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VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE ARMAZENAGEM DE GRÃOS: UM ESTUDO DE CASO EM UMA MÉDIA PROPRIEDADE RURAL EM CAMPO MOURÃO – PR Fabio Augusto Gottardo * Hermedes Cestari Jr. ** * Graduado em Administração na Universidade Estadual de Maringá – UEM; Acadêmico do curso de Pós-Graduação em Gestão de Agronegócio do Centro Universitário de Maringá - CESUMAR. E-mail: [email protected] ** Docente do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR. E-mail: [email protected] RESUMO: O artigo procura abordar, de maneira completa, os benefícios advindos da implantação de uma estrutura de armazenagem de grãos em nível de propriedade rural. Para isso, inicialmente faz-se um levantamento bibliográfico sobre o tema, procurando um consenso entre as idéias dos principais escritores sobre o assunto. Em seguida, procura-se resumir esses benefícios em um estudo prático de implantação de uma estrutura de silos em uma propriedade rural localizada no município de Campo Mourão, no Estado do Paraná. Dessa forma, com as técnicas sofisticadas de avaliação de investimento, conclui-se que, para a propriedade em estudo, o investimento seria compensador. Assim sendo, a armazenagem de grãos em nível de propriedade rural se apresenta como um meio eficaz de que muitos produtores podem se utilizar para agregar valor a seus produtos e obter maior renda com sua atividade. PALAVRAS-CHAVE: Agronegócios; Agricultura; Armazenagem. ECONOMICAL-FINANCIAL VIABILITY OF IMPLANTATION OF A GRAIN STORAGE SYSTEM: A CASE STUDY IN A MEDIUM RURAL PROPERTY IN CAMPO MOURÃO – PR. ABSTRACT: The article tries to approach, in a complete way, the benefits resulted from the implantation of a grain storage structure in a rural property. For this, initially

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  • Lorenzetti, Silva e DOliveira 55

    Revista em Agronegcios e Meio Ambiente, v. 1, n. 1, p. 45-54, jan./abr. 2008

    VIABILIDADE ECONMICO-FINANCEIRA DEIMPLANTAO DE UM SISTEMA DE

    ARMAZENAGEM DE GROS: UM ESTUDO DE CASOEM UMA MDIA PROPRIEDADE RURAL EM CAMPO

    MOURO PR

    Fabio Augusto Gottardo*Hermedes Cestari Jr.**

    * Graduado em Administrao na Universidade Estadual de Maring UEM; Acadmico do curso dePs-Graduao em Gesto de Agronegcio do Centro Universitrio de Maring - CESUMAR. E-mail:[email protected]** Docente do Centro Universitrio de Maring CESUMAR. E-mail: [email protected]

    RESUMO: O artigo procura abordar, de maneira completa, os benefcios advindosda implantao de uma estrutura de armazenagem de gros em nvel de propriedaderural. Para isso, inicialmente faz-se um levantamento bibliogrfico sobre o tema,procurando um consenso entre as idias dos principais escritores sobre o assunto. Emseguida, procura-se resumir esses benefcios em um estudo prtico de implantao deuma estrutura de silos em uma propriedade rural localizada no municpio de CampoMouro, no Estado do Paran. Dessa forma, com as tcnicas sofisticadas de avaliaode investimento, conclui-se que, para a propriedade em estudo, o investimento seriacompensador. Assim sendo, a armazenagem de gros em nvel de propriedade rural seapresenta como um meio eficaz de que muitos produtores podem se utilizar paraagregar valor a seus produtos e obter maior renda com sua atividade.

    PALAVRAS-CHAVE: Agronegcios; Agricultura; Armazenagem.

    ECONOMICAL-FINANCIAL VIABILITY OFIMPLANTATION OF A GRAIN STORAGE SYSTEM:A CASE STUDY IN A MEDIUM RURAL PROPERTY

    IN CAMPO MOURO PR.

    ABSTRACT: The article tries to approach, in a complete way, the benefits resultedfrom the implantation of a grain storage structure in a rural property. For this, initially

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    a bibliographical search about the theme was carrying out, seeking a consensus amongthe principal writers ideas about the subject. Following, it tries to summarize thesebenefits in a practical study of silos implantation structure in a rural property locatedat the city of Campo Mouro, in the Paran State. Thus, with the sophisticatedtechniques of investment evaluation, it was concluded that, for the property beingstudied, the investment would be lucrative. As a result, the storage of grains in ruralproperty presents itself as an effective way that many producers can use to add valuefor their products and to obtain incremental yield with their activity.

    KEYWORDS: Agribusiness; Agriculture; Storage.

    INTRODUO

    Nos ltimos 50 anos tem-se observado uma grande mudana no perfil daagricultura brasileira. No passado, as propriedades rurais eram muito diversificadas,com vrias culturas e criaes diferentes, necessrias sobrevivncia de todas aspessoas que nela trabalhavam. Contudo, com o intenso avano tecnolgico,paralelamente ao xodo de grande contingente de pessoas do campo para as cidades,a estrutura dessas propriedades mudaram totalmente: perderam a auto-suficincia;especializaram-se, procurando gerar excedentes de consumo para abastecer mercadosdistantes e enfrentaram a globalizao e a internacionalizao da economia. Assim, aatividade agrcola passou a ser vista como um negcio, sendo os produtores cadavez mais profissionalizados e providos de novas tecnologias que contriburam paraaumentar a produo, o que fez com que a atividade agropecuria experimentassegrandes saltos nos seus ndices de produtividade nessa poca.

