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Emma Wildes

Um Erro Inconfessável

Maria José SantosTradução

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Planeta Manuscrito Rua do Loreto, n.º 16 – 1.º Direito

1200 ‑242 Lisboa • Portugal

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor

© 2010, Katherine Smith Publicado com a autorização do autor

e de Baror International, Inc. © 2010, Planeta Manuscrito

Título original: Our Wicked Mistake

Revisão: Eulália Pyrrait

Paginação: Lígia Pinto

1.ª edição: Janeiro de 2012

Depósito legal n.º 337 589/11

Impressão e acabamento: Guide – Artes Gráficas

ISBn: 978 ‑989 ‑657 ‑248 ‑8

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Capítulo 1

Londres, 1816Satan’s Den

O assunto ganhara as proporções de um duelo à maneira antiga, sem pistolas nem espadas à vista.

O raio da culpa é minha, reconheceu para si próprio Luke Daudet, visconde Altea, porque ultimamente estivera mais imprudente e inquieto do que nunca, tanto com as mulheres como com as cartas. A sua fama, segundo parecia, precedia-o.

E agora ia pagar pelos seus hábitos perversos.– Sete mil é uma quantia para rapazes, não para homens.Como desafio, foi feito de uma forma bastante silenciosa, mas todos

os presentes pareciam tê-lo ouvido. O homem à sua frente sorriu.– Vamos tornar isto mais interessante, senhor. Que me dizeis? Faltam

duas cartas nesta mão... por que não subir um pouco a parada? Isto é, se tiverdes estômago para isso. Jogamos contra a casa, mas que tal uma aposta à parte, vós e eu, Altea?

O fogo que ardia na opulenta lareira em mármore era desnecessário, tendo em conta a falta de ventilação da sala recôndita. Cortinas em veludo grosso retinham o cheiro a colónia, tabaco e brande derramado. O silêncio espalhou-se como uma bruma de cemitério – o alegre crepitar dos toros a espirrarem fagulhas no plano de fundo era o único som que se

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ouvia. Até os criados de libré pararam com as suas intermináveis rodadas de tabuleiros de bebidas, figuras presas em pé, quase absurdamente silenciosas nas sombras, à medida que a cena se desenrolava.

Raios. Eu é que me meti nisto.Haveria uma saída airosa daquela situação insustentável? Ele duvi-

dava, porque, quando pensava nisso, tudo o que se estava a passar era um produto inevitável da sua recente escorregadela para a perfeita devassidão.

Obrigando-se a não revelar a mais ínfima sugestão de emoção, Luke limitou-se a sorrir em negligente reconhecimento. Numa voz agradável, perguntou de forma educada:

– Quanto mais interessante?– Muito mais interessante. Que me dizeis, senhor?Estefan, o banqueiro, esperava, as mãos compridas sem se moverem.

As cartas estavam suspensas por cima do repes surrado da mesa. Todo vestido de preto, era hábito não passar de um observador silencioso, tão desprovido de expressão como um cadáver e mais ou menos com a mesma animação, mas, de repente, parecia haver um brilho de interesse naqueles monótonos olhos negros. As sobrancelhas finas e negras ergue-ram-se-lhe, interrogativas.

Não havia, como era evidente, um limite no Satan’s. Era um local infame para apostas que fariam até com que homens ricos hesitassem. Aqui, a aristocracia misturava-se com a classe dos comerciantes com dissoluta facilidade. O único requisito para se entrar era ter dinheiro. Luke era um homem rico, mas também não era o único com esse estatuto nesta sala cheia de fumo.

– Diria que estou curioso para saber o que considerais que possa ser uma quantia para homens, senhor. – Luke levantou os ombros com indolência. Algures, alguém explodia num acesso de riso nervoso.

Bem vestido e de meia-idade, Albert Cayne acenou, de súbito, com a cabeça. Era um homem de constituição forte, com olhos negros e penetrantes inseridos num rosto carnudo. Para além de um tom mais escuro na tez já de si rosada, tinha um ar suave e seguro. Murmurou:

– Senhor, podeis ser visconde, mas há mérito em subir na vida a pulso. O dinheiro que tenho fui eu que o consegui, e se resolvo empregar

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uma larga quantia numa aposta, faço-o. Digamos vinte mil em quem é o homem com mais sorte; que vos parece?

Vinte mil? No virar de uma carta?Luke tinha de admirar a coragem do homem, embora o seu bom

senso deixasse muito a desejar. A mesa atrás deles, onde se jogava rouge et noir, deixara de fingir estar interessada no seu próprio jogo e, de repente, toda a sala pareceu encher-se de murmúrios.

Vai-te embora.Não. Fica. Que é feito da tua coragem?Com uma ínfima inclinação da cabeça, aceitou a aposta.E quando a notícia se espalhasse pela sociedade londrina, pensou

ele sombrio, à medida que levantava uma mão num deliberado gesto lânguido para pedir uma carta, seria riscado de metade das listas das mães ansiosas que perscrutavam a multidão elegante à procura de maridos elegíveis para as filhas casadoiras.

Óptimo. Ainda bem. Ele não andava no mercado à procura de esposa. Escandaloso, dono de um título e rico era uma bela combinação. Se se subtraísse a característica de rico da equação, ficava, de súbito, apenas um libertino e, ainda por cima, um esbanjador. Qualquer homem que se mostrasse disposto, de uma forma tão flagrante, a deitar fora uma parte tão significativa dos seus bens materiais num jogo de azar não daria um bom marido. Ele podia dar-se ao luxo de perder, mas tinha de admitir que a extravagância o fazia hesitar, assim como as suas motivações.

Não que se importasse com a ideia de ter algumas meninas a menos a sorrirem-lhe com afectação e a agitarem os leques na sua direcção. Ele estava apenas... bem, muito francamente, preocupado com o que a mãe e as irmãs pudessem pensar. E isso, reflectiu com seco divertimento enquanto pegava na carta, olhava para ela e a pousava de novo, era algo que não devia confessar quando se encontrava na mais sombria casa de jogo de toda a Inglaterra.

Cayne também pegou numa carta e o som sibilante de um inspirar colectivo, à medida que ele a escondia na mão, dava a ideia de que alguém atirara um balde de água para o fogo. O sorriso do homem era enigmático, o olhar fixo.

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Faltava uma carta. Aparentando calma, Luke aceitou a última oferta do dealer e a tensão de não mostrar as emoções percorria-lhe a pele como formigas-de-fogo. A outra carta fora tão má que não havia alternativa senão guardar esta, e ele quase não olhou para ela antes de a colocar na mão.

Cayne abanou a cabeça, recusando a última carta.Não parecia haver dúvida de que o homem confiava nas boas graças

da sorte.O brande de Luke era quente e fragrante, e ele fê-lo girar ligeiramente,

antes de levar o copo à boca e de o beber de um só trago. Ficou impressionado pelo facto de a mão não lhe tremer nem um pouco. O banqueiro disse:

– Cavalheiros, coloquem as cartas na mesa, por favor. – Houve uma hesitação pesada. – A aposta é de vinte mil libras.

Com um movimento súbito do pulso, Luke lançou a carta para a mesa. Cayne moveu-se mais devagar, pousando cada carta com cuidado para que o grupo de pessoas que se reunira pudesse ver.

Por um momento, ninguém se mexeu.– C’os diabos! – A exclamação veio de detrás do ombro de Luke,

quebrando o denso silêncio. O banqueiro esboçou então uma imitação grotesca do que devia ter pretendido que fosse um sorriso. E entoou com solenidade:

– Vence a mão do visconde.Ignorando a subtil explosão de aplausos, Luke levantou-se e fez uma

pequena vénia a Cayne, que estava impassível. O homem mais velho recostou-se na cadeira, inclinando a cabeça.

– O dinheiro será entregue amanhã, se concordardes.– Com certeza.Com aparente indiferença, Luke dirigiu-se para um local onde havia

uma mesa coberta de veludo vermelho, sobre a qual se via uma fila de garrafas, algumas em baldes de gelo.

Por dentro, ainda se sentia nervoso por causa do jogo, em consequên-cia tanto da tensão como do resultado.

Se o facto de ser dono de uma fama cultivada com cuidado como um dos cavalheiros mais devassos de Londres significava mais desafios

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como este, teria de liquidar mais fundos, caso a sorte não estivesse a seu favor da próxima vez. Pegando num decantador, deitou mais licor no copo e levou-o à boca.

– Senhor?Virou-se e viu um dos criados de libré, o rosto picado das bexigas do

jovem muito bem coberto de pó-de-arroz, o tabuleiro que trazia na mão equilibrado na perfeição. Luke disse:

– Sim?– Tenho um recado para vós. Foi entregue à porta há apenas um

minuto. É urgente, pelo menos foi o que me disseram.Luke aceitou o envelope e olhou para o selo.– Obrigado.Minutos depois estava no exterior, onde uma chuva fina caía com

persistência de um céu negro. O cocheiro, curvado debaixo de um chapéu de aba larga e de uma capa, limitou-se a acenar com a cabeça quando lhe foi dada a morada. Depois de ter subido para a carruagem, Luke sacudiu o cabelo molhado e voltou a ler a missiva. Passando os olhos com rapidez pelas palavras garatujadas, sentiu uma agitação que não experimentara na sala de jogos quando enfrentava Cayne com uma pequena fortuna por decidir.

Devia ser mesmo urgente, pois o remetente, tanto quanto ele sabia, nem sequer lhe falava.

Por que Madeline lhe escreveria, e, mais intrigante ainda, por que precisava dele imediatamente?

e

Ela estava em dificuldades.Madeline May, Lady Brewer, andava de um lado para o outro na

sua sala de visitas, esquecida do que por norma lhe dava prazer. O vaso oriental que estava na mesinha junto à janela e que fora um presente de casamento, o cetim amarelo-claro das paredes, o retrato do avô do marido, que estava pendurado por cima do friso da lareira, o sorriso luminoso e o cabelo negro do homem sob o chapéu ornamentado com uma pena, características que lhe eram dolorosamente familiares...

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Estava escuro lá fora. Não comera o dia inteiro e o estômago reclamava, mas tanto fazia. O copo de vinho do Porto que bebera de um trago muito pouco próprio de uma senhora fez-lhe andar a cabeça um pouco à roda, mas pelo menos acabara-lhe com o tremor nas mãos. Olhou o decantador com ansiedade, mas resolveu que uma segunda bebida seria má ideia em todos os sentidos e não lhe ajudaria nada o estômago vazio; assim, em vez disso, puxou mais uma vez para trás a cortina em renda fina para espreitar para a rua. Estava deserta, sem qualquer sinal de vida, nem tão-pouco o barulho dos solavancos de uma carruagem alugada a passar.

Onde diabo estava aquele homem diabólico e irritante?Não entres em pânico. Fica calma.Até que por fim ouviu o ruído surdo e prolongado de uma carruagem

que passava, mas não era a dele, e Madeline mordeu o lábio inferior e tamborilou com as pontas dos dedos no parapeito da janela. O relógio ao canto troçava dela a cada tic solene.

– A que devo a honra do vosso chamamento imperial?O som da voz funda vindo da entrada da sala fê-la dar um salto

e proferir uma exclamação de susto. Madeline girou para ver Luke Daudet à porta, um ombro largo encostado à ombreira, a pose negligente traída pela intensidade dos seus olhos cinzentos. Como de costume, Lorde Altea estava quase bonito de mais, com o seu traje de noite de corte imaculado, o plastrão prístino e adornado com um alfinete em diamante, o cabelo loiro-escuro um tudo-nada mais comprido do que era uso, a elegância das feições masculinas obscurecida, porque ela tinha apenas um candeeiro aceso. Segurava as luvas numa das mãos de dedos longos.

– Como entrastes? – perguntou Madeline. – Não vi a vossa carruagem chegar.

As sobrancelhas arqueadas ergueram-se-lhe um pouco perante o tom agudo da pergunta dela.

– Minha cara Madge, o tom do vosso bilhete fez-me hesitar em vir de carruagem até à vossa porta, sobretudo a esta hora. Gostaria de pensar que sou cavalheiro para pelo menos ter em conta a vossa reputação, por isso mandei o meu cocheiro estacionar a cerca de um quarteirão de

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distância e vim o resto do caminho a pé. A entrada dos criados foi muito conveniente e a fechadura fácil de arrombar.

– Arrombastes a fechadura?Ele fez tinir qualquer coisa no bolso do casaco. – Talvez.Noutras circunstâncias, Madeline teria ficado mais indignada com

a presunção dele, mas, por outro lado, mandara-o chamar e precisava da sua ajuda. Pensaria na questão da deficiente segurança da casa noutra altura, se conseguisse não passar o resto da vida na prisão de Newgate.

Incrédula, como se a cortesia se pudesse aplicar à situação presente, ouviu-se dizer:

– Quereis uma bebida, senhor?Os olhos de Luke semicerraram-se. – Duvido que me tenhais pedido para vir aqui para socializarmos

à frente de um copo de vinho, e posso descrever o vosso rosto como estando, na melhor das hipóteses, muito para além da palidez, distin-guindo-lhe até talvez um tom cinza. Por que não vos sentais, respirais fundo e me explicais por que precisais da minha ajuda? Pensei que não tínhamos uma relação cordial.

– E não temos. – Era costume ela conseguir exibir uma cortesia gélida em público, mas detestava o infame visconde Altea com todo o seu ser. No entanto, por mais torturante que fosse admiti-lo, era o único homem que ela conhecia que a podia ajudar, e nunca precisara tanto de ajuda...

– Ah... bem, então, estou a morrer de curiosidade quanto aos moti-vos por que enviastes um criado a correr por Londres inteira à minha procura.

Talvez ele tivesse razão. Ela tinha decididamente a cabeça à roda e talvez fosse boa ideia sentar-se. A humilhação de perder os sentidos à sua frente era algo por que não queria passar. Escolheu uma delicada cadeira estofada a seda, estilo Luís XIV, e afundou-se nela, dizendo a si própria, furiosa, que se havia alguma coisa que não iria acontecer era chorar. De maneira nenhuma, e sobretudo em frente de Luke Daudet.

Era difícil recuperar a compostura, mas conseguiu entrelaçar as mãos, à medida que ele se deixava cair numa cadeira e lhe lançava um olhar inquiridor.

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– Madge?– Odeio esse diminutivo. – Para seu alarme, a sua voz estava quase

irreconhecível e os olhos ardiam-lhe, apesar da determinação que sentia.

– Eu sei. – O sorriso dele não tinha nada a ver com humor. – Por que pensais que o uso? Só posso imaginar o que me chamais quando não estou por perto. Nada de lisonjeiro, presumo. Mas vamos ao que interessa. Tenho de confessar que estou a ficar alarmado. Por norma sois o epítome da senhora ponderada, sofisticada e aristocrática do ton, mas, para ser franco, minha cara, esta noite pareceis prestes a ser acometida de um ataque de histeria, o que prefiro evitar. A maior parte dos homens detestam manifestações de emoção feminina, incluindo eu próprio. Será mais fácil se me disserdes o que se passa e começarmos por aí.

Embora ela lembrasse a si própria numa base diária o quanto abominava o muito atraente mas famoso inconstante Altea, o tom objectivo ajudava-a a agarrar-se a uma réstia de dignidade. Lutou contra um pequeno soluço, ganhou a batalha e em seguida contou-lhe a horrível verdade.

– Matei uma pessoa esta noite.

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Capítulo 2

Não era comum ele ficar sem fala, mas Luke teve de admitir, ao olhar através da elegante e refinada sala de visitas para a bela mulher em que pensava demasiadas vezes, que não lhe vinha à cabeça uma única coisa que pudesse dizer.

A apenas alguns passos de distância, Madeline estava sentada com uma palidez fantasmagórica, os ombros esbeltos a tremerem visivelmente. Sem ser nenhuma ingénua presunçosa, aos vinte e seis anos era uma viúva madura, com a sua própria fortuna, uma reputação de inteligente e impecável bom gosto, amada pela sociedade e muito procurada por todas as anfitriãs importantes.

Era também muito procurada por bastantes cavalheiros, incluindo ele próprio. Tanto quanto ele sabia, era o único que conseguira levar a aprazível Lady Brewer para a cama, e essa única noite deixara-lhe uma marca indelével na memória.

O facto de ela estar abalada ao ponto de sair do seu tranquilo autodomínio dizia-lhe mais do que quaisquer palavras. Por norma era toda aprumo e sofisticação.

Excepto, lembrou-lhe uma voz errante na sua mente, quando está a tremer e ofegante nos meus braços.

Luke encontrou, enfim, a voz perdida. – Apostaria a minha vida em como não sois capaz de praticar

qualquer acto com propositada maldade, por isso talvez seja melhor começardes pelo princípio e explicares-me o que aconteceu. Por favor,

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não vos esqueçais de mencionar o local onde o incidente aconteceu. Quem, porquê e como também poderão ser informações úteis.

Olhos azul-meia-noite, com um brilho de lágrimas iminentes, fixavam-no.

– Nem sequer sei bem por que vos enviei aquele bilhete.– Sabeis muito bem por que o enviastes. – Não era a tarefa mais fácil

do mundo manter o tom de voz uniforme e moderado. – Porque vos apercebeis de que, apesar das nossas diferenças, vos ajudarei. Por isso, contai-me.

– Foi Lorde Fitch.Isso só piorava as coisas. Fitch era uma figura proeminente da política

britânica, com influência e dinheiro, e, ainda por cima, era conde. Luke nunca gostara daquele canalha arrogante, mas isso não importava para o caso. Não era provável que o falecimento de sua senhoria passasse despercebido. Se o homem estava morto, haveria uma investigação.

– Ele aborreceu-me uma vez ou duas, mas nunca o suficiente para que o assassinasse. O que aconteceu?

– Não o assassinei – ripostou Madeline, e Luke alegrou-se ao vê-la endireitar os ombros trémulos e ao reparar que alguma cor lhe voltava ao rosto, mesmo que tal se devesse ao ultraje. – Matei-o por acidente e isso é muito diferente, obrigado.

– Aceito a correcção. – Luke sentiu um divertimento súbito com a reacção dela, apesar da terrível revelação que acabara de fazer. – Mas não vos esqueçais de que ainda tendes de me contar a sequência de acontecimentos.

Os nós dos dedos tornaram-se-lhe brancos, à medida que ela entrelaçava os dedos com mais força no regaço.

– Há algum tempo que ele me anda a fazer insinuações indecentes. Já passou muito do limite de um aborrecimento para passar a ser um verdadeiro assédio. Nem o posso ver.

O canalha. Com furiosa intensidade, Luke desejou que o homem não estivesse morto para ele próprio o poder estrangular.

– Não sou mulher e nunca estive sujeito a esse género de perseguição, mas não vos censuro pela aversão que tendes a sua senhoria. Na verdade, quem me dera que tivésseis vindo ter comigo mais cedo.

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– Não queria pedir-vos ajuda nem sequer nas actuais circunstân-cias.

O tremor do seu corpo atraente fê-lo desejar levantar-se, aproximar--se e tomá-la nos braços, aninhá-la junto a si e prometer-lhe que tudo correria bem. Mas sabia que ela não iria gostar, por isso ficou onde estava, embora tivesse de se esforçar para o fazer.

– Muito bem, talvez eu mereça isso, mas regressemos ao assunto em questão. Fitch foi lascivo e indecente. Continuai.

– Tenho tentado evitá-lo. – O lábio inferior, tão atractivo e carnudo, tremia. – Em todas as festas, em acontecimentos públicos... em todo o lado.

– Madge, tenho a certeza que sim.– Não resultou. Sempre que podia, colocava-se deliberadamente no

meu caminho.Luke esperou em silêncio que ela continuasse, reprimindo uma fúria

inútil contra um homem que já estava morto.– Ele... – Interrompeu-se, parecendo de repente desamparada

e muito jovem, com o seu perfil puro e desviado, alguns fios de cabelo soltos como gavinhas a escaparem-se-lhe do carrapicho e a afagarem--lhe o pescoço. – Ele tem em seu poder uma coisa que pertencia a Colin.

Ao falecido marido? Luke não sabia bem como tal era possível, quando Lorde Brewer tinha falecido pelo menos cinco anos antes... talvez até seis.

Com um tremor na voz, ela prosseguiu:– Quero muito recuperar esse objecto e tentei negociar com sua

senhoria, mas há um preço que não estou disposta a pagar.Preço? Os dentes dele cerraram-se. O uso do seu corpo atraente.

Madeline nem sequer precisava de o dizer em voz alta. Luke sentiu o bater furioso do pulso nas têmporas e, na verdade, teve de torcer as mãos para se impedir de a abraçar quando a linha cristalina de uma lágrima lhe riscou a face macia. Até a fatigada sofisticação dele não podia competir com a genuína aflição que ela sentia.

– Ele tem estado a fazer chantagem convosco?– Não. – Ela fixava a carpete estampada. – Não propriamente.

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Não propriamente. Que diabo queria isso dizer? A seriedade do momento impediu-o de murmurar «Mulheres!», mas tinha de reconhe-cer uma crescente sensação de frustração devido à falta de uma explicação clara.

– Não compreendo. Parece-me que uma pessoa ou está a ser chantageada ou não.

Ela fez um pequeno gesto de desespero com a mão.– Ele... ele sabia coisas. E falava nelas em ocasiões nada oportunas.

Comecei a suspeitar...Por natureza, Luke não era um homem paciente, e quando ela se

interrompeu de novo, disse de imediato:– Suspeitar de quê? Diabos me levem, minha cara. Talvez eu seja

obtuso, mas neste momento pouco mais sei sobre o que aconteceu do que quando entrei por aquela porta. Explicai-me, para que possamos tratar das coisas.

– É torturante.– Santo Deus, mulher, dissestes-me apenas que matastes um homem.

Se é torturante, que seja, mas sede objectiva. Com a fama que tenho, o mais provável é que não esteja em posição de vos julgar.

Por um momento ela limitou-se a olhá-lo, como se o visse pela primeira vez, os olhos bonitos muito abertos. Em seguida, acenou com a cabeça, inclinando-a quase imperceptivelmente.

– Colin tinha um diário. – Respirou fundo, trémula, mas continuou: – Estava sempre a escrever qualquer coisa nele. Segundo parece, escrevia tudo, até pormenores da nossa... da nossa vida de casados. Lorde Fitch deitou-lhe a mão, embora eu não consiga imaginar como. Após bas-tantes insinuações e comentários indecorosos mas exactos, comecei a aperceber-me de que aquele homem odioso deveria ter o diário em seu poder. Eles não eram amigos e Colin nunca lhe teria contado nada tão pessoal. Não o consigo imaginar a contar a quem quer que fosse. Era a única explicação. Nem tão-pouco eu o tinha lido, porque me parecia uma invasão da privacidade de Colin, por isso fechei-o à chave. E o certo é que desapareceu.

E nem era preciso dizer que também se tratava de uma invasão da privacidade de Madeline. Luke sabia que ela amara o marido com toda

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a profundidade da primeira paixão de uma mulher e que a morte dele fora para ela um golpe devastador. Só podia imaginar a sensação de violação que ela sentia com o facto de as notas pessoais e os pensamentos dele estarem a ser lidos por um estranho.

– Quase o mandei sepultar com ele. – Tinha a voz embargada. – Mas suponho que pensei que um dia talvez pudesse querer lê-lo para me sentir reconfortada.

Em vez disso, uma pessoa desprezível e sem coração fizera uma paródia dos escritos íntimos do homem que ela amava. Se o conde não tivesse já encontrado o seu fim prematuro, Luke poderia ter morto o canalha inútil com as suas próprias mãos. Com uma frieza forçada, disse:

– O que quer que tenha acontecido a sua senhoria, parece-me que bem o mereceu. Onde está agora?

– No escritório de Colin.A resposta foi dada num sussurro tão baixo que ele quase não

percebeu. Madeline fixava a parede sem a ver, a sua expressão tão distante que o deixou preocupado. Com a mão esguia, tocava nervosamente a saia.

– Aqui? – perguntou Luke.Ela acenou com a cabeça, num movimento brusco.– Pedi-lhe para se encontrar comigo para discutirmos o assunto

do diário. Pareceu-me prudente e mais vantajoso para mim tratar da questão como um homem o faria, e o escritório de Colin era um local adequado e lógico. Mandei encaminhar Lorde Fitch para lá quando chegou em resposta ao bilhete que lhe enviei.

Pelo menos estavam a chegar a algum lado. Luke levantou-se. – Levai-me lá e resolveremos isto.Como se se pudesse resolver o facto de se ter um Lorde morto no

escritório de um homem. Mas ele estava disposto a fazer o melhor possível.

Por ela. Porque, embora não desejasse admiti-lo nem sequer para si próprio, Luke tinha uma admiração por Lady Brewer que se estendia muito para além da paixão ímpar e da inegável beleza. Uma vez que definir essa admiração significava examinar os seus próprios

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sentimentos, evitara demasiada introspecção sobre o assunto, mas era certo que viera a correr quando ela pediu.

Isso era revelador. Cavaleiro de armadura brilhante era um papel que, por norma, desdenhava.

De uma forma rude, com os movimentos de uma pessoa que sofrera um choque considerável, Lady Brewer levantou-se e, sem falar, saiu da sala de visitas e conduziu-o pelo corredor.

e

A esperança de que tudo aquilo não tivesse passado de um sonho estranho desvaneceu-se quando, infelizmente, Lorde Fitch ainda estava estendido no chão junto à lareira, numa poça do seu próprio sangue. Era uma pena, pensou Madeline, porque sempre gostara daquela carpete, mesmo estando desbotada de um lado devido ao sol que entrava pela janela ao fim da tarde. Desde a morte de Colin que lá entrava muitas vezes e se sentava à secretária, o aroma familiar e pungente do seu tabaco a emanar do pote que continuava em cima da secretária, o cachimbo no local exacto em que ele o deixara no dia em que se queixara pela primeira vez da dor de cabeça que acabara por se transformar em febre, dores generalizadas, arrepios e, dois dias depois, na morte. A sala, com as paredes revestidas de lambrins e livros usados, reconfortava-a. Pelo menos fora assim até agora.

– Presumo que o atiçador foi o método que usastes para despachar sua senhoria para onde, neste preciso instante, imagino que esteja a apertar a mão a Satanás. – Luke olhava desapaixonadamente para o homem morto e o seu tom de voz era frio e calmo. – Não foi uma escolha original, mas talvez seja tão popular por ser tão eficaz.

– Sim. – Lorde Fitch estivera a ofendê-la... e a gostar. Ela ainda lhe ouvia a voz melíflua. Então, Lady Brewer, é verdade que uma vez, na ópera, atrás de uma cortina, deixastes que o vosso marido vos levantasse as saias e...

Fora impossível argumentar com aquele velho bode maldoso e veri-ficara-se que apelar-lhe ao inexistente sentido de honra não surtira qualquer efeito.

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– Quando um pedido para devolver o diário não funcionou, ofereci--lhe dinheiro por ele. Limitou-se a rir-se de mim e disse que o diário era demasiado divertido e que não estava à venda. – A voz dela era baixa e monótona, mas o terror da noite começara a cobrar o seu preço. – Referi que, antes de mais nada, o diário era meu, e devolvê-lo era o mínimo que um cavalheiro faria. Ele recusou-se e continuou a fazer as insinuações mais nojentas e insultuosas que se possa imaginar.

– A minha imaginação é excelente – disse Luke num tom que era agradável mas que, no entanto, fez com que um arrepio subisse pela espinha de Madeline. – Por exemplo, eu teria escolhido uma maneira muito mais dolorosa para executar este pedaço de lixo que neste momento está a sujar uma carpete de muito boa qualidade. Terminai a história.

– Ele ameaçou publicá-lo.Raios. Outra lágrima deslizou-lhe pela face e ela limpou-a com as

costas da mão, como uma criança. Enquanto que a última coisa que queria fazer era chorar à frente de Luke Daudet, entre todas as pessoas do mundo, à luz do presente desastre não se importava assim tanto.

– Então destes-lhe uma pancada na cabeça com um atiçador. Excelente decisão.

– Não lhe dei uma pancada na cabeça com um atiçador, como colocais a questão – disse Madeline em tom defensivo –, só por causa disso, embora tivesse ficado consternada. Os homens resolvem as coisas através da violência. As mulheres são mais civilizadas.

Com uma lógica irritante, ele disse:– Ah, talvez, mas não sou eu que tenho um homem morto no

escritório.Ignorando o comentário, ela, titubeante, explicou:– Eu... eu por essa altura tinha-me apercebido de que era inútil

continuar a discutir e não gostei da maneira como ele me olhava, por isso levantei-me para ir buscar Hubert para que ele acompanhasse o homem à porta. Quando contornei a secretária, Lorde Fitch... ele, bem, agarrou-me e sussurrou-me uma proposta muitíssimo repulsiva. Era óbvio que estivera a beber, porque o hálito tresandava. Eu estava perto da lareira e, à medida que lutava para me libertar dele, devo ter

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agarrado o atiçador, pois a seguir apercebi-me de que estava estendido no chão.

– Nítida autodefesa. – Luke levou a mão ao bolso do casaco de corte perfeito, tirou de lá um lenço branco de neve gravado com as iniciais do seu nome a um canto e estendeu-lho.

– Obrigada. – Ela limpou outra lágrima teimosa.Luke ajoelhou-se junto ao corpo e levantou um braço mole.– Ainda está quente, por isso presumo que me mandastes chamar

logo de seguida. Onde está a carruagem dele?– Essa é a única bênção em tudo isto. Deve ter vindo a pé, uma vez

que vive a um quarteirão ou dois de distância.– O que dissestes ao vosso pessoal? É óbvio que estão todos

deitados.– Que sua senhoria caiu por ter bebido de mais e que vos mandei

chamar para o levardes a casa.– Bem pensado. – Ele franziu o sobrolho, o rosto bonito de perfil,

a mostrar pela primeira vez esta noite uma verdadeira expressão de desconsolo. – Só que temos um problema enorme, minha cara.

Um? Ela acabara de matar um conde no escritório do marido. Tinha inúmeros problemas pela frente, tanto quanto sabia.

– O canalha ainda está vivo.– O quê? Há tanto sangue! – Madeline fixava-o de olhos muito

abertos, sem ter a certeza se acreditava nele, amarrotando a delicada peça de linho que tinha na mão. – Ia jurar que ele não estava a respirar. Eu verifiquei.

– Estáveis perturbada, suspeito eu, e é compreensível, mas sinto-lhe o pulso. Não sou médico, mas por mais irritante que isso possa ser, o pulso dele parece bastante forte e regular. Os ferimentos na cabeça sangram com grande profusão. Vi a minha quota-parte durante a guerra.

Madeline experimentou uma onda de alívio tão intensa que os joelhos quase lhe cediam.

– Graças a Deus. Se bem que eu não seja uma admiradora de Lorde Fitch, não desejava ser a causa da sua morte.

– É óbvio que sois mais generosa do que eu. Eu defrontá-lo-ia de boa vontade no campo, e, se ele sobreviver, posso muito bem desafiá-lo.

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No entanto, não posso tolerar matar um homem inconsciente, por mais que ele o mereça, por isso suponho que a primeira coisa que temos a fazer é levá-lo para casa e proporcionar-lhe ajuda médica. Se me abrirdes a porta, vamos tratar disso.

Desafiá-lo? Madeline ficou assustada com a veemência letal do tom de Luke, já para não falar da expressão sombria que lhe viu no rosto de bonita estrutura óssea, mas estava demasiado perturbada para pensar nisso.

Embora Fitch fosse corpulento, era muito mais baixo, e Luke levantou o corpo de sua senhoria e colocou-o sobre o ombro com pouco esforço, segundo parecia.

– Ele está a sangrar para cima do vosso casaco – sussurrou Madeline, encostada à secretária, sem força.

– Tenho mais roupa.– Eu...Levantando o traseiro de Lorde Fitch no ar, Luke olhou-a, o sobrolho

erguido numa pergunta sardónica.– Ajudai-me a tirar daqui o traseiro deste cavalo, depois tomai um

copo de vinho e esquecei que isto aconteceu.Como as coisas eram fáceis na boca dele.– Luke – começou ela a protestar, pois na verdade, embora quisesse

a ajuda dele, não contara com que ele tratasse do problema todo.– Abri a porta. Vou cuidar de tudo. Não precisais de pensar mais

nisso. – A voz estava impregnada de uma promessa calma e decidida, nada semelhante ao habitual tom superficial que a caracterizava.

Ela moveu-se para obedecer, seguindo à sua frente através da casa mergulhada em silêncio e abrindo as portas para o ajudar. Quando ele passou a saída dos criados, ela ficou a ver-lhe a figura coberta desaparecer na rua estreita e escura, apenas para ouvir o ruído de rodas alguns momentos mais tarde.

Se fechar a porta à chave era uma medida eficaz, Madeline não sabia – não seria, a julgar pela facilidade com que Lorde Altea lhe entrara em casa –, mas, de qualquer maneira, fê-lo. Em seguida regressou ao escritório de Colin. Não seria fácil retirar a mancha sinistra da carpete e supunha que teria de se desfazer da peça de tapeçaria.

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E como explicar isso...Hemorragia nasal, resolveu ela, aproximando-se para olhar a man-

cha horrível, desejando acordar e descobrir que tudo não passara de um pesadelo. Poderia ela dizer que Lorde Fitch tivera uma terrível hemorragia nasal e lhe estragara a carpete?

Talvez. Até que o próprio Lorde contasse a verdadeira história. Se, por um lado, estava satisfeita por não o ter, de facto, matado, por outro não estava assim tão encantada por ele ainda poder atormentá-la. Madeline deixou-se ali ficar, em pé, tentando imaginar os rumores que surgiriam se Fitch espalhasse a palavra de que ela o convidara para ir a sua casa e distorcesse a razão por que ela o fizera. Ele fora inteligente o suficiente para não fazer chantagem com ela, por isso não fora cometido qualquer crime, excepto alguns comentários repugnantes. Tudo o que ele tinha de fazer era negar que tinha o diário em seu poder e acusá-la de o ter atacado sem motivo.

Os factos eram os factos. Se fora maldoso e astuto antes, seria agora dez vezes pior, se recuperasse.

Se.Inspirou, trémula, cerrando os punhos dos lados do corpo. Luke

prometera que cuidaria de tudo.Isso era outro assunto.Entre todas as pessoas, chamara Luke Daudet, o libertino e mal-

-afamado visconde Altea, mandando o criado a correr primeiro ao clube dele e depois, segundo parecia, a uma das mais infames casas de jogo de Inglaterra.

O que era pior? Estar cativa do divertimento malicioso de Lorde Fitch ou estar em dívida para com Luke?

Não tinha a certeza, mas era certo que considerava esta uma das piores noites da sua vida.

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