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Marido Por Encomenda (Sin and Sensibility) Suzanne Enoch 1º livro da série – Família Griffin Londres, 1811 A espera de um marido sedutor.... Eleanor Griffin sabe que um dia terá de se casar, mas até que esse dia chegue, ela quer flertar e namorar, como qualquer outra jovem de sua idade. Entretanto, temeroso de que a irmã se envolva em um escândalo, o duque de Melbourne pede a seu melhor amigo, Valentine, que fique de olho na espevitada Eleanor.... Não poderia existi r, em toda Londres, um acompanhante menos qual ifi cado do que Val ent ine Corbet t, um home m tão libert ino e devasso quanto bonito e atraente. Um conquistador incorrigível...e por quem Eleanor é apaixonada desde desde menina! Mas quem diria que Valentine seria capaz de se comportar de maneira tão honrosa e respeitável, como um perfeito cavalheiro, apesar do brilho de desejo que ilumina seus olhos sedutores? E Eleonor precisa tomar cuidado, pois ela prometeu se casar imediatamente com o homem escolhido por seus irmãos, ao menor sinal de escândalo... Digitalização: Cris Andrade Revisão: Maria Rocha

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Marido Por Encomenda(Sin and Sensibility)

Suzanne Enoch

1º livro da série – Família GriffinLondres, 1811A espera de um marido sedutor....Eleanor Griffin sabe que um dia terá de se casar, mas até que esse dia

chegue, ela quer flertar e namorar, como qualquer outra jovem de sua idade.Entretanto, temeroso de que a irmã se envolva em um escândalo, o

duque de Melbourne pede a seu melhor amigo, Valentine, que fique de olhona espevitada Eleanor....

Não poderia existir, em toda Londres, um acompanhante menosqualificado do que Valentine Corbett, um homem tão libertino e devassoquanto bonito e atraente. Um conquistador incorrigível...e por quem Eleanor éapaixonada desde desde menina! Mas quem diria que Valentine seria capazde se comportar de maneira tão honrosa e respeitável, como um perfeitocavalheiro, apesar do brilho de desejo que ilumina seus olhos sedutores?

E Eleonor precisa tomar cuidado, pois ela prometeu se casarimediatamente com o homem escolhido por seus irmãos, ao menor sinal deescândalo...

Digitalização: Cris AndradeRevisão: Maria Rocha

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Copyright © 2005 by Suzanne EnochOriginalmente publicado em 2005 pela HarperCollins Publishers

PUBLICADO SOB ACORDO COMHARPERCOLLINS PUBLISHERS

NY, NY - USA

Todos os direitos reservados.Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança

com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.

Proibida a reprodução, total ou parcial, desta publicação, sejaqual for o meio, eletrônico ou mecânico, sem a permissão

expressa da Editora Nova Cultural Ltda.

EDITORA Leonice PomponioASSISTENTES EDITORIAISPatrícia Chaves Silvia Moreira

EDIÇÃO/TEXTOTradução: Elizabeth Arantes Bueno

Revisão: Giacomo Leone

ARTE Mônica MaldonadoILUSTRAÇÃO

Hankins + Tegenborg, Ltd.

MARKETING/COMERCIALAndrea Riccelli

PRODUÇÃO GRÁFICASônia Sassi

PAGINAÇÃODany Editora Ltda.

© 2008 Editora Nova Cultural Ltda.Rua Paes Leme, 524 - 10s andar - CEP 05424-010 - São Paulo – SP

www.novacultural.com.br

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Capítulo I

Valentine Corbett, o marquês de Deverill, tomou um gole de uísque.

— Vamos ter encrenca, Lydia — ele murmurou.— Não por parte de meu marido, suponho. — Lady Franch levantou a

cabeça, interrompendo o que fazia naquele momento.— Não, seu marido continua ocupado com Geneviève DuMer.— Safado. — Lady Franch abaixou a cabeça novamente. Depois, olhou,

curiosa, para o marquês.— A que está se referindo, Valentine?— John Priestley está colocando um bracelete de pérolas no pulso de

Eleanor Griffin. — O marquês afastou mais a cortina, por onde podia ver o queacontecia no salão. — Os dois estão parados na frente de todos, incluindo os trêsirmãos de lady Griffin. Duvido muito que o duque de Melbourne aprove que a irmã aceite presentes de um cavalheiro em público, principalmente de um idiota quenão pode nem ser considerado um pretendente à mão de Eleanor.

