4 Loucura

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4-ELOGIANDO A LOUCURA – 18/08/2008Recentemente, re-enviei para o grupo da internet, “Formigueiro” – que é composto

por formiguenses de nascimento e de coração, como eu, uma antiga crônica que escrevi sobre os doidos de Formiga. Um dos seus componentes me aconselhou a mudar o termo “doido” para algo menos explícito, ou que fosse menos contundente, visto que o significado de tal palavra é muito amplo e poderia ser mal-interpretado. Ponderando sobre o conselho, vi que essa pessoa estava plenamente certa. E é sobre este assunto que vou comentar desta vez. É injusto xingar alguém de maluco só porque este se comporta diferentemente da maioria? Ou será que todo mundo é mesmo louco ou, digamos, “mentalmente avariado”? Afinal, não existe aquela velha máxima de que, “de médico e louco, todo mundo tem um pouco”? Queiram os puristas ou não, mas é absolutamente verdadeiro que todos nós, de vez em quando “piramos”. Então, vamos pensar duas vezes antes de taxar fulano de tal de doido, maluco, biruta, louco ou coisa que o valha. É claro que uns agem totalmente fora dos padrões normais, mas, desde que não usurpe a lei e a ordem, será que merecem esse tratamento discriminatório? E o que é ser “normal”? Devemos, em síntese, olhar com outros olhos esses indivíduos que, no final das contas, acabam ficando à margem da sociedade só porque têm uns trejeitos que chamam mais a atenção dos demais habitantes - ditos normais - de uma comunidade. Tentando evitar o rótulo de bom-samaritano, penso que, antes de qualquer julgamento, devemos olhar o próprio umbigo, porque afinal, se formos analisar alguns de nossos atos, vamos acabar por chegar à conclusão de que somos doidos também. Vejamos por quê. Por acaso, você já falou sozinho, esbravejou ante o espelho ou já lhe passou pela cabeça ficar pelado na rua, levantar a saia de alguma beldade e até mesmo gritar num lugar onde todos estivessem em silêncio? Quem respondeu sim (garanto que a maioria o fez) a esta e a outras “esquisitices anti-sociais” que sempre foi a fim de fazer, pode saber que, segundo os conceitos da psiquiatria, você não passa de um contumaz doidão. Por isso, é que devemos regrar nossas palavras ao chamar uma pessoa de doida, porque todos nós somos, de certo modo, apalermados, em maior ou em menor grau (mas, que somos, somos, sim senhor!).

Hoje em dia, existem remédios que se não curam, pelo menos amenizam o estado de loucura. É a química moderna atuando diretamente no cérebro e reduzindo o sofrimento daquele passa a ser discriminado injustamente porque age de forma não habitual. Aliado a esse tratamento material, se junta o tratamento mental, ou seja, é quando o papel dos psicólogos, analistas e psiquiatras faz a diferença. Assim, se somos doidos, temos cura, total ou parcial. Então, só é doidão quem quer. Logo, que atire a primeira pedra quem jurar ser normal. E o que dizer então dos gênios? Geralmente, se comportam de maneira anormal para os mais exigentes e, nem por isso, são rechaçados ou chamados negativamente de doidos mas, romanticamente, de “cientista doido” ou algo mais lírico.

As diversas correntes da sociedade (seja a religiosa ou a científica), enfim, avaliam a loucura sob outros prismas. Para a medicina, a loucura pode ser fruto de uma lesão cerebral e para os religiosos pode ser decorrente da tentação do capeta ou ainda uma forma de castigo divino. Por sua vez, os espíritas encaram a loucura como uma espécie de castigo por um ato qualquer cometido em vidas passadas ou até mesmo por causa de uma possessão. O livro “Elogio da loucura”, Erasmo de Roterdam tem uma observação interessante sobre o seu assunto central:

“Em geral, as paixões são reguladas pela loucura. Com efeito, o que distingue o sábio do louco? Não será, talvez, o fato do louco se guiar em tudo pelas paixões e o sábio pelo raciocínio?”. Pelo menos agora, façamos uma reflexão sóbria... (pub.27/8/2008)