    Com isso, os produtores passaram a buscar em produtos e servios de fora dapropriedade rural - como: armazns, portos, aeroportos, softwares, fertilizantes, entreoutros - novas tcnicas de gesto, que pudessem influenciar no processo administrativoda propriedade como um todo. Outrossim, nota-se que, para o produtor se tornarcompetitivo em um mercado altamente concorrido, faz-se necessrio buscaralternativas capazes de subsidi-lo na reduo de custos dentro de sua propriedade.

    Assim sendo, um sistema de armazenagem e conservao dos produtos agrcolasna propriedade rural permite que estes sejam estocados e vendidos no perodo em quea oferta se torne menor e, conseqentemente, o preo maior (entressafra). Somando-seisso ao fato de que o produtor tambm evitaria as taxas e descontos cobrados porprodutos seus depositados em armazns de terceiros e minimizao das despesasque aconteceria em funo de se ter uma unidade armazenadora perto do local dacolheita (lavoura), poderiam aumentar significativamente os ganhos dos proprietrios.

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    Nesse sentido, o trabalho a seguir apresentar a armazenagem de gros em nvelde propriedade rural como uma forma de aumentar os ganhos reais dos produtoresrurais. Para isso, inicialmente dar-se- um panorama da situao em que se encontraa maioria dos produtores do pas (pequenos e mdios); depois, enfocar-se- aarmazenagem e seus benefcios e, por fim, apresentar-se- um estudo de caso deimplantao de um sistema de armazenagem de gros em uma propriedade rural,bem como a anlise da viabilidade desse empreendimento.

    2 AGRONEGCIOS CONTEXTUALIZAO

    Com o desenvolvimento tecnolgico e a urbanizao da populao, a agriculturaperdeu o conceito de setor primrio e passou a no ser auto-suficiente e a depender deinsumos, de compradores para seus produtos e de servios que no so prprios dela.Nesse contexto foi que surgiu com John Davis e Ray Goldberg o conceito de agronegcio:

    [...] o conjunto de todas as operaes e transaes envolvidasdesde a fabricao dos insumos agropecurios, das operaesde produo nas unidades agropecurias, at o processamento,distribuio e consumo dos produtos agropecurios in naturaou industrializados (ARAJO, 2003, p. 16).

    Segundo Arajo (2003), dentro desse conceito de agronegcio, os produtoresrurais se tornaram donos da situao comercial mais incmoda. Enfrentamsituaes de oligoplio quando compram o produto (quanto custa?), e situaesde oligopsnio quando vendem (quanto se paga?). Essa situao fez com queagropecuaristas ficassem comprimidos; de um lado, pelo aumento dos custos, ede outro, pela reduo dos preos, que fez reduzir-se tambm seus ganhos reais.

    extremamente difcil para os produtores rurais, com pouca orga-nizao, interferir fortemente na formao de preos de seus produtosfrente a empresas altamente oligopsnicas. Por exemplo, na cadeiaprodutiva da soja, existem trs grandes produtores: os EstadosUnidos, com mais de 75 milhes de toneladas, o Brasil, com maisde 46 milhes de toneladas, e a Argentina, com aproximadamente30 milhes de toneladas, envolvendo centenas de milhares deprodutores desse gro. Porm, no segmento agroindustrial, somenteduas empresas tm capacidade para esmagar 85% de toda a produode soja do Brasil e da Argentina juntos (Bunge Limited/Cereol eADM Archer Daniels Midland, com esmagamento de 34 e 30milhes de toneladas de gros de soja por ano, respectivamente)(ARAJO, 2003).

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    Assim, diante de um mercado que exige cada vez mais competitividade porparte de seus participantes, os produtores rurais vm sentindo a necessidade debuscar solues que lhes permitam melhor remunerao de seus recursosprodutivos, e com isso, uma competncia maior perante seus concorrentes.

    3 COMPETNCIA DO AGRONEGCIO BRASILEIRO

    A agricultura, a pecuria e os negcios com ambas relacionados tornaram-se oprincipal motor da economia brasileira nos ltimos trinta anos. No ano de 2003, osetor movimentou 458 bilhes de reais. O segmento cresceu 5%, enquanto a economiado pas encolheu 0,2% .

    Segundo informaes coletadas no site da Corretora Mercado (2005), oagronegcio responsvel por 37% dos empregos, 30% do PIB (Produto InternoBruto) e 39,4% das exportaes. No ano de 2004 o setor registrou supervit de US$35,6 bilhes, contra US$ 2,1 bilhes dos demais segmentos da economia. Com isso,o desempenho do agronegcio levou o Brasil a atingir supervit de US$ 37,8 bilhesna balana comercial nesse mesmo ano.

    Segundo Arajo (2003), essa contribuio esconde uma realidade: as exportaesesto sendo efetuadas basicamente com produtos commodities, como acar, caf, soja,frutas, etc., ou ainda com produtos intermedirios ou no acabados, como farelo desoja, sucos concentrados, frangos e carnes congelados e outros. Ou seja, no tocante aoagronegcio, o Brasil ainda um pas exportador de matria-prima e de bensintermedirios ou no acabados, possibilitando a agregao de valores fora do pas.

    Esses fatos chamam a ateno para a competncia brasileira na produo dentroda porteira, ou seja, na produo agrcola propriamente dita, mesmo com toda atributao e entraves existentes no exerccio da atividade. Essa competncia pode serdemonstrada pela evoluo da produtividade (Tabela 1) de algumas das principaisculturas nos ltimos 12 anos.

    Tabela 1 . Produtividade de culturas (t/ha.) Brasil, 1990/2001.

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    No obstante, se por um lado houve ganhos de produtividade, por outro houveperdas. Os agropecuaristas enfrentaram a reduo de preos de seus produtos aolongo do perodo (Tabela 2). Olhando-se superficialmente a situao, poder-se-iachegar concluso de que, proporcionalmente, a reduo de preos foi menor queo ganho obtido em produtividade; entretanto, essa concluso torna-se errnea quandose analisa mais a fundo a questo e se leva em considerao o fator custo de produo.

    notvel que os custos de produo tm uma relao inversamente proporcionalcom o lucro, e em havendo a majorao daquele, este ltimo afetado negativamente.Citam-se como fatores do aumento dos custos de produo, segundo Arajo (2003):a elevao dos encargos dos financiamentos bancrios; diminuio dos volumes definanciamentos oficiais, obrigando os produtores a buscar financiamentos mais caros;elevao da carga tributria e dos encargos sociais; elevao dos preos de insumosbsicos (como fertilizantes, agrotxicos, leo diesel e outros), da mo-de-obra, dosinvestimentos (mquinas e equipamentos), etc.

    Tabela 2. Preos mdios recebidos pelos produtores(*) Brasil, maio de 1990/2001.

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    O que se pode inferir da interpretao dos dados das tabelas acima que asada encontrada para enfrentar essa situao de deflao dos preos das commoditiesagrcolas de grande aumento dos custos de produo, que se desenrolara aolongo dos ltimos anos, foi a elevao da produo, por meio da tecnologia,com ganhos na produtividade e na escala.

    No obstante, sabido que o emprego da tecnologia limitado, chegandoum momento em que os ganhos finais no justificam os investimentostecnolgicos necessrios para se aumentar produo. Outrossim, embora omontante de produo seja crescente, a relao custo/benefcio torna-se cadavez menor, inviabilizando investimentos em tecnologia e aumento de produo.

    Esse raciocnio traz consigo uma questo muito preocupante, ou seja, percebe-se uma realidade se desenhando paralelamente a esses acontecimentos a qual tendea perdurar e/ou se agravar com o passar do tempo, conforme retrata Arajo(2003), que a seguinte:

    -maior especializao das propriedades, com ampliao da escala deproduo;-diminuio do nmero de estabelecimentos rurais e aumento da readas propriedades maiores;-custo social e econmico elevado com a excluso dos pequenosprodutores e dos menos eficientes e, conseqentemente, aumento daquantidade de pessoas nas periferias da cidade.

    Nesse sentido, visualiza-se na armazenagem de gros em nvel de propriedadeagr-cola um instrumento eficaz de agregao de valor produo e,conseqentemente, uma forma de aumento no ganho real do agricultor. Tal afirmao justificada junto opinio de diversos autores da rea citados ao longo do texto dentre os quais se destacam Puzzi (1986), Silva (2003) e Weber (2005) e corroboradapelo estudo apresentado adiante, junto a uma propriedade rural localizada no Centro-Oeste do Estado do Paran.

    4 ARMAZENAGEM GENERALIDADES

    notvel que a produo de gros constitui um dos principais segmentos dosetor agrcola em todo o mundo. S no Brasil, esse segmento observou umaproduo de 119.305.800 toneladas em 2003/2004 (CONAB, 2004).

    De acordo com Silva (2003), aps a colheita, a safra de gros precisa ser enviada aum destino, que normalmente um local de armazenamento. Visto que o armazenamen-to desses produtos est diretamente ligado qualidade e conservao dos gros, essa

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    etapa se torna muito importante no processo produtivo como um todo, pois um mauacondicionamento poderia acarretar perdas e prejuzos aos produtores.

    Por outro lado, o acondicionamento de gros no pode ser feito de formadireta (lavoura-armazm). O produto precisa ser preparado para que possa serguardado em condies que diminuam seus riscos de estragar. Assim, o processode armazenagem contempla uma srie de etapas.