— Está mais interessado no que acontece no salão do que em mim? — ladyFranch reclamou. — Não mais o satisfaço, Valentine?

O marquês suspirou. Mesmo excitado, nunca perdia o controle dasemoções. Nem mesmo fechava os olhos quando uma mulher o estimulavasexualmente, por mais que tal atitude lhe desse prazer.

Lydia se recompôs e aceitou o copo de uísque que o amante estendia.Valentine voltou a atenção ao que acontecia no salão.— Acredito que seu marido possa estar procurando a esposa.— Oh, sim, mas, já que ele não enxerga bem, não precisamos nos preocupar.

Oh, querido, estarei na festa dos Beckwith na quinta-feira. — Lady Franchajeitou o vestido. — E eles têm um jardim tropical adorável.

— E com muito pouca iluminação, pelo que ouvi dizer. — Dando um passopara o lado, Valentine permitiu que lady Franch retornasse ao salão primeiro.

Encostou-se na parede por um momento, ainda observando o que atraírasua atenção havia pouco. Eleanor Griffin era uma tola. Não apenas continuava como bracelete em seu pulso, como parecia encorajar o rapaz, rindo com o que eledizia. Valentine deu uma olhada para o lado, localizando o irmão mais velho deEleanor. Sebastian, o duque de Melbourne, continuava a conversar com lordeTomlin, mas Deverill o conhecia o suficiente para saber que não estava satisfeito.Talvez a noite ainda oferecesse alguns momentos interessantes.

— Ele é um louco!Valentine reconheceu a voz imediatamente, mesmo sem ver quem falara.

— Presumo que esteja se referindo a Priestley, Shay.

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— Ele já foi alertado. — De pé, encostado à parede, lorde CharlemagneGriffin olhava a irmã e John Priestley dançando.

— Então deve dar ao rapaz um ponto por merecimento. Afinal, se foialertado e ainda assim dança com sua irmã, é corajoso — Valentine pegou um copo

de uísque que o garçom lhe oferecia.— Vou premiá-lo pela imbecilidade.— É apenas um bracelete, Shay. O acontecimento não merecerá mais do

que uma notinha nos jornais de mexericos.— Um bracelete no pulso de minha irmã — Charlemagne acrescentou, ácido.

— Priestley deveria saber quando desistir. Vive rodeando a nossa casa eMelbourne já está irritado com esse caça-dotes. Eleanor sabe muito bem disso.

Valentine observou o casal dançando. Com os cabelos cor de mel presos emum arranjo artístico no topo da cabeça e um elegante traje verde, a graciosa

Eleanor Griffin parecia perfeitamente calma. Claro, os irmãos não a matariam. JáPriestley poderia não ter tanta sorte.— Talvez sua irmã esteja se rebelando contra vocês — Valentine

conjeturou.— Se ela estiver fazendo isso, essa rebeldia vai ser bem curta.Rindo, o marquês terminou de tomar o seu uísque.— Complicações. E por isso que sou feliz por não ter irmãs. Eu o verei

amanhã, Shay?Charlemagne fez um sinal afirmativo.

— Melbourne me disse que o convidou. Dessa vez vou ganhar de você namesa de jogo.

Com uma última olhada em direção a Eleanor e Priestley, Valentine seguiupara a porta de saída. Ele podia ser amigo dos irmãos Griffin, mas não lheinteressava se envolver nos problemas domésticos. Assim, queria estar em outrolugar, quando o clima esquentasse naquele salão. Especialmente depois de terouvido rumores de que começava naquele minuto um jogo muito instigante noSociety Club.

Enquanto saía, deu uma olhada em direção a um grupo de mocinhas que oseguiam com os olhos. Era algo com que ele estava acostumado, então sorriugalantemente, memorizando-lhes os rostos para futura referência. Podia aconte-cer de se aborrecer jogando cartas.

Eleanor tinha começado a notar um padrão em sua vida. Sempre que sedivertia em uma reunião social, na manhã seguinte enfrentava sermões por partede um, talvez de dois, e ocasionalmente dos três irmãos. Ouvia então críticas aoseu comportamento da noite anterior, e recebia ordens de que não o repetisse.Como se ela já não soubesse de todas as conseqüências, caso ousasse quebraralguma regra social.

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— Não vou perder o meu tempo falando com você, se não prestar atençãoao que digo — disse o irmão mais velho, batendo nervosamente os dedos nasuperfície de sua escrivaninha.

