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  • SOBREVIVNCIA NO MEIO AQUAVIRIO

    GERAL

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    1 Necessidades bsicas para sobrevivncia

    1.1 Introduo

    Iniciaremos agora o estudo da disciplina Sobrevivncia no Meio Aquavirio,destacando, desde j, a relevncia do assunto apresentado para qualquer profissionalembarcado.

    Os ensinamentos que veremos nessa disciplina no sero aplicados apenas aosmartimos, entendendo estes como aqueles profissionais engajados na navegao delongo curso ou cabotagem.

    Essa disciplina importante para todo e qualquer aquavirio, independentementedo tipo de embarcao que esteja tripulando ou da rea de navegao.

    importante definirmos sobrevivncia, embora o seu significado seja intuitivo paratodos.

    Alguns manuais de sobrevivncia definem sobrevivncia como a arte de manter-se vivo.

    Veremos um conceito mais analtico da atividade de sobrevivncia. Assim, o nossoconceito fornecido nos seguintes termos:

    Sobrevivncia o conjunto de procedimentos e atitudes adotados por umgrupo de pessoas, ou por uma pessoa, que se encontram em situao adversa,com a finalidade de serem resgatados com vida.

    A sobrevivncia pode ser denominada segundo o meio no qual ela ocorre. Poresse critrio, temos diversos tipos de sobrevivncia como na selva, no mar, no deserto ouno gelo.

    Nosso estudo ser centrado nas peculiaridades da sobrevivncia no meio aquavirio.

    1.2 A importncia biolgica da gua

    Qualquer estudo a respeito de sobrevivncia deve incluir um conhecimentos sobrea gua, que no apenas o lquido precioso que mata nossa sede. Os organismos vivos,incluindo o ser humano, so constitudos principalmente de gua. Para se ter uma idiada quantidade encontrada no corpo humano podemos afirmar que de, aproximadamente75% da massa de uma pessoa adulta jovem .

    Apesar de nosso planeta ser em sua maior parte formado por gua, a sua distribuio muito irregular, havendo abundncia de gua em algumas regies e outras onde aescassez flagrante. Outro ponto importante que deve ser destacado que a gua potvel(entendendo-se como a que pode ser bebida) difcil de ser obtida.

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    Todos os organismos vivos necessitam de gua para viver, desde os seres tpicosde ambientes marinhos e fluviais, at os seres terrestres, cujo interior formadobasicamente por gua.

    A gua o lquido principal para a qumica da vida, pois praticamente todas asmolculas biolgicas adotam suas funes em resposta s propriedades fsicas e qumicasda gua circundante. Alm disso, o meio para a maioria das reaes bioqumicas agua.

    A gua o solvente universal e o meio de embebimento da matria orgnica, sendoresponsvel pelo transporte dentro e entre as clulas do corpo, dos nutrientes e produtospara excreo.

    A prpria gua participa ativamente de muitas reaes qumicas que do suporte vida, como por exemplo, a oxidao da gua para produzir o oxignio molecular.

    Alm disso, a gua tem importante papel na manuteno da temperatura corporal,atravs da evaporao, conduzindo o calor para o meio externo.

    1.3 Equilbrio hdrico, gua natural, de constituio e de oxidao

    A desidratao um dos maiores problemas que o nufrago enfrenta dentro deuma embarcao para sua sobrevivncia.

    Podemos identificar o estado de desidratao quando o corpo perde gua maisrpido do que consegue repor pela ingesto. Se esse processo no for interrompido erevertido, leva morte, algumas vezes rapidamente.

    Uma das maiores dificuldades para os nufragos durante a jornada de sobrevivnciano mar a manuteno do equilbrio hdrico, ou seja, manter em nveis compatveis aperda de gua de seu organismo e a quantidade de gua potvel disponvel para beber.Nosso organismo possui mecanismos para combater esse desequilbrio causado pela

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    deficincia de consumo de gua. Os mais importantes so a sensao de sede e acapacidade de nossos rins conservar ou excretar, quando necessrio, maior quantidadede gua.

    Equilbrio hdrico o estado de harmonia existente no organismo, levando-se emconta a quantidade de gua ingerida (gua in natura, bebidas em geral, contida nosalimentos e gua de oxidao) e a gua excretada (na urina, nas fezes, pela respirao etranspirao).

    Vamos ver agora algumas das principais fontes de gua.

    gua natural pode ser definida como todo e qualquer lquido ingerido pela pessoa. o caso da gua in natura, dos alimentos lquidos como sopas e leite, e dos sucos erefrigerantes.

    Logicamente, em se tratando de hidratao do corpo, a gua natural ingerida emmaior quantidade. Estima-se que um adulto ingere em torno de 1.500 ml de gua naturalpor dia.

    gua de constituio aquela que est presente nos alimentos slidos: frutas,vegetais, carnes, etc. Em sobrevivncia, a gua de constituio limitada, principalmenteporque as raes slidas dos nufragos so compostas basicamente por balas de gomae chiclete.

    gua de oxidao aquela produzida pelo metabolismo da pessoa. A gua umdos principais produtos da combusto de protenas, gorduras e carboidratos no interior doorganismo. Estima-se que, com uma dieta de 2.500 calorias por dia, formam-se cerca de300 ml de gua de oxidao.

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    1.4 Mecanismos orgnicos que ocasionam a perda de gua

    O corpo humano perde gua por diversas vias, como a via pulmonar (respirao),a via cutnea (sudorese), a via renal (urina) e a via digestiva (fezes).

    Em sobrevivncia no mar, devemos considerar tambm a perda de gua pelas viasadicionais, tais como o vmito, ferimentos (hemorragia) e febre.

    A perda de gua pela via pulmonar aquela resultante da respirao; portanto,constante. Considerando uma pessoa adulta, a quantidade de gua perdida, durante 24horas, est entre 200 e 400 ml, aproximadamente. Alguns fatores, entretanto, podemaumentar essa quantidade, como por exemplo, a umidade da atmosfera e estados pessoaisdo nufrago (febre e dispnia). O indivduo febril perde mais gua do que o indivduo coma temperatura normal (cerca de 150 ml por cada grau de febre). O nufrago com dispnia(dificuldade de respirar) tambm perde mais gua do que o indivduo em repouso (100 mlpor cada aumento de cinco respiraes por minuto).

    A perda de gua pela via cutnea aquela que se d pela sudorese (suor). Esseprocesso utilizado pelo organismo para regular a temperatura corporal. Estima-se que aquantidade de gua perdida pelo suor esteja compreendida entre 300 e 600 ml duranteum perodo de 24 horas.

    Uma maior ou menor perda de gua pela sudorese vai depender, principalmente,das condies climticas e da atividade fsica executada pela pessoa. Assim, quantomaior a atividade fsica, maior ser a perda de gua pela sudorese. Tambm ser maior aperda de gua em climas quentes.

    Outra forma de o nufrago perder gua por meio da digesto, ou seja, a viadigestiva, embora em situaes normais, essa perda no seja muito significativa.Normalmente, nas fezes, o indivduo elimina apenas 100 ml de gua, o que no dia-a-diano significativo. Entretanto, em sobrevivncia no mar, com pouca quantidade de guapotvel para ingerir, essa quantidade tem que ser considerada. Por isso, o nufrago deveevitar alimentos que o seu organismo possa rejeitar.

    O cuidado com a alimentao, principalmente aquela obtida da pesca, primordialpara se evitarem casos de diarria. Esta aumenta a perda de gua pela via digestiva,sendo uma forma adicional de perda de gua indesejvel.

    Contudo, a perda mais significativa de gua se d pela urina, a via renal. Os rinssadios eliminam diariamente, em condies normais, aproximadamente 1.500 ml de urina.O prprio organismo se incumbe de procurar equilibrar a quantidade de gua no corpo.Assim, nossa urina pode ser diluda ou concentrada, em situaes de normalidade oufalta de gua.

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    1.5 A importncia da alimentao para o nufrago

    Como visto acima, a gua a principal prioridade do nufrago em uma embarcaode sobrevivncia. Sem ela, o nufrago no sobreviveria mais do que alguns dias.

    Em comparao com a gua, a alimentao vem em segundo plano. J houvecasos de morte em sobrevivncia no mar, onde os nufragos tinham abundncia de gua,mas foram negligentes com relao busca de alimentos.

    Dispondo de gua potvel para beber, o organismo humano capaz de suportaralgumas semanas sem alimento slido. Entretanto, quando em completa ausncia degua, a sobrevida da pessoa reduzida para apenas alguns dias.

    Proteger-se do sol, vento, gua do mar e do frio e, sobretudo, procurar manter oequilbrio hdrico do organismo, conservando a gua do corpo, so bem mais importantesdo que comer.

    Contudo, no se deve negligenciar quanto alimentao, embora esta venha nofinal de sua lista de prioridades em sobrevivncia no mar.

    As embarcaes de sobrevivncia modernas so dotadas de raes slidas,compostas principalmente de balas de goma (jujubas) e chicletes, ou ento, de tabletesde um composto base de glicose. A explicao para essa composio da rao slidade sobrevivncia no mar est no fato de que o corpo necessita, primeiramente de acare gordura, e no de carne (protenas).

    O Cdigo Internacional de Equipamentos Salva-vidas estabelece que, tanto nabalsa salva-vidas inflvel, como nas baleeiras, a rao slida deve constituir-se de umarao alimentar contendo no menos de 10.000 KJ para cada pessoa que a embarcaoestiver autorizada a acomodar, sendo que essas raes devero ser saborosas, comestveisao longo de todo o perodo de validade e embaladas de modo a poder ser rapidamentedivididas e facilmente abertas.

    No Brasil, a rao slida de sobrevivncia mais usual aquela composta das balasde goma, pois atendem perfeitamente ao que prescreve a legislao internacional.

    rao slida

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    As balas de goma possuem em sua composio cerca de 90% de acar e apenas10% de amido. O organismo metaboliza mais facilmente os glicdios (acares), produzindoenergia que ir manter as funes vitais do indivduo.

    O corpo humano, em estado de repouso, pode sobreviver por muitas semanascom apenas 750 calorias por dia. Com o passar do tempo, o estmago encolhe e logo onufrago se acostuma com a dieta reduzida.

    A baixa concentrao de glicose no organismo compromete as reaes bioqumicas,como a gliclise, por meio da qual se produz a energia necessria para a manutenodas funes vitais. Quando o indivduo apresenta baixa concentrao de glicose no sangue,diz-se que seu quadro de hipoglicemia, o que pode acarretar convulses.

    1.6 Fatores climticos que afetam a sobrevivncia

    O clima um fator importante na sobrevivncia dos nufragos. Os principais fatoresfsicos (ambientais) que afetam a sobrevivncia so: condies do mar, frio e calor.

    Em mares agitados, a sinalizao e o resgate tornam-se mais difceis, principalmentehavendo ondas grandes, pois os nufragos podem no ser avistados pelas equipes debusca e salvamento.

    As condies do mar tornam a jornada de sobrevivncia ainda mais desconfortveldentro da embarcao de sobrevivncia. Nessas condies, os nufragos devem procurarficar fixos dentro da balsa, passando os braos no cabo interno localizado na altura dascostas. Com isso, o nufrago evitar rolar dentro da balsa, o que pode acarretar at o seuemborcamento, caso os nufragos se amontoem em um lado apenas, devido aos balanos.Alm disso, o mar agitado deixa o nufrago mais propenso a enjos e vmitos, agravandoo estado de desidratao.

