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1 Ciência e Técnica Carlos Emanuel Sautchuk Introdução A expressão ciência e técnica como designação de tipos de pesquisas ou temas da Antropologia é recente no cenário brasileiro. Teve início nos anos 1990, firmando-se como identificador explícito apenas neste século, quando se consolidou como forma de reunir linhas de reflexão antropológica com orientações originais diferentes. Essa situação se diferencia da Sociologia brasileira, onde a análise de fenômenos como as políticas públicas e as profissões alavancou os estudos sobre ciência e tecnologia, tornando-os um campo profícuo, que se desenvolve de maneira relativamente coesa e bem estabelecida no seio da disciplina. Ao contrário, o que permite falar de Antropologia da ciência e da técnica no cenário brasileiro é a reunião de linhas diferentes de pesquisa convergindo para algumas questões semelhantes. Pensando na produção atual e nas perspectivas futuras, três campos se conectam a este movimento ciência, cultura material e biotecnologia. Dito isso, é possível mirar por dois ângulos a produção antropológica sobre ciência e técnica no Brasil. O primeiro deles, ao qual esse texto se dedica, é diacrônico e particular, evidenciando que cada um desses campos apresenta desenvolvimento próprio, tendo derivado para a reflexão sobre ciência e técnica mais recentemente. O outro ponto de vista é sincrônico e comparativo, indicando que nichos de investigação aparentemente distintos tem convergido para discussões similares, recorrendo a reflexões de mesma ordem. Essa perspectiva permite notar que a reunião dos três campos se apóia no fato dessas manifestações da Antropologia feita no Brasil empreenderem uma análise sobre as formas de sociabilidade ou sobre o estatuto do humano (ou da pessoa), a partir das relações estabelecidas com diferentes tipos de não humanos, sejam eles extraterrestres, animais, artefatos, grafismos, embriões ou genes. Os diferentes estudos aqui analisados voltam-se, ainda que de maneira particular, ao fato de que a dimensão não humana da vida social é extremamente relevante para o enfoque das formas de sociabilidade e das noções de humanidade. Guardadas as especificidades de cada área de estudo, esse intuito geral vale para o índio Carlos Emanuel Sautchuk é professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, onde coordena o Laboratório de Antropologia da Ciência e da Técnica (LACT).

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Ciência e Técnica

Carlos Emanuel Sautchuk

Introdução

A expressão ciência e técnica como designação de tipos de pesquisas ou temas

da Antropologia é recente no cenário brasileiro. Teve início nos anos 1990, firmando-se

como identificador explícito apenas neste século, quando se consolidou como forma de

reunir linhas de reflexão antropológica com orientações originais diferentes. Essa

situação se diferencia da Sociologia brasileira, onde a análise de fenômenos como as

políticas públicas e as profissões alavancou os estudos sobre ciência e tecnologia,

tornando-os um campo profícuo, que se desenvolve de maneira relativamente coesa e

bem estabelecida no seio da disciplina. Ao contrário, o que permite falar de

Antropologia da ciência e da técnica no cenário brasileiro é a reunião de linhas

diferentes de pesquisa convergindo para algumas questões semelhantes.

Pensando na produção atual e nas perspectivas futuras, três campos se conectam

a este movimento – ciência, cultura material e biotecnologia. Dito isso, é possível mirar

por dois ângulos a produção antropológica sobre ciência e técnica no Brasil. O primeiro

deles, ao qual esse texto se dedica, é diacrônico e particular, evidenciando que cada um

desses campos apresenta desenvolvimento próprio, tendo derivado para a reflexão sobre

ciência e técnica mais recentemente. O outro ponto de vista é sincrônico e comparativo,

indicando que nichos de investigação aparentemente distintos tem convergido para

discussões similares, recorrendo a reflexões de mesma ordem. Essa perspectiva permite

notar que a reunião dos três campos se apóia no fato dessas manifestações da

Antropologia feita no Brasil empreenderem uma análise sobre as formas de

sociabilidade ou sobre o estatuto do humano (ou da pessoa), a partir das relações

estabelecidas com diferentes tipos de não humanos, sejam eles extraterrestres, animais,

artefatos, grafismos, embriões ou genes.

Os diferentes estudos aqui analisados voltam-se, ainda que de maneira

particular, ao fato de que a dimensão não humana da vida social é extremamente

relevante para o enfoque das formas de sociabilidade e das noções de humanidade.

Guardadas as especificidades de cada área de estudo, esse intuito geral vale para o índio

Carlos Emanuel Sautchuk é professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília,

onde coordena o Laboratório de Antropologia da Ciência e da Técnica (LACT).

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que trança um cesto, o cientista que observa um macaco ou o casal envolto nos

procedimentos de reprodução assistida. Ao focar esses tipos de situações, os

antropólogos têm analisado as construções cosmológicas que organizam a distribuição e

as características de humanos e não humanos. Num outro nível, isto aponta para

abordagens preocupadas, em diferentes graus e perspectivas, em repensar a dicotomia

entre cultura e natureza e suas tributárias (artificial e natural, sujeito e objeto etc.), que

perpassam tanto a modernidade de modo geral quanto o próprio fazer antropológico.1

No registro dessa preocupação com a manifestação da modernidade (na

antropologia e/ou em seus “objetos”), cabe comentar algo sobre a preferência pelo

termo técnica, e não tecnologia, na definição do escopo deste texto. Em primeiro lugar,

como fica evidente pelo próprio delineamento das abordagens tratadas neste artigo,

ciência e técnica não demarcam um objeto empírico – não se trata de abordagens

antropológicas voltadas ao domínio da “ciência & tecnologia” nos Estados modernos –

mas são noções tomadas antes na qualidade de categorias analíticas a orientar a

investigação antropológica.

Nesse sentido, adotar o termo técnica não indica rejeição, mas cautela em

relação a tecnologia. Se no contexto anglo-saxão e no Brasil de modo geral o vocábulo

tecnologia é mais acionado, entre francófonos técnica ganha mais importância e

abrangência. Veja-se a tão importante quanto pouco lembrada produção de Mauss

(2006) sobre o tema, onde tecnologia é compreendida como o estudo da técnica. É

verdade que existe alguma correspondência entre os dois termos, atestada, por exemplo,

na tradução para o inglês de autores como Latour, Foucault, Ellul, Daumas, Mauss,

Lemonnier, onde technique no original é vertido como technology. Mas essa

equivalência é parcial e pode dar margem a algumas confusões. Tanto assim, que

diversos autores franceses incomodam-se com o emprego do termo tecnologia,

considerando-o equivocado ou abusivo (Séris, 1994, p. 3-6; Sigaut 1994, p. 442; Latour

2001, p. 219). E mesmo Bryan Pfaffenberger, em Social Anthropology of Technology

1 Não foram consideradas aqui as pesquisas dedicadas à relação entre conhecimentos tradicionais e

ciência moderna, assim como aquelas relativas à cibercultura, ainda que, em alguma medida, elas

guardem proximidade com o tema. Além disso, dada a desproporção entre o campo a resenhar e as

dimensões do texto, pareceu-me necessário renunciar a qualquer pretensão de ser exaustivo, guardando,

entretanto, o objetivo de ser indicativo das principais tendências. Trechos deste trabalho receberam a

leitura de Mariza Peirano, Marcela Coelho de Souza e Guilherme Sá, a quem agradeço pelas observações,

as quais nem sempre consegui atender. Ao Guilherme devo também boas indicações sobre estudos

relativos ao tema; cabe a mim, igualmente, a responsabilidade por não ter incorporado devidamente todas

as informações repassadas. Versão inicial deste texto foi apresentada na II Reunião de Antropologia da

Ciência e da Tecnologia, em maio de 2009, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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(1992), propõe a substituição do termo tecnologia por técnica ou por sistema

sociotécnico.

Não se trata de fazer a defesa de uma linha de pensamento em detrimento da

outra seria, o que seria, no mínimo, prova de um estreitamento teórico inoportuno para

um esforço de mapeamento. O cenário brasileiro não permite que se tracem linhas

absolutas, pois se cruzam ambas as tradições e ambos os vocábulos. Portanto, a escolha

do termo técnica aqui justifica-se, antes de tudo, por abrangência e cautela.

Explicitemos isto a partir da seguinte indagação: dado que tecnologia não se

refere ao estudo da técnica, o que justifica a adição do sufixo “logos”? Tecnologia pode

sugerir o superlativo de técnica, no sentido de outra ordem, racional, mais sofisticada,

com métodos complexos, consciente dela mesma, de suas necessidades e finalidades,

informada por um saber especializado e científico, associado ao progresso. Opor-se-ia,

assim, às técnicas ditas “rudimentares”, baseadas no empirismo ou no conhecimento

intuitivo, arraigada nas convenções. Assim, o valor associado ao termo tecnologia

estaria conectado à dicotomia moderno-tradicional, enquanto transformação radical. Em

acepção um pouco diferente, tecnologia pode significar a dimensão intelectual da

técnica, isto é, os conhecimentos, saberes, conceitos relativos a alguma operação

material, o que remete à separação entre domínio ideal e material. Ainda que em certas

análises as transformações instauradas pelo mundo industrial ou as elaborações

abstratas relativas à técnica devam ganhar ênfase, parece injustificado admitir isso como

distinção a priori, extensiva a todas as situações.

Tecnologia pode também significar coletivo de técnicas. Este uso, consagrado

entre antropólogos anglo-saxões, remete à ideia de que as técnicas se reuniriam em

sistema, ou pelo menos num conjunto que se relacionaria com outros (de humanos,

símbolos etc.). Assim, artefatos estariam primariamente em relação com artefatos, e este

sistema, caracterizado pela cultura material, manteria uma relação de outra ordem com a

sociedade. Essa distinção fundamental entre o humano e o técnico (derivada do

pensamento hilemórfico, cf. Simondon [2001]) sustenta o dilema entre tecnotopia e

tecnofobia, tão característico do pensamento moderno (cf. Ribeiro, 1999). Note-se então

que considerar as técnicas enquanto um sistema próprio, em alguma medida exterior,

não raro dominado ou dominando a vida humana extratécnica, pode implicar em um

viés etnocêntrico, instaurando importantes limitações heurísticas. Ver-se-á que tal

dicotomia está em contradição com parte considerável do esforço reflexivo avançado

nos estudos analisados a seguir.

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Enfim, a opção pelo termo técnica não se deve à afirmação de um tipo de

abordagem, mas à reserva epistemológica e à cautela empírica face aos pressupostos

que podem subjazer ao uso do termo tecnologia. Pode-se dizer, então, que o termo

técnica não se opõe, mas engloba os diferentes usos de tecnologia. Isso parece

especialmente importante quando se trata de designar todo o escopo de abrangência do

tema na Antropologia praticada no Brasil.

Cultura material

Ao introduzir um artigo sobre habitação popular, Luiz de Castro Faria notou que

os estudiosos das populações de origem africana no Brasil privilegiavam os aspectos

religiosos e sociológicos, um “unilateralismo” que prejudicava a compreensão dos

“bens materiais de cultura” (Castro Faria, 2000, p. 339-340). Esta frase, publicada em

1951, ressalta dois aspectos significativos sobre os desenvolvimentos ulteriores dos

estudos de cultura material na Antropologia brasileira. O primeiro deles é o alcance

relativamente limitado em que este campo de pesquisa se manteve no quadro de

interesses da antropologia no Brasil, se comparado com a qualidade dos estudos

realizados. Outro ponto é que a forma como Castro Faria buscou minorar essa carência,

no decurso de sua longa carreira como pesquisador e professor, pode ser tomada como

representativa dos tipos de preocupações que pautaram os antropólogos dedicados à

materialidade. Como se sabe, dentre sua vasta contribuição à formação da Antropologia

brasileira destacam-se a aproximação (e a crítica) aos museus, estudos arqueológicos,

escritos sobre a arte indígena, cursos sobre Antropologia econômica, além da

participação decisiva na implantação da legislação referente ao patrimônio histórico

cultural. Esse rol de temas explorados por Castro Faria, se não está na origem direta de

todas as abordagens contemporâneas à cultura material no Brasil, pode ser tomado

como um quadro indicativo delas, conforme apresentadas a seguir.

Comecemos por sua influência sobre os estudos de populações de pescadores.

Ela pode ser sentida na abordagem que, enfocando as questões ambientais e políticas,

não descuida da dimensão técnica e econômica, empreendendo descrição e análise

cuidada das diferentes formas de pescaria (Kant e Pereira, 1997). Os detalhados

resultados de uma pesquisa etnográfica ao longo da história de uma comunidade

pesqueira e as transformações em seu ambiente natural e sociopolítico podem ser vistos

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na obra Gente das areias (Mello e Vogel, 2004), que situa boa parte de seu interesse nas

técnicas relacionadas ao ambiente.

A preocupação com o trabalho, como apropriação dos recursos valendo-se das

técnicas, é que articula os diferentes planos da análise, e define um papel importante na

dinâmica explicativa destas pesquisas para a dimensão econômica. Nisso pode ser

encontrado um traço mais geral dos estudos sobre sociedades de pescadores entre

pesquisadores brasileiros (por exemplo em Furtado, 1993; Chaves, 1973; Mussolini,

1980). Esse viés preocupa-se com os modos de apropriação dos recursos naturais, ainda

que priorize mais uma leitura socioeconômica do que propriamente técnica. Assim, a

ênfase recai sobre as formas de socialização e de relação com o ambiente, enquanto

modo de reprodução. Mas é notável que, se os estudos sobre pesca no Brasil emprestam

importantes balizas teóricas dos de campesinato (como o trabalho articulando ambiente,

economia e sociedade), eles investem mais na etnografia das atividades técnicas como

forma de compreensão das dimensões socioeconômicas.

Malgrado algumas referências rápidas, é curioso notar que as clássicas

contribuições de André Leroi-Gourhan (1983, 1984) à Antropologia da técnica não

ecoam nas correntes de pesquisa sobre cultura material no Brasil. Sem explorar aqui as

razões disso,2 limitemo-nos a apontar sua influência em trabalhos recentes. Em

dissertação sobre as transformações das habitações kaiowá, Mura (2000) explora o

ambiente doméstico indígena face aos diversos planos do contato interétnico,

recorrendo a três horizontes teóricos: a Antropologia da técnica francesa, a

Antropologia econômica de Godelier e a elaboração da etnicidade inspirada em Barth.

Assim, sua análise não adota a distinção entre técnica indígena e técnica ocidental,

buscando compreender a constituição da materialidade num ambiente de fluxos de

diferentes ordens (matérias-primas, mercadorias, conhecimentos etc.). Inspirado noutra

faceta de Leroi-Gourhan, abordei a gênese associada de humanos e técnicas, ou ainda, a

tecnogênese do humano (Sautchuk, 2007). Considerei as atividades de pesca costeira e

lacustre no estuário do Amazonas a partir da conexão entre habilidades técnicas (Ingold,

2000) e construção da pessoa, buscando compreender os sentidos de humanos e de não

humanos (como artefatos e animais) a partir dos engajamentos práticos.

2 Ausência tanto mais notável quanto Leroi-Gourhan se dedicou longa e profundamente à relação entre

técnica e estética e à própria noção de arte, que, veremos a seguir, são fundamentais nas abordagens da

cultura material indígena.

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Por outra, anoto que um dos âmbitos da pesquisa sobre cultura material que tem

crescido em número e importância é influenciado pelas políticas públicas de

identificação de saberes e técnicas enquanto patrimônio cultural imaterial. É preciso

distinguir ao menos três níveis diferentes de implicação da Antropologia com esse

movimento: a atuação na identificação de bens culturais, a reflexão antropológica sobre

a patrimonialização (cf. Carneiro da Cunha, 2005; Coelho de Souza, 2005; Gallois,

2007) e os estudos de relevância antropológica associados a tais políticas. Sobre esse

último ponto, cito dois exemplos que indicam a diversidade e o valor que podem

assumir: a elegante etnografia sobre alfaiatarias em Curitiba (Santos et al., 2009) e a

valiosa pesquisa sobre os sistemas agrícolas do rio Negro (Emperaire et al., 2008;

Emperaire, 2005). Esta última apresenta dois pontos a ressaltar. O fato de a pesquisa ser

levada adiante por uma equipe capaz de lidar com múltiplas dimensões do fenômeno

agrícola – como sói acontecer nesse tipo de projeto – aponta provavelmente uma

tendência metodológica. Depois, por contribuir à redução da insondável lacuna nos

estudos sobre cultura material dedicados às técnicas de cultivo e aos processos de

disseminação agrícola, ela indica um dos campos potenciais para seu desenvolvimento.

Mas é nos trabalhos voltados às populações indígenas que a análise da

materialidade multiplicou-se, constituindo uma tradição de estudos. A começar pela

etnoarqueologia, que estabelece associações entre o passado de uma população e a

forma em que estão relacionados atualmente artefatos, conhecimentos e ambiente (cf.

Silva, 2009; Silva e Souza, 2002; Funari, 1998; Ribeiro, 1990). Para ilustrar o tom

recente deste debate – sobre a relação entre dados etnográficos e arqueológicos –

notemos que Silva (2007, p. 102) afirma, baseada em etnografia sobre fabricação e uso

de artefatos, que as formas de descrição e classificação através da qual são estabelecidas

as periodizações arqueológicas em geral, não levam em consideração os mecanismos

mais complexos de produção de identidades sociais externas e internas aos grupos. Tais

aspectos podem ser acessados pelo estudo etnográfico da produção e da circulação de

artefatos, associado às categorias êmicas usadas para referir-se a eles. Ao dar-se conta

das tensões entre tecnologia e agência, continuidade e mudança, a etnografia pode assim

auxiliar na melhor compreensão de comportamentos e trajetórias de populações. É

movida por estas preocupações que Silva (2002) escreve um dos raros trabalhos

realizados no Brasil em que se traça um panorama de propostas teóricas sobre a relação

entre técnica e significado no âmbito da Antropologia.

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Por outro lado, são bem conhecidas as abordagens relacionando expressões

materiais e simbólicas das sociedades indígenas com base em material etnográfico. A

esse propósito sobressai o nome de Berta Ribeiro, que, além de suas próprias pesquisas,

organizou os três volumes da Suma Etnológica Brasileira (Ribeiro, 1986). Das várias

facetas de sua obra,3 sublinhemos duas: a ênfase na forma como um aspecto central na

descrição e classificação dos artefatos (Ribeiro, 1988); e o intuito de “estudar a cultura

material como uma iconografia étnica” (Ribeiro, 1986, p. 12; cf. também 1989), o que

confere à dimensão estética a chave de abertura para o sentido simbólico da vida

material indígena. Inclusive, é sob influência desse princípio que se desenvolve uma

linha importante de trabalhos acerca da iconografia indígena, em suas múltiplas

manifestações (Vidal, 1992).