Ela supunha que essa autoridade era um comportamento esperado em

alguém como Sebastian Griffin. Ele tinha sido elevado à posição de duque deMelbourne e a patriarca da família com a idade de dezessete anos. E os quinzeanos que se seguiram haviam apenas servido para torná-lo mais arrogante eautoritário.

— Está bem. Estarei na sala de música — Eleanor falou sem se perturbar.— O que precisa fazer é prestar atenção ao que estou dizendo. Se

quisesse falar apenas para ouvir minha voz, eu faria um discurso no Parlamento.— Já lhe disseram que é insuportável, Sebastian?— Alguém tem de demonstrar um pouco de dignidade e moderação nesta

família. Você não parece capaz de fazê-lo.Eleanor respirou fundo, procurando não perder a paciência.— Ainda não se cansou de se proclamar o todo-poderoso duque de

Melbourne? A sociedade já nos observa com medo e desespero.— Não acharia isso tão cansativo se estivesse vendo nossa família de fora.

— Sebastian recomeçou a tamborilar os dedos sobre a escrivaninha. — Oshomens não estariam tentando lhe dar jóias se fosse a irmã do dono de algumalojinha.

— A jóia, Sebastian, não tem a menor importância. Meus três irmãos

parecem sentir um prazer enorme em afastar de mim todos os homens, antesmesmo que possam me dizer olá.

— Apenas afastamos os homens errados. — Ele se inclinou, aproximando-seda irmã. — E, hoje em dia, jóia é importante.

— Não, apenas...— Muito bem. Vamos nos restringir a falar somente de seu

comportamento. Apesar de que estou ciente que age dessa forma só para nosaborrecer.

— Pelo amor de Deus, Sebastian, não tem nem idéia...— Talvez queira simplesmente me criar problemas. Sejam quais forem as

suas razões, Eleanor, vamos analisar o que fez ontem. Tomou consciência de queaceitou uma jóia de um quase desconhecido? Em um baile?

— Mas era uma pulseirinha...— Não vem ao caso. Vai me prometer que não aceitará mais nenhum

presente de qualquer cavalheiro enquanto estiver em um lugar público?Principalmente de um caça-dotes que tenta parecer não estar atrás do dinheirodos Griffin?

Algumas vezes Eleanor tinha vontade de berrar, mesmo quando sabia que oduque estava certo. O que a irritava era que nenhum dos irmãos sequer lhe

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perguntava por que ela agia assim. Não se importavam com o que a irmã queria oupensava.

Sabia que havia se comportado mal na noite anterior, mas nem por issoSebastian precisava tratá-la como se fosse uma criancinha peralta.

— Está bem, Sebastian. Vou aceitar apenas presentes de cavalheiros,caça-dotes ou não, em lugares privados.A expressão no rosto do duque não se modificou, apenas seu olhar ficou

mais frio. Ele sabia bem como controlar as emoções, apesar de que, naquelemomento, estava praticamente no limite de sua paciência. Mais uma vez.

Devagar, levantou-se, enfrentando o olhar atrevido da irmã.— O nome e a reputação dos Griffin vêm permanecendo sem mácula alguma

por oitocentos anos. Esse fato não se alterará enquanto eu estiver no controle dafamília.

— Sei disso, Sebastian.— Se não estiver disposta a passar a estação das festas em Londres, possoconseguir com que Charlemagne a escolte de volta a Melbourne Park.

Eleanor levantou-se, indignada. Pelo amor de Deus, a temporada mal tinhacomeçado, e Melbourne ficava longe de qualquer diversão.

— Shay não faria isso. Sebastian arqueou a sobrancelha.— Oh, sim, faria. Eu não escolheria continuar com esse joguinho se fosse

você. Não vai ter chance de vencer.

Com um gemido, ela tirou o bracelete de pérolas do bolso. Particularmentenem gostava de pérolas, mas tinha se sentido bem quando o visconde Priestley lhecolocara a jóia no pulso. Admirava a coragem dele, fossem quais fossem os seusmotivos.

— Está bem, Sebastian. Devolva a jóia então. E que os céus não permitamque algum cavalheiro goste de mim o suficiente para me dar um presente. —Jogou o bracelete em cima da escrivaninha.

Pelo menos ela havia tido chance de dar a última palavra. Com os lábioscerrados, caminhou para a porta e com desdém a abriu, pronta a deixar o irmãomais irritado do que no começo da conversa.

— Um verdadeiro cavalheiro não se arriscaria a provocar um escândalo,dando-lhe um presente no meio de um salão superlotado. Ele me procuraria epediria permissão para se encontrar com você.

Eleanor ouviu o barulho do bracelete ao ser jogado em uma gaveta.— Lorde Priestley — Sebastian continuou —, não vai receber essa

permissão.Eleanor respirou bem fundo. Era difícil ser uma Griffin.— Acho que vou entrar para um convento. Assim nenhum cavalheiro se

aproximará de mim.

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— Não me provoque, Eleanor.Ah, ele que esperasse pelo que tinha em mente...Um dia conseguiria dobrar aquela arrogância do irmão. O que mais a

aborrecia quando Sebastian a tratava como criança era que a fazia se sentir

como uma criança. Claro que aceitar presentes em público era impróprio. Na noiteanterior, contudo, quisera desafiar os tiranos que vinham controlando a sua vida.Aparentemente os irmãos podiam agir dessa forma. E afastar todos os

pretendentes que achassem inaceitáveis. Mas, como já tinha passado por seuaniversário de vinte e um anos, Eleanor começava a se preocupar com o quepoderia acontecer, se eles decidissem lhe encontrar um noivo, um queconsiderassem digno de se casar com uma Griffin. Desconfiava que Melbourne játivesse uma lista com os nomes dos candidatos a se tornarem seu cunhado. O quemenos queria, porém, era se casar com alguém que não ousasse desafiar os irmãos

Griffin.Zachary e Charlemagne, Shay por apelido, estavam no andar superior jogando bilhar. Enquanto isso, ela estava aborrecida porque eles podiam estar sedivertindo, enquanto era obrigada a ouvir um sermão e se preocupar com o quepoderiam estar planejando para seu futuro.

Tais chateações apenas fortaleciam a sua rebeldia, Eleanor reconheceu.Sentia-se naquele momento como o Vesúvio, prestes a explodir. Então, antes queisso acontecesse, endireitou o traje e subiu as escadas para o segundo andar.

Ao ver aberta a porta da sala de jogos, ela parou. Lá dentro, os irmãos

conversavam, a voz de ambos se misturando com uma terceira, esta em tom maisbaixo e sarcástico. Por um momento, ficou escutando, saboreando a forma como oterceiro homem falava.

— Vocês são uns covardes — Eleanor se dirigiu aos dois irmãos, entrandointempestivamente na sala.

Shay levantou os olhos da mesa de bilhar, errando a tacada.— Maldição! Você me fez perder cinco libras.— Ótimo. Pensei que era seu dever me proteger, Shay.— Não, essa obrigação é de Sebastian.— Além do mais — Zachary tomou a palavra —, Melbourne está certo. Por

acaso quer dar a impressão a todos de que a irmã do duque pode ser compradapor um mísero bracelete de pérolas?

— Lorde Priestley não estava me comprando! — Eleanor exclamou,indignada. — Aparentemente ele tentou me dar o bracelete em um lugar discreto,e em mais de uma ocasião. Mas os guardiões da honra e das finanças da famíliaGriffin sempre o impediam.

Zachary, o mais novo dos três irmãos, deu de ombros.— Então ele deveria ter agido como um cavalheiro e desistido.

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Eleanor cruzou os braços, voltando a atenção para o cavalheiro alto e decabelos negros que estava se servindo de mais um uísque.

— O que acha disso tudo, lorde Deverill?— Na verdade — Valentine falou —, os seus irmãos estão completamente

certos.— O quê?— Viu? Deve escutar a...— Fique quieto, Zachary! — ela exclamou, ignorando o irmão em favor do

belo homem a quem se dirigira havia pouco.Eleanor podia jurar que o marquês seria a última pessoa que defenderia as

regras dos bons costumes.— Explique-se melhor, Deverill. Valentine inclinou a cabeça.— Por menos que eu queira dar crédito aos irmãos Griffin, reconheço que é

totalmente deselegante presentear uma dama em público. Tal atitude pode vir acustar a qualquer um a tranqüilidade e até o pescoço.—Não estou falando de relações libidinosas com mulheres casadas ou

cantoras de ópera, Deverill — ela replicou. — Refiro-me a um verdadeirocavalheiro com interesse genuíno por uma dama e que queira demonstrar o seusentimento honesto, dando-lhe um pequeno presente.

Um leve sorriso surgiu na boca de Valentine, mas desapareceurapidamente.

— Então devia ter sido mais específica. Não sei nada sobre honestidade.

— Viram?! — Eleanor exclamou, balançando os braços em direção aosirmãos. — Nem mesmo Deverill sabe do que estão falando e...

— Por outro lado — Corbett a interrompeu —, no caso de um interessehonesto, Priestley deveria ter dado não apenas um bracelete, mas um colar ebrincos. Então teríamos certeza de que ele não pegou uma bugiganga qualquer dacaixa de jóias da mãe, considerando as finanças precárias dos Priestley, caraEleanor.

Enquanto Shay e Zachary riam, ela enfrentou os enganosos olhos verdes,que a encaravam. Algumas mães de jovens ladies costumavam dizer que, se o DomJuan pudesse escolher seu semblante mais sedutor, certamente pediria-o em-prestado a Valentine Corbett. Felizmente, Eleanor conhecia como ele podia sercharmoso. Claro que chegava a ser um desafio resistir ao seu charme.

— Não quero tê-lo mais ao meu lado, Deverill.— Tampouco eu quero continuar. Mas estou surpreso com o fato de você

perder seu precioso tempo com um sujeito medíocre como Priestley. Não vá medizer que estava distraída e ele surgiu do nada e colocou a jóia em seu pulso?

— Mas esse não é o ponto, Deverill — Zachary interveio.— Ela não podia ter aceitado o bracelete de modo algum.

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— Oh, bravas palavras ditas por um irmão que deveria ter alertadoPriestley a não ousar se aproximar de Eleanor — o marquês sentenciou —, antesque o infeliz pudesse tentá-la com uma bijuteria bonita. Não estou tomandolados, porém, parece-me que todos erraram.

— Não podíamos esperar que o visconde... — Shay começou a protestar.— Continua a errar — Deverill o interrompeu, inclinando-se à mesa debilhar para fazer uma jogada. — Por exemplo, se estavam preocupados com ainocência de Eleanor, por que me deixam entrar nesta casa?

— Era exatamente o que me perguntava. — Da porta, Sebastian observavaos irmãos e o amigo conversando.

Eleanor estava mais irritada do que quando entrara na sala de jogos.No começo tinha julgado que Deverill ficaria a seu lado, mas declarar que

os irmãos eram responsáveis pelas ações da jovem não ajudava em nada a luta

pela independência que pretendia travar. Na verdade, era até mais insultante doque os argumentos dos irmãos. Ela poderia ter declinado o presente de Priestleyse tivesse resolvido fazê-lo afinal de contas.

Parecia que Deverill não queria se posicionar do lado de ninguém e nãotinha qualquer interesse no assunto. Entrara na discussão simplesmente porqueadorava debater. O que significava que era muito bom nisso, assim como em tudoo que fazia.

— Fui convidado a entrar nesta casa — o marquês respondeu a Sebastian,sem se perturbar.

— Oh, sim, foi — Sebastian admitiu o fato. — Poderia me acompanhar até oestábulo, Valentine?

Deverill entregou o taco a Charlemagne.— Ainda vai querer a minha opinião sobre a sua nova montaria, Sebastian?

— Corbett perguntou.O duque fez um sinal afirmativo e deu um passo ao lado para deixar

Valentine passar.— Na verdade pensei que você pudesse querer tirá-lo de minhas mãos. O

animal tentou morder Peep ontem.Eleanor levantou-se imediatamente.— Mas o cavalo é meu, e Peep já me disse que estava provocando o animal

com uma maçã.Valentine parou à porta e olhou para Sebastian.— Eu não deixaria uma dama sem sua montaria — o marquês falou, com um

sorriso nos lábios. — Não sem lhe oferecer um substituto à altura nesse caso.— Valentine! — o duque de Melbourne protestou.— Não vou tomar parte da discussão de vocês. Combinei de almoçar com

L... com uma dama muito agradável e...— Lydia Franch talvez? — Shay indagou, revirando os olhos.

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— Ou Laurene Manchester? — foi a vez de Zachary interrogar.— Não vou revelar o nome da dama naturalmente.Oh, isso era demais, Eleanor pensou. Agora Deverill se exibia falando das

amantes.

— Desculpem-me, mas acredito que estávamos discutindo sobre o meucavalo. Pergunte a Peