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  • Lopes MEL, Costa SFG da, Gouveia EML et al. Assistncia mulher no climatrio

    Portugus/Ingls

    Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(1):665-71, mar., 2013 665

    DOI: 10.5205/reuol.3161-26181-6-LE.0703201304 ISSN: 1981-8963

    ASSISTNCIA MULHER NO CLIMATRIO: DISCURSO DE ENFERMEIRAS ASSISTANCE TO WOMEN IN MENOPAUSE: SPEECH OF NURSES

    ASISTENCIA A LA MUJER EN LA MENOPAUSIA: DISCURSO DE ENFERMERAS

    Maria Emlia Limeira Lopes1, Solange Ftima Geraldo da Costa2, Eloise Maria de Lima Gouveia3, Carla Braz Evangelista4, Amanda Maritsa de Magalhes Oliveira5, Kalina Coeli da Costa6

    RESUMO Objetivos: investigar a atitude de enfermeiras na assistncia usuria no climatrio e analisar a relao dessas profissionais com a paciente que vivencia esta fase. Mtodo estudo exploratrio com abordagem qualitativa realizado com 140 enfermeiras da Estratgia Sade da Famlia (ESF), em Joo Pessoa/PB/Brasil. Os dados foram coletados por entrevistas semiestruturadas e analisados mediante a Tcnica de Anlise de Contedo. A pesquisa foi aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal da Paraba, CAAE n 0037.0.126.000-07. Resultados: as atitudes adotadas pelas enfermeiras na assistncia usuria no climatrio foram a garantia do sigilo profissional, respeito privacidade, acolhimento, assistncia qualificada usuria. Concluso: evidenciou que, embora o discurso das enfermeiras esteja de conformidade com os princpios ticos que norteiam a atitude profissional do enfermeiro, a assistncia usuria no climatrio, no referido mbito, prejudicada, em parte, pela falta de capacitao delas para lidar com questes especficas

    do climatrio. Descritores: Cuidados de Enfermagem; Climatrio; Sade da Famlia.

    ABSTRACT Objectives: to investigate the attitude of nurses in assisting the user during menopause, and analyze the relationship of these professionals with the patient who experiences this phase. Method: an exploratory study with a qualitative approach conducted with 140 nurses of the Family Health Strategy (FHS) in Joo Pessoa / Paraiba / Brazil. The data were collected through semi-structured interviews and analyzed by content analysis technique. The study was approved by the Ethics Committee of the Federal University from Paraiba, CAAE No. 0037.0.126.000-07. Results: attitudes adopted by nurses in assisting the user in climacteric were the guarantee of secrecy, respect for privacy, care, and skilled assistance to the user. Conclusion: showed that although the speech of nurses is in accordance with the ethical principles that guide the professional attitude of nurses, assistance to the user during menopause, in that context, is hampered in part by a lack of training

    to deal with them specific issues of menopause. Descriptors: Nursing Care; Menopause; Family Health.

    RESUMEN Objetivos: investigar la actitud del personal de enfermera en la asistencia al usuario durante la menopausia, y analizar la relacin de estos profesionales con el paciente que experimenta esta fase. Mtodo: estudio exploratorio con abordaje cualitativo realizado con 140 enfermeras de la Estrategia Salud de la Familia (ESF) en Joo Pessoa / PB / Brasil. Los datos fueron recolectados a travs de entrevistas semi-estructuradas y analizadas mediante la tcnica de anlisis de contenido. El estudio fue aprobado por el Comit de tica de la Universidad Federal de Paraba, CAAE No. 0037.0.126.000-07. Resultados: las actitudes adoptadas por los enfermeros en la asistencia al usuario en el climaterio son la garanta de la confidencialidad, el respeto por la privacidad, atencin, asistencia especializada para el usuario. Conclusin: mostr que aunque el discurso de las enfermeras es de acuerdo con los principios ticos que guan la actitud profesional de las enfermeras, la asistencia al usuario durante la menopausia, en ese contexto, se ve obstaculizada en parte por la falta de capacitacin para tratar con ellos temas especficos de la menopausia. Descriptores: Atencin de Enfermera;

    Menopausia; Salud de la Familia. 1,2Enfermeiras, Professoras Doutoras, Universidade Federal da Paraba/UFPB. Joo Pessoa (PB), Brasil. E-mails: [email protected]; [email protected]; 3,5,6Enfermeiras, Mestrandas, Programa de Ps-graduao em Enfermagem, Universidade Federal da Paraba/UFPB. Joo Pessoa (PB), Brasil. E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected]; 4Enfermeira, Universidade Federal da Paraba/UFPB. Joo Pessoa (PB), Brasil. E-mail: [email protected]

    ARTIGO ORIGINAL

  • Lopes MEL, Costa SFG da, Gouveia EML et al. Assistncia mulher no climatrio

    Portugus/Ingls

    Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(1):665-71, mar., 2013 666

    DOI: 10.5205/reuol.3161-26181-6-LE.0703201304 ISSN: 1981-8963

    O climatrio definido como o perodo de

    transio entre a idade reprodutiva e a no-

    reprodutiva da mulher, caracterizado por

    mudanas hormonais e metablicas que

    podem acarretar alteraes envolvendo o

    contexto psicossocial.1-4 Pode vir ou no

    acompanhado de sintomas.

    O climatrio abrange toda a fase em que o

    estrognio e a progesterona (hormnios

    produzidos pelos ovrios) vo

    progressivamente deixando de ser produzidos.

    Essa fase marcada pelo declnio da produo

    de vulos para a fecundao e pelo declnio

    da produo de hormnios que promovem o

    desenvolvimento embrionrio nos estgios

    iniciais.1

    O climatrio reportado como sndrome,

    sendo considerado sob uma perspectiva

    mdica, pois acomete a sade da mulher em

    sua totalidade e a longo prazo, ocasionando

    um srie de sintomas.5 Entretanto, o estudo

    evidencia que o climatrio no deve ser

    considerado um processo patolgico, apesar

    da presena de manifestaes clnicas

    decorrentes da queda gradual de hormnios.2

    Com o aumento da expectativa de vida, as

    mulheres passam a viver um tero de sua vida

    no climatrio, convivendo com as mudanas

    hormonais advindas deste processo, o que

    revela, um impacto significativo na qualidade

    de vida delas.6 Alm disso, esse fato implica

    um aumento da busca dos servios de sade,

    exigindo de seus profissionais conhecimento e

    capacitao para assistir a esse contingente

    populacional.

    Entre as diretrizes apontadas pelo

    Ministrio da Sade, as quais orientam a

    ateno humanizada e integral s mulheres

    que se encontram no climatrio, destacam-se:

    o acolhimento, a tica nas relaes entre

    profissionais e usurias, os aspectos

    fisiolgicos e psicossociais da fase e a

    sexualidade.7 Entretanto, embora haja o

    pressuposto das diretrizes a ser seguido, na

    prtica isso no ocorre, visto que a ao dos

    profissionais est condicionada pelas

    condies objetivas do trabalho institucional,

    pela posio que os enfermeiros ocupam no

    campo da sade e pela representao que

    fazem do climatrio.

    No tocante s condies objetivas,

    ressaltamos que estas podem estar

    relacionadas com a falta de priorizao das

    polticas de ateno, nos servios de sade,

    mulher no climatrio, e, conseguintemente,

    relacionada com a insuficincia de recursos

    financeiros direcionados a esse setor. Nessas

    condies, entendemos que a assistncia

    paciente no climatrio, no mbito da

    Estratgia Sade da Famlia, ainda precria,

    o que pode influir sobre a conduta profissional

    do enfermeiro e a relao deste com a

    paciente no climatrio.

    A ateno sade da mulher somente

    prioridade nas Polticas Pblicas de Sade,

    quando esta se encontra na fase reprodutiva,

    perdendo essa ateno ao entrar no

    climatrio, mas esclarece que o enfermeiro

    tem oportunidades de auxiliar as pacientes no

    climatrio durante o Programa de tratamento

    do cncer ginecolgico.8

    As pesquisas que envolvem a assistncia

    mulher no climatrio so incipientes ou pouco

    divulgadas.8 Nas ltimas dcadas, o objetivo

    das pesquisas tem sido o de buscar terapias

    (sobretudo o desenvolvimento de compostos

    farmacuticos a base de hormnios sintticos)

    capazes de aliviar os sintomas indesejveis

    associados s mudanas hormonais, comuns no

    climatrio. Entretanto, poucos so os estudos

    que mostram como as mulheres so ouvidas

    pelos profissionais da sade e sobre como se

    sentem nesta fase e ainda como gostariam de

    ser cuidadas.9 Acrescente-se: os estudos que

    discutem a atitude dos profissionais da sade

    (particularmente os enfermeiros) na

    assistncia ao climatrio e a relao destes

    com a paciente nessa fase tambm so

    incipientes.

    Ante o exposto, sentimos a necessidade de

    investigar a assistncia de enfermagem a

    pacientes que vivenciam o climatrio e

    visamos a contribuir para fortalecer as leituras

    crticas acerca desta temtica e,

    conseguintemente, para encontrar respostas

    s questes da prtica assistencial do

    enfermeiro, relativas ao climatrio.

    Diante de tais consideraes, o estudo teve

    como objetivos: investigar a atitude de

    enfermeiras na assistncia mulher no

    climatrio e analisar a relao dessas

    profissionais com a paciente que vivencia esta

    fase.

    Estudo exploratrio, com abordagem

    qualitativa, a qual trabalha com o universo

    dos significados, dos motivos, das aspiraes,

    dos valores e das crenas, cujo destaque a

    explorao do conjunto de opinies e

    representaes sociais acerca do tema que

    pretendemos investigar.10

    O estudo realizou-se em Unidades de Sade

    da Famlia (USFs), localizadas no municpio de

    Joo Pessoa (PB). A populao foi constituda

    de enfermeiras vinculadas Estratgia Sade

    da Famlia e a amostra foi a de cento e

    quarenta profissionais, definida a partir dos

    MTODO

    INTRODUO

  • Lopes MEL, Costa SFG da, Gouveia EML et al. Assistncia mulher no climatrio

    Portugus/Ingls

    Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(1):665-71, mar., 2013 667

    DOI: 10.5205/reuol.3161-26181-6-LE.0703201304 ISSN: 1981-8963

    seguintes critrios: encontrar-se em atuao

    profissional na USF no momento da coleta de

    dados, ter no mnimo um ano de exerccio

    profissional na ESF, aceitar participar do

    estudo e ter disponibilidade para isso.

    A coleta de dados foi realizada nos meses

    de fevereiro e maro de 2010, por meio de

    entrevistas gravadas, utilizando um roteiro de

    questes subjetivas, com vistas a atender aos

    objetivos propostos para o estudo; e o

    material emprico analisado mediante a

    tcnica da anlise de contedo considerando-

    se as fases de pr-anlise, codificao,

    inferncia e interpretao dos dados.11,12

    Nesta pesquisa, consideramos as diretrizes

    e normas regulamentadoras da pesquisa com

    seres humanos, estabelecidas na Resoluo

    196/1996 do Conselho Nacional de Sade, em

    vigor no pas, tendo o projeto, referente a

    uma pesquisa mais ampla, sido aprovado pelo

    Comit de tica em Pesquisa (CEP) do Hospital

    Universitrio Lauro Wanderley (HULW) da

    Universidade Federal da Paraba, sob

    protocolo n. 0037/07 e CAAE n

    0037.0.126.000-07.13

    Neste estudo, buscamos, identificar, a

    partir dos discursos das participantes, a

    atitude adotada pelas enfermeiras ao assistir

    pacientes no climatrio e saber como se d a

    relao profissional delas com essas

    pacientes. Sendo assim, o contedo expresso

    nos depoimentos foi organizado, com base na

    tcnica de anlise adotada, de modo que

    demonstrassem as respostas mais frequentes

    dadas pelas enfermeiras a essas questes,

    conforme o que est demonstrado nas tabelas

    a seguir.

    Tabela 1. Distribuio percentual das respostas das participantes s possveis atitudes adotadas

    na assistncia paciente no climatrio. Joo Pessoa (PB), 2012. (N= 140).

    Respostas n %

    Garantia do sigilo profissional (das informaes e questionamentos, durante as consultas)

    85

    60,7

    Respeitar a privacidade da usuria 36 25,7 Respeito usuria ( autonomia, individualidade, aos valores sociais e religiosos e ao grau de escolaridade)

    60

    42,8

    Acolhimento (escuta qualificada, valorizao das queixas, anseios e necessidades da usuria)

    52

    37,1

    Assistncia qualificada usuria (agir corretamente, orientar, aconselhar e encaminhar para consulta especializada com mdico ou psiclogo e realizar atividades educativas)

    26

    18,6

    Outras 06 4,3

    A Tabela 1 indica uma concentrao de

    respostas s alternativas: Garantia do sigilo

    profissional, com 60,7% (85); Respeito

    usuria com 42,8% (60) e Acolhimento,

    com 37,1% (52).

    A concentrao de respostas nesses

    aspectos manifesta uma atitude tica que se

    diz ser seguida, ou seja, demonstra que as

    enfermeiras, no tocante aos aspectos

    subjetivos da assistncia, assumem a atitude

    de guardar o sigilo das informaes, respeitar

    a individualidade da paciente e escutar as

    suas queixas e necessidades. O enfermeiro

    como profissional da Sade tem o direito de

    ter acesso s informaes, relacionadas com

    a pessoa, famlia e coletividade, necessrias

    ao exerccio profissional, mas tem o dever de

    manter segredo sobre fato sigiloso de que

    tenha conhecimento em razo de sua

    atividade profissional.14

    Entendemos que essa postura das

    enfermeiras em manter o sigilo das

    informaes contribui para oferecer segurana

    s pacientes do climatrio, quando estas

    revelam informaes e esclarecem dvidas

    durante a consulta de enfermagem, e tem a

    ver tambm com a preocupao da

    profissional em preservar a autonomia e

    individualidade, inclusive, ainda, o respeito

    aos valores sociais e religiosos e ao grau de

    escolaridade das pacientes. Tais respostas

    manifestam uma predisposio das

    enfermeiras em manter uma atitude de

    comprometimento em tratar de forma

    humanizada a paciente no climatrio,

    contribuindo, assim, para a incorporao do

    acolhimento, como estratgia de humanizao

    da assistncia de enfermagem.

    No tocante ao acolhimento, este foi

    entendido como a capacidade do enfermeiro

    para realizar uma escuta qualificada,

    buscando valorizar as queixas, anseios e

    necessidades da paciente no climatrio.

    Estudo mostra ser essencial que os

    enfermeiros, durante os atendimentos,

    revejam a subjetividade da mulher, atravs do

    resgate da histria pessoal, dos valores, das

    expectativas e desejos, de forma que haja a

    aproximao do saber cientfico com a

    sensibilidade de cada uma e evitem

    abordagens mecanicistas e reducionistas.15

    Assim, os profissionais devem promover o

    acolhimento adequado s mulheres no

    climatrio e permitir que exponham os seus

    questionamentos e receios.

