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Proposta de leitura do conto A INAUDITA GUERRA DA AVENIDA GAGO COUTINHO Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 1 Mário de Carvalho Vida e obra Nome completo: _________________________________ Local de nascimento: ____________________________ Data de nascimento: _____________________________ 1. Segue as pistas que são dadas e procura na sopa de letras as informações sobre Mário de Carvalho. Q S U É C I A W E R T Y A Q A X F R A N Ç A C V B N D E Q W E C T A Y U I O P Ç F H Z X C D E U S V B N M L W J C V S A R D I N H E I R A S V B N M K I L Ç P O Y T G D D I R E I T O Z X C B N M L L I S B O A C D E T U O R U 1.1. País onde esteve exilado. 1.2. País onde esteve exilado. 1.3. Um … Passeando pela Brisa da Tarde. 1.4. Casos do Beco das … 1.5. Área em que se licenciou. 1.6. Cidade onde se desenrola a acção do conto que vamos estudar/analisar.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 1

Mário de Carvalho – Vida e obra

Nome completo: _________________________________

Local de nascimento: ____________________________

Data de nascimento: _____________________________

1. Segue as pistas que são dadas e procura na sopa de letras as informações sobre Mário de Carvalho.

Q S U É C I A W E R T Y A Q

A X F R A N Ç A C V B N D E

Q W E C T A Y U I O P Ç F H

Z X C D E U S V B N M L W J

C V S A R D I N H E I R A S

V B N M K I L Ç P O Y T G D

D I R E I T O Z X C B N M L

L I S B O A C D E T U O R U

1.1. País onde esteve exilado.

1.2. País onde esteve exilado.

1.3. Um … Passeando pela Brisa da Tarde.

1.4. Casos do Beco das …

1.5. Área em que se licenciou.

1.6. Cidade onde se desenrola a acção do conto que vamos estudar/analisar.

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Elementos paratextuais

– Título

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1. Observa, na capa do livro, o título.

1.1. Sublinha o adjectivo que existe no título.

1.2. Consulta o dicionário, se não souberes o seu significado.

1.3. Certamente já serás capaz de compreender o significado desse adjectivo.

1.3.1. Jamais ouvida, insólita.

1.3.2. Jamais vencida, invencível.

1.3.3. Jamais dita, indizível.

Vamos descodificar semântica e etimologicamente o termo Inaudita para se compreender melhor a escolha deste adjectivo. Começamos então por decompor a palavra nos seus elementos constituintes: in- é um prefixo de negação de origem latina e audita é o particípio passado do verbo latino audio que significa “ouvir”. Etimologicamente inaudita significa então “não ouvida, nunca ouvida”. Este termo remete-nos, assim, para algo de insólito, de extraordinário e desconhecido, de que não há exemplo ou memória.

O absurdo instala-se a partir daqui: pois como pode um acontecimento deste género – uma guerra – passar despercebida ao ponto de nunca se ter ouvido falar dela? É efectivamente um paradoxo, um contra-senso, algo que nos dá que pensar.

Constatamos que o título nos remete para o principal acontecimento do conto: uma guerra, facto pelo qual este termo aparece ligeiramente destacado dos restantes vocábulos do título. Estamos, portanto, perante um tema histórico.

Que razões terão levado o autor a classificar esta guerra como inaudita?

– Título e ilustração

2. Atenta de novo no título e na ilustração.

2.1. Onde se passa a guerra? _______________________________________________________

Contrastando com o aparente paradoxo presente na expressão Inaudita Guerra, temos a informação precisa que o título nos fornece acerca da indicação do espaço físico que irá servir de campo de batalha à inaudita guerra – A Avenida Gago Coutinho – em Lisboa, avenida que recebeu o nome de uma personagem também histórica: Gago Coutinho, geógrafo, marinheiro, matemático e inventor, que empreendeu um feito igualmente inaudito, não no sentido etimológico da palavra, mas no sentido mais lato de algo espantoso, extraordinário e inacreditável: a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, em 1922, com Sacadura Cabral.

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A escolha deste espaço cujo nome recorda e perpetua um feito igualmente inaudito terá sido casual ou terá sido intencional?

Talvez tenha sido intencional, para que uma guerra inaudita pudesse acontecer num

palco cujo nome perpetua um acontecimento que na época foi considerado também inaudito.

3. Observa a ilustração da capa com atenção. Tendo em conta que se trata de uma

guerra, achas que na ilustração estão… a) Representantes das forças em oposição. b) Companheiros de batalha. c) Espectadores dos acontecimentos.

4. As suas vestes são bem diferentes! Porque será? a) Provavelmente vieram de um desfile de máscaras. b) Provavelmente não tinham mais nada para vestir. c) Provavelmente representam épocas diferentes. Outro elemento paratextual que merece também uma reflexão é a ilustração

presente na capa. Há, entre esta e o título, uma relação de complementaridade. Com efeito, as personagens apresentadas apontam, pela indumentária e pelos adereços de guerra, para dois grupos de personagens distintas e espaçadas no tempo, embora presentes no mesmo espaço.

Tratar-se-á então de dois tempos históricos diferentes, mas de um só espaço?

Também aqui sobressai o insólito, deixando-nos na expectativa de desvendar tão

estranho mistério. Isto para já não falar nos misteriosos fios que entrelaçam as personagens como se tivessem sido apanhadas nas mesmas malhas da história.

Elementos paratextuais Como vês, por vezes é possível antecipar os acontecimentos com a ajuda de elementos que, à partida, poderias considerar acessórios. Agora já percebes porque se trata de uma guerra inaudita. É uma guerra que vai ter lugar na Avenida Gago Coutinho, um dos locais mais movimentados de Lisboa! Além disso, vai opor personagens pertencentes a épocas diferentes… Mas para saberes o que de facto aconteceu vamos ler e analisar o conto.

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Lê atentamente os dois primeiros parágrafos do conto.

―0 grande Homero às vezes dormitava, garante Horácio. Outros poetas dão-se a uma sesta, de vez em quando, com prejuízo da toada e da eloquência do discurso. Mas, infelizmente, não são apenas os poetas que se deixam dormitar. Os deuses também.

Assim aconteceu uma vez a Clio, musa da História que, enfadada da imensa tapeçaria milenária a seu cargo, repleta de cores cinzentas e coberta de desenhos redundantes e monótonos, deixou descair a cabeça loura e adormeceu por instantes, enquanto os dedos, por inércia, continuavam a trama. Logo se enlearam dois fios e no desenho se empolou um nó, destoante da lisura do tecido. Amalgamaram-se então as datas de 4 de Junho de 1148 e de 29 de Setembro de 1984.‖

5. Completa o texto seguinte, preenchendo os espaços em branco com as palavras adequadas.

A musa da História, ___________, estava muito aborrecida a fazer a sua ____________________, cheia de tons _______________ e com desenhos muito enfadonhos. O seu trabalho era tão repetitivo, que ela ______________. Mas os seus dedos continuaram a trabalhar e enlearam dois ____________, originando um ____________. Isto provocou a mistura de duas datas: - 4 de Junho de ____________ e 29 de Setembro de ______________.

6. O narrador refere que, de vez em quando, até os grandes poetas dormem. Ou seja, até eles se distraem e cometem erros. Mas não são apenas os poetas. Também os deuses têm distracções.

6.1. Sublinha no texto acima a palavra que introduz a ideia de que também os

deuses estão, como os homens, sujeitos ao erro.

6.2. Classifica essa palavra quanto à classe gramatical a que pertence.

a) Conjunção b) Advérbio c) Preposição

6.3. Retira, agora, do excerto…

6.3.1. Um advérbio de modo ___________________

6.3.2. Um advérbio de negação __________________

6.4. Escreve frases em que empregues alguns advérbios.

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

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Advérbios

Os Advérbios são palavras que modificam um verbo ou um adjectivo ou um outro advérbio. Raramente modificam um substantivo.

Uma locução adverbial ocorre quando duas ou mais palavras exercem a função de advérbio. As locuções adverbiais são conjuntos de palavras, geralmente introduzidas por uma preposição, que exercem a função de advérbio: à pressa, à toa, às cegas, às escuras, às vezes, de quando em quando, de vez em quando, à direita, à esquerda, em vão, frente a frente, de repente, de maneira alguma…

Tempo Lugar Modo

hoje; logo; primeiro; ontem;

tarde; outrora; amanhã;

cedo; dantes; depois; ainda;

antigamente; antes;

doravante; nunca; então;

ora; jamais; agora; sempre;

já; enfim; etc.

aqui; antes; dentro; ali;

adiante; fora; acolá;

atrás; além; lá; detrás;

aquém; cá; acima; onde;

perto; aí; abaixo; aonde;

longe; debaixo; algures;

defronte; nenhures; etc.

bem; mal; melhor; pior; assim;

aliás; depressa; devagar; como;

debalde; sobremodo;

sobretudo; sobremaneira;

quase; principalmente

Obs.: muitos advérbios de modo

formam-se juntando mente à

forma feminina do adjectivo

Quantidade Afirmação Negação

muito; pouco; mais; menos;

demasiado; quanto; quão;

tanto; tão; assaz; que

(equivale a quão); tudo;

nada; todo; bastante; quase

sim; certamente;

realmente; decerto;

efectivamente; etc.

não; nem; nunca; jamais; etc.

Dúvida Exclusão Inclusão

acaso; porventura;

possivelmente;

provavelmente; quiçá; talvez

apenas; exclusivamente;

salvo; senão; somente;

simplesmente; só;

unicamente

ainda; até; mesmo;

inclusivamente; também

Ordem Designação Interrogação

depois; primeiramente;

ultimamente eis onde? como? quando? porque?

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7. Que provérbio poderias escolher para desculpar este comportamento de Clio?

a) A fiar e a tecer ganha a mulher de comer. b) Quem vai à guerra dá e leva. c) Em melhor pano há engano. d) Quem muito dorme pouco aprende.

Erro de Clio Pois é! Clio não é humana, é uma deusa, mas também ela se engana. Todos estamos sujeitos a errar, até mesmo os deuses. Neste caso, errar é humano e também divino.

No início deste parágrafo, Horácio garante que o grande Homero às vezes dormitava. Esta afirmação corresponde ao verso latino “Quandoque bonus dormitat Homerus‖ da Arte Poética, designação que lhe foi atribuída por Quintiliano. Esta afirmação quer dizer que até o grande Homero, por vezes, teve “deslizes” nos poemas que escreveu. A afirmação tornou-se proverbial, significando que uma falta pode ser cometida até pelos mais sábios e prevenidos, pois errare humanum est. Mas esta possibilidade de cometer erros é extensiva a outros poetas, pois se até o grande Homero comete erros – reparem na pertinência do adjectivo “grande” e do seu lugar na frase (logo no seu início, para além de ser um adjectivo anteposto ao substantivo) – não será de estranhar que outros também, de vez em quando, se entreguem a uma “sesta”, como, metaforicamente, nos é dito no conto. Esta fragilidade não é específica apenas do mundo humano, ela é alargada ao mundo mítico / divino: os deuses também são dados a estas fraquezas. Nota-se aqui a evidente tendência temática do cruzamento de mundos diferentes: o humano e o divino.

