4.2. Discutir o DSM-CID, considerando os conceitos de normalidade e loucura em relação à...

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4.2. Discutir o DSM-CID, considerando os conceitos de normalidade e loucura em relação à patologia e o estigma. Costa e Tundis (1987, p.10) esclarecem a respeito da doença mental que “Lévi Strauss percebeu que as doenças mentais podem ser também consideradas como incidência sociológica na conduta de indivíduos cuja história e constituição pessoais se dissociaram parcialmente do sistema simbólico do grupo, dele se alienando.” E os autores ainda afirmam que “A ideologia psiquiátrica teria nascido para tornar possível classificar como doente mental todo o comportamento inadaptável nos limites da liberdade burguesa.” A respeito do normal e patológico Resende elucida que: A definição do normal e do patológico não mais a partir de uma normatividade pessoal de cada um, mas de um eixo de referência supra-individual, emanando das necessidades da economia, entendida aqui, no seu amplo sentido, como a práxis posta a serviço da produção e da reprodução da vida social, permanece até hoje na ordem do dia como uma das questões centrais da problemática da doença menta e das instituições que dela se ocuparam. (RESENDE, 1987, p.20) Filho (1987, p.98) descreve que de acordo com uma das visões da psiquiatria constituí que “a noção de que os indivíduos devem se adaptar ‘ativa e realisticamente’ às dificuldades e circunstâncias situacionais com relação às quais a doença mental representa uma tentativa de fuga e escape.” Considerando ainda que Bezerra discorrendo sobre a demanda psiquiátrica afirma: ...e forjada também pelo próprio aparelho médico na medida em que vai paulatinamente incorporando novos

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psicopatologia, psicologia.......................................................

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4.2. Discutir o DSM-CID, considerando os conceitos de normalidade e loucura em relao patologia e o estigma. Costa e Tundis (1987, p.10) esclarecem a respeito da doena mental que Lvi Strauss percebeu que as doenas mentais podem ser tambm consideradas como incidncia sociolgica na conduta de indivduos cuja histria e constituio pessoais se dissociaram parcialmente do sistema simblico do grupo, dele se alienando. E os autores ainda afirmam que A ideologia psiquitrica teria nascido para tornar possvel classificar como doente mental todo o comportamento inadaptvel nos limites da liberdade burguesa.A respeito do normal e patolgico Resende elucida que:A definio do normal e do patolgico no mais a partir de uma normatividade pessoal de cada um, mas de um eixo de referncia supra-individual, emanando das necessidades da economia, entendida aqui, no seu amplo sentido, como a prxis posta a servio da produo e da reproduo da vida social, permanece at hoje na ordem do dia como uma das questes centrais da problemtica da doena menta e das instituies que dela se ocuparam. (RESENDE, 1987, p.20)Filho (1987, p.98) descreve que de acordo com uma das vises da psiquiatria constitu que a noo de que os indivduos devem se adaptar ativa e realisticamente s dificuldades e circunstncias situacionais com relao s quais a doena mental representa uma tentativa de fuga e escape. Considerando ainda que Bezerra discorrendo sobre a demanda psiquitrica afirma: ...e forjada tambm pelo prprio aparelho mdico na medida em que vai paulatinamente incorporando novos espaos sociais sob sua tutela: quando maior a oferta de servios psi, maior o campo de ao medicalizadora, maior o efeito de psiquiatrizao do cotidiano, maior a necessidade de terapeutas e terapias. (BEZERRA, 1987, p.138-139)Sobre o DSM de acordo com BURKLE (2009) O diagnstico dos transtornos mentais um dos principais aspectos da psicopatologia. A tarefa de diagnosticar, especialmente em psiquiatria, tem se mostrado um dos grandes desafios na rea da sade. e ainda descreve Desde sua criao, o DSM tornou-se um importante instrumento, utilizado inicialmente nos Estados Unidos e posteriormente em diversos pases no mundo, com a finalidade de uniformizar a linguagem utilizada para a classificao das perturbaes mentais. Burkle tambm descreve como algum aspecto pode ser considerado como uma doena em determinada poca, e em outra no.Sobre o contexto histrico do DSM temos as seguinte descrio: A pesquisa demonstrou o quanto evidente que os textos dos DSMs refletem as perspectivas tericas da psiquiatria do tempo em que cada uma das edies foi lanada. Enquanto o DSM-I e o DSM-II explicitam a linguagem e os conceitos usados na psicanlise, o DSM-III, o DSM-III-R e o DSM-IV utilizam uma linguagem supostamente aterica, fornecem uma descrio de sinais e sintomas, que quando analisados de forma mais cuidadosa, refletem os pontos de vista da psiquiatria biolgica. (BURKLE, p. 88, 2009)... A partir do material produzido sobre o lanamento do DSM-V, incluindo os eventos feitos para tal, novas preocupaes esto surgindo e talvez um Manual menos extremo (em relao a teoria que o norteia) esteja a caminho. Questiona-se a abordagem categorial para o diagnstico, pois categorias implicam em limites claramente estabelecidos em que os transtornos mentais muitas vezes no podem ser nitidamente definidos. So demonstradas algumas vantagens do diagnstico dimensional onde a rigidez das categorias desaparece. (BURKLE, p. 89, 2009)Parker (2014, p.110) a respeito das categorias do DSM que aumenta a cada edio diz que A existncia de cada uma das doenas particulares que a psiquiatria alega ter identificado contestada, mas isto no impede os psiclogos de adotar categorias e transform-las em categorias com as quais possa trabalhar. Mantendo a crtica com relao patologizao e medicao generalizada nos meios psiquitricos afirma:A indstria farmacutica veio a definir o que so as agendas de pesquisa para a psiquiatria. O foco em certos tipos de problema e o que pode ser preparado para fazer o problema desaparecer tambm veio a definir como se espera que a psicologia normal e anormal parea. Nos anos recentes, as companhias farmacuticas conseguem persuadir os mdicos de que um nmero crescente de enfermidades podem ser apontadas e gerenciadas com sua prpria medicao especial. (PARKER, 2004, p.109)Apontado ainda as relaes do DSM com a indstria farmacutica devemos considerar a seguinte citao de SANVITO (2012) Antes a IF anunciava remdios para tratar doenas, agora anuncia tambm doenas para encaixar seus remdios. preciso que o mdico desenvolva um juzo crtico a respeito deste tema.Erotides (2006, p.438) e os demais colaboradores mantendo uma crtica a respeito dos diagnsticos psicopatolgicos ns traz que Uma psicopatologia que se restringe identificao e descrio de sintomas e se pretende aterica, no oferece ferramentas para o entendimento da experincia do sujeito que sofre.Considerando tais fatos o conceito da normalidade um condutor de estigmas como podemos ver comparado no analise do conto S vim telefonar. por Alfredo Naffah Neto, que trata sobre uma mulher que entra por engano em um nibus lotado de senhoras loucas que estavam sendo levadas ao hospcio, atravs deste conto correlacionando com casos reais o autor analisa os aspectos realistas do estigma e da degenerao da identidade do doente mental, comeando pela perda do valor da palavra, onde tudo que a mulher protagonista fala no hospcio no tem valor algum, incluindo o fato de alegar estar l por engano e precisar telefonar para o marido, sendo que todo seu relato passa a ser desconsiderado como mero delrio. Ele demonstra como o discurso do individuo que recebe o estigma de louco no tem valor algum, bem como suas prprias atitudes podem ser reforadoras da prpria loucura, mesmo que realizadas com certa sanidade. Tambm tratado o poder do saber que dado ao mdico em toda sua autoridade e quando ele d o diagnstico de louco, este se torna irrefutvel, mesmo para aqueles mais ntimos ao individuo estigmatizado. Por tanto caracterizando o perigo social da estigmatizaro pelo DSM. MOREIRA e MELO (2008) em seu trabalho de pesquisa com portadores de doena mental e tambm HAIV/AIDS confirmam este estigma do louco, mediante o discurso dos prprios sujeitos, onde estes pacientes do hospital, onde fora feita a pesquisa, trazem relatos que revelam como o sujeito portador de doena mental se descreve como intil, impotente e mesmo dependente de outros ou da instituio, caracterizando um pensamento de auto-estigma, demonstrando ainda seu receio de serem vistos como loucos e os efeitos disto e por tanto escondendo de outras pessoas, que frequentam o hospital ou que tomam remdios, entre outros comportamentos receando a rotulao, onde at mesmo se isolam por vergonha. Alm de muitas vezes o carter invisvel da doena mental soar tambm como mera desculpa aos olhos dos demais.Relatam um sentimento de vergonha por ser doente mental, o que os leva a isolar-se. Isto contribui para o auto-estigma, muito presente nos relatos das entrevistas. H um sentimento de estranhamento consigo, de vergonha de si mesmo, o que os leva a no querer manter uma relao com o outro. (MOREIRA, MELO. 2008. p.312)