Não se trata de negar que também compunha o programa de pesquisas de Berta

Ribeiro (1995) a “tecnoeconomia”, isto é, a dimensão da materialidade diretamente

voltada à relação com o ambiente e à subsistência, incluindo processos de fabricação e

uso. Mas digamos que estas duas disposições – a “forma” como dado privilegiado e a

“estética” como dimensão reveladora – são cursos principais de sua reflexão, assim

como da maneira como antropólogos brasileiros lidam com a cultura material. Penso

que, em alguma medida, isto seja um subproduto do fato mais geral de a etnologia no

Brasil se constituir em contraposição às interpretações materialistas de diferentes

ordens, enfatizando para tal a organização social e o simbolismo.

O texto de síntese de Vidal e Silva (1992) evidencia bem os pressupostos e as

potencialidades desse enquadramento. A ênfase na noção de um sistema de objetos

como base empírica e na articulação entre arte e cultura material como horizonte

compreensivo é fundamental. Mas o refinamento etnográfico alcançado por esses

trabalhos deve-se também à formação em artes ou museologia de parte considerável dos

antropólogos responsáveis por elas.4 Isto não é negligenciável, tanto mais se

considerarmos que um dos desdobramentos mais instigantes nesse cenário é a reflexão

sobre a noção ocidental de arte e o modo como ela incide na compreensão antropológica

(nessa linha, cf. Costa, 1988 e Velthem, 2000). A título de exemplo, citemos as ideias

de criatividade individual, autoria e autenticidade, que se revelam muito diferentes no

mundo indígena.

3 A esse respeito, ver Velthem (1999) e Botelho (2005).

4 É o caso de Berta Ribeiro, Heloísa Fénelon Costa, Lux Vidal, Lúcia van Velthem, Aristóteles Barcelos

Neto etc.

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Contudo, este desdobramento na reflexão sobre a estética indígena somente pode

ser considerado em associação com outro fator, que diz respeito à etnologia de modo

geral. A partir da década de 1980 torna-se explícita a percepção de que há “necessidade

de se tomar o discurso indígena sobre a corporalidade e a pessoa como informador da

práxis social concreta” (Seeger et al., 1979, p. 16). Há então uma conexão produtiva

entre a tradição de pesquisa da materialidade em tela – com um olhar atento à

iconografia, inclusive à ornamentação corporal – e a aproximação às dinâmicas de

formação da pessoa através do idioma da corporalidade. Nessa direção, recente leva de

pesquisas renova os estudos sobre cultura material, basicamente operando com as

noções de alteridade e de agência, como Velthem (2003), Lagrou (2007), Barcelos Neto

(2008) e Miller (2009).

A trajetória de Lúcia van Velthem expressa os principais capítulos da

transformação na abordagem da cultura material na Antropologia brasileira. Suas

primeiras publicações, a exemplo da dissertação sobre a cestaria Wayana, dão prova do

rigor descritivo, da minúcia no tratamento da produção e da forma dos artefatos e de

seus motivos gráficos. Já em O belo é a fera, explorando o vínculo necessário entre

beleza e predação, Velthem (2003) compreende a estética Wayana frisando que os

objetos e os padrões figurativos não constituem obras puramente humanas, mas são

recebidos ou arrebatados de outros seres, sejam eles animais, inimigos, sobrenaturais

etc. De modo que a decoração é uma forma de “integrar o que lhe é estranho, de

assimilar o outro como condição da própria identidade, individual e coletiva, capacidade

esta veiculada através da arte que se revela para os Wayana enquanto possibilidade de

afirmação de humanidade” (idem, p. 389). Não só a relação com a alteridade é condição

de humanidade, mas dado que a “fabricação” tanto de coisas como de pessoas,

independente de sua constituição material, é concretizada de acordo com uma mesma

técnica, a grande questão aqui é detectar “o que há de „humano‟ nas coisas e o que há de

„coisa‟ nos humanos” (idem, p. 63, cf. Velthem, 2009).5

5 Dedicando-se mais recentemente ao estudo de populações ribeirinhas no Acre, Velthem (2008, p. 11)

constata que a fertilidade dos estudos sobre certas categorias artesanais dos povos indígenas (cestaria,

plumária, cerâmica) contrasta com o tratamento meramente utilitário dado aos objetos envolvidos nos

contextos produtivos de outras populações. Levando adiante essa constatação, seria o caso de acrescentar

que muitas vezes esse desequilíbrio se apresenta no próprio âmbito dos estudos sobre povos indígenas.

Nesse sentido, vale ressaltar que a emergência da noção de predação, que estende seu potencial heurístico

a diversos planos da vida indígena, não tem gerado entre pesquisadores brasileiros uma valorização das

aproximações etnográficas sobre a atividade cinegética propriamente dita. Aspecto que tem sido enfocado

por antropólogos de outras nacionalidades, como Descola (1986), Ingold (1988 e 2000) e Kohn (2002).

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Em seu estudo sobre o estilo gráfico kaxinawa, Lagrou (2007; cf. também 2002)

também se afasta dos intentos classificatórios ou formalistas, que tendem, num segundo

momento, a desviar a atenção dos objetos para os sistemas de pensamento. Ela trata de

modo inseparável forma, sentido e ação, apoiando-se em Gell (1998) para levar adiante

uma abordagem de objetos, artefatos e arte “como se fossem pessoas”. Isto é, objetos

cujo sentido não está no plano contemplativo, semiótico ou linguístico, mas advém de

certas modalidades de agência, está em seus efeitos práticos (Lagrou, 2007, p. 54). A

ideia mesmo de poder criativo é alvo de exame, suscitando a rediscussão tanto dos

pressupostos de uma Antropologia da arte quanto da ideia de agência no mundo

indígena. De modo que “pensar sobre arte entre os ameríndios equivale a pensar a noção

de pessoa e de corpo. Porque objetos, pinturas e corpos são assuntos ligados no universo

indígena, no qual a pintura é feita para aderir a corpos e objetos são feitos para

completar a ação dos corpos” (idem, p. 50).

Esse movimento nas abordagens da cultura material, a partir das ideias de

fabricação de corpos e pessoas e da alteridade como dimensão constitutiva, reorganiza a

própria forma de atribuição da qualidade de sujeito e de objeto, estabelecendo um

quadro relacional e situacional para a compreensão do sentido dos seres e das coisas. É

de se prever, então, que isto oxigenaria fortemente temas próximos, como os associados

à circulação dos objetos. Refiro-me à inserção de objetos industrializados no meio

indígena (cf. Ramos e Albert, 2002) e, de outro lado, ao trânsito de objetos indígenas no

mundo não indígena, particularmente nas situações de sua comercialização e

musealização. Baseado em detalhado estudo sobre máscaras rituais xinguanas, Barcelos

Neto (2006 e 2008) estende-se a respeito dos múltiplos sentidos da musealização,

inclusive na ótica indígena, tema de interesse crescente (por exemplo em Gordon e

Silva, 2005). Por fim, é o caso de constatar que objetos (nos dois sentidos: artefatos e

temas de estudo) outrora relegados aos capítulos sobre cultura material, ganham vida no

cerne da etnologia contemporânea. Penso que isso faz parte de um deslocamento mais

amplo no modo de compreensão das populações indígenas – de suas concepções de

humanidade e práticas de socialidade –, que dá mostras de passar de modo cada vez

mais intenso pelos não humanos – artefatos, animais, espíritos.

Técnicas do vivo

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Dos três temas definidos no escopo deste artigo, este é sem dúvida o mais

profuso e difuso, de modo que sobressairá mais aqui o caráter apenas indicativo das

referências e comentários. De sorte que inicio lembrando que os termos

técnica/tecnologia/biotecnologia são recorrentes nos estudos sobre as práticas de saúde

em geral, o mais das vezes conotando o processo mesmo de medicalização, remetendo

às dinâmicas de construção de gênero e/ou de subjetivação, com marcada influência

foucaultiana (a exemplo de Rohden, 2004; Leibing, 2004; Duarte e Leal, 1998). Visto

que a amplitude dessa produção escapa ao objetivo deste artigo, interessarão apenas

aqueles estudos que lidam mais explicitamente com a questão da técnica como

mediação entre o humano e o não humano na modernidade. Ou seja, os dedicados aos

problemas da fronteira ou da condição do humano; que remetem, por assim dizer, ao

dilema do ciborgue (Haraway, 2000).

Os textos comentados a seguir apresentam como tema central o humano

perpassado por suas próprias técnicas. A hipótese, trazida aqui como critério de

mapeamento, é que a dramaticidade com que tal questão se anuncia só pode ser

adequadamente apreciada na moldura da modernidade ocidental. Antes de tudo, porque

fora disso o drama tornar-se-ia banal – o humano sempre foi, por definição, alvo de suas

próprias técnicas (Leroi-Gourhan, 1983; Neves, 2006). Mas, mesmo que se queira

conceder preeminência às especificidades de nossa época, ainda assim a pertinência

antropológica do dilema do ciborgue – isto é do mal-estar com a técnica modificando o

seu autor – não está em se tratar de uma questão referente ao advento da modernidade

para a humanidade, mas às redefinições do humano na modernidade. Como os estudos

antropológicos abaixo denotam, por vias distintas, a inquietação gerada pelas

biotecnologias no Ocidente moderno deve ser tratada como um fenômeno êmico, cujas

chaves de inteligibilidade estão em sua própria cosmologia.

Uma das formas em que essa preocupação se verifica é nas aproximações aos

modos de diagnóstico derivados do saber biomédico. Chazan (2007) trata do ultrassom

obstétrico que, ao transportar o feto para o âmbito da visualidade, participa da

reorganização da gestação e da relação com o feto. As imagens e a forma como o

ultrassom obstétrico opera, por meio da psicologização e da fisicalização do feto,

promovem sua existência “social” (isto é, na forma do indivíduo) antes do nascimento –

a nomeação passa a ocorrer quando da determinação do sexo. Entre as consequências

deste dispositivo, está sua utilização política na controvérsia sobre o aborto, como prova

da condição de pessoa do feto, e a constituição do rito de visualização, onde há algo de

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diagnóstico e algo de espetáculo. O exame pressupõe algum aprendizado visual e gira

em torno da fruição das imagens “decifradas” na tela.

Investindo preferencialmente no desenvolvimento laboratorial de diagnósticos,

Monteiro (2005) debruça-se sobre o surgimento de novos formatos de exame, pautados

na genética e na informática, que buscam detectar biomarcadores de câncer de próstata.

O foco é na forma como interagem percepções de corpo e de humano e no modo como

estes aspectos associam-se no plano político. No contexto das academias de ginástica,

delineei os modos de funcionamento da avaliação antropométrica, considerando o

manejo das dimensões íntimas (psíquicas) e internas (físicas) do indivíduo pela

elaboração sociotécnica da gordura (Sautchuk, 2007). Já Bonet (2004), trata justamente

da constituição do componente humano necessário aos dispositivos de diagnóstico e

terapêutica, pois enfoca o aprendizado prático de médicos em situação de residência.

Há igualmente pesquisadores voltados ao transbordamento de discursos e

dispositivos gerados no âmbito da ciência, movendo a atenção do contexto de sua

produção ou funcionamento para aquele da sua difusão. Veja-se os estudos sobre a

forma como as neurociências instituem novos marcadores de identificação pessoal e de

explicação de sintomas; enfim, como estes dispositivos biomédicos avançam sobre o

cotidiano extra-hospitalar, seja contribuindo à afirmação de um “sujeito cerebral”

(Azize, 2008, 2010), seja possibilitando o surgimento de um movimento de

“neurodiversidade”, que associa o individualismo com a noção de uma cultura cerebral

(Ortega, 2008). Sem mencionar aqui estudos voltados ao consumo de medicamentos,

assinalo que outra forma de explorar os desdobramentos da biotecnologia é enfocando

seus usos com o fim de gerar os ditos estados de alteração. Vargas (2006; 2008)

considera as drogas enquanto objetos sócio-técnicos, que não comportam sentido

intrínseco absoluto ou essencial, mas sim relacional. De modo que elas permanecem

indeterminadas até que os agenciamentos a constituam enquanto tais; afinal, elas

operam mediando formas particulares de engajamentos com o mundo. Para notar,

enfim, que o identificador “bio” aplica-se também a técnicas não ligadas à medicina,

veja-se Ferreira (2008), sobre o transe associado à música eletrônica.

Dado o escopo aqui fixado – a relação entre o humano e a técnica face à

modernidade – é preciso demorar um pouco mais nas novas técnicas reprodutivas, pois

se instaura entre antropólogos brasileiros um verdadeiro diálogo, marcado pela

influência considerável de Strathern (1992) e levando adiante por etnografias e

elaborações analíticas realizadas em diferentes direções (Grossi et al., 2003; Ramírez-

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Gálvez, 2009). Nesse contexto, Salem (1997) circunscreve alguns pontos de referência,

dentre eles o emprego sistemático do aparato conceitual de Dumont, o que demonstra o

intuito de colocar em perspectiva a modernidade por meio de um de seus dilemas

fulcrais. Para ela, “o próprio modo de formular o dilema envolvido na manipulação de

embriões evidencia que, em última instância, está-se discutindo a Pessoa: o que

significa ser pessoa e quais as qualidades que instalam em um ser humano essa

condição” (idem, p. 84).