Este primeiro parágrafo introduz e justifica, deste modo, o acontecimento decorrido com Clio, musa da história, narrado no segundo parágrafo, e a partir do qual se vai desencadear toda a acção do conto. Daí que o segundo parágrafo se inicie pelo advérbio de modo “assim”, pois ele é como que o concretizar do segundo termo da comparação que é estabelecida entre os homens e os deuses:

―Assim aconteceu uma vez a Clio, musa da História que, enfadada da imensa

tapeçaria milenária a seu cargo, repleta de cores cinzentas e coberta de desenhos redundantes e monótonos, deixou descair a cabeça loura e adormeceu por instantes, enquanto os dedos, por inércia, continuavam a trama. Logo se enlearam dois fios e no desenho se empolou um nó, destoante da lisura do tecido. Amalgamaram-se então as datas de 4 de Junho de 1148 e de 29 de Setembro de 1984.‖

A pretexto de um adormecimento da musa Clio, Mário de Carvalho põe num mesmo espaço uma cena do séc. XII e outra do séc. XX. Estes dois primeiros parágrafos correspondem, à introdução, pois neles se encontra o motivo da acção do conto.

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Poderíamos pôr a questão: Por que razão esta tendência temática de Mário de Carvalho em cruzar épocas históricas distintas e com um hiato temporal tão grande: o séc. XII e o séc. XX, num mesmo espaço.

Numa carta que o autor escreveu aos alunos de uma escola secundária de Vila Nova de Gaia, que o questionaram precisamente sobre este aspecto, ele disse:

“O que me levou a escrever a Inaudita... e por que razão misturei épocas

distintas: foi a consciência de que Portugal é um país muito antigo, muito miscigenado,

percorrido por muitas culturas e civilizações, de modo que cada um de nós é mais do que ele próprio, porque tem atrás de si uma grande espessura de História.”

E inquirido sobre o que o levou a escrever ficção, responde o autor na mesma carta: “ Este mundo é muito pequeno e limitado. Há que torná-lo maior.”

É esta mesma justificação que podemos encontrar na Revista Ler numa entrevista feita a Mário de Carvalho, onde o escritor afirma:

“ Nós somos mais do que nós, nós somos uma nação muito antiga. E, antes de

sermos nação, isto tinha sido um caldeamento muito grande de povos e civilizações. Por detrás de nós, há toda uma estrutura histórica. Quando eu escrevo A Inaudita

Guerra da Avenida Gago Coutinho, quando os mouros aparecem aí num engarrafamento em Lisboa, é isso que eu quero dizer: atenção, nós somos uns e

somos outros. Ou seja, temos cá uma civilização árabe também.”

Constatamos, assim, que a razão apresentada por Mário de Carvalho é, fundamentalmente, histórico-cultural, aliada, evidentemente, a uma incontável ânsia de liberdade.

Às razões apontadas, podemos ainda acrescentar uma outra: uma irreprimível meninice, como diz o autor no auto-retrato que, em 1997, esboçou para o Jornal de Letras:

- Acho, francamente, que nisto de escrever vai alguma infantilidade que sobrou.

Talvez seja um defeito, uma desregulação da natureza. As almas dos outros possuem

uma aptidão inata para a eliminação da meninice. A nossa, não. As crianças são capazes de se desdobrar numa multiplicidade de personagens.

Em qualquer brincadeira “são” este, e “são” aquele. Na fantasia infantil ordena-se e

desordena-se o mundo, como se o mundo estivesse ao dispor dos caprichos das brincadeiras.

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Categorias da narrativa

Acção

Dá-se o nome de acção ao conjunto de acontecimentos que constituem uma narrativa e que são relatados, mas há que distinguir a importância de cada um deles para a história. Acção principal: constituída pelo ou pelos acontecimentos principais, Acção secundária: constituída pelo ou pelos acontecimentos menos importantes que valorizam a acção central. Numa narrativa, as várias acções relacionam-se entre si de diferentes maneiras: - por encadeamento: quando as acções sucedem por ordem temporal e em que o final de uma acção se encadeia com o início da seguinte. - por alternância: quando as acções se desenrolam separada e alternadamente, podendo fundir-se em determinado ponto da história. - por encaixe, isto é, quando se introduz uma acção noutra.

Narrador O narrador é uma entidade imaginária criada pelo autor, que tem como função contar a história. Não deve, por isso, ser confundido com o autor, que é o responsável pela criação da história.

Presença Quanto à presença, o narrador pode ser não participante ou participante. Narrador não participante: conta uma história na qual não participa – narrador heterodiegético – narra a acção na terceira pessoa. Ex.: ―Os automobilistas que nessa manhã de Setembro entravam em Lisboa pela Avenida Gago Coutinho, direitos ao Areeiro, começaram por apanhar um grande susto (…)‖ Narrador participante – conta uma história em que participa como personagem principal – narrador autodiegético – ou uma história em que participa como personagem secundária – narrador homodiegético. Narra a acção na 1.ª pessoa. Ex.: ―Para lá do telefone e das calorias das trouxas de ovos, a minha mãe também odeia palavras foleiras tipo ―tchauzinho‖, ―oi‖, ―tudo bem, fofa?‖ coisas assim.‖

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Posição Quanto à posição, relativamente ao que conta, o narrador pode ser objectivo ou subjectivo.

Narrador objectivo – mantém uma posição imparcial em relação aos acontecimentos, narrando os factos com objectividade. Ex.: ―Sexta-feira colhia flores por entre os rochedos junto da antiga gruta quando viu um ponto branco no horizonte, para leste.‖ Narrador subjectivo – narra os acontecimentos com parcialidade, emitindo a sua opinião, emitindo juízos de valor, tornando a narração subjectiva. Ex.: ― (…) quando os primeiros alfanges assomavam ao lado de um autocarro da Carris, já os briosos homens da Polícia de Intervenção corriam a bom correr até à Cervejaria Munique, onde se refugiavam atrás do balcão(…)‖

Focalização (diz respeito ao MODO como o narrador vê os factos da história.)

Focalização omnisciente – o narrador detém um conhecimento total e ilimitado da narrativa. Controla os acontecimentos, o tempo e as personagens. Ex.: ―De que Alá era grande estava o chefe da tropa convencido, mas não lhe pareceu o momento oportuno para louvaminhas, que a situação requeria antes soluções práticas e muito tacto.‖

Focalização interna - o narrador adopta o ponto de vista de uma ou mais personagens,

daí resultando uma diminuição de conhecimento.

Ex.: ―Tão natural, tão simples e ao mesmo tempo, tão elegante, tão bem cuidada...

Foi tão carinhosa comigo, a Daniela!‖

Focalização externa - o conhecimento do narrador limita-se ao que é observável do

exterior.

Ex.: " Pelas cinco horas duma tarde invernosa de Outubro, certo viajante entrou

em Corgos, a pé, depois de árdua jornada...".

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Narrador (quadro síntese)

Presença

Narrador participante

Narrador não participante

Definição

Narrador que participa na

história que narra – narrador autodiegético (personagem

principal), narrador homodiegético (personagem

secundária).

Narrador que não participa na história que

narra – narrador heterodiegético.

Ca

rac

terí

sti

cas

Pronomes pessoais da

primeira pessoa – eu, me, comigo; nós, nos, connosco

Determinantes/pronomes

pessoais e demonstrativos da 1.ª pessoa – meu, meus,

minha, minhas, nosso, nossos, nossa, nossas, este, estes,

esta, estas

Formas verbais da 1.ª pessoa – vi, encontrei, gostava;

gostávamos, vimos, encontrámos

Pronomes pessoais da 3.º pessoa – ele,

eles, ela, elas, lhe, lhes

Determinantes/pronomes pessoais e demonstrativos da 3.ª pessoa – dele, deles, dela, delas, seu, seus, sua, suas,

esse, esses, essa, essas, aquele, aquela, aqueles, aquelas

Formas verbais da 3.ª pessoa – viu,

encontrou, gostava; viram, encontraram, gostavam

Posição Narrador objectivo Narrador subjectivo

Definição

Narrador que relata os acontecimentos com

imparcialidade e objectividade

Narrador que relata os acontecimentos com

parcialidade e subjectividade

Focalização definição

Narrador omnisciente – narrador que é detentor de um

conhecimento ilimitado da narrativa, que lhe permite ter

um controlo total dos acontecimentos, do tempo e

das personagens.

Focalização interna - o narrador adopta o

ponto de vista de uma ou mais

personagens.

Focalização externa - o conhecimento do

narrador limita-se ao que é observável do

exterior.

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Personagem A personagem é uma categoria essencial da narrativa. Regra geral, a acção desenvolve-se à volta da personagem, daí a sua importância. Podemos caracterizar a personagem quanto ao relevo na acção e quanto à sua composição.

Relevo Protagonista ou personagem principal – personagem que desempenha o papel de maior importância para o desenrolar da acção. Personagem secundária – personagem que desempenha um papel com menos relevo, mas ainda assim é essencial para o desenvolvimento da acção. Figurante – personagem que é, normalmente, irrelevante para o desenrolar da acção,

mas pode ser muito importante para ajudar a ilustrar um ambiente ou um espaço social de que é representante.

Composição Personagem plana – uma personagem sem complexidade e que não evolui para além da sua caracterização inicial – mantém as mesmas ideias, as mesmas acções, as mesmas palavras, as mesmas qualidades e defeitos. Personagem modelada ou redonda – uma personagem complexa, apresentando uma personalidade forte. A caracterização deste tipo de personagens está sempre em aberto, pois os seus medos, os seus objectivos, as suas obsessões vão sendo revelados pouco a pouco.

Personagem-tipo - representa um grupo profissional ou social.

Personagem colectiva - representa um grupo de indivíduos que age como se os animasse uma só vontade.

Caracterização

Directa – caracterização feita pelo narrador, pela própria personagem ou pelas outras personagens da história.

Indirecta - o narrador põe a personagem em acção, cabendo ao leitor, através do seu comportamento e/ou da sua fala, traçar o seu retrato.

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Tempo

O tempo é uma das categorias da narrativa com mais relevo. Estabelece a duração da acção e marca a sucessão cronológica dos acontecimentos.

Tempo cronológico ou tempo da história - determinado pela sucessão cronológica dos acontecimentos narrados, ou seja, a ordem real dos acontecimentos.

A ordem real dos acontecimentos pode ser representada desta forma:

A B C D E F G

1. -------|--------|---------|---------|--------|---------|--------|--

Tempo do discurso - resulta do tratamento ou elaboração do tempo da história pelo narrador, ou seja, é a ordem textual dos acontecimentos. O tempo do discurso nem sempre respeita o tempo da história, ou seja, os acontecimentos nem sempre são relatados pela ordem de sucessão. Este pode escolher narrar os acontecimentos:

- por ordem linear ;

- com alteração da ordem temporal, recorrendo à analepse (narrando acontecimentos passados) ou à prolepse (antecipação de acontecimentos futuros);

- ao ritmo dos acontecimentos, como, por exemplo, na cena dialogada;

- a um ritmo diferente, recorrendo ao resumo ou sumário (condensação dos acontecimentos), à elipse (omissão de acontecimentos) e à pausa (interrupção da história para dar lugar a descrições ou divagações).

A ordem textual dos acontecimentos pode ser representada assim:

B C A D G E F 1. --------|--------|-------|--------|--------|---------|--------|-------

2. Tempo histórico - refere-se à época ou momento histórico em que a acção se desenrola.

3.

4. Tempo psicológico - é um tempo subjectivo, vivido ou sentido pela personagem, que flui em consonância com o seu estado de espírito.

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Espaço

O espaço de uma narrativa refere-se não só ao lugar físico onde decorre a acção, mas também ao ambiente social e cultural onde se inserem as personagens.

Espaço físico - é o espaço real, que serve de cenário à acção, onde as personagens se movem. Lugar ou lugares onde decorre a acção. Pode definir-se como um espaço aberto/fechado, interior/exterior, público/privado. Espaço social e cultural - é constituído pelo ambiente social, representado, por excelência, pelas personagens figurantes. Meio, situação económica, cultural ou social das personagens. Podem ser definidos grupos sociais, conjuntos de valores e crenças desses grupos, posição que ocupam na sociedade, referência às tradições e costumes culturais de um povo. Espaço psicológico - espaço interior da personagem, abarcando as suas vivências, os seus pensamentos e sentimentos.

A – Assinala a resposta correcta:

1. Quando o narrador avança no tempo, verifica-se a 1. antecipação do final do módulo. 2. elipse. 3. prolepse. 4. analepse.

2. Quando o narrador omite acontecimentos, "saltando" na acção, falamos de 1. prolepse. 2. elipse. 3. sumário. 4. Ocultação de provas.

3. Quando o tempo do discurso se aproxima do tempo da história, como, por exemplo, nos diálogos, falamos de

1. sincronia. 2. sumário. 3. isocronia. 4. pedido de ultrapassagem.

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4. De um narrador que nos apresenta uma narrativa, pelo ponto de vista de uma ou mais personagens, dizemos que tem

1. focalização omnisciente. 2. focalização interna. 3. problemas de dupla personalidade. 4. focalização externa.

5. O processo de caracterização das personagens que depende das conclusões e inferências do leitor denomina-se

1. caracterização directa. 2. caracterização popular. 3. caracterização inferida. 4. caracterização indirecta.

6. O conjunto de acontecimentos que se desenrolam em determinados espaços e ao longo de um período de tempo mais ou menos extenso tem o nome de

1. conjunto Maria Albertina. 2. narratário. 3. acção. 4. tempo.

7. Quando o narrador conta uma série de acontecimentos de forma muito resumida, falamos de

1. elipse. 2. sumário. 3. analepse. 4. falta de paciência.

8. ESPAÇO SOCIAL é 1. o espaço interior da personagem, o conjunto das suas vivências, emoções e

pensamentos. 2. o ambiente social em que as personagens se integram. 3. o espaço real, exterior ou interior, onde as personagens se movem. 4. um projecto de enviar o excedente demográfico para outros planetas.

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9. Quanto à composição, as personagens podem ser classificadas como 1. modeladas, desenhadas e colectivas. 2. altas, baixas, gordas, magras. 3. redondas, planas e quadradas. 4. Principais, secundárias e figurantes.

10. Se um narrador não participa na acção, dizemos que é um NARRADOR 1. "CORTES". 2. AUTODIEGÉTICO. 3. HOMODIEGÉTICO. 4. HETERODIEGÉTICO.

11. De um narrador que nos apresenta uma narrativa, contando a história de forma objectiva, do ponto de vista de uma testemunha dos acontecimentos, dizemos que tem

1. Focalização externa. 2. Focalização omnisciente. 3. Focalização interna. 4. O hábito de “cuscar”.

12. ESPAÇO PSICOLÓGICO É 1. uma clínica para doentes mentais. 2. o espaço real, exterior ou interior, onde as personagens se movem. 3. o espaço interior da personagem, o conjunto das suas vivências, emoções e

pensamentos. 4. o ambiente social em que as personagens se integram.

13. Se um narrador nos apresenta uma narrativa, sabendo tudo o que se passa no íntimo das personagens, bem como o que se passa no passado, presente e futuro da acção, dizemos que tem

1. focalização omnisciente. 2. uma grande rede de espiões. 3. focalização interna. 4. focalização externa.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 17

14. ESPAÇO FÍSICO É 1. o espaço interior da personagem, o conjunto das suas vivências, emoções e

pensamentos. 2. o espaço real, exterior ou interior, onde as personagens se movem. 3. um local de actividades desportivas. 4. o ambiente social em que as personagens se integram.

15. Se um narrador é a personagem principal da narrativa e utiliza a primeira pessoa, dizemos que é um NARRADOR

1. HOMODIEGÉTICO. 2. HETERODIEGÉTICO. 3. AUTODIEGÉTICO. 4. VAIDOSO.

16. Quando o narrador recua no tempo, verifica-se a 1. Confusão total do leitor. 2. analepse. 3. prolepse. 4. Elipse

17. Se um narrador participa na acção, apesar de não ser protagonista, dizemos que é um NARRADOR

1. AUTODIEGÉTICO. 2. HOMODIEGÉTICO. 3. HETERODIEGÉTICO. 4. DISCRETO.

18. À maneira como as personagens vivenciam o tempo, chamamos 1. Tempo da história. 2. Tempo de chuva. 3. Tempo do discurso. 4. Tempo psicológico.

19. A entidade responsável pelo discurso narrativo, aquele que conta a história, chama-se

1. personagem. 2. narratário. 3. cusco. 4. narrador.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 18

20. Quanto ao relevo, as personagens podem ser classificadas como 1. altas, baixas, gordas e magras. 2. redondas, planas e quadradas. 3. modeladas, desenhadas e colectivas. 4. principais, secundárias e figurantes.

O espaço e o tempo

Depois de teres lido, com atenção, a ficha informativa sobre as Categorias da narrativa, interpreta o esquema que se segue.

Tempo

4 de Junho de 1148 e Breves momentos 29 de Setembro de 1984 da manhã

Espaço

Lisboa Avenida Gago Coutinho

O caos da situação descrita no conto revela-se tanto maior se constatarmos que

toda esta confusão se encontra concentrada num mesmo espaço: a Avenida Gago Coutinho. Efectivamente, este conto pauta-se por uma grande concentração espacial. Mas esta concentração não se aplica apenas ao espaço, ela aplica-se também ao tempo, pois, apesar de haver uma dispersão temporal – com a presença de duas épocas históricas distintas – esta dispersão é apenas aparente, já que as duas épocas históricas confluem e fundem-se num só momento temporal, cronologicamente breve e fugaz, correspondente ao curto adormecimento de Clio que, metaforicamente, é traduzido pelo nó que logo se formou quando Clio adormeceu, destoando da lisura do tecido da tapeçaria milenária urdida pela musa da História. Resumindo, cansada da sua tarefa monótona e interminável, Clio, aborrecida, deixa-se adormecer, enquanto faz a sua tapeçaria. Tal distracção origina uma guerra única e sem precedentes. Ao juntar dois fios distintos, a musa da História mistura as datas de 4 de Junho de 1148 e 29 de Setembro de 1984. Gera-se uma grande confusão na cidade de Lisboa, mais propriamente na Avenida Gago Coutinho. Aí misturam-se personagens do séc. XII e do séc. XX. Este espaço tão concentrado e o tempo tão reduzido ajudam a fazer desta uma guerra inaudita.

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Clio

Da união de Zeus e Mnemósine – a deusa da memória –, nasceram as nove musas, personificando as artes e ciências. Clio (ou Arauto) é a musa grega da História. Representada como uma jovem com uma coroa de louros e um pergaminho nas mãos, é frequentemente acompanhada por um baú de livros nas representações iconográficas. Metaforicamente, Clio simboliza que o conhecimento é fruto da leitura e do estudo e, nas lendas gregas, a musa é referida como aquela que legou o alfabeto aos homens. " Clio é a musa maior, assim como os livros são a maior invenção da humanidade, e o conhecimento, a maior dádiva dos Deuses".

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“Inaudita” é uma palavra derivada. Relembra, então, os processos de formação de palavras.

Processos de Formação de palavras É possível formar novas palavras através dos processos de derivação e composição.

1. Derivação A derivação é um processo de formação de palavras novas realizado através da junção de afixos (prefixos, se for no início da palavra, ou sufixos, se for no fim da palavra).

1.1. Derivação por prefixação

Se é acrescentado um prefixo, como por exemplo na palavra imóvel, estamos em presença de uma derivação por prefixação.

i + móvel = imóvel

1.2. Derivação por sufixação

Se é acrescentado um sufixo, como acontece na palavra extremidade, trata-se de uma derivação por sufixação.

extremo + dade = extremidade

1.3. Derivação por prefixação e por sufixação

Se é acrescentado um prefixo e um sufixo, como por exemplo na palavra infelizmente, estamos em presença de uma derivação por prefixação e sufixação.

in + feliz + mente = infelizmente

1.4. Derivação parassintética

Quando são acrescentados à palavra um prefixo e um sufixo, mas em simultâneo, como é o caso de enriquecer, estamos perante uma derivação parassintética, pois se fosse acrescentado só o prefixo ou só o sufixo, daria origem a uma palavra inexistente.

en + rico + ecer = enriquecer

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Derivação (quadro síntese)

Formação Exemplos

Derivação por

prefixação

prefixo + palavra

primitiva

a + pôr = apor

semi + círculo = semicírculo

tri + ângulo = triângulo

contra + pôr = contrapor

ex + pôr = expor

im + pôr = impor

per + correr = percorrer

Derivação por sufixação palavra primitiva +

sufixo

casa + arão = casarão

chuva + oso = chuvoso

calma + mente =

calmamente

casa + inha = casinha

casa + eiro = caseiro

Derivação parassintética prefixo + palavra

primitiva + sufixo

a + funil + ar = afunilar

en + gaiola + ar = engaiolar

a + manh(ã) + ecer =

amanhecer

Derivação regressiva

A palavra primitiva

reduz-se ao formar a

palavra derivada

abalar > abalo

errar > erro

cortar > corte

debater > debate

recuar > recuo

Derivação imprópria

Mudança gramatical

nas palavras sem

alteração da forma

Porto - porto (vinho)

pereira - Pereira

(árvore) (apelido)

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8. Sublinha, nas seguintes frases retiradas do conto, as palavras que correspondem aos processos de formação indicados.

8.1. Derivação por sufixação “se empenhavam numa ruidosa assuada.”

8.2. Derivação por prefixação “ deixou descair a cabeça loura”

8.3. Derivação regressiva “Num credo, desfez a troca dos fios”

8.4. Derivação parassintética “a Providência encarregou de ensarilhar os trânsitos”

2. Composição

Processo de formação de palavras através do qual novas palavras são formadas pela junção de duas ou mais palavras já existentes.

Existem duas formas de composição:

Justaposição

Aglutinação

2.1. Composição por justaposição

Esta ocorre quando duas ou mais palavras se unem sem que ocorra alteração nas suas formas ou acentuação primitivas.

guarda-chuva, segunda-feira, passatempo.

2.2. Composição por aglutinação

Esta ocorre quando duas ou mais palavras se unem para formar uma nova palavra ocorrendo alteração na forma ou na acentuação.

fidalgo (filho + de +algo), aguardente (água + ardente), embora (em + boa + hora)

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 23

Composição (quadro síntese)

Formação Exemplos

Justaposição

união de duas ou mais

palavras conservando

cada uma o seu acento

próprio e ortografia (em

regra, ligadas por

hífen)

amor-perfeito

pé-de-cabra

segunda-feira

chapéu-de-chuva

pára-quedas

passatempo

saca-rolhas

Aglutinação

união de duas ou mais

palavras que se

subordinam a um único

acento tónico (o da

segunda) e sofrem

alterações ortográficas

aguardente (água + ardente)

embora (em + boa + hora)

fidalgo (filho + de + algo)

Monsanto (monte + santo)

9. Atenta nas palavras sublinhadas na coluna da esquerda. Estabelece as correspondências correctas entre elas e os respectivos processos de formação.

