outubro, por exemplo, o obra de Henfil, mas civita fezmuitonum recinto fechado e só podem ser novo álbum de Lourenço Mutarelli pela realização de nosso sonho", dizacessadas se solicitadas. foi lançado na Gibiteca e vendeu Klink.

Os cinco funcionários são pagos noventa exemplares numa só noite. Problemas à parte, a Gibitecapela Secretaria de Cultura da cidade Pouco antes, houve uma exposição MunicipalHenfil vai sobrevivendo ede São Paulo, que cedeu espaço na sobre o Fantasma. A Gibiteca visitá-la é obrigação para os fãs deBiblioteca da Vila Mariana para que participa das tantas mostras quanto quadrinhos. Ela fica na rua Senaa Gibiteca fosse instalada, aprovei- possível, das Bienais deQuadrinhos Madureira número 298, Vila Ma­tando a ressonância do boom dos e promove os prêmios Angelo riana,dezminutosapédoParquedoquadrinhos no final da década de 80. Agostini e HQ Mix. Na manhã do Ibirapuera. Para quem quiser fazer"Klink", que não revela o primeiro primeirodomingodecadamês, abre contato à distância, o CEP é 04021-nome "porque é muito feio", conta suas portas para uma feira de troca 050 e o telefone (OIl) 574-0389. Oque em maio de 1991, quando a de gibis. As tardes de sexta eos horário de funcionamento é das 9 àsGibiteca foi inaugurada, havia pouco sábados estão reservados aos joga- 20 h, de terça a sexta, e das 10 às 17maisdemil exemplares, todos doados dores deRPG. Nos domingos à tarde h aos sábados e domingos.por seus idealizadores - elepróprio, o é oencontro doOrcade, um grupofieescritor Álvaro deMoya e mais "três fãs dos quadr�os japon� Maurício Oliveira

f'

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Gibispodemter espaço na

biblioteca. Santa idéia, Batman!

. Isso mesmo Robin, estãoquerendo criar uma gibiteca na

,UFSC!

E verdade, Batman, Robin,Mônica, Tio Patinhas e companhiaterão um lugar reservado só para

eles na universidade, Emoutubro, professores,

bibliotecários e especialistas emHO discutiram a possibilidade decriar um setor especializado em

quadrinhos na BibliotecaUniversitária. A principal questão

do Seminário sobre quadrinhos,promovido pela própria

biblioteca, era até onde os

quadrinhos podemser um produtode enriquecirrento cultural ecomo ele pode ser usado de

forma didática no ensino infanto­juvenil.

De um lado professores e

especialistas em HQ, como o

quadrinista e cartunista deFlorianópolis Zé Dassilva, usavamtodas as armas para provar que

os quadrinhos podem trazervantagens para a universidade.

Do outro, bibliotecários e

rrembros do ConselhoUniversitário ouviam, céticos,

não acreditando que o velho gibipudesse ser útil de uma outra

forma, que não a da pura e

simples diversão aos estudantes.fkpois de algumas horas deexposição de argurrentos, a

opinião final foi unânirre: umagibiteca só traz vantagens para a

Biblioteca. "Ogibi serve como

ponte para aqueles que não lêemnada até a literatura, é um

estímulo para se coueçst a ler",dizEglê Medeiros, escritora e ex­

assessora da Fundação Nacionalpara o Uvro Infantil. Zé Dassilva

lembrou que além de ser um localde estímulo à leitura de

quadrinhos, a gibiteca pode darapoio aos desenhistas locais,

estimulando a produção dequadrinhos regionais.

&boços - Apesar de todo apoioque vem recebendo esta históriaainda está nas prirreiras traças.

Um projeto específico para a

criação da gibiteca não foipreparado, questões como

acervo, local e verbas não foramdiscutidas oficialrrente. Existemidéias, e uma delas é conhecer

gibitecas maiores e mais antigas,que possam repassar suas

experiências. Um bom exemplo éa gibiteca municipal de São

Paulo, ou Gibiteca Henfil, como émais conhecida. Ela é a maior doBrasil e dispõe de mais de 30 niltítulos. Lá todo acervo foi obtidoatravés de doações, inclusive de

editoras especializadas emquadrinhos. Aqui a gibiteca da

UFSC quer levantar seu materialda rresma forma.

O acervo deve ser bem eclético,com obras que vão desde o estilo

Mônica até áfbuns de luxoeuropeus. Assima gibiteca

atinge um público variado. Masnada está definido, o que resta éesperar o próximo capítulo paraconhecer o final desta aventura.

Van Boechat,

ZERO ZINE - FEV 9516 I

--- -

A hislólia de um ex-olonisfapolicial que hoje 'alula milhões de dólales

Todomundo conheceMau­

rício de Sousa. Desenhis­ta e empresário, 59 anos,

pai de cerca de 200 perso­nagens que vendem milhões derevistas por mês, "O Mais Bem­Sucedido Quadrinista do Bra­sil". Só que nem sempre foi as­sim; no começo da carreira, o paida Mônica e do Cebolinha teve

que enfrentar o dia-a-dia de um

repórter. Ele aceitou o cargo na

Folha de São Paulo em 1955

porque parecia ser o único meio

que tinha para publicar seus de­senhos. "Na época, a única vagaera a de repórter policial. Che­guei no primeiro dia de trabalhovestido a rigor, com capa e cha­

péu. Foi muito engraçado, todomundo riu", conta.

Mauríciotrabalhava feito lou­conaqueletempo. Duranteodia,como repórter. À noite, como

desenhista. "Lá pelas 3 horas damanhã precisava parar, não

agüentava mais". Como naquelehorário não tinha condução paravoltar para casa, às vezes elejuntava três cadeiras na redaçãoe dormia ali mesmo. Em 1959,começou a publicar na Folha as

primeiras tiras do Bidu, que no

início eram semanais e sem assi­natura. Um ano depois, encerrousua carreira na editoria de polí­cia: "Tive muita sorte. Em cincoanos de atividade,jamais vi san­gue". Ainda em 1960, semudoupara Bauru (interior de São Pau­lo), onde nasceu Mônica, sua

segunda filha. Foi numa tira do

Cebolinhaqueopersonagem ins­

pirado nela apareceu pela pri­meira vez, e roubou a cena.

O ano era 1963 e Mauriciotinha voltado a São Paulo paratrabalhar na Folhinha. Ele pre­cisava de uma menina para divi­dir as tiras com Cebolinha,Franjinha, Titi e Jeremias.Achou o que procurava na pró­pria filha, com dois anos e meio,

?J'briguenta e sempre agarrada ao comumatiragt ude2milhõesdeseu coelhinho de pelúcia . "Ge- exemplares. tralmente me inspiro em pessoas Aprincipalint# uênci.adeMau­de verdade e com todos os perso- ricio de Sousa f�l� as revistasnagens tenho uma rela� depai da Rio Gráfica Ed.Qtora da déca­para filho. Quando tenho que dade40,principahl enf.eoGimeaprovarumahistóriadaMônica, o GloboJuvenil.:tI� sua infãn­vejo como ela está vestida, se cia, as histórias �ft.l3drinhosnão�, agrc::s�iv� demais, se o ����er;dflS:ft;a Ji.w',.�fo�­que diz e pOSItIVO . ���..�.�ças.�llA!l •.Ja-

