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POLICIA MILITAR DA BAHIA

ACADEMIA DE POLCIA MILITAR UNIDADE DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

CURSO DE FORMAO DE OFICIAIS (CFO)

Mdulo de Metodologia do Trabalho Cientfico

Prof. Ivana Schnitman- 2011 -

APRESENTAOPrezado (a) estudante Vivemos em um mundo de mudanas constantes. Face s exigncias sociais atreladas ao advento da globalizao surgiram novas tecnologias da informao e, com efeito, um novo perfil de homem que se pretende formar. Tais mudanas originaram novos paradigmas culturais e educativos. Desta forma, o conhecimento apresenta-se como um dos instrumentos mais valiosos para o progresso da cincia e da humanidade. A disciplina Metodologia do Trabalho Cientfico I busca contribuir para a compreenso das ferramentas terico-metodolgicas da investigao cientfica, em funo da apropriao da realidade e da construo do conhecimento cientfico. Ela tem como abordagens centrais a classificao do conhecimento, a concepo de cincia, as metodologias de pesquisa cientfica, os conhecimentos e as tcnicas referentes produo dos diferentes trabalhos acadmicos, assim como seus critrios, em uma perspectiva dialgica e crtica. As informaes presentes neste material didtico serviro de subsdio para a sistematizao e registro dos conhecimentos apreendidos ao longo da disciplina, instrumentalizado-os sobre as normas e procedimentos importantes na concepo, desenvolvimento e organizao de seus trabalhos acadmicos.

Bons Estudos!

Profa. Ivana Schnitman

ME TODOLOGI A DO T RABALHO CI EN TFI CO I

SUMRIO1 CONHECIMENTO E CINCIA .............................................................................................. 5 1.1 Conhecimento Humano ............................................................................................. 5 1.1.1 Teoria do conhecimento .............................................................................. 7 1.1.2 Conhecimento: conceitos e fundamentos .................................................. 8 Tipos de Conhecimento........................................................................................... 10 1.2.1 Conhecimento popular ............................................................................... 11 1.2.2 Conhecimento religioso ............................................................................. 12 1.2.3 Conhecimento filosfico ............................................................................. 12 1.2.4 Conhecimento cientfico ............................................................................ 13 A Cincia e Suas Caractersticas ........................................................................... 15 1.3.1 A cincia e o fazer cientfico ...................................................................... 15 1.3.2 Concepes de cincia .............................................................................. 17 Pesquisa Cientfica .................................................................................................. 21 1.4.1 Positivismo.................................................................................................. 22 1.4.2 Funcionalismo ............................................................................................ 23 1.4.3 Estruturalismo............................................................................................. 24 1.4.4 Dialtica ...................................................................................................... 25 1.4.5 Fenomenologia........................................................................................... 26 1.4.6 Modelo holstico ......................................................................................... 26

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1.4

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PESQUISA E TRABALHOS ACADMICOS ..................................................................... 29 2.1 As Metodologias da Pesquisa ................................................................................. 29 2.1.1 Conceitos sobre pesquisa ......................................................................... 29 2.1.2 Classificao da pesquisa ......................................................................... 29 2.1.3 Tipos de pesquisa: Objetivo, procedimento e aborgagem ...................... 30 Sistematizao, Registro e Trabalhos Acadmico ................................................ 34 2.2.1 Anlise e interpretao de texto ................................................................ 34 2.2.2 Tipos de anlise de textos ......................................................................... 35 2.2.3 Resumo de texto ........................................................................................ 36 2.2.4 Fichamento de texto .................................................................................. 37 2.2.5 Resenha...................................................................................................... 38 2.2.6 Artigo cientfico ........................................................................................... 40 Normas Para Apresentao de Trabalho Acadmico ........................................... 43 2.3.1 2.3.2 2.3.3 2.3.4 2.3.5 Regras de apresentao ........................................................................... 43 Numerao progressiva............................................................................. 44 Alneas ........................................................................................................ 45 Paginao ................................................................................................... 45 Ilustraes e tabelas .................................................................................. 45

2.2

2.3

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2.4

Normas Para Elaborao de Citaes e Referncias ........................................... 47 2.4.1 2.4.2 2.4.3 2.4.4 2.4.5 2.4.6 Citao ........................................................................................................ 47 Sistema de chamada ................................................................................. 50 Formas de citao...................................................................................... 51 Sistema numrico ...................................................................................... 52 Referncias ................................................................................................ 53 Observaes gerais: .................................................................................. 54

2.5

As etapas da pesquisa cientfica..........................................................................57 2.5.1 Anlise de contedo ................................................................................... 63 2.5.2 Projeto de pesquisa cientfica .................................................................... 65

GLOSSRIO.................................................................................................................................... 70 REFERNCIAS ............................................................................................................................... 71

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1CONHECIMENTO

E CINCIA

O tema apresenta concepes sobre o conhecimento humano e suas classificaes, alm de referendar a cincia, seus princpios e caractersticas. Por fim, apresenta o que pesquisa cientfica e seus meios de produo.

1.1

CONHECIMENTO HUMANO

Este encontro aborda as concepes sobre conhecimento humano, enfatizando a maneira pela qual ele produzido. Desta forma, sero debatidas as dimenses que o conhecimento assume para suprir as diferentes necessidades humanas. O conhecimento humano se processa medida que nos defrontamos com os fatos, fenmenos e objetos no mundo, de maneira direta ou indireta. Segundo Luckesi e Passos (2002) o sujeito cognitivo se apropria diretamente do conhecimento a partir do enfrentamento entre ele mesmo e o mundo exterior mediatizado pela experincia, isto , o sujeito desafiado por uma nova circunstncia que se apresenta e ele empreende esforos e mtodos para desvelar o seu sentido e atribuir significado. J a apropriao indireta da realidade parte da compreenso inteligvel que fazemos sobre esta via entendimento j produzido por outro, isto , existe um mediador que experimentou e comunicou o conhecimento, revelando a sua interpretao sobre a realidade. Ambas as modalidades de conhecimento so imprescindveis para a compreenso do mundo pelo homem, so retroalimentadas mutuamente e esto profundamente relacionadas. A educao um recurso potencial capaz de proporcionar conhecimento ao sujeito. Entretanto ressalvo algumas experincias educativas inovadoras, o sujeito tem recebido passivamente o conhecimento que, na maioria das vezes, imposto pela ideologia dominante, atravs das instituies de ensino. Neste sentido, a prtica educativa no deve se restringir apenas transmisso e manuteno do legado de conhecimentos, sobretudo, incitar o debate sobre as suas construes, relaes e implicaes, querem de natureza epistemolgica, filosfica, histrica, cultural, ticas, morais ou sociais. O levantamento de problemas e a construo de hipteses, a partir de conhecimentos prvios, para alm da investigao de teorias, reforam o dilogo entre os atores sociais e contribuem para a discusso e reflexo dos fatos. Neste sentido se insere a discusso sobre a educao matemtica como campo de formao do sujeito e neste debate importa diferenciar o matemtico do educador matemtico. O primeiro, por exemplo, tende a conceber a matemtica como um fim em si mesmo e, quando requerido a atuar na formao de professores de matemtica, tende a promover uma educao para a matemtica priorizando os contedos formais dela e uma prtica voltada formao de novos pesquisadores em matemtica, explicam Fiorentini e Lorenzato (2006).

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O segundo - o educador matemtico concebe a matemtica como um meio ou instrumento importante formao intelectual e social de crianas, jovens e adultos e tambm do professor de matemtica do ensino fundamental e mdio e, por isso, tenta promover uma educao pela matemtica. Ou seja, o educador matemtico, na relao entre educao e matemtica, tende a colocar a matemtica a servio da educao, priorizando esta ltima, mas sem estabelecer dissociao entre ambas (FIORENTINI; LORENZATO, 2006). O educador, de maneira geral, deve problematizar o conhecimento junto aos estudantes, e tambm as disciplinas, os contedos, os significados e os significantes. Isso implica desenvolvimento de um esforo poltico, autodisciplina e conscincia crtica que lhe permita:a)Questionar toda forma de pensamento nico, o que significa introduzir a suspeita sobre as representaes da realidade baseadas em verdades estveis e objetivas. b)Reconhecer, diante de qualquer fenmeno, [...] as verses da realidade que representam e as representaes que tratam de influir. c)Incorporar uma viso crtica que leve a perguntar-se a quem beneficia essa viso dos fatos e a quem marginaliza... d)Introduzir, diante do estudo de qualquer fenmeno, opinies diferenciadas, de maneira que o aluno comprove que a realidade se constri desde pontos de vista diferentes, e que alguns se impem frente a outros no pela fora dos argumentos, mas sim pelo poder de quem os estabelece [...]. (HERNNDEZ, 1998, p. 33).

Se o educador perseguir este pensamento e atitude, no se restringiria, apenas, transmisso e manuteno do legado de conhecimentos materializados pela cultura e pela existncia do homem branco, ocidental, heterossexual e de classe mdia (LOURO et al, 2003, p. 42), mas levaria a efeito a contestao de uma cultura hegemnica e monoltica que silencia, portanto, nega a sociedade plural, protagonizada por grupos organizados coletivamente em torno de identidades culturais. Assim, as demandas culturais e os novos paradigmas da educao levam a efeito uma nova concepo de conhecimento humano. Muitas so as concepes que demarcam um novo olhar sobre o conhecimento e a educao na atualidade: no mais a transmisso de contedos, e sim a formao de sujeitos cognitivos com competncias e habilidades para enfrentar situaes inesperadas, solucionar problemas, acompanhar o desenvolvimento do conhecimento em suas reas de interesse e respeitar a pluralidade cultural planetria. Isso possibilitou uma reviso sobre a funo social da educao, j que a educao, na perspectiva de Brando (2003), uma frao da experincia endoculturativa. Ela aparece sempre que h relaes entre pessoas e intenes de ensinar-aprender. Sendo assim, devemos considerar que a educao abrange os processos formativos que se desenvolvem em vrias esferas: na vida familiar, na convivncia humana, no trabalho, nas instituies de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizaes da sociedade civil e nas manifestaes culturais, conforme expressa o artigo 1 da LDB (1996). J Morin (2001) afirma que a educao , ao mesmo tempo, transmisso do antigo e abertura da mente para receber o novo. Mas o que o novo? Como se d o conhecimento, afinal? Vejamos na prxima seo. PARA SABER MAIS! Sobre informao, conhecimento e sociedade em rede acessem o site: http://www.paulofreire.org/Moacir_Gadotti/Artigos/Portugues/Formacao_do_Educado r/Sociedade_rede_2004.pdf

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1.1.1

TEORIA DO CONHECIMENTO

O encantamento e curiosidade do ser humano ao contemplar a Natureza, o Universo, enfim, as coisas que o cercam, d incio ao processo do conhecimento, que termina por produzir o saber de forma metdica e organizada. Isto s possvel porque existe o sujeito e o objeto. O sujeito aquele que conhece ou est disponvel a conhecer e refere-se ao sujeito cognoscente, inteligvel, que possui uma conscincia que lhe permite a apropriao e compreenso dos fatos, fenmenos e objetos ao seu entorno. O objeto, por sua vez, se refere quele que est disponvel a ser conhecido, ou seja, o cognoscvel, caracterizado pelos artefatos da natureza em geral. Assim, a relao entre o sujeito e o objeto produz o conhecimento humano e o saber. Portanto, o termo conhecimento vem do latim e significa cognoscere, conhecer pelos sentidos. O conhecimento passa a existir quando o indivduo traduz, pelo pensamento e linguagem, a experincia vivenciada. Portanto, o conhecimento e/ou o ato de conhecer se origina na busca de resoluo dos diversos problemas humanos, bem como s inquietaes inerentes ao viver. A teoria do conhecimento como seu nome indica uma teoria, isto , uma explicao ou interpretao filosfica do conhecimento humano. Mas, antes de filosofar sobre um objeto, necessrio examina-lo minuciosamente e decomp-lo. Uma exata observao e descrio do objeto devem preceder qualquer explicao e interpretao. necessrio, pois em nosso caso, observar com rigor e descrever com exatido aquilo a que chamamos conhecimento, esse peculiar fenmeno de conscincia. Ao conhecer, o homem procura apreender os traos gerais essenciais de um dado fenmeno, por meio da experincia e auto-reflexo. O fenmeno do conhecimento apresenta-se em seus aspectos fundamentais da seguinte maneira: no conhecimento encontram-se frente a frente o sujeito (conscincia) e o objeto (mundo); o conhecimento apresenta-se como uma relao entre estes dois elementos; o dualismo sujeito e objeto pertencem essncia do conhecimento. Vejamos o esquema a seguir:

A relao entre sujeito e objeto apresenta-se como uma correlao. A funo do sujeito consiste em apreender o objeto e a do objeto em ser apreendido pelo sujeito. Da se origina o conhecimento, como fruto da razo humana e das experincias vivenciadas e acumuladas pelo sujeito cognoscente. A crtica uma ferramenta fundamental para avaliao do conhecimento existente, consequentemente, para a produo de novos conhecimentos.

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Veja, a seguir, um breve esquema sobre a noo de conhecimento nas correntes filosficas do racionalismo, empirismos e interacionismo: 1. Racionalismo (RAZO) O conhecimento inato ao homem. Este j nasce com a razo pura, com o conhecimento, isto , com certas noes prvias sobre as coisas que existem no mundo. O sujeito influencia o objeto.

Pensador: Ren Descartes. S O2. Empirismo (EXPERINCIA) O homem semelhante a uma tabula rasa e, atravs da experincia com as coisas do mundo ele adquire e acumula conhecimentos. O objeto influencia o sujeito.

Pensador: John Locke. S O3. Interacionismo (INTERAO) O homem modifica o meio em que vive e, ao mesmo tempo, modificado por ele, ou seja, o homem produto e produtor do meio no qual se insere. H uma relao recproca entre sujeito e objeto, eles se influenciam mutuamente.

Pensador: Immanuel Kant S OAnalise a charge da Mafalda...

E reflita: De onde vem o conhecimento humano? ENRIQUEA SEUS CONHECIMENTOS! Conhea um esquema de idias interessante sobre teoria do conhecimento acessando o site: http://www.mundodosfilosofos.com.br/vanderlei22.htm

1.1.2

CONHECIMENTO: CONCEITOS E FUNDAMENTOS

O conhecimento pode ser visto como a apreenso da realidade por meio do pensamento e a capacidade de tornar lcido ao pensamento o que se apreendeu. Para Luckesi e Passos (2002, p.15), o conhecimento pode ser definido como elucidao da realidade, isto , o esforo de enfrentar o desafio da realidade, buscando o seu sentido, a sua verdade. J Aranha e Martins (1993, p.21) definem o conhecimento como *...+ o pensamento que resulta da relao que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido.8

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Enfim, conhecimento refere-se ainda a uma qualidade humana de interagir ativamente sobre o mundo a fim de garantir a sobrevivncia humana. O homem, utilizando de suas capacidades, procura conhecer o mundo que o rodeia, produzindo, assim, conhecimentos. A dimenso do conhecimento abrange o ato de conhecer, representado pela relao que se estabelece entre a conscincia que conhece e o mundo conhecido e o produto, resultado do contedo desse ato, ou seja, o saber adquirido e acumulado pelo homem ao longo da histria da humanidade. Se buscarmos a palavra francesa connaissance, podemos observar que o termo conhecimento originrio da palavra nascer (naissance). Os homens so diferentes dos outros seres exatamente pela capacidade de conhecer, sua conscincia. O conhecimento uma forma de estar no mundo, e o processo do conhecimento mostra aos homens que eles jamais so seres prontos ou possuem formulaes absolutas na medida em que esto sempre nascendo de novo, descortinar a realidade. Conhecer atividade especificamente humana. Ultrapassa o mero dar-se conta de, e significa a apreenso, a interpretao. Conhecer supe a presena de sujeitos; um objeto que suscita sua ateno compreensiva; o uso de instrumentos de apreenso; um trabalho de debruarse sobre. Como fruto desse trabalho, ao conhecer, cria-se uma representao do conhecido que j no mais o objeto, mas uma construo do sujeito. O conhecimento produz, assim, modelos de apreenso que por sua vez vo instruir conhecimentos futuros (FRANA, 1994, p. 140). O clebre educador brasileiro Paulo Freire (1979) explica que o conhecimento no pode ser visto como um ato, atravs do qual, um sujeito, transformado em objeto, recebe, passivamente, os contedos que o outro lhe oferece ou lhe impe. O conhecimento exige uma posio de enfrentamento e de transformao sobre a realidade, em um percurso constante de busca, portanto, de inveno e reinveno. Ele impe uma reflexo crtica do sujeito sobre o ato de conhecer a fim de que identifique os condicionamentos a que seu ato est submetido. J, para o socilogo e pensador francs Edgar Morin (1986, p. 16),O conhecimento um fenmeno complexo e multidimensional, simultaneamente eltrico, qumico, fisiolgico, celular, cerebral, mental, psicolgico, existencial, espiritual, cultural, lingstico, lgico, social, histrico. Oriundo necessariamente de uma atividade cognitiva, determina uma competncia de ao, constituindo-se no saber que intermdia ambos os processos.

Na filosofia, conforme as palavras de Abbagnano (1970, p. 45), o conhecimento, encontra-se definido como:[...] um procedimento operacional, uma tcnica de verificao de um objeto qualquer, isto , qualquer procedimento que torne possvel a descrio, o clculo ou a previso controlvel de um objeto; e por objeto de entender-se qualquer entidade, fato, coisa, realidade ou propriedade, que possa ser submetido a tal procedimento.

Ao materializar-se, o conhecimento assume diferentes formas: a do senso comum, da cincia, da filosofia, da religio. Isto corresponde aos quatro tipos de conhecimentos existentes: o senso comum ou conhecimento emprico; o conhecimento religioso; o filosfico; e o cientfico. Estes so os tipos mais comuns de conhecimento, muito embora alguns autores delimitem outros tipos, como o intuitivo e o mtico. Entretanto na prxima seo iremos nos ater aos quatro principais. PARA REFLETIR Afinal, o que conhecimento? Para obter respostas a este questionamento, acesse o site: http://www.mundodosfilosofos.com.br/vanderlei22.htm9

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SNTESENesta seo, vimos que o sujeito aquele que quer conhecer; e o objeto aquele a ser conhecido; e que a relao entre ambos resulta no conhecimento humano. Curioso que o homem (sujeito cognoscente) o nico elemento que pode ser sujeito e objeto do conhecimento. Isto porque ele dotado de uma conscincia que lhe permite investigar e ser investigado, embora em circunstncias distintas. Ex.: O cientista (homem) pode estudar outro homem em vrias perspectivas: da sociologia, investigar o homem na interao com os grupos sociais; na medicina, analisar a fisiologia do homem e as reaes qumicas do organismo; na biologia, avaliar os impactos do ecossistema no homem etc.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTARLUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete silva. Introduo filosofia: aprendendo a pensar. 4. ed. So Paulo: Cortez, 2002.

INDICAES DE SITEShttp://www.mundodosfilosofos.com.br/vanderlei22.htm http://www.paulofreire.org/Moacir_Gadotti/Artigos/Portugues/Formacao_do_Educador/Sociedade_re de_2004.pdf

1.2

TIPOS DE CONHECIMENTO

Este encontro versa sobre os tipos de conhecimento humano, seus conceitos, suas caractersticas, e a importncia das vrias tradies e maneiras de desvendar a realidade, enfatizando o conhecimento cientfico. Compreender os nveis de conhecimento um importante instrumento para maior orientao prtica no dia-a-dia, superao da ignorncia e da obscuridade face realidade, libertao individual e social, alm do uso dos diferentes nveis como suportes para a ao humana.10

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Com o propsito de explicitar os processos de produo e os modos de apropriao do conhecimento, se insere o tema em debate. Como j evidenciado, o conhecimento pode assim ser categorizado: popular, religioso, filosfico e cientfico. Apesar desta separao didtica no processo de apreenso da realidade do objeto, o sujeito pode penetrar nas diversas categorias, j que se encontra em contato permanente com tradies distintas de produo do conhecimento ao longo da histria. 1.2.1 CONHECIMENTO POPULAR

O conhecimento popular, tambm denominado de vulgar, emprico ou senso comum, resulta do modo espontneo e corrente de conhecer. o conhecimento que deu embasamento a todos os outros. Surgiu no incio da caminhada empreendida pelo ser humano atravs de sua relao com o mundo na expectativa de sobrevivncia e seguir enquanto o ser humano existir. Para Ander-Egg (1978), as caractersticas do conhecimento popular so: "superficial, sensitivo, subjetivo, assistemtico e acrtico". superficial porque no se aprofunda nas observaes, acredita no que viu e na maneira como foi contado o fato. sensitivo porque se contenta com as aparncias e emoes do cotidiano. subjetivo porque o prprio sujeito que organiza o saber e as experincias, tanto aqueles que as obtm por vivncia, quanto os que as aprenderam por "ouvir dizer". assistemtico porque no sistematiza as experincias e as idias, nem tampouco a forma como as adquiriu e nem as tentativas de valid-Ias. Esta caracterstica fundamenta-se na "organizao" particular das experincias prprias do sujeito cognoscente, e no em uma sistematizao das idias, na procura de uma formulao geral que explique os fenmenos observados, aspecto que dificulta a transmisso de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. Finalmente, acrtico porque sendo verdadeiro ou no, sempre recebe crticas. O conhecimento emprico no explica o "porqu" da ocorrncia dos fatos ou fenmenos. Ele se basta por si s, porque se refere sobrevivncia do homem e passado de gerao a gerao. O conhecimento popular, academicamente tido ainda como, valorativo, por excelncia, pois se fundamenta em uma seleo operada com base em estados de nimo e emoes; tambm verificvel, visto que est limitado ao mbito da vida diria e diz respeito quilo que se pode perceber no dia-a-dia. Finalmente falvel e inexato, pois se conforma com a aparncia e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Em outras palavras, no permite a formulao de hipteses sobre a existncia de fenmenos situados alm das percepes objetivas. Barros e Lehfeld (1986), classificam de conhecimento sensvel o senso comum e relacionam com caractersticas as mesmas j indicadas. Apenas usam as terminologias, destitudo de mtodo, para assistemtico e impregnado de projees psicolgicas para acrtico. Vejamos as classificaes: a)Superficial, isto , conforma-se com a aparncia, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas, expressando-se por frases como "por que o vi", "por que o senti", "por que o disseram", "por que todo mundo o diz". b)Sensitivo, ou seja, referente s vivncias, aos estados de nimo e s emoes da vida diria. c)Subjetivo, pois o prprio sujeito que organiza suas experincias e conhecimentos, tanto os que adquirem por vivncias prprias quanto os "por ouvi dizer". d)Assistemtico, pois esta "organizao" das experincias no visa sistematizao das idias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de valid-las.11

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e)Acrtico, pois, verdadeiros ou no, a pretenso de que esses conhecimentos o sejam no se manifesta sempre de forma crtica. 1.2.2 CONHECIMENTO RELIGIOSO

O conhecimento religioso ou teolgico sempre foi direcionado no sentido de se compreender a realidade do homem e do Universo. No demonstra e nem experimenta. Explica tudo pela f e revelao divina. Conforme Lakatos e Marconi (2003), este conhecimento se apia em doutrinas que contm proposies sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades so consideradas infalveis, e indiscutveis (exatas); um conhecimento sistemtico do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino; suas evidncias no so verificveis: esto sempre implcitas uma atitude de f perante um conhecimento revelado. Assim, o conhecimento religioso parte do princpio de que as "verdades" tratadas so infalveis e indiscutveis, por consistirem em "revelaes" da divindade. O conhecimento teolgico supe e exige a autoridade divina; nele se fundamenta e s a ele atende; a cincia ao contrrio, no supe, no exige, no admite autoridade; a cincia s admite o que foi provado, na exata medida em que se podem comprovar experimentalmente os fatos. Santos (2002), explica que depois do senso comum este tipo de conhecimento o mais antigo. Derivou do conhecimento mtico e se confunde com ele na explicao do princpio de tudo. Nesta fase mtica dois ramos de interpretao se estabelecem. Um admitia a existncia de vrios deuses para explicar, o bem, o mal, os fenmenos e as coisas. O outro admitia um s Deus soberano, criador e sustentador de tudo e de todos; e tudo, escrito, falado e registrado, era transmitido por revelao de Deus. Os livros sagrados representam este tipo de conhecimento. 1.2.3 CONHECIMENTO FILOSFICO

O conhecimento filosfico como o prprio termo indica originrio da Filosofia. Esta palavra foi utilizada pela primeira vez por Pitgoras no sculo VI a.C. Em sentido etimolgico, Filosofia significa devotamento sabedoria, isto , amigo da sabedoria, o que significa interesse em acertar nos julgamentos sobre a verdade e a falsidade, sobre o bem e o mal. A Filosofia tem como propsito questionar os problemas reais, usando princpios racionais. Ela procede de acordo com as leis formais do pensamento, tem mtodo prprio, predominantemente dedutivo em suas colocaes crticas. A filosofia pode ser definida ainda como o conjunto de estudos ou consideraes que se caracterizam pela inteno de ampliar a compreenso da realidade, no sentido de apreend-la em sua inteireza, quer pela busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer pela definio do instrumento capaz de apreender a realidade. Assim, podemos considerar que a filosofia indaga, traa rumos, assume posies, estruturas correntes que inspiram ou dominam mentalidades em determinados perodos, mas que, em seguida, perdem vigor diante de novas concepes, que geralmente hostilizam as anteriores, maneira das correntes literrias, das artes em geral ou das religies. Para Santos (2002), o conhecimento filosfico valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipteses, que no podero ser submetidas observao: "as hiptese filosficas baseiam-se na experincia, portanto, este conhecimento emerge da experincia e no da experimentao"; por este motivo, o conhecimento filosfico no verificvel, j que os enunciados das hipteses filosficas, ao contrrio do que ocorre no campo da cincia, no podem ser confirmados nem refutados.12

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racional, em virtude de consistir em um conjunto de enunciados logicamente correlacionados; sistemtico, pois suas hipteses e enunciados visam representao coerente da realidade estudada, em uma tentativa de apreend-la em sua totalidade; infalvel e exato, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definio do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipteses, no so submetidos ao decisivo teste da observao (experimentao). Portanto, o conhecimento filosfico caracterizado pelo esforo da razo pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo s luzes da prpria razo humana. 1.2.4 CONHECIMENTO CIENTFICO

O conhecimento cientfico representado pela Cincia e pode ser definido como o conjunto organizado de conhecimentos sobre um determinado objeto, obtidos mediante a observao, a experincia dos fatos e um mtodo prprio. Neste sentido, so requisitos bsicos do conhecimento cientfico: a) que o campo do conhecimento seja delimitado, bem caracterizado e formulado o assunto que se deseja investigar; b) que existam mtodos adequados de pesquisa para o estudo em questo. Diferentemente do que acontece com o conhecimento vulgar, o conhecimento cientfico no atinge simplesmente os fenmenos em sua manifestao global, mas os atinge em suas causas, na sua constituio ntima, caracterizando-se, desta forma, pela capacidade de analisar, de explicar, de justificar, de induzir ou aplicar leis, isto , de predizer com segurana eventos futuros. O conhecimento cientfico visa conhecer pelas causas, isto , saber cientificamente, tambm ser capaz de demonstrar. O conhecimento cientfico difere do conhecimento vulgar porque explica os fenmenos e no s os apreende. O conhecimento cientfico crtico, rigoroso, objetivo, nasce da dvida e se consolida na certeza das leis demonstradas. PARA SABER MAIS... Sobre esprito cientfico e descubra como se origina uma investigao cientfica. http://br.geocities.com/perseuscm/espiritocientifico.html Lakatos e Marconi (2003) caracterizam o conhecimento cientfico da seguinte forma: real (factual) porque lida com ocorrncia ou fatos, isto , com toda "forma de existncia que se manifesta de algum modo". Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposies ou hipteses tm sua veracidade ou falsidade conhecida atravs da experincia e no apenas pela razo, como ocorre com o conhecimento filosfico. sistemtico, j que se trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de idias (teorias) e no conhecimentos dispersos e desconexos. Possui a caracterstica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmaes (hipteses) que no podem ser comprovadas no pertencem ao mbito da cincia. Constitui-se em conhecimento falvel, em virtude de no ser definitivo, absoluto ou final e, por este motivo, aproximadamente exato: novas proposies e o desenvolvimento de tcnicas podem reformular o acervo de teoria existente. Esse tipo de conhecimento se distingue dos demais tipos apresentados, visto que oferece a verificao do fato pesquisado, falvel e sistemtico. A cincia se preocupa em estabelecer as propriedades e os padres interdependentes entre as propriedades, para construir as generalizaes ou as leis.

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No se duvida, entretanto, que muitas das disciplinas cientficas existentes tm surgido das preocupaes prticas da vida cotidiana, como a geometria dos problemas de medio e levantamento topogrfico nos campos; a mecnica de problemas apresentados pelas artes arquitetnicas; a biologia dos problemas humanos [...] (TRUJILLO, 1982, p. 6). Assim, podemos considerar que a pesquisa cientfica deve ser orientada para buscar resolver ou apresentar solues para os problemas sociais, econmicos, polticos e cientficos existentes. Conforme o exposto, o conhecimento cientfico estruturado, limitado e utilizam-se modelos, verificveis, falveis, aproximadamente exatos. Assim, conclumos que as verdades cientficas so provisrias e nunca absolutas e acabadas. Barros e Lehfeld (2000, p. 38) destacaram os seguintes princpios sobre o conhecimento cientfico:O conhecimento cientfico surgiu a partir das preocupaes humanas cotidianas e esse procedimento conseqente do bom senso organizado e sistemtico. O conhecimento cientfico transcende o imediatamente vivido e observado, buscando a formulao de paradigmas. O conhecimento cientfico, considerado como um conhecimento superior exige a utilizao de mtodos, processos, tcnicas especiais para a anlise, compreenso e interveno na realidade. A abstrao e a prtica ho de ser dominadas por quem pretende trabalhar cientificamente.

Conforme apresentao e descrio dos tipos de conhecimento e suas caractersticas principais, vejamos, de forma breve e resumida, as caractersticas apresentadas por Santos (2002).

APROFUNDE SEUS CONHECIMENTOS. Pesquisando sobre os tipos de conhecimento humano, conhecimento relacionado educao, na perspectiva de Jean Piaget; e ainda, buscar respostas para as perguntas: o que o conhecimento? ou como os diversos tipos de conhecimento so possveis? Na abordagem de autores diversos, acesse os sites: http://www.puc-rio.br/sobrepuc/depto/dad/lpd/download/tiposdeconhecimento.rtf http://www.ufrgs.br/faced/slomp/edu01136/piaget-epistemo.htm

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SNTESEPara finalizar este encontro, apresentamos, brevemente, a concepo e a classificao de Jean Piaget sobre o conhecimento e apropriao da realidade. Ele acreditava que o conhecimento s poderia ser construdo atravs da atuao do indivduo com o meio ou da interao do indivduo; e, assim, definiu trs tipos de conhecimento: Conhecimento fsico: conhecimento das propriedades fsicas dos objetos e eventos. um conhecimento inerente ao objeto (descoberta, atravs da experincia, da natureza dos objetos), resultante a ao sobre o ambiente. Conhecimento lgico-matemtico: conhecimento construdo pelo sujeito, mediante as experincias com os objetos. Refere-se aos conceitos elaborados sobre um grupo de objetos; e tambm resultante da ao sobre o ambiente. Conhecimento social: conhecimento construdo a partir de convenes estabelecidas por grupos sociais ou culturais, um conhecimento desenvolvido atravs das interaes entre sujeitos.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTARSANTOS, Izequias Estevam dos. Textos selecionados de mtodos e tcnicas de pesquisa cientfica. 3. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2002.

INDICAO DE SITEShttp://br.geocities.com/perseuscm/espiritocientifico.html http://www.puc-rio.br/sobrepuc/depto/dad/lpd/download/tiposdeconhecimento.rtf http://www.ufrgs.br/faced/slomp/edu01136/piaget-epistemo.htm

1.3

A CINCIA E SUAS CARACTERSTICAS

Esta seo de encontros aborda as concepes existentes sobre cincia, considerando seu contexto histrico e cultural, os elementos que a caracterizam e as suas limitaes no cenrio contemporneo. Analisaremos a importncia da estruturao do conhecimento cientfico na evoluo da sociedade. 1.3.1 A CINCIA E O FAZER CIENTFICO

No podemos abordar o fazer cientfico sem antes considerar o que cincia, qual o seu objetivo e o seu papel na sociedade. Estas questes so fundamentais para compreenso dos processos cientficos que o estudante deve lanar mo para organizar os conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida acadmica.

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Vamos, ento, iniciar o nosso debate com o conceito de Cincia. Ele pode ser concebido como um conjunto de conhecimentos, que se d atravs da utilizao adequada de mtodos rigorosos, capazes de controlar os objetos, fatos e fenmenos investigados. Relaciona-se esse conhecimento aos objetos empricos, passveis de observao e experimentao.

A etimologia da palavra cincia: Cincia (scire) saber, conhecer.

Barros e Lehfeld (2000, p. 41) explicam: a cincia tambm definida como sendo o estudo de problemas formulados adequadamente em relao a um objeto, procurando para ele solues plausveis, atravs da utilizao de mtodos cientficos. Para Ander-Egg (1978), em sua obra Introducin a las tcnicas de investigacin social, a cincia um conjunto de conhecimentos racionais e provveis, que obtido de forma metdica, sistematizada e verificvel. J Trujillo (1974), a define da seguinte maneira: a Cincia todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemtico conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido verificao. Assim, em todas as reas do conhecimento humano a cincia atravs da pesquisa cientfica visa descrever, explicar e prever os fenmenos que integram a realidade em questo, tornando o mundo inteligvel mediante interpretaes racionais e sistemticas em que se assegura o conhecimento cientfico. Entre os objetivos da cincia esto a busca do controle prtico da natureza, a descrio e compreenso do mundo e a possibilidade de predio. Estes so determinados pela necessidade que o sujeito possui em compreender e controlar os fenmenos que o cercam. Portanto, a necessidade do homem por uma compreenso mais aprofundada do mundo, bem como a necessidade de preciso para a troca de informaes, que acabam levando-o elaborao de sistemas mais estruturados de organizao do conhecimento. Conforme Trujillo (1974), a cincia manifesta-se atravs de mtodos e construes intelectuais que:Possibilitam a interpretao e a explicao adequada dos objetos, fatos e fenmenos da realidade; visam verificao dos fenmenos, atravs da observao e experimentao; possibilitam a observao racional e o controle dos fatos; fundamentam os princpios da generalizao ou o estabelecimento dos princpios e das leis.

Segundo Ferrari (1982, p. 3), o papel da cincia na viso contempornea o de proporcionar: aumento e melhoria do conhecimento; descoberta de novos fatos e fenmenos; aproveitamento espiritual, aproveitamento material do conhecimento; estabelecimento de certo tipo de controle sobre a natureza. Assim, do conhecimento cientfico e/ou da pesquisa cientfica que a Cincia se constitui, por isso buscamos estabelecer relao entre ambas. A pesquisa cientfica um processo que comea quando se coloca um problema que precisa de soluo, e para encontr-la o sujeito, ou melhor, o especialista social, deve elaborar um projeto de pesquisa que lhe permita descobrir, explicar e, se possvel, prever determinadas situaes, bem como repercusses que a soluo proposta h de ter no social, afirma Soriano (2004).

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PARA SABER MAIS Pesquise sobre as principais concepes de cincia na dissertao de mestrado intitulada Evoluo das concepes de alunos de cincias biolgicas da UFBA sobre a natureza da cincia: influncias da iniciao cientfica, das disciplinas de contedo especfico e de uma disciplina de histria e filosofia das cincias. Acesse o site: http://www.ppgefhc.ufba.br/dissertacoes/eraldo2003.pdf

1.3.2

CONCEPES DE CINCIA

Muitos so os conceitos de cincia, pois cada autor imprime sua viso sobre o contedo. No que diz respeito sua contextualizao histrica, podemos dividir a cincia em trs perodos, representado por suas caractersticas e paradigmas tericos, que alteram a viso de homem, mundo, bem como cincia e mtodo. As fases histricas so: a cincia grega, representada pelo perodo que vai do sculo VIII a.C. at o final do sculo XVI; a cincia moderna, do sculo XVII at o incio do sculo XX e a cincia contempornea que surge no incio deste sculo e perdura at os dias. Cincia Grega Na Grcia antiga, a partir do sculo VIII a.C. e alcanando o sculo IV a.C. A cincia tinha como princpios fundamentais a compreenso da natureza e a busca pela verdade e pelo saber e era conhecida como filosofia da natureza. Nesta poca, o conhecimento cientfico era vinculado ao campo da filosofia, tendo os grandes filsofos como cientistas. Nesta fase, no havia a distino entre cincia e filosofia. A filosofia tambm conhecida como me de todas as cincias, foi responsvel pela origem dos diversos ramos do conhecimento, por exemplo, a biologia, a fsica, a tica, a aritmtica, a metafsica, a antropologia, a medicina e tantas outras cincias. O conhecimento cientfico produzido era demonstrado como correto e justificvel atravs de argumentos lgicos. Nesta fase, no havia um tratamento sistemtico do problema, mas sim a preocupao com a demonstrao da tese, tendo como recurso usual o discurso e a lgica. Anaximandro, Herclito, Empdocles, Tales de Mileto, Parmnides, Pitgoras, Anaxgoras, Demcrito conhecidos como os pr-socrticos; e Scrates, Plato e Aristteles so alguns dos principais filsofos deste perodo. Cincia Moderna A cincia moderna, resultante da revoluo cientfica do Renascimento, caracterizada, basicamente, pela experimentao cientfica, o que acarretou mudana na viso de mundo, especialmente, de cincia, de verdade, de conhecimento e de mtodo. Nesta fase, as tradies de natureza religiosa, filosfica, ou cultural, foram abandonadas, pois distorciam a verdadeira viso do mundo. A verdade passa a ter como critrio, na cincia moderna, o da relao entre a assertiva dos enunciados e a evidncia dos fenmenos, direcionada pelo experimento cientfico e seus mtodos rigorosos. Dente os principais nomes da cincia moderna, esto: Bacon, Galileu, Newton, Coprnico e Kepler.

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Conhea o esquema de mtodo de Galileu Galilei, basilar da cincia contempornea e, consagrado neste perodo, segundo Santos (2002, p. 94):

Cincia Contempornea Com os tericos contemporneos, a exemplo de Einstein, Bohr e Heisenberg, dentre outros, o mito da pesquisa isenta de influncias subjetivas foi desencorajado. A cincia moderna foi caracterizada, sobretudo, pela proposta de uma interpretao humana sobre a experincia, mais do que uma simples descrio da realidade. O cientista examina, julga e critica suas formulaes, em um movimento de reviso constante, com o auxlio das novas tecnologias da informao e comunicao. No final do sculo XIX e incio do XX, ocorre uma tomada de conscincia de que a cincia necessita de reavaliao, por parte de alguns pensadores, que passaram a colocar em dvida a validade dos mtodos cientficos utilizados naquela poca. Desta forma, o prprio conceito de cincia questionado, seus critrios, a noo de certeza, da relao entre cincia e realidade e a veracidade dos modelos cientficos na compreenso da realidade. Alm dos pensadores citados, um grande expoente da epistemologia contempornea Karl Popper. Este terico defendeu a tese de que o cientista deve ocupar-se muito mais com o possvel levantamento de teorias que refutem sua tese, do que com explicaes e justificaes que asseguram sua validade. Depois de Popper, a histria da cincia agraciada com a contribuio de Kuhn. Este terico negou a teoria anterior e sustentou que a idia de que a cincia progride pela ideal de refutao, que possibilitam a construo de novas teorias. Estas produzem novos paradigmas, que servem como referncia para a produo de outros conhecimentos. Feyerabend chegou a uma sntese a partir das duas teses anteriores. Ele defendeu o pluralismo metodolgico, desacreditando as posies positivistas, idia de um mtodo nico, capaz de responder s indagaes da pesquisa. Acredita que as normas de pesquisa so violadas, pois o cientista desenvolve aquilo que mais lhe agrada. Assim, estes trs pensadores modificaram profundamente a noo de cincia como absoluta, previsvel, controlvel e destituda de subjetividade por quem a produz. No contexto atual, marcado pela velocidade de informaes, o mtodo cientfico vem sofrendo um acentuado processo de mudana. Segundo Santos (2002), o cientista moderno busca chegar verdade perpassando as fases a seguir: a) descobrimento do problema; b) delineamento do problema; c) uso de instrumentos relevantes; d) tentativa de soluo com meios identificados; e) inveno de novas idias; f) obteno de uma resposta aproximada; g) pesquisa das conseqncias em relao soluo obtida; h) confronto das respostas; i) correo das hipteses; e caso a soluo for incorreta comea-se um novo ciclo.18

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Caractersticas da CinciaBarros e Lehfeld (2000) abordam as seguintes caractersticas como constituintes da cincia: a) racionalidade; b) coerncia; c) representao do real; d) questionamento sistemtico; e) analtica; f) exige investigao e utilizao de mtodos; g) agrupa objetos da mesma espcie para a investigao; h) comunicvel. Vejamos suas definies: Racionalidade: utilizao do raciocnio analtico, lgico e sinttico, desconsiderando as impresses subjetivas e a emoo. Trata-se da racionalizao do conhecimento, caracterizada pela sistematizao e coordenao metdica do raciocnio, observao, concluso e aplicaes frente aos fatos, fenmenos e objetos da natureza. Coerncia: investigao sistemtica entre a idia e o fato, isto , visa estabelecer concordncia entre o objeto e o conhecimento, procurando aferir a verdade a uma determinada realidade. Em uma perspectiva crtica visam atingir a objetividade e mensurao na pesquisa. Representao do Real: representa um quadro abstrato e codificado do real, isto , o contedo concreto apreendido pelos sentidos, pelo pensamento sobre a realidade circundante. Questionamento Sistemtico: a cincia, atravs de seus estudos, busca sempre sua superao. Para tanto, lana mo do questionamento contnuo, debate, justificativas, demonstraes e crticas pondo em dvida a legitimidade dos argumentos e das razes fundamentais. Analtica: delimitao e decomposio do objetivo do estudo. Analisar significa examinar cada fragmento e/ou parte de um todo. Trata-se de um estudo pormenorizado que se empreende no exame de cada parte de um todo, tendo em vista conhecer sua natureza, suas propores, suas funes, suas relaes. Exige investigao e utilizao de mtodos: utilizao rigorosa de estratgias para pesquisar, indagar, inquirir o fenmeno estudado. Trata-se de um caminho pelo qual se atinge determinado objetivo, lanando mo de mtodos seguros e confiveis de se validar o conhecimento. Agrupa objetos da mesma espcie para a investigao: trata-se da extenso de um princpio ou de um conceito a todos os casos a que se pode aplicar. Esta caracterstica pode ser entendida como processo pelo qual se reconhecem caracteres comuns a vrios objetos singulares, da resulta quer na formao de um novo conceito ou idia quer no aumento da extenso de um conceito j determinado que passe a cobrir uma nova classe de exemplos, a fim de facilitar a investigao cientfica. Comunicvel: uma vez validadas, as descobertas cientficas, so comunicadas sociedade, pois servem de estmulo resoluo dos demais problemas individuais e sociais. Limitaes da Cincia: o homem sempre empreendeu esforos para validar como verdade as descobertas sobre o mundo e, para tanto, utilizou os princpios de objetividade, universalidade e neutralidade cientfica para seus experimentos, visando interpretao e explicao dos objetos, fatos e fenmenos. Entretanto como produto eminentemente humano, a cincia no se caracteriza pela perfeio. Por este fato, ela est em constante processo de renovao. Novos aparatos tecnolgicos e procedimentos cientficos so desvendados e promovem a descoberta de novas leis e teorias cientficas.

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Na viso de Demo (2000, p. 46),A cincia edifcio bastante frgil: o melhor que pode alcanar a oferta de apreciao continuamente cambiantes de como as coisas funcionam. Nosso conhecimento sempre atacvel e provisrio. Cada nova teoria cientfica est condenada a ser objetada sempre pela seguinte.

Sendo assim, a cincia to mutvel como quem a produz: o homem. Toda resposta a questionamentos cientficos levanta uma gama de outras discusses. O que significa dizer que do conhecimento novo que se originam tanto outros, uma espcie de lapidao da verdade, basta fazer uma analogia com o processo de lapidao do diamante. Assim tambm ocorre com o conhecimento humano. Tosco no princpio, mas aos poucos, torna-se capaz de resolver uma diversidade de problemas, especialmente, a cura para doenas e revolues tecnolgicas. A cincia e a tecnologia so os pilares fundamentais para atender aos objetivos de aumento e melhoria do conhecimento humano, mas elas no podero ser bem sucedidas seno por uma integrao da cincia e da cultura e, por uma aproximao integrada, que vise sobrepujar a fragmentao que se encontra o pensamento humano, encabeado pela concepo mecanicista do conhecimento. Na viso de Weill (1993), acumulamos conhecimentos em quantidade. Mas, sem sabedoria para us-los, podemos destruir-nos e ao mundo no qual habitamos. O autor acredita que o homem quebrou a unidade do conhecimento e distribuiu os pedaos entre os especialistas. Para os cientistas, entregamos a natureza; aos filsofos, mente; aos artistas, ao belo; aos telogos e alma. No satisfeitos, fragmentamos a prpria cincia, espalhando-a pelos domnios da matemtica, da fsica, da qumica, da biologia, da medicina e de tantas outras disciplinas. O mesmo ocorreu com a filosofia, a arte e a religio, cada um desses ramos se subdividindo ao infinito. Entretanto a proposta da cincia contempornea de sntese e de integrao entre as tradies construdas pela humanidade ao longo da histria, pois devemos ter como princpio, a reorientao da cincia e da tecnologia em direo das necessidades fundamentais do homem, considerando no apenas os progressos da informtica, da biotecnologia, de engenharia gentica, mas a integrao do pensamento e da ao humana, bem como a incorporao de uma nova conscincia para a produo tica de novos conhecimentos. PARA SABER MAIS! H progressos impensveis na cincia. Os cientistas norte-americanos criaram um teste de HIV que d o diagnstico do paciente em apenas 20 minutos. O teste rpido para deteco de anticorpos contra o vrus HIV requer apenas uma gota de sangue e pode fornecer resultados precisos em tempo exguo. O aparelho que realiza o teste j se encontra venda nos Estados Unidos e, certamente, chegar em breve ao Brasil.

http://www.medcompare.com/showcase.asp?showcaseid=9120

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TEXTO COMPLEMENTARO que , afinal, metodologia cientfica? Para obter resposta a este questionamento, acesse: http://www.leffa.pro.br/textos/Metodologia_pesquisa.pdf. Este texto discute como o conhecimento cientfico foi construdo na histria, a sua natureza e relaes. Pesquise a sua referncia completa e discuta com seus colegas.

SINTESESendo assim, busque outras referncias (livros, internet) e comente o exemplo acima, referendando os efeitos positivos e negativos da cincia no que se refere vida individual e coletiva, isto , evoluo da sociedade. Acesse a Wikipdia a enciclopdia livre da internet - e leia temas interessantes como cincia, mtodo cientfico, filosofia da cincia e campos da cincia.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTARBARROS, Aidil Jesus Paes de; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de Metodologia Cientfica: um guia para a iniciao cientfica. So Paulo: Makron Books, 2000 CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia Cientfica. So Paulo: O Nome da Rosa, 2000, p. 11-69 CHAU, Marilena. A preocupao com o conhecimento. In:______. Convite filosofia. 12. ed. So Paulo: tica, 2001, p. 109-119.

INDICAO DE SITEShttp://www.unicamp.br/~chibeni/texdid/ciencia.doc http://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia http://saude.bol.com.br/medicina/folha/2002/11/12/02.jhtm

1.4

PESQUISA CIENTFICA

Apresentamos, neste encontro, as concepes epistemolgicas da pesquisa cientfica que tomaram flego ao longo da histria e seus princpios tericos, bem como os pensadores que as representaram. As concepes de cincia so marcadas pelo seu contexto histrico e cultural, portanto, a cincia, em sua evoluo, adquiriu concepes diferenciadas e estes paradigmas influenciaram os processos que envolvem a pesquisa cientfica. As diversas correntes passaram a agregar a epistemologia das cincias. Como estamos nos referindo concepo epistemolgica da cincia, cabe elucidar o conceito de epistemologia; j que o conceito de cincia foi abordado em sees anteriores. A epistemologia um ramo da filosofia que tem por objetivo principal estudar os pressupostos ou fundamentos do conhecimento cientfico em geral e de cada cincia em particular. A "filosofia da cincia" (o mesmo que epistemologia) um ramo extremamente amplo cujos principais temas nem sempre h acordo entre os seus tericos. A falta de consenso no deve ser motivo de grande preocupao ou tampouco de desistncia por parte daqueles que se iniciam nas sendas do conhecimento cientfico. Basta observar que, apesar dos inmeros problemas colocados pelos estudiosos da epistemologia, a cincia ocupa um lugar de especial relevncia no mundo contemporneo.21

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Alm do mais, no podemos esquecer que as cincias esto continuamente em formao. Certos setores ou limites de uma determinada cincia do lugar, com o passar do tempo, a cincias novas e a novas correntes cientficas. Os tericos da cincia (epistemlogos) estudam diversas questes, tais como os diferentes tipos e evoluo das teorias cientficas, a lgica da linguagem cientfica e seus aspectos metodolgicos. Sem dvida, o primeiro grande tema da epistemologia definir que tipo de saber o cientfico e quais os paradigmas que o circundam. Vrias respostas tm sido dadas a essa questo e, de uma maneira geral, nenhuma delas plenamente absoluta. Vejamos, ento, as correntes existentes e uma breve explicao de seus fundamentos. 1.4.1 POSITIVISMO

Encabeado pelo filsofo francs Auguste Comte, tambm considerado o pai da Sociologia, o positivismo representa uma corrente cientfica que tem como fundamento principal a experimentao, sob influncia das cincias experimentais no incio do sculo XIX. A Cincia representada pela maturidade do esprito humano e a imaginao est subordinada observao, sendo eminentemente previsvel e controlvel. Comte foi o grande expoente do positivismo. Ele defendeu a tese de que o homem, em seu processo de conhecimento, assume trs estgios de explicao: teolgico; metafsico; positivo ou cientfico. O primeiro caracterizado pelas explicaes mitolgicas; o segundo, pelas explicaes msticas; e o terceiro, pelas fundamentaes cientficas. Este ltimo tem como foco central a observao; os estudos descritivos; a existncia dos fenmenos; utilizao de modelos matemticos, por isso, o uso de tcnicas estatsticas; as relaes entre variveis e fatos. Nessa abordagem, o pesquisador necessita observar os fenmenos com cuidado especial, a fim de quantificar suas variveis e atingir os resultados, por meio da iseno da subjetividade. Para tanto, dever lanar mo de alguns mtodos das cincias exatas, transpondo-as s cincias sociais e humanas, o que certamente reduz a amplitude da anlise. A Cincia, nesse caso, tem como propsito essencial estabelecer relaes entre os fatos e descreve-los com detalhamento. Apesar de o positivismo ter ganhado grande aderncia e representatividade na segunda metade do sculo XIX, atualmente, perdeu parte de sua influncia, por causa dos contra-argumentos de outros grupos ou organizaes, no sculo XX. Apesar de algumas crticas, esta teoria bastante utilizada nos centros de pesquisas, por se tratar de uma elaborao sistemtica e metdica acerca da realidade, especialmente, pelas pesquisas de carter experimental e quantitativo. Auguste Comte (1798-1857) apontado como o iniciador da "cincia", especialmente a Sociolgica. Ele foi professor de matemtica da Escola Politcnica (Paris) e em 1842 publicou, em seis volumes, o seu principal livro, Curso de Filosofia Positiva. Sua doutrina seguiu posteriormente um curso sensivelmente distinto aps ter conhecido Clotilde de Vaux. Os fundamentos dessa nova fase do seu pensamento encontram-se no livro Sistema de Poltica Positiva, publicado, em quatro volumes, no ano de 1851. Alm de se preocupar com questes prticas e morais, Comte instituiu nessa obra a "religio positivista da humanidade" que, governada por socilogos-sacerdotes, deveria oferecer finalmente uma unidade e harmonia de pensamento, sentimentos e aes entre os homens. Muitos seguidores de Comte romperam com ele devido a essa proposta. Este pensador exerceu uma profunda influncia em outros tericos, principalmente em Herbert Spencer e Emile Durkheim. Desenvolveu uma teoria ou doutrina conhecida como positivismo ou filosofia positiva.22

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1.4.2

FUNCIONALISMO

Entre as dcadas de 1930 e 1960, o funcionalismo foi a teoria dominante nas cincias sociais. Nos fins do sculo XX, perdeu grande parte de sua representatividade, mas no ficou desaparecida. Segundo essa corrente, a Cincia incorpora uma viso de sistema, portanto, ela trata de proceder a investigaes sobre formas durveis da vida sociocultural de uma dada realidade. A cincia social por excelncia analisa o desempenho e posies de papis, normas, organizaes, funes etc. O socilogo francs mile Durkheim o expoente do funcionalismo. Nesta corrente, medida que h ordem, ocorre o progresso. Para ele, cada indivduo exerce uma funo especfica na sociedade e sua m execuo compromete o funcionamento desta. Por sociedade, entende um todo em funcionamento, como um sistema de operao. Para interpretar a sociedade, realizou estudos sobre o fato social. Este define como elemento exterior medida que existe antes do prprio indivduo; e coercitivo na medida em que a prpria sociedade posiciona suas normas, sem a opinio dos sujeitos dela partcipes. O mtodo funcionalista toma a sociedade como uma estrutura complexa de grupos ou indivduos reunidos em uma trama de aes e reaes sociais, isto , como sistema de instituies sociais correlacionadas entre si, em uma relao de ao e reao. Assim, a teoria funcionalista enfatiza a existncia de regras e valores comuns essenciais manuteno (ordem) de uma sociedade. Auguste Comte, Herbert Spencer e mile Durkheim foram os socilogos que mais influenciaram o funcionalismo. Todos eles partem do pressuposto de que a sociedade pode ser vista como um "organismo biolgico", constitudo de uma estrutura orgnica ou sistmica. Desta maneira, a sociedade concebida como um conjunto composto de elementos que interagem entre si para a manuteno e harmonia de um todo. Os componentes do sistema contribuem significativamente para o pleno funcionamento da sociedade. O filsofo e socilogo francs mile Durkheim um clssico para as cincias sociais. Suas obras so at hoje lidas e servem como referncia para muitos tericos das cincias sociais. Foi professor da Sorbonne e o primeiro professor da cadeira de sociologia nessa instituio. Atravs da revista por ele coordenada, L'Anne Sociologique, influenciou muitas reas do conhecimento social, como a antropologia, a histria e a lingstica. Em 1893 publicou sua tese de doutoramento, A Diviso Social do Trabalho; em 1895, seu principal trabalho, As Regras do Mtodo Sociolgico. Logo em seguida, em 1897, aplicou a sua metodologia no seu livro O Suicdio, um das pesquisas mais importante na histria da sociologia. A sua obra mais famosa As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912). Durkheim considerado fundador da "Escola Objetiva Francesa", a qual congregava um conjunto de cientistas sociais que participavam da revista Anne Sociologique, por ele fundada. O seu pensamento usualmente classificado como "realismo sociolgico", devido a sua concepo de tratar os fenmenos humanos como dotados de uma realidade especfica. Durkheim tambm um dos principais representantes da sociologia sistmica, na qual h uma grande nfase na anlise dos desempenhos de sujeitos individuais ou coletivos que interagem mediante comportamentos especficos (morais, econmicos, polticos, religiosos etc.) previstos por normas reguladoras. A idia de sistema social norteadora nesse tipo de anlise sociolgica.23

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1.4.3

ESTRUTURALISMO

A corrente estruturalista toma a realidade social como um conjunto formal de relaes. A Cincia entendida como um procedimento teleolgico da historicidade e da finalidade a se atingir, por isso, construdo atravs de inquisies. Por teleolgico entende-se argumento, conhecimento ou explicao que relaciona um fato sua causa final.

O mtodo funcionalista foi um dos mais utilizados para analisar a lngua, a cultura e a sociedade. O Estruturalismo melhor visto como uma abordagem geral com muitas variaes diferentes, entretanto, de modo geral, ele visa explorar as inter-relaes, isto , as estruturas, atravs das quais o significado produzido dentro de uma cultura. Existem marcadas diferenas entre os autores que compem essa "escola", mas todos eles manifestam uma preocupao em analisar as estruturas sociais. Em termos gerais, o estruturalismo procura as leis universais e invariantes da humanidade que operam em todos os nveis da vida humana. Para as cincias sociais, a obra mais importante no estruturalismo foi realizada pelo antroplogo francs Claude Lvi-Strauss, nascido no ano de 1908. Ele iniciou sua carreira ensinando na Universidade de So Paulo. Lvi-Strauss analisou vrias sociedades tribais. A concluso de Lvi-Strauss a de que as verdadeiras estruturas fundamentais da sociedade so as estruturas da mente humana. Em todo o mundo, os produtos humanos tm uma fonte bsica idntica: o sistema mental. Mas esse sistema no produto de um processo consciente. Mais recentemente, os estudos estruturalistas adquiriram novas dimenses com os trabalhos dos "ps-estruturalistas", tambm conhecidos como "neo-estruturalistas". O filsofo e cientista social francs Michel Foucault a figura mais representativa dessa corrente. A sua produo imensa e tem despertado cada vez mais interesse pelos historiadores. Seus principais livros: Histria da Loucura, As Palavras e as Coisas, Arqueologia do Saber e Histria da Sexualidade. Suas obras tm sido amplamente divulgadas nas pesquisas em educao e sua contribuio perpassa o entendimento da cultura via as relaes de poder. O filsofo Claude Lvi-Strauss foi um grande terico do Estruturalismo. Nasceu em Bruxelas, mas chegou ao Brasil em 1930 para realizar estudos de campo com ndios, o que o consagrou antroplogo. Em 1955 ganha reconhecimento nos crculos acadmicos, tornando-se um dos intelectuais franceses mais conhecidos, especialmente por publicar a obra Tristes Trpicos, livro autobiogrfico sobre seu exlio em 1930. Aps muitas publicaes, Lvi-Strauss passou a segunda metade da dcada de 1960 se dedicando a sua obra Mythologiques, distribuda em quatro volumes e merecedora de prmios no mbito acadmico. doutor honoris causa de diversas universidades pelo mundo e continua a publicar ocasionalmente volumes temticos sobre artes, poesia, bem como experincias pretritas.24

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1.4.4

DIALTICA

O termo dialtica, no mundo antigo, representava a arte do dilogo, do contraste, e ao memso tempo, origem de idias. A Cincia definida como sendo o ato de se conhecer a anlise do processo do fenmeno como uma parte do processo de conhecimento, realizada a partir de uma conscincia crtica. A dialtica no explica, no d esquema de interpretao, ela apenas prepara os quadros da explicao. Assim sendo, a concepo dialtica de Cincia reproduz um sistema de conhecimento em desenvolvimento que permite a elaborao de conceitos relativos s atividades do indivduo e, portanto, estabelece previses a respeito da transformao da realidade e da sociedade. Esta abordagem uma das mais utilizadas em pesquisas nas reas de cincias humanas e sociais, incluindo a educao, possuindo maior aplicao nestas cincias, do que em pesquisas naturais, j que estas ltimas so destitudas do fenmeno histrico subjetivo que a caracteriza. Ela aplicvel nas investigaes que utilizam tcnicas bibliogrficas e histricas com pesquisas textuais, documentais, de registros e dados empricos, priorizando a anlise do discurso. O esquema bsico desta corrente a trilogia tese, anttese e sntese. Na perspectiva da dialtica Hegeliana, a combinao de uma tese com uma anttese produz uma sntese, isto , uma nova tese. Desta maneira, o ciclo se inicia permanentemente e com ele a produo de novas idias e teorias. Karl Marx se doutorou em filosofia (1841) pela Universidade de Berlim e estudou profundamente a teoria de Friedrich Hegel (17701831) e os escritos dos socialistas franceses. Saindo da Alemanha, foi viver na Frana, onde conheceu Friedrich Engels (1820-1895), que se tornou seu amigo, sendo benfeitor e colaborador pelo resto de sua vida. Expulso de Paris, Marx muda-se para Londres (1849), onde permaneceu at sua morte e onde escreveu as obras marcantes para as cincias sociais e humanas. Seus principais trabalhos so: Manuscritos Econmico-Filosficos (1844) Manifesto do Partido Comunista (em parceria com Engels, 1848), e O Capital (cujo primeiro volume foi publicado em 1867). Antes de resumirmos os fundamentos do marxismo, necessrio chamar ateno para dois aspectos importantes. O primeiro que Marx no foi exatamente um socilogo, embora muito do seu pensamento se enquadre nos limites da sociologia. A teoria marxista extrapola esses limites. Marx foi um pensador complexo - foi tambm filsofo, cientista poltico, revolucionrio, panfletista, economista - e sua obra teve uma influncia marcante em diversas disciplinas. Um outro aspecto o de que no existe uma teoria marxista, mas vrias interpretaes e desdobramentos da obra de Marx. Nesse sentido, o termo "marxismo" ora se refere ao pensamento de Marx ora a um grupo variado de doutrinas filosficas, sociais, econmicas e polticas fundadas em uma interpretao do pensamento de Marx. Uma questo amplamente debatida a de saber se houve ou no "dois Marx". Os que defendem a tese de "dois Marx" dividem seu pensamento em dois perodos: o primeiro de orientao mais filosfica, seguindo a tradio hegeliana (o chamado "jovem Marx", em que expe seu pensamento principalmente pelos "Manuscritos Econmico-Filosficos, de 1844); o segundo, o Marx de "O Capital", quando se afasta da filosofia e dedica-se a edificar uma cincia da economia poltica.

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1.4.5

FENOMENOLOGIA

Na segunda metade do sculo XX nasce a fenomenologia, como oposio a separao entre sujeito e objeto do conhecimento. Nesta corrente, a cincia definida como a proposta da compreenso representada pela intersubjetividade. A fenomenologia constitui-se em uma pr-cincia positiva em suas origens, sendo que, aps Husserl, outras vertentes fenomenolgicas surgiram, tais como a fenomenologia existencial, a fenomenologia transcendental e a fenomenologia dialtica, que nesta seo, no se inserem como pontos centrais do nosso debate. Esta corrente tem como objetivo descrever, compreender e interpretar os fenmenos que se apresentam percepo. Seu mtodo compreende a percepo imediata dos fenmenos que constituem a conscincia humana, em uma direo intencional e produto dos atos humanos. Alguns dos seus princpois epistemolgicos so: observao e descrio do fenmeno, daquilo que se manifesta, aparece ou se oferece aos sentidos ou conscincia; cincia voltada para as coisas como elas so; possui como elemento central a intencionalidade; estabelece uma nova relao entre sujeito e objeto, sendo estes visualizados como plos inseparveis na construo do conhecimento e da realidade; desmistifica a viso objetiva do mundo, centrada em uma cincia neutra despojada de subjetividade, em oposio ao positivismo. Husserl foi aluno do filsofo alemo Frans Brentano, o qual influenciou fortemente suas idias sobre a fenomenologia. Mais tarde, veio a influenciar o pensamento e as obras de Heidegger, Sartre, Derrida, entre outros. Por volta de 1887, converte-se ao cristianismo e passa a ensinar filosofia at que, ao aposentar-se, continuando ativo nas instituies de Friburgo, surpreendido com sua demisso por causa de sua ascendncia judia.

1.4.6

MODELO HOLSTICO

Esta abordagem, segundo Barros e Lehfeld (2000), toma a natureza como reflexo da composio de energia, que, por sua vez, se expressa como mediadora e como unidade da matria fundante de informaes prprias do ser humano. Nesse sentido, o ser humano emoo, mente e corpo, garantido por um processo progressivo de formao e de programaes que se transformam em objetos vitais entre o plano real e o ideal. Nos aspectos sociais, mais amplos, essa dinmica energtica traduzida pela expresso sociopoltica (vida), pela economia (matria), por leis, valores e ideologias. Por conseguinte, a cincia uma construo do conhecimento sem fragmentao, concebendo toda e qualquer realidade ligada perspectiva de totalidade. PARA SABER MAIS, ACESSE: http://www.cuidardoser.com.br/normose-ou-anomalias-da-normalidade.htm

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TEXTO COMPLEMENTARLeia o texto abaixo de Pierre Weill e relacione-o abordagem holstica da pesquisa apresentada por Barros e Lehfeld (2000). Para tanto, realize pesquisa em livros ou internet para consubstanciar seus argumentos, bem como evidencie sua opinio favorvel ou no a este novo tipo de abordagem do conhecimento. Nunca estivemos to perto da paz. Mas, ao mesmo tempo, jamais ela nos pareceu to distante. J podemos curar doenas que at bem pouco tempo atrs eram terrivelmente mortais. Das pranchetas dos cientistas brotam animais e plantas que a natureza no criou. Em laboratrios que fariam inveja a filmes de fico cientfica, surgem robs capazes de executar todo tipo de servio, da faxina domstica pesquisa espacial. So olhos eletrnicos que espionam os confins do universo em busca de nossos eventuais parceiros distantes na aventura da vida. Mdicos ousam substituir corao, rins e membros avariados, por rgos binicos criados em oficinas. Maravilhas. Ao olharmos em volta, porm damos de cara com os terrveis subprodutos desse desenvolvimento: misria, violncia e medo. A humanidade atingiu o limiar de uma nova era e vive, agora, uma espcie de dor do crescimento. Deixamos de ser crianas, mas ainda no sabemos nos portar como gente grande. Acumulamos conhecimentos em quantidade. Mas, sem sabedoria para us-los, podemos destruir-nos e ao mundo no qual habitamos. Felizmente, uma nova conscincia est se estabelecendo no esprito de grande parte das pessoas. Ela inspira outra maneira de ver as coisas em cincia, filosofia, arte e religio. Somos os espectadores privilegiados e os atores principais de mais este ato da comdia humana. Trata-se de um momento de sntese, integrao e globalizao. Nesta fase, a humanidade chamada a colar as partes que ela mesma separou nos cinco sculos em que se submeteu a ditadura da razo. Esse esforo comea a se fazer necessrio porque a crise de fragmentao chegou a limites extremos e ameaa a sobrevivncia de todas as formas de vida sobre a Terra. Dividimos arbitrariamente o mundo em territrios, pelos quais matamos e morremos. J se produziu armas nucleares que poderiam destruir vrias vezes o nosso planeta. A loucura e a competio so to ferozes que ignoram o bvio: no haver uma segunda Terra para ser destruda, nem ningum ou coisa alguma para acionar o gatilho atmico depois da primeira vez. Quebramos a unidade do conhecimento e distribumos os pedaos entre os especialistas. Para os cientistas, demos a natureza; aos filsofos, a mente; aos artistas, o belo; aos telogos, a alma. No satisfeitos, fragmentamos a prpria cincia, espalhando-a pelos domnios da matemtica, da fsica, da qumica, da biologia, da medicina e de tantas outras disciplinas. O mesmo ocorreu com a filosofia, arte e a religio, cada um desses ramos se subdividindo ao infinito. Como conseqncia, o mundo do saber tornou-se uma verdadeira torre de babel, na qual os especialistas falam cada qual a sua lngua e ningum se entende. A mais ameaadora de todas as fragmentaes, no entanto foi a que dividiu os homens em corpo, emoo, razo e intuio, porque ela nos impede de raciocinar com o corao e de sentir com o crebro. Autor da Teoria da Relatividade, o fsico Albert Einstein demonstrou no incio deste sculo que tudo no universo formado pela mesma energia, do mesmo modo que, embora vistos como diferentes, o gelo e o vapor so em ltimo caso apenas gua. Desse modo, a fragmentao s existe no pensamento humano, cuja propriedade essencial justamente a de classificar, dividir e fracionar, para, em seguida, estabelecer relaes entre esses fragmentos. Recuperar a unidade perdida significa reconquistar a paz. Mas, desta vez, o inimigo a derrotar no o estrangeiro. Ele mora dentro de ns. a fora que isola o homem racional de suas emoes e intuies. Foi prpria cincia moderna que comeou a exigir o surgimento de uma nova conscincia. Incapazes de responder s questes que eles formulavam, muitos fsicos saram em busca da psicologia, da religio e das mais importantes tradies da humanidade. Este encontro entre cincia moderna, os estudos transpessoais e as tradies espirituais constitui o que chamamos de viso holstica. importante que tenhamos uma clara noo dessa mudana de viso e das conseqncias que ela traz para a educao. WEILL, Pierre. Uma nova concepo de vida. In: A arte de viver em paz: por uma nova conscincia, por uma nova educao. So Paulo: Gente, 1993. p. 17-18.

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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTARDEMO, Pedro. Metodologia Cientfica em Cincias Sociais. So Paulo: Atlas, 1995.

INDICAO DE SITEShttp://www.mundodosfilosofos.com.br/comte.htm http://www.culturabrasil.org/durkheim.htm http://tiosam.com/?q=Estruturalismo www.ufrgs.br/museupsi/aula28%20maickel.ppthttp://www.culturabrasil.org/marx.htm http://www.conteudoglobal.com/personalidades/karl_marx/index.asp?action=filosofia_marx&nome= A+Filosofia+de+Marx http://www.achegas.net/numero/33/ubiracy_33.pdf

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PESQUISA E TRABALHOS ACADMICOS

Este tpico apresenta as diversas metodologias da pesquisa cientfica, os mecanismos necessrios elaborao de trabalhos acadmicos e as normatizaes da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) sobre apresentao de trabalhos, citaes e referncias.

2.1

AS METODOLOGIAS DA PESQUISA

Focamos o estudo sobre a pesquisa cientfica e seus tipos, sua validade e importncia para a descoberta de novos conhecimentos. Abordaremos tambm os elementos necessrios elaborao de um projeto de pesquisa, buscando instrumentaliz-los para a construo de um trabalho de pesquisa acadmica. 2.1.1 CONCEITOS SOBRE PESQUISA

Inicialmente, podemos considerar que pesquisar significa buscar respostas para as mais diversas indagaes e problemas humanos, sejam eles individuais ou coletivos. A pesquisa pode ser vista tambm como uma atividade eminentemente cotidiana, sendo considerada como uma atitude, um questionamento sistemtico crtico e criativo, mais a interveno competente na realidade, ou o dilogo crtico permanente com a realidade em sentido terico e prtico (DEMO, 1996, p. 34). Gil (1999, p.42) acredita que a pesquisa tem um carter pragmtico, um processo formal e sistemtico de desenvolvimento do mtodo cientfico. O objetivo fundamental da pesquisa descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos cientficos. PESQUISA ... Um conjunto de aes proposto para resoluo de um problema, que tem por base procedimentos racionais, sistemticos e metdicos. A pesquisa realizada quando se tem um problema de investigao, isto , algo ou alguma coisa que se pretende investigar. No se esquea desse princpio!

2.1.2

CLASSIFICAO DA PESQUISA

Para realizar uma pesquisa cientfica fundamental saber usar os instrumentos adequados para encontrar respostas, ou seja, formular as hipteses ao problema levantado. Na viso de Salomon (1999), podemos graduar as pesquisas cientficas em: Pesquisas Puras tm como inteno ir alm da simples definio e descrio do problema. A partir da formulao de hipteses claras e definidas, aplicao do mtodo cientfico de coleta de dados, controle e anlise, procuram inferir a interpretao, a explicao e a predio. Pesquisas Aplicadas se destinam a aplicar leis, teorias e modelos, na soluo de problemas que exigem ao e/ou diagnstico de uma realidade.

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Pesquisas Exploratrias e Descritivas tm por objetivo definir melhor o problema, gerar propostas de soluo, descrever comportamentos de fenmenos, definir e classificar fatos e variveis. No atingem o nvel da explicao nem o da predio, encontrados nas pesquisas puras ou tericas, nem do diagnstico e/ou soluo adequada dos problemas deparados nas pesquisas aplicadas. Na definio de Gil (2001) e Demo (1996, 2000), encontramos a classificao das pesquisas com base em seus objetivos e nos procedimentos tcnicos adotados (para analisar os fatos do ponto de vista emprico, para confrontar a viso terica com os dados da realidade, necessrio traar o modelo conceitual e operatrio). Torna-se importante determinar a metodologia e os procedimentos adotados que podem auxiliar o pesquisador no bom andamento da investigao: Classificao que tem como base os objetivos - trs grandes grupos: exploratria, descritiva e explicativa. Classificao com base nos procedimentos: Bibliogrfico, Documental, Experimental, Operacional, Estudo de caso, Pesquisa-Ao, Pesquisa Participante, Expost-Facto. Paradigma metodolgico de abordagem da pesquisa duas grandes modalidades: Quantitativa e Qualitativa. Santos (1999) acrescenta classificao apresentada por Gil, destacando a caracterizao das pesquisas segundo as fontes de informaes: pesquisa de campo, de laboratrio e bibliogrfica. APROFUNDE SEUS CONHECIMENTOS A classificao da pesquisa com base nos objetivos e nos procedimentos tcnicos adotados, acessando o site: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met02a.htm

2.1.3

TIPOS DE PESQUISA: Objetivo, procedimento e abordagem

Objetivos: Exploratria: Tem por finalidade a descoberta de prticas ou diretrizes que precisam ser modificadas e obteno de alternativas ao conhecimento cientfico existente. Tem por objetivo principal a descoberta de novos princpios para substiturem as atuais teorias e leis cientficas. a coleta de dados e informaes sobre um fenmeno de interesse sem grande teorizao sobre o assunto, inspirando ou sugerindo uma hiptese explicativa; a coleta de dados e informaes sobre um fenmeno de interesse sem grande teorizao sobre o assunto, inspirando ou sugerindo uma hiptese explicativa. Descritiva: Tem por finalidade observar, registrar e analisar os fenmenos sem, entretanto, entrar no mrito do seu contedo. Na pesquisa descritiva no h interferncia do pesquisador, que apenas procura descobrir, a freqncia com que o fenmeno acontece. Visa descrever determinadas caractersticas de populaes ou fenmenos ou o estabelecimento de relaes entre variveis. Basicamente consiste na coleta de dados atravs de um levantamento. Explicativa ou Hipottico-Dedutiva: Tem por objetivo ampliar generalizaes, definir leis mais amplas, estruturar sistemas e modelos tericos, relacionar hipteses numa viso mais unitria do universo e gerar novas hipteses por fora de deduo lgica. Exige sntese e reflexo, visa identificar os fatores que contribuem para a ocorrncia dos fenmenos. Explica o porque das coisas. Nas cincias naturais exige a utilizao de mtodos experimentais e, nas cincias sociais o mtodo observacional.30

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Procedimentos: Bibliogrfica: desenvolvida a partir de material j publicado, principalmente de livros, artigos de peridicos e atualmente com material disponibilizado na Internet. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, h pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliogrficas. Segundo Lakatos e Marconi (2003), sua finalidade colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferncias seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas. A bibliografia pertinente oferece meios para definir, resolver, no somente problemas j conhecidos, como tambm explorar novas reas nas quais os problemas no se fixaram suficientemente. Tem como objetivo permitir ao pesquisador o reforo paralelo na anlise de suas pesquisas ou manipulao de suas informaes. Assim, a pesquisa bibliogrfica no apenas repetio do que foi publicado sobre determinado contedo, mas propicia o exame de um tema sob nova abordagem, chegando a concluses inusitadas. Documental: Tem por finalidade conhecer os diversos tipos de documentos e provas existentes sobre conhecimentos cientficos. Estes documentos normalmente no receberam tratamento prvio analtico, encontram-se muitas vezes nos seus locais de origem. efetuada essencialmente em centros de pesquisa, museus, acervos particulares e centros de documentao e registro. Experimental: Destina-se a obteno por experimentao de novos sistemas, produtos ou processo. Quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variveis que seriam capazes de influenci-lo, definem-se as formas de controle e observao dos efeitos que a varivel produz nos objetos em estudo. Operacional: A finalidade o desenvolvimento de mtodos e tcnicas para a soluo de problemas complexos e para a tomada de decises. Utiliza o conhecimento matemtico, atravs da programao linear e no linear para a soluo de problemas. A pesquisa operacional consiste na construo de modelos do sistema fsico real para serem aplicadas tcnicas de simulao e otimizao. Estudo de caso: Quando envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento. Este tipo de pesquisa, normalmente, realizada a partir de um caso em particular e, posteriormente realizada uma anlise comparativa com outros casos, fenmenos ou padres existentes. amplamente utilizada no levantamento das caractersticas e parmetros de funcionamento ou operao de sistemas e processos. Pesquisa-Ao: Investigao realizada em estreita associao com uma ao ou com a resoluo de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Ela tende a ser vista em certos meios como desprovida da objetividade que deve caracterizar os procedimentos cientficos. A pesquisa-ao no constituda apenas pela ao ou pela participao, e sim, de discusso, fazendo avanar o debate das questes abordadas em uma dada pesquisa atravs dos seus atores. Caso voc se interesse em um artigo da autora Selma Garrido Pimenta, cujo ttulo Pesquisa-ao crtico-colaborativa: construindo seu significado a partir de experincias com a formao docente.

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Pesquisa Participante: Segundo Demo (2000, p.21), a pesquisa prtica ligada prxis, ou seja, prtica histrica em termos de usar conhecimento cientfico para fins explcitos de interveno; nesse sentido, no esconde sua ideologia, sem com isso necessariamente perder de vista o rigor metodolgico. Confere-se a este tipo de pesquisa um componente poltico e social que permite debater o processo de investigao a partir da concepo de interveno na realidade social. Esta pesquisa se desenvolve a partir da interao entre pesquisadores e membros das situaes investigadas. Conhea o histrico, a definio e a metodologia da pesquisa participante. Expost-Facto: Quando o experimento se realiza aps os fatos. PARA SABER MAIS Sobre pesquisa, acesse os sites: http://giselacastr.vilabol.uol.com.br/pesquisapart.htm http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a13v31n3.pdf http://www.focca.com.br/cac/textocac/Estudo_Caso.htm Abordagem: Quantitativa: Parte do pressuposto de que tudo pode ser quantificvel, o que significa traduzir em nmeros opinies e informaes para classific-las e analis-las. Requer o uso de recursos e de tcnicas estatsticas (percentagem, mdia, moda, mediana, desvio-padro, coeficiente de correlao, anlise de regresso etc.). aplicada quando se deseja conhecer a extenso do objeto de estudo e aplicam-se nos casos em que se buscam identificar o grau de conhecimento, as opinies, impresses, seus hbitos, comportamentos, seja em relao a um produto, sua comunicao, servio ou instituio. Ou seja, o mtodo quantitativo oferece informaes de natureza mais objetiva e aparente. Seus resultados podem refletir as ocorrncias do mercado como um todo ou de seus segmentos, de acordo com a amostra com a qual se trabalha. O questionrio, por exemplo, o instrumento de coleta de dados mais utilizado. Ele pode conter questes fechadas (alternativas pr-definidas) e/ou abertas (sem alternativas e com resposta livre). Na pesquisa quantitativa, a fim de comprovar as hipteses, os recursos de estatstica nos diro se os resultados obtidos so significativos ou descartveis. Este tipo de pesquisa baseia-se em rgidos critrios estatsticos, que servem de parmetro para definio do universo a ser abordado pela pesquisa. Como o nome j diz, o mtodo quantitativo til para o dimensionamento de mercados, levantamento de preferncias por produtos e servios de parcelas da populao, opinies sobre temas polticos, econmicos, sociais, dentre outros aspectos. O desenvolvimento e aplicao do mtodo quantitativo tm incio com a definio dos objetivos que o cliente pretende alcanar. Em seguida faz-se o levantamento amostral do universo, ou seja, o nmero de entrevistas a ser realizado; elaborao aplicao de pr-teste para validao do questionrio e, posteriormente, a pesquisa em campo; apurao, cruzamento e tabulao dos dados; e, por fim, elaborao de relatrios para anlise estratgica. Qualitativa: Toma como princpio a existncia de uma relao dinmica entre o mundo real e o sujeito, isto , um vnculo indissocivel entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que no pode ser traduzido em nmeros. A interpretao dos fenmenos e a atribuio de significados so bsicas no processo de pesquisa qualitativa. No requer o uso de mtodos e tcnicas estatsticas. O ambiente natural a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador o instrumento-chave. descritiva.32

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Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado so os focos principais de abordagem. Este tipo de pesquisa se caracteriza por reunir ou abrigar diferentes correntes de pesquisa. Essas correntes se fundamentam em alguns pressupostos contrrios ao modelo experimental e adotam mtodos e tcnicas de pesquisas diferentes dos estudos experimentais. Os especialistas que partilham da abordagem qualitativa em pesquisa se opem, em geral, ao pressuposto experimental que defende um padro nico de pesquisa para todas as cincias, calcado no modelo de estudo das cincias da natureza. Estes cientistas se recusam a admitir que as cincias humanas e sociais devam-se conduzir pelo paradigma das cincias da natureza e devam legitimar seus conhecimentos por processos quantificveis que venham a se transformar, por tcnicas de mensurao, em leis e explicaes gerais. A pesquisa qualitativa se diferencia dos estudos experimentais tambm pela forma como apreende e legtima os conhecimentos. A abordagem qualitativa parte do fundamento de que h uma relao dinmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependncia viva entre o sujeito e o objeto, um vnculo indissocivel entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. A produo do conhecimento no se reduz aos dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenmenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto no um dado inerte e neutro; est possudo de significados e relaes que sujeitos concretos criam em suas aes. O que no significa dizer que as pesquisas qualitativas no descartam a coleta de dados quantitativos, principalmente na etapa exploratria de campo ou nas etapas em que estes dados podem mostrar uma relao mais extensa entre fenmenos particulares.

PARA SABER MAIS! Aprofundar mais o conhecimento sobre as possibilidades e limitaes da pesquisa qualitativa e as relaes entre a pesquisa qualitativa e quantitativa acesse. http://www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/arquivos/C03-art06.pdf http://www.scielo.br/pdf/ptp/v22n2/a10v22n2.pdf33

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2.2

SISTEMATIZAO, REGISTRO E TRABALHOS ACADMICO

A metodologia da pesquisa cientfica orienta procedimentos necessrios elaborao adequada de trabalhos acadmicos, especialmente a resenha e o artigo