“lugar-tenente de Muftar” Derivação por sufixação “enciumado pela concorrência” Composição por justaposição “ocupava a placa central relvada” Derivação parassintética “no pouco espaço ao dispor” Derivação por prefixação “Mas, infelizmente, não são Derivação por prefixação Apenas os poetas” e por sufixação

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10. Coloca correctamente as palavras, contidas no quadro, no espaço à frente do processo de formação.

ensurdecedora pisca-piscas louvável

troca desacompanhado retinir

Embora Sr. Gago

10.1. Derivação por prefixação _____________________

10.2. Derivação por sufixação ______________________

10.3. Derivação por prefixação e sufixação _________________________

10.4. Derivação parassintética ______________________

10.5. Derivação regressiva ________________________

10.6. Composição por justaposição _________________________

10.7. Composição por aglutinação ____________________

10.8. Derivação imprópria _______________________

11. Identifica a alternativa que indica correctamente os processos de formação das

palavras destacadas:

Ao anoitecer, o planalto fica deserto. O raio ultravioleta provocou um ataque danoso ao material.

a) derivação por sufixação, composição por justaposição, composiçao por aglutinação b) parassíntese, composiçao por aglutinação, derivação regressiva c) derivação por prefixação, composiçao por aglutinação, composição por

justaposição d) derivação por prefixação e por sufixação, composição por justaposição,

parassíntese

e) parassíntese, composição por justaposição, derivação regressiva

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12. Identifica as palavras que fogem ao processo de formação de chapechape: a) zumzum c) toque-toque e) vivido

b) miminho d) tim-tim f) reco-reco

O início da “guerra inaudita”

A partir do terceiro parágrafo vamos ter o desenrolar da acção propriamente dita, consequência do descuido de Clio, a musa da História. Assim, na manhã de 29 de Setembro de 1984, os automobilistas que entravam em Lisboa pela avenida Gago Coutinho em direcção ao Areeiro, vão deparar-se, inexplicavelmente, com a numerosa tropa de Ibn-el-Muftar, montada em solípedes, cujo propósito era conquistar a cidade de Lisboa que havia sido tomada há um ano atrás, em 1147, por D. Afonso Henriques.

Repara na veracidade do facto histórico referido. A acção do conto decorre em 1148 e um ano antes, em 1147, deu-se a reconquista

de Lisboa. Efectivamente, D. Afonso Henriques, com o auxílio de cruzados que se dirigiam para

a Palestina (2ª cruzada), conseguiu tomar a cidade, então ocupada pelos mouros, após um cerco de cerca de quatro meses. A cidade acabou por se render em Outubro de 1147.

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1. Ordena as seguintes frases relativas à “inaudita guerra” de acordo com os símbolos que representam cada uma delas.

a) Chega o comissário Nunes que manda dispersar tudo à bastonada.

b) Os automobilistas saem dos carros sem perceber o que se passa.

c) Manuel da Silva Lopes atinge um dos árabes com um calhau e estes ripostam

com setas.

d) Ibn-el-Muftar, incrédulo, tenta compreender o que se passa em Lisboa.

e) Estranhamente, a normalidade é reposta na Avenida Gago Coutinho.

f) Os árabes investem contra os polícias e estes escondem-se na Cervejaria Munique.

g) É enviada a Polícia de Intervenção para o ajudar.

h) Manuel Reis Tobias pede ajuda ao posto de comando.

i) Chega o capitão Aurélio Soares que tenta resolver a situação pacificamente,

através do diálogo. a) b) c) d) e)

f) g) h) i)

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Numa manhã de Setembro…

“Os automobilistas que nessa manhã de Setembro entravam em Lisboa pela

Avenida Gago Coutinho, direitos ao Areeiro, começaram por apanhar um grande susto, e, por instantes, foi, em toda aquela área, um estridente rumor de motores

desmultiplicados, travões aplicados a fundo, e uma sarabanda de buzinas ensurdecedora. Tudo isto de mistura com retinir de metais, relinchos de cavalos e

imprecações guturais em alta grita. É que, nessa ocasião mesma, a tropa do almóada lbn-elMuftar, composta de berberes, azenegues e árabes em número para cima de dez mil, vinha sorrateira pelo

valado, quase à beira do esteiro de rio que ali então desembocava, com o propósito de pôr cerco às muralhas de Lixbuna, um ano atrás assediada e tomada por hordas de

nazarenos odiosos. Viu-se de repente o exército envolvido por milhares de carros de metal, de cores faiscantes, no meio de um fragor estrondoso - que veio substituir o suave pipilar

dos pássaros e o doce zunido dos moscardos - e flanqueado por paredes descomunais que por toda a parte se erguiam, cobertas de janelas brilhantes. Assustaram-se os

beduínos, volteando assarapantados os cavalos, no estreito espaço de manobra que lhes era deixado, e Ali-ben-Yussuf, lugar-tenente de Muftar, homem piedoso e temente a Deus, quis ali mesmo apear-se para orar, depois de ter alçado as mãos ao céu e

bradado que Alá era grande. De que Alá era grande estava o chefe da tropa convencido, mas não lhe

pareceu o momento oportuno para louvaminhas, que a situação requeria antes soluções práticas e muito tacto. Travou os desígnios do adjunto com um gesto brutal, levantou bem alto o pendão verde e bradou uma ordem que foi repetida, de esquadrão

em esquadrão, até chegar à derradeira retaguarda, já muito próxima da Rotunda da Encarnação: - Que ninguém se mexesse!”

2. Procura no dicionário o significado das palavras destacadas no texto.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 28

A Linguagem - As sensações e as figuras de estilo

1. Quando conta a chegada dos árabes à Avenida Gago Coutinho, o narrador é muito expressivo, recorrendo às sensações para nos dar uma ideia real do que aconteceu. Sublinha a vermelho as expressões relativas a sensações visuais e a verde as expressões relativas a sensações auditivas.

“(…) e, por instantes, foi, em toda aquela área, um estridente rumor de

motores desmultiplicados, travões aplicados a fundo, e uma sarabanda de buzinas ensurdecedora. Tudo isto de mistura com retinir de metais,

relinchos de cavalos e imprecações guturais em alta grita. É que, nessa ocasião mesma, a tropa do almóada lbn-elMuftar, composta de berberes, azenegues e árabes em número para cima de dez

mil, vinha sorrateira pelo valado, quase à beira do esteiro de rio que ali então desembocava, com o propósito de pôr cerco às muralhas de

Lixbuna, um ano atrás assediada e tomada por hordas de nazarenos odiosos. Viu-se de repente o exército envolvido por milhares de carros de

metal, de cores faiscantes, no meio de um fragor estrondoso - que veio substituir o suave pipilar dos pássaros e o doce zunido dos moscardos - e

flanqueado por paredes descomunais que por toda a parte se erguiam, cobertas de janelas brilhantes.”

2. A expressividade deste excerto é conseguida, não só pelo recurso às sensações, mas também pelas figuras de estilo. Identifica, completando os espaços, as figuras de estilo presentes nos excertos.

2.1. “Tudo isto de mistura com retinir de metais, relinchos de cavalos

e imprecações guturais em alta grita.” ___________________ 2.2. “Viu-se de repente o exército envolvido por milhares de carros

de metal” _____________________

2.3. “(…) paredes descomunais que por toda a parte se erguiam, cobertas de janelas brilhantes.” _____________________

Sensações As sensações e as figuras de estilo têm muita importância neste excerto, pois tornam a linguagem bastante expressiva e, através delas, conseguimos visualizar toda a situação, com se nela tivéssemos participado.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 29

Figuras de estilo

Aliteração - recurso de estilo do nível fonológico, que consiste na repetição de fonemas, como recurso para intensificação do ritmo, ou como efeito sonoro significativo.

Ex.: "Galgam os gatos, guturais, gritando" - António Feijó "Na messe, que enlourece, estremece a quermesse..." - Eugénio de Castro

Anáfora - é a repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no princípio de frases ou versos consecutivos.

Ex.: Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. (Camões) Comparação - existe a comparação, quando a associação entre as palavras se processa através de expressões comparativas como: como, tal como, tal qual, assim como ou por verbos como parecer, assemelhar...

Ex.: O cipreste e o cedro envelheciam juntos como dois amigos num ermo (...) - Eça de Queirós Enumeração – figura que consiste na sucessão de várias palavras, grupos de palavras ou frases. O objectivo é intensificar o ritmo do discurso. Ex.: ―Não soltava um pio, um queixume, nada.‖ – José Cardoso Pires Hipérbole - quando há exagero da realidade numa ideia expressa, de modo a acentuar de forma dramática aquilo que se quer dizer, transmitindo uma imagem inesquecível.

Ex.: ―Rios te correrão dos olhos, se chorares!‖ - Olavo Bilac

Ironia - é o contrário do que se diz, na maioria das vezes em tom de sarcasmo.

Ex.: “(…) já os briosos homens da Polícia de Intervenção corriam a bom correr até à Cervejaria Munique, onde se refugiavam atrás do balcão(…)‖ - Mário de Carvalho

Metáfora – figura que consiste no uso de uma palavra ou expressão (metafórica) para descrever ou representar algo diferente do que designa normalmente, devido a uma relação de analogia. Ex.: ―Meu coração é um balde despejado‖ – Fernando Pessoa

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Personificação - consiste na atribuição de características humanas a seres inanimados ou animais, ou simplesmente na atribuição de características de seres vivos a coisas inanimadas. Ex.: ―Naquela manhã de Março, o vento norte levantou-se mal-humorado.‖ -

António Botto

Repetição – figura que consiste na repetição de uma palavra ou de um grupo de

palavras.

Ex.: “via sempre as mesmas flores, as mesmas plantas, o mesmo lago, os mesmos pássaros…” – Luís Carlos

Pleonasmo - Repetição de uma ideia, recorrendo às mesmas palavras ou outras de sentido equivalente.

Ex.: "Vi claramente visto o lume vivo" – Camões Sinédoque - Substituição de um termo por outro de extensão diferente. A parte pelo todo e vice-versa: ―As armas e os barões assinalados Que, da Ocidental praia Lusitana (...)‖ - Camões Nesta passagem, a parte ("praia") designa o todo (Portugal). A matéria pela forma: ―Oh! Maldito, o primeiro que no mundo Nas ondas vela pôs em seco lenho! ― - Camões

Neste caso, o material (madeira - "seco lenho") designa o produto final (barco).

Perífrase - Consiste em dizer por muitas palavras o que poderia ser dito por poucas.

Ex.: “Nos campos do colérico Mavorte” (na guerra) - Bocage

Eufemismo - Consiste na suavização de realidades chocantes, utilizando, para as descrever, palavras agradáveis.

Ex.: ‖O velho pai sesudo (...) Tirar Inês ao mundo determina. - Camões

Neste caso, a decisão de mandar matar Inês de Castro é suavizada pela expressão "tirar ao mundo", menos agressiva.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 31

Elipse - Designa a omissão de palavras que podem ser facilmente subentendidas. A sua utilização torna o enunciado mais condensado e incisivo.

Ex.: As escadas escuras. A porta e a luz, de repente, nos olhos desabituados. A luz forte da rua num dia de Sol. - Augusto Abelaira

Neste exemplo, em cada uma das frases foi omitido o verbo, ficando cada uma delas reduzida aos elementos essenciais. O resultado são três pequenos traços descritivos, sugerindo de forma incisiva o salto abrupto da escuridão para a luz.

Paralelismo - Consiste na repetição da mesma estrutura sintáctica.

Se é apenas uma palavra ou expressão que aparece repetida no início de vários versos ou frases, estamos perante de uma anáfora. Se a repetição abrange toda a estrutura frásica, trata-se de um caso de paralelismo, que, muitas vezes, inclui a anáfora.

Ex.: A tua linda voz de água corrente

Ensinou-me a cantar... e essa canção

Foi ritmo nos meus versos de paixão.

Foi graça no meu peito de descrente. - Florbela Espanca

Gradação - Consiste em dispor um conjunto de ideias por ordem crescente ou decrescente.

Ex.: Toma Inácio o livro nas mãos, lê-o, a princípio com dissabor, pouco depois sem fastio, ultimamente com gosto e dali por diante com fome, com cuidado, com desengano, com devoção, com lágrimas (...). - P. António Vieira

Hipérbato - alteração ou inversão da ordem directa dos termos na oração, ou das orações no período.

Ex.: "Casos que Adamastor contou futuros" – Camões

Antítese - Aproximação de palavras com significados opostos. Duas ideias antagónicas são aproximadas.

Ex.: É tão triste este meu presente estado Que o passado por ledo estou julgando. - Camões

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 32

Metonímia - Consiste em atribuir a uma coisa o nome de outra com base numa relação de contiguidade.

o autor pela obra

Comprou um Van Gogh por um milhão de dólares.

o continente pelo conteúdo

Bebeu um copo.

o local de fabrico pelo produto

Bebemos um porto.

o material de que é feito pelo objecto

Gosta de cristais.

o efeito pela causa

Respeitem os meus cabelos brancos.

o físico pelo moral

Ele é uma boa cabeça.

o sinal pela coisa significada

A cruz e a espada engrandeceram Portugal.

Sinestesia - Consiste numa associação de sensações diferentes na mesma expressão.

Ex.: —É noite: e, sob o azul morno e calado, Concebem os jasmins e os corações. - Gomes Leal

Apóstrofe - Consiste na invocação de pessoas ausentes, coisas ou ideias.

Estamos perante uma apóstrofe, quando o emissor inicia (ou interrompe) o seu discurso, dirigindo-se a seres imaginários, coisas ou ideias, ou mesmo pessoas, desde que fisicamente ausentes. Em qualquer dos casos estamos perante uma situação que foge à estrita lógica do acto comunicativo, constituindo, por isso, um recurso expressivo. Quando o destinatário do discurso é um ser não humano, uma coisa ou ideia, a apóstrofe é acompanhada de personificação.

Ex.: E vós, Tágides minhas, pois criado

Tendes em mi um novo engenho ardente (...) - Camões

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 33

3. Identifica cada uma das figuras de estilo descritas.

3.1. Figura pela qual se atenua ou disfarça a expressão de uma ideia que se considera chocante, desagradável ou repugnante.

a) metáfora b) eufemismo c) comparação d) antítese

3.2. Repetição insistente dos mesmos sons consoantes em um ou mais versos ou membros da frase.

a) hipérbole b) aliteração c) metáfora d) onomatopeia

Interrogação retórica - Pergunta que se formula para se reforçar o que se está a dizer e não para obter uma resposta. Ex.: "Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho, Onde esperei morrer - meus castos lençóis?" - Camilo Pessanha.

Onomatopeia - Palavras que pretendem imitar sons.

Ex.: "Aquele comboio malandro Passa passa sempre com a força dele ué ué ué hii hii hii te-quem-tem te-quem-tem te-quem-tem" - António Jacinto.

Anástrofe - Consiste na alteração da ordem normal das palavras no interior da frase. Geralmente leva à colocação do complemento do nome antes do nome ou do complemento directo antes do verbo.

Ex.: ―Aquela triste e leda madrugada (...)

Quero que seja sempre celebrada.‖ - camões

Nestes versos de Camões, a ordem directa seria "Quero que aquela triste e leda madrugada seja sempre celebrada."

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3.3. Repetição da mesma palavra ou palavras no início de vários versos ou frases sucessivas, utilizada para exprimir a intensidade de uma ideia.

a) metáfora b) perífrase c) comparação d) anáfora

3.4. Inversão da ordem normal das palavras para se dar mais realce ao pensamento.

a) metáfora b) anástrofe c) anáfora d) metonímia

3.5. Transferência do significado próprio de um vocábulo para outro, devido a certa semelhança existente entre os seus significados.

a) metáfora b) ironia c) onomatopeia d) perífrase

3.6. Atribuição de características humanas (fala, acção, sentimentos...) a tudo o que não seja humano (ideias, animais, objectos inanimados, qualidades abstractas, etc.)

a) pleonasmo

b) antítese c) personificação e) aliteração

3.7. Figura que resulta da fusão de percepções relativas a dados sensoriais de sentidos diferentes. Atribui determinadas sensações (visuais, gustativas, tácteis, auditivas ou olfactivas) a sentidos que as não possuem. Traduz um dado sensorial por outro.

a) comparação b) sinestesia c) metáfora d) sinédoque

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3.8. Apresentação de um contraste entre duas ideias tornado mais evidente pela oposição das palavras ou das frases que as designam, com o intuito de pôr em destaque uma das ideias (ou ambas) ou dar ao leitor uma visão inesperada da realidade.

a) ironia b) apóstrofe c) antítese d) eufemismo

O confronto entre os dois grupos de personagens tão heterogéneos gera uma situação caótica, que nos é habilmente traduzida de forma realista pelo narrador através de uma linguagem expressiva, com recurso a sensações auditivas e visuais e a todo um conjunto de termos e expressões lexicais que, para além de nos permitir imaginar, quase visualizar a situação, contribui para dar cor epocal aos tempos cronológicos referidos, bem como aos seus contendores, evidenciando distintamente as suas diferenças.

Ex.: “...e, por instantes, foi, em toda aquela área, um estridente rumor de motores

desmultiplicados, travões aplicados a fundo e uma sarabanda de buzinas ensurdecedora.‖ (p.27-28)

Este segmento textual, que se reporta, obviamente, ao primeiro grupo de

personagens: os automobilistas do séc. XX, vai opor-se a outro segmento, que se refere, especificamente, à tropa moura de Ibnel- Muftar do séc. XII:

―Tudo isto de mistura com retinir de metais, relinchos de cavalos e imprecações guturais em alta grita‖. (p.28)

Para dar cor epocal e conferir realismo à acção, contribui igualmente o grande número de palavras de origem árabe existentes no texto, das quais podemos destacar: alfange, algazarra, alferes, alarde, almóada, etc.. Note-se, em todas elas, a presença do artigo definido árabe al (invariável em género e número), correspondente ao nosso determinante artigo definido o, a. Isto para já não falar nos nomes próprios, como por exemplo: Alá, Lixbuna, Ibn-Arrik (Afonso Henriques), etc..

O recurso à adjectivação, à pormenorização e a figuras de estilo (como já vimos), tais como: enumeração, onomatopeia, hipérbole e antítese, são outros dos recursos utilizados para nos fazer visualizar o pandemónio da situação:

―É que nessa ocasião mesma, a tropa do almóada Ibn-el-Muftar, composta de berberes, azenegues e árabes, em número para cima de dez mil, (...) viu-se de repente (envolvida) por milhares de carros de metal, de cores faiscantes, no meio de um fragor estrondoso – que veio substituir o suave pipilar dos pássaros e o doce zunido dos moscardos – e flanqueado por paredes descomunais que por toda a parte se erguiam, cobertas de janelas brilhantes.‖ (p.28)

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Adjectivos

Os adjectivos são palavras que variam em género, em número e, normalmente, em grau. Os adjectivos que admitem variações em género, tendo uma forma para o feminino e outra para o masculino, são adjectivos biformes. Quando não há contraste de género, estamos perante adjectivos uniformes.

Ex.: alto – alta bom – boa adjectivos biformes animador – animadora saudável alegre adjectivos uniformes feliz

Adjectivos uniformes

Terminação Feminino Exemplos

-a não muda agrícola, homicida, indígena, celta

-e não muda árabe, breve, doce

-ense, -ante, -ente, inte não muda ateniense, hilariante, coerente, contribuinte

-l não muda (excepção:

espanhola) artificial, amável, frágil, azul

-s (em adjectivos

paroxítonos) não muda reles, simples

-ar e -or (nos

comparativos) não muda ímpar, vulgar, inferior, pior

-z, -m não muda (excepção: boa,

andaluza) audaz, feliz, selvagem, virgem

Os adjectivos servem para caracterizar os nomes, de modo a termos uma ideia mais exacta sobre os seres que designam. Assim, os adjectivos atribuem qualidades que podem complementar ou modificar o nome.

Por exemplo, a frase "No outro dia, conheci um rapaz." não é tão expressiva como: "No outro dia, conheci um rapaz simpático, bonito e inteligente."

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É importante saber escolher os adjectivos de acordo com a característica que desejamos realçar.

Normalmente, colocam-se os adjectivos depois do nome: Ex.: O homem fez uma dedução perspicaz. nome + adjectivo

Mas há adjectivos que se colocam quer à direita, quer à esquerda do nome, originando, no entanto, interpretações diferentes: Ex.: O teu pai é um rico professor. adjectivo + nome

O teu pai é um professor rico. nome + adjectivo

Há adjectivos que só se colocam depois do nome: Ex.: A camisola azul está suja. nome + adjectivo

4. Sublinha os adjectivos, nas frases que se seguem e classifica-os quanto ao género.

a) Os alunos estão tristes com as notas fraquíssimas que obtiveram na ficha de Matemática. Eles esperam tirar melhores resultados no próximo teste. b) As alunas estão muito cansadas, porque a aula de Educação física foi mais desgastante do que a de natação.

c) O Paulo é o aluno mais estudioso da turma e a Débora a menos perspicaz.

d) A Mariana está menos entusiasmada com a viagem de finalistas do que os colegas. Estão todos muito empenhados em fazer uma quermesse, porque precisam de arranjar dinheiro para a mais divertida viagem de sempre.

Os professores estão tão felizes como os alunos, pois acham que vai ser uma óptima oportunidade para se conhecerem melhor.

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Plural dos adjectivos

O adjectivo toma a forma singular ou plural do substantivo que qualifica.

Terminação (regra geral) Plural Exemplos

vogal e ditongo acrescenta-se -s tristes, maus

consoante acrescenta-se -es felizes, elementares

Terminação (particularidades) Plural Exemplos

-ão muda para -ãos, -ães ou -ões sãos, glutões

-m muda para -ns jovens, bons

-al, -ol, -ul muda para -ais, -ois, -uis ovais, azuis

-el muda para -éis, -óis moscatéis, fiéis, espanhóis

-il tónico muda o -l em -s febris, infantis

-il átono muda para -eis fúteis, férteis

-ás, -ês, -is acrescenta -es portugueses

-s, -x não muda simples

Adjectivos compostos Plural Exemplos

por justaposição

só o último elemento toma a forma do plural (exceptua-se

surdo-mudo que toma a forma surdos-mudos)

agro-pecuárias, hispano-americanos, médico-cirúrgicos,

luso-americanas

referentes a cores quando o segundo elemento é um

substantivo não mudam

verde-esmeralda, amarelo-canário, verde-azeitona

Feminino dos adjectivos

O adjectivo assume o género do substantivo.

Terminação (regra geral) Feminino Exemplos

-o muda para -a bonita, larga, formosa

Terminação (particularidades) não muda árabe, breve, doce

-ão muda para -ã, -ona (tem excepções: beirão-beiroa)

sã, chorona

-ês, -or, -u acrescenta -a (tem excepções: hindu, cortês, trabalhadeira)

francesa, encantadora, crua

-dor, -tor muda para -triz geratriz, motriz

-eu (com e fechado) muda para -eia europeia, hebreia

-eu (com e aberto) muda para -oa ilhoa, tabaroa

Adjectivos compostos não muda ímpar, vulgar, inferior, pior

apenas o segundo elemento assume a forma feminina

(exceptua-se surdo-mudo que toma a forma surda-muda)

norte-americana, luso-espanhola

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 39

Grau dos adjectivos

Grau Formação Exemplos

Comparativo

de superioridade mais + adjectivo + que, do que ou quanto

És mais alto que o João.

de igualdade tão + adjectivo + como Ela é tão ágil como a mãe.

de inferioridade menos + adjectivo + que, do que ou quanto

Sou menos hábil que tu.

Superlativo

Absoluto sintéctico (1) acrescentam-se os sufixos -íssimo, -imo, -rimo

belíssimo, felicíssimo, facílimo, libérrimo

Absoluto analítico antepõem-se ao adjectivo os advérbios muito, bem, assaz, bastante, imensamente, etc.

muito fácil, bem pobre, assaz difícil, bastante largo, imensamente bom

Relativo de superioridade antepõe-se o (a) ao comparativo de superioridade

É o mais antigo prédio Foi a mais hábil professora

Relativo de inferioridade antepõe-se o (a) ao comparativo de inferioridade

O Carlos é o aluno menos estudioso do colégio

Comparativos e superlativos irregulares

Adjectivo Comparativo de Superioridade

Superlativo

Absoluto Relativo

bom melhor óptimo o melhor

mau pior péssimo o pior

grande maior máximo o maior

pequeno menor mínimo o menor

4.1. Em que grau se encontram os adjectivos do exercício 4.

Adjectivos que apresentam formas irregulares no superlativo

acre acérrimo ágil agílimo agradável agradabilíssimo amigo amicíssimo amável amabilíssimo amargo amaríssimo antigo antiquíssimo áspero aspérrimo

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 40

veloz velocíssimo atroz atrocíssimo audaz audacíssimo benéfico ou beneficente beneficentíssimo benévolo ou benevolente benevolentíssimo capaz capacíssimo claro claríssimo celebre celebérrimo comum comuníssimo cristão cristianíssimo crível credibilíssimo cru cruíssimo cruel crudelíssimo difícil dificílimo doce dulcíssimo dócil docílimo fácil facílimo fiel fidelíssimo feliz felicíssimo feroz ferocíssimo frio frigidíssimo ou friíssimo grácil gracílimo humilde humílimo horrível horribilíssimo inimigo inimicíssimo interior íntimo livre libérrimo magnífico magnificentíssimo maléfico maleficentíssimo magro macérrimo mísero misérrimo negro nigérrimo nobre nobilíssimo pagão paganíssimo pessoal personalíssimo pobre paupérrimo ou pobríssimo são saníssimo sábio sapientíssimo sagrado sacratíssimo salubre salubérrimo sério seriíssimo simples simplíssimo ou simplicíssimo soberbo superbíssimo

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 41

5. Faz corresponder os adjectivos retirados do excerto apresentado na página 21 às

afirmações da coluna da direita.

grande

oportuno adjectivos biformes

práticas

brutal

verde

afilada

perspicaz

corânico adjectivos uniformes

cristã

6. Flexiona os quatro adjectivos que se seguem no grau superlativo absoluto sintético.

a) grande –

b) brutal –

c) afilada –

d) cristã –

7. Atenta nas frases seguintes e sublinha os adjectivos.

a) “ …no propósito sábio e louvável de surpreender contraventores aos semáforos…”

b) “Segredou para bem-yussuf que respondeu, desconfiado e muito pálido…”

c) “…desciam a Avenida para observar o estado geral do exército…”

d) “…resolveu em má hora abandonar o volante…”

e) “Clio, musa da História que, enfadada da imensa tapeçaria milenária…”

f) “…carros de metal, de cores faiscantes, no meio de um fragor estrondoso…”

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 42

7.1.Flexiona-os, agora, nos graus indicados.

a) Superlativo absoluto sintético

sábio -

má -

geral –

b) Superlativo relativo de superioridade

Pálido –

louvável -

desconfiado –

8. Substitui, nas frases que se seguem, as expressões sublinhadas por um só adjectivo,

mantendo o mesmo sentido e fazendo as concordâncias necessárias.

a) “Com prejuízo da toada e da eloquência do discurso” _________________

b) “Envolvido por milhares de carros de metal” _________________

c) “Uma carga de cavaleiros, aos gritos de guerra” _________________

d) “Locatários de um rés-do-chão da vizinhança” _________________

e) “Com bandeiras e trajes de carnaval” _________________

f) “Acompanharam apaixonadamente o correr dos processos” _________________

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 43

Várias explicações para a “guerra inaudita”

“E el-Muftar, cofiando a barbicha afilada, e dando um jeito ao turbante, considerava, com ar

perspicaz, o pandemónio em volta: - Teriam tombado todos no inferno corânico? Teriam feito algum

agravo a Alá? Seriam antes vítimas de um passe da feitiçaria cristã? Ou tratar-se-ia de uma partida

de jinns encabriolados?”

1. Das seguintes opções escolhe aquelas que os árabes consideram como

explicações possíveis para tal confusão.

a) Feitiço lançado pelos cristãos.

b) As tropas de D. Afonso Henriques

c) Antevisão do inferno, de acordo com o Corão, o livro sagrado do islamismo.

d) Uma viagem no tempo que os levou ao futuro.

e) Castigo de Alá, por algo errado que tenham feito.

f) Um desfile de Carnaval.

g) Uma partida de jinns.

2. Uma das explicações avançadas por Ibn-el-Muftar é, então, uma possível partida

de jinns. O que serão jinns?

a) Bebidas.

b) Calças de ganga.

c) Génios.

d) Feiticeiros.

Jinns Os jinns são génios, espíritos que têm poderes sobre os homens. Podem assumir forma humana ou animal. As histórias d’ As Mil e Uma Noites têm vários exemplos destas personagens mitológicas. O génio da lâmpada de Aladino, que tem poder de lhe conceder três desejos, é um desses exemplos.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 44

3. Os árabes ficaram perplexos com tudo o que aconteceu. Tudo era novo para

eles e a imagem que tinham das coisas era inocente. Atenta nas descrições

feitas pelos árabes daquilo que os rodeava e tenta decifrar quais os objectos

referidos.

a) “Flanqueado por paredes descomunais que por toda a parte se erguiam,

cobertas de janelas brilhantes” - ___________________________________

b) “Decidiu não se deixar impressionar com os trejeitos pouco amistosos que lhe

vinham de dentro dos objectos metálicos com rodas que havia por toda a

parte” - _______________________

c) “As caras que o fitavam por detrás de um estranho material transparente.” -

_________________________

(prédios, autocarros, candeeiros, espelhos, bicicletas, automóveis, vidros, plásticos)

“Uma multidão indeterminada de indivíduos do sexo masculino, a maior parte dos quais portadores de armas brancas e outros objectos contundentes, cortantes e perfurantes, com bandeiras e trajos de carnaval, montados em solípedes, tinham invadido a Avenida Gago Coutinho e parte do Areeiro em manifestação não autorizada. Dado que se lhe afigurava existir insegurança para a circulação de pessoas e bens na via pública, aguardava ordens e passava à escuta. De lá lhe disseram que iriam providenciar e que se limitasse a presenciar as ocorrências, mas sem intervir por enquanto.

Um imediato telefonema para o governador civil e deste para o ministro confirmou que não se encontravam previstos desfiles, de forma que a máquina policial se viu movida a ingerir-se no caso. Soaram as sirenes no quartel de Belém e, poucos minutos depois, alguns pelotões da Polícia de Intervenção vinham a caminho, com grande alarde de sereias e pisca-piscas multicores.

Entretanto, lbn-el-Muftar via pela frente uma grande multidão apeada que apostrofava os seus soldados. Eram os automobilistas que haviam saído dos carros e que, entre irritados e divertidos, se empenhavam numa ruidosa assuada. Que devia ser algum reclame, diziam uns; que era mas era para um filme, diziam outros.”

4. Assinala as possíveis explicações para a presença das tropas árabes em Lisboa, segundo a opinião daqueles que, naquela manhã, se encontravam na Avenida Gago Coutinho. a) Uma experiência científica.

b) Um desfile não autorizado.

c) Um truque de magia.

d) A gravação de um anúncio.

e) Uma passagem de modelos.

f) A gravação de um filme.

g) Uma aula de história.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 45

As diferentes percepções Como vês, as explicações avançadas pelas personagens do século XII são bem diferentes das dadas pelas personagens do século XX. Esta diversidade mostra bem a diferença entre duas épocas tão distantes. Numa domina a superstição, a crença irracional e o medo, na outra a lógica e a razão. O Homem sempre teve medo do desconhecido, do inexplicável. Mas o conhecimento, o saber e a experiência permitem ao homem moderno ter uma visão mais compreensiva e aberta do mundo.

Um desfile de personagens

Ao longo deste conto há um verdadeiro desfile de personagens com modos de pensar muito diferentes.

1. O esquema seguinte apresenta várias personagens que vão surgindo ao longo da obra, nomeadamente os três grandes grupos intervenientes e, dentro de cada um deles, as personagens de maior protagonismo. Completa-o.

Personagens Este conto tem um número reduzido de personagens, embora não o pareça. Há algumas que assumem um certo protagonismo, mas a maior parte delas são personagens colectivas e sem grande relevância. No entanto, estes figurantes são fundamentais para ilustrar a atmosfera caótica daquela manhã, tornando a acção mais verosímil.

Personagens

__________________

Forças policiais

__________________

Manuel da

Silva Lopes

___________ ____________

Manuel Reis Tobias

___________ ___________

Ibn-el-Muftar

____________ ____________

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 46

Os árabes com maior protagonismo são Ibn-el-Muftar e Ali-bem-Yussuf.

Lê o texto desde “Assustaram-se os beduínos, volteando assarapantados os cavalos…” até “…

dirigiu-se ao capitão, e saudou, de mão no peito: - Salam aleikum.”

2. Tendo em conta o excerto da obra que acabaste de ler, assinala as expressões que

melhor caracterizam os árabes e as atitudes por eles tomadas nesta “guerra”. a) Assustados com a cidade b) Cruéis c) Prudentes d) Bons estrategas e) Provocadores f) Selvagens g) Irritados quando provocados h) Brincalhões i) Perspicazes

Os árabes

Os árabes começam por revelar medo e estranheza perante o peculiar cenário que encontram. Como não conseguem avançar uma explicação que os convença, tentam aos poucos compreender a situação. E durante todo o insólito processo revelam calma e perspicácia. Tentam sempre ser prudentes e mesmo vindos de um outro tempo, conseguem lidar com a situação, mostrando serem bons estrategas. Nesta “guerra” em concreto, só manifestam irritação e só atacam quando provocados (depois do calhau lançado pelo camionista e da água lançada de uma janela).

“Eram os automobilistas que haviam saído dos carros e que, entre irritados e divertidos, se

empenhavam numa ruidosa assuada. Que devia ser algum reclame, diziam uns; que era mas era para um

filme, diziam outros. Ao mouro, aquela peonagem toda não se afigurou particularmente ameaçadora, tanto mais que a turba circundante, de estranhas vestimentas vestida, não parecia exibir armas de qualquer natureza. De maneira que lbn-Muftar optou por manobrar cautelosamente no pouco espaço ao dispor. Com alguns sinais do alfange fez que um ou dois esquadrões formassem, com dificuldade, no parque de estacionamento do Areeiro, e uma falange de gente de pé se arrumasse no terreiro da estação

de serviço do lado contrário, enquanto o grosso da tropa ocupava a placa central relvada. Decidiu não se deixar impressionar com os trejeitos pouco amistosos que lhe vinham de dentro dos objectos metálicos com rodas que havia por toda a parte, nem com as caras que o fitavam por detrás de um estranho material transparente. Se era uma encantação, melhor era deixar que passasse - segredou para ben-Yussuf que lhe respondeu, desconfiado e muito pálido: - inch Allah! Manuel da Silva Lopes, que conduzia um daqueles irritantes camiões carregados de grades de cerveja que a Providência encarregou de ensarilhar os trânsitos em Lisboa, resolveu em má hora

abandonar o volante, apear-se, e, decerto enciumado pela concorrência, apontar um calhau miúdo que foi ecoar no broquel do beduíno Mamud Beshewer que, por ainda não ter acordado de tudo isto, era um dos

mais quietos da tropa.”

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 47

3. Depois de teres lido atentamente o excerto apresentado, que relata a reacção dos automobilistas aos estranhos acontecimentos da Avenida Gago Coutinho, indica os adjectivos que caracterizam o estado de espírito dos motoristas. a) Magoados b) Irritados c) Felizes d) Divertidos e) Pasmados

3.1. Há um automobilista em particular que se destaca. Completa os espaços em branco:

Nome - _____________________________________________________________

Profissão - __________________________________________________________

Erros cometidos - ____________________________________________________

( Adormecer ao volante e aborrecer os polícias; Engarrafar o transito e atirar um calhau a um árabe; Beber cerveja e deitar o resto em cima de um dos árabes)

As forças policiais

Manuel Reis Tobias

4. O que estava este agente a fazer naquela manhã na Avenida Gago Coutinho?

a) Participava numa manifestação policial.

b) Tentava apanhar automobilistas infractores.

c) Passeava com a família.

5. Ao deparar-se com aquela estranha situação, o que resolve fazer o agente?

a) Multar os árabes, porque tinham os cavalos mal estacionados.

b) Multar os árabes por excesso de velocidade.

c) Comunicar o sucedido e aguardar instruções.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 48

Comissário Nunes

6. O comissário Nunes é um pouco mais impulsivo e não reage da mesma forma. Ordena as várias fases da sua intervenção.

a) Estes, ao ver a cavalaria, desorientam-se e fogem.

b) Ouve-se um grande apupo vindo da zona do Areeiro.

c) O comissário pensa que é a multidão a desafiar a polícia.

d) Manda os seus homens dispersar a multidão à bastonada.

e) A Polícia de Intervenção cumpre as ordens de imediato e, a custo, chegam ao local exacto da confusão.

f) Acabam por se esconder atrás do balcão de uma cervejaria.

g) Entretanto, aproximam-se vários cavaleiros árabes dos policiais de intervenção.

Capitão Aurélio Soares

7. O capitão Aurélio Soares tentou resolver as coisas de forma diferente. Completa o texto seguinte que resume a actuação deste homem.

7.1. O capitão Aurélio Soares organizou os seus homens e tentou, com ____________, resolver a situação. Distribuiu os intendentes e _________________ a sua sorte tentou uma __________________ aos mouros. Ibn-el-Muftar e Ali-bem-Yussuf confrontaram-se com o __________________ e os homens que o acompanhavam. O capitão tentou __________________________ os ânimos, acenando com um _____________________ e el-Muftar interpretou aquele gesto como uma tentativa de __________________. Desta forma, os dois homens ____________________ e dispuseram-se a _______________________.

(combater, calma, parlamentar, violência, agradecendo, lamentando, cumprimentaram-se, insultaram-se, derrota, provocação, pacificação,

aproximação, capitão, comissário, acalmar, chatear, bastão, pano branco)

Em relação às personagens, A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho não se afasta da habitual unidade ou concisão próprias do conto. De facto, embora o seu número seja aparentemente elevado, este facto é ilusório, pois estamos, essencialmente, perante personagens colectivas: dois grupos pertencentes, cada um deles, a épocas históricas distintas. E é um facto que poucas são as personagens que ganham algum relevo, destacando-se e individualizando-se dos seus grupos.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 49

Personagens individuais com algum protagonismo, pertencentes ao séc. XX, temos, essencialmente: o agente da P.S.P., Manuel Reis Tobias; Manuel da Silva Lopes, condutor de camiões distribuidores de grades de cerveja; o comissário Nunes; e o capitão Aurélio Soares. Do séc. XII, temos: Ibn-el-Muftar e Ali-Ben-Yussuf, seu lugar-tenente.

Todas as outras personagens, que formam a “multidão” que se vai apinhando na Avenida Gago Coutinho, não passam de figurantes, cuja única função é conferir alguma verosimilhança a uma história particularmente inverosímil.

O insólito da situação, que a todos deixa perplexos, leva a que se façam conjecturas quanto às suas hipotéticas causas. O árabe el– Muftar interroga-se: ―Teriam tombado todos no inferno corânico? Teriam feito algum agravo a Alá? Seriam antes vítimas de um passe da feitiçaria cristã? Ou tratar-se-ia de uma partida de jinns encabriolados?‖

Estas hipóteses, aventadas por Ibn-el-Muftar para tentar explicar tão estranha situação, evidenciam a perplexidade e incertezas da personagem, patentes não só no elevado número de hipóteses apresentadas, mas também no uso do condicional e das sucessivas interrogações retóricas que o árabe, em jeito de monólogo, coloca a si mesmo, numa tentativa desesperada de compreender o que se passa à sua volta.

Já o agente da 2ª classe da PSP, Manuel Reis Tobias, que estava de serviço à entrada da Avenida Gago Coutinho, julga tratar-se de um desfile qualquer. Mas vejamos, para melhor compreender o insólito da situação, a descrição que ele faz da situação através da mensagem que enviou pelo intercomunicador da mota para o posto de comando: ―Uma multidão indeterminada de indivíduos do sexo masculino, a maior parte dos quais portadores de armas brancas e outros objectos contundentes, cortantes e perfurantes, com bandeiras e trajos de carnaval, montados em solípedes, tinham invadido a Avenida Gago Coutinho e parte do Areeiro em manifestação não autorizada. “

Uma vez confirmado não estarem previstos desfiles, toda a máquina policial se viu obrigada a ingerir-se na ocorrência, tendo solicitado a colaboração da tropa do Ralis (Regimento de Artilharia de Lisboa) e da Escola Prática de Administração Militar, o que contribuiu para adensar mais ainda a tensão que caracterizava a situação vivida.

Enquanto isto, os automobilistas, irritadíssimos, vaiavam a tropa moura e comentavam que aquele aparato todo devia ser para algum reclame ou para um filme. E neste impasse, automobilistas e a tropa do almóada, apertados na Avenida Gago Coutinho como sardinha em lata, esperavam ansiosamente que, como que por milagre ou passe de feitiçaria, aquela situação se resolvesse.

Mas Clio continuava adormecida e ainda não foi desta vez que a situação se resolveu. Aliás, ela agudizou-se mais quando: ―Manuel da Silva Lopes, que conduzia um daqueles irritantes camiões carregados de grades de cerveja que a providência encarregou de ensarilhar os trânsitos em Lisboa, resolveu, em má hora abandonar o volante, apear-se, e, de certo enciumado pela concorrência, apontar um calhau miúdo que foi ecoar no broquel do beduíno Mamud Beshewer.‖

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Este gesto imprudente de Manuel da Silva Lopes originou, como resposta, uma saraivada de setas por parte dos mouros, levando os automobilistas a procurarem refúgio, ao mesmo tempo que vociferavam protestos, causando um ruído ensurdecedor. E é este ruído que o comissário Nunes, que chefiava os pelotões de choque, ouviu, e, prontamente, admitindo tratar-se da canalha a desafiar a polícia, mandou que os seus homens varressem tudo a eito, à bastonada, o que provocou algumas baixas e sobretudo muita cabeça partida.

Constate-se que o humor e a ironia, neste caso face aos métodos policiais (“Toca a varrer isto tudo (...) à bastonada, a eito, por aqui e por além‖), continuam a perpassar o texto.

Tudo isto, e sobretudo a zipada de água que alguém atirou de uma janela e que caiu sobre Ibn-el-Muftar, deixou o chefe da tropa moura de tal forma irritado que avançou com uma carga de cavaleiros aos gritos de guerra e de alfange em riste, amolgando capots de automóveis, em direcção aos homens do comissário Nunes. Perante a iminência do ataque mouro, diz o narrador, criando uma vez mais uma situação repassada de humor e de ironia: ―(...) os briosos homens da Polícia de Intervenção corriam a bom correr até à cervejaria Munique, onde se refugiaram atrás do balcão, deixando a moirama senhora da placa central da Praça do Areeiro. ―

E a acção flui, a passos largos, num ritmo acelerado e sem interrupções, para o ponto de maior tensão dramática. E a situação, ao invés de se resolver, cada vez se complica mais com a chegada de novas forças policiais. Os blindados do Ralis não conseguiram passar, ficaram retidos num medonho engarrafamento de camiões TIR, mas o capitão Aurélio Soares, à frente da sua companhia de intendentes, conseguiu, a custo, passar. Chegado ao local, confrontando-se com milhares de mouros, a maior parte dos quais a cavalo, que se apertavam na avenida Gago Coutinho por entre o tráfego da hora de ponta, não pôde deixar de se lamentar numa exclamação sentida e compreensível: Estas coisas só me acontecem a mim! Esta exclamação, bem como o facto de se esquecer dos milhares de indivíduos que com ele partilhavam aquela situação, é bem elucidativa do seu estado de desespero, gerando, também, uma situação de cómico.

Apesar do insólito da situação, havia que agir. O capitão Aurélio Soares, resguardado pelos seus homens e empunhando um pano branco, dirigiu-se a Ibn-el-Muftar e ao seu estado-maior que vinham já ao seu encontro. Dispunham-se então a conversar, chegando mesmo a trocar algumas palavras de saudação: “Salam Aleikum”, quando, de repente, a deusa Clio acordou do seu sonho num sobressalto, e logo atentou no erro cometido.

É esta frase que põe cobro à insustentável situação vivida por aqueles dois grupos antagónicos de personagens e que marca, em termos estruturais, a transição da 2ª parte do conto – o desenvolvimento – para a 3ª parte – a conclusão.

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Para além do texto

“Fracassos e Façanhas do Guarda Serôdio”

O narrador faz algumas críticas às atitudes de certos elementos das forças policiais.

Lê com atenção o seguinte excerto musical:

“Andar pelas ruas De madrugada Sem se saber Em quem dar traulitada E sem nada Que valha a pena assinalar Ou levar para a esquadra - Nadinha de nada! Às vezes parece Que nada resulta Queres passar multas E pedem desculpa Que azar Não dão uma chance a um polícia De se esmerar - Raio de azar”

1. Estabelece as correspondências correctas entre os excertos da música e os excertos do conto.

a) “Andar pelas ruas 1. “Meio escondido por detrás das colunas De madrugada de um prédio, no propósito sábio e Sem se saber louvável de surpreender contraventores Em quem dar traulitada” aos semáforos.”

b) “Queres passar multas E pedem desculpa 2. “E, puxando do apito, pôs a equipa em Que azar acção, à bastonada, a eito, por aqui e Não dão uma chance a por além.” um polícia De se esmerar”

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Críticas às forças policiais Este excerto musical representa bem as críticas que o narrador da “Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho” lança às forças policiais – nomeadamente o excesso de zelo que leva alguns agentes a procurar multas de forma incansável e o abuso da força policial. Para além disto, o narrador crítica ainda a falta de coragem de alguns polícias que, em confronto, optam pela fuga. É isso que acontece com os homens da Polícia de Intervenção. Deparando-se com a cavalaria moura, fogem e escondem-se.