Tanta "corujice"1m! fWlicaL' aotevesorte: seupai achava queção. Graças à n.#na daMôni- toda leitura somava cultura" e

ca, as indústrias quetrabalham semprechegavaemcasa.dabar­com aMauriciodeSouzaProdu- bearia onde trabalhava" com al­ções faturaram cerca de 250 mi- guns quadrinhõs para o :fi1ho.lhões dedólares em 93. Aempre- "Eu gostava mais do Gib;. quesa, instalada na Zona Norte de tinhaoFemandinho,caipiraqueSãoPaulo, tem 120 funcionários nemoChicoBemo.Masaminha

. e trabalha com mais de 2 mil prediletaera1heSpirit.wnahis­produtos ligados aos persona- tóriapolicial super bem feita, dogens.brinqaedos.roepas.alinee- Will Eisner. Tudo que eu seitos e outros artigos para crian- sobrecriaçãoeoarrativaaprmdiças. Em 1987, depois detrocar a nas histórias dele. meu guru e

Editora Abril - onde trabalhou hoje amigo". Com o tempo, osdurante 17 anos - pela editora personagens da TUTIIIQ foramGlobo, suas revistas começaram evoluindonotraço eno compor­a vender mais que as da Disney. �. AMônica. por exem-

.

Na época, a editora chegou a plo, era'lduito� no inÍ­imprimir 3,5 milhões de exem-

.

cio.mashojesóusaoSansãoseplares por mês, com os títulos a twma aprontarmuito,. MesmoMônica, Magali, Chico Bento, assim, Mauricio não gosta queCascão eCebolinha:Atualmen- ela apareça batendo; wna fuma­te são onze revistas diferentes. cinha insinua o lance.

Os novos personagens N"unbus e Do Contra inspiTaáo!f nosfilhos; cil{1I11B

Essa preocupação com o con­

teúdo das histórias vai levar ospersonagens deMauricio de vol­ta aomercadoeuropeu.Nosanos10, na Alemanha, suas revistaschegaram a lDD3 tiragem de 60mil exemplares DM!II$8Ís. HaviarevistasnaDinamarca. Noruegae IngJaterra. Noinício da década�P_

ahcCeIJ a "'invasão� no.men:ado europeu,commnpaaJteque induia, alémdas revistas. seriadosedesa1hoc;.animados para a TV. Aporradacomia solta.Hoje. osgibis brasi­leiroswltaramàmoda. "'OmlDl­do inteiro busca material igualao nosso. está saturado da vio­lência das histórias japonesas" .

O últimofilão descoberto porMaurício de Sousa são os par­ques de diwrsões. OPtuqW da

Mônica. emSãoPaulo. foi inau­guradoemjaneirode 1993 e. emmn ano de fUncionalllfJ'lfo. rece­beu tunmilhãoemeiodevisitan­teso Já existem projetos paraconstruir parques DO Rio de Ja­neiro. em Curitiba, Boston e

Miami. O objetivo é trazer devolta a intância à moda antiga:"Osparques vãoresgataroquin­talperdido. ondea criança possaescorregar na grama e subir emárvores". Viajando mn poucomais. Mauricio prevê que em

breveos leitorespoderãoint:eragircom o universo da Turma da

Mônica. através de revistas em

realidade virtual. Viajando maisainda. eleprevêpara a virada doséculo um grande showtridimensional transmitido viasatélite. reunindo os principaispersonagens de HQ no mundo."Já falei com algumas pessoas,queacharamumaboa idéia.Maspor enquanto é só sonho .. .nem

um pouco impossível".

Renata Marques

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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dos balõezinhos e a capa em cores.

Cláudia Lévay, advogada cri­minalista e ex-professora primária,encontrouum campo fértil para a sua

criatividade. Alicerçada muna pes­quisa exaustiva, partiu para seu pri­meiro projeto, imediatamente apro­vado pelo editor, por se tratar detema atual na luta ecológica mundi­al: a Amazônia.

A partemais trabalhosa foi exa­tamente a de pesquisa. E a mais

demorada.OresUltadopodesercom­provado nas ilustraçõesminuciosas.Todas as árvores, folhas, insetos,animais, detalhes e imagens secun­

dárias são cuidadosamente verídi­cas. Diferentemente de outros traba­lhos no gênero, os desenhos são rigo­rosamente verazes. O que desperta a

identificação dos leitores mirins.

(Naspalestraseapresenta\)ÕeSquefaznas escolas, ao vivo, a autora depa­ra-se com a constatação das criançasque reconhecemnos desenhos dos pei­xes, os mesmo peixinhos em suas ca­

sas, pois grandepartedoshabitantes deaquários em SãoPaulo são origináriosda Amazônia).

T .�nClI(Jocorno FcolooiaemOua-

If•

IGibi didático defende a natureza e o espaço do quadrinho nas livrarias

O saudoso editor CaioGracoPrado comprou osdireitos para o Brasil de

um livro de Luca Novelli, inicianteautor italiano, sobre o meio ambien­te. Nessa época, sua editora obtiverasucesso com as coleções PrimeirosPassos, O Que É, etc. Teve a idéia,portanto, de desmembrar a obra ita­liana nas pequenas publicações sobo título Ecologia em Quadrinhosvolumes 1 e 2. E fim.

LucaNovellivoltou-se para ou­tros projetos, em seu país natal, e a

Brasiliense se viu com uma coleçãode apenas dois volumes.

Mas, a visão editorial de CaioPrado Jr., herdada de seu pai, CaioPrado, fundador da EditoraBrasiliense, juntamente com Mon­teiro Lobato e Arthur Neves, era ili­mitada. Ao se deparar com as tirinhas

para jornal da jovem autora CláudiaLévay, publicadas nos jornais AGazeta, Diário Popular e Folha daTarde, bem como suas charges polí­ticas em O Estado de São Paulo, viuali a solução. convidou-a para fazerum terceiro volume da coleção. Eacertou. Ela não só escreveu o texto,mas desenhou tudo, fez as letrinhas

drinhos, volume 3, Amazônia virouum best-seller. Em poucos meses, al­

cançou a quarta tiragem Com os dois

primeiros volumes tinham sido im­

pressos empreto e branco, esta terceiraobra também o foi. Issopossibilitou àsprofessoras e diretoras de escolas, bemcomo às orientadoras pedagógicas,escolherem o livro para seus alunos,pois opreçoera e é omesmo deumgibinas bancas de jornais. Dessa forma,também as esco-

las de periferia,com famílias de

baixopoderaqui­sitivo � ideramadotaro livronasáreas de Biolo­

gia, Ecologia,Geografia e ou­

tras. E contar

com a presençavivadaautoraemsuas aulas.

Essa pri­meira experiên­cia brasileira na

coleção possibi­litou a verifica­çãode que as cri­anças liam o li­vro como um

verdadeiro gibide aventura. A

presença de Jor­

ge Ginga, um

jacará simpático,

a avalanche não tirou ohábito da leitu­ra atenta dos baixinhos. Pelocontrário.As questões de conteúdo eram respon­didas mecanicamente pelos estudan­tes, como se suas perguntas fossemditadas pelos pais ouprofessores. mas,os detalhes de uma simples joaninhanum canto perdido de um quadrinhoera anotado por todos os aprendizes,.Surpreendente. O leitor era conquista­dopela históriabásica epelosdetalhes.

O conteúdo ab-sorvido poste­riormente.