    Neste sentido, o acolhimento deve ser

    adotado como estratgia inicial para a

    assistncia qualificada s mulheres no

    RESULTADOS E DISCUSSO

  • Lopes MEL, Costa SFG da, Gouveia EML et al. Assistncia mulher no climatrio

    Portugus/Ingls

    Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(1):665-71, mar., 2013 668

    DOI: 10.5205/reuol.3161-26181-6-LE.0703201304 ISSN: 1981-8963

    climatrio. O acolhimento considerado como

    uma estratgia que visa a aplicao dos

    princpios de universalidade, integralidade e

    equidade, mediante a escuta qualificada. Esta

    permite a garantia do acesso aos servios de

    sade de forma acolhedora e resolutiva; a

    identificao das necessidades, riscos e

    vulnerabilidades do usurio, facilitando a

    melhoria das relaes interpessoais e,

    consequentemente, a da qualidade da

    assistncia.16-7

    Assim, existem vrias possibilidades de

    interveno no climatrio; no entanto, a

    efetividade depende principalmente da escuta

    qualificada dessas mulheres, das questes

    ocultas em suas queixas, dos seus sentimentos

    e percepes acerca do processo de

    envelhecimento. Para tanto, indispensvel

    que as mulheres tenham espao para

    expressar os seus sentimentos acerca do

    momento que est vivendo e as dificuldades

    que esto sentindo ao receber informaes

    sobre as alteraes que o seu corpo est

    sofrendo e sobre as implicaes para a sua

    sade.15

    No obstante, observamos uma diminuio

    da incidncia de respostas relacionadas com

    os aspectos mais prticos da assistncia de

    enfermagem, ou seja, com as condies de

    trabalho e com atitudes para com o fenmeno

    do climatrio, como: Garantia da privacidade

    da usuria durante a consulta, com 25,7%

    (36); Assistncia qualificada usuria, com

    18,6% (26).

    Vemos que foram menos expressivas as

    respostas das enfermeiras que afirmaram

    oferecer garantia da privacidade paciente

    durante a consulta com a enfermeira.

    Pressupomos que isto pode estar relacionado

    com condies inadequadas do ambiente

    fsico, em que a paciente pode no se sentir

    vontade para expor aspectos de sua

    intimidade pessoal. Embora as condies da

    ambincia fsica das unidades da ESF do

    municpio de Joo Pessoa tenham passado por

    transformaes significativas, a partir da

    construo de novas unidades, algumas

    unidades antigas ainda funcionam em

    condies precrias de instalaes, em

    imveis inadequados realizao das

    inmeras atividades profissionais, como o

    exame citolgico, vacinao, atendimento

    odontolgico, espao para a realizao de

    prticas educativas, entre outros. Essa

    realidade pode servir para explicar tal

    pressuposio.

    Quanto assistncia qualificada usuria,

    esta foi entendida como o agir correto da

    enfermeira, a sua capacidade de orientar,

    aconselhar e encaminhar a paciente para um

    especialista e para a realizao de atividades

    educativas. No tocante ao aspecto agir

    correto, este diz respeito a atitudes que

    devem ser assumidas, com competncia, pela

    enfermeira diante da paciente no climatrio,

    como a de oferecer uma assistncia que possa

    contribuir para a melhoria de suas condies

    de sade. O Cdigo de tica dos Profissionais

    de Enfermagem preceitua: O Profissional da

    Enfermagem exerce suas atividades com

    competncia para a promoo do ser humano

    na sua integralidade, de acordo com os

    princpios da tica e da biotica.14

    A fala dessa enfermeira demonstra a

    atitude a ser assumida diante da paciente no

    climatrio:

    Para que possamos assistir a usuria nesta

    fase, precisamos nos empenhar e procurar

    conhecer mais essa fase com todas as suas

    nuanas peculiares, porque no nada

    incentivada essa assistncia. Precisamos

    melhorar como gente e ter competncia,

    sermos tolerantes, flexveis, confiveis e

    nos envolvermos mais com essa clientela.

    (Enfermeira 81).

    A enfermeira, para que possa exercer suas

    atividades com competncia, ou seja, para

    que possa agir corretamente diante de uma

    paciente no climatrio, necessita alm de

    adotar uma atitude tica, estar habilitada

    para oferecer essa assistncia. Isso pressupe

    conhecimento e conseguintemente,

    capacitao. Algumas enfermeiras afirmaram

    no possuir o devido preparo para atender a

    paciente no climatrio que busca a Unidade

    de Sade da Famlia:

    Deixa muito a desejar, por falta de

    profissionais especializados na unidade.

    (Enfermeira 1).

    Acredito que devamos ser acima de qualquer

    coisa, uma educadora que tenha como meta

    esclarecer, educar, transformar e melhorar

    a qualidade de vida de qualquer usuria.

    Verdadeiramente, no to comum dar essa

    assistncia mulher nesta fase, visto que

    no somos incentivados, como somos para

    outras prticas no PSF. (Enfermeira 18).

    No muito diferente dos outros grupos,

    nas suas variadas fases. Tenho insuficientes

    conhecimentos para acompanhar uma

    paciente com queixas mais complexas na

    fase de climatrio. (Enfermeira 72).

    Esses depoimentos servem para ilustrar o

    argumento que vnhamos apresentando acerca

    do agir correto da enfermeira e para

    corroborar estudo que afirma ser o climatrio

    uma fase que no recebe ainda a devida

    ateno dos servios de sade. Os

    profissionais ainda no se sentem preparados

    em virtude da falta de investimento com a

    capacitao em servio.8

  • Lopes MEL, Costa SFG da, Gouveia EML et al. Assistncia mulher no climatrio

    Portugus/Ingls

    Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(1):665-71, mar., 2013 669

    DOI: 10.5205/reuol.3161-26181-6-LE.0703201304 ISSN: 1981-8963

    Sobre os aspectos orientar e aconselhar,

    entendemos que essa conduta no contribui

    para atender s necessidades de sade da

    paciente, uma vez que reflete uma forma de

    ensino ultrapassada, vinculada ao modelo

    funcionalista da assistncia no campo da

    Sade. Vejamos o comentrio dos autores

    sobre o campo da Sade:

    [...] embora j existam vrias iniciativas de

    natureza tica no sentido de respeitar e

    valorizar a participao e autonomia do

    sujeito nas aes relativas ao seu bem-

    estar, ainda hoje se constata a

    predominncia do modelo de educao

    linear, de orientao depositria, que se

    ancora em um modelo escolar de

    dominao.18:316

    A terminologia empregada no processo

    pedaggico em sade envolve o emprego de

    verbos, como orientar, cuja significao

    implica uma postura fundada no modelo

    tradicional de educao, no qual o educador

    determina o programa de ensino a ser

    adotado. Para elas, essa concepo de

    educao em sade caracteriza-se como um

    modelo depositrio, uma vez que a relao

    entre educador (enfermeiro) e educando

    (usurio) permanece marcada pela

    unidirecionalidade e verticalidade. Dessa

    forma, como no h participao do usurio,

    ele, em geral, se submete a esse tipo de

    relao vertical a fim de atender s suas

    necessidades de sade.18

    Quanto realizao de atividades

    educativas, a baixa expressividade das

    respostas apontou a inexistncia de

    estratgias definidas no tocante ao aspecto

    educativo, ou seja, indicou que essa prtica,

    embora seja considerada pelas enfermeiras

    como parte da assistncia qualificada

    paciente no climatrio, no ocupa lugar de

    destaque nas aes assistenciais das

    enfermeiras, no mbito da ESF, em virtude da

    falta de treinamento.

    O depoimento desta enfermeira serve para

    esclarecer:

    E na verdade no realizo atividades

    educativas ou algo especfico voltado para a

    usuria nessa fase. Seria muito bom que

    houvesse um treinamento, algo que ajudasse

    a melhorar a assistncia. (Enfermeira 23).

    A educao em sade pode ser um

    instrumento importante para a interveno

    dos profissionais de sade junto s mulheres

    no climatrio. Os profissionais por meio das

    atividades educativas podem colaborar na

    tentativa de esclarecer concepes errneas e

    preconceituosas sobre a fase do climatrio,

    possibilitando o desenvolvimento de um novo

    olhar sobre essa fase.2,3

    Na Tabela seguinte, veremos como essa

    atitude se manifesta quando se pergunta a

    relao da profissional com a paciente no

    climatrio.

    Tabela 2. Distribuio percentual das respostas das participantes sobre a relao profissional com a paciente no climatrio. Joo Pessoa (PB), 2012. (N= 140).

    Respostas n %

    Confiana (estabelecimento de relao de confiana, credibilidade, segurana e empatia)

    24

    17,1

    uma relao tranqila 35 25,0 Relao de reciprocidade e companheirismo (mtua, ntima, com troca de experincias)

    19

    13,6

    uma relao difcil, pouco intensa e precria em decorrncia da falta de incentivo e capacitao profissional (treinamentos e maiores informaes acerca da assistncia no climatrio)

    22

    15,7 Relao baseada na amizade (compreenso, vnculo, afinidade, empatia, confiana, cumplicidade)

    69

    49,3

    Baseada na tica profissional (atendimento humanizado, responsvel e com respeito usuria)

    36

    25,7

    Baseada na integralidade e equidade da assistncia 03 2,1 No respondeu 01 0,7

    Outras 10 7,1

    Considerando as respostas mais frequentes

    na Tabela 2, destacamos: Relao baseada

    na amizade 49,3% (69); Baseada na tica

    profissional 25,7% (36); uma relao

    tranquila 25,0% (35).

    Como se trata de respostas a questes

    subjetivas (por isso as aspas), percebemos que

    h expressiva disperso delas. A nosso ver,

    apesar dessa disperso, a maioria das

    respostas apontou uma relao positiva das

    enfermeiras com as pacientes no climatrio.

    Nessas respostas, fica claro que essa relao

    pautada na tica profissional e permeada de

    empatia, confiana, vnculo e escuta ativa. Os

    depoimentos a seguir ilustram esse

    entendimento:

    [...] procuro estabelecer um vnculo de

    confiana, demonstrando sempre minha

    disponibilidade para ouvi-las e atend-las

    sempre que necessrio. (Enfermeira 10).

    uma relao de empatia, de confiana,

    procurando sempre ter uma escuta ativa,

    para entender e compreender suas reais

    necessidades, para encontrar solues

    viveis. (Enfermeira 14).

    Por outro lado, embora grande parte das

    enfermeiras mantenha uma boa relao com

    as pacientes, podemos constatar que 15,7%

  • Lopes MEL, Costa SFG da, Gouveia EML et al. Assistncia mulher no climatrio

    Portugus/Ingls

    Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(1):665-71, mar., 2013 670

    DOI: 10.5205/reuol.3161-26181-6-LE.0703201304 ISSN: 1981-8963

    (22) consideram a relao precria devido

    falta de incentivo e de capacitao

    profissional, no que tange assistncia s

    mulheres no climatrio. Os depoimentos

    seguintes so esclarecedores.

    Como no participamos de nenhuma oficina

    ou treinamento sobre o climatrio, a nossa

    relao s profissional, de escutar suas

    queixas, orient-las e, quando necessrio,

    encaminh-las para outro profissional.

    (Enfermeira 40).

    Vejo pouca aproximao com essa mulher e

    acredito que seja devido a poucos

    conhecimentos meus, como profissional

    nesse campo e, tambm pouco estmulo

    /capacitao no servio. (Enfermeira 109).