    Segundo Barrella e Bragatto (2002), o conjunto de etapas necessrias para o corretoacondicionamento do produto se subdivide em dois grandes grupos, quecompreendem: (1) ao grupo das etapas que antecedem o armazenamento: pr-limpeza (retirada de impurezas); secagem (retirada de umidade para melhor conservaodo produto); transporte e descarga (acomodar no interior do armazm); (2) ao grupodas etapas que acontecem durante o armazenamento propriamente dito: aerao(injeo de ar para conservao do produto); termometria (medio da temperatura);tratamento fitossanitrio (prevenir e eliminar insetos).

    A qualidade do armazenamento dos gros uma preocupao constante no Brasil,visto que um requisito para o aumento das ex-portaes. As questes ligadas seguranae rastreabilidade tornam-se requisitos impor-tantes para o ganho de competitividadedo setor. Condies adequadas de armazenamen-to envolvem a conduo deprogramas de financiamento para a instalao de silos nas prprias unidades produtorasde gros, evitando perdas e assegurando qualidade.

    5 BENEFCIOS DA ARMAZENAGEM DE GROS NA PROPRIE-DADE RURAL

    Desde muito, o aspecto armazenagem de gros em silos na prpriapropriedade vem sendo estudado, justamente por se terem percebido as diversasvantagens desse tipo de prtica. Conforme Puzzi (1986, p. 512):

    Alm de reduzir os fluxos concentrados s unidadesintermedirias, nos piques de safras, o armazenamento nafazenda proporciona, ao produtor, uma srie de benefcios:comercializao do produto em pocas mais oportunas, evitandoas presses naturais do mercado no perodo das colheitas;reduo das perdas na prpria lavoura pelo retardamento dacolheita e guarda dos produtos em locais inadequados, sujeitosao ataque de insetos, fungos e roedores; economia nos fretes,pois, ser evitado o transporte no pique da safra, quando oscustos sobem; maior rendimento das colhedoras pelo incioantecipado da colheita e, tambm, evitar perodos ociosos destaoperao, decorrente da espera dos caminhes, comumente

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    retidos nas longas filas de espera para descarga nas unidadescoletoras ou intermedirias [...].

    Citam-se tambm Pinazza e Alimandro (1999), os quais reiteram que depois dasporteiras das fazendas a armazenagem uma etapa primordial, que contribui paracorrigir os desequilbrios naturais da agricultura advindos da sazonalidade da produo(os perodos de safra e entressafra). A montagem de uma estrutura e organizaoadequadas para controlar o fluxo da produo que se origina nas propriedadesrurais, com locais e condies para a guarda e conservao dos produtos, traz enormesbenefcios comerciais para os produtores: eles passam a gozar da vantagem de vendersua produo nas melhores pocas e momentos de mercado.

    Chama-se a ateno para as informaes disponibilizadas no site da fabricante de si-los, a KeplerWeber (2005), as quais resumem fielmente os principais benefcios de se possuirum armazm em nvel de propriedade rural, dentre os quais se destacam: possibilidadede escolha da melhor poca para comercializao; aproveitamento total do produto(resduo, mais gros quebrados); flexibilidade no escoamento da produo em poca depico de colheita; alongamento do perodo de colheita e entrega; eliminao do pagamentode taxas de secagem e armazenamento; diminuio de perdas com descontos emclassificao; reduo nos gastos com fretes; e garantia de qualidade do produto colhido.

    Atualmente, muito ainda tem-se discutido a respeito dos benefcios trazidos peloinvestimento em equipamentos para estocagem e manuteno de gros, principalmentepela facilidade de acesso e pela popularizao que esses equipamentos obtiveram nosltimos anos. De acordo com Bezerra (2003), a armazenagem na fazenda traz vriosbenefcios: evita gastos com frete, deixa o produto disponvel, em condio de ser ne-gociado a melhor preo, favorece a rastreabilidade, que deve vir brevemente para a soja(antes do trigo e outros gros), e ajusta o fluxo de trabalho, mquinas agrcolas e caminhes.

    Tambm Eltz (2003) salienta que:

    - Investir em equipamentos de armazenagem no maisprivilgio para poucos. [...] pequenos e mdios produtoresesto instalando unidades armazenadoras em suas fazendaspara obterem melhores preos e assegurar a qualidade do gro.

    Corroborando as idias acima e chamando a ateno para as dificuldadessofridas por agricultores decorrentes da precariedade dos sistemas dearmazenamento, cita-se um trecho de reportagem do Agrianual (2004, p. 429):

    [...]. Sabe-se que um dos principais problemas na estrutura dearmazenamento de gros do Brasil relaciona-se com a

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    deficincia de instalaes para finalidade (silos) nas prpriasfazendas, resultando em perdas importantes para osprodutores, especialmente econmicas [...].

    6 ARMAZENAGEM SITUAO BRASILEIRA

    De acordo com Weber (2005), a questo da armazenagem no Brasil era graveat o incio desta dcada, e neste momento passa a ser muito mais grave especialmentepelo crescimento lento da capacidade armazenadora e o rpido crescimento agrcolaque experimentamos nestes trs ltimos anos. Os produtores individuais ou cooperados,pela falta de armazenagem, vem-se obrigados a comercializar com toda a brevidadeos produtos para liberar os silos, sem poder aguardar uma oportunidade de melhorpreo para venda no mercado externo ou mesmo no mercado interno, formandoum crculo vicioso que o Brasil precisa romper imediatamente.

    Ainda segundo Weber (2005), alm de acomodar a totalidade da nossa safra, h anecessidade de mais armazenagem segundo um programa estratgico agrcola de plantio,colheita, armazenagem, suprimento interno, exportao, e ainda para enfrentar anos defrustrao. A conhecida falta de armazenagem gera a corrida aos portos para a exportaodesde os primeiros dias de safra da soja, independentemente de preo e outras condies.

    Nossa capacidade armazenadora pequena, logo, exportar precisoe os pases importadores o sabem e foram os preos para baixo. OBrasil no possui uma rede armazenadora estratgica, mas devert-la para armazenar os excedentes agrcolas no comercializadosimediatamente, mas que sero exportados ao longo do ano emmelhores condies. [...] A falta de armazenagem gritante e torna-se visvel aos olhos da nao quando apreciamos os noticirios daTV, a fila de caminhes (que em certas ocasies passa de cem quilme-tros) transformada em silos itinerantes. (WEBER, 2005, p. 20-21)

    7 ARMAZENAGEM PROPRIEDADES BRASILEIRAS

    Segundo notas do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (2003), umdos principais problemas na estrutura de armazenagem de gros no Brasil est diretamen-te ligado falta de silos nas propriedades rurais. Dados indicam que as perdas de gros dasafra brasileira decorrentes do mau acondicionamento chegam a 10% do total colhido.

    Conforme Vivan (2005) somente 5% das mdias propriedades brasileiras (aquelasentre 30 e 500 hectares) dispem de armazns prprios, ante 65% nos Estados Unidos,50% na Unio Europia e 25% na Argentina. Sem local disponvel para armazenar a

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    produo, os agricultores so obrigados a vend-la em plena safra. O excesso de ofertaderruba os preos do produto colhido e eleva o custo do transporte.

    Pelo cenrio acima apresentado, nota-se serem visveis os benefcios e a necessidadeda implantao de um sistema de armazenagem de gros em uma propriedaderural. Por esses fatos que se decidiu pela elaborao de um estudo de viabilidadeeconmico-financeira da implantao de silos em uma propriedade rural.

    8 PROJETOS DE INVESTIMENTO AGROPECURIOS

    Pelo fato de uma propriedade rural apresentar todas as caractersticas deuma empresa, nota-se a necessidade de ela estar constantemente avaliandoalternativas de investimento de capital e tentando racionalizar ao mximo o usodo mesmo. Essa situao pode ser explicitada com a citao a seguir:

    Para o empresrio do setor agrcola, as decises de investimentoso, provavelmente, as mais importantes nos anos recentes. Istose deve principalmente escassez de capital relativamente aosdemais fatores de produo, s altas taxas de inflao e s constantesmodificaes na poltica agrcola [...]. A anlise de projetosagropecurios, ao nvel da empresa rural, segue de perto ametodologia conhecida nos setores no-agrcolas como oramentode capital ou capital budgeting. Sua aplicao ao setor agrcola requerapenas que sejam consideradas as caractersticas da empresa rural,bem como as peculiaridades do mercado de capital em que aempresa rural atua (NORONHA, 1987, p. 26-27).

    Percebe-se ento que para a implementao de unidade de armazenagem em umapropriedade rural demandado todo um estudo prvio da situao, bem como dasnecessidades individuais de cada uma dessas propriedades. A partir desse estudo ento que se consegue definir mais corretamente o equipamento a ser instalado, nosuperdimensionando os equipamentos de modo que fiquem obsoletos. Para que issopossa ser feito de forma acertada, coletar-se-o todos os dados relevantes acerca detudo o que produzido na propriedade e, munido desses dados, definir-se-, juntamentecom tcnicos da rea (provavelmente o fabricante desse tipo de estrutura) a melhorestrutura a ser implementada e que justifique a aplicao do capital no empreendimento.

    9 ESTUDO DE CASO A PROPRIEDADE

    O projeto a seguir visa estudar a viabilidade econmico-financeira daimplantao de uma estrutura de armazenagem de gros (silos) para um mdio

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    estabelecimento rural. A propriedade est localizada no municpio de Farol, RegioCentro-Oeste do Estado do Paran, distante 20Km de Campo Mouro. Possui258,98 hectares, dos quais 238,52 so destinados produo agrcola. A atividadeprincipal est centrada na produo da soja, milho e trigo, sendo estas culturasdefinidas por um estudo de preos e estratgias agronmicas com o objetivoprincipal de rotao de cultura, para a manuteno da fertilidade do solo.

    10 ANLISE DA SITUAO PRESENTE E FUTURA

    Deve-se notar que pelo fato de o estudo estar centrado na implantao de umsistema de armazenagem de gros, toda a anlise do que a propriedade deixa deagregar de valor aos seus produtos e das possibilidades de ganhos proporcionadospor essa nova estrutura se dar no perodo ps-colheita. Ou seja, o enfoque do estudoest centrado no momento da colheita at o momento de sua comercializao. Assim,no se justifica uma anlise de todo o processo produtivo praticado pela propriedade.

    Iniciando-se o diagnstico da atual situao, tem-se que a propriedade comeaa deixar de agregar valores aos seus produtos depois de colhidos, pelas deficinciasmencionadas a seguir.

    a) Pela falta de unidade de recepo e beneficiamento, os produtos so transportadosdiretamente da lavoura para os armazns de terceiros, da forma como so colhidos.Assim, so enviados com impurezas, umidade e gros avariados, que contribuiro paraum desconto de peso por no terem padro de qualidade com os produtos jbeneficiados, onerando substancialmente o frete, que j majorado nesta poca devidoa uma grande demanda por propriedades que tambm no tm estruturas dearmazenagem. Assim, alm de se ter um grande gasto com essa movimentao deproduto, pois o frete mais caro no perodo de safra e qualquer armazm de terceirofica a uma certa distncia da propriedade, acaba-se custeando frete de gua, impurezase subprodutos que comporo descontos de peso por parte da unidade de recebimento.

    b) Ocorre que, no beneficiamento do produto recebido que feito, como menci-onado anteriormente, em mquinas de pr-limpeza, as quais retiram da massa de groscolhida impurezas, gros midos, palhas e casca que se soltam dos gros por danosmecnicos provocados pelas colheitadeiras uma grande porcentagem desse produtose constitui de subprodutos com alto teor de protena. Ou seja, o produtor deixa de terem seu poder subprodutos que podem ser vendidos para fbricas de rao ou outroscompradores, os quais, quando so recebidos por terceiro, so descontados do total.

    c) Outra deficincia detectada que, normalmente, as empresas armazenadorascobram de alguma forma pelo servio de armazenagem (que costumeiramenteno reflete exatamente o custo da reduo de peso) a denominada quebra tcnica,pois no podem correr o risco de, ao fim de uma safra, faltar produto a ser

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    vendido e entregue, onerando assim um pouco a mais do que se teria em quebrade peso se fosse armazenado em armazm prprio.

    d) Por fim, chama-se a ateno para a fase de comercializao da produo, poisesta a fase do processo produtivo em que mais se pode deixar de agregar preo aosprodutos. So conhecidas no mercado duas maneiras de formao de preo para osprodutos: uma a denominada preo para produto disponvel, e a outra, a denominadade preo de balco. A primeira destina-se a produtos que estejam em posse dosvendedores (produtores), que tero seu preo de venda definido no momento dofechamento da negociao, em que o produtor poder participar mais ativamente nadefinio do preo da venda, para que esse preo reflita no momento a realidade demercado. A segunda destina-se a produtos que estejam depositados em armazns deterceiros, e nela os preos pagos pelos compradores tm seus valores expressos emmurais, ou divulgados na mesa de operao de fixao, obedecendo a um preo deabertura, at o fechamento das operaes dirias, indistintamente de quem sejam osvendedores, como o caso atual da propriedade em estudo. Assim, no havendopossibilidade de alterao no valor, fica em determinados momentos muito menor doque o que se poderia obter no mercado disponvel (Tabela 3). Exceo se verifica emdeterminada poca do ano em que os preos do mercado interno de distanciam umpouco de Chicago, em virtude da oferta local.

    Tabela 3. Diferena de preos mercado de balco e mercado de lotes (disponvel).

    Desta maneira nota-se que possvel obter informaes de mercado de uma formamuito dinmica, permitindo assim algumas nuanas na formao de preos. Umadelas a fixao de preo em Chicago atravs de exportadoras, bem como fazerexportaes diretas, conseguindo assim fixar seus preos nos momentos mais adequados,seja quando se fala em poca seja em momento do dia em que se faz a fixao, vistoque o mercado de Chicago chega a ter alteraes dirias de at 40 ou 60 centavos dedlar por bushel (27,215 kg. de soja), o que significa variaes de at US$ 20,00 portonelada. Ressalta-se ainda que, mesmo que no vendam diretamente o produto ao

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    mercado externo, os produtores podem optar por vend-lo s multinacionais,direcionando para exportaes, que retiram os produtos na propriedade do vendedorou os recebem em terminais porturios, se o vendedor preferir. Em qualquer dasmodalidades, desde que se destinem ao mercado externo, a empresa vendedora seisenta da obrigatoriedade do recolhimento dos impostos, tais como, Pis, Cofins, eFunrural, com base na lei Kandir, o que dificilmente se conseguiria para produtos jdepositados. Esse fator representa mais um incremento no preo de aproximadamente7,65% (no caso da empresa em estudo).

    notvel que os ganhos proporcionados por uma estrutura de armazenagem degros na propriedade esto direta e intimamente ligados sua produo agrcola, ou seja,ao volume de produo dessa propriedade, bem como ao valor (preo) de cada produtono mercado. Nesse sentido, considerar-se-, para efeito de estudo e quantificao dessesganhos, a implantao de dois empreendimentos agrcolas (safras) anuais que se utilizarodessa estrutura de armazenagem e se beneficiaro dos ganhos gerados por ela.

    Iniciar-se- na safra de vero com a implantao de uma lavoura de soja em100% da rea, e posteriormente, como j citado, uma lavoura de milho em 80%da rea. Os 20% restantes ficam destinados a correes de solo e outros tratosnecessrios para manter a rea com boa fertilidade, completando-se a cada cincoanos a rotao de correo.

    Ao considerar a mdia de produo obtida na regio, e em particular a da propriedadeestudada, obteremos um total de 900 toneladas de soja, e 1.260 toneladas de milho, empocas diferenciadas, perfazendo assim um total de produo de 2.160 toneladas anuaisque utilizaro os silos e geraro receitas, como demonstra a Tabela 4 abaixo.

    Tabela 4. Receita total

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    - A primeira receita est relacionada reduo da necessidade de transporte(frete). Verificou-se nesse ano de 2004, variao de preos entre R$ 10,00 e R$ 12,00por tonelada, da propriedade para o armazm do terceiro em Campo Mouro,devido ao excesso de procura por transporte no perodo. Porm, para efeito declculo, estimou-se um custo de R$ 5,00 por tonelada.

    - Quanto diferena de preos observada entre a venda dos produtos nomercado de balco e mercado disponvel, seguiu-se a Tabela 1, selecionando-se amenor diferena entre esses preos para minimizar as chances de erro. O valorencontrado foi de R$ 2,30 por saca de produto, seja ele milho ou soja, valor esteque foi multiplicado pela produo anual.

    - A terceira categoria de ganhos est relacionada aos tributos que no sero maispagos pelo fato de se estar destinando a mercadoria ao mercado externo, o que gerauma receita incremental de 7,65%. Estimou-se destinar 100% da soja e 50% do milhoao mercado externo, trabalhando com preos futuros de trinta reais para a soja equatorze reais para o milho, para poder estimar em valores monetrios esses 7,65%.

    - Por fim, ganhar-se-ia com o aproveitamento de resduos que saem na pr-limpeza dos gros aps serem colhidos. Esses resduos apresentam altos teoresde protena e energia, e podem ser comercializados. Para mensurao dos ganhos,estimou-se retirada de 3% de resduos e preos encontrados no mercado paraesses produtos (R$ 220,00 por tonelada).

    Neste sentido, julga-se ser o investimento em um sistema de armazenagem e beneficia-mento de gros uma alternativa bastante vivel para a propriedade em estudo, na me-dida em que permite minimizar gastos e optar por outras formas de fixao de preo,agregando maior valor ao produto e conseguindo um maior lucro com a atividade.

    11 CUSTO DO EQUIPAMENTO

    Segundo Silva (2003), ao projetar uma unidade armazenadora, em primeirolugar se devem determinar os tipos e as quantidades de produtos a receber. Emvirtude disso, coletaram-se as mdias de produo anuais da propriedade, bem

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    como as variedades de produtos cultivadas, para junto com o corpo tcnico daempresa fornecedora dos equipamentos, definir as capacidades e especificaestcnicas do que deve ser adquirido.

    As marcas dos equipamentos orados, bem como a execuo da obra civil,foram escolhidos aps um levantamento atravs de pesquisa relacionada a custo,qualidade, durabilidade e assistncia tcnica no ps-venda de todas as marcasdisponveis no mercado. Na Tabela 5, apresentam-se oramentos dos equipamentosque obtiveram melhor custo-benefcio.

    Tabela 5. Custos de Implantao

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    Como o total orado para o projeto em estudo atingiu a cifra de R$ 598.813,04,o estudo ser feito com financiamento atravs do MODERINFRA, que uma linhade financiamento com recursos do BNDES operacionalizada por vrias instituiesfinanceiras do pas. Esta linha opera com 100% do valor orado, at o limite de R$600.000,00 por CPF ou CNPJ, com taxa de juros de 10,75% a.a. Opera com oitoanos para pagamento, sendo um ano de carncia e sete amortizaes anuais, comomostra a tabela a seguir (Tabela 6).

    Tabela 6. Financiamento

    Nota-se que, como o investimento inicial ser pago a prazo, ao longo dos anosde execuo do projeto, quando se trazem essas parcelas para a data atual, com o

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    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

    407.185,91

    107.833,59

    37.257,04

    46.990,5157,567,15

    67.504,14

    77.882,9087.668,87

    97.664,01107.833,59 107.833,59

    custo de capital do financiamento (10,75% a.a), elas retornam um valor menor que asoma dos valores dos equipamentos hoje. Esse novo valor o investimento inicialpara a execuo dos clculos financeiros do projeto atravs do financiamento, quecorresponde a R$ 407.185,91.

    12 DESPESAS OPERACIONAIS

    Presumivelmente, a partir do momento em que se instala uma nova estrutura comoessa na propriedade, se incorrer em alguns gastos adicionais para mant-la. Como seobserva a seguir (Tabela 7), essas despesas se resumem basicamente em mo-de-obraadicional, que demandada pela estrutura um funcionrio fixo para sua manutenoe dois extras para auxiliarem na poca da safra gastos adicionais de energia, peaspara manuteno dos equipamentos, e por fim, lenha para a secagem dos produtos.

    Tabela 7. Despesas Operacionais Anuais

    13 CLCULO DA VIABILIDADE

    De posse do conjunto de dados acima, pde-se montar um fluxo de caixapara o projeto (como demonstrado abaixo), que servir de base para o clculo daviabilidade econmico-financeira do empreendimento.

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    As tcnicas sofisticadas empregadas para a anlise de viabilidade econmico-financeira so as recomendadas por Gitman (2002), quais sejam: Payback, o qualpossibilitar conhecer o tempo de retorno do investimento; Valor Presente Lquido(VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR).

    a) Perodo de Recuperao de Investimento (Payback): considerando-se o investimentoinicial de R$ 407.185,91 e as entradas anuais lquidas observadas na tabela acima,pode-se calcular o payback do projeto conforme tabela a seguir (Tabela 8).

    Tabela 8. Payback

    Percebe-se assim que o retorno do investimento ocorrer em 5,89 anos, oque representa aproximadamente 5 anos e 11 meses.

    b) Valor Presente Lquido (VPL): o projeto retornar, em valores atuais, R$44.045,30. Ou seja, os ganhos que a propriedade ter ao longo do projeto, sesomados em valores de hoje, representariam a quantia acima referida, o quedemonstra ser bastante vivel o investimento.

    c) Taxa Interna de Retorno (TIR): a partir da anlise da Taxa Interna de Retorno (TIR),fica comprovado que este projeto vivel, seja do ponto de vista do mundo dosnegcios, seja do ponto de vista acadmico. Nota-se que, tendo o projeto um custo decapital de 10,75% a.a. e um retorno de 13,06% a.a., ele est proporcionando um ganhode 2,31% alm do que necessrio para que se torne vivel sua implementao. Assim, um projeto bastante interessante para o agricultor.

    14 FLUXO DE CAIXA REAL DO PROJETO

    Com base nos clculos acima, pode-se notar que muitos dos nmeros apresentados,embora estejam corretos e indiquem pela viabilidade do investimento, no fornecemuma representao transparente do que ser gasto para se implantar esse sistema dearmazenagem de gros na propriedade. Ou seja, pelo fato da possibilidade de secaptar os recursos atravs de financiamento a juros atrativos, o proprietrio nonecessitar despend-los no momento da aquisio do equipamento. Em virtude

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    disso, construiu-se uma tabela abaixo, que visa justamente posicionar o investidorfrente ao que realmente sara do seu bolso e o que sobrar de recursos ao finaldo perodo de investimento de posse dos equipamentos.

    Tabela 9. Fluxo de Caixa Real

    15 CONCLUSO

    Como mencionado anteriormente, o setor agrcola vem sofrendo um esmagamentoda sua margem de lucro em razo do aumento no preo dos insumos e diminuiodos preos pagos pelos produtos, pois os produtores so tomadores de preos e notm poder de barganha para questionar esses montantes. Assim, viu-se na armazenagemde gros uma alternativa de agregao de valor aos produtos, medida que se evitariamgastos com frete, deixar-se-ia o produto em condies de ser negociado a um preomelhor e se ajustaria o fluxo de trabalho, mquinas e caminhes.

    Aps a realizao do trabalho, fica evidente ser a armazenagem de gros umaalternativa bastante vivel de agregao de valor produo agrcola de, no mnimo,mdias propriedades rurais, provando para os produtores que investir em equipamentosde armazenagem no mais privilgio de grandes latifundirios, mas tambm acessvelaos produtores menores, para obterem melhores preos e agregar valor ao produto.

    Mais especificamente quanto aos resultados obtidos com o estudo, pde-seperceber que a estrutura de armazenagem quase consegue se pagar, sem exigir aretirada de recursos do bolso dos proprietrios, o que viabiliza a sua implantao.Analisando-se a Tabela 9, percebe-se que o montante final de recursos que oinvestidor ter de imobilizar durante o empreendimento para financiar a compra ea montagem de toda a estrutura de R$ 73.431,16; porm, no se pode esquecerque essa cifra ser atingida aps o oitavo ano de posse da estrutura. Ou seja, oprodutor no precisaria disponibilizar nem R$ 10.000,00 por ano, para no final de

    Fonte: Elaborada pelo acadmico, (2004).

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    10 anos estar com uma propriedade toda estruturada e com um residual de R$136.458,31, proporcionados pelos dois ltimos anos do investimento, em que j seterminou de pagar a estrutura e ainda se beneficia das receitas.

    No bastasse isso, o perodo de durao desse tipo de silo de mais de 20anos, o que permitir propriedade continuar agregando esses valores durantepelo menos o dobro de tempo do perodo de durao do projeto sem ter despesaalguma alm das despesas operacionais, que no representam nem 26% das receitas.

    Sendo assim, recomenda-se que os produtores pensem mais seriamente naarmazenagem de gros como uma forma de aumentar a rentabilidade de suapropriedade e como algo que est prximo e acessvel a eles. A implantao deum armazm em nvel de propriedade rural provou ser uma alternativa vivel eque pode colocar muitos dos agricultores brasileiros em uma situao um poucomenos desconfortvel do que aquela em que eles se encontram atualmente.

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