Consequência disso, a condição de inteligibilidade de toda a controvérsia, o

suposto de seus diferentes argumentos, é o Indivíduo, a categoria ocidental de pessoa.

Grosso modo, a controvérsia está em se o embrião é, e até quando, tecido celular ou

pessoa. E isso se definiria a partir da localização de certas características instauradoras

do indivíduo, que confluem para a “posse” de certas qualidades ou marcos.

Independentemente de que sejam defendidos atributos morais ou biológicos, trata-se

sempre de “uma realidade inerente ao indivíduo” um “domínio autocontido”,

“logicamente anterior às relações sociais” (idem, p. 84). Daí emergem questões sobre o

estatuto mesmo do embrião (intra ou extracorpóreo) e de como hierarquizar seus

“direitos” em relação aos da mãe.

A partir de quadro teórico próximo ao de Salem (1997), mas trabalhando com

dados oriundos de etnografia sobre processos de reprodução assistida, Naara Luna

(2007a e 2007b) insiste na questão sobre quais atributos confeririam ao embrião

subjetividade e identidade individual. Ela nota então a transferência dos critérios de

individualidade e autonomia do plano moral para o plano biológico, afirmando que

ocorre genetização, ou biologização do parentesco, o que se expressa de modo mais

geral:

A análise das novas tecnologias reprodutivas permite vislumbrar como Natureza e Cultura não

são domínios estanques, mas que há um fluxo contínuo de significados, um intercâmbio em que

significados naturais são culturalizados e significados culturais são naturalizados. A Natureza ora

serve de modelo à Cultura, ora o entendimento pela Cultura se impõe à Natureza. (Luna, 2004, p.

152)

Exemplo disso é o sangue, que comporta sentidos genéticos (DNA) e de

pertencimento familiar, acionando a importância do parentesco e da pessoa no âmbito

da herança. Ademais, emergem do universo biológico novas figuras de parentesco e,

portanto, de humanidade, como células, óvulos, fetos. Igualmente, se os limites da

concepção do humano e das relações de parentesco são redesenhados com as novas

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técnicas reprodutivas, ressignificam-se também a paternidade e a maternidade (idem, p.

151).

É o que indica Fonseca (2005) sobre o exame de DNA para definição de

paternidade. Além disso, ela enfatiza que a verdade biológica abre um horizonte de

novas dúvidas, negociações e dilemas em torno do estabelecimento ou do rompimento

de vínculos de parentesco. Conclusão próxima à que Machado (2008) avança sobre a

alteração nas definições da interssexualidade: quanto mais se aguça a detecção de traços

de veracidade a respeito da definição do sexo, mais afloram ambiguidades entre

diferentes níveis (anatômico, genético etc.).

A partir de pesquisa sobre a tramitação da Lei de Biossegurança brasileira – que

permitiu sob certas condições o uso de células tronco de embriões inviáveis ou

congelados e a produção de alimentos transgênicos – Cesarino (2006) faz contribuições

importantes a este debate. Notadamente, ela promove uma articulação entre a

controvérsia no campo político-moral e o fator econômico, enfrentando o problema de

equacionar mercado e ciência nos dilemas cosmológicos da modernidade. Para

compreender os sentidos do debate político a respeito da Lei de Biossegurança –

articulando fatos científicos e mercadorias –, Cesarino associa de maneira muito

oportuna certos aspectos da Antropologia simétrica latouriana com a teoria dumontiana,

especialmente no que se refere à relação entre o individualismo e a autonomia da

economia na modernidade. Assim, se “o indivíduo é a forma assumida pelos humanos

no círculo de trocas do livre-mercado, a mercadoria seria a forma por excelência de

inserção dos não humanos no mercado capitalista” (Cesarino, 2006, p. 204-205). Adição

importante, já que o indivíduo não é, então, o único suposto no debate sobre a Lei de

Biossegurança: a mercadoria é o suposto oposto – a condição das coisas. No caso da

permissão para o uso de embriões, ela se vale da noção de englobamento para mostrar

como, sem deixar de ser o valor preeminente da modernidade, as qualidades do

indivíduo puderam ser consideradas tão diminuídas no pré-embrião a ponto de permitir

sua desumanização relativa e seu uso nas pesquisas, na qualidade de parte do mundo

natural, passível de manipulação (Cesarino, 2007, p. 373).

Identificando traços gerais aos trabalhos comentados aqui, ressalto a percepção

de que as biotecnologias remetem à questão da fronteira da humanidade, mas que

devem ser explorados frente aos quadros cosmológicos da modernidade. Associado a

isso temos a constatação de que estes permanecem muito bem assentados, ainda que

mobilizados de modo distinto. Tanto em relação à Lei de Biossegurança, como nos

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demais casos referidos, a ciência não perde nada do seu vigor, assim como a separação

entre cultura e natureza. Seria o caso de dizer que, se as inovações técnicas causam

reordenações importantes, elas estão longe de reconfigurar as bases da cosmologia

moderna. Ao menos no plano formal (político, legal ou médico), as noções

fundamentais de Indivíduo, Mercado, Natureza permanecem operando e organizando

(ou estimulando) o funcionamento das novas técnicas. O que as etnografias mostram

são ajustes “pragmáticos”, que evidenciam plasticidades significativas, mas não uma

reordenação. Portanto, um dos aspectos mais interessantes evidenciados pelos estudos

sobre os dilemas biotecnológicos é o vigor e a agilidade com que suas categorias se

rearranjam (mercado, natureza, indivíduo) para dar conta dos fenômenos de fronteira.

Ciência

É um traço característico da Antropologia feita no Brasil o estudo da própria

configuração das Ciências Sociais enquanto especialidades científico-acadêmicas.

Como observou Peirano, há um conjunto de trabalhos nessa direção, que apresentam “o

propósito mais amplo de compreender a ciência como manifestação da modernidade”

(Peirano, 1999, p. 244). Tal é seu espaço na Antropologia feita no Brasil, que estes

trabalhos compõem uma das quatro denominações usadas pela autora para mapear a

produção nacional. Deve-se acrescentar que esse tema dá mostras de atualidade, a

exemplo do estudo de Garcia Jr. (2009) sobre a configuração dos programas de pós-

graduação e as diferentes correntes de pensamento. Tem igualmente se diversificado,

pois também a prática de antropólogos vinculados diretamente ao Estado e às ONG, que

tem se expandido nas últimas décadas (tanto como peritos na esfera jurídica, quanto

como técnicos na esfera administrativa), é alvo de uma auto-reflexão que se afigura

cada vez mais intensa e urgente (Silva et. at., 1994; Leite, 2005; Silva, 2008 e Leitão

2009). O eixo dessa reflexão, entretanto, volta-se predominantemente para a análise do

papel desempenhado pelo antropólogo, e para as questões daí derivadas – políticas,

éticas, jurídicas e epistemológicas.

Se essa abordagem antropológica em torno da prática científica, quando dirigida

à própria Antropologia, parece comum no cenário brasileiro, seu avanço sobre outros

empreendimentos científico-acadêmicos é menos evidente, a ponto de exigir, se não um

esforço explicativo, ao menos um gesto de afirmação (cf. Viveiros de Castro, 2003:

Marras e Sá, 2005; Monteiro, 2006 e 2010 e Branquinho e Santos, 2007). Uma das

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razões é que estes trabalhos têm origem mais recente, que recua no máximo à última

década do século passado.

Pode-se detectar nessa produção duas orientações, ou dois momentos distintos.

Sem falar das publicações de escopo mais abrangente, tratando de modo geral da

ciência e suas crises (Ribeiro, 1999; El Far e Hikiji, 1998), há pesquisas sobre

manifestações particulares da atividade científica, que mantém em primeiro plano o

interesse por investigar suas relações com os aspectos constitutivos da modernidade.

Um estudo fundamental no movimento de posicionar a dinâmica interna à

ciência – a fala e o fazer dos cientistas – no centro da reflexão antropológica é

empreendido por Aranha Filho (1990, 2002), enfocando a busca por inteligência

extraterrestre na astronomia moderna. Mais especificamente, a mensagem enviada a

bordo da espaçonave não tripulada Voyager, destinada a vagar indefinidamente pelo

espaço sideral. A própria escolha do material empírico sobre o qual se desenvolve o

estudo é sintomática. O autor analisa publicações de cientistas como Carl Sagan,

referentes ao projeto de busca por contato com alguma inteligência extraterrestre,

demarcando um contraste significativo com os estudos sobre o fenômeno Ovni (Objetos

Voadores Não Identificados) e a ficção científica. Esses também foram tema de

antropólogos brasileiros, considerados enquanto mitos modernos (Ferreira Neto, 1984;

Leirner, 1992 e Lourenço, 2000),6 mas Aranha Filho opta por visar a própria atividade

científica. Desse modo, o autor diferencia-se da proposta de abordar aquilo que está em

torno da ciência – seu contexto ou desdobramentos – para explorar justamente o cerne

de sua atividade, os parâmetros que regem sua racionalidade e seu fazer. Ele delineia

então os vínculos da mensagem da Voyager com questões fundamentais para a

modernidade ocidental, como a relação entre humanidade, civilização e evolução

técnica.

Para Aranha Filho a mensagem tem uma função relativa ao próprio objetivo da

espaçonave, já que ela “desempenha uma função simbólica complementar, procurando

compensar o caráter de investida unilateral da sonda” (1990, p. 189). Ou seja,

contrabalançando o desígnio principal da nave, de exploração, o disco doa informações,

saúda e revela algo sobre nós – embaixador amistoso ao invés de espião, curiosidade

6 O professor Martin A. Ibañez-Novion propunha outro modo de aproximação à ficção científica. Nos

cursos que ministrou sobre o tema na UnB na virada dos anos 2000, pouco antes de falecer, ele

argumentava que as vertentes cinematográfica e literária da ficção científica são dotadas de um potencial

heurístico intrínseco – são uma espécie de vanguarda do pensamento sobre a ciência e a técnica. De modo

que caberia ao antropólogo estabelecer uma aproximação e notar seu caráter ativo no pensar sobre a

contemporaneidade e o futuro, mais do que tomá-las apenas na qualidade de objetos de análise.

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científica e não apenas territorialidade militar. Mas nem por isso o autor deixa de

ressaltar as “funções terrestres” da mensagem, já que ela se constitui em convite ao

intercâmbio sideral com base no auto-retrato genealógico da humanidade, na

perspectiva da civilização ocidental. Ao mostrar os contrapontos (e as semelhanças) do

projeto de busca por inteligência extraterrestre em relação à ufologia, o autor caracteriza

o extraterrestre como um Outro para certa manifestação do pensamento ocidental, que

no período pós-colonial se considera em uma solidão cósmica: “seja pela violência

rubra do extermínio ou pela branca da aculturação, o resultado é o mesmo: a

globalização da cultura ocidental fez-se ao preço da extinção do outro, ou melhor, do

exterior” (1990, p. 208). Daí a premência da instauração (cósmica e científica) de uma

alteridade com a qual transacionar. Portanto, este trabalho tem o mérito de voltar o alvo

da reflexão antropológica para processos e lógicas constitutivos da ciência enquanto tal,

e não apenas a seu contexto, mostrando como a ciência opera através das categorias

fundantes da modernidade.

Em movimento semelhante a esse, mas já refletindo a difusão na Antropologia

local das propostas teórico-metodológicas oriundas dos estudos sociais da ciência, Sá

(2002 e 2004) ressalta as associações entre argumentos de matizes científico e religioso

nos debates sobre o Projeto Genoma Humano. O trabalho também não se detém na ideia

de que a ciência é uma forma de religião ou um mito moderno, assim como não se

limita a descrever um debate entre as duas perspectivas frente a uma noção de

humanidade una, apelando às noções de natureza e espírito. Sá ressalta justamente que

essa fronteira não é tão bem definida, o que fica demonstrado pelo fato de haver

biólogos lançando mão de argumentos oriundos do contexto religioso para dimensionar

e justificar suas descobertas, ao passo que religiosos buscam subsídios elaborados nas

pesquisas científicas para sustentar suas formulações.

A ideia moderna de distinção radical entre ciência e religião (ou verdade e

crença) é, em grande medida vinculada à dicotomia entre natureza e cultura, que

aparece como uma espécie de nódulo gerador das principais questões antropológicas

nos estudos sobre a ciência. É o que evidencia, por exemplo, o estudo de Marras (2002)

sobre o modo como a indústria farmacêutica busca subtrair da experiência laboratorial

toda manifestação subjetiva, como o “efeito placebo” ou a “sugestão”, na elaboração de

um medicamento. Ocorre que, malgrado os recursos investidos, isso não se realiza – o

medicamento permanece sempre um híbrido de molécula biologicamente ativa e efeitos

de “sugestão”. Inspirado no argumento de Pignarre (1999), Marras afirma que, dada a

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impossibilidade de compreender e circunscrever o efeito placebo, o medicamento

assenta-se em uma verdade estatística; disso resulta que, apesar de tudo, sua eficácia

comporta os aspectos qualificados como subjetivos ou culturais.

Esses estudos mostram que a própria prática científica não pode ser distinguida

de modo absoluto da política, da religião, dos fatores subjetivos. Porém, Marras aponta

que a matriz dualista – natureza/cultura – revela-se frágil sobretudo “quando enfim

entramos empiricamente num laboratório e acompanhamos pari passu a feitura do fato

[...] desde a nascente da ciência dura até, enfim, surpreendermos a construção do dado”

(2002, p. 128). É a partir deste tipo de convicção que se instaura o que podemos chamar

de outra fase da abordagem da ciência entre antropólogos brasileiros, associando

Antropologia da ciência e etnografia de laboratório. Busca-se assim verificar o

surgimento dos fatos científicos a partir do cotidiano da ciência, implementando

alternativas interpretativas à visão genérica da Ciência e também à análise dos fatos já

consumados. Nesse sentido, a influência de autores como Latour (1994 e 1997) é

notável, tanto nas proposições metodológicas quanto na crítica aos desdobramentos

analíticos do dualismo natureza/cultura – seja o realismo-naturalismo ou o

construtivismo-sociologismo (Marras e Sá, 2005).

Marco dessa nova etapa dos estudos sobre ciência é o estudo desenvolvido por

Sá (2006) entre primatólogos no interior de Minas Gerais, pois lança mão da observação

participante para estudar a atividade de pesquisa. Envolvendo-se no cotidiano da relação

entre cientistas e primatas, Sá vai além de frisar os vínculos entre a prática científica e

os traços marcantes da modernidade. Ao deparar-se com a “personificação” através da

qual os cientistas tratam os macacos, o autor traça um quadro interpretativo elaborado,

buscando associar a visão objetificante (ou purificante, no jargão dos estudos sociais da

ciência) própria à empresa científica e a construção intersubjetiva do pesquisador e do

alvo da pesquisa. Atento aos discursos oficiais e oficiosos, Sá não faz uma inversão

simplista, que afirmaria serem os primatólogos animistas por definição: “trata-se (...) de

um tipo de curto-circuito animista dentro de um sistema bem mais amplo que funciona

segundo a lógica naturalista” (2006, p. 170). Ademais, não cabe falar em projeção de

características humanas sobre os macacos, já que não somente os primatas se

constituem na relação com o cientista, mas o inverso também.

Uma das conclusões de cunho mais abrangente, portanto, é que a distribuição

dos traços de subjetividade e de objetividade na atividade dos cientistas não é dada, mas

merece ser etnografada. Entre primatólogos e primatas a prática científica caracteriza-se

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como relação intersubjetiva: a nomeação dos macacos, por exemplo, tem a dupla função

de batizar os filhotes não humanos e iniciar os neófitos humanos enquanto primatólogos

(Sá, 2006, p. 135). Sá adiciona ainda outro plano a esta análise, ligado ao fato de que o

antropólogo é também cientista: a semelhança dos ofícios acarreta alguns aspectos

particulares à aproximação etnográfica. Daí resultam conclusões epistemológicas

importantes sobre a especificidade da Antropologia da ciência, levando-o a propor uma

“Antropologia da aproximação”, em que entram em relação pelo menos três planos de

objetivação e subjetivação: o “objeto”, o cientista e o antropólogo.

É preciso ressaltar que vem crescendo o número de etnografias de processos

científicos e um breve panorama aponta a diversificação dos temas: obtenção e análise

de informações bioatmosféricas da Amazônia (Walford, 2008), relação entre cetólogos

e baleias (Calheiros, 2009), noção de risco entre epidemiologistas (Neves, 2008),

vinculações entre cobaias de laboratório e a teoria evolutiva de Darwin (Marras, 2009),

processos de classificação botânica de cientistas e de populações indígenas (Oliveira,

2009), etnografia histórica sobre mudanças em museus de História natural (Aranha

Filho, 2009) e sobre instrumentos de antropometria no Museu Nacional (Sá e Santos,

2008), controvérsias acerca de marcadores biológicos de diferenças raciais (González,

2009), trocas sanguíneas na sociedade ocidental (Jesus, 2009), análise da construção da

pessoa em laboratório de neurofisiologia (Carvalho, 2010).

O estado da produção, de certo modo ainda inicial nesse campo, não deve

enganar quanto ao ritmo acelerado de seu desenvolvimento, de que é prova o

surgimento de diferentes instâncias para o diálogo acadêmico. Mas o principal desafio

dessa tendência de estudos parece desdobrar de modo enfático uma questão que Peirano

(1995) assinala para a Antropologia de modo geral, referente ao papel e à importância

que assume a etnografia. Sem dúvida, o principal aporte da abordagem antropológica

aos estudos sociais da ciência reside justamente no valor que confere à dimensão

empírica e no seu modo particular de abordá-la (cf. também Peirano 2009; Sá, 2006).

Para ressaltar isso, parece necessário evitar a todo custo a circularidade a que podem

tender os quadros conceituais próprios de uma proposta que busca se afirmar. Seria o

caso então de reverberar aqui a expectativa de vários pesquisadores, de que a ênfase na

etnografia da ciência ande de par com a heterogeneidade e a reelaboração dos enfoques

teóricos.

Retorna-se, assim, ao eixo de articulação entre as diferentes perspectivas que

derivam para a configuração de uma Antropologia da ciência e da técnica no Brasil.

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Afinal, se esse campo é conformado a partir de um diálogo entre tradições de pesquisa

de origens tão distintas quanto a cultura material, a biotecnologia e a etnografia da

ciência, o sentido dessa interlocução reside principalmente no trânsito e no manejo

criativo de propostas teóricas que promovam abordagens antropológicas voltadas aos

não humanos.

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