    Esses depoimentos reforam o

    entendimento de que os servios de sade no

    se encontram ainda estruturados e

    organizados para atender as pacientes no

    climatrio.8 Essa realidade no se apresenta

    de forma diferente no mbito da ESF. A

    realidade investigada ainda concentra o

    atendimento clientela feminina que se

    encontra na fase reprodutiva. Seus

    profissionais no esto sendo capacitados para

    atender esta parcela da populao, por falta

    de incentivo e de aes especficas que

    busquem a qualidade da assistncia paciente

    no climatrio. Alm disso, nesses servios, o

    mote principal da assistncia est mais

    direcionado para a preveno e controle do

    cncer ginecolgico e para orientaes e

    esclarecimentos acerca da preveno e

    controle da Hipertenso e do Diabetes. Pelo

    fato de serem incentivadas para essas

    prticas, as enfermeiras no se sentem

    preparadas para assistir a mulher nessa fase.

    Por outra razo, expressam ser a sua relao

    com a usuria, ainda precria (com pouca

    aproximao).

    As relaes estabelecidas entre

    profissionais de Sade e usurios esto entre

    os temas desafiadores para a reorganizao

    dos servios de sade. Para que a assistncia

    seja integral, tal relao deve ser guiada pela

    capacidade do profissional de compreender o

    sofrimento que a usuria manifesta e o

    significado mais imediato de suas aes e

    palavras. Alm disso, quando o profissional

    incentiva a emancipao e autonomia do

    paciente, este tende a se sentir singularizado,

    desfragmentado e conseguintemente

    apresenta melhora na sua condio de sade.

    Isto repercute positivamente na satisfao,

    tanto do paciente quanto do profissional.19

    O estudo constatou, a partir de uma maior

    concentrao de respostas, que a conduta

    profissional das enfermeiras priorizou

    aspectos subjetivos da assistncia de

    enfermagem como sigilo profissional, respeito

    usuria e acolhimento. A partir de uma

    frequncia mais baixa de respostas, apontou,

    tambm, aspectos prticos da assistncia

    como garantia da privacidade e assistncia

    qualificada usuria, denunciando

    particularmente as condies inadequadas da

    ambincia fsica das unidades de sade. Estas,

    alm do despreparo dos profissionais, no

    garantem a privacidade, no tocante a

    aspectos de sua intimidade pessoal,

    particularmente a daquelas que apresentam

    queixas mais complexas.

    A falta de capacitao das enfermeiras em

    lidar com as pacientes no climatrio

    representou um fator problemtico na relao

    profissional-paciente, tendo em vista que esse

    despreparo concorreu para estabelecer certo

    distanciamento nessa relao, embora a maior

    concentrao de respostas tenha indicado o

    estabelecimento de uma relao construda

    com base em valores ticos e humansticos

    norteadores da profisso de Enfermagem.

    Entendemos que a qualidade da assistncia

    de enfermagem paciente no climatrio

    depende no somente de conduta profissional

    pautada em princpios ticos em que se

    privilegie o sigilo, o respeito e o acolhimento,

    mas pressupe tambm a competncia tcnica

    e habilidade desse profissional para a

    promoo e proteo da sade dessa

    paciente. Achamos ser essencial que os

    servios de sade sejam mais bem

    estruturados para atender esta clientela e o

    enfermeiro busque realizar cursos de

    capacitao, adquirindo o conhecimento

    necessrio para que suas aes sejam

    diferenciadas na assistncia paciente no

    climatrio, no mbito da ESF.

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    Submisso: 30/05/2012 Aceito: 15/01/2013 Publicado: 01/03/2013

    Correspondncia

    Carla Braz Evangelista Ncleo de Estudos e Pesquisa Biotica Centro de Cincias da Sade Universidade Federal da Paraba Campus I AV. Contorno da Cidade Universitria, s/n

    CEP: 5059-900 Joo Pessoa (PB), Brasil