    O frio outro fator que afeta a sobrevivncia. Em guas frias, necessrio sair dedentro delas o mais rpido possvel. Como a maior causa de mortes em sobrevivncia nomar a hipotermia por imerso, todas as embarcaes devem possuir embarcaes desobrevivncia, baleeira e/ou balsa salva-vidas inflvel, de modo que o nufrago, apsabandonar o navio, no fique dentro da gua.

    Baleeira Free Fall Balsa salva -vidas

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    necessrio que o nufrago se proteja do efeito do vento, especialmente se estivermolhado. Dentro da embarcao de sobrevivncia as pessoas devem secar todas asroupas molhadas. No havendo roupas secas para vestir no lugar das molhadas, devemtorc-las a fim de retirar todo o excesso de gua.

    O grupo de sobreviventes deve manter a embarcao de sobrevivncia o maisseca possvel, retirando sempre a gua que embarcar.

    Os nufragos devem procurar manter o corpo aquecido, cobrindo-o com o quedispuser a bordo da embarcao de sobrevivncia. Veremos mais adiante que, no abandonoda embarcao sinistrada, as pessoas devem levar consigo seus cobertores, pois no hroupas de proteo trmica para todos na palamenta das balsas e baleeiras. Tambm importante agrupar-se aos demais sobreviventes. o que se costuma chamar de calorhumano.

    Em hiptese alguma devem ser fornecidas bebidas alcolicas para os nufragos,pois o lcool deixa a pessoa mais propensa hipotermia. Ao contrrio do conhecimentodo leigo, o lcool no traz nenhum benefcio para os nufragos, muito pelo contrrio.

    O calor tambm pode trazer conseqncias prejudiciais para as pessoas emsobrevivncia no mar. Queimaduras, exausto pelo calor, insolao, desidratao, apenaspara citar algumas.

    Em clima quente o nufrago deve retirar o excesso de roupa, mas deve manter ocorpo protegido. Se exposto diretamente ao sol, manter a cabea e pescoo protegidos.As embarcaes de sobrevivncia geralmente possuem coberturas para proteger osnufragos da incidncia direta dos raios solares, prevenindo queimaduras.

    Durante o dia, o nufrago deve umedecer as roupas com gua do mar, retirandoem seguida o excesso. Ao anoitecer importante que o nufrago esteja seco. importanteque no se exagere no contato com agua salgada do mar, pois ela podecausar feridas na pele.

    Prevenir a exausto pelo calorreduzindo a atividade fsica; manter-sequieto e beber gua potvel soorientaes encontradas em todos osmanuais de sobrevivncia no mar.

    Deve-se manter a ventilao nointerior da embarcao de sobrevivnciaabrindo suas entradas, molhandocontinuamente o toldo, lanando ancora flutuante por uma das entradasda balsa, assim evita-se o efeito estufapelo aquecimento irregular.

    Escorregadores e plataformas inflveis

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    2 Perigos que ameaam a sobrevivncia

    2.1 Conseqncias de ingesto de gua salgada

    Beber gua salgada mata! Nunca beba gua do mar, nem misture com gua potvel.

    Quando o nufrago bebe gua salgada, o sal fica acumulado em seu corpo, havendonecessidade de gua potvel para dissolv-lo nos rins, e posteriormente, elimin-lo atravsda urina.

    Como em sobrevivncia no mar no existe gua potvel em quantidade adequadapara hidratar o corpo, a prpria gua do organismo vai migrar para eliminar o sal acumulado.Dessa forma, o nufrago que bebe gua do mar agrava o seu estado de desidratao,podendo inclusive morrer.

    Outro lquido que o nufrago no pode beber a urina. A urina do nufrago escura, concentrada, e mal cheirosa.

    Alm de gua do mar e urina, proibida a ingesto, pelo nufrago, de bebidasalcolicas.

    NO BEBA GUA SALGADA

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    2.2 Perigos decorrentes da ingesto indevida de alimentos

    A ingesto indevida de alimentos pode acelerar a morte dos nufragos. Existemalgumas recomendaes que devem ser seguidas em uma situao de sobrevivncia nomar.

    Em primeiro lugar, a alimentao no a prioridade mxima dos nufragos. Aprincipal prioridade do nufrago que esteja em uma embarcao de sobrevivncia aobteno de gua potvel.

    importante que voc saiba que alguns alimentos necessitam de gua do organismopara o processo de digesto. Em uma situao de deficincia de gua potvel, a ingestodesse tipo de alimentos pode agravar o estado de desidratao do nufrago.

    Dessa forma, deve-se evitar a ingesto de alimentos ricos em protenas, comopeixes e aves. Esses alimentos somente devem ser consumidos se no houver restrioquanto ao consumo de gua, para evitar que a gua interna do organismo seja gasta nasua digesto.

    Os mesmos cuidados devem ser adotados com relao ao sangue desses animais.Alguns manuais de sobrevivncia afirmam que o sangue e os lquidos corporais de animaispodem ser utilizados para hidratar o organismo, como complemento da gua potvel. Issono de todo verdade. Como esses lquidos so ricos em protenas, devem serconsiderados como alimento, e no como fonte de gua potvel.

    Em segundo lugar, caso no haja restrio de consumo de gua, os alimentosobtidos pela pesca ou captura de aves e tartarugas, devem ser consumidos com algunscuidados especiais. A ingesto de alimentos deteriorados pode causar intoxicao alimentar,tendo como conseqncia vmitos e diarria. Assim, antes de se alimentar, certifique-seque os alimentos no esto deteriorados.

    Todo alimento obtido pelos nufragos, em regra, ingerido cru. Nem todas aspessoas iro se sentir bem ao comer alimento cru. Caso algum sinta nuseas ao sealimentar, no deve insistir no consumo, pois poder causar vmitos, aumentando o estadode desidratao dessa pessoa.

    Finalmente, deve-se ter todo cuidado com os animais imprprios para o consumo,como os peixes venenosos. Esse assunto ser desenvolvido mais adiante.

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    2.3 A instabilidade mental e emocional como fator de reduo das chances desalvamento

    O aspecto psicolgico do nufrago tambm deve ser considerado como fatorpreponderante para a sua sobrevivncia. A cincia coloca disposio dos nufragosuma srie de equipamentos que objetivam prolongar a jornada de sobrevivncia no marat o momento do resgate.

    Contudo, a vontade de viver est acima de tudo, pois de nada adianta a existnciadesses equipamentos modernos se o prprio nufrago desistiu de lutar por sua vida. Sema vontade de viver, o ser humano fica exposto s agruras fsicas e mentais. Assim, onufrago deve procurar uma razo para continuar sobrevivendo, como por exemplo, umacrena religiosa, familiares, etc.

    Deve-se ter em mente que a instabilidade mental e emocional geralmente causade fracassos (entenda-se como morte) em sobrevivncia no mar.

    Toda sobrevivncia pressupe a existncia de um lder, ou seja, uma pessoaencarregada da faina, que tenha conhecimentos das tcnicas e procedimentos desobrevivncia no mar, responsvel por manter o moral do grupo elevado. Uma boa lideranana balsa reduz significativamente a possibilidade de conflitos e aumenta as chances desucesso na sobrevivncia.

    Esse lder tem que considerar tambm os aspectos psicolgicos, entendendo quenufragos abalados emocionalmente e, sobretudo descontrolados, apresentam poucaschances de serem resgatados com vida.

    Sabemos que o abandono de um navio traumatizante para todos, tripulantes epassageiros. O nufrago fica exposto a pensamentos que iro dificultar o seu julgamentoda situao e a execuo de suas tarefas.

    Como exemplos de tais pensamentos, podem ser citados os seguintes: culpa peloque est acontecendo, crena de que nunca mais ir pisar em terra firme, ansiedadedemasiada por avistar um navio, aeronave ou terra, pensamentos mrbidos tais comosuicdio.

    Uma forma de combater esses pensamentos mrbidos manter o moral do grupoelevado, a unio dos nufragos em torno de um objetivo comum, como serem resgatadoscom vida, bem como a realizao de tarefas que mantenham os sobreviventes ocupadoscom pensamentos construtivos.

    2.4 Os efeitos do frio, do calor, da gua salgada e da falta de gua potvel sobre onufrago

    Efeitos do frio: a sobrevivncia em temperaturas baixas uma questo de semanter a temperatura corporal normal. Em climas mais frios, a tendncia o corpo trocarcalor com o meio ambiente.

    O fluxo de calor se d sempre do corpo de maior temperatura para o de menortemperatura. Assim, em temperaturas mais baixas, h o risco de perdermos calor para omeio, se no estivermos adequadamente protegidos.

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    A conseqncia dessa perda de calor corporal a diminuio de nossa temperaturainterna, que pode levar morte por hipotermia.

    O corpo cede calor para o meio circundante pelos seguintes mtodos de transmissode calor:

    Conduo: a transferncia do calor por contato direto com a gua fria; Conveco: a transferncia do calor pelas correntes de gua ou ar. O ar em

    movimento (vento) aumenta a perda do calor por provocar a movimentao doar contido entre as peas do vesturio e a pele;

    Radiao: transferncia do calor por raios de energia sem contato direto comoutras substncias; e

    Evaporao: vaporizao de lquido, tal como a transpirao ou umidade dasroupas molhadas.

    A quantidade de calor cedido pelo corpo igual ao somatrio do calor perdido portodos esses mtodos de transmisso.

    Outro efeito do frio congelamento das partes expostas do corpo. Esse fenmenoacontece quando h o congelamento dos lquidos dos tecidos de determinadas reas, taiscomo mos, ps e rosto, com a formao de cristais de gelo sobre a pele.

    O frio tambm pode causar o p de imerso, que consiste em feridas dolorosasnos ps resultantes da exposio umidade e ao frio (geralmente abaixo de 0 oC. O p deimerso agravado pela utilizao de sapatos muito apertados e sem ventilao e meiasmolhadas.

    Efeitos do calor: o calor excessivo acarreta graves distrbios no organismo,podendo inclusive levar morte.

    A insolao causada pela elevao da temperatura corporal sem a correspondenteeliminao deste calor. Geralmente causada por um problema no mecanismo deresfriamento do corpo e est relacionado com a capacidade de suar da pessoa.A insolao pode causar dores de cabea, mal-estar, febre, perda da conscincia,convulses, coma e morte.

    A exausto pelo calor est relacionada a distrbios no sistema circulatrio, peloacmulo de sangue nas extremidades e sob a pele. Acarreta fadiga, nuseas, pulso rpidoe irregular, bem como perda de gua.

    Outro efeito da exposio ao calor a desidratao. Tambm pode ser fatal parao nufrago. Ocorre a desidratao, como vimos anteriormente, quando o nufrago noconsegue manter o equilbrio hdrico do organismo, ou seja, perde mais gua do queconsegue repor. Se esse processo no for interrompido e revertido, leva morte, algumasvezes, bem rpido.

    Alguns sinais podem indicar o aumento da desidratao do corpo, tais como,sensao de sede, dor de cabea, perda de apetite, boca seca, reduo da quantidade deurina eliminada, fadiga, delrios, convulses, diminuio da presso sangnea, entre outros.

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    As queimaduras solares tambm so conseqncias da exposio do nufragoao calor, mais precisamente aos raios solares que incidem diretamente na pele. Contudo,o nufrago tem que se proteger tambm dos raios solares refletidos na superfcie dagua, pois podem causar queimaduras.

    As queimaduras solares so de difcil tratamento dentro da balsa, devendo o nufragopreveni-las.

    Efeitos da gua salgada: o contato contnuo da gua salgada com a pele causaferidas e inchaos. A gua salgada elimina a umidade natural da pele, provocando irritaes,furnculos e eczemas. Por isso, deve-se evitar o contato prolongado, pois essas ulceraescausadas na pele sero de difcil tratamento na balsa salva-vidas, com tendncia aoagravamento com o passar do tempo.

    O contato da gua do mar com os olhos tambm pode causar inflamaes(conjuntivites).

    A gua salgada pode avariar os utenslios da balsa e da baleeira, principalmente aspeas metlicas, foguetes pirotcnicos, fumgenos, raes lquidas e slidas, entre outros.Deve-se evitar o contato da gua do mar com os acessrios e equipamentos da palamentada embarcao de sobrevivncia.

    Efeitos da falta de gua potvel: o principal efeito da falta de gua potvel adesidratao o corpo perde gua mais rpido do que consegue repor pela ingesto.Como vimos anteriormente, a gua a principal prioridade do nufrago, e a sua falta podelevar morte.

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    2.5 As principais espcies marinhas perigosas

    As espcies marinhas podem ser perigosas por diversas razes: possuem carnevenenosa ou espinhos que produzem ferimentos dolorosos, ou ainda so agressivospodendo atacar o homem; algumas espcies possuem clulas geradoras de correnteeltrica e outras produzem muco txico.

    Embora no existam mtodos precisos e seguros que nos garantam se determinadaespcie venenosa, podemos observar algumas peculiaridades, normalmente encontradasnesses peixes.

    Assim, nunca ingira nenhum peixe que apresente caractersticas prprias deespcies venenosas.

    Abaixo temos algumas caractersticas que podem indicar espcies de peixesperigosos ao consumo:

    vivem, em sua maioria, em guas tropicais pouco profundas e recifes coralneos; apresentam formas estranhas (caixa, arredondada, etc.); possuem pele dura, recoberta de placas sseas ou espinhos; algumas espcies apresentam olhos, bocas e guelras pequenas; algumas espcies possuem nadadeiras ventrais pequenas ou inexistentes; podem apresentar carne com odor desagradvel, que durante um certo tempo

    fica marcada se comprimida; algumas espcies tm a capacidade de inchar se forem molestados (baiacu); algumas espcies segregam baba ou espuma txica pelas glndulas cutneas

    (peixe-sabo); e algumas vsceras, mesmo de espcies comestveis, podem conter toxinas.

    So exemplos de peixes que possuem carne venenosa: baiacu, baiacu de espinho,peixe cofre, peixe barbeiro, enchova preta.

    Alguns peixes apresentam espinhos que produzem ferimentos dolorosos, como ocaso do peixe-escorpio, mangang e moreiatim.

    Peixes txicos no comestveis

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    Outros peixes so agressivos ao homem. So os exemplos das morias, barracudase tubares.

    Outra observao importante a ser feita est relacionada com espcies marinhasimprprias para o consumo. As medusas, caravelas, guas-vivas so espcies decelenterados de corpo mole, gelatinoso etransparente, providos de aparelho defensivocomposto de clulas urticantes, que causamqueimaduras na pele humana com dor intensa.Deve-se evitar toc-los e, principalmente, nodevem ser comidos em hiptese alguma.

    Os moluscos (mariscos, ostras, mexilhes)agarrados a cascos de navios ou qualquerestrutura metlica so imprprios para ingesto,pois absorvem partculas do metal tornando-seperigosos para o consumo.

    Quanto aos tubares, a histria semprerelatou ataques desses peixes a pessoas. Osespecialistas apontam que apenas poucasespcies de tubares so antropfagas (ou seja,consideram o ser humano como fonte de alimento),o que no significa que no possa ocorrer umataque de outra espcie considerada no perigosa,quando o animal estiver com fome.

    O interesse pelo estudo de ataque de tubares a pessoas remonta SegundaGuerra Mundial, quando o aumento desses casos, sobretudo com marinheiros e pilotosaeronavais, levou a Marinha dos Estados Unidos a desenvolver o que seria mais tarde, orepelente contra tubaro.

    Contudo, coveniente lembrar que no hpreviso na legislao internacional de repelentede tubaro na palamenta das embarcaes desobrevivncia dos navios mercantes.

    A questo a seguinte: como proceder napresena de tubares? Algumas recomendaespodem ser encontradas em manuais desobrevivncia no mar.

    barracuda

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    Quando o nufrago estiver na gua

    manter constante vigilncia; no retirar os sapatos e as roupas; permanecer imvel, conservando as energias; caso seja necessrio nadar, faz-lo com braadas regulares, evitando-se

    movimentos frenticos; afastar-se de locais onde existam cardumes de peixes; quando ameaado de perto pelo tubaro, nadar com movimentos fortes e

    regulares, sem ser frenticos, de frente para o tubaro, numa direo que nocruze com o seu caminho;

    bater com as palmas das mos, em forma de cuia na superfcie da gua e gritarcom a cabea mergulhada dentro da gua; e

    caso o ataque seja iminente, procurar atingir o tubaro com algum objetopontiagudo no focinho, olhos, guelras ou ventre.

    Quando a bordo de uma embarcao de sobrevivncia:

    observando a presena de tubares nas proximidades, no pescar; se voc estiver com o peixe fisgado no anzol, liberte-o, pois o tubaro poder

    avariar a embarcao; evitar deixar mos e ps dentro dgua; no jogar restos de comida no mar; e caso o tubaro ataque a embarcao de sobrevivncia, procurar atingi-lo no

    focinho e na cabea com golpes de remo.

    A concluso que podemos chegar, com relao forma mais correta de se proceder,em se tratando de tubares, evitar a exposio.

    Estes animais so apontados como seres imprevisveis, o que dificulta sabermosqual ser o seu comportamento.

    No se esquea, o correto o nufrago estar dentro de sua balsa ou baleeira, eno exposto na gua.

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    3 Procedimentos bsicos para a sobrevivncia

    3.1 Processos mais comuns para a obteno de gua potvel

    Como visto acima, a gua a prioridade do nufrago em uma embarcao desobrevivncia. Sem gua potvel, a expectativa de sobrevivncia de uma pessoa ficabastante reduzida, estimada em apenas alguns dias.

    Diante desse fato, as palamentas das embarcaes de sobrevivncia so dotadasde rao lquida, acondicionada, hoje em dia, em sacos plsticos ou recipientes plsticos.A quantidade de gua prevista na palamenta para cada pessoa a bordo vai depender dotipo de embarcao de sobrevivncia.

    No caso das baleeiras, o Cdigo Internacional de Equipamentos Salva-vidasestabelece que devem existir recipientes estanques contendo um total de 3 (trs) litrosde gua potvel para cada pessoa que a baleeira estiver autorizada a acomodar.

    Em se tratando de balsas salva-vidas inflveis, essa quantidade de gua menor,1,5 (um litro e meio) litro de gua potvel, em recipientes estanques, para cada pessoaque a balsa estiver autorizada a acomodar.

    O Estado Maior das Foras Armadas prescreve o consumo dirio de 750 ml degua para que o indivduo mantenha suas condies fsicas e psicolgicas favorveis.

    Entretanto, haver necessidade de reduzir a quantidade distribuda por nufragoquando, por exemplo, existir uma previso de jornada de sobrevivncia mais prolongadaou ento, maior nmero de pessoas a bordo da balsa ou da baleeira. Contudo, o mnimode gua que um indivduo deve ingerir em sobrevivncia no mar, a cada 24 horas, de350 ml.

    Percebe-se que a quantidade de gua potvel das raes lquidas restrita, fazendocom que o nufrago procure fontes alternativas.

    A principal fonte de obteno de gua potvel a chuva. No toldo da balsa salva-vidas existe um coletor de gua da chuva, que tem o objetivo de facilitar o seu recolhimento.

    Rao liquida

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    Normalmente esse coletor composto de uma calhaque conduz a gua da chuva at o interior da balsa, pormeio de um tubo, e onde recolhida nos recipientes dearmazenamento. Por isso importante que os nufragosdisponibilizem recipientes para armazenagem da gua dachuva, tais como sacos plsticos, vasilhames vazios daprpria rao lquida j consumida, o casulo da balsa salva-vidas, entre outros. J houve casos de nufragos noconseguirem recolher gua da chuva por falta de recipientes para armazen-la.

    Outro ponto de extrema importncia que o nufrago deve observar antes de recolhera gua da chuva se o toldo da balsa est limpo, ou seja, livre dos cristais de sal queficam ali depositados. Assim, periodicamente, deve-se bater no toldo visando livr-lo dosal. A primeira gua recolhida pode estar imprpria para o consumo, sendo uma guasalobra, pois se misturou com o sal do toldo.

    O orvalho que se forma sobre o toldo tambm pode ser recolhido, desde que nocontaminado com sal. Para recolher o orvalho o nufrago pode utilizar uma das esponjasda palamenta. Como existem duas esponjas, uma delas ficaria destinada para essa funoespecfica, enquanto a outra seria utilizada para enxugar o fundo da balsa. Casoutilizssemos as duas esponjas para secar o fundo da balsa, ambas estariamcontaminadas com sal, no podendo ser utilizadas para recolher o orvalho.

    Alguns manuais de sobrevivncia no mar fazemtambm referncia ao gelo (icebergs) como possvelfonte de gua potvel. Contudo, esses autores diferenciamo gelo de formao recente (impregnado de sal), do gelode formao antiga (livre de sal), sendo este ltimoindicado para converso em gua potvel. O gelo deformao recente opaco (cinzento) e de formasangulares, enquanto o gelo de formao mais antigaapresenta a cor azulada e tem formas mais arredondadas.

    No mercado especializado, so encontrados hoje em dia, alguns equipamentos deextrema utilidade, pois so capazes de converter gua do mar em gua potvel. So osdestiladores solares e os dessalinizadores por osmose reversa. Contudo, essesequipamentos ainda no so exigidos, de forma obrigatria, pela legislao martimainternacional (Cdigo Internacional de Equipamentos Salva-vidas). Assim, a existnciadesses equipamentos na palamenta da balsa ou da baleeira depender da vontade dequem est dotando a embarcao de sobrevivncia.

    Segundo o Cdigo Internacional de Equipamentos Salva-vidas, dos 1,5 litro degua potvel previstos para cada pessoa que a balsa salva-vidas estiver autorizada aacomodar, 0,5 (meio) litro por pessoa poder ser substitudo por um aparelho dedessalinizao (como por exemplo, o destilador solar), capaz de produzir uma quantidadeigual de gua potvel em 2 dias. Ou ainda, 1 (um) litro de gua potvel por pessoa poderser substitudo por um dessalinizador por osmose reversa, acionado manualmente, capazde produzir quantidade igual de gua potvel em 2 dias.

    Em se tratando de baleeira, essas quantidades so dobradas, ou seja, 1 litro e 2litros por pessoa, podem ser substitudos, respectivamente, pelo destilador solar ou pelodessalinizador por osmose reversa.

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    3.2 O processo de obteno de alimentos oriundos do meio aqutico e os cuidadosnecessrios na sua ingesto

    O mar fornece ao nufrago algumas fontes de alimentao, tais como: peixes,aves marinhas, tartarugas, algas marinhas, moluscos, crustceos, entre outros.

    No se justificam atitudes desesperadas de nufragos com relao alimentao.Voc j sabe que a sua prioridade no a alimentao, e sim a manuteno do equilbriohdrico.

    Embora a sensao de fome seja desconfortvel, o nufrago acaba se acostumandoa ela, pois com o passar do tempo, h diminuio do tamanho de estmago.

    Isso no significa que voc no deva se preocupar com a pesca. Muito pelo contrrio.A pesca uma atividade de extrema importncia em sobrevivncia no mar. uma atividadeprodutiva, ou seja, a busca de alimentos, que manter o grupo ocupado e unido. Dessaforma, a pesca um exemplo de terapia ocupacional.

    O manual de sobrevivncia existente na palamenta da embarcao de sobrevivnciatraz instrues relacionadas obteno de alimentos. Essas orientaes devem serseguidas, pois so fruto da experincia de outros sobreviventes.

    O lder deve incentivar a pesca no grupo, pois alm de dirigir osesforos dos nufragos para a obteno de alimentos, estardesenvolvendo uma atividade produtiva.

    O Cdigo Internacional de Equipamentos Salva-vidas prev napalamenta das embarcaes de sobrevivncia um conjunto deapetrechos de pesca. Esse conjunto deve conter linha de pesca, anzis,chumbadas e isca artificial.

    Diversos manuais de sobrevivncia do dicas sobre como pescar dentro da balsaou da baleeira. Eis algumas:

    os peixes so atrados mais facilmente por iscas em movimento do que por iscasestticas;

    deve-se ter o mximo de cuidado quando manusear anzis, facas ou qualqueroutro objeto que possa causar avarias na balsa salva-vidas inflvel;

    a linha de pesca no deve ser amarrada ao corpo do nufrago, pois no caso deum peixe maior ser fisgado, a pessoa pode ser lanada na gua. Tambm no aconselhvel ancorar a linha de pesca na balsa salva-vidas inflvel, pois estapode ser avariada durante a luta do peixe para se livrar do anzol;

    durante a noite, o facho de luz de uma lanterna direcionado para a gua pode atrair

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    peixes e lulas. O reflexo da lua em uma superfcie metlica pode apresentar o mesmoefeito;

    a pesca deve ser realizada durante todo o perodo do dia e da noite, variando-seo comprimento da linha; e

    no deixe de consultar o manual de sobrevivncia no mar, pois voc encontraroutras dicas importantes.

    Ao pescar algum peixe, recomendvel que o mesmo seja morto antes de sercolocado a bordo da embarcao. Se voc colocar um peixe grande dentro da balsa,ainda vivo, poder causar acidentes, pois com certeza o animal ir rabear e lutar, podendoatingir uma pessoa causando-lhe leses ou at mesmo avariar a balsa salva-vidas.

    comum nos conjuntos de pesca de sobrevivncia no mar a existncia de iscasartificiais. Entretanto, de conhecimento geral que os peixes preferem alimentos de seuhabitat natural. Podemos utilizar como isca pequenos peixes apanhados nas imediaesda embarcao de sobrevivncia, bem como vsceras de peixes maiores e de aves.

    Caso o grupo tenha perdido o conjunto de apetrechos para pesca, ou ento desejeaumentar o nmero de linhas na gua, poder improvisar anzis utilizando clipes, alfinetes,pregos, bem como os distintivos dos uniformes dos tripulantes.

    Os peixes capturados em alto mar geralmente so comestveis. Como visto acima,a maioria das espcies venenosas encontrada em guas tropicais prximo de recifes decorais. Contudo, os nufragos devem observar alguns cuidados na ingesto do pescado.

    Em primeiro lugar, o peixe no deve ser engolido. O nufragodeve mascar a carne do peixe e desprezar o bagao, utilizando-o como isca. A explicao de se adotar esse procedimento simples. Vimos anteriormente que uma das formas de perda degua pela via digestiva. Assim, se a pessoa engolir a carne dopeixe, o organismo ir funcionar, produzindo bolo fecal e nas fezes,h uma pequena quantidade de gua eliminada.

    Outro cuidado que se deve ter com relao aos peixes doentes, que soidentificados pela observao das guelras, que se apresentam esbranquiadas e brilhantes,dos olhos afundados, pele e carnes com odor desagradveis. Lembre-se, a diarria aumentaconsideravelmente a perda de gua, agravando o desequilbrio hdrico do organismo.

    O pescado de difcil conservao dentro da embarcao de sobrevivncia,deteriorando-se rapidamente. Existe uma tcnica para conservar o peixe por alguns dias,que consiste em cortar a carne em tiras bem finas e deixar secar ao sol, depois de salgadas.Os especialistas dizem que os peixes de carne azul, como, por exemplo o atum, soextremamente sensveis a microorganismos, razo pela qual devem ser logo consumidos.

    Finalmente, cabe uma ltima observao. Como no possvel fazer fogo a bordo da embarcao de sobrevivncia, opescado ser consumido cru. Nem toda pessoa conseguirconsumir a carne do peixe crua, podendo apresentar nusease, caso se insista no consumo, vir at mesmo a vomitar, o que indesejvel. Nessescasos, o melhor no se alimentar, pois a prioridade mxima do nufrago com amanuteno do equilbrio hdrico.

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    3.3 Procedimentos bsicos para enfrentar os desarranjos emocionais e mentais

    O abandono do navio uma situao traumtica, que pode conduzir as pessoas aopnico e a respostas psicolgicas negativas.

    Em primeiro lugar, importante que haja um lder capaz, com os conhecimentostericos e prticos de sobrevivncia. Esse lder deve inspirar confiana nos demaisnufragos.

    Disciplina importante em uma embarcao de sobrevivncia. A manuteno dadisciplina dentro da balsa salva-vidas no conseguida por imposio da hierarquiaexistente na embarcao abandonada, mas pela confiana das pessoas no lder.

    O grupo de sobreviventes deve formar um conjunto unido, coeso, sem divises,com objetivo bem definido, qual seja, o resgate de todos com vida.

    Todos devem ser tratados de forma justa e igual, para evitar favorecimentos equebra na unidade dos nufragos. O mais importante a unio de todos.

    A terapia ocupacional a melhor forma para se enfrentar esses desarranjosemocionais e mentais. Terapia ocupacional significa manter-se ocupado com atividadespositivas, como por exemplo, a busca de alimento (pesca), a execuo de turnos de vigia,a escriturao de um dirio de sobrevivncia, entre outras.

    No se esquea de que os distrbios emocionais so causados principalmentepelo medo, ferimentos, exausto ou ingesto de gua do mar. O nufrago nessas condiesno deve ser tratado com rigor excessivo, pois isso poder piorar sua situao, tornando-o, inclusive, violento.

    Deve-se ficar atento aos nufragos deprimidos e excessivamente preocupados,pois estes podem evoluir para um grau maior de desarranjo emocional, o que podecontaminar todo o grupo de sobreviventes.

    O lder deve ponderar as suas aes. Deve saber ser rgido, conciliador e imparcialquando a situao assim o exigir. Deve inspirar confiana nos demais nufragos.

    No deve demonstrar ansiedade, nem ser vacilante, e deve usar, sempre querecomendvel, uma certa dose de humor.

    Lembre-se, uma boa liderana na balsa ou na baleeira reduz a possibilidade deconflitos e aumenta consideravelmente as chances de sucesso na sobrevivncia.

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    3.4 Procedimentos preventivos para conservao da sade

    Hipotermia: embora existam a bordo embarcaes de sobrevivncia, poderoocorrer situaes excepcionais que tornem inacessveis essas embarcaes. Emdecorrncia desse fato, o nufrago poder ter que passar algum tempo dentro da guaaguardando o resgate.

    A hipotermia consiste na diminuio da temperatura interna do corpo causado poruma exposio excessiva ao ambiente frio.

    A hipotermia pode ser definida como a reduo da temperatura corporal abaixo dos350 C. Poder ocorrer tanto em terra como dentro da gua. A hipotermia produzida porimerso na gua mais rpida do que aquela produzida no ar. Isto se deve condutividadetrmica da gua que cerca de 20 (vinte) vezes maior do que a do ar atmosfrico.

    Para se ter um parmetro de estimativa de sobrevivncia de pessoas imersas nagua, sem proteo adequada, podemos consultar o quadro abaixo.

    O tempo de sobrevivncia de uma pessoa imersa em gua fria, antes que ocorrauma parada cardaca, determinado principalmente pela temperatura da gua e o tempode imerso do corpo, contribuindo tambm a constituio fsica da pessoa e o procedimentona gua.

    Quanto menor a temperatura da gua, menor ser o tempo de sobrevivncia. Oresfriamento do corpo acompanhado de um colapso rpido e progressivo dos estadosde resistncia fsica e mental e cerca de 27 graus centgrados de temperatura interna, oritmo cardaco falha e a morte poder ocorrer devido a batimentos cardacosdessincronizados e descontrolados.

    O primeiro sintoma de perigo um tremor incontrolvel do corpo, seguido deconfuso mental e insensibilidade dos ps e mos.

    O impulso imediato da pessoa submetida ao frio consiste em exercitar-se ou agitar-se vigorosamente na tentativa de manter-se aquecida. Contrariamente ao que se imagina,esta reao retira do corpo as ltimas reservas de calor, diminuindo consideravelmente otempo de sobrevivncia.

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    Uma pessoa imersa em gua fria deve procurar manter-se calma, sem se agitardesnecessariamente. Se estiver vestindo o colete salva-vidas, deve adotar a posioHELP, mantendo a cabea, pescoo e nuca fora da gua, tornozelos cruzados e joelhoslevantados, braos colados ao corpo ou abraados s pernas, ou ainda com as mosentre as axilas, com o objetivo de proteger as partes do corpo onde ocorrem maiorestrocas de calor.

    Posio de ajuda

    Ao invs de vestir roupas grossas e apertadas, deve-se usar roupas folgadas, poisa gua que fica entre o corpo e o tecido, rapidamente adquire a temperatura da superfciedo corpo, funcionando como isolante trmico para a gua externa.

    Todas as medidas que diminuam a razo de perda de calor corporal retardaro osurgimento dos sintomas caractersticos da hipotermia, e prolongaro o tempo desobrevivncia.

    Tanto em terra como no mar, as seguintes medidas devem ser tomadas: use a indumentria adequada para a temperatura ambiente; proteja a cabea, pescoo, nuca, axilas e virilha, pois so regies onde ocorrem

    as maiores perdas de calor; mantenha-se seco, se possvel; proteja-se do vento, pois em um clima frio apenas uma leve brisa aumenta a

    perda de calor, com perigo de congelamento das partes expostas do corpo (fecheo toldo da embarcao de sobrevivncia);

    no ingira bebidas alcolicas; evite ch e caf por serem bebidas diurticas; evite exercitar-se desnecessariamente; tome comprimido contra enjo (o enjo deixa as pessoas mais sujeitas

    hipotermia); se estiver s na gua, adote a posio HELP; e na embarcao de sobrevivncia, o grupo deve procurar ficar o mais prximo

    possvel para aquecimento mtuo, devendo ser inflado o fundo duplo paraaumentar o isolamento da gua fria do mar.

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    Insolao: como a causa da insolao a elevao da temperatura do corpo sema correspondente eliminao deste calor, o meio de preveni-la interromper a exposioda pessoa ao calor e a todo e qualquer desgaste fsico. Alm disso, deve ser ministradaao nufrago rao lquida.

    Tambm deve-se procurar baixar a temperaturacorporal, aplicando-se compressa de panos midos.

    conveniente promover uma melhor ventilaona embarcao de sobrevivncia, fazendo com que arfresco circule em seu interior.

    Desidratao: como vimos anteriormente, a desidratao ocasionada pelodesequilbrio hdrico no organismo. Como a regra em sobrevivncia no mar a escassezde gua potvel para hidratar o organismo, a nica providncia que o nufrago podeadotar para reduzir o seu estado de desidratao diminuir a perda de gua do organismo.Para isso, deve se proteger do sol e do vento, pois calor e ar em movimento aumentam aevaporao. Reduzir a sudorese molhando as roupas e o toldo da balsa salva-vidas comgua do mar, para prevenir o efeito estufa.

    No se alimentar, principalmente de peixes e aves, pois a gua interna do corposer usada na digesto desses alimentos. Procurar combater possveis enjos e diarrias.Reduzir as atividades fsicas, devendo todo trabalho ser executado ao anoitecer e aoamanhecer, quando a temperatura mais amena.

    Queimaduras solares: para prevenir-se de queimaduras solares, o nufrago deveconservar a cabea e a pele em geral cobertas e manter-se sombra. O perigo dasqueimaduras solares no apenas quando os raios incidem diretamente na pele, mastambm aqueles refletidos pela gua.

    Quando estiver desempenhando a funo de vigia, proteja o pescoo e a nuca pormeio de uma aba improvisada. A proteo contra os raios solares em uma embarcao desobrevivncia poder ser feita por meio de toldos (cobertura), roupas e culos.

    Inflamaes oculares: o reflexo intenso do cu e da gua poder fazer com queos olhos dos nufragos se tornem injetados de sangue, inflamados ou doloridos. Assim, conveniente que se faa uso de culos protetores ou, na falta deles, deve-se improvisaralguma proteo com pedaos de pano ou atadura.

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    Se dispuser de colrio anti-sptico, use-o para controlar a inflamao. Se os olhosestiverem doloridos, coloque sobre ele uma leve atadura. Umedea um pedao de gaze(gua potvel) e coloque-o sobre os olhos antes de fixar a atadura.

    lceras provocadas pela gua salgada: o contato contnuo da gua salgadacom a pele resulta em feridas. O nufrago deve evitar abri-las ou esprem-las. Use apomada anti-sptica do estojo de primeiros socorros da palamenta da balsa ou da baleeira.No deixe a umidade penetrar nas feridas. Mantenha a ferida o mais seca possvel.

    Enjo: dos problemas enfrentados pelas pessoas que esto no mar, especialmenteem embarcaes que esto jogando muito, os mais comuns so tonturas, nuseas evmitos. Numa sobrevivncia no mar, com a embarcao de sobrevivncia ao sabor dasvagas, o problema passa a ser crtico, pois o vmito decorrente do enjo implica na perdade gua interna do organismo e conseqente aumento do estado de desidratao. Nestasituao, o nufrago deve permanecer deitado, mudar a posio da cabea, evitar comere beber e tomar o quanto antes comprimido contra enjo no mar.

    Priso de ventre e dificuldade de urinar: a falta de funcionamento dos intestinosconstitui fenmeno comum nos nufragos em decorrncia da escassez de alimentao.No se impressione demasiadamente com isso, nem tome laxantes. Faa exerccios fsicosleves, na medida do possvel.

    A cor escura da urina e a dificuldade de urinar so tambm fenmenos normais emtais circunstncias. uma forma de o organismo reter a gua dentro do corpo.

    P de Imerso: como vimos anteriormente, o p de imerso provocado porexposio prolongada das pernas e dos ps ao frio e gua. Se a exposio for contnuapor vrios dias, podem surgir manchas pretas de gangrena nas pernas e ps. A melhorpreveno manter o corpo to seco quanto possvel, procurando exercitar as pernas emexer com os dedos dos ps para melhorar a circulao. Pelo mesmo motivo, as botas,calados apertados ou meias molhadas devem ser retirados.

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    3.5 Procedimentos para abandono da embarcao

    Todo tripulante a bordo de qualquer embarcao tem que estar familiarizado comtodas as suas funes, inclusive aquelas ligadas s fainas de emergncia.

    Nos navios mercantes temos a Tabela Mestra que um quadro onde esto dispostasas atribuies de todos os tripulantes nas principais fainas de emergncia abandono,incndio e coliso/abalroamento.

    Qualquer pessoa que esteja a bordo do navio, seja tripulante ou passageiro, devese familiarizar com a tabela mestra.

    A maior emergncia que podemos ter a bordo o abandono da embarcao.Devemos ter em mente sempre o seguinte:

    NO MAR, A NOSSA EMBARCAO OLOCAL MAIS SEGURO

    O abandono da embarcao ser a ltima alternativa para as pessoas. Conclumos,portanto, que o abandono uma medida extrema, e por isso,

    A ordem para abandonar a embarcao deve ser dada pelo Comandante ouPatro.

    Ao escutar o toque de alarme geral (uma srie de sete ou mais apitos curtos seguidospor um apito longo), vista roupas adicionais e o seu colete salva-vidas e ento, dirija- separa o ponto de reunio. Esse toque antecede o toque das fainas de emergncia (incndio,coliso e abandono).

    importante que voc saiba o seguinte: esse toque no significa abandono daembarcao. O toque de abandono representado pelo acionamento da campainha dealarme geral, que soar ininterruptamente.

    No ponto de reunio, a tripulao receber as informaes sobre a emergncia eas aes que devem ser tomadas. Chegando ao ponto de reunio, no retorne em hiptesealguma ao seu camarote a fim de pegar objetos de uso pessoal. Nenhum bem material mais importante que a sua vida.

    O Comandante do navio ir avaliar a situao, verificando se h necessidade deabandon-lo.

    Quando for dada a ordem de abandono, entre na embarcao de sobrevivncia.Lembre-se, o meio preferencial de embarque o direto, sem entrar em contato com agua.

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    3.6 A importncia da indumentria correta como proteo do corpo

    A maior causa de morte em sobrevivncia no mar a hipotermia. Hipotermiapode ser definida como a diminuio da temperatura do corpo causada pela exposio donufrago a ambientes frios, principalmente no caso de imerso em gua fria.

    O nufrago, antes mesmo de enfrentar os problemas decorrentes da hipotermia,poder sofrer o choque trmico inicial, que pode inclusive ocasionar a morte da pessoaque tenha que se lanar na gua. As roupas adicionais reduziro este efeito.

    A roupa, portanto, representa o primeiro elemento da proteo do nufrago. Nuncaabandone a embarcao se no estiver apropriadamente vestido.

    Antes de abandonar a embarcao, voc deve vestir roupas quentes. A prticademonstrou que as melhores roupas para o nufrago usar so as feitas de l. Se possvel,providencie tambm uma proteo para a cabea, pois esta a parte do corpo ondeexiste maior emisso de calor. No deixe de protegertambm as extremidades do seu corpo, como asmos e os ps. Nunca esquea o seu colete salva-vidas!

    Algumas embarcaes possuem roupasprprias para o abandono. So exemplos a roupade imerso e a roupa antiexposio conforme a figura.Caso voc tenha uma dessas roupas disponvel, use-a sobre as roupas adicionais que voc vestiu.

    No que se refere roupa de imerso, umaobservao importante deve ser feita. Existem roupasde imerso de dois tipos, no que se refere a suaflutuabilidade: roupas de imerso com flutuabilidadeprpria e roupas de imerso sem flutuabilidadeprpria.

    Caso a roupa de imerso do seu navio sejado segundo tipo, ou seja, sem flutuabilidade prpria,vista o colete salva-vidas sobre a roupa de imerso.

    roupa antiexposio

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    3.7 A importncia da utilizao de destroos como recurso para flutuao

    Caso voc fique impossibilitado, por causa de alguma situao imprevista, de utilizaras embarcaes de sobrevivncia, improvise uma jangada com todos os pedaos demadeira que estejam flutuando no local do naufrgio.

    Tenha em mente que, em uma sobrevivncia no mar, o mais importante sair dedentro da gua.

    Vimos anteriormente que o colete salva-vidas o principal equipamento individualde salvatagem. fundamental que toda pessoa, ao abandonar uma embarcao, estejavestida do seu colete salva-vidas.

    Entretanto, se algum for para dentro da gua sem estar com o colete salva-vidas(o que errado!), poder utilizar os destroos da embarcao naufragada como recursode ajuda para a flutuao.

    Assim, estando na gua sem colete salva-vidas, procure se abraar ao maior nmerode objetos que estejam flutuando a sua volta, como demonstrado na figura abaixo. Issofar com que voc poupe energia e prolongue sua sobrevivncia.

    Procure retirar o mximo de seu corpo de dentro da gua. Lembre-se daquelapersonagem do filme Titanic que se salvou porque ficou sobre uma porta, fora da gua.

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    3.8 Aes a serem empreendidas antes, durante e aps o abandono da embarcao

    Procedimentos antes do abandono

    O momento que antecede o abandono aquele em que ainda no foi dada a ordempara abandonar a embarcao, mas h indcios de que a embarcao no mais fornececondies de preservar a vida das pessoas a bordo.

    Cada um a bordo deve vestir roupas adicionais para frio (havendo no navio roupade imerso ou antiexposio, dever vesti-las), colocar o seu equipamento de proteoindividual (capacete, luvas, bota) e o colete salva-vidas. Tambm deverlevar do camarote o seu cobertor.

    No ponto de reunio, localizado na estao das embarcaes desobrevivncia, o encarregado da faina dever verificar se todas asembarcaes de sobrevivncia esto prontas para o lanamento.

    O grupo de apoio, previsto no plano de contingncia da embarcao para a fainade abandono, dever providenciar raes extras, principalmente gua potvel, bem comocobertores extras e qualquer equipamento que se julgue necessrio para a sobrevivncia.Simultaneamente, o encarregado da navegao dever certificar-se da posio exata doabandono do navio, informao que ser transmitida na mensagem de socorro. Ao sedirigir para a estao de embarque, esse tripulante dever levar alguns acessrios denavegao (cartas nuticas do local, rgua paralela, compasso, lpis, borracha, etc.).

    Tambm importante que se levem equipamentos de sinalizao (pirotcnicos efumgenos) extras. Esses equipamentos podem ser encontrados no passadio daembarcao.

    No devem ser esquecidos a bordo a EPIRB e o SART. A tabela mestra daembarcao j designa o tripulante encarregado de conduzir esses equipamentos. Contudo, importante que o encarregado da faina de abandono se certifique de que essesequipamentos esto sendo embarcados na baleeira ou na balsa.

    Procedimentos durante o abandono

    O momento de abandono inicia-se quando acionado o alarmede postos de abandono (toque ininterrupto).

    Toda manifestao de pnico deve ser controlada, pois o pnicopode contagiar a todos, tornando o abandono da embarcao catico.

    Ouvindo o alarme de abandono, dirija-se ao seu posto de abandono, conforme atabela mestra.

    O encarregado da embarcao de sobrevivncia verificar se todas as pessoasdesignadas para aquela embarcao esto presentes, caso em que determinar oprosseguimento do lanamento da embarcao.

    Voc dever executar as tarefas previstas para a sua funo a bordo de acordocom o previsto na tabela mestra, sempre de forma proficiente e sem afobao.

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    Em seguida, entre na sua embarcao de sobrevivncia. No se esquea de passarimediatamente o afastamento do costado do navio.

    Procedimentos aps o abandono

    Aps o afastamento da embarcao abandonada, os nufragos devero estabilizara embarcao de sobrevivncia nas proximidades do sinistro, pois ser mais fcil alocalizao pelas equipes de busca e salvamento.

