52669355 Diretrizes Plano Diretor Fisico
Transcript of 52669355 Diretrizes Plano Diretor Fisico
-
81
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA
ESPECIALIZAO DE ARQUITETURA EM SISTEMAS DE SADE
LARISSA LEIROS DE SOUZA
DIRETRIZES PARA ELABORAO DE UM PLANO DIRETOR FSICO HOSPITALAR:
O CASO DO COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL, NATAL/RN
SALVADOR-BAHIA 2008
-
82
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA
ESPECIALIZAO DE ARQUITETURA EM SISTEMAS DE SADE
LARISSA LEIROS DE SOUZA
DIRETRIZES PARA ELABORAO DE UM PLANO DIRETOR FSICO HOSPITALAR:
O CASO DO COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL, NATAL/RN
Monografia apresentada ao Curso de Especializao da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obteno do Ttulo de Especialista em Arquitetura em Sistemas de Sade. Orientadora: Profa Mariluz Gmez Esteves
SALVADOR-BAHIA 2008
-
83
000:000 Souza, Larissa, 0000 Diretrizes para elaborao de um Plano Diretor Fsico Hospitalar:
o caso do complexo hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel Salvador/BA/ Jos da Silva
- Salvador: Larissa Leiros de Souza, 2008. 96f.: il.
Monografia (Especializao) Programa de Ps-Graduao em
Arquitetura. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura , 2008.
1. Arquitetura Hospitalar
2. Arquitetura e Sade I. Ttulo II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de
Arquitetura III. Monografia.
-
84
LARISSA LEIROS DE SOUZA
DIRETRIZES PARA ELABORAO DE UM PLANO DIRETOR FSICO HOSPITALAR:
O CASO DO COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL, NATAL/RN
MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAO submetida em satisfao parcial dos requisitos ao grau de
ESPECIALISTA EM ARQUITETURA DE SISTEMAS DE SADE
Cmara de Ensino de Ps-Graduao e Pesquisa da
Universidade Federal da Bahia
Aprovado: Comisso Examinadora
...........................................................
...........................................................
...........................................................
Data da Aprovao: ......./......./......... Conceito:
-
85
minha famlia por todos os incentivos e esforos para meu engrandecimento pessoal e profissional.
-
86
AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS
Deus, por mais essa oportunidade profissional concedida-me. minha famlia, pela presena constante em todos os momentos da minha vida; Aos amigos Edimar, Jos, Jos Antnio e Ana Paula, por me acolherem com tanto carinho em seu lar e me fazer sentir parte dele; Marise, pela amizade, companheirismo e ajuda ao longo da especializao; Aos professores do Arqsade, principalmente ao Prof. Antnio Pedro, pelos conhecimentos transmitidos; Profa. Mariluz, pela orientao e experincia compartilhada; A arquiteta Ana Carolina Potier, pelo material disponibilizado e ateno sempre prestada; A arquiteta Maria Helena Mota, pelo companheirismo e inmeras ajudas; A arquiteta Mrcia Oliveira pelo material fornecido; Dr. Jos Renato Brito Machado, Diretor do Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, pela disponibilidade que nos atendeu; Aos funcionrios do Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, em especial dos setores administrativos, de almoxarifado, processamento de roupa, nutrio, CME e CCIH pelas informaes e orientao concedidas; Aos amigos e companheiros de turma, por todos os inesquecveis momentos compartilhados ao longo do ano de 2007; A todos meus sinceros agradecimentos!
-
87
Um hospital s ser humano quando os humanos que dele se servem ou nele atuam
forem compreendidos e respeitados.
(Lindel, 1982)
-
88
RREESSUUMMOO
Os Estabelecimentos Assistenciais de Sade (EAS) vm assumindo, nos ltimos anos, uma
postura de empreendimento empresarial frente necessidade de desenvolver mecanismos
de planejamento que direcione e organize essas instituies, cada vez mais, flexveis e
complexas. Nesse processo, os gestores vm se conscientizando da importncia de se
aplicar a prtica de planejamento em suas administraes, proporcionando a otimizao de
recursos, reduo de custos e a qualidade na prestao do servio. Como instrumento de
planejamento, o Plano Diretor Hospitalar (PDH) vem destacando-se como pea
fundamental e elementar para qualquer gesto, seja pblica ou privada, de novos ou velhos
estabelecimentos, envolvendo no apenas a infra-estrutura fsica, administrativa,
financeira, mas tambm aspectos culturais, epidemiolgicos e socais. Devido a essa gama
de variantes tratadas por esse documento e, por tratar-se de uma estratgia de
planejamento, fundamental que um EAS disponha dessa ferramenta, elaborando
diretrizes e mecanismos que guiem o hospital na sua funo social, solucionando os
problemas identificados, evitando a degradao ambiental e patrimonial, melhorando a
qualidade de seu atendimento e buscando sempre um desenvolvimento sustentvel. Aliado
a esse fato, as transformaes tecnolgicas bem como os novos conceitos e metodologias
de como tratar as enfermidades, obrigaram as instituies de sade a repensar seu cenrio
exigindo um novo desenho hospitalar, com uma estrutura fsica altamente flexvel, para
aumentar sua capacidade de adaptao, sem esquecer de medidas que diminuam os custos
tanto operacionais como fsicos. Na tentativa de adequar o maior hospital do estado s
novas exigncias, essa pesquisa tem como objetivo elaborar as diretrizes que nortearo o
Plano Diretor Fsico do complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, no que se
referem s questes espaciais, tais como, setorizao, fluxo e reas de ampliaes. O
estudo apresenta-se divido em duas partes, sendo a primeira constituda pela reviso
bibliogrfica, com diferentes vises sobre o assunto, procurando mostrar a evoluo fsica
do edifcio hospitalar na histria, a participao do planejamento nestes, atravs do Plano
Diretor Fsico. A segunda parte destina-se ao estudo de caso, onde ser apresentado o
diagnstico do objeto, bem como as diretrizes para a elaborao de seu Plano.
Palavras-chave: 1. Plano Diretor Hospitalar. 2. Arquitetura hospitalar. 3. Planejamento Hospitalar.
-
89
AABBSSTTRRAACCTT
The Health Assistance Organizations (HAO) have been adopting a kind of business
entrepreneurship and developing mechanisms of planning to drive and organize those
institutions that are becoming more flexible and complex as well. In this process, the
managers are becoming aware of the importance of the planning in their work, leading to
the improvement of resources, quality of service and reducing costs. As an instrument of
planning, the Hospital Director Plan is in focus as an important and elementary thing in
any management, public or private, in old or new institutions, involving not only the
financial, administrative and physical infrastructure, but also cultural, epidemic and social
aspects. Due to those variants and considering a planning strategy, it is very important that
an HAO use this tool by elaborating mechanisms that drive the hospital in its social
function, by solving problems, avoiding environmental and patrimonial degradation,
improving the quality and searching a sustainable development. Together with this fact, the
technological transformations, as well as the new concepts and methodologies in treating
the diseases, made the institutions think about their scenery which demands a new hospital
design with a flexible physical structure to increase their adaptation, without forgetting the
ways to decrease the physical and operational costs. This work has the purpose elaborating
the norms that will lead the Physical Director Plan of Monsenhor Walfredo Gurgel
Hospital, regarding the spatial questions, such as sectors and new areas. The study is
divided in two parts the first is the revision of the bibliography, with different opinions
about the subject, the showing of the physical growing of the building and the participation
of the panning through the Physical Director Plan. The second part is the case study where
the diagnosis of the object will be presented as well as the norms for the elaboration of the
Plan.
Key words: 1. Hospital Director Plan. 2. Hospital Architecture. 3. Hospital Planning.
-
90
LLIISSTTAA DDEE IILLUUSSTTRRAAEESS
Figura 1: Modelo tridimensional do Monastrio de St. Gall, com destaque para a enfermaria (Tipologia claustral).
20
Figura 2: Planta da enfermaria do Monastrio de St. Gall. 20 Figura 3: Modelo tridimensional do Monastrio de Cluny, com destaque para o edifcio da grande enfermaria (Tipologia Basilical).
20
Figura 4: Gravura da Beguinage de Amsterdam (Colnia). 21 Figura 5: Vista area do Ospedale Maggiore. 22 Figura 6: Elevao e plantas do trreo (abaixo, esquerda) e do primeiro piso do London Hospital.
22
Figura 7: Planta do Hospital Lariboisire, Paris 24 Figura 8: Representao tridimensional da volumetria do Hospital Memorial, EUA.
25
Figura 9: Representao tridimensional, com as reas de ampliaes, do Hospital Rua.
26
Figura 10: Representao tridimensional, derivada do tipo Hospital Rua. 26 Figura 11: Maquete fsica do hospital e maternidade So Camilo. 27 Figura 12: Fachada do Pine Lake Medical Center. 28 Figura 13: Lobbie do Hospital e Maternidade So Camilo. 28 Figura 14: Fachada Frontal do complexo. 55 Figura 15: Vista do blocos A e B do HMWG. 55 Figura 16: Carrinho de limpeza estacionado na circulao. 61 Figura 17: reas de espera para acompanhantes da UTI 1 na circulao. 61 Figura 18: Instalaes atuais do setor de nutrio e diettica. 63 Figura 19: Ampliao do bloco C que abrigar as novas instalaes do setor de nutrio e diettica.
63
-
91
LLIISSTTAA DDEE QQUUAADDRROOSS
Quadro 1: Resumo dos principais aspectos a serem trabalhados no plano de ao de um Plano Diretor Fsico Hospitalar.
