496.A Natureza da Depravação Total do Homem, Cap. 6, The Total Depravity of Man, por A. W. Pink

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A Natureza da Depravação Total do Homem

A. W. Pink

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Traduzido do original em Inglês

The Total Depravity of Man

By A. W. Pink

A presente tradução consiste somente no Capítulo 6, Nature, da obra supracitada

Via: EternalLifeMinistries.org

Tradução por José Antônio de Araújo Neto

Revisão por Camila Almeida

Capa por William Teixeira

1ª Edição: Janeiro de 2016

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a devida permissão

do ministério Eternal Life Ministries (EternalLifeMinistries.org), sob a licença Creative Commons

Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

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A Natureza da Depravação Total do Homem Por Arthur Walkington Pink

[Capítulo 6 do Livro The Total Depravity of Man]

No capítulo da pregação mostramos como a Escritura lança luz sobre o grande problema

moral de como uma natureza inerentemente corrupta se origina em cada criança desde o

início de sua existência sem que o seu Criador seja o Autor do pecado. Davi declarou: “Eis

que eu fui formado em iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5).

Ele descreveu sua depravação como inata e não criada, derivada de sua mãe e não do seu

Criador, mostrando que a corrupção é transmitida diretamente de Adão através da via da

propagação humana. O mesmo fato foi expresso por nosso Senhor quando Ele disse: “O

que é nascido da carne é carne” (João 3:6). No Antigo Testamento, a palavra “carne” é

usada como um termo geral para a natureza humana ou a humanidade: “Que toda a carne

bendiga o Seu santo nome”, ou seja, todos os homens (Salmos 145:21). “Toda a carne é

erva” (Isaías 40:6). A vida de cada membro de nossa raça é frágil e inconstante. O termo

ocorre no Novo Testamento no mesmo sentido: “Se aqueles dias não fossem abreviados,

nenhuma carne seria salva” (Mateus 24:22); “Pelas obras da lei nenhuma carne será

justificada diante dele” (Romanos 3:20). Por sua própria obediência nenhum homem pode

merecer a aceitação de Deus.

A Corrupção da Carne

Mas, visto que a humanidade está caída e a natureza humana depravada, o termo “carne”

se torna a expressão desse fato; e cada vez que é usado na Escritura em um sentido moral

se refere à corrupção de nossos seres inteiros, sem qualquer distinção entre as nossas

partes visíveis e invisíveis — corpo e mente. Isto é evidente a partir das passagens onde

“a carne” é contrastada com “o espírito” ou a nova natureza (Romanos 8:5-6; 1 Coríntios

2:11; Gálatas 5:17). Quando o apóstolo declarou: “Porque eu sei que em mim (isto é, na

minha carne), não habita bem algum” (Romanos 7:18), ele referiu-se a muito mais do que

seu corpo com seus apetites, ou seja, o seu homem natural inteiro, com todas as suas

faculdades, poderes e propensões. O conjunto foi contaminado, e, portanto, nada de bom

poderia resultar dele até que a graça Divina fosse comunicada. Mais uma vez, quando en-

contramos “ódio, emulações, iras e invejas” inscritos nessa lista incompleta das “obras da

carne” horríveis fornecida por Gálatas 5, fica bastante claro que essa palavra envolve muito

mais do que os membros do nosso corpo físico; ainda mais quando descobrimos que essas

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obras são colocadas contra “o fruto do espírito”, cada um dos quais consiste no exercício

de alguma qualidade interna ou graça.

Assim, fica evidente que, quando Cristo declarou: “O que é nascido da carne é carne”, Ele

quis dizer que o que é propagado pelo homem caído é depravado, que tudo o que vem a

este mundo por geração ordinária é carnal e corrupto, fazendo com que o coração seja

enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente perverso. Também fica evidente

do contexto imediato (João 3:3-5), que o que Ele afirmou no versículo 6 visava demonstrar

a necessidade absoluta da regeneração. Nosso Senhor contrastou o primeiro nascimento

com o novo nascimento, e mostrou o quão imperativo é este último porque estamos radical-

mente maculados desde o princípio. Todos por natureza são essencialmente maus, nada

além de “carne”; tudo em nós é contrário à santidade. Nossa própria natureza está viciada,

e nenhum processo de educação ou cultura pode refiná-la e torná-la apta para o reino de

Deus. As faculdades que os homens recebem ao nascer têm um viés carnal, uma tendência

terrena, uma repulsa pelo celeste e pelo Divino, e estão inclinadas apenas para objetivos

egoístas e atividades vis. Numa sociedade mais polida ou religiosa, em igualdade com o

vulgar e o profano, “o que é nascido da carne é carne” e nunca poderá ser qualquer coisa

melhor. Você poderá podar uma árvore estragada, mas jamais a fará produzir bons frutos.

Todo homem deve nascer de novo antes que possa tornar-se aceitável a um Deus santo.

Tentaremos agora responder uma pergunta ainda mais difícil: Em que consiste a corrupção

do homem em decorrência da Queda? Exatamente qual é a natureza da depravação

humana? Isso é muito mais do que uma questão de interesse acadêmico que diz respeito

somente a professores de teologia. É um ponto de profunda importância doutrinária e prá-

tica. Todos nós, especialmente os pregadores, devemos ser muito claros neste ponto, pois

um erro aqui é susceptível de levar a conclusões errôneas e a sérias consequências. De

fato este tem sido o caso, pois muitos que eram sóbrios e ortodoxos em muitos outros

aspectos responderam a esta pergunta de uma maneira que inevitavelmente levou-os a

enfraquecer, se não repudiar totalmente, a completa responsabilidade do homem caído, e

fez com que eles se tornassem hiper-Calvinistas e Antinomianos. Faremos todos os esfor-

ços com cuidado para definir e descrever a atual condição do homem natural, começando

com o lado negativo e apontando uma série de coisas em que a depravação humana não

consiste.

Em primeiro lugar, a Queda não resulta na extinção daquele espírito que fazia parte do

complexo ser do homem quando criado por Deus. Nem no caso de nossos primeiros pais

ou de qualquer um de seus descendentes. Tem, no entanto, sido discutido a partir da

ameaça Divina feita a Adão: “No dia em que dele comeres certamente morrerás”, que assim

ocorreu, porém, dado o fato de que Adão não morreu imediatamente fisicamente, ele deve

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ter morrido espiritualmente. Certamente isso é um fato, ainda assim, exige ser interpretado

pela Escritura. É muito errado supor que, porque o corpo de Adão não morreu, seu espírito

tenha morrido. Não foi algo em Adão morreu, mas o próprio Adão em sua relação com

Deus. O mesmo é verdadeiro quanto à sua prole. Eles estão de fato “mortos em delitos e

pecados” para Deus, desde o início de sua existência, mas nada dentro deles está positiva-

mente morto no sentido comum da palavra. No sentido bíblico do termo, a “morte” nunca

significa aniquilação, mas separação. No momento da morte física, a alma não se extingue,

mas é separada do corpo; e a morte espiritual de Adão não foi a extinção de qualquer parte

de seu ser, mas o rompimento de sua comunhão com um Deus santo. O mesmo é verdade

para todos os seus filhos. A força exata da declaração solene de que eles estão “mortos

em delitos e pecados” é divinamente definida por nós sendo “alheios à vida de Deus pela

ignorância que há neles, pela dureza do seu coração” (Efésios 4:18). Quando Cristo repre-

sentou o pai como dizendo: “Este meu filho estava morto, e reviveu” (Lucas 15:24), Ele

certamente não queria dizer que o filho pródigo tinha deixado de existir, mas que, enquanto

ele permaneceu “num país distante”, ele foi separado do seu pai, e que agora ele tinha

voltado para ele. O lago de fogo em que os ímpios serão lançados é designado “a segunda

morte” (Apocalipse 20:14), não significando que deixarão então de existir, mas que eles

serão “punidos com a destruição eterna da presença do Senhor, e da glória do seu poder”

(2 Tessalonicenses 1:9). Que o homem caído é possuidor de um espírito é claro: “O

Senhor... que formou o espírito do homem dentro dele” (Zacarias 12:1); “Quem sabe as coi-

sas do homem, senão o espírito do homem que nele está?” (1 Coríntios 2:11); “O espírito

volte a Deus, que o deu” (Eclesiastes 12:7). O homem foi criado um ser tripartido, composto

de espírito, alma e corpo (1 Tessalonicenses 5:23), e nenhuma parte dele deixou de existir

quando ele caiu.

Em segundo lugar, a Queda não resultou na perda de qualquer faculdade humana. Não

privou o homem da razão, consciência ou discernimento moral, pois teria se transformado

em uma outra espécie de ser. Como a razão permaneceu, ele ainda tinha o poder de

distinguir entre a verdade e a mentira; a consciência ainda lhe permitiu distinguir entre o

que era certo e o errado, entre o que era dever e o crime; e o discernimento moral capacitou-

o a perceber os contrastes na esfera do excelente e do belo. É mais importante ser claro

sobre este ponto: A Queda não tocou a substância da alma, a qual permanece inteira com

todos os dotes originais do intelecto, da consciência e da vontade. Estes são os elementos

característicos da humanidade, e privar o homem deles seria abatê-lo. Eles existem no

criminoso, bem como no santo. Todos eles têm uma unidade essencial na totalidade da

pessoa humana. Ou seja, são faculdades coordenadas, embora cada uma tenha sua esfera

peculiar. Coletivamente, eles constituem o ser responsável, moral e racional. Não é a mera

posse que torna o homem bom ou mau; a forma e a motivação tornam as ações santas ou

pecaminosas.

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A Corrupção do Espírito Humano

A Queda não privou o homem de nenhuma de suas faculdades mentais ou morais, mas

tirou-lhe o poder de usá-las da maneira correta. Estas faculdades ficaram sob a influência

maligna do pecado, de maneira que o homem já não era capaz de praticar qualquer coisa

agradável a Deus. A depravação é total: penetrante, extensiva ao homem inteiro. Não ficou,

como diferentes teóricos têm suposto, confinada a um departamento do seu ser — a vonta-

de contrária ao entendimento, ou o entendimento contrário à vontade. Não se restringiu aos

apetites mais inferiores, em contraste com os nossos princípios mais elevados. Nem afetou

o coração somente, considerado como a sede dos afetos. Pelo contrário, é uma doença

que atingiu cada órgão. Quanto ao entendimento, consiste em ignorância espiritual, ceguei-

ra, trevas, loucura. Quanto à vontade, é rebelião, perversidade, espírito de desobediência.

Quanto às afeições, é dureza de coração, total insensibilidade e falta de discernimento das

coisas espirituais e Divinas. A entrada do pecado na constituição humana não só afetou

todas as suas faculdades, de modo a produzir uma desqualificação completa para qualquer

forma de exercício espiritual, mas a tem mutilado e debilitado em seu exercício dentro da

esfera da verdade e da santidade. Ficaram corrompidas em relação a tudo o que esmaece

a imagem de Deus, a imagem da bondade e da excelência.

E terceiro lugar, a Queda não resultou na perda da liberdade da vontade, o seu poder de

volição como uma faculdade moral. É certo que este é um ponto muito mais difícil de enten-

der do que qualquer um dos anteriores. Não porque a Escritura seja ambígua no seu ensino,

nem mesmo porque contém quaisquer aparentes contradições, mas por causa das dificul-

dades filosóficas e metafísicas que levantam-se nas mentes daqueles que o consideram

cuidadosamente. A Queda certamente não reduziu o homem à condição de uma planta ou

pedra, ou mesmo um animal irracional. Ele manteve essa força racional de vontade que é

uma parte de sua constituição original, de modo que ele ainda é capaz de escolher esponta-

neamente. É igualmente certo que o homem não é livre para fazer o que quiser em sentido

absoluto, pois então ele seria um deus, onipotente. Em seu estado não-caído, Adão tornou-

se submisso e dependente do Senhor. Assim é com Seus filhos. Suas vontades devem ser

totalmente subordinadas à do seu Criador e Governador. Além disso, a liberdade deles é

estritamente limitada pela regra suprema da providência Divina, a qual abre portas para

eles ou as fecha contra eles.

Como apontado, embora cada uma das faculdades distintas da alma tenha sua esfera pecu-

liar, continuam coordenadas; portanto, a vontade não deve ser entendida como uma entida-

de independente e autodeterminada, ficando separada das outras faculdades e superior a

elas, capaz de reverter as sentenças da mente ou de contrariar os desejos do coração. Pelo

contrário, a vontade é influenciada e determinada por eles. Como G. S. Bishop proveitosa-

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mente apontou: “A verdadeira filosofia da ação moral e seu processo é a de Gênesis 3:6.

‘E quando a mulher viu que a árvore era boa para se comer [percepção sensorial, inteligên-

cia], e árvore desejável [afeições], ela tomou e comeu dela [a vontade]’”. Assim, a liberdade

da vontade também é limitada pelas fronteiras das capacidades humanas. Não pode, por

exemplo, ir além da extensão do conhecimento possuído pela mente. É impossível para eu

observar, amar e escolher qualquer objeto que não me seja familiar. Assim, é a compre-

ensão, em vez da vontade, que é a faculdade e o fator dominante. Assim, quando a Escritu-

ra delineia a condição dos homens caídos, ela atribui essa alienação de Deus à “ignorância

que há neles” (Efésios 4:18), e fala de homens regenerados como sendo “renovados no

conhecimento” (Colossenses 3:10).

As limitações da liberdade humana salientadas acima referem-se tanto ao homem não-

caído quanto ao caído, mas a entrada do pecado na constituição humana impôs limitações

muito maiores. Embora seja verdade que o homem é verdadeiramente livre agora, como

Adão era antes de sua apostasia, mas ele não é tão moralmente livre quanto ele era. O ho-

mem caído é livre no sentido de que ele tem a liberdade de agir de acordo com sua própria

escolha, sem compulsão de fora; ainda que, uma vez que sua natureza tenha sido conta-

minada e corrompida, ele já não é livre para fazer o que é bom e santo. Grande cuidado

deve ser tomado para que a nossa definição da liberdade do homem caído não confronte

textos como Salmo 110:3; João 6:44; Romanos 9:16; pois ele só deseja agora de acordo

com os ditames de seu mau coração. Tem sido bem dito que a vontade do pecador é como

um prisioneiro algemado em uma cela. Seus movimentos são dificultados por suas corren-

tes, e ele é impedido pelas paredes que lhe confinam. Ele é livre para andar, mas de forma

restrita e dentro de um espaço tão limitado que a sua liberdade é uma servidão — servidão

ao pecado.

Se compreendemos “a vontade” como simplesmente a faculdade da volição pela qual a

alma escolhe ou rejeita, ou se a consideramos como a faculdade da volição junto com tudo

mais dentro de nós que afeta a escolha — a razão, a imaginação, o desejo — o homem

caído ainda é bem livre no exercício da volição conforme sua principal disposição e desejo

no momento. Aqui a liberdade interior é utilizada em contraste com a restrição externa e a

compulsão. Quando a última está ausente, o indivíduo tem a liberdade de decidir de acordo

com sua vontade. Onde os Arminianos erram quanto a este ponto é confundir poder com

“querer”, insistindo que o pecador é igualmente capaz de escolher o bem como o mal. Isso

é um repúdio de sua depravação total ou vassalagem completa para o mal. Pela Queda o

homem submeteu-se à escravidão do pecado, e se tornou cativo do Diabo. Ainda assim,

ele cede voluntariamente às tentações de seus próprios desejos antes de cometer qualquer

ato pecaminoso, e nem Satanás pode levá-lo a qualquer pecado sem o seu próprio consen-

timento.

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O homem natural age como lhe agrada, mas ele agrada a si mesmo em uma única direção

— para si e para baixo, nunca para Deus e para cima. Como Romanos 6:20 diz dos santos,

enquanto em seu estado não-regenerado, “Porque, quando éreis servos do pecado, éreis

livres da justiça”. Em toda a sua vida o homem pecador age como um agente livre, pois ele

não é forçado nem por Deus nem por Satanás. Quando ele quebra a lei, ele o faz por sua

própria opção, e não por coerção de outro. Ao fazê-lo, ele está agindo livremente por sua

própria natureza caída. Assim, é um erro dizer que uma tendência da mente ou uma pro-

pensão de coração é destrutivo de sua vontade. Ambos devem ser automovidos para que

haja responsabilidade e culpa, e ambos são automovidos. O assassino não é obrigado a

odiar sua vítima. Embora ele não possa impedir o seu ódio interior por qualquer mero exer-

cício de vontade, no entanto, ele pode abster-se do ato externo de assassinato por sua pró-

pria vontade; portanto, ele é censurável quando ele não consegue fazê-lo. Estes são fatos

indiscutíveis de nossa própria consciência.

Em quarto lugar, a Queda não resultou em qualquer redução, menos ainda, a destruição,

da responsabilidade do homem. Se tudo o que precede este parágrafo for cuidadosamente

ponderado, isto deve ser bastante evidente. A responsabilidade humana é o corolário ne-

cessário da soberania Divina. Uma vez que Deus é o Criador, o Governante supremo sobre

tudo, e desde que o homem é apenas uma criatura e um súdito, não há como escapar de

sua responsabilidade para com o seu Criador e Senhor de direito. Pelo que é o homem

responsável? O homem é obrigado a responder à relação que existe entre ele e seu Criador.

O homem ocupa o lugar de criação, subordinação, dependência absoluta em cada respira-

ção, e, portanto, deve reconhecer o domínio de Deus, submeter à Sua autoridade, e amá-

lO com toda a sua força e coração. A responsabilidade humana é exercida através do reco-

nhecimento dos direitos de Deus e agindo em conformidade, prestando-Lhe o que é devido.

Este é o reconhecimento prático de Sua propriedade e governo. Estamos justamente

obrigados a estar em constante submissão à Sua vontade, a exercer em Seu serviço as

faculdades que Ele nos deu, usar os meios que Ele designou, melhorar as oportunidades e

vantagens que Ele nos concedeu. Todo o nosso dever é o de glorificar a Deus.

A partir da definição acima, deve ficar bem claro que a Queda não o fez, e não poderia ao

menor grau, cancelar ou prejudicar a responsabilidade humana. A Queda não alterou a

relação fundamental entre o Criador e a criatura. Deus é o dono do homem pecador como

verdadeiramente e, tanto quanto Ele era do homem sem pecado. Deus ainda é o nosso

Soberano, e nós, Seus súditos. Além disso, como já foi referido, o homem caído ainda está

na posse de todas as faculdades que o qualificam para cumprir sua responsabilidade. É

certo que o bebê nos braços e o débil mental não são moralmente responsáveis por suas

ações. Mas é razoável que aqueles que tenham atingido a idade quando eles são capazes

de distinguir entre o certo e o errado sejam moralmente responsáveis por suas ações. O

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homem caído, embora o seu entendimento seja obscurecido espiritualmente, ainda possui

racionalidade. O homem caído, embora sob o domínio do pecado, tem o seu poder de

volição, e está sob a obrigação de fazer uma escolha boa e direita toda vez, resistir às

tentações e se abster da maldade, como qualquer tribunal de justiça humano insiste.

Por mais dificuldades que possam estar teoricamente envolvidas no fato de que a natureza

do homem é agora totalmente depravada e que ele está em escravidão no pecado, Deus

ainda não perdeu Seu direito de comandar porque o homem perdeu o seu poder para obe-

decer. O fato da Queda lançar-nos fora do favor de Deus, não nos libertou de Sua autorida-

de. Não foi Deus que tirou do homem a sua força espiritual e privou-o da sua capacidade

de fazer o que é agradável à Sua vista. O homem foi originalmente investido de poder para

cumprir as exigências de seu Criador. Foi por sua própria loucura e maldade que ele jogou

fora seu poder. Como um monarca humano não perde os seus direitos à lealdade de seus

súditos quando eles se tornam rebeldes, mas mantém a sua prerrogativa, exigindo que eles

deixem sua insurreição e retornem à sua fidelidade, assim o Rei dos reis tem um direito

infinito de exigir que os rebeldes se tornem súditos leais. Se Deus poderia justamente exigir

de nós mais do que nós agora somos capazes de prestar-Lhe, se seguiria que quanto mais

nós nos escravizamos pelos maus hábitos, menor seria a nossa responsabilidade — um

absurdo palpável!

Não somente é a responsabilidade do homem afirmada insistentemente em toda a Escritura

do Gênesis ao Apocalipse, mas também é afirmada pela própria consciência do homem.

Qualquer que seja a desculpa que o indivíduo levante para a sua depravação, e que argu-

mente a partir de sua impotência moral que as suas obras não são criminosas, ele repudia

tal raciocínio quando seus companheiros pecadores estão em causa. Quando os outros

erram, ele não nega sua responsabilidade nem oferece desculpa para eles. Se ele é cruel-

mente caluniado, roubado de suas posses ou maltratado, em vez de dizer do culpado,

“Coitado, ele não se conteve; a culpa é de Adão”, ele prontamente apela para a polícia e

pede uma indenização nos tribunais. Além disso, quando o pecador é despertado pelo

Espírito Santo, longe de protestar contra as justas exigências de Deus, ele se considera

merecedor de ser eternamente condenado por sua rebelião vil. Ele se reconhece totalmente

responsável e “sem desculpa”. Ele sente o fardo de sua culpa, e se humilha diante de Deus

em arrependimento sincero.