    Os nufragos devero recolher as pessoas que porventura estejam dentro da gua.Para isso podero utilizar o aro flutuante da palamenta da balsa ou, se estiverem a bordode uma baleeira a motor, manobrar at prximo desses nufragos.

    Todas as embarcaes de sobrevivncia devero ser unidas, pois o alvo de detecopara as equipes de busca e salvamento ser aumentado, facilitando sua localizao.

    Quando estiverem afastados do navio sinistrado (cerca de 150 metros) a ncoraflutuante dever ser lanada ao mar. Esse equipamento ir reduzir os efeitos da deriva,estabilizando a embarcao nas proximidades da posio do abandono da embarcao.

    O lder estabelecer servio de vigia, do qual todos devero participar, pois estatarefa de suma importncia para a sobrevivncia de todos.

    Aps estes primeiros momentos, inicia-sea jornada de sobrevivncia. Os nufragos devemtomar medidas para manter o moral elevado.

    Devero preparar-se para as seguintesaes: chegada das unidades de busca esalvamento, reboque, resgate por helicpteros,ou, estando prximo de terra, aterragem.

    3.9 A importncia do adestramento para enfrentar naufrgios

    A melhor forma de se obter proficincia nas fainas de emergncia por intermdio detreinamentos peridicos. Somente uma tripulao bem treinada conseguir executar as tarefasprescritas no plano de contingncia e na tabela mestra de forma eficiente, e sobretudo, sempnico.

    No momento em que ocorre uma emergncia a bordo, seja ela qual for, no havertempo para se consultarem manuais, nem de tirar dvidas quanto operao de equipamentos.

    A tripulao dever saber como os equipamentos de salvatagem funcionam, e issosomente ser possvel com exerccios e adestramento.

    Os treinamentos de salvatagem a bordo so de trs espcies:

    de Familiarizao de Abandono de Resgate

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    A familiarizao voltada para o novo tripulante ou aquele que esteja necessitandoassumir suas funes.

    Essa familiarizao se estende tambm ao passageiro, principalmente no que serefere colocao correta do colete salva-vidas e do caminho a ser percorrido do seucamarote at o ponto de reunio, localizado no convs da embarcao de sobrevivncia.

    O treinamento de abandono est prescrito na Conveno Internacional paraSalvaguarda da Vida Humana no Mar, em sua regra 19. Todos os membros da tripulaodevero participar de, pelo menos, um exerccio de abandono do navio e um exerccio deincndio, por ms. Esses exerccios devero ser realizados, na medida do possvel, comose fosse uma situao real de emergncia.

    Cada exerccio de abandono do navio dever conter o seguinte:

    uma convocao dos passageiros e datripulao para os postos de reunio;

    a apresentao aos postos e apreparao para as tarefas descritas natabela mestra;

    a verificao de que os passageiros e atripulao esto adequadamentevestidos;

    a verificao de que os coletes salva-vidasesto corretamente colocados;

    a arriamento de pelo menos umaembarcao salva-vidas, aps terem sidorealizados quaisquer preparativosnecessrios ao lanamento;

    a partida e o funcionamento do motor daembarcao salva-vidas;

    a operao dos turcos utilizados paralanar as balsas salva-vidas (se for o caso);

    uma simulao de busca e salvamento depassageiros presos em suasacomodaes; e

    instrues sobre a utilizao do rdio dosequipamentos salva-vidas.

    Aps cada exerccio, dever haver umaavaliao, de modo a serem corrigidas eventuaisfalhas.

    O treinamento de resgate tambmencontra previso na SOLAS, e consiste em umasimulao de resgate de nufragos ou de homemao mar. Recomenda-se que a embarcao desalvamento (bote de resgate) seja arriada, pelomenos, uma vez por ms.

  • 97SMASMA

    4 Material de salvatagem

    4.1 Conveno Internacional para Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS -1974) princpios e regras

    Podemos dizer que a origem do desenvolvimento da primeira convenointernacional sobre salvaguarda da vida humana no mar foi o naufrgio do navio depassageiros TITANIC, ocorrido em 1912.

    Dois anos aps o acidente , portanto, em 1914, as principais naes martimas sereuniram em uma conferncia realizada na cidade de Londres, da qual resultou a primeiraConveno para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar, conhecida como SOLAS.

    Desde ento, a SOLAS vem sendo constantemente revisada, e o texto atualmenteem vigor o adotado em 1974, e seu protocolo de 1978.

    A SOLAS considerada a principal conveno da Organizao MartimaInternacional (em ingls, IMO International Maritime Organization), da qual o Brasil membro.

    Essa Conveno Internacional tem como objetivo principal a proteo da vidahumana.

    A SOLAS dividida em 12 Captulos:Captulo I Disposies GeraisCaptulo II-1 Construo Estrutura, Compartimentagem e Estabilidade, Mquinas

    e Instalaes EltricasCaptulo II-2 Const. Proteo contra Incndio, Deteco e Extino de ncndioCaptulo III Equipamentos Salva-vidas e outros dispositivosCaptulo IV RadiocomunicaesCaptulo V Segurana da NavegaoCaptulo VI Transporte de Cargas (incluindo Gros)Captulo VII Transporte de Mercadorias PerigosasCaptulo VIII Navios NuclearesCaptulo IX Gerenciamento para Operaes Seguras de NaviosCaptulo X Medidas de Segurana para Embarcaes de Alta VelocidadeCaptulo XI Medidas de Segurana para Intensificar a Segurana MartimaCaptulo XII Medidas Adicionais de Segurana para Graneleiros

    O captulo mais importante da SOLAS, no que se refere salvatagem, o CapituloIII, que deve ser lido junto com o Cdigo Internacional de Equipamentos Salva-vidas(conhecido como Cdigo LSA).

    Esse Captulo foi completamente revisado e entrou em vigor em 1o de julho de1998, juntamente com o Cdigo LSA, levando em considerao importantes avanostecnolgicos, tal como o desenvolvimento dos sistemas de evacuao martimo.

    No Cdigo LSA esto descritas as especificaes tcnicas mnimas dosequipamentos e dispositivos salva-vidas. O Cdigo LSA contm os requisitos tcnicosenvolvendo equipamentos salva-vidas, de embarcaes de sobrevivncia a coletes salva-vidas.

  • 98

    No Brasil, atribuio da Diretoria de Portos e Costas, por intermdio da redeDPC (Capitanias, Agncias e Delegacias), fazer cumprir as regras estabelecidas na SOLAS,tanto nos navios nacionais como nos navios estrangeiros, por intermdio de vistorias einspees navais.

    As inspees navais, conforme a Lei de Segurana do Trfego Aquavirio (LESTA),tm como propsito a segurana da navegao, a salvaguarda da vida humana no mar ea preveno da poluio do meio ambiente.

    4.2 A utilizao do colete salva-vidas

    Segundo as regras internacionais e nacionais, toda pessoa a bordo de umaembarcao tem que possuir um colete salva-vidas individual, localizado em seu camarote.Considerando as caractersticas especficas de cada navio, principalmente os naviosmercantes de transporte de carga, em algumas situaes, o colete salva-vidas pode ficarinacessvel para determinado tripulante, por exemplo, quem estiver trabalhando nasproximidades do castelo de proa. Dessa forma, haver a bordo dos navios mercantes umnmero maior de coletes localizados em compartimentos especficos, como por exemplo,no passadio, na praa de mquinas, no paiol do mestre na proa e na estao de embarquedas baleeiras.

    Alm disso, dever existir um nmero de coletes salva-vidas adequado para crianas,igual a pelo menos 10% do nmero de passageiros a bordo, ou um nmero maior, casoseja necessrio, de modo que haja um colete salva-vidas para cada criana.

    Mesmo no caso de embarcaes midas, sejam de esporte e recreio ou no, aAutoridade Martima exige a dotao de um colete salva-vidas para cada pessoa a bordo,tripulante ou passageiro.

    Lembre-se, o colete salva-vidas o seu principal equipamento de salvatagem.Dessa forma, a pessoa, ao embarcar, deve se familiarizar com a utilizao do colete,principalmente no que se refere sua colocao.

    O Cdigo Internacional de Equipamentos Salva-vidas determina que pelo menos75% das pessoas, sem qualquer familiarizao com o colete salva-vidas, possam vesti-locorretamente em menos de um minuto, sem ajuda, orientao ou demonstrao prvia.Isso significa que uma das principais caractersticas do colete salva-vidas a sua facilidadede vestimenta. Mesmo sendo de fcil vestimenta, importante que o tripulante (eprincipalmente o passageiro) treine a colocao do colete salva-vidas. No se esquea deque numa situao de emergncia, sendo necessria a utilizao do colete salva-vidas,voc poder estar nervoso, o que dificultar a vestimenta correta do equipamento. Sevoc no treinou antes, durante os exerccios, no vai ser na hora de uma situao real deemergncia que ir aprender como faz-lo.

    Portanto, aprenda a vestir corretamente o colete salva-vidas. Em todo e qualquerexerccio de abandono do navio, sempre comparea a sua estao de embarque na baleeira(ponto de reunio no caso da faina de abandono), vestindo o seu colete salva-vidas.

    Outro ponto importante que voc no pode esquecer. O colete salva-vidas no foifeito apenas para aqueles que no sabem nadar. Assim, mesmo que voc seja um excelentenadador, vista o colete salva-vidas.

  • 99SMASMA

    Vamos ver agora como vestir o colete salva-vidas:

    Os coletes salva-vidas mais simples so vestidos pela cabea e amarrados naaltura da cintura. importante que o equipamento fique bem ajustado ao corpo.

    O colete salva-vidas no pode ficar frouxo, pois quando a pessoa entrar na gua, atendncia dele subir, ficando desconfortvel para o nufrago, podendo inclusive sairpela cabea.

    1) Vista o colete salva- vidas sobre as suas roupas;

    2) Ajuste o coletes salva-vidas na altura dos ombros;

    3) Tenha o cuidado para que as tiras no fiquem torcidas;

    4) Amarre o colete salva-vidas na altura da cintura;

    5) No d um n cego que dificulte a retirada do colete dentro dgua;

    6) Complete o ajustamento do colete salva-vidas, atando as tiras superioreso final, verifique se o colete est bem ajustado ao corpo

    Alguns coletes possuem tiras que devem ser passadas entre as pernas e atadasna altura do abdome. Essas tiras evitam que o colete suba, incomodando o seu usurio edificultando que o mesmo nade, caso precise faz-lo.

    Os coletes salva-vidas ainda podem ser inflveis. Esse tipo de colete salva-vidas muito empregado nas aeronaves, como as que realizam o transporte das tripulaes dasplataformas de petrleo. Os coletes inflveis normalmente so acionados por uma oumais ampolas de CO2, possuindo tambm um dispositivo de enchimento por via oral, casoo sistema de inflao principal falhe.

    Ainda com relao ao seu colete salva-vidas, algumas palavras devem ser ditas. fundamental que voc obedea s seguintes regras:

    Nunca use seu colete salva-vidas como encosto, almofada ou travesseiro, poisvoc pode avari-lo.

  • 100

    No tire o colete salva-vidas da embarcao, pois poder faltar para algum abordo. Sempre que for feito algum treinamento com colete salva-vidas, principalmentedentro da gua salgada, o equipamento deve ser adoado e posto para secar, antes deguard-lo no camarote ou no paiol de salvatagem.

    Os coletes salva-vidas devem ser dotados de alguns acessrios obrigatrios,previstos no Cdigo Internacional de Equipamentos Salva-vidas. Esses coletes soclassificados como coletes do Tipo I, utilizado para navegao de longo curso. Os acessriosobrigatrios so: luz de sinalizao de emergncia, fitas retro-refletivas e um apito.

    23

    2

    1

    1- Fita retro-refletiva2- Apito

    3- Luz de sinalizao de emergncia

  • 101SMASMA

    4.3 O lanamento e o embarque nas balsas salva-vidas

    A balsa salva-vidas uma embarcao de sobrevivncia. A SOLAS a define comosendo a embarcao capaz de preservar as vidas das pessoas em perigo, a partir domomento em que abandonam o navio.

    Nos navios mercantes de transporte de carga, so consideradas como meiosecundrio de abandono do navio, pois o primrio a baleeira.

    Entretanto, h embarcaes que no possuem baleeira, e que, segundo a legislaomartima nacional, necessitam de balsa salva-vidas inflvel. o exemplo de algumasembarcaes de apoio martimo.

    As balsas salva-vidas podem ser inflveis ou rgidas. Vamos tratar nesse trabalhodas inflveis, devido a sua maior utilizao.

    O tamanho varia conforme a capacidade de pessoas; contudo, nenhuma balsapode ser construda para menos de seis.

    Toda balsa salva-vidas dever ser construda de modo a ser capaz de resistir auma exposio de 30 dias ao tempo, flutuando em todas as condies de mar. Deve serum equipamento resistente s intempries. Isso no significa que em seu interiorencontraremos raes lquidas e slidas para um ms. As provises so para bem menostempo, geralmente em torno de cinco dias.

    1- Cobertura

    2- Plataforma de embarque

    3- Cmara de flutuao

    Alm disso, as balsas devem ser capazes de resistir ao lanamento de uma alturamnima de 18 metros, sem que a prpria balsa ou seus equipamentos sejam avariados.

    A balsa salva-vidas tipo SOLAS (conhecida como Classe I), alm das caractersticasapontadas acima, devem ser dotadas de uma cobertura, para proteger seus ocupantes deuma exposio ao tempo (tanto do frio como do sol), que se eleve automaticamente quandoa balsa for inflada.

    Como vimos acima, a cobertura da balsa deve ser dotada de meios para coletar agua da chuva. Tambm dever possui em sua cobertura meios para permitir a instalaode um transpondedor radar para embarcaes de sobrevivncia (que veremos melhor emitem abaixo), que fique a uma altura de pelo menos 1 metro acima do nvel do mar.

    As balsas so acondicionadas desinfladas dentro de um casulo de fibra de vidro eso estivadas, no navio, sobre um bero.

    3

    2

    1

  • 102

    Existem trs procedimentos distintos para o lanamento de uma balsa salva-vidas:lanamento manual, liberao por flutuao livre e lanamento por turco. importantesabermos que nem toda balsa pode ser arriada por turco, somente as construdasespecificamente para esse tipo de lanamento.

    Lanamento manual

    Em primeiro lugar, deve-se liberar as cintas que mantm a balsa estivada no bero.Caso a varanda do navio seja removvel, devemos liberar esse espao na borda falsa, demodo a facilitar o lanamento da balsa. Em seguida, o cabo de acionamento deve serancorado a um ponto fixo do navio. A balsa manuseada geralmente por duas pessoas,que a lanam por sobre a borda falsa. Aguarda-se o casulo parar de rolar, e ento, inicia-se o colhimento do cabo de acionamento.

    Seqncia de fotos tiradas de quadro de instrues de lanamento de balsaencontrado nos navios da FRONAPE / TRANSPETRO

    No final de seu comprimento, o tripulante perceber uma resistncia, ento deverdar um puxo forte de modo a romper o selo da garrafa de CO2.

    O enchimento da balsa, em clima tropical, leva cerca de 30 segundos. As cmarasde flutuao so infladas em primeiro lugar, e em seguida, automaticamente, o toldo erguido.

    O tripulante que acionou o dispositivo de enchimento da balsa dever, ento, trazera balsa para prximo do costado do navio, a fim de facilitar o embarque das pessoas.

  • 103SMASMA

    O embarque preferencial o direto, ou seja, aquele em que a pessoa que estabandonando o navio no entra em contato com a gua. Para isso, deve-se providenciaruma escada de quebra-peito deitada no costado do navio, ou ento uma rede de carga,de modo que as pessoas possam descer por esses acessrios e entrar secas na balsa.No aconselhvel saltar sobre a balsa, embora o equipamento seja resistente. O saltodo convs sobre a balsa pode causar avarias na embarcao, ou pior, leses corporaisnas pessoas que j estejam a bordo.

    Se voc tiver que saltar para abandonar o navio, salte na gua e nade at a balsa(esse embarque denominado de embarque indireto).

    Aps todos os nufragos embarcarem na balsa, corte o cabo de acionamento queest prendendo a balsa ao navio, e afaste-se utilizando os remos. Lembre-se, o afastamentodo local do sinistro apenas para que voc fique safo do navio que est afundando.

    Liberao por flutuao livre

    As balsas salva-vidas inflveis tambm podem ser liberadas por flutuao livre.Isso ocorre quando o navio afunda e nenhuma balsa foi lanada manualmente na gua,caso em que a balsa se desprende sozinha e vem para a superfcie j inflada.

    Vlvula hidrostticapermanente

    Vlvula hidrosttica descartvel

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    A liberao automtica da balsa se d a uma profundidade no superior a 4 metros.A presso da gua atua sobre a unidade de liberao hidrosttica (tambm conhecidacomo vlvula hidrosttica), liberando a cinta que mantm a balsa estivada em seu bero.

    Como o conjunto balsa/casulo tem flutuabilidade positiva (flutua), enquanto o navioafunda, a balsa comea a vir superfcie. Entretanto, a balsa ainda se encontra presa aonavio por intermdio do cabo de acionamento. Quando este cabo tesa, a balsa comeara inflar. Sabemos que o cabo de acionamento muito resistente, no rompendo com essatrao. Ocorre que o cabo de acionamento est manilhado a um cabo de menor resistnciadenominado de weak link (elo fraco).

    Quando este cabo (weak link) tesar, romper-se-, liberando a balsa, que vir paraa superfcie j inflada, permitindo que os nufragos possam embarcar.

    Lanamento por turco

    Nem toda balsa salva-vidas pode ser arriada por turco. A balsa arriada pelo turco uma balsa especial, construda especificamente para esse meio de lanamento.

    A balsa arriada por turco inflada na altura do convs das embarcaes desobrevivncia, e tem a vantagem de permitir que as pessoas embarquem desse convs,sem ter que descer por uma escada de quebra-peito, ou pular na gua.

    O controle de descida da balsa salva-vidas feito do interior da mesma. Ao tocarna gua, o gato do turco liberado, iniciando-se o afastamento do constado do navio.

    Embarque nas balsas

    O embarque pode ser classificado em direto e indireto.O embarque direto aqueleem que as pessoas abandonam o navio sinistrado, entrando diretamente na balsa salva-vidas, ou seja, no entram em contato com a gua. Pode-se utilizar uma escada de quebra-peito ou uma rede de carga, disposta ao longo do costado do navio. No caso deembarcaes de pequena borda livre, basta passar pela borda falsa, entrando diretamentena balsa. Devemos ter em mente que nunca devemos pular sobre a cobertura da balsa.A experincia demonstrou que esse procedimento errado e perigoso.

    baleeira lanada por turco

  • 105SMASMA

    embarque indireto

    No caso da balsa arriada por turco, o embarque se faz do prprio convs dasembarcaes de sobrevivncia, j que a balsa inflada ainda engatada no turco. A balsa arriada na gua com sua lotao completa, como se fosse uma baleeira.

    O embarque indireto aquele em que a pessoa se lana dentro da gua, e nadaat a balsa. O salto do convs do navio deve ser o salto padro (em p, pernas fechadas,braos colados ao corpo, segurando o colete salva-vidas).

    Deve-se dar prioridade ao embarque direto, sempre que possvel. Por esse mtodode abandono do navio, o nufrago entra seco na balsa e no se arrisca a desgarrar-se dogrupo.

  • 106

    4.4 Acessrios e equipamentos da balsa salva-vidas e sua destinao

    Toda embarcao de sobrevivncia dotada de uma palamenta, ou seja, deacessrios e equipamentos para ser utilizados pelos nufragos com o objetivo de prolongara sobrevivncia das pessoas, at o resgate.

    No caso de embarcaes engajadas em navegao martima, principalmente delongo curso, o Cdigo Internacional de Equipamentos Salva-vidas prescreve os acessriose equipamentos das balsas e das baleeiras. Em se tratando de embarcaes engajadassomente na navegao em guas sob jurisdio nacional, cabe Autoridade MartimaBrasileira, por meio das NORMAN, prescrever a dotao das embarcaes.

    A palamenta normal de uma balsa salva-vidas (para 20 pessoas) a seguinte:

    oircseD tnauQetnautulfarocn 20

    aoserp,etnautulforAonetnautulfobacmu

    sortem03aroirefni10

    etnautulfleifmocacaF 20

    etnautulfaiuC 20ajnopsE 20

    etnautulfomeR 20

    sataledrodirbA 30

    soriemirpedaxiaCsorrocos

    10

    otipA 10mocovitimulieteugoF

    sadeuq-rap 40

    launamahcaF 60

    etnautulfonegmuF 20mocaug'davorpanetnaL

    setnasserbossadapmlesahlip 10

    radarrotelfeR 10

    anruidoazilanisedohlepse)ocifrgailehohlepse( 10

    edsianisalebatadaipCotnemavlas 10

  • 107SMASMA

    * Quantidade de envelopes que atende a 10.000 KJ de energia para cada pessoa abordo.

    sohcertepaedotnujnuCacseped 10

    adilsoaR 021*sepolevne

    adiuqloaR sortil03levdixoniosaV

    odaudarg 10

    artnocotnemacideMojne

    6saossep/sesod

    ojnearapocaS aosseprop1edseurtsnIaicnviverbos 10

    saerbosseurtsnIsataidemisea 10

    oetorpedapuoRacimrt 20

    soraperarapotnujnoCaicngremeed 10

    otnemihcneedabmoBlaunam 10

  • 108

    4.4.1 Emprego dos acessrios e equipamentos da palamenta da balsa

    ncora flutuante: esse acessrio de extrema importncia. Tem o objetivo dereduzir os efeitos da deriva da balsa, estabilizando-a nas proximidades do naufrgio. Dessaforma, evita que a balsa se afaste do local do sinistro, o que dificultaria a deteco dosnufragos pelas equipes de busca e salvamento.

    ncora flutuante

    Aro flutuante, com retinida de comprimento no inferior a 30 metros: empregadono salvamento de nufragos dentro da gua. Estando acordada, lana-se o aro flutuantepara a pessoa, que dever passar no brao e abraar o colete salva-vidas. Os nufragosdentro da balsa que a puxaro para bordo.

    Aro flutuante

    Caso a pessoa esteja desacordada, algum da balsa dever fazer o salvamento,observando alguns cuidados especiais: utilizao do colete salva-vidas, cabo secundrioatado cintura, e aro flutuante passado no brao. O nado de aproximao do nufragodever ser, excepcionalmente, de frente.

  • 109SMASMA

    Faca com fiel flutuante: a funo principal desse acessrio cortar o cabo deacionamento que prende a balsa ao navio aps o embarque dos nufragos. Ainda podeser utilizada para outras fainas, como por exemplo, a pesca.

    Faca com fiel

    Cuia flutuante: serve para retirar a gua do mar acumulada no interior da balsa,bem como recolher gua da chuva.

    Esponjas: servem para enxugar o piso da balsa, bem como recolher o orvalhocondensado na cobertura, desde que no esteja contaminada com gua do mar.

    Remos flutuantes: so empregados no deslocamento da balsa.

    Abridor de latas: o Cdigo Internacional de Equipamentos Salva-vidas ainda oexige, apesar de as raes lquidas modernas virem acondicionadas em recipientesplsticos.

    Cuia flutuante

  • 110

    Caixa de primeiros socorros: em seu interior esto acondicionados diversosmedicamentos e material de primeiros socorros.

    Estojo de medicamento

    Apito: empregado na sinalizao a curta distncia, principalmente para indicar adireo da balsa salva-vidas para os nufragos que ainda estejam dentro da gua.

    Foguetes iluminativos com pra-quedas: utilizado para sinalizao noturna. Comoveremos melhor mais adiante, ao ser acionado, ele projeta uma esfera encarnada a umadeterminada altitude, de modo a indicar a localizao dos nufragos para as equipes debusca e salvamento, ou ento para algum navio ou aeronave que esteja passando nasproximidades.

    Facho manual: tambm empregado na sinalizao noturna, produzindo umaqueima de magnsio quando acionado.

    Facho manual

  • 111SMASMA

    Fumgeno flutuante: utilizado na sinalizao diurna, emitindo fumaa, geralmentena cor laranja.

    Lanterna prova dgua: empregada na sinalizao noturna. A lanterna (jatoreltrico) dever ser capaz de transmitir sinalizao Morse. Tambm poder ser empregadana pesca, como vimos anteriormente.

    Lanterna prova d gua

    Refletor radar: esse equipamento serve para refletir a onda eletromagntica deum radar.

    Refletor radar

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    Espelho heliogrfico: utilizado para sinalizao diurna.

    Espelho heliogrfico

    Cpia da tabela de sinais de salvamento: essa tabela inclui os sinais que soutilizados nas comunicaes entre os nufragos e as unidades de busca e salvamento, eatende ao prescrito na Regra 16 do Captulo V da SOLAS.

    Tabela plastificada

  • 113SMASMA

    Conjunto de apetrechos para pesca: empregado na atividade de busca dealimentos, ou seja, na pesca ou na captura de aves marinhas.

    Rao slida: a rao alimentar dever ter, no mnimo, 10.000 KJ por pessoa quea balsa salva-vidas estiver autorizada a acomodar. No brasil so muito utilizados comorao alimentar o chiclete e a bala de goma.

    Rao slida

    Rao lquida: os recipientes de gua, hoje em dia, so geralmente de plstico,contendo um total de 1,5 litro de gua potvel para cada pessoa que a balsa salva-vidasestiver autorizada a acomodar.

    Rao lquida

  • 114

    Vaso inoxidvel graduado: serve para a distribuio de pores definidas degua potvel.

    Medicamento contra enjo: serve para prevenir o enjo no mar, evitando que onufrago mareie e vomite.

    Saco para enjo: serve para que o nufrago no vomite dentro da balsa, evitandosujar o interior da embarcao, bem como o odor desagradvel do vmito, que podedeixar os demais predispostos ao enjo.

    Instrues de sobrevivncia: pode ser um manual desobrevivncia no mar, com instrues e procedimentos a seremexecutados pelos nufragos. Deve abordar os principais tpicosrelativos sobrevivncia, como manuteno do equilbrio hdrico,obteno de gua potvel, alimentao (pesca), sinalizao deemergncia, aspectos psicolgicos dos nufragos, entre outros.

    Instrues sobre as aes imediatas: servem para orientaros nufragos nos momentos iniciais da sobrevivncia. Geralmenteficam fixados no interior da balsa, em local bem visvel.

    Roupas de proteo trmica: a roupa de proteo trmica, tambm conhecida abordo como TPA (Thermal Protective Aid, em ingls), tem o propsito de reduzir a perdade calor corporal do nufrago. Esse equipamento foi desenvolvido para ser utilizado dentroda embarcao de sobrevivncia, principalmente para aqueles nufragos que estosofrendo de hipotermia.

    Roupa de proteo trmica

  • 115SMASMA

    Conjunto para reparos de emergncia: composto de bujes, remendos deborracha, tesoura sem ponta e cola especial. Serve para fazer reparos nas cmaras deflutuao da balsa, caso haja algum furo.

    Conjuntos para reparos de emergncia

    Bomba de enchimento manual: utilizada para recompletar as cmaras deflutuao, caso esvaziem em razo de uma avaria, ou ento, por causa do clima frio,quando se observa a contrao do CO2 (diminuio do volume).

    Bomba de enchimento manual

    Balsa com equipamento de salvatagem

  • 116

    4.5 Procedimentos iniciais bsicos aps embarcar nas balsas salva-vidas

    Aps o embarque de todas as pessoas a bordo da balsa salva-vidas, o cabo deacionamento que est prendendo a embarcao ao navio dever ser cortado, utilizando-se a faca prpria (faca flutuante presa com um fiel localizada nas proximidades da entradaprincipal da balsa).

    Faca flutuante

    Aps cortar o cabo de acionamento, afaste-se da embarcao sinistrada apenas osuficiente para manter-se em segurana. Esse procedimento de se manter nas proximidadesdo naufrgio tem o objetivo de facilitar a deteco dos nufragos, principalmente se foitransmitida a mensagem de socorro padro (que inclui a posio do naufrgio).

    A maioria dos manuais fala que a distncia ideal seria de 100 a 150 metros. Oafastamento feito utilizando-se os remos flutuantes encontrados na palamenta da balsa.

    A moderna doutrina de sobrevivncia afirma que, para um resgate rpido, fundamental o posicionamento dos sobreviventes nas proximidades do acidente. Assim, oafastamento tem o objetivo apenas de prevenir avarias na embarcao e leses nosnufragos.

    Palamenta da balsa

  • 117SMASMA

    Aps o afastamento, o lder deve determinar que se lance ao mar a ncora flutuante(tambm conhecido como drogue).

    A ncora flutuante tem a funo principal de estabilizar a balsa nas proximidadesdo naufrgio, reduzindo com isso os efeitos da deriva.

    Outro procedimento fundamental unir todas as embarcaes de sobrevivncia.Assim, teremos um alvo maior de deteco para as equipes de busca e salvamento, comotambm haver possibilidade de melhor distribuio dos sobreviventes nas embarcaes.

    O lder da sobrevivncia dever observar e fazer cumprir os seguintesprocedimentos:

    Procedimentos em balsas salva-vidas

    embarcar com calma, dando preferncia ao embarque direto; observar possveis sobreviventes nas proximidades; efetuar o resgate dos nufragos que estejam dentro dgua, utilizando o aro

    flutuante; lanar a ncora flutuante ao mar somente aps o afastamento da embarcao

    abandonada; distribuir plulas contra enjo; distribuir tarefas e providenciar para que se leiam as instrues sobre as aes

    imediatas; prestar os primeiros socorros a quem deles necessitar, colocando os feridos

    (principalmente aqueles que estejam sofrendo de hipotermia) dentro das roupasde proteo trmica;

    verificar possveis furos na balsa salva-vidas. Localizando-os, promover o reparode emergncia utilizando o conjunto prprio para esse fim. Lembre-se, o gsutilizado para inflar a balsa o dixido de carbono (CO2), que perigoso, podendomatar os nufragos por asfixia, caso se acumule no interior da embarcao;

    enxugar o piso da balsa salva-vidas, retirando a gua que ali se encontrar; enxugar suas roupas, secando-as; estabelecer servio de vigia. A durao de cada perodo de vigia no deve

    ultrapassar 2 horas (tempo mximo); escalar a pessoa responsvel pela guarda das raes lquidas e slidas; distribuir as raes aps 24 horas do incio da sobrevivncia; o lder dever proceder guarda dos equipamentos de sinalizao (pirotcnicos

    e fumgenos); funcionar a EPIRB (radiobaliza indicadora de posio em emergncia); e estabelecer procedimento de terapia ocupacional. Procurar manter o moral dos

    nufragos elevado.

  • 118

    Estao do vigia

    Observaes:

    O estado das cmaras de flutuao dever ser verificado constantemente procurade furos. Quando forem localizados, devero ser reparados com o kit de reparo deemergncia.

    Em climas frios, e durante a noite, haver contrao do CO2 das cmaras deflutuao, fazendo com que as mesmas fiquem murchas. O lder dever determinar queas cmaras de flutuao sejam recompletadas, utilizando-se a bomba de enchimentomanual.

    Em climas quentes, ou durante o dia, a dilatao do CO2 no interior das cmarasfar com que as mesmas fiquem exageradamente duras, com aspecto de tambores. Nessasituao, dever ser aliviado um pouco do CO2 por meio das vlvulas de segurana(bastando pressionar as vlvulas, para que o gs saia. Como so vlvulas de segurana,deixando de pression-las, o fluxo de sada do gs ser automaticamente interrompido).

  • 119SMASMA

    4.6 Utilizao dos sinais de salvamento

    necessrio que os nufragos tenham algum meio de sinalizar para as equipes deSAR (sigla pela qual so conhecidos internacionalmente os servios de busca e salvamento.SAR quer dizer Search and Rescue Busca e Salvamento, em ingls).

    Existem diversos equipamentos para indicar a localizao dos nufragos para asequipes de busca e salvamento. Temos os dispositivos de sinalizao de emergnciavisuais, que so os pirotcnicos (foguete iluminativo com pra-quedas e facho manual),os fumgenos, o espelho heliogrfico e a lanterna. Esses equipamentos so os maistradicionais usados para sinalizao de emergncia.

    Outro equipamento que tambm utilizado para indicarmos a direo de nossaembarcao de sobrevivncia o apito, logicamente com alcance mais restrito.

    Contudo, os meios de sinalizao mais eficientes atualmente so a EPIRB e oSART (Search and Rescue Transponder) transpondedor radar.

    Vamos ver cada um deles.

    Foguetes Iluminativos com pra-quedas: Os foguetes iluminativos com pra-quedas so equipamentos de sinalizao de uso noturno. So acondicionados em tuboscilndricos que podem ser confeccionados de metal refratrio ou baquelite, resistentes gua.

    O foguete, quando lanado na vertical, dever atingir uma altura no inferior a 300metros, sendo que no ponto mais alto da trajetria, ou prximo a ele, o foguete deverejetar um artefato pirotcnico iluminativo (na cor encarnada), com pra-quedas.

    O perodo de combusto no poder ser inferior a 40 segundos e a velocidade dedescida no poder ser superior a 5 m/s.

    Deve-se tomar bastante cuidado na utilizao desses equipamentos,. As instruesde uso esto sempre impressas nos prprios artefatos.

    O foguete dever ser seguro bem para fora da embarcao de sobrevivncia, afavor do vento (sotavento), com o brao estendido do corpo elevando-o a 45o.

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    Lembre-se, o nmero desses sinais a bordo de uma embarcao de sobrevivncia limitado (quatro unidades por embarcao). Logo, no os desperdice. Nunca os disparea menos que esteja razoavelmente certo de que algum est dentro do raio visual.

    Fachos manuais:Tambm so equipamentos de uso noturno. So acondicionadosem tubos cilndricos que podem ser confeccionados de material refratrio ou baquelite,resistentes gua.

    O facho manual, quando acionado,