53
Quadro 2: Distribuio espacial por pavimento com as respectivas atividades do Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
56
-
92
LLIISSTTAA DDEE SSIIGGLLAASS
CME Central de material esterilizado 58 EAS Estabelecimento Assistencial de Sade 29 HMWG - Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel 56 PA Pronto Atendimento 54 PDH Plano Diretor Hospitalar 41 PSCR - Pronto-Socorro Dr. Clvis Sarinho 56 SSS Sistema de Sade Suplementar 34 SDD Sistema de Desembolso Direto 34 SUS Sistema nico de Sade 34
-
93
SSUUMMRRIIOO
Apresentao 14 1 INTRODUO 15 1.1 JUSTIFICATIVA 16 1.2 OBJETIVOS 18 2 A EVOLUO DO ESPAO FSICO DOS HOSPITAIS 19 2.1 O ESPAO FSICO DO HOSPITAL DO FUTURO 28 3 O PLANEJAMENTO EM EAS 32 3.1 O PLANEJAMENTO E ORGANIZAO DO SISTEMA DE SADE NO BRASIL
34
3.2 O PLANEJAMENTO FSICO DE EAS 36 4 PLANO DIRETOR FSICO HOSPITALAR 40 4.1 DEFINIES 40 4.2 O PDH COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO 41 4.3 METODOLOGIAS DE ELABORAO DE UM PLANO DIRETOR
43
4.4 ASPECTOS ABORDADOS EM UM PLANO DIRETOR FSICO HOSPITALAR
47
5 COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL
54
5.1 APRESENTAO 54 5.2 DIAGNSTICO FSICO-ESPACIAL 55 5.3 DIRETRIZES PARA ELABORAO DO PLANO DIRETOR FSICO DO COMPLEXO HOSPITALAR MOSENHOR WALFREDO GURGEL
74
6 CONSIDERAES FINAIS 77 REFERNCIAS 78 ANEXOS 81
-
94
AAPPRREESSEENNTTAAOO
O presente trabalho consiste no ltimo quesito de avaliao para obteno do
ttulo de Especialista em Arquitetura de Sistemas de Sade. Seu tema, diretrizes para
elaborao de um plano diretor fsico hospitalar: o caso do complexo hospitalar Monsenhor
Walfredo Gurgel, surgiu a partir do interesse por Plano Diretor Hospitalar e pela
necessidade de pesquisas referente ao tema, frente ausncia de fontes bibliogrficas e o
desejo de contribuir no crescimento do maior hospital pblico do Estado. O tema dividido
em duas partes permite conhecer a importncia do planejamento nas diversas reas que
compe a entidade hospitalar, atravs de uma reviso bibliogrfica, e apresentar
encaminhamentos para o edifcio-objeto, atravs do estudo de caso.
-
95
1 INTRODUO
A pesquisa intitulada Diretrizes para um Plano Diretor Fsico Hospitalar: o caso
do Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, tratar de Plano Diretor Hospitalar,
atravs do estudo das especificidades que envolvem esse tipo de documento, direcionando
para num estudo de caso, que ter como objeto o Complexo Hospitalar Monsenhor
Walfredo Gurgel.
Os Estabelecimentos Assistenciais de Sade vm assumindo, nos ltimos anos,
uma postura de empreendimento empresarial frente necessidade de desenvolver
mecanismos de planejamento que direcione e organize essas instituies, cada vez mais,
flexveis e complexas.
Como instrumento de planejamento, o Plano Diretor Hospitalar (PDH) vem
destacando-se como pea fundamental e elementar para qualquer gesto, seja pblica ou
privada, de novos ou velhos estabelecimentos.
O PDH serve tambm como uma ferramenta de busca por recursos financeiros,
sobretudo em um mercado cada vez mais competitivo e economicamente restrito.
Nesse contexto, importante ressaltar a necessidade da elaborao de diretrizes
e mecanismos que guiem o hospital na sua funo social, solucionando os problemas
identificados, evitando a degradao ambiental e patrimonial, melhorando a qualidade de
seu atendimento e buscando sempre um desenvolvimento sustentvel.
Torna-se tambm essencial, nesse processo de planejamento, considerar o
mecanismo administrativo em vigor, trazendo para junto gestores, funcionrios e usurios,
a fim de apresentarem sugestes condizentes com a realidade institucional. Somente com a
participao do indivduo que faz parte do cenrio que se pode elaborar um documento
coerente, facilitando assim, sua viabilizao e real aplicabilidade.
O Complexo Hospitalar Mosemhor Walfredo Gurgel formado pelo hospital de
mesmo nome e pelo Pronto Socorro Dr. Clvis Sarinho, contendo uma rea total de
12.739,00 m. Sua inaugurao se deu em 14 de maro de 1971, recebendo o nome de
Hospital Geral e Pronto Socorro de Natal. Porm, seu funcionamento teve incio apenas em
31 de maro de 1973, passando a chamar-se Mosenhor Walfredo Gurgel, em homenagem
ao ex-Governador do Estado. J o Pronto Socorro, foi inaugurado no dia 08 de fevereiro de
2001, com o objetivo de ampliar o hospital para comportar a demanda de pacientes
atendidos.
-
96
Os principais procedimentos oferecidos pelo complexo so ortopedia, clnica-
mdica, pediatria, cirurgia geral, U.T.I, cirurgia buco-maxilo-facial, laboratrio de analises
clnicas, raio-x, terapia ocupacional e fisioterapia, servios de tomografia
computadorizada, ultra-sonografia, endoscopia digestiva, fonoaudiologia, neurologia,
neurocirurgia, oftalmologia, otorrinolaringologia.
Em julho de 2003, conquistou sua autonomia no que se refere ao planejamento
e execuo de despesas de abastecimento e manuteno da infra-estrutura, atravs da
insero no Sistema Integrado de Administrao Financeira do Estado.
Para alcanar os resultados desejados, a pesquisa foi pautada numa metodologia
de Estudo de Caso (Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel) e reviso
bibliogrfica, atravs do levantamento de conceitos e abordagem de diferentes autores
sobre o assunto, contribuindo para a elaborao de uma proposta a ser aplicada no caso.
Para tanto, a pesquisa seguiu os seguintes procedimentos metodolgicos: Levantamento
bibliogrfico (pesquisa bibliogrfica em bases de pesquisas virtuais e bibliotecas locais a
textos isolados e trabalhos de diferentes autores, sem delimitao de data, pesquisa
bibliogrficas a legislaes que tratem do assunto, como RDC 50 e manuais da ANVISA);
Reviso bibliogrfica (Elaborao de texto referenciando as principais idias e conceitos
encontrados no levantamento bibliogrfico); Estudo de caso (Levantamento das instalaes
fsicas do objeto, anlise em relao legislao vigente e construo das diretrizes).
Para o melhor desenvolvimento do tema, o estudo est divido em duas partes,
sendo a primeira constituda pela reviso bibliogrfica, com diferentes vises sobre o
assunto, procurando mostrar a evoluo fsica do edifcio hospitalar na histria, a
participao do planejamento nestes, atravs do Plano Diretor Fsico. A segunda parte
destina-se ao estudo de caso, onde ser apresentado o diagnstico do objeto, bem como as
diretrizes para a elaborao de seu Plano.
1.1 Justificativa
O PDH constitui um documento pessoal por tratar de questes particulares e
especficas de um determinado objeto, envolvendo no apenas a infra-estrutura fsica,
administrativa, financeira, mas tambm aspectos culturais, epidemiolgicos e socais.
Devido essa gama de variantes tratadas por esse documento e, por tratar-se de uma
estratgia de planejamento, fundamental que um Estabelecimento Assistencial de Sapude
(EAS) disponha dessa ferramenta.
-
97
Alm da relevncia da pesquisa, outro aspecto observado a escassez de
bibliografia referente o assunto, elevando a importncia dessa discusso para a
comunidade, uma vez que servir como uma fonte de informao sobre o tema.
Quando analisada a estrutura fsica do complexo apenas atravs dos nmeros,
esta satisfatria para atender o municpio e a regio metropolitana no tocante aos servios
no disponveis nos locais. Entretanto, o quadro existente traduz uma estrutura
sobrecarregada, necessitando ampliaes em sua infra-estrutura predial e de servios. Esse
fato ocorre pelo excesso e, na maioria das vezes, desnecessrio atendimento de pacientes
advindo de outros municpios, que corresponde a 60% das internaes do Hospital.
Diante dos aspectos levantados, preciso investir em mecanismos de
planejamento, especificamente um Plano Diretor Fsico Hospitalar para o Complexo
Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, organizando sua estrutura fsica para suportar
reformas e ampliao necessrias para o atendimento de seus usurios. Aliado a isso, que
trata-se do maior hospital pblico do Estado, tanto em termos de recursos assistenciais
como de demanda de pacientes, servindo de referncia para todo o Rio Grande do Norte.
Outro ponto que justifica a elaborao de um Plano para o complexo a
ausncia de rea livre para ampliao horizontal, o que deixa a edificao estagnada,
limitando as possibilidades da expanso assistencial, surgindo os problemas comuns
ausncia de planejamento.
Como visto, um Plano Diretor engloba uma sria de variante, as quais
envolvem uma equipe multidisciplinar, exigindo um longo tempo de pesquisa e
profissionais da rea de engenharia, arquitetura, economia, administrao, enfermagem e
medicina. Dessa forma, por tratar-se de um trabalho acadmico, no seria possvel dispor
de tal equipe em um curto perodo de tempo, restringindo a pesquisa elaborao de
diretrizes que auxiliem na futura elaborao do Plano Diretor.
-
98
1.2 Objetivos
A pesquisa tem como objetivo geral elaborar as diretrizes que nortearo o Plano
Diretor Fsico do complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, no que se referem s
questes espaciais, tais como, setorizao, fluxo e reas de ampliaes.
Dentre os objetivos especficos, podemos enumerar:
a) Demonstrar a importncia da concepo de instrumentos
planejadores, como um Plano Diretor, para o gerenciamento dos
EAS;
b) Definir e apresentar os aspectos que envolvem um PDH,
remetendo-os ao Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo
Gurgel;
c) Analisar o espao fsico do EAS estudado segundo os aspectos
preconizados pelas legislaes especficas e identificar as
principais falhas para serem trabalhadas no Plano.
-
99
2 A EVOLUO DO ESPAO FSICO DOS HOSPITAIS
no perodo da Idade Mdia que teve incio, no ocidente, o conceito de
hospital, como lugar de ateno ao enfermo em regime de internao, estando sua
atividade diretamente ligada Igreja Catlica, cujo principal objetivo era fornecer auxlio
material e espiritual ao indivduo (GOMBRICH, 1979 apud MEDEIROS, 2005, p. 41).
Estes hospitais tinham a finalidade de isolamento dos enfermos para minimizar possveis
ricos e epidemias, quase no existindo a prtica de procedimentos teraputicos (TOLEDO,
2008b, p.1).
Nesse perodo, identificam-se trs tipologias de hospitais, claustral, basilical e
colnia. Esse primeiro era erguido em volta das catedrais nas instituies monsticas e sua
administrao era de responsabilidade das autoridades eclesisticas. A configurao
espacial claustral, derivada do tipo trio, era constituda de um ptio interno descoberto
para onde ficavam voltados os ambientes. Essa distribuio permitia um vinculo maior
com o espao interno em relao ao externo, uma maior integrao das atividades, quanto
s relaes sociais de seus usurrios, alm da proteo climtica, ficando as aberturas
protegidas do frio externo. O acesso edificao tambm era feito pelo ptio central,
funcionando esse como uma ante-sala (Figuras 1 e 2). A adoo do partido claustral para as
enfermarias se devia provavelmente a dois motivos, ao status social, na vida monacal,
dado s pessoas que realizavam essa atividade, portanto o edifcio deveria ser mais
sofisticado que o tipo vernacular da poca. O outro devia ao fato de que esse tipo
proporcionava um isolamento adequado para a rotina monacal (MEDEIROS, 2005, p. 43-
45).
O tipo basilical surgiu na Baixa Idade Mdia, a partir da necessidade do
aumento de leitos ocasionada, principalmente, pelo crescimento das cidades. O
atendimento aos enfermos continuava disponibilizado nos mosteiros, porm o edifcio
passou por transformaes frente nova demanda e exigncias da ascendente sociedade
das cruzadas e das novas rotas comerciais. Para tanto, adotou-se para os edifcios
hospitalares a tipologia empregada nas baslicas, com a idia de acolhimento, com um
sentido de coletividade vida dos enfermos, incluindo teto, repouso, banhos e conforto
espiritual, criando ambientes amplos em planta e em p-direito (Figura 3). A planta era
retangular, formada por duas naves laterais, onde ficavam as enfermarias e uma central,
que abrigava a capela e a cozinha, em cada extremidade (MEDEIROS, 2005, p. 46-48).
-
100
Figura 1: Modelo tridimensional do Monastrio de St. Gall, com destaque para a enfermaria (Tipologia claustral). Fonte: MEDEIROS, 2005.
Figura 2: Planta da enfermaria do Monastrio de St. Gall. Legenda: (1) Ptio interno; (2) Claustro; (3) Enfermarias; (4) Latrinas; (5) Refeitrio; (6) Capela.
Fonte: MEDEIROS, 2005.
Figura 3: Modelo tridimensional do Monastrio de Cluny, com destaque para o edifcio da grande enfermaria (Tipologia Basilical). Fonte: MEDEIROS, 2005.
-
101
A estrutura hospitalar do tipo colnia, encontrada em todo o perodo da Idade
Mdia, est associada lepra. Uma vez desconhecida essa patologia e sua cura, e estando
sua transmisso vinculada ao contato, o isolamento desses enfermos foi a soluo adotada
em toda a Europa. Constitua-se de uma rea isolada e cercada, em um lugar provido de
gua e reas verdes, j que deveria haver meio de sobrevivncia para que no houvesse
contato dos doentes com o restante da comunidade. Na distribuio espacial, a rea central
ficava livre, sendo a periferia ocupada pelas celas individuais ou casas isoladas. Nas
extremidades da rea central erguiam-se a capela, as edificaes de atividades comunitrias
e os aposentos dos monges ou freiras (Figura 4). Esse modelo perdurou mesmo com o fim
da Idade Mdia (MEDEIROS, 2005, p. 48-50).
Figura 4: Gravura da Beguinage de Amsterdam (Colnia).
Fonte: MEDEIROS, 2005.
No renascimento, com o surgimento de outras foras e organizaes sociais, a
Igreja perde a hegemonia na assistncia sade (BINET, 1996 apud MEDEIROS, 2005, p.
50), passando os nobres e ricos a tambm construrem hospitais, os quais adquirem uma
postura mais urbana, comeando a desvincular-se fisicamente das instituies religiosas.
O que era tido no hospital medieval como obrigao religiosa, foi pouco a pouco se
convertendo em um dever cvico de assistncia aos membros desvalidos da sociedade
(ROSEN, 1994 apud MEDEIROS, 2005, p. 59). Nesse surgimento do hospital civil,
identificam-se duas tipologias de edificaes, as enfermarias de cruzadas e a casa de
campo, as quais, segundo Binet (1996 apud MEDEIROS, 2005, p. 60), determina o fim da
influencia da arquitetura religiosa sobre os hospitais.
Com o crescimento da demanda por leitos e a impossibilidade de ampliao dos
edifcios baslica, comea a ser implantanda uma tipologia de cruzamento das enfermarias,
que consistia na simetria dos traados geomtricos simples, possibilitando uma viso do
-
102
altar da capela igual para todos os leitos, o q no ocorria na baslica. Alm disso, essa
tipologia permitia uma maior superviso dos leitos, melhor ventilao e a separao dos
pacientes pelo tipo e nvel de enfermidade (Figura 5). Os servios passaram a pertencer ao
traado do edifcio, no ficando mais anexo como ocorria anteriormente. Em relao s
fachadas, h uma retomada dos modelos gregos, em funo da simetria (MEDEIROS,
2005).
A volumetria do conjunto definida pela srie de intersees de paralelogramos de baixa altura relativa, com larga predominncia das dimenses da planta e destaque para os espaos abertos. Da perspectiva interior, entretanto, ainda se sente a presena da religiosidade no cotidiano dos enfermos na ordenao do desenvolvimento da planta a partir do altar no centro do edifcio cruciforme, que ainda recebe iluminao zenital enfatizadora por sua cpula destacada da coberta, eventualmente em domo, nica inovao estrutural da Renascena (MEDEIROS, 2005, p. 54).
A tipologia da Casa de Campo teve incio com a reforma luterana, quando a
Igreja Catlica perdeu espao, inclusive na ateno aos enfermos. A conjugao
hospital/Igreja foi praticamente extinta, tendo os estabelecimentos assistenciais financiados
pela burguesia, adquirindo carter civil. As enfermarias, antes coletivas e voltadas para a
capela, passaram a ter uma maior privacidade e isolamento com a criao de quartos e
reduo do nmero de leitos em cada unidade (Figura 6). As edificaes foram
verticalizadas e a planta assumiu a forma de H, C, U ou E (MEDEIROS, 2005, p. 54-
55).
Figura 5: Vista area do Ospedale Maggiore.
Figura 6: Elevao e plantas do trreo (abaixo, esquerda) e do primeiro piso do London Hospital.
Fonte: MEDEIROS, 2005. Fonte: MEDEIROS, 2005.
-
103
Nas ltimas dcadas do renascimento, as cincias mdicas, como fisiologia e
anatomia, e pesquisas em hospitais comeam a avanar, possibilitando um maior
conhecimento da precariedade dessas unidades, relacionando pela primeira vez, o espao
hospitalar a mortalidade de pacientes.
O estudo mais significativo que interferiu nesse processo foi o do mdico
francs, Jacques Tenon que atravs de visitas realizadas em vrias instituies produz um
diagnstico da situao, resultando num conjunto de normas e recomendaes, Memoire
sur les hpitaux de Paris.
Essa pesquisa possibilitou a elaborao de um diagnstico, bem como
indicaram novos rumos para o edifcio hospitalar, contribuindo para a formulao de um
programa de reforma e reconstruo baseado no que havia de melhor entre os hospitais
pesquisados (TOLEDO, 2008b, p. 2).
Toledo ressalta a importncia dos estudos de Tenon.
As cinco memoires feitas por Tenon para a Academia de Cincias, aps um exaustivo e pioneiro inqurito sobre as condies de funcionamento dos hospitais da Frana e Inglaterra, delineiam os princpios que, ao longo de todo o sculo XIX e pelo menos at a dcada de 1920, presidiram a arquitetura hospitalar - longos pavilhes paralelos, ordenados de maneira regular, segundo diversos sistemas de simetria (BENCHIMOL, 1990, apud TOLEDO, 2008b, p. 3).
Dessa forma, a medicina flexiona-se em direo ao hospital como um
instrumento de cura, sendo necessrio criar um hospital saudvel. nesse momento que,
segundo Foucault, (2002 apud MEDEIROS, 2005, p. 57), passa-se a estudar o edifcio
hospitalar no contexto urbano, avaliando sua implantao no terreno para a organizao
dos fluxos internos e distribuio dos leitos. Para englobar essas novas teorias, que nasce
o hospital iluminista.
A concepo espacial do tipo pavilhonar est pautada principalmente nas
questes de salubridade, pois as laterais livres permitem a ventilao cruzada e a
iluminao natural; na funcionalidade em relao s atividades; e na articulao dos
espaos atravs de circulaes (MEDEIROS, 2005, p. 59-60) (Figura 7). Nesse momento o
nmero de leitos reduzido e os pacientes separados por enfermidades, propiciando o
surgimento dos hospitais especializados (TOLEDO, 2008b).
Na defesa do edifcio pavilhonar, Florence Nightingale destaca-se com suas
idias, at ento revolucionrias, sobre tcnicas de enfermagem com nfase na qualidade
-
104
sanitria do edifcio hospitalar, auxiliando na diminuio da taxa de mortalidade
(MEDEIROS, 2005; TOLEDO, 2008b).
Figura 7: Planta do Hospital Lariboisire, Paris Legenda: (1) enfermarias; (2) refeitrios; (3) escritrios; (4) capela; (5) aposentos das religiosas; (6) cirurgias; (7) posto de enfermagem; (8) cozinha; (9) farmcia; (10) ptio. Fonte: MEDEIROS, 2005.
Um hospital passou a ser classificado como moderno a partir de meados do
sculo XVIII, quando o mdico passa a fazer parte do corpo de funcionrios da instituio,
sendo uma presena permanente. Podemos ainda atribuir ao seu surgimento a partir da
contribuio de Florence Nightingale, no sculo XIX, considerada por muitos estudiosos
como marco inicial do moderno planejamento hospitalar (FOUCAULT apud TOLLEDO,
2008a).
As inovaes tecnolgicas da construo civil aliada s tcnicas de
aperfeioamento da medicina foram as foras que conduziram ao aparecimento desse novo
edifcio hospitalar. Passou-se a empregar o partido arquitetnico de bloco vertical
compactado, fazendo uso do concreto armado e de elevadores. O hospital passou a ser
visto como um lugar para cura e no mais de espera da morte, pelo aparecimento de novos
especialistas e tcnicas de tratamento. Para Vogel (1989 apud MEDEIROS, 2005, p. 64),
nesse momento hospital passa a ser gerido profissionalmente.
Para Medeiros (2005, p. 64), do ponto de vista arquitetnico, no sculo XX, o
edifcio hospitalar no apresentou grandes inovaes, tendo em vista que os novos
conceitos e teorias puderam adequar-se tipologia iluminista. As mudanas passaram a
ocorrer aps a Segunda Guerra Mundial devido o aumento da demanda por leitos.
-
105
Com esse aumento, os estabelecimentos passaram a crescer em dimenses e
nmero de reas necessitando de um zoneamento, para ordenar seu espao. As zonas ou
agrupaes departamentais so planejadas em funo de sua atividade e da inter-relao
com as demais, sendo as principais, as de internao, clnica e suporte. A zona de interao
compreendia a rea de estadia dos pacientes, recebendo cuidados mdicos, alimentao e
de higiene. Os servios de diagnstico e tratamento estavam localizados na zona clnica,
geralmente ventilada artificialmente devido aos equipamentos. Na zona de suporte estavam
as atividades de apoio ao funcionamento do hospital, como administrao, nutrio e
diettica, lavanderia, estoque de material, farmcia, esterilizao de materiais, reas de
instalaes especiais e tratamento e descarte de resduos (JAMES; TATTON-BROWN,
1986 apud MEDEIROS, 2005, p. 64).
Para administrar essa complexidade, os estabelecimentos passam a ser tratados
como uma unidade fabril, gerenciada racionalmente e com centralizao de funes. O
hospital modernista era a perfeita expresso arquitetnica nesse perodo da medicina de
alta tecnologia, o continer da volumtrica mquina de curar (VERDERBER e FINE,
2000 apud MEDEIROS, 2005, p. 66).
Com o modelo funcional estabelecido universalmente a partir dos estudos
realizados, as edificaes apresentam apenas variaes volumtricas, frente s discusses
de horizontalidade ou verticalizao diante de necessidade de abrigar as novas tecnologias
e prever reformas e ampliaes, sem deixar o espao obsoleto. Dessa forma, as tipologias
identificadas por Medeiros (2005) foram: torre sobre pdio, rua hospitalar e sanduche.
A volumetria da torre sobre pdio consistia em uma base retangular horizontal,
ou no mximo dois pavimentos, onde se situavam as zonas clnica e de suporte pela
facilidade de acesso, interceptada por uma torre vertical que abrigava a zona de internao
(Figura 8).
Figura 8: Representao tridimensional da volumetria do Hospital Memorial, EUA. Fonte: PINHEIRO, 2007.
-
106
Para suprir a necessidade de expanso devido a constante evoluo tecnolgica
dos equipamentos e o crescimento da demanda e dos servios prestados nos hospitais,
que surge a tipologia Hospital Rua j que a torre sobre pdio dificultava ampliao.
Regido pelo principio de flexibilidade e adaptabilidade, o hospital Rua
consistia em blocos independentes interligados por uma circulao central (Figura 9)
(PINHEIRO, 2007). Essa forma apresentava as desvantagens de percursos longos,
limitaes de terreno e alto custo para criar condies para ampliaes e adaptaes.
Portanto, buscaram-se novas alternativas, mantendo as vantagens dessa tipologia. A
soluo encontrava foi a construo de mdulos prediais articulados por uma espinha
dorsal, no mais lineares (Figura 10). Ao mesmo tempo em que essa configurao permitia
uma maior racionalizao e diminuio de custos pela padronizao, diminua o potencial
de flexibilidade (MEDEIROS, 2005, p. 71).
Figura 9: Representao tridimensional, com as reas de ampliaes, do Hospital Rua.
Figura 10: Representao tridimensional, derivada do tipo Hospital Rua.
Fonte: PINHEIRO, 2007. Fonte: MEDEIROS, 2005.
Mesmo no perodo de sua utilizao o hospital modernista foi muito criticado
pela excessiva concentrao e padronizao, pelos altos custos, distancia entre o hospital e
a necessidade do usurio, mediante ao tratamento privilegiado conferido tecnologia e aos
procedimentos mdicos (PINHEIRO, 2007).
Em meio a isso, a crise econmica causada pela crise do petrleo e o avano
tecnolgico na rea de diagnstico e terapia elevando os custos dos equipamentos, faz
surgir uma nova idia na poltica governamental de sade, enfatizando a preveno e
procedimentos menos sofisticados e invasivos, sem diminuio da qualidade,
possibilitando a diminuio dos custos e o tempo de internao dos usurios. Aliado a
-
107
esses fatos cresce a tendncia de humanizao do ambiente hospitalar, criando espaos
para o indivduo e sua famlia (MEDEIROS, 2005, p. 75-77).
A arquitetura hospitalar absorve essa nova poltica, concebendo trs tipologias,
que Medeiros (2005) classifica em: shopping center, o hotel e a casa. A primeira tipologia,
alm de agregar valor ao edifcio, oferece conforto e segurana a pacientes e visitantes,
organiza e facilita a distribuio das circulaes e d flexibilidade aos servios. Sua
distribuio espacial permite a criao de um complexo de sade formado pelo hospital,
edifcio de clnicas alm de outros servios, como farmcias, lanchonetes, floristas, lojas de
presentes (Figura 11). Associado s diretrizes da tipologia shopping center, a hoteleira
procura oferecer um tratamento personalizado ao paciente e seus familiares,
principalmente no setor de internao (Figura 12). importante ressalta que esses modelos
tem a preocupao de tornar o ambiente hospitalar agradvel, pessoal e acolhedor,
valendo-se de solues arquitetnicas como lobbies, trios e balces de check-in,
decorao residencial nos quartos de internao, uso de textura, cores, iluminao,
mobilirio vegetao (Figura 13).
Figura 11: Maquete fsica do hospital e maternidade So Camilo. Fonte: http://www.arcoweb.com.br.
-
108
Figura 12: Fachada do Pine Lake Medical Center. Fonte: MEDEIROS, 2005.
Figura 13: Lobbie do Hospital e Maternidade So Camilo.
Fonte: http://www.arcoweb.com.br.
2.1 O ESPAO FSICO DO HOSPITAL DO FUTURO
Atravs de histria, percebe-se que a arquitetura, inclusive a hospitalar, o
reflexo de uma srie de fatores polticos, sociais e econmicos. Dessa forma, o principal
desafio do hospital do futuro agregar as diretrizes e tendncias atuais nessas diferentes
reas concepo espacial.
Para Toledo (2006), o desafio est em dar ao edifcio hospitalar a possibilidade
de recuperar o indivduo e ocupar a posio de vanguarda na utilizao e desenvolvimento
-
109
de tecnologias de construo e equipamentos, em perfeita sintonia com as atividades
teraputicas.
Malkin (2003 apud COSTEIRA, 2008) defende um novo hospital baseado em
evidncias, que esto diretamente ligadas configurao espacial:
eliminar os fatores ambientais estressantes como rudo, falta de privacidade, iluminao excessivamente forte, baixa qualidade do ar interior; conectar o paciente com a natureza atravs de janelas panormicas para o exterior, jardins internos, aqurios, elementos arquitetnicos com gua etc; oferecer opes e escolhas para o controle individual incluindo privacidade versus ambiente social, controle da intensidade da luz, escolha do tipo de msica no ambiente, opes de posies no sentar, silncio e quietude versus reas de espera ativas; disponibilizar oportunidades de socializao atravs de arranjos convenientes de assentos que promovam privacidade aos encontros de grupos de familiares, acomodaes para a famlia e acompanhantes nos ambientes de internao e para pernoite nos quartos; promover atividades de entretenimento positivas como arte interativa, aqurios, conexo com a Internet, msica ambiente, acessibilidade a videos especiais com programas que possuam imagens e sons reconfortantes e adequados assistncia sade; promover ambientes que remetam a sentimentos de paz, esperana, reflexo, conexo espiritual, relaxamento, humor e bem estar.
O desenho do hospital do futuro est baseado no conforto, satisfao e
incorporao dos direitos e aspiraes dos pacientes concomitantemente s exigncias
tecnolgicas no diagnstico e terapia das enfermidades.
Dentro do processo de humanizao do atendimento, a prtica do acolhimento
tem sido bastante defendida e empregada nas reas de atendimento. Solla (2006) considera
que essa prtica de escutar o problema do usurio, dando-lhe uma resposta postiva,
garantindo a resolubilidade que o objetivo final do sistema de sade. Para tanto, deve-se
criar condies fsicas nos Estabelecimentos assistenciais de sade (EAS) para esse
acolhimento, principalmente nos setores responsveis por recepcionar os pacientes, atravs
da concepo de espaos amplos, agradveis e seguro.
Dentre esses princpios, segundo Costeira (2008), incorpora-se aos projetos
acolhimento ao paciente, atravs da fcil acessibilidade ao edifcio e informao;
Informatizao dos estabelecimentos, promovendo uma adequada e flexvel distribuio da
rede lgica; Promoo da sade da populao atravs da integrao e criao de reas para
abrigar os diversos programas de promoo e educao de sade e treinamento e
-
110
capacitao dos profissionais; Flexibilizao da estrutura fsica, permitindo futuras
ampliaes e reformas, incorporao de tecnologia, racionalizao do espao, alm da
setorizao adequada dos servios; Humanizao dos ambientes, incorporando aspectos de
conforto ambiental e bem-estar fsico, psicolgico, social e espiritual do paciente;
Compatibilizao tecnolgica, atravs da escolha de materiais e de acabamentos, sistemas
construtivos e modulaes que promovam uma maior durabilidade, segurana e facilidade
de manuteno, agregando conceitos de preveno e controle de infeco hospitalar e de
biossegurana.
Bross (2008), defende:
A questo ambiental muito importante porque estudos feitos no Brasil e em outros pases mostram que o espao fsico um componente na recuperao dos pacientes. O termo hospitalizao, por exemplo, est sendo substitudo por hospedagem. O desenho baseado em evidncias mostra claramente que h uma certeza de que o paciente se sente melhor, menos estressado, psicologicamente mais relaxado. O emocional do usurio precisa ser atendido. No s a chamada humanizao, que se faz atravs dos profissionais, mas a ambientao que participa e contribui para ela. Os hospitais de ltima gerao j esto considerando esse aspecto com muito entusiasmo. A idia tirar do paciente aquela imagem de edifcio cheirando a formol e cheio de azulejos e oferecer a ele um prdio com ambientes mais aconchegantes.
Alm das questes de conforto ambiental e humanizao, um dos fatores
essenciais no atual e novo hospital, j destacado por Costeira (2008), e que Karman (2008
apud CORBIOLI, 2008) chama a ateno para a necessidade da flexibilidade, uma vez que
a arquitetura hospitalar requer um grande potencial de atualizao, para no tornarem-se
obsoleto fsico e funcionalmente, por estarem sujeitos a constantes avanos tecnolgicos.
Com isso, o hospital deve ser um permanente canteiro de obras. O arquiteto ressalta
ainda a importncia para a inter-relao de outros fatores, fazendo com que haja diversas
prioridades a serem consideradas na fase projetual. Aspectos como humanizao,
funcionalidade e fluxos devem ser considerados j no primeiro trao. No funciona querer
desenvolver o projeto e depois voltar para decidir onde ficaro os jardins.
A idia de sustentabilidade1, to discutida em todoas as reas da sociedade,
tambm constiui um fator primordil nesso cenrio hospitalar, j que esto envolvidos em 1 Para as Naes Unidas, desenvolvimento sustentvel aquele que atende s necessidades presentes sem
comprometer a possibilidade de que as geraes futuras satisfaam as suas prprias necessidades.
-
111
seu funcionamneto uma srie de elementos, como energia, gua, materiais radiotivos, que
se no utilizadas e gerenciados corretamente e de forma racional podem gerar problemas
futuros. Nessa temtica, Bitencourt (2008) destaca algumas caracterstica que justifica tal
preocupao: Funcionamento intensivo do estabelecimento ao longo das 24 horas dirias,
alto nmero de pessoas circulantes, distintos centros de trabalho com demandas energticas
diferenciadas, magnitude das instalaes, necessidade de dispor de sistemas estratgicos de
reserva de equipamentos para fornecimento de energia. Para o equilbrio sustentvel da
edificao hospitalar h aplicabilidade da reduo, reutilizao, reciclagem e reabilitao.
Para isso necessrio dispor de medidas que auxiliam nesse processo como:
estabelecer o controle ecolgico tanto para materiais de construo quanto para as prprias
edificaes, desenvolver sistemas apropriados de controle de qualidade e instrumentos de
avaliao dos resultados para o projeto, reduzir os custos construtivos e introduzir o
conceito do menor custo possvel para a manuteno da edificao, incentivar a
padronizao dos diferentes componentes de construo e permitir a disseminao de
novas tecnologias, e Considerar estratgias que permitam a gesto do ciclo de vida das
matrias primas utilizadas, com a correspondente preveno de emisses e de resduos. No
que se aplica sustentabilidade na administrao do EAS, so imensurveis e utpicas, no
primeiro momento, mas resultaro em aes benficas, diretamente ligadas ao meio
ambiente, contribuindo na promoo sade.
A concepo da sustentabilidade deve est palpada no presente, inspirada no
passado, mas visando o futuro imediato ou em longo prazo.
De certa forma, o hospital do futuro tem muito das caractersticas do hospital do
passado, quando os templos, os mosteiros e conventos abrigavam os doentes e,
posteriormente, as santas casas, fornecendo-lhes muito mais conforto e acolhimento que o
tratamento mdico. A diferena consiste em que os Estabelecimentos futuros tem que, aliar
as condies de bem-estar prestao de procedimentos assistenciais que promovam a
sade do indivduo.
3 O PLANEJAMENTO EM EAS
-
112
Os Estabelecimentos Assistenciais de Sade vm assumindo, nos ltimos anos,
uma postura de empreendimento empresarial frente necessidade de desenvolver
mecanismos de planejamento que direcione e organize essas instituies, cada vez mais,
flexveis e complexas. O que os diferenciam das empresas prestadoras de servio a
natureza do seu trabalho.
Para a organizao Pan-Americana (2004), o hospital classificado como uma
empresa social, no havendo relaes comerciais, mas condies de contrato e
produtividade social, caracterizando o trabalho, a organizao e a gesto do hospital
pblico, onde suas aes visam o cumprimento de objetivos fixados nas polticas pblicas
de sade. Dessa forma, ela tem sua organizao na prestao de servios sociedade que
respondam com efetividade s necessidades e s demandas sociais, independente da
natureza jurdica do estabelecimento.
Planejamento, em qualquer campo de atuao, constitui um processo
administrativo que visa orientar um caminho a ser seguido para alcanar um determinado
resultado. Sua essncia est na determinao do ponto final, ou seja, saber aonde se quer
chegar e o caminho a ser percorrido para atingir o objetivo. Cada vez mais, os gestores dos
EAS, vm se conscientizando da importncia de se aplicar a prtica de planejamento em
suas administraes.
de consenso no meio hospitalar que os hospitais so as organizaes mais
complexas j criadas pelo homem. Por isso, seu planejamento tem sua complexidade,
exigindo do arquiteto, o conhecimento total de seu funcionamento para que haja um
projeto de qualidade, de acordo com os recursos disponibilizados (GUELLI apud
CORBIOLI, 2008). Portanto, necessrio adotar solues que permitam a reduo de
custos e busca da qualidade, sem prejudicar a prestao de servio ou produto (MENDES,
2002, p. 12).
Campos (1979 apud MENDES, 2002, p. 16) acrescenta que a determinao de
leitos na populao assistida, o planejamento do estabelecimento, a funcionalidade do
projeto arquitetnico e uma organizao administrativa capaz de levar a instituio ao
atendimento de seus objetivos so aspectos fundamentais para um bom desempenho de um
EAS.
Citando TANCREDI (1998), Mendes (2002, p. 20) enfatizam a importncia do
gerenciamento:
-
113
Primeiramente, vale ressaltar que gerenciar uma funo administrativa de grande importncia, pois o processo de tomada de decises que influencia toda a organizao, os processos de produo e os resultados de um sistema. a coordenao de todas as partes desse sistema, o controle dos processos e a anlise dos produtos e resultados. Neste sentido, todos os esforos devem estar direcionados de forma a gerar produtos ou servios que levem a organizao a atingir os resultados esperados.
Considerando tais aspectos, o planejamento torna-se uma ferramenta
fundamental a ser utilizada na gesto, procurando a otimizao de recursos, reduo de
custos e a qualidade na prestao do servio. Se alcanado esses aspectos a empresa
(hospital) torna-se competitivo no mercado e, consequentemente, lucrativo
financeiramente, em hospitais privados, e menos dispendioso para a administrao, em
hospitais pblicos.
Como qualquer organismo empresarial, a falta de um planejamento gera
problemas ao funcionamento. Reportando-se realidade de EAS, a ausncia desse
mecanismo em relao estrutura fsica, pode provocar, segundo Esteves (2003), alterao
de uso/funo do ambiente, super-dimensionamento das unidades assistenciais gerando
baixa ocupao, sub-dimensionamento das unidades de apoio ocasionando grandes
problemas ao funcionamento da instituio, impossibilidade de ampliao, principalmente
da unidade de diagnstico e terapia, pela falta de previso de crescimento, cruzamento de
fluxo de pacientes com atividades de apoio pela localizao aleatria das diversas
unidades, cruzamento de fluxos pela ausncia de um zoneamento inicial e descontinuidade
fsica das unidades. Apesar de relacionados edificao, tais problemas tambm causaro
interferncia nos setores assistenciais e gerenciais.
As transformaes tecnolgicas bem como os novos conceitos e metodologias
de como tratar as enfermidades, obrigaram as instituies de sade a repensar seu cenrio,
que, segundo Esteves (2003), requer um novo desenho hospitalar, privilegiando,
inicialmente, at mesmo antes do projeto, a discusso do modelo gerencial da instituio,
envolvendo os indivduos que participam das atividades desenvolvidas. Seguindo esses
pressupostos, o Plano Diretor apresenta-se como um instrumento primordial na construo
desse cenrio uma vez que nele so tratadas questes de cunho administrativo e de infra-
estrutura, contendo uma anlise atual, e planejando tambm aes futuras.
3.1 O PLANEJAMENTO E ORGANIZAO DO SISTEMA DE SADE
-
114
NO BRASIL
A ateno sade, no Brasil, pode ser examinada por dois focos: Resposta
social aos problemas e necessidades de sade, atravs de polticas pblicas; como um
servio, estando inserido no processo de produo, distribuio e consumo, dependendo de
mercadorias, e por isso, sujeito s variaes do mercado (PAIM, 2006, p. 11).
No sculo XX, a ateno sade passou por profundas transformaes, com a
criao do Sistema nico de Sade (SUS) e expanso do Sistema de Sade Suplementar
(SSS), na dcada de 90. Paim (2006) ainda acrescenta a transformao da medicina liberal
para a medicina tecnolgica, com a incorporao de equipamentos, passando a depender de
um volume maior de capital, necessitando assim, de uma maior estrutura para a sua gesto.
Segundo Roemer (1989 apud CONILL, 2007, p. 566) um sistema de sade
uma combinao de quatro componentes: recursos (infra-estrtura), organizao (servios),
financiamento (fontes, volume, formas de distribuio e utilizao) e gesto (leis, e
normas, polticas e planos e processo poltico-gerencial), convergindo para a prestao de
servios frente necessidade da populao.
Para suprir tais necessidades, atualmente o sistema de sade no Brasil
composto por trs subsistemas: SUS, SAMS e o SDD, os quais so os financiadores dos
hospitais.
O SUS, criado pela Constituio de 1988, e que determina, em seu Artigo 196,
que a sade direito de todos e dever do Estado. Seus princpios de integralidade,
equidade, descentralizao e participao2, garantem a populao o acesso ao servio de
sade pblica. O SAMS formado por um conjunto de modalidades (planos de autogesto,
medicina de grupo, cooperativas mdicas e seguro sade3), que consiste no pagamento
antecipado por parte de empresas ou usurios aos servios assistncias de sade quando
2 Os princpios regimentares do Sistema nico de Sade so: integralidade, equidade, descentralizao e participao. Integridade: Prioridade para as atividades preventivas, sem prejuzo dos servios assistenciais, so institualizadas (Estado); Equidade: Todos tm o mesmo direito de utilizar os servios de sade; Descentralizao: nfase na municipalizao da gesto dos servios e aes de sade; Integrao: Integrao das aes entre os subsistemas, que formam o sistema de sade, e dos servios em redes assistenciais integradas (PAIM, 2006). 3 Plano de autogesto corresponde a prestao de assistncia mdica por uma empresa ou sindicato a seus associados; Na medicina de grupo um empresa mdica contratada para prestar assistncia aos funcionrio de um outra empresa, geralmente em redes prprias;As cooperativas mdicas consiste na filiao de mdicos, onde os servios prestados eram pagos pela diviso de cotas no final de um perodo de trabalho; O seguro-sade est vinculado a empresas seguradoras e a grandes bancos, com funcionamento semelhante ao seguro comum (PAIM, 2006).
-
115
necessrio. O sistema de Desembolso Direto (SDD) consiste no pagamento no ato da
utilizao do servio de sade. Essas duas ltimas organizaes esto diretamente ligadas
rede hospitalar privada.
Os custos da sade so, cada dia mais, altos e faltam recursos em todos os
nveis, mesmo na sade privada. Dessa forma, a otimizao de recursos, atravs de um
gerenciamento e a descentralizao administrativa surgem como ferramentas de
planejamento imprescindveis ao sistema de sade brasileiro.
A otimizao requer o gerenciamento dos recursos limitados perante a imensa
necessidade populacional. Gerenciar esses recursos de forma adequada nos remete
responsabilidade de planejar adequadamente [...] (TANCREDI, 1998 apud MENDES,
2002, p. 16), e com a ausncia de gerncia e planejamento, aumentam-se os riscos de se
gastar mais do que se deve para fazer menos do que necessrio (MIQUELIN, 1992 apud
MEDEIROS, 2002, p.16).
Pelas dimenses e desigualdades econmicas, sociais, demogrficas, culturais e
sanitrias, torna-se essencial a descentralizao administrativa e assistencial no setor da
sade. Segundo Solla (2006), esse processo tem dado aos municpios o papel de
protagonista da gesto do sistema em suas localidades, assumindo a execuo de
importantes aes e servios de sade.
Segundo Ges (2004), as vantagens da municipalizao so: adequao dos
servios realidade local, elevao da eficincia pelos recursos existentes, controle de
custos, utilizao dos recursos humanos da localidade, utilizao de tecnologia adequada
em cada nvel de ateno e possibilidade de articulao entre estabelecimentos.
O sistema de sade brasileiro est dividido em nveis de atendimento, os quais
se diferenciam pela complexidade dos servios disponibilizado, tendo exigncias de
espaos especficos, da a necessidade do arquiteto em conhec-los para que haja um
projeto arquitetnico condizente com as necessidades fsicas e legais.
Ges (2004) apresenta e define essa classificao da seguinte forma:
O Nvel primrio se caracteriza por aes de promoo, proteo e recuperao
no nvel ambulatorial, desenvolvendo atividades de sade, saneamento e diagnstico
simplificado. Esto inseridos nesse nvel os postos e centros de sade.
No nvel secundrio, alm das atividades de apoio ao nvel primrio, esto
englobadas as clinicas bsica, mdica, cirrgica, ginecolgica, obsttrica e peditrica. Os
-
116
representantes desse nvel so os ambulatrios, unidades mistas, hospitais locais e
regionais.
No tercirio so tratados os casos de maior complexidade no nvel ambulatorial,
de urgncia e internao, com a estrutura fsica formada por ambulatrio, hospitais
regionais e especializados.
3.2 O PLANEJAMENTO FSICO DE EAS
Tendo em vista que o objetivo desse estudo discutir as diretrizes para
formulao de um plano diretor hospitalar, dentre os EASs tratara-se apenas dos
estabelecimentos hospitalares, embora que o sistema de sade do pas envolve outras
tipologias assistenciais.
No dicionrio da lngua portuguesa, Aurlio define o hospital como um
estabelecimento destinado internao e tratamento de pacientes. Na literatura
especializada, Toledo (2006) lembra que juntamente com os demais EAS, o hospital
parte integrante do sistema de ateno sade, se diferenciando pela sua complexidade
funcional, elevada resolubilidade e custos de operao e implantao.
Considera-se como hospital, o estabelecimento que apresente como finalidade o
atendimento assistencial em regime de internao, desenvolvendo tambm atividades
ambulatoriais, preveno, teraputica, de reabilitao, ensino e pesquisa
(ORGANIZAO..., 2004).
Os hospitais se diferenciam pela sua tipologia, conforme a atividade e o pblico
a ser beneficiado. O hospital geral tem como objetivo o atendimento mdico geral,
incluindo apoio ao diagnstico e terapia. No hospital de emergncia, a nfase dada s
unidades de emergncia, centro cirrgico e UTI. No hospital peditrico, o foco est voltado
para o atendimento assistencial criana e adolescente, do recm-nascido at 18 anos. A
maternidade tem por finalidade prestar servio de obstetrcia, incluindo o acompanhamento
durante a gestao, durante e aps o parto. O hospital de apoio da suporte aos
estabelecimento de maior complexidade, recebendo os pacientes internados que no
necessitam de cuidados especiais. Os hospitais especializados presta atendimento
pacientes com patologias crnicas e especficas, atravs do diagnstico, tratamento e
recuperao (TOLEDO, 2006, p. 47-49).
-
117
Como vimos, a partir do modernismo a concepo espacial dos edifcios
hospitalares surge das necessidades fsicas das atividades a serem desenvolvidas e da
tecnologia a ser aplicada. Dessa forma, a adoo de padres formais de EAS torna-se
praticamente invivel, uma vez que, o projeto deve resultar do estudo funcional e tcnico
do programa especfico para cada instituio.
Sobre isso, ressalta Toledo (2006, p.33),
Em geral, cada projeto de hospital tem suas prprias exigncias e particularidades que podem influir decisivamente em seu planejamento. Para maior diversidade de solues, entram em jogo tambm a topografia do terreno, sua situao e orientao e as restries estabelecidas nas posturas sanitrias e municipais, bem como outros fatores. [...] tantas e to variadas so as condies e imposies que ser conveniente evitar novas dificuldades, principalmente do ponto de vista da forma que dever ser completamente livre.
Com isso, o autor deixa claro sua posio contrria padronizao projetual de
hospitais, muito utilizada at o iluminismo. No s o edifcio hospitalar, mas qualquer
outra tipologia deve nascer para atender, primeiramente aos anseios de seus usurios,
porm sem esquecer dos fatores de conforto ambiental, geogrficos, sociais, culturais e
posturas legais. Cabe ao arquiteto o papel de unir tais aspectos, criando um ambiente
saudvel, agradvel e funcional, agregando-o um valor esttico.
A discusso do processo de projetao, to comum na arquitetura geral,
tambm ocorre na arquitetura hospitalar, se a concepo deve partir do todo para a parte
especfica ou das partes para o todo. O importante nesse estudo, no debater o processo,
mas sim o resultado projetual, o edifcio e seu funcionamento. O relevante est no fato de
que as atividades de assistncia mdica e o espao fsico esto intimamente ligados, no
podendo se desvincular durante todo o processo.
Os recursos fsicos so decorrentes de uma complexa interao mdico/ assistencial/ tecnolgica/ administrativa/ funcional de recursos humanos/ ensino/ pesquisa/ condies scio-polticas-econmicas e outros mais e, portanto, devem ser providos de um planejamento que oferea diretrizes para a manuteno e melhoria de todo o conjunto (MENDES, 2002, p. 26).
O edifcio hospitalar uma construo que apresenta muitas particularidades,
onde interage alta tecnologia e sofisticadas atividades multiprofissionais com
caractersticas industriais, o que o torna um dos programas arquitetnicos mais complexos
-
118
a ser atendido (GES, 2004, p. 29). Por isso, conhecer cada parte da edificao hospitalar,
as atividades desenvolvidas, a tecnologia aplicada, a equipe de trabalho e os usurios a
serem atendidos tarefa primordial no processo de planejamento e projetao.
De forma geral, o projeto de um edifcio de sade envolve uma equipe
multidisciplinar (arquitetos, engenheiros, mdicos, enfermeiros, sanitaristas, economistas,
etc) e subdivide-se em trs etapas: programao de sade, programao arquitetnica e
projeto arquitetnico (RIO DE JANEIRO, 1996).
A programao de sade est diretamente ligada ao planejamento do sistema
local. Nessa fase acontece a definio da regio de planejamento, pr-dimensionamento
global das aes e servios, pr-dimensionamento por nvel assistencial, elaborao de
cenrios de cobertura assistencial, desenvolvimento da programao de projetos e obras
(BARRETO, 2007).
A programao e o projeto arquitetnico so etapas em que o arquiteto participa
mais ativamente. Trata-se do planejamento da estrutura fsica do hospital. Na primeira
elaborado o perfil fsico da instituio, juntamente com sua estrutura funcional, havendo a
participao de profissionais de diferentes reas. A projetao uma etapa mais especfica,
ficando sob a responsabilidade de arquitetos e engenheiros, que representa a materializao
das fases anteriores. Dela depende uma srie de variveis, as quais precisam ser estudadas
e analisadas com cautela, pois nortearo a atividade de concepo do espao. Dentre os
aspectos a serem trabalhados na elaborao do projeto arquitetnico e que posteriormente
tornaro a edificao mais adequada realizao de suas funes, no presente e futuro,
esto flexibilidade, expansibilidade, contigidade, valncia, setorizao, fluxos e custos.
Valncia trata-se de um conceito introduzido pelo arquiteto Jarbas Karman no
planejamento hospitalar, que consiste na combinao dos diferentes elementos que compe
o edifcio, ou seja, a soluo dada s condicionantes projetuais na concepo, resultando na
distribuio espacial.
Sua aplicabilidade desempenha um papel fundamental na atualizao da
edificao, no ordenamento funcional, nas inter-relaes qualitativas e quantitativas, na
relao dos elementos distncia/ urgncia/ prioridade/ necessidade, na otimizao de
fatores, utilizao de custo/ benefcio, na potencializao da produo funcional e de
recursos humanos (GES, 2004, p. 30-31).
Devido necessidade de adaptao pelas constantes alteraes tecnolgicas,
devendo ter um planejamento preditivo que para Karman (MENDES, 2002) consiste no
-
119
planejamento que propicia condies ao estabelecimento de atualizao, quando
necessrio, evitando constantes reformas, como ocorre nos hospitais mais antigos. Essa
capacidade de atualizao alcanada pela flexibilidade da edificao, que consiste na
capacidade do espao de modificar-se de acordo com mudana de atividade desenvolvida
nele.
A ausncia de flexibilidade, ou seja, a rigidez fsica pode gerar o processo de
obsolncia e desgaste das instalaes fsicas, e no hospital esse processo agravado pelo
fato de normalmente decorrer um longo perodo de tempo entre a elaborao do projeto at
o pleno funcionamento do mesmo (MENDES, 2002).
Expansibilidade o conceito de projeto no qual prever futuras ampliaes
edificao, por meio do partido adotado. A falta de um planejamento para a
expansibilidade gera verdadeiros aglomerados de ambientes no interior do hospital,
dificultando sua manuteno, adaptao e prejudicando as condies de ventilao e
iluminao natural, fluxos, setorizao e, at mesmo de circulao, tornando-se uma
soluo paliativa e momentnea.
De forma geral, a legislao especfica limita-se recomendaes referentes as
atribuies e atividades do EAS, ao programa fsico-funcional e ao dimensionamento dos
ambientes. Pela ausncia de diretrizes, importante o estudo detalhado, por parte dos
profissionais envolvidos na elaborao do projeto arquitetnico, da distribuio espacial
(setorizao), pois ao mesmo tempo em que esta pode trazer otimizaes, pode gerar
problemas de diferentes ordens.
Contigidade a forma pela quais os percursos, distncias e relaes entre
setores e unidades esto organizados na edificao para se alcanar as metas de
atendimento previstas para o hospital. Nessa tica, Ges (2004) ressalta a importncia de
encurtar as distncias, atravs do agrupamento de servios essenciais, pois permite maior
segurana e conforto ao paciente, eleva a eficincia do trabalho, reduzindo o contingente
operacional e de materiais. Ele tambm alerta para o fato de que se tem que trabalhar com
cautela a setorizao, pois uma maior interao entre as unidades pode gerar fluxos
indesejveis ao funcionamento do estabelecimento.
Como j comentado, os recursos disponveis financeiros para o setor de sade
no pas so limitados frente demanda populacional que se utiliza do SUS para
provimento de assistncia sade. Dessa forma, cada deciso projetual e funcional de
-
120
grande importncia pelo custo que causar ao sistema, sendo imprescindvel um
planejamento em qualquer fase, seja no projeto, execuo ou operao do EAS.
Segundo Miquelin (1992 apud MENDES, 2007), quando no se tem um
planejamento os custos de projeto e construo aumentam podendo at elevar o custo
operacional do hospital e, segundo relatrio da Coordenao Geral de Sade (1970),
verificou-se que um incremento financeiro de 40% na fase de construo resultou numa
economia anual de 10% nos custos operacionais do edifcio.
Lamha Neto (2008) oferece outros dados, o custo do edifcio em quarenta anos
est distribudo em 11% para construo, 14% financiamento, 25% destina-se reforma e
50% refere-se ao custo de operao.
importante salientar que o custo maior est na manuteno, uma vez que o
gasto com planejamento e obra representa apenas 11% do total (NEVES, 2002 apud
MENDES, 2007, p. 32). Sendo assim, a manuteno nesses edifcios deve ser preventiva
para diminuir os gastos, pois uma instalao sem manuteno constante pode tornar o
edifcio inabitvel e causar danos mais onerosos que a prpria instalao (GES, 2004).
Uma vez que o hospital um constante, segundo Karman, canteiro de obras,
as alteraes projetuais e fsicas so inevitveis, porm se trabalhadas segundo um
planejamento prvio, o estabelecimento conseguir desempenhar suas funes
satisfatoriamente como o desejvel, mantendo-se atual e competitiva.
4 PLANO DIRETOR FSICO HOSPITALAR
4.1 DEFINIES
Inicialmente empregado nas questes urbanas, O Plano Diretor, segundo o
Estatuto das Cidades (Lei Federal n 10.257/2001), est definido como instrumento bsico
para orientar a poltica de desenvolvimento e de ordenamento da expanso urbana do
municpio, tendo como objetivo orientar as aes do poder pblico visando compatibilizar
os interesses coletivos, garantir de forma mais justa os benefcios da urbanizao e os
princpios da reforma urbana, direito cidade e cidadania, gesto democrtica da cidade.
Consiste no documenta que orienta e ordena o crescimento e aes de um
determinado elemento, visando coletividade e o adequado desempenho das atividades
-
121
proposta a este. O Plano Diretor Hospitalar (PDH) est inserido nesse mesmo conceito,
contemplando aspectos fsicos, gerenciais e operacionais do edifcio.
Esteves (2007c, p. 3) apresenta as seguintes definies para PDH:
1) Estudo dos problemas inerentes relao das atividades mdico-hospitalares e o espao fsico, que tem por objetivo dirigir o crescimento da edificao hospitalar; 2) composto de diretrizes gerais e tcnicas e apresentado atravs de textos e desenhos ilustrativos; 3) Constitui-se num dos principais instrumentos de desenvolvimento da organizao hospitalar, condicionando todo e qualquer projeto de arquitetura e a conseqente execuo de obras a este planejamento prvio.
E acrescenta:
A exemplo do Planejamento Estratgico que define, representa e detalha uma proposta de futuro para a organizao, na arquitetura hospitalar o Plano Diretor a representao grfica, passo a passo de como chegar a este futuro do ponto de vista da rea fsica (ESTEVES, 2007a, p. 17).
O PDH trata-se de um instrumento gerencial e organizacional do
espao fsico, do uso e ocupao do territrio, aplicaes dos padres legais, a
fim de interagir as aes dos gestores, dos operadores e dos usurios (GES,
2006). Tem como produto final, um conjunto de diretrizes de desenvolvimento,
englobando a programao, as edificaes, a infra-estrutura, os equipamentos e a
programao de investimentos (TOLEDO, 2006).
4.2 O PHD COMO UMA FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO
A situao atual brasileira demonstra que at meados do sculo XX, salvo raras
excees, os hospitais foram construdos sem qualquer planejamento, dificultando a sua
atualizao pela falta de condies favorveis, levando-os, muitas vezes, obsolescncia
fsica e funcional (MAUDONNET, 1998, MENDES, 2007, p. 17).
Em virtude das mudanas ocorridas no cenrio poltico-econmico no pas, no
final do sculo passado, as empresas, viram-se obrigadas a controlar seus custos de
produo, agregando, ao mesmo tempo, aos seus produtos e servios qualidade frente a
competitividade do mercado globalizado. Nesse contexto, os hospitais foram obrigados a
-
122
modernizar seus processos administrativos e produtivos, na tentativa de buscar recursos
para arcar com as novas exigncias de atualizao tecnolgica e na capacitao de
profissionais, interferindo diretamente na configurao espacial dessas instituies
(ESTEVES, 2002 apud MENDES, 2007, p. 18). O PHD surge ento como o norteador
dessas transformaes e novas exigncias.
Para Toledo (2006), esse documento objetiva traar as diretrizes de expanso
fsica, programtica e de infra-estrutura do edifcio existente ou de novos projetos.
Miquelin (1992 apud TOLEDO, 2006, p. 59) acrescenta a funo do Plano:
Recuperar ou implantar, atravs das obras de reestruturao do edifcio, nveis adequados de eficcia de funcionamento, usualmente soterrado por sucessivas cirurgias no planejadas no edifcio. Orientar as aes administrativas atuais e futuras na tarefa de reorganizao fsica do hospital. Sem o Plano Diretor a administrao no administra por metas, mas sim como um bombeiro apagando os pequenos e grandes incndios do dia a dia. Estabelecer etapas de desenvolvimento Adequado ao parcelamento factvel dos investimentos em construo, equipamentos, recursos humanos etc, conforme as possibilidades de financiamento dos custos dos investimentos. Durante as fases de implantao do Plano, diminuir o impacto e interferncias das obras com os servios de atendimento.
Como j visto ao longo da histria, o edifcio hospitalar foi se tornando cada
vez mais complexo sendo necessrio adequ-lo as novas tendncias de atendimento,
tecnologias e equipamentos que surgiro. Para isso, indispensvel a criao de
instrumentos que ordene o espao para abrigar tais modificaes, como o plano diretor.
Aliado a esse fato, percebe-se a importncia desse mecanismo, quando observado o
sucateamento do sistema de sade no pas, na obteno de recurso e custeio do mesmo,
atravs de um planejamento (MENDES, 2007, p.80).
Essa questo reforada por Miquelin (1987, p. 74):
A elaborao de um plano diretor que oriente reformas e vetores de expanso, reconstituindo gradativamente a instituio, uma alternativa realista, pois possibilita um planejamento financeiro no calibre dos recursos.
-
123
Como elemento de planejamento, o PHD deve est presente tanto em edificao
novas, a fim de ordenar as futuras ampliaes, como em antigas para auxiliar nas reformas.
Sobre isso Mendes (2007, p. 33), utiliza-se das idias de Gomez para esclarecer:
Por isso que, para Gomez (2002), todo hospital, novo ou existente, deveria ter um plano diretor, pois ele expressa o compromisso com o futuro. Em hospitais novos, ajuda a orientar seu desenvolvimento, enquanto em hospitais existentes, ajuda a adapt-los s mudanas e exigncias do mercado. De uma forma ou de outra, o plano diretor fsico deve fazer parte de um planejamento maior da instituio, a definir seu modelo gerencial e assistencial, promovendo seu desenvolvimento futuro e minimizando seus riscos operacionais.
Nessa dinmica, o PDH aparece como um produto e como uma ferramenta de
planejamento. Ele um produto, pois resultado de todo um processo de planejamento
para a instituio. Constitui-se tambm como uma ferramenta, porque seu contedo
determina o caminho e o objetivo a ser atingido por ela.
4.3 METODOLOGIAS DE ELABORAO DE UM PLANO DIRETOR
HOSPITALAR
Por se tratar de um documento personificado, tendo especificidades para cada
estabelecimento, pela ausncia de literatura e por se assemelharem, modificando apenas a
forma e os dados coletados, ser comentada a metodologia de elaborao de PDH
empregada por dois arquitetos, Mariluz Esteves e Ronald de Ges, atuantes e com
experincia na rea.
O PDH constitui um documento pessoal por tratar de questes particulares e
especficas de um determinado objeto, envolvendo no apenas a infra-estrutura fsica,
administrativa, financeira, mas tambm aspectos culturais, epidemiolgicos e socais.
Devido essa gama de variantes tratadas por esse documento e, por tratar-se de uma
estratgia de planejamento, fundamental que um EAS disponha dessa ferramenta.
At pouco tempo, o PDH estava vinculado a construo de novos hospitais
em etapas, ou a proposio de novas edificaes em hospitais existentes atravs da
ocupao de terrenos disponveis ou atravs de demolies (ESTEVES, 2007b).
As transformaes ocorridas no modelo assistencial nos ltimos anos, levaram
alterao do edifcio hospitalar. A diminuio do nmero de leitos, pelas aes de
-
124
promoo e preveno sade e melhoria das condies sanitrias, o aumento e
diversidade no diagnstico e tratamento, pelas inovaes tecnolgicas, so exemplos
dessas transformaes que proporcionaram a reduo da rea de internao e o crescimento
na unidade de diagnstico e terapia.
Dessa forma, o PHD surge como ferramenta de ordenamento e atualizao
desse novo espao, evitando as famosas colchas de retalhos com recursos de diagnstico e
paciente ambulatoriais presentes em todas as alas at mesmo nas unidades de internao
(ESTEVES, 2007b).
Por todos os aspectos comentados, que o Plano Diretor Hospitalar tem sido
bastante utilizado, tornando-se inconcebvel sua ausncia ainda na fase de projetos e em
novos e velhos estabelecimentos. Como todo planejamento, ele deve seguir a uma
metodologia capaz de organizar e orientar o processo, desde a fase de coleta de
informaes at a implantao da proposta.
Segundo Esteves (2007b), o primeiro passo na discusso da metodologia de
elaborao do PHD compreender que:
[...] a tarefa de recuperar uma edificao hospitalar transcende o mbito da arquitetura hospitalar pois deve lidar com redefinies que vo desde a insero da organizao hospitalar no sistema de sade, a redefinio de sua misso at a incorporao tecnolgica necessria ao cumprimento de seu novo papel na sociedade.
O PDH trata-se de um instrumento gerencial e organizacional do espao fsico,
do uso e ocupao do territrio, aplicaes dos padres legais, a fim de interagir as aes
dos gestores, dos operadores e dos usurios (GES, 2006). Nele devem est contidas
informaes referente ao espao fisco (existente e modificaes futuras), administrao
de recursos fsicos, operacionais e de pessoal, manuteno e aquisio de equipamentos e
ao modelo jurdico, assistencial, gerencial e educacional, quando necessrio.
A metodologia defendida por Ges (2006) divide a elaborao do Plano em
duas fases: Diagnstico fsico/funcional e operacional e Plano estratgico. Esta primeira
correspondente avaliao do objeto estudado, sendo definidos os critrios, mtodos e
objetivos do trabalho, resultando numa caracterizao do estabelecimento, situao fsico e
funcional, de forma a estabelecer os pressupostos que iro nortear a elaborao do plano
diretor.
-
125
Partindo do diagnstico, so apresentadas anlises e propostas de carter
administrativo, funcional e espacial que satisfaam as exigncias e necessidades
operacionais do Estabelecimento nos seus diversos aspectos, configurando o Plano
Estratgico. Tais aspectos incorporam-se na forma de:
[...] um plano de zoneamento espacial que estrutura a relao fsica do hospital com as construes anexas e reas urbanas relevantes, objetivando melhorar a acessibilidade e os fluxos internos e entre as (possveis) unidades funcionais do hospital, capacitando-as a desempenhar funes e papis mais ativos no contexto dos servios que presta (GOS, 2006, p.1).
Para a elaborao do Plano Estratgico necessrio a coleta e anlise de
informao que determinem o perfil financeiro e patrimonial do estabeleciemeto, situao
econmica, perfil social (usurios e funcionrios), infra-estrutura e servios pblicos
disponveis (segurana, transporte e suprimento), situao ambiental e reas livres,
ocupao e estrutura espacial, aspectos jurdicos institucionais e administrativos.
Torna-se importante destacar que as aes de planejamento devem ser
vastamente discutidas pela equipe responsvel por sua elaborao e pela administrao
hospitalar. No caso dos estabelecimentos pblicos, na maioria, muitas das questes
abordadas pelo Plano j esto definidas pelo edital de contratao.
Nessa fase, estabelece-se uma proposta de normalizao, atravs da
elaborao de diretrizes, regimentos, portarias e normas objetivando a organizo espacial,
agrupamento e zoneamento das reas, uso e ocupao do solo, organizao do sistema
virio interno e externo ao hospital. Devem est includos os mecanismos de gesto
administrativo-financeiros a curto, mdio e longo prazo, o acompanhamento e
monitoramento de sua implementao, com regulares anlises e reviso em perodos pr-
estabelecidos, identificao e hierarquizao das prioridades de interveno e dos recursos
disponveis e os necessrios, aquisio de equipamentos, alm do plano de manuteno.
A metodologia empregada por Esteves (2007b) divide o processo em trs
partes: Diagnstico, onde realizado o estudo da situao em que se encontra o
estabelecimento; Planejamento Estratgico, destina-se ao planejamento do crescimento
futuro do estabelecimento e criao dos instrumentos que viabilizaro a implementao do
Plano; e por ltimo, o Plano Diretor, onde apresentado o documento com todas essas
informaes.
-
126
Para o diagnstico, aplicado um questionrio com diretores e funcionrios,
para identificar os principais problemas apontados por eles; Levantamento grfico de
estrutura fsica do estabelecimento, confrontando com as prescries legais; Levantamento
dos equipamentos e tecnologia mdica existente; Levantamento do sistema de instalaes e
infra-estrutura e comparao com as exigncias das legislaes vigentes; e Anlise do setor
de sade, destacando sua situao perante o sistema local.
No plano Estratgico, as informaes obtidas na fase anterior so organizadas e
hierarquizadas, dando resolubilidade aos problemas mais urgentes e apresentando as
potencialidades futuras, finalizando com a proposta de implantao do plano, atravs da
criao de departamento exclusivo, como DREFIT (Departamento de Recursos Fsicos e
Tecnolgicos). Dessa forma, importante tratar a implementao do PDH como uma fase
distinta das demais, para que haja um controle e aplicabilidade do mesmo, defende Esteves
(2007b).
A arquiteta relata que a definio da hierarquia de prioridades tem como
objetivo organizar estrategicamente a implantao do Plano Diretor fazendo frente
complexidade e diversidade dos problemas encontrados na organizao (ESTEVES
2007b, p. 5). Esse procedimento deve gerenciar as aes identificadas no diagnstico,
viabilizando-as de forma temporal, podendo ser de curtssimo, curto, mdio ou em longo
prazo.
A ltima etapa refere-se ao elaborao do prprio Plano, contendo
graficamente as aes, forma e implantao das aes discutidas.
Os critrios que definem a hierarquizao de prioridades, aplicadas por essa
metodologia, obedece trs lindas de abordagem: Dos aspectos gerais aos especficos, Dos
problemas mais crticos da edificao existente para o menos crticos seguindo os aspectos
legais e Da ordem prtica que precisaro ser resolvidas da implementao do Plano
Diretor.
A primeira abordagem visa reorganizar o sistema virio e as circulaes,
propondo um novo zoneamento, que por sua vez, possibilita a reorganizao do fluxo,
quando necessrio. Na segunda, tida como as mais prioritrias, identifica-se e prioriza-se
as questes fsicas, de instalaes e de infra-estrutura que colocam em risco assistncia e
que esto em desacordo s prescries legais, principalmente vigilncia sanitria. Na
terceira abordagem deve levar-se em considerao o custo financeiro de cada ao, a
-
127
necessidade manter o funcionamento do hospital nas obras previstas, no caso de hospitais
existentes.
Para a apresentao das potencialidades futuras do estabelecimento, Esteves
(2007b, p. 11) estabelece que:
A discusso das potencialidades futuras do hospital fundamental para que as linhas gerais do Plano Diretor sejam estabelecidas, pois alm de ter por objetivo a separao ntida das reas (zoneamento) de internao, ambulatrios, Ensino e Pesquisa, o Plano Diretor deve estabelecer diretrizes de crescimento em conformidade com o Projeto de Futuro do hospital.
Independente da metodologia aplicada, um PDH assume posturas diferenciadas
quando elaborado para edificaes ainda em projeto e para as existentes, quando
apresentado o desafio de recuperar e reorganizar sua estrutura fsica, muitas vezes, antigas
e sem possibilidades espaciais de grandes ampliaes, alm de programar e reorganizar as
aes, sem que haja interrupo das atividades desenvolvidas no EAS.
No planejamento de um novo edifcio, o Plano faz a descrio deste e as
proposies futuras. No caso de edificaes existentes, indispensvel o diagnstico do
objeto, inclusive representado graficamente.
Nessas situaes, o documento deve ter como foco a sistematizao de um
conjunto de proposies e estratgias capazes de reorganizar a estrutura j solidificada e
orientar seu caminho para chegar ao futuro, atravs da formao de uma conscincia crtica
de seus gestores, funcionrios e usurios acerca das dificuldades e da necessidade de uma
mobilizao para a superao destas.
4.4 ASPECTOS ABORDADOS EM UM PLANO DIRETOR FSICO
HOSPITALAR
No desenvolvimento de projetos complexos, como hospitais, o planejamento
prvio possibilita a concepo de uma arquitetura de qualidade. Assim, o Plano Diretor
configura-se como processo passvel de estudo e pesquisa, pois no apenas um item do
processo de projeto mas, sim, o elo de ligao entre o planejamento estratgico e a
arquitetura do empreendimento (SALGADO, 2005 apud MENDES, 2007, p. 91).
-
128
Visando essa qualidade projetual, que o Plano Diretor deve apresentar-se no
hospital, antes e durante sua concepo, bem como na fase operacional. Entende-se por
qualidade, nesse processo, a capacidade do edifcio em abrigar de forma satisfatria as
atividades a que se props, as quais vo desde o foco principal, que o atendimento
assistencial at ao adequado desempenho dos equipamentos, sem esquecer da necessidade
de possibilitar o bem-estar dos usurios e prestadores do servio. Tais aspectos so
alcanados a partir de uma concepo espacial adequada e cautelosamente planejada.
Como j discutido anteriormente, O Plano Diretor vale-se de diferentes
aspectos para sua apresentao. Nele so abordados elementos fiscos-espaciais, gerenciais,
administrativos, tecnologia e manuteno. Assim, o plano diretor deve possibilitar a
compreenso do empreendimento como um todo, incluindo:
Volume e forma do edifcio (vertical, horizontal, misto, acessos externos; Integrao com o bairro e com a cidade, etapas previstas etc); Anatomia do hospital (fluxos, circulaes, contigidade das unidades etc.); Anatomia das unidades (compartimentos, formas e reas aproximadas etc.); Layout e relao preliminar de mobilirio e equipamentos; Determinao prvia das interfaces entre a arquitetura e as diversas instalaes (ramais principais verticais e horizontais, modulao estrutural etc.); Estimativa financeira dos custos globais e setoriais para construo, aparelhagens e operacionalizao (MIQUELIN 1992, apud TOLEDO, 2006).
Reportando-se ao Plano Diretor Fsico Hospitalar, objeto de estudo do presente
trabalho, Mendes (2007, p. 8) estabelece os seguintes requisitos como sendo elementos que
devem ser abordados nesse documento:
Prever reformas, demolies e ampliaes em etapas, de acordo com investimentos factveis; Estruturar circulaes e conexes principais; Demonstrar a setorizao das unidades e sua mudana conforme a implantao das etapas; Minimizar o impacto das intervenes na prestao dos servios de atendimento; Prever o planejamento das tecnologias mdico-hospitalares e dos sistemas de instalao (eltrica, hidrulica, rede de gases, infra-estrutura, etc.); Promover o crescimento e as alteraes de unidades assistenciais em consonncia com os setores de apoio tcnico e logstico;
-
129
Promover o desenvolvimento da instituio alinhando recursos fsicos, tecnolgicos, humanos, sociais, educacionais e ambientais; Estimativa financeira dos custos segundo as etapas de execuo; Ter seu Sistema de Gesto; Ser flexvel para acompanhar a evoluo das cincias e exigncias do mercado.
Para Ges (2006), o PHD fsico deve estabelecer uma proposta de organizao
e estruturao espacial, considerando os seguintes aspectos:
Implantao do novo hospital ou o crescimento da instituio com indicadores, no ltimo caso, dos fatores de crescimento a serem estimulados; Distribuio das atividades mdico-hospitalares no espao, identificando os usos a serem incentivados ou restringidos; Flexibilidade e hierarquizao dos servios e sistemas locais, com a definio dos princpios de universalidade, equidade e integralidade; Infra-estrutura e servios, definindo localizao, capacidade de atendimento, rea de cobertura, interferncias ambientais e solues a serem adotadas; Equipamentos mdico-hospitalares, com especificao, dimensionamento, capacidade, localizao e formas de aquisio e manuteno, definidas, em projeto especfico, a sua implantao; Delimitao das reas de interesse ambiental com delimit