Aexperiên­cia deAmazônia,principalmentepelos resultadosaferidos nas sa­

las de aula, leva­ramaovolume4,Pantanal. Destafeita, a autora,maislivre,oonse­guiu inserir os

conceitos indis­

pensáveis a umaobra didáticadentro de uma

narrativa emi­nentemente in­fantil, com mes­

cla de gibi e delivro infanto­

juvenil tradi­cional.

Em Panta-nal, a busca da

onçaRainha Leôncia assumecaracte­rísticas de livro infanto-juveniL Já a

aventura é típica de gibis. E a didáticaestá embutida nos conceitos inteligen­tes emitidos no inicio da saga. Nova­mente comandada pelo jacaré (agora

Amazonia e Pantana� ensinamnoções de ecologia com linguagem

de História em quadrinhos, etornaram a autora Cláudia Livayreconhecida internacionalmente

e o papagaioEurico conduziram a ação num planolúdido. O humor entrava entrosado nahistória, fluente-e atraente. O desenhotinha os tchans dos comics made in

USA. E detalhes que não escapavam àleitura acurada dos petizes. Parece que

astro) Jorge Ginga e seu amiguinho, opapagaio Eurico, mantendo a tradiçãodas histórias em quadrinhos de criarpersonagens fixos e identificados como leitor em sua complexa personalida­de.

Aautora apresentouos dois traba­lhos nos Congressos de Lucca, Itália,com palestras, exibição de slides, e

exposição, apresentação para os

bambini e studenti. Em 1990, Ama­zônia e na Bienal seguinte, 1992, Pan­tanal. Com idêntico sucesso. Uma

opção para Espanha e Estados Unidos

possibilitará a edição colorida tambémna Itália.

A revista romana Comic Art, deRinaldo Traini, ex-diretor dos salõesde Lucca, trouxe um artigo assinadopelo professor SérgioMicheli, da Uni­versidade de Siena, intitulado Da/Brasile, Ecologia a Quodretti.

"O gênero cômicoatravés do qualpersonagens e situações são apresen­tadas nestevolume, parece umveículoparticularmente cativante a fim de queo conteúdo enfrentado possa fluir me­lhoreportantoproduzir omelhorresul­tado possível."

E continua o professor: "Destemodo, o trabalho se apresenta muitoconvincente, considerando o fato de

que a história contada por Cláudia

Lévay aparece escrupulosamente sus­tentada por um absoluto rigor científi­co. Isso faz com que a leitura seja de

grande interesse e utilidade, tambémdo ponto de vista estritamente didáti-co."

O reconhecimento internacionalda obra de Cláudia Lévay e o sucesso

de suas edições levaram o editor CaioGraco, pouco antes de seu trágico fale­cimento, a sugerir a Cláudia a feiturade um tema sugerido pela filha doeditor: o rio Tietê.

As aquarelas de Cláudia sobre o

históricoriopaulista foramexibidas nafeira de Roma, na Expo-Cartoon, emnovembro de 1994.

Portanto, inmemorian do insubs­tituível Caio Graco Prado, o quintovolume da coleção Ecologia em Qua­drinhos, publicado este ano é: Tietê.

Álvaro de MoyaEscritor, autor dos livros AHistória das Histórias em

Quadrinhos e Shazam

, .

r lira/do avalia

situação docartum no Brasi/

É diffcil encontrar algumaatividade relacionada às artesplásticas e à imprensa em

que Zira/do não tenhaparticipado. Aos 62 anos deidade e 40 de profissão, jáfoi desenhista, cartunista,cartazista, entrevistador,publicitário, jornalista,humorista, autor teatral enunca usou o esquecidodf/Ioma de advogado.Zira/do Alves Pilto particf/oudos grandes momentos dojornalismo brasileiro.Desenhou para as revistasPenthouse e a Private Eye,dalnglaterra; Mad, dosEstados Unidos; Plexus e

Planête, da França. Hoje,dedica-se a escrever paracrianças. Uma de suasúltimas obras é a ColeçãoABZ : 26 livros infantis, ondeos personagens são as letrasdo alfabeto.

Zero - Qualo papel docartum e dos quadrinhos namfdi!l impressa?Z - E um papel de estímulo.Tudo para vender tem queter chama, uma descoberta,precisa dizer algo novo ediferente. O humor estimulaa comunicação porque édescoberta .. E o queinteressa é que o desenhodiga algo e expresse uma

boa idéia. Os cartuns e os

quadrinhos sãoimportantes, pois sãotambém uma maneira deinformar, divertir o leitor eestimular o seu dia-a-dia.Zero - A imprensa brasileiradá a devida importância aos

- quadrilhos e cartuns comofontes de ilformação?Z -Quando eu comecei naprofissão, a imprensadesprezava muito os

desenhos de humor. TirandoO Cruzeiro, que tinha o

Mil/ôr, Carlos Estevão,Péricles e alguns velhosdesenhistas quetrabalhavam em outroslugares, como o RaulPederneiras e o Calixto, nãohavia espaço parapublicações nacionais. Ascharges, caricaturas e

quadrinhos eram compradosde agências americanas.Hoje em dia, há espaço parao trabalho dos desenhistase o reconhecimentoprofissional. Eu quero fazerum levantamento dequantas charges sãopublicadas por dia no

Brasil, acho que dá mais de100.Zero - Faça uma avaliaçãodos desenhistas brasileiros.Z - Acho todos eles ótimos:desenhistas, chargistas,cartunistas, caricaturistas.O nível dos trabalhos aquino Brasil é muito bom. Sefalassem em inglês então,seriam os reis do mundo.

A/essandra Pereira

FEV 95 - ZERO ZINE

�7Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

Page 17: 4· FLORIANÓPOLIS, 1995·CURSO Ç3hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1995fev004.pdf · Verísimolança livroeassina colunanoJB Desdeodia8dedezerriJro, asisudapáginadeopinião

18

.

Como seria o mundo com a

existência real dos super­heróis? Com esta dúvida no

ar, a Editora Abril pretendepreparar seus leitores para

o lançamento da novamnissétie Marvel. A

novidade é transformar oscidadãos comuns em

protagonistas das histórias.Na segunda quinzena dejaneiro os fãs terão uma

surpresa, com o primeiro .

número da série.De acordo com Marco

Moretti, editor das revistasMarvel no Brasil, esta nova

série vem com a intençãode mostrar os super-heróisdo ponto de vista humano.

Para isso, tem como

'personagem principal ofotografo Phil Sheldon, queobserva e conta a história

através de sua própriavisão, mostrando a reaçãodos seres humanos comunsàs batalhas dos Marvels.

O primeiro número vaimostrar a visão "ingênua"

.

dos anos 40, com uma

aparição do primeiro TochaHumana, quando os super­heróis ainda podiam salvar

o mundo. Dá ênfase tambémao nacionalismo

característico da época. Osegundo número, com os X­Men, retrata o fim dos anos50 e o início dos anos 60,com todas as lutas raciais

da época. Esta ediçãocoloca a humanidade contra

os mutantes, perdendo a

confiança nos super-heróis.No terceiro capítulo da

série, que dá uma idéia decomo seria o fim do mundo,

aparecem Galactus e o

Surfista Prateado. A quarta e

última parte vem com o

Homem-Aranha. Vai mostrara desilusão com os super­heróis e pôr fim à idéia deque eles são invencíveis.A série vai contar aindacom várias inovações na

parte artística Terá duascapas, a primeira só com

desenhos dos Marvel e a

segunda em acetatotransparente, com o nome

Marvel escrito em preto. Osdesenhos no interior darevista serão à base de

fotografia e pintura,impressos em papel couchê.

Alex Ross, na arte, e KurtBusieck, no roteiro,

assinam a série, que foilançada no início do ano

nos Estados Unidos. Marvelé um dos lançamentos mais

badalados dos últimostempos e custará cerca decinco dólares no Brasil, um

dólar mais barato que o

original americano.Jefferson Dalmoro

Eraumavezwnarevista

que publicavaMoebius, Caza,Liberatore, Bilal e

outros papas daHQ européia emprimeira mão. Que tinha urna

sofisticadaapresentaçãográfica,aliada a temáticas queanteseramprivilégio dos quadrinhosunderground, e que foi moldepara muitas outras revistas do

gênero em todo o mundo.Fundada no dia 19 de

dezembro de 1974, a MétalHurlant foi urna iniciativa dequatro quadrinistas franceses:Jean Pierre Dionnet, PhilippeDruillet, Farkas e Grot. Juntos,fundaram a editora HumanoidesAssociés, que logo se tornaria a

vanguarda dos quadrinhos na

Europa.Ela não foi a primeira revista

européia destinada ao públicoadulto. A italianaLinus, de 1965,chegou antes. Mas em

compensação, abriu as portaspara desenhistas e roteiristasantes só conhecidos por leitoresiniciados. Em suas páginasdesfilaram algumas das melhoreshistórias da época.

Praticamente tudo o que o

francês Moebius publicou na

revista foi premiado:A GaragemHermética, Arzach, The LongTomorrow, O Incal. A MétalHurlant sem Moebius não seriaa mesma. Mesmo assim, um

time de ótimos desenhistas e

roteiristas segurava a barra com

dignidade. Philippe Druilletdesde o início delirava em

histórias experimentais. Em

1976, Philippe Caza iniciou sua

colaboração com histórias defantasia e ficção científica,semprecomumtraçoprimoroso.A partir de 1979 foi a vez do

húngaro Enki Bilal, com sua

atmosfera pesada emelancólica.Fez o Exterminador 17 com

Dionnet, além deoutros trabalhoscom Pierre Christin.

Além de colaboradores

exclusivos, MH publicavamateriais de outras revistas e

autores europeus. Assim foi comBarbarella, de Jean-ClaudeForest, Ranxerox, de Tamburinie Liberatore e Valentina, deGuido Crepax.

Mas não só de europeus viviaaMétal Hur/ant. Os brasileiros

Sérgio Macedo e Alain Voss,cansados de não conseguirem

Capa da ediçãoespanhola da revista

que popularizou a

fantasia deMoebius

e lançoudesenhistas de alto

tj "

------------------------------------------�-��----�--_._--

Super Heróitambémfaz cocô

publicação no Brasil fora docircuito underground, foramtentar a sorte no exterior.Desconhecidos por aqui, têmálbuns publicados na Europa e

são reconhecidos por lá. E o queé melhor: sem ter que desenhar

super-heróis.Publicando histórias de

fantasia, humor, ficção científicae aventura, sempre com pitadasde sexo e violência, a MétalHurlant ganhou fama e

conquistou novos leitores. Nãodemorou para que editoras deoutros países se interessassemem publicar seu material.Resultado: além de muitashistórias pirateadas em todos os

cantos do mundo, inclusive no

Brasil, surgiram quatro filiais: aSchwer Mfw', ":emã, a Métal

J-��-... , .:.... __yanhola, urna versãoholandesa e a Heavy Metal,americana, a mais famosa dascrias da revista original.

Misturando material damatriz com produção própria, aHeavy Metal foi a mais bem­sucedida das quatro. Publicouferas como Richard Corben,Howard Chaykin, FrankFrazetta, Charles Burns, SimonBisley e outros expoentes domercado norte-americano"alternativo". Além disso,produziu o desenho animado

Heavy Metal- Universo em

Fantasia, com histórias darevista, onde vários episódiosindependentes eram ligadosapenas pela presença de uma

misteriosa esfera verde brilhante.

Ironicamente, a matrizfrancesa faliu. Enquanto isso, aHeavy Metal continua a ser

publicada até hoje, mas perdeuespaço dentro do cenário norte­americano para os quadrinhosingleses que invadi ram omercado

ianqueequehoje são avanguardanos Estados Unidos. Quanto lOS

artistas daMétalHurlant, algunsainda publicam um ou outro

álbum esporadicamente. Outrosvoltaram ao que faziam antes deserem quadrinistas. A maioriavive mais da fama e da fortuna

queganharamna épocado "metalpesado" quedeproduções atuais.Pode parecer pouco, mas ao

menor sinal de algum trabalhonovo, os colecionadores logocorrem atrás.

Ivan Jerônimo

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Do

undergroundao

supermercado

N�o�������=-te-americanos p�s­savam por um peno­

do decadente, onde a criatividadedos roteiristas e desenhistas era

limitada por uma moral hipócri­ta. O macartismo da década an­

terior e o puritanismo da socie­dade fizeram com que os edito­res criassem um código de cen­sura: o Comics Code. Cansadosdetanta caretice, alguns quadri­nistas começaram a produzir e

publicar revistas independentes.Assim nasceu o Comix ou Qua­drinho Underground.

As histórias dos Comix ti­nham um caráter anárquico e

libertário para seus autores.Eram feitas para derrubar as

normasmorais da sociedadebur­guesa e avacalhar com tudo queo americano médio consideramais sagrado. Dessa forma, re­cuperaram a tradicional funçãocritica dos quadrinhos e des­tnúram os limites do que se po­dia representaremumaHQ. Hojetudo pode ser desenhado, desdemutilações e curras até estuprose consumo de drogas, ou qual­quer coisa que as revistas dequadrinhos de massa nãopublicavam. Mas essa revolu­ção dos comix teve seus antece­dentes.

Origem - A revista Mad,criada por Harvey Kurtzman,desafiava abertamente oComicsCode e foi uma grande influên­cia dos comix. Ela fazia sátiras,ridicularizando os grandes he­róis americanos, os filmes deHollywood e os programas deTV. Em 1954 a EducationalComics, editora de Mad, foi o

Os desenhos irreverentes de Robert Crumb (acima) e de GilbertShelton avacalharam a sociedade americana na revista Z4P.

Crumb semanteve na linha alternativa efoi atropelado pelo mainstream

principal alvo da paranóia con­

tra os quadrinhos detonada pelolançamento do livro A Seduçãodos Inocentes, do psicólogoFrederic Werthan. Mad sofreuuma dura perseguição oficial etevequetornar seu conteúdomaisameno, além de cancelar suas

publicações de guerra, ficçãocientifica e terror.

Outra influência direta fo­ram os eight papers, cadernosde oito páginas onde as perso­nagens viviam as mais loucasaventuras sexuais, desenhadassemnenhu-ma inibição. Oseightpapers, também conhecidoscomo kinky comics ou Tijuanabibles, fizeram muito sucesso

nos anos 20 e 30, quando eram

encartados dentro de outras pu­blicações. Nos anos 60 foramreimpressos por grupos con­

traculturais e se tornaram fontede inspiração para os comix.