2. Para efectuar essas críticas, o narrador recorre a uma figura de estilo. Identifica-a. a) “meio escondido por detrás das colunas de um prédio, no propósito sábio e

louvável de surpreender contraventores aos semáforos”

b) “quando os primeiros alfanges assomavam ao lado de um autocarro da

Carris, já os briosos homens da Polícia de Intervenção corriam a bom correr até à cervejaria Munique, onde se refugiavam atrás do balcão”

c) “Toca a varrer isto tudo até ao Areeiro – disse. E puxando do apito, pôs a equipa em acção, à bastonada, a eito, por aqui e por além.”

Ironia Recorrendo à ironia, narrador faz as suas críticas de forma inteligente e cria, ao mesmo tempo, situações humorísticas.

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O vocabulário Como deves ter notado, ao longo do texto contra-se palavras e expressões que marcam bem a diferença entre os dois tempos que se misturam neste conto – o século XII e o século XX. Atenta nas expressões retiradas do conto e coloca-as no tempo correcto.

Século XII Século XX Palavras e expressões

Cota de malha

Automóveis

Intercomunicador

Escudo

Capots

Broquel

Prédio

Auto-metralhadora

Turbante

Autocarro

Alfange

Tropa almóada

Curiosidade No conto surgem bastantes expressões árabes. O elemento “Ibn” pode surgir com as variantes “ben” e “aben” e significa “filho de”. É usado sobretudo nos nomes de pessoas para indicar filiação. Tem uma função semelhante à dos nossos apelidos patronímicos (ex: Álvares, filho de Álvaro). Jinns, na mitologia maometana, são espíritos, génios, de categoria inferior aos anjos, com poder sobrenatural sobre os homens e capazes de assumir forma humana ou animal. “Salam Aleikum” é uma expressão árabe que se pode traduzir por “Que a paz esteja contigo”. Foi desta expressão árabe que adveio a palavra portuguesa “salamaleque” que é um cumprimento de cortesia. A resposta a este cumprimento é “Aleikum Salam”. Inch Allah significa “Deus queira” e é a origem da interjeição portuguesa “Oxalá!”.

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O narrador

O narrador quanto à presença

1. Sublinha, no excerto que se segue, as marcas que te permitem classificar o narrador quanto à presença.

―Decidiu não se deixar impressionar com os trejeitos pouco amistosos que lhe

vinham de dentro dos objectos metálicos com rodas que havia por toda a parte, nem com as caras que o fitavam por detrás de um estranho material transparente. Se era uma encantação, melhor era deixar que passasse - segredou para ben-Yussuf que lhe respondeu, desconfiado e muito pálido:

- inch Allah!‖ 1.1. Os elementos sublinhados permitem concluir que se trata de um narrador…

a) Participante.

b) Não participante.

c) Objectivo.

O narrador quanto à posição e focalização

2. Identifica, sublinhando, a ironia presente em cada um dos excertos extraídos do

conto.

―(…) Manuel Reis Tobias, em serviço à entrada da Avenida Gago Coutinho, meio

escondido por detrás das colunas de um prédio, no propósito sábio e louvável de

surpreender contraventores aos semáforos (…)‖

―Manuel da Silva Lopes, que conduzia um daqueles irritantes camiões carregados

de grades de cerveja que a Providência encarregou de ensarilhar os trânsitos em Lisboa,

resolveu em má hora abandonar o volante, apear-se, e, decerto enciumado pela

concorrência, apontar um calhau miúdo que foi ecoar no broquel do beduíno Mamud

Beshewer(…)

“(…) quando os primeiros alfanges assomavam ao lado de um autocarro da Carris,

já os briosos homens da Polícia de Intervenção corriam a bom correr até à Cervejaria

Munique, onde se refugiavam atrás do balcão, deixando a moirama senhora da placa

central da Praça do Areeiro.”

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2.1. Classifica a afirmação como verdadeira ou falsa.

a) Ao recorrer à ironia, o narrador emite a sua opinião, adoptando uma

posição subjectiva face ao que narra.

3. Das hipóteses dadas, escolhe aquelas que se adequam ao narrador do conto “A

Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho”.

a) O narrador relata os acontecimentos como um mero espectador.

b) Demonstra um profundo conhecimento dos árabes – o que pensam, os

seus receios e as suas estratégias.

c) Revela um conhecimento profundo dos automobilistas e das forças

policiais, mas um conhecimento superficial dos árabes.

d) Demonstra um profundo conhecimento das forças policiais – o que

pensam, os seus receios e as suas estratégias.

e) O narrador faz um relato pobre dos acontecimentos, sem grandes

pormenores.

f) Revela um conhecimento profundo dos automobilistas - reacções e

pensamentos.

3.1. Classifica a seguinte afirmação como verdadeira ou falsa.

a) O narrador possui um conhecimento total da narrativa, controlando os

acontecimentos e as personagens. Por isso, estamos perante um narrador

omnisciente.

Notaste, certamente, na forma hábil como o narrador se posicionou face ao

universo narrado, situando-se fora da história narrada – daí a narrativa estar na 3ª pessoa

– conta-nos, como narrador / observador, os acontecimentos filtrados, contudo, por uma

focalização subjectiva, originando, por vezes, situações de grande humor (“resolveu em má

hora abandonar o volante, apear-se, e, decerto enciumado pela concorrência, apontar um

calhau miúdo que foi ecoar no broquel do beduíno Mamud Beshewer(…)‖ ) e, por outras,

de fina ironia (“a providência encarregou de ensarilhar os trânsitos em Lisboa‖). A sua

inscrição na história como narrador heterodiegético, mas omnisciente, confere-lhe uma

posição de superioridade, que lhe acentua o seu distanciamento irónico e a sua veia

humorística.

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O fim da guerra

Como viste, o capitão Soares e Ibn-el-Muftar tentaram dialogar para resolver a

situação.

Entretanto, algo aconteceu…

―Neste momento, a deusa Clio acordou do seu sonho, num sobressalto, e logo

atentou no erro cometido. Num credo, desfez a troca de fios e reconduziu cada

personagem a seu tempo próprio.

De maneira que, assim como haviam surgido, assim se sumiram os árabes da

Avenida Gago Coutinho, deixando o capitão Soares e todos os outros a coçar a cabeça,

abismados.‖

1. Clio reconduziu as personagens às respectivas épocas. O que fez a deusa da

História para minimizar os efeitos da guerra? Justifica.

a) Borrifou a memória de todos com água do rio Letes…

b) Fez regredir os acontecimentos ao ponto zero…

c) Pediu ao pai dos deuses para apagar todos os acontecimentos da memória…

R .: A deusa _________________________________________________, porque

_________________________________________________________________________

________________________________________________________________________.

Amnésia

Segundo a mitologia grega, o rio Letes era um dos vários rios de Hades – o Inferno

– e beber das suas águas provocava uma perda de memória. Por isso, Clio resolveu

borrifar com esta água a memória de todos os envolvidos, causando-lhes uma espécie de

amnésia, que lhes apagou as recordações de tão estranho acontecimento.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 57

Consequências da guerra

Clio conseguiu apagar da memória dos homens os estranhos acontecimentos

daquela manhã, mas não conseguiu evitar algumas consequências. Estabelece as

correspondências correctas sobre as consequências que recaíram sobre cada uma das

partes envolvidas.

Clio Devastou os campos de Chantarim e ainda obteve vários troféus.

Ibn-el-Muftar Tiveram de responder a um processo para explicar todo o

aparato policial.

Representante das Ficou sem ambrósia durante quatrocentos anos

Forças policiais

Chantarim

Durante o domínio muçulmano, Chantarim era o nome dado pelos árabes à cidade

de Santarém.

Com efeito, Clio, ao despertar e ao aperceber-se do erro cometido, logo desfez o emaranhado dos fios, reconduzindo cada personagem à sua época. Assim, do mesmo modo inexplicável como haviam surgido os árabes na Avenida Gago Coutinho na manhã de 29 de Setembro de 1984, assim desapareceram misteriosamente. E não podendo Clio apagar totalmente os vestígios dos acontecimentos decorridos, pôde, pelo menos, toldar a memória dos homens com borrifos de água do rio Letes, o rio do esquecimento. Deste modo, para Ibn-el-Muftar, as consequências não foram muito gravosas, já que, considerando todas aquelas aparições como sendo de mau agoiro para uma investida, desistiu de atacar Lixbuna, esperando por outra oportunidade mais propícia e aproveitou, à guiza de compensação, para talar os campos de Santarém.

A mesma sorte não tiveram os policiais e militares do séc. XX que se viram obrigados a explicar, em processo marcial o que se encontravam a fazer naquelas zonas à frente de destacamentos armados, ensarilhando o trânsito e gerando a confusão e o pânico.

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Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos Página 58

Preposições

A preposição é uma palavra invariável. Pode ter como complemento grupos

nominais, advérbios ou frases.

Ex.: Ele não come desde ontem.

O professor precisa de falar contigo.

Relembra as preposições, as locuções prepositivas e as contracções de preposições:

Preposições

a ante após até

com conforme

contra consoante

de desde

durante

em excepto

entre mediante

para perante

por salvo sem

segundo sob

sobre trás/atrás

Locuções prepositivas

Desempenham função idêntica à das preposições.

abaixo de acerca de acima de

a despeito de adiante de a fim de além de antes de

ao lado de ao redor de

a par de

apesar de a respeito de

atrás de através de

de acordo com debaixo de de cima de defronte de dentro de depois de diante de

em baixo de em cima de em frente a em frente de em lugar de em redor de em torno de em vez de graças a junto a

perto de

para baixo de para cima de

para com perto de

por baixo de por causa de por cima de

por detrás de por diante de

por entre por trás de

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Contracção das preposições com artigos

Preposições Artigos definidos Artigos indefinidos

o a os as um uma uns umas

a ao à aos às - - - -

de do da dos das dum duma duns dumas

em no na nos nas num numa nuns numas

por pelo pela pelos pelas - - - -

Contracção das preposições com pronomes

Preposições Pronomes (1)

este esta estes estas

a - - - -

de deste desta destes destas

em neste nesta nestes nestas

por - - - -

(1) Dá-se a contracção de preposições com outros pronomes: esse(s), essa(s), aquele(s),

aquela(s), isto, aquilo, ele(s), ela(s).

1. Sublinha no excerto seguinte, as preposições simples, contracções de preposições

e locuções prepositivas.

―Ao lbn-Muftar não foi muito gravoso o acontecimento, pois aproveitou o caminho de

regresso para talar os campos de Chantarim, nas margens do Tejo, com grande vantagem

de troféus e espólios.

Pior foi para o comissário Nunes, o capitão Soares e o coronel Rolão explicarem

em processo marcial o que se encontravam a fazer naquelas zonas à frente de

destacamentos armados. Falou-se muito em insurreição, nesses dias, e os jornais

acompanharam apaixonadamente o correr dos processos.

Quanto à deusa Clio, foi privada de ambrósia por quatrocentos anos o que,

convenhamos, não é seguramente castigo dissuasor de novas distracções.‖

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1.1. Faz a distribuição correcta das palavras e das expressões que sublinhaste.

Preposições

simples

Contracções de

preposições

Locuções

prepositivas

2. Acabada a análise do conto, expõe a tua opinião acerca do mesmo.

Fim