Sob este aspecto de nosso assunto estamos nos esforçando para fornecer uma resposta

para a pergunta: O que significa o termo “depravação total”? Onde reside a diferença essen-

cial ou diferenças entre o homem como não-caído e caído? Precisamente o que é a nature-

za desse terrível mal que nos aflige? Nós consideramos em que não consiste, mostrando

que o homem não deixou de ser um ser completo e tripartido, que ele está na posse desse

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espírito que é uma parte necessária da sua constituição; que a Queda não resultou na perda

de quaisquer faculdades de sua alma; que ele não tem sido privado da liberdade de sua

vontade ou o poder da volição; e que não houve diminuição da sua responsabilidade como

criatura responsável perante Deus. Voltando agora ao que resultou da Queda, descobrimos

que há um lado negativo e um positivo, que havia certas coisas boas de que fomos privados,

e que havia algumas coisas más que nos foram procedentes. Apenas quando ambas forem

levadas em consideração é que poderemos obter uma resposta completa à nossa pergunta.

Em primeiro lugar, pela Queda o homem perdeu a imagem moral de Deus. Como breve-

mente apontado anteriormente, a “imagem de Deus”, em que o homem foi originalmente

criado, refere-se à sua natureza moral. Foi isso que fez dele um ser espiritual. Como Calvino

expressou, “Isto inclui todas as excelências em que a natureza do homem supera todas as

outras espécies de animais”. Em que esta “imagem” consistia é indicado em Efésios 4:24 e

Colossenses 3:10, onde um resumo detalhado do que seja a imagem nos é fornecido.

Nosso ser “renovado” na imagem (na regeneração) claramente implica que seja a mesma

imagem Divina em que o homem foi feito no início. Nestas duas passagens é descrita como

consistindo de “verdadeira justiça e santidade” e o “conhecimento de Deus”. Vamos agora

nos estender sobre cada um desses componentes.

Por “justiça” devemos entender, como em toda parte nas Escrituras, a conformidade com a

lei Divina. Antes da Queda, havia total harmonia entre toda a natureza moral do homem e

todos os requisitos da lei que é “santa, justa e boa” (Romanos 7:12). Isto era muito mais do

que uma inocência meramente negativa ou a liberdade de tudo o que é pecaminoso (ou

mesmo da inclinação ou tendência para isto, que é tudo o que os Socinianos admitem), ou

seja, algo mais nobre, mais alto e mais espiritual. Havia perfeito acordo entre a constituição

de nossos primeiros pais e a regra de conduta definida diante deles, não só em suas ações

externas, mas também nas próprias fontes dessas ações, na parte interior de seus seres

— em seus desejos e motivações, em todas as tendências e inclinações de seus corações

e mentes. Como Eclesiastes 7:29 declara, Deus “fez o homem reto”, que não se refere tanto

ao seu corpo quanto à sua excelência moral. Essa justiça foi perdida com a Queda, mas é

em princípio restaurada na regeneração, quando Deus escreve suas leis em nossos

corações e as coloca em nossas mentes, quando Ele nos concede amor e gosto por elas,

e torna-nos de bom grado sujeitos à autoridade delas.

Por “santidade” devemos entender castidade e pureza do ser. Como a justiça dava a Adão

relacionamento com a lei Divina, assim a santidade era o que o tornava apto para a

comunhão com o seu Criador. Havia nele essa pureza imaculada da natureza que o tornava

apto para a comunhão com o Santo, pois a santidade não é apenas um relacionamento,

mas uma qualidade moral também; não é apenas uma separação de tudo o que é mau,

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mas a investidura e posse do que é bom. Yahwéh é o “glorioso em santidade” (Êxodo

15:11), portanto, aqueles com quem Ele conversa devem ser pessoalmente adequados

para Ele. Ninguém senão os puros de coração verão a Deus (Mateus 5:8). É inconcebível

que Deus por um ato imediato tivesse criado qualquer outro tipo de ser racional e respon-

sável que não fosse aquele que era puro e perfeito, especialmente porque ele deveria ser

o arquétipo da humanidade. Como Thornwell tão bem expressou: “Santidade foi a herança

da natureza dele [do homem] — o direito de primogenitura de seu ser. Era o estado em que

todas as suas faculdades receberam a sua forma”. Essa santidade foi perdida quando o

homem caiu, mas pela regeneração e santificação é restaurada para os eleitos que são

feitos “participantes da sua santidade” (Hebreus 12:10). Este princípio de santidade, que

lhes é comunicado no novo nascimento, desenvolve-se à medida que crescem na graça e

no conhecimento do Senhor.

Por “conhecimento” devemos entender o conhecimento do próprio Deus. Como a santidade

ou pureza de coração de Adão capacitou-o para “ver Deus” no sentido espiritual da palavra,

ele também foi capaz de conhecer a Deus pela habitação nele do Espírito Santo. Como

Goodwin assinalou, “Onde estava a santidade, podemos ter certeza de que o Espírito esta-

va também... O mesmo Espírito (como no regenerado) estava no coração de Adão para

assisti-lo com Suas graças, e para movê-lo a viver de acordo com esses princípios de vida

dados a ele”. É claro que assim como Adão foi criado em maturidade do corpo, ele deve ter

sido criado em maturidade de mente, e que havia então nele o que podemos adquirir lenta-

mente apenas pela experiência. Adão foi capaz de apreender e apreciar a Deus pelo que

Ele é em Si mesmo. Ele tinha um verdadeiro e intuitivo conhecimento das perfeições da

Deidade, a realização sincera de Sua excelência. Esse conhecimento de Deus foi perdido

na Queda, por Adão e sua descendência, mas é restaurado para os eleitos na regeneração,

quando Ele brilha “em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de

Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Coríntios 4:6).

Em segundo lugar, pela Queda o homem perdeu a vida de Deus. A alma não só foi feita

por Deus, mas para Deus, equipada para conhecer, desfrutar e comungar com Ele; e sua

vida está nEle. Mas o mal nos separa do Santo. Então, em vez de estar viva em Deus, a al-

ma está morta no pecado. Não que a alma tenha deixado de existir, pois a Escritura distin-

gue claramente entre a vida e a existência: “Ela que vive em prazeres está morta enquanto

vive” (1 Timóteo 5:6). Esta é a morte moral ou espiritual, não do ser, mas do bem-estar.

“Aquele que tem o Filho tem a vida; e aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida”

(1 João 5:12). Ter o Filho de Deus para mim é ter tudo o que realmente vale a pena ter;

estar sem Ele, não importa que coisas temporais eu possa possuir momentaneamente, é

ser um mendigo total. “Vida” — a vida espiritual e eterna — é uma expressão ampla que in-

clui toda a bem-aventurança que o homem é capaz de desfrutar aqui e no futuro. O que

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tem “vida” é eternamente salvo, aceito no Amado, admitido no favor Divino, feito participante

da natureza Divina, feito justo e santo aos olhos de Deus. Aquele que está sem “vida” está

destituído de todas estas coisas.

Ser separado de Deus é necessariamente ser privado de tudo o que faz valer a pena viver,

pois Ele é “a fonte da vida” (Salmos 36:9), e, portanto, de luz, de glória, de bem-aventuran-

ça. Nenhum espírito finito pode conceber — e ainda menos pode qualquer caneta humana

expressar — a plenitude dessas palavras, “a fonte da vida”. Nós só podemos comparar

outras passagens da Escritura que dão a conhecer algo do seu significado. Ao fazermos

isso, nós aprendemos que há pelo menos uma vida tripla que o povo de Deus recebe dEle.

Em primeiro lugar, Sua aprovação benigna: “no seu favor está a vida” (Salmos 30:5). Em

Levítico 1:4 a palavra é traduzida como “aceito” e em Deuteronômio 33:16, “benevolência”.

Mas o versículo que melhor permite-nos compreender a sua força é “Farta-te, ó Naftali, da

benevolência, e enche-te da bênção do Senhor” (Deuteronômio 33:23). Aqueles que são

favoravelmente considerados por Deus não precisam de nada mais, não podem desejar

nada melhor. Ter a boa vontade do Senhor Triuno é a verdadeira vida, o apogeu da bem-

aventurança. Estar fora do Seu favor é estar morto para tudo o que vale a pena.

Em segundo lugar, alegria e bem-aventurança da alma. “Ó Deus, tu és o meu Deus, cedo

te busco... para ver o teu poder e a tua glória... porque a tua benignidade é melhor do que

a vida” (Salmos 63:1-3). A vida de Deus em Seu povo torna-os aptos para deleitarem-se

nEle. Assim foi aqui. Davi estava em adoração extasiada dos atributos Divinos. Sua alma

desejava ter mais comunhão com Deus, e ele resolveu buscá-lO diligentemente, para ter

visão ampliada das perfeições Divinas e descobertas experimentais de Sua excelência, em

antecipação da bem-aventurança do Céu. Ele prezou por isso mais do que qualquer outra

coisa. O homem natural valoriza sua vida acima de tudo. Não é assim o homem espiritual.

Para ele, a benevolência de Deus é melhor do que todos os confortos e luxos de vida

temporal, melhor do que a vida natural mais longa e próspera. A benevolência de Deus é a

própria vida espiritual do santo, como também é uma verdadeira antecipação da vida

eterna. Ela refrigera seu coração, fortalece sua alma e envia-o em seu caminho cheio de

alegria.

Milhares de pessoas estão cansadas da vida, mas nenhum Cristão já esteve cansado da

benevolência de Deus. Ela é infinitamente melhor do que a “vida” de um rei ou de um milio-

nário, pois ela não tem tristeza adicionada a ela, nenhum inconveniente, nenhum mal que

a acompanhe. A morte física colocará o ponto final para a existência terrena dos mais privi-

legiados, mas isso não dará fim à benevolência de Deus, porque é de eternidade a eterni-

dade. Ela é estimada pelo crente acima de tudo mais, pois é a fonte da qual todas as

bênçãos procedem. Na bondade amorosa de Deus o Pacto da Graça se originou. Sua

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benevolência deu Cristo ao Seu povo e eles para Ele. Por Sua benignidade eles são atraí-

dos para Ele (Jeremias 31:3), recebem um conhecimento salvífico dEle, são trazidos para

conhecer pessoalmente o amor que Ele tem por eles. Sem a bondade amorosa de Deus a

vida não é nada além de morte. Bem pode cada crente exclamar: “Porque a tua benignidade

é melhor do que a vida os meus lábios te louvarão”. Em outras palavras: “Eu me deleitarei

com Tuas perfeições e exultarei em Ti. Buscarei prestar algo da honra que Te é devida”.

Essa vida que Deus dá aos Seus filhos consiste não só em serem objetos de Sua benigna

aprovação, no gozo experiencial da Sua bondade amorosa, mas também na recepção de

um princípio de justiça e santidade pela qual eles são capacitados a apreciá-lO e, por falta

disso os não-regenerados não podem desfrutá-lO, pois eles estão “alienados da vida de

Deus” (Efésios 4:18). Está claro, tanto a partir do contexto imediato e do restante do verso,

que a “vida de Deus” tem uma referência especial à santidade, pois o oposto aparece no

versículo 17: “De agora em diante não andem como andam os gentios, na vaidade da sua

mente”. O contraste é ainda apontado no versículo 18: “Tendo o entendimento obscurecido,

alheios à vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração”. Os não-

convertidos são inteiramente dominados pela sua natureza depravada. Suas mentes estão

em um estado de pobreza moral, envolvidas somente com coisas vãs; seus entendimentos

são desprovidos de inteligência espiritual, desprovidos de qualquer poder para apreender

a verdade ou apreciar as belezas da virtude; suas almas estão afastadas de Deus, com

uma aversão inveterada dEle; seus corações estão calejados, endurecidos contra Ele.

Assim, a corrupção e depravação do homem natural estão opostas à graça e santidade

comunicadas no novo nascimento, aqui chamado de “a vida de Deus”.

Em terceiro lugar, pela Queda o homem perdeu seu amor por Deus. Há duas emoções

fundamentais que influenciam a ação: amor e ódio. Uma não pode existir sem a outra, pois

o que é contrário ao desejado será repelente: “Vós, os que amais o Senhor, odiai o mal”

(Salmos 97:10). Do Homem perfeito o Pai disse: “Tu amas a justiça e odeias a impiedade;

por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria mais do que a teus companheiros”

(Salmos 45:7). O Senhor disse: “Amei Jacó, mas odiei a Esaú” (Romanos 9:13). A grande

obra da graça nos redimidos é dirigir e firmar esses afetos em seus objetos próprios.

Quando colocamos corretamente nosso amor e ódio, prosperamos na vida espiritual. O

homem caído difere do homem redimido nisto: Ambos têm os mesmos sentimentos, mas

eles estão deslocados em nós, de modo que agora nós amamos o que deveríamos odiar,

e odiamos o que deveríamos amar. Nossos afetos são como membros do corpo fora do

lugar, como se os braços pendessem para trás. Dirigir o nosso amor e ódio da maneira

correta é a própria essência da verdadeira espiritualidade: amar tudo o que é bom e puro,

e odiar tudo o que é mau e vil; pois o amor nos motiva a buscar a união com o que é bom

e torná-lo nosso, enquanto o ódio repele e abandona o que é repugnante.

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Ora, o amor foi feito para Deus, pois só Ele é o seu objeto adequado, bem como a sua

Fonte. O amor é inerente em Seus atributos, Sua lei, Suas ordenanças, Seu lidar conosco.

Mas o ódio foi feito para a serpente e o pecado. Deus é infinitamente amoroso em Si

mesmo, e se as coisas devem ser valorizadas de acordo com a grandeza e excelência

delas, então Deus deve ser valorizado supremamente, pois cada centro de perfeição é

encontrado totalmente nEle. Amá-lO acima de tudo é um ato de honra devida a Ele, por

Quem e pelo que Ele é. Há tudo em Deus para inspirar estima, adoração e afeto. A bondade

não é um objeto de temor, mas de atração e deleite.

Deus supriu livremente Adão com tudo o que Ele requeria dele. Desde que Adão foi criado

com retidão moral perfeita de coração e com um estado santo de mente, ele era plenamente

competente para amar a Deus com todo o seu ser. Ele viu as perfeições Divinas brilhando.

Os céus declaravam a glória de Deus, o firmamento mostrava a Sua obra e Sua excelência

estava espelhada em tudo ao redor de Adão. Ele percebia o que Deus merecia dele, e ficou

impressionado com tamanha benção. O coração de Adão foi preenchido com um senso de

beleza inefável do Senhor, e pensamentos de admiração e adoração inspirados por Deus

encheram sua mente, levando-o a dar-Lhe a adoração e a submissão de que Ele é

infinitamente merecedor.

O amor a Deus deu unidade de ação a todas as faculdades da alma de Adão; porque desde

que esse amor era o princípio dominante nele, ele usou todas essas faculdades para ex-

pressar sua devoção a Deus. Assim, quando o amor a Deus morreu dentro de Adão, suas

faculdades perderam não só a sua unidade original e ordem, mas o poder para usá-las

direito. Todas as suas faculdades caíram sob uma influência má e hostil, e foram aviltadas

em sua ação. O homem natural não possui uma única centelha de verdadeira afeição por

Deus. “Mas eu vos conheço”, disse o onisciente examinador de corações para os judeus

religiosos “que não tendes o amor de Deus em vós” (João 5:42). Sem qualquer amor a

Deus, todos os atos externos do homem natural são inúteis diante dEle: “Os que estão na

carne não podem agradar a Deus” (Romanos 8:8), pois eles não têm a raiz da qual eles

devem proceder para que qualquer fruto seja desejável a Ele. O amor é o que anima a

obediência que é agradável a Deus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra” (João

14:23). O amor é a própria vida e substância de tudo o que é gratificante para Deus.

Como o princípio da obediência, o amor tem a precedência, pois a fé opera pelo amor

(Gálatas 5:6). Observe a ordem na injunção, “Consideremo-nos uns aos outros, para nos

estimularmos ao [1] amor e às [2] boas obras” (Hebreus 10:24). Mexa com os afetos e as

boas obras seguirão, como a movimentação dos carvões faz com que as chamas subam.

É o amor que faz com que todos os mandamentos Divinos “não sejam pesados” (1 João

5:3). Nós concordamos plenamente com Charnock: “Nessa simples palavra, amor, Deus

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embrulhou toda a devoção que Ele exige de nós”. Certamente nossas almas devem ficar

arrebatadas por Ele, pois Ele é infinitamente digno de nossos mais seletos afetos e desejos

mais fortes. O amor é uma coisa aceitável em si, mas nada pode ser aceitável a Deus sem

ele. “Aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade” (João 4:24). As for-

mas mais decorosas e meticulosas de devoção são inúteis se não têm vitalidade e sinceri-

dade. A adoração verdadeira procede do amor, pois é o exercício das afeições celestes, o

derramamento de sua homenagem Àquele que é “totalmente desejável”. O amor é a melhor

coisa que podemos prestar a Deus, e o que Lhe é devido em cada serviço. Sem ele nós

somos uma abominação a Ele: “Se alguém não ama o Senhor Jesus Cristo, seja anátema.

Maranata!” (1 Coríntios 16:22).

Em quarto lugar, pela Queda nossos primeiros pais e toda a humanidade perderam a comu-

nhão com Deus. Esta foi desfrutada no início, porque Deus fez o homem com faculdades

capazes desse privilégio e projetou-o para ter santa conversação com Ele. Na verdade,

esta foi a bênção fundamental desse pacto em que Adão foi colocado e foi um prenúncio

daquela comunhão mais íntima que teria sido sua porção eterna se ele vencesse a tenta-

ção. Mas a apostasia de Adão e Eva privou-os e a sua posteridade deste privilégio inestimá-

vel. Este foi o resultado imediato e inevitável da sua revolta, se nós contemplarmos a partir

da perspectiva Divina e humana, “pois que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que

comunhão tem a luz com as trevas?” (2 Coríntios 6:14). Dois não podem andar juntos se

não estiverem de acordo (Amós 3:3). O Santo não Se manifestará favoravelmente a

rebeldes ou admiti-los à Sua presença como amigos. Depois de sua Queda nossos

primeiros pais já não tinham o desejo de que Ele o fizesse. Depois de ter perdido todo o

amor a Deus, eles não tinham nenhum desejo por Ele, mas odiavam-nO e temiam-nO.

Aqui, então, está a natureza terrível da depravação humana. Do lado negativo é composta

por perda do homem da imagem moral de Deus — conscientemente sentida pelos nossos

primeiros pais no sentido vergonhoso que eles tinham de sua nudez. Eles também perde-

ram a vida de Deus, de modo que eles se tornaram alienados de Seu favor, desprovidos de

alegria, esvaziados de santidade — fracamente percebido por eles, como era evidente a

partir de sua tentativa de tornarem-se mais apresentável pela fabricação de aventais de

folhas de figueira. O amor a Deus foi perdido, de modo que eles não mais O reverenciavam

e O adoravam, mas foram repelidos por Suas perfeições — manifestado por eles em sua

fuga assim que perceberam Sua aproximação. Eles perderam a comunhão com Deus, de

modo que ficaram totalmente indignos diante de Sua presença, finalizando com sua

expulsão do Éden. Somente o regenerado pode estimar o quanto foi irreparável a perda do

homem por causa da Queda, e quão terrível é a condição do homem natural.

Nós já apontamos uma série de coisas que a depravação da natureza humana não

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consiste, e algumas das bênçãos inestimáveis da qual o homem foi privado pela Queda.

Passamos agora para o lado afirmativo, ou a uma consideração daqueles males que se

abateram sobre a natureza humana como resultado da apostasia dos nossos primeiros

pais. Nós não concordamos com aqueles que ensinam que algo meramente negativo — a

ausência do bem — é transmitido de Adão e Eva para seus descendentes, através da via

da geração natural e da propagação. Em vez disso, estamos plenamente convencidos de

que algo de positivo — um princípio ativo do mal — é transmitido de pai para filho. Enquanto

consideramos que o pecado não é uma substância ou uma coisa material, temos a certeza

de que é muito mais do que uma mera abstração e nulidade. A própria natureza do homem

é corrompida; o vírus do mal está em seu sangue. Embora haja privação no pecado — uma

não-conformidade à lei de Deus —, há também uma potência positiva real nela para o mal.

Assim como a santidade, o pecado é um poder, mas um poder que opera a desordem e a

morte.

Tem sido dito por alguns que “a natureza do homem não foi tornada agora pecaminosa por

colocar qualquer coisa nela para contaminá-la, mas por tomar algo dela que deveria tê-la

preservada santa”. Mas nós preferimos a declaração do Catecismo de Westminster: A pe-

caminosidade daquele estado em que o homem caiu consiste na culpa do primeiro pecado

de Adão, a falta de justiça em que ele foi criado, e a corrupção de sua natureza, pela qual

ele é totalmente indisposto e incapaz, e feito inimigo de tudo o que é espiritualmente bom,

e inteiramente inclinado a todo o mal, e isto continuamente, o que é comumente chamado

de pecado original, e do qual procedem todas as transgressões.

Que a natureza humana caída não é apenas destituída de toda a piedade, mas é também

completamente impregnada com tudo o que é diabólico, pode certamente ser constatado a

partir dos dois diferentes tipos de pecado de que todo homem é culpado: o de omissão, em

que há falta de realizar boas obras, e o de comissão, ou desprezo da lei de Deus. Algo

responsável por ambos deve existir em nossa natureza pecaminosa, caso contrário, nós

declaramos a causa inadequada para produzir o efeito. Embora a ausência de santidade

explique o primeiro, somente a presença do mal conta para o último.

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

OUTRAS LEITURAS QUE RECOMENDAMOS Baixe estes e outros e-books gratuitamente no site oEstandarteDeCristo.com.

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Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.