No dia 25 de fevereiro de1968, em São Francisco, RobertCrumb lançou Zap, que é consi­derada a primeira genuína revis­ta de comix. Porém esse númerode Zap era o segundo criado porCrumb. O primeiro, feito em

1967, não encontrou saída nos

Estados Unidos e o autor resol­veu mandá-lo para a Inglaterra,onde os originais se perderam.Posteriormente, Crumb recupe­rou um jogo de fotocópias que,devidamente retocadas, forampublicadas co-mo número zero.

Papa - Totalmente desenha­da por Crumb, a primeira ediçãodeZap deu origem a uma série deoutras publicações undergrounde rendeu ao desenhista o titulo de"papa" do gênero. Depois dosegundo número, Robert Crumbabriu espaço para outros dese­nhistas na revista. Um deles foiClay Wilson, que havia tra­

balhadopara uma editora porno­gráfica parisiense. Crumb ficoufascinado pelas histórias deWil­son onde bêbados, gângsters e

piratas se enfrentavam em terrí­veis batalhas com sangue jor­rando para todos os lados, proje­tadoporcerteiras punhaladasnosgenitais. Ao lado de Crumb e

Gilbert Shelton, criador doshilários Freak Brothers e

WonderWartHog, ClayWilsonformou o trio dos mais influentesdesenhistas de comix.

Nos anos 70 uma crise mun­dial afetou os preços do papel etornou dificil a vida dos editoresindependentes. Muitos autoresforam trabalhar em publicaçõesprofissionais, como a National

Lampoon e a Playboy, e em edi­toras como a Marvel e a DCComics. Coletâneas de autores

underground passaram a ser

vendidas até em supermercados.Robert Crumb, que sempre edi­tou e distribuiu suas revistas,decretou a morte dos comix e

trocou os desenhos pelamúsica.Era necessário manter-se dentrodos canais underground de dis­tribuição, pois sem eles suas cria­ções perdiam a utilidade. "Quan­to mais dinheiro em jogo, maischance decorrupção. Deumjei­to ou de outro eles sempre te

enquadram", garante o desenhis­ta.

Ulysses Outra NettodeZap deu origem a uma série de

FEV 95 - ZERO ZINE

Herói bósnioenfrenta uma

super-roubada

9

Um novo herói surge dasruas de Sarajevo,combatendo os extremistassétvios-bôsnios e fazendoda guerra palco parafantásticas histórias emquadrinhos. Com seus

poderes de premonição e

roupa à prova de ataquesnucleares, Bosman enfrentaperigos já conhecidos doshabitantes da capitalbósnia, na primeira HQpublicada no país desde o

início da guerra. Asaventuras começam quandoBosman vê nacionalistassérvios equipados comtanques iugoslavos,planejando o ataque iniciala Sarajevo. No fim doprimeiro número, a cidadejá se aproxima da guerra.Apesar de a personagem ser

mais parecida com o Super­Homem que com um

soldado, a intenção de seus

criadores era fazer umretrato do homem bósnio."Bosman é um símbolo daspessoas que sobreviveram a

esta guerra, que se

opuseram à besta e quelutaram só com fuzis",conta Enes Pehiivsnovic,produtor da história. Longede virar um símbolo decrítica ao militarismo ou um

alter-ego dos soldadosbósnios, Bosman nãoempolgou as crianças e os

adultos reagiram àshistórias com gargalhadas."É verdade, somos heróis",disse um soldado,esforçando-se para se

manter sério. "Mas não me

acho parecido com esse

cara. Ele é a cara doBatman ou do Super­Homem, só que no nosso

ambiente". As crianças,acostumadas a fugir debombas e tiros do exércitoiugoslavo, acharam a

história fraca, comsituações ridículas.Mas o super-herói, queveste uma roupaindestrutível com o

emblema heráldico daBósnia no peito, tem fãsperigosos. Uma cartaescrita pelo garoto Denis,de 12 anos, está pregada na

parede da editora, um ex­

salão de bilhar: "Sou umrefugiado de Vogosca (emmãos sérvias). Fico feliz deter te conhecido e quero teparabenizarpor tua vitóriacontra o ma!", escreveu o

garoto. "Eu queria que vocêfosse a Vogosca e matassetodos os nossos inimigos.

n

MamaMoros

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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FrankMilleramadurece em

Sin CityQuando Frank Miller

assumiu o argumento e os

desenhos da revistaDaredevil (Demolidor), em

1979, o título estava àsvésperas de ser cancelado.Em menos de dois anos, a

revista atingia o topo domercado, transformando a

personagem Demolidor emum dos mais populares nos

Estados Unidos, fazendo o

nome de Frank Miller sersinônimo de HQ com

qualidade e

"descareteando"a lingua­gem dos quadrinhos de

super-herói.Miller, sob influência deWill Eisner e Hugo Pratt,

absorveu nos quadrinhos os

elementos cinematográfi­cos. Como argumentista,ele reestruturou a vida depersonagens clássicos e

"imbatíveis". Sob uma visãopsicológica, Miller apresen­

tava os heróis como

sujeitos problemáticos quepunham uma roupa de Iycra

e saíam para descarregarseus rancores. Foi assimcom Batman, que adquiriuum caráter sombrio após a

minissérie O Cavaleiro dasTrevas, onde aparece com

55 anos de idade, e o

Demolidor, recalcado com a

morte do pai.Os quadrinhos japonesesencantaram Frank Miller,que escreveu e ilustrou a

premiada minissérie Ronin(lançada no Brasil), sobre o

karma de um samurai e um

demônio. Na segundametade da década de 80,Miller se dedicou mais ao

texto, utilizando verdadei­ros artistas gráficos, como

o expressionista BillSiekienwicz, para ilustrar

seus trabalhos.No ano passado, através daeditora independente DarkHorse, Miller retornou ao

desenho com Sin City, em

preto-e-branco. A ediçãoamericana está disponívelem bancas especializadas,e traz Frank Miller na sua

fase mais madura.

Zé Oassilva

ZERO ZINE - FEV 95

Autores consagrados trocam a burocraciadas "grandes" pela liberdade daseditoras independentes americanas

e o dia em que terá de entregarsua alma. Toda essa confusão quevende muito gibi foi criada e

desenhada por Todd McFarlane,famoso por seu trabalho como o

Homem-Aranha e já foiroteirizado por ases como Frank

Miller, Alan Moore e NeilGaiman.Esse é outro trunfo poderoso das

independentes: cada vez maisgrandes nomes migram para ela.Além dos já citados John Byrne,Rob Liefield e John Shooter, entreoutros, aderiram. Dizem estar desaco cheio da burocracia das

grandes editoras, de não poderdecidir sobre seus personagens e

A Image só perde para aMarvel

não receber direitos autoraissobre eles. Além disso, eles nãotêm mais vínculos, podendolançar seus títulos pela editoraque mais lhes convir.Além da Image, as maioresforças independentes são a DarkHorse e a Valiant. Seus maioreshits são super-heróis e grupos de

mutant�. emhistóriasqu.tftiãofogem do padrãoMarvel. A DarkHorse faz também

adaptações de filmesde sucesso (Extermi­nador do Futuro,Predador, Aliens) elançou Robocop x

I Terminator. Issomesmo! !! O tãosonhado encontro de

megacyborgs.Correndo por fora,estão a Now Comicse a Eclipse, respon­sáveis, respectiva­mente, por Syphons(HQ sobre umaturma de super­heróis adolescentes)e Grip (surpresa, umgrupo de mutantes).

=eComo fazer para lertudo isso? É só

correr até sua importadorafavorita e esvaziar os bolsos.Nada disso foi lançado por aqui enossas amadas editoras não

parecem fazer muita questão.

�McFarlane (no destaque), criador do Spawn,é um dos responsáv�elo crescimento das indies � mercado dos Estados Unidos

N

I�S"IJ J'I)11JU' I'll"" �llrrl��� 'I 11 �_.�, I� �•..i..-.r. r �

Fábio Bianchini

Spawn é o principal título independente

f)que acontece quando,em 94, você tem uma

HQ sobre dois caras de

capa que vão impedir umamaluca que quer dominar omundo? Acertou quem disse "oacontecimento do ano". Ahistorinha de Spawn x Batmannão é grande coisa, mas isso não

importa. O que realmente conta

são os seus autores, Frank Millere Todd McFarlane, e que o

álbum representa: editorasindependentes estourando nos

Estados Unidos.A Image, que lançou Spawn xBatman é o melhor exemplo. Asegunda maior editora dos EUA

(só perde para a poderosaMarvel) conseguiu este posto àscustas de títulos com

Youngbloods, Wildcats (gruposde mutantes a la X-Men) e

principalmente o próprio Spawn- um camarada que morreu e não

gostou muito da idéia. Fez entãoum pacto com o coisa-ruim quelhe devolve a vida e o enche de

super poderes em troca de sua

alma. Só que o demônio cansou

de esperar e começou a mandarservos para acabar com Spawn e

receber sua dívida. Quanto maiso cara luta contra as criaturas do

inferno, mais perto chega seu fim

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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«---- .1_t:'�U,",w..,

moséra q7J1le lll­

mos-te podeestilll-r lll-nJlll-nJoentire n6s

I Você ainda vai senfirotoque dessa

Estaestranha terra de

onde viajantealgum jamaisretomou.

Se para Shakeaspeare era um

lugar, para seu conterrâneo NeilGaiman trata-se de uma mulher.Ela tem um visual gótico, inspiradona cantora Siouxsie, da bandaSiouxsie and The Banshees. Umamulher docemente infantil, espon­taneamente sensual, às vezes comuma vaga tristeza no olhar.

Sim, ela é a Morte. Pelo menosna cabeça de um sujeito que, entreoutrascoisas, fezoDiabotirar férias.Neil Gaiman, criador do já clássicogibi Sandman, é o roteirista daminissérieMorte: oPreço da Vida,que a parceria GlobolDevir trouxeao Brasil em setembro. O álbumfinalmente mostra como prota­gonista aquela que talvez seja amaior criação de Gaiman.

OPreçoda Vida relata a ocasiãoem que aMorte deve passar um diacomomortal, para entendermelhoro ponto de vista dos vivos. Issoacontece de cem em cem anos e,dessa vez, ela vem como uma

adolescente chamadaDidi. Para ela,todas as sensações destemundo têmsabordenovidade: comerumamaça,

ouvir música e até respirar são evita os caminhos fáceis. Não fazmomentos especiais aserem desfru- um sermãomoralista sobreo "valortados. ,.da vida", nem transforma tudo na

O outro personagem é �-il_t' celebração estiloMary Poppins daFurnival, um adolescente com personagem Didi. Tampouco cedeidéias suicidas. Aos 16 anos, está ao pessimismo quase absoluto doafundado na solidão urbana, não jovem Furnival. Viver vale a penaacreditano amor, nobeme nomal, sim, mas não é nenhum mar deno sucessofinanceiro ouemmudar rosas.

o mundo. A vida para ele é um Nesta série fica evidente uma

tédio, um vazio. das principais qualidades dosÉ claro que estas figuras opostas roteiros de Gaiman: a inteligência,

se encontram ao acaso e, a contra- o texto rico em leituras, que fazgosto do garoto, acabam passando pensar. Entre os ingleses, pode ser

juntos o primeiro e último dia de menos visceral do queAlanMoore,vida de Didi. Paralelamente, Mad mas é muito mais sutil. As vezesHettie - uma velhota de 250 anos destrincha um racionício sofis­de idade, que apareceuemSandman ticado em uma única imagem. Lê-3 - quer a todo custo encontrar seu lo é sempre um belomomento paracoração. Não,elanãoéumamorta- reflexão.viva. Hettie sabe queDidi é aMorte Apesar disso, o Preço da Vida

epedeaajudadajovem.Hátambém não é uma obra-prima. A arte deum velho místico sem olhos, Chris Bachalo é bonita e compe­metáfora deGaimanparaas ilusões tente,mas onegócio deneil Gaimanmetafisicas das religiões. Ele quer é trabalhar com Dave McKean,o ankh, símbolo que a garota traz não temjeito. A maior habilidadependuradono pescoço. Ele acredita do roteirista é e�l?lorar adualidadeque o objetovai revelar os segredos entre o simbólico e o real. Ada vida e da morte. tradução perfeita disso na arte é o

Reflexão - Gaiman lida o tempo estilo hiperrealistaJexpressionistatodocomaidéiadevalor. Trabalha de McKean, que fez as capas doa tensão entre o concreto, onde álbum. No fim das contas, nadavida e morte.nada significam, e as que torne injustopagarR$ 3,00 porabstrações humanas. Comosempre, cada urna das três partes da

minissérie.Na última parte do álbum, na

versão original, há um encartesobre AIDS, escritopor Gaiman e

desenhado por McKean com um

traço mais simples, lembrando a

minissérie Cages. Nele, a Mortedá explicações sobre a doença e

sua prevenção. Junto com o

personagemJohnConstantine, elaensina como colocar uma

camisinha. Antes que a DonaEvangelinaberre, ademonstraçãofoi feita com uma banana.

O roteirista inglês estámesmogostando de trabalhar com

músicos. Além de fazer uma

minissérie tendo o roqueiro AliceCooper como personagemproncipal- The Last Temptation- para o selo Marvel Music, a

edição encadernada do originalde O Preço da Vida tem uma

introdução da cantora pop ToriAmos. Tori é uma "popista" cult,dada a canções tristes e grandi­loqüentes, uma das favoritas deGaiman. Resta saber se essa ediçãovai ser lançada aqui. Do jeito quea coisa está...

TextosAlexandre Winck

Gaiman não saino Brasil

Se você é um fã brasileirode Neil Gaiman e não

compra revistasimportadas, está perdendoo melhor do seu roteitistepredileto. A maioria das

parcerias Gaiman/McKean,por exemplo, foi feita para

as editoras inglesas. ViolentCases, feita em 87 para a

falida Editora Tundra,recebeu três prêmios Eagle.Signal to Noise, inicialmenteserializada na revista The

Face, ganhou o prêmio WillEisner 93. Há também

Hellblazer n. 27, o récem­lançado Mr. Punch e a

desconhecida OutrageousTales of the Old Testament,

sobre a Bíblia.Quem pensa que Sandman é

a única série feita peloroteirista inglês precisaconhecer Miracleman, um

super-herói fascista dofuturo. Este título vinhasendo escrito por Alan

Moore, que sugeriu Gaimancomo substituto. Ao

contrário de Sandman,Miracleman, segundo o

autor, "só sai quando estáperfeito". Não se pode

prever o futuro da série, jáque Gaiman rompeu com a

editora Eclipse.O roteirista inglês também

colabora com outrasrevistas. Fez o n 9 do

megasucesso Spawn, deTodd McFarlane. Escreveutambém Hellogabolus, que

fala de uma sociedadeasumidamente falocrática,para a revista Cerebus, deDave Sim. Era para sairemuma edição de Sandman,mas Gaiman preferiu não

arriscar. Há também a sérieSweeney Todd, the DemonBarber of the Fleet Street,

feita para a revista Taboo.Pra quem não sabe, Gaiman

também escreve livros.Good Omens relata a

aparição de um anticristomoderno e Angels Visitations

reúne contos do autor.Entre todos esses

trabalhos, talvezThe LastTemptation, por ter sido

feita para a Marvel, aindasaia por aqui. Mas o leitorbrasileiro já tem que se dar

por feliz por poder ler aedição brasileira de

Sandman.

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ZERO ZINE - FEV 95

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SeLourenço Mutarelli tivesse

nascido nos primórdios dosquadrinhos e recebesse meta­de do reconhecimentodevido,

essa arte nunca teria o apelido de"comics". Não que não haja humorno trabalho dele, mas se houverumlugar para Mutarelli nos livros dehistória escritos pelos Disneys e

Stan Lees, será como um dos artis­tasmais depressivos que essegêne­ro tão "alegre" já conheceu.

Se alguém acha que a tristezadeMutarellijánão éuma novidadeno quadrinho nacional, que estámanjado, precisa muito ler Eu te

Amo Lucimar. O álbum, lançadoem outubro, traz experimentaçõese algumas das cenas mais agoni­zantes criadas pelo autor. Conta a

história dos gêmeos Cosme e

Damião, um deles gerado miste­riosamente por uma tentativa dofeto de sobreviver a um medi­camento abortivo. Um sente as

dores do outro. Quando Damiãomorre,Cosme sente em si adecom­

posiçãodo cadáver. Adescriçãodoprocesso é um misto assustador derealismo e delírio.

Amor? - O título é enganoso.Eu te Amo Lucimar nada tem deromântico. Mostra o amor da piormaneira possível. As personagenssó encontram nesse sentimentomais ummotivoparasofrerem com

suas culpas e neuroses. Como na

imagem do início do álbum, damão que sai da água com o reflexo

apontando para o fundo, o amor

pode dar a impressão de estar sal-

A

LourençoMutarelli expõesuas neuroses no

álbum Eu te amo Lucimar

vando a pessoa de se afogar, quan­do na verdade a está puxando maispara baixo.

Mutarelli sofre de síndrome depânico, doença que faz com que a

pessoa se sinta terrivelmenteameaçada sem motivo aparente.Neste álbum ele explora a influên­cia fisiológica nosmales damente.Cosme resiste a todas as provo­cações deDamião,masafundanumprocessodeenlouquecimentoquan­do o irmão dá choques na cabeçadele com um revólver de mentira.

O álbum é marcado por com­portamentos oossessivos, e muitaspersonagens sugerem seralteregosdistorcidos deMutarelli. O pai dosgêmeos é um desenhista que passaodia inteiro desenhando demôniosque habitam seus pesadelos. O tioé um leitor contumaz de quadri­nhos completamente alienado domundo.

O autor pode não ter se torna­do urna pessoa mais feliz, mas semdúvida evoluiu como roteirista e

desenhista. O textoestámuitomaiscentrado, conciso, sem a frag­mentação excessiva dos trabalhosanteriores. Isso se reflete no dese­nho. O uso da pintura, sem os

traços ostensivos de Transubs­

tanciação e Desgraçados, toma a

leitura mais fácil. Não se perdeu a

dramaticidade, pelo contrário. AeditoraVortex caprichou, com uma

edição em papel couchê.O surpreendente é que, numa

época de baixas vendas, Mutarelliestá produzindo cada vez mais.

Vai ser um dos colaboradores deLúcifer, nova revistada Circo Edi­torial, lançada recentemente. Eletambém trabalha numnovo álbum"Histórias Quase Esquecidas. Emelhor que não tenha o mesmo

destino deDesgraçadose Lucimar,que levaram pelo menos dois anoscada para serem concluídas e

lançadas. .

Reconhecimento - Ness=realidade, é quase certo queMutarelli não terá novamente con­correntes em premiações da cate­

goria graphic novel nacional. O

primeiro álbum dele, Transubs­

tanciação, publicado em 91 pelaeditoraDealer, recebeu os prêmiosde melhor história do biênio na

primeira Bienal Internacional deQuadrinhos, o Prêmio AngeloAgostini de melhor desenhista na­cional e o HQ-MlX de melhor

graphic novel nacional. Desgra­çados, de 93, lançada pela editoraVidente, venceu o HQ-MIX demelhor desenhista e melhor

graphic novel nacional.Amaioriados autores faz fama,

prestígio e, às vezes, dinheiro ex­

plorando o sofrimento alheio.Mutarelli segue o caminho inver­so. Nós é que nos deliciamos, numaespécie de êxtase masoquista, como produto das angústias e proble­mas do autor. Lourenço Mutarellitransforma os leitores em vampi­ros de sua dor.

Alexandre Winck

Mesmo em um período de poucas vendas, Mutarelli preparaseu próximo álbum, Histórias quase esquecidas

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\

Crítica ao regimemareou a carreira

do mestre-

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T ,-J \ otas

Fortunabateu um recorde

na literatura brasileira:trabalhounahistóriaparacrianças Dahabu duran­

te trinta anos e morreu sem tê-lapublicado. O motivo? Simples­mente não a considerava pronta.Perfeccionista, desenhava como

um artista plástico, usando mate­riais inusitados paraum cartunistada imprensa diária - papel recor­tado, tintas de parede, cotonetes e

atépincéis. Nãohesitavaemigno­rar os apertados prazos do jorna­lismo em busca da qualidade, oque fez com que, no final da vida,�osse marginalizado pela grandeimprensa.

Jamais chegou ao estrelato,como muitos senhistasque passaram peHenfil, Jaguar, Millôr Fernandes,Ziraldo,EdgarVasques, Nássara,Miguel Paiva, Santiago, Glauco;I"Laerte, Claudius, Caulos, entreoutros. Mas, dono de um traçoextremamente elegante, era um

profissional respeitado e admira­do pelos colegas. Foi o único bra­sileiro a ser incluído na lista doscem carturústas mais importantesdo mundo no Salão de Humor eSátira de Gabrolvo, na Bulgária.

Durante a ditadura militar,Fortuna raramente abandonava a

critica ao regime em troca da sáti­ra do cotidiano, caminho maiscômodo seguido pela maioria.Numa recaída, entretanto, ele deuà luz sua mais conhecida e, comoconfessaria mais tarde, prediletacriação: Madame e seu bichomuito louco. Tratava-se de uma

dama da sociedade, cheia de brin­cos, colares e penteados mirabo­lantes, que vivia fora darealidade,numa eterna relação de perplexi­dade com o mundo ao seu redor.Quem mantinha os pés no chão -

as patas,melhor dizendo - era seu

cachorro, dono de uma aristocrá­tico bigode de lorde inglês, quedecifrava os enigmas da vida cominvejávellucidez.

Resistência - Da pranchetade Fortuna saíram muitos cartunsque enfureceram os governantes ehoje são considerados símbolosda resistência à ditadura. Ogene­ralque govemavasobre o cavalo(ele nãocostumava darnomes pró- ./P?�s às personagens) era uma .:;:-:.(Vsabra demolidora a prepotênciados militares golpistas. Nela um

.

homemfardado permaneciao tem- Quem? Adão? Ah, esse foi o primeiro.

r'�o,) vota�sVos votais

........ -

po todo sobre o dorso do s��cJt'�:- ��êm¥�� possíveis interpre­lo, mesmo quando sentava-se à taçoes, lemo.ava uma boca se ca­

mesa ou ia ao banheiro. lando e o desequilíbrio da balança-Em,y 96� quando o AJ..S fe- da Justiça.

chou as �rtas do Congresso Na- As melhores charges dessecional,Fortunadesenhouummili- tempo heróico estão reunidas nostar, sem cabeça, que retirava o livrosAbertosparabalançoeHayprato virado para baixo do prédio Gobiemo?, este último em con­

do Congresso e o colocava sobre o junto com Jaguar e Claudius. Eleprato virado para cima, formando se manteve firme no combate àum ovo. Uma sutil analogia que, ditadura nas páginas do Correio

_--__....

da Manhã,depois de ter

trabalhadonas revistas ACigarra, OCruzeiro e

Manchete e

tercolaborado

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Morre uma das

pioneiras docartum brasileiroNo dia 14 de dezembromorreu em São Paulo,aos 81 anos, a chargistae caricaturista alemãHilde Weber. Hilde foiuma das precursoras docartum e da charge no

pars. Logo que chegou aoBrasil, em 1933,trabalhou nos DiáriosAssociados, para AssisChateaubriand e naTribuna da Imprensa, deCarlos Lacerda. Pormaisde trinta anos também foicolaboradora do jornal OEstado de São Paulo.Hilde era uma cartunistade traços fortes e de umhumor crftico e

marcante. "Ela tinha ulnapersonalidade srttsttceextraordinária ", diz ocartunista Mil/ôrFernandes. Chargistascomo Paulo Caruso e

Liberati admitem teremsido influenciados pelosdesenhos de Hilde. Em19861ançou o livro Brasilem Charge - 1959-1985,pela Circo Editorial.Além de seu trabalho na

imprensa, Hilde Webertambém se dedicou àpintura, cerâmica e

xilogravura. Trabalhoucom Alfredo Volpi nadécada de 40, pintandopst» decoração, além departicipar de váriasexposições individuais ecoletivas e de cincobienais de arte. Hilde foicasada com o jornalistaCláudio Abramo, mortoem 1987.

Yan Boechat

com quasetoda a im­

prensa ilus­trada e em vá­rios jornaiscanocas.

Morte -

Maranhensede São Luís,órfão de paidesde cedo,Fortuna mu­

dou-se aindaadolescentepara o Rio deJaneiro, Irrequieto, ele não ficou'muito tempo nos veículos em quetrabalhou -nem mesmo no Pas­

quim, que ajudou a fundar mas

para o qual colaborava apenasesporadicamente, Começou dese­nhando historinhas nas revistasSesinho, Vida Infantil, Vida Ju­venil e O tico-tico , usando o

pseudônimo "Chico Forte". Em1950, passou a fazer cartum e

adotou a assinatura que carrega­ria pelo resto da vida.

Em 1975, quando osmilitarescomeçaram a afrouxar, Fortunalançou a revista mensal O Bicho,preocupado em criar um espaçoexclusivo aos desenhistas brasi­leiros. O sonho durou apenas oitoedições, mas contou com parti­cipações importantes como as deLaerte, Luis Gê e dos irmãos Pau­lo e Chico Caruso. Em 1977 ele semudou par São Paulo, onde editouo suplemento cultural Folhetim,daFolhadeSão Paulo, oprimeirodogêneronoBrasil. Assinavaumacoluna chamada Diz, Logotipo!,em que satirizava, com uma fraseengraçada, os símbolos das em­

presas famosas.Em 1994, mais de quarenta

anos depois de ter começado a

desenhar, estava em plena ativi­dade. Trabalhava em outro livro,que incluiri a textos (MillôrFernandes costumava dizer queFortuna era o maior escritor dehumor do Brasil, só precisava es­crever), colaborava para aGazetaMercantil e preparava uma re­

trospectiva da carreira. Tudo in­terrompido pelo ataque cardíacoque omatou no dia 5 de setembro,aos 63 anos.

Maurício Oliveira 3

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fie jáfoi lançado no Brasilmas continua desconhe­

cido,mesmo sendo um dosmaiores quadrinistasda atualidade. É dos melhores porque além de

ser completo (cria roteiros, desenha, faz as

color-ízações), incorpora em sua arte reflexões agudassobre o atual e o futuro estágio sócio-político dessalouca humanidade fim de século. Você vive presentee futuro através de um dos melhores traços dos anos

recentes, com inventividade capaz de sugerir novasformas para per-sonagens e cenários.Enki Bilal, nascido em Belgrado em 'I' de outubro de

1961, tem criatividade semelhante a de grandescriadores como Alex Raymond au Jean "Moebius"

Giraud, na construção de cenários e ambientes inusi­

tados, de outras eras oumundos. Todo o talento de umbom autor de ficção-cientlfica também está vivo em

seu desenho.E mesmo as

cores têm sua

marca. Sua

base é Paris,para onde foi

levado pelospais no iníciodos anos 60eonde começousua carreira,como ilustra­

dor para a re­

vista Pilote,ainda em sua

fase semanal,em '1'2. Já

quase trintão

pôde demons­trar seu talen­to e suas ou­

sadas cria­

ções naMétalHur-Ierit, re­

vista da van­

guarda dos

quadrinhosque originousua edição

americana HeavyMetal, até mais famosa. Foi aí queBílal se impôs.Continuando a colaborar com a Pilote, em suas séries

fantásticas, conheceu o argumentista PierreChristin,futuro parceiro constante, com quem produziu A

Feira dos Imortais, O Cruzeiro dos Esquecidos e

histórias como As Falanges da Ordem Vermelha e A

Caçada, onde foram muito críticos com a realidade de

nosso conturbado planeta. E eles acertam. Sua visãodo mundo não tem o cinismo da maioria, mas é cruao suficiente para não deixar o leitor esquecer o

mundo. É uma arte de verdade, delirantementecriativa mas não alienante.Qg Imortais, dois livros publicados no Brasil pelaMartins Fontes, demonstram muito bem tudo isso: a

essência de um artista que não faz arte apenas paraos sentidos. Tanto quanto em AMulherEnigms; Bílalfala da atualidade - a ação nerasta do poder, a solidão,o sexo, as drogas, o cenário de desolação de ummundo

pós-industrialmeio onírico, meio 1984, Metrópolis ouBladeRunner. A estética vai por aí, mas a abordageme o traço trazem o impensado, o talento de um grandecriador.

Enki Bílal está na vanguarda do quadrinho mundial,já que poucos fazem do quadrinho uma atitude de

conexão com o mundo reaL Suas novas formasestéticas e sólidas experiências vanguardistas nuncao afastaram do questionamento das problemáticasatuais. Ele consegue.

Ricardo Barreto

Jornalista e professor do Curso de Jornalismo da UFSC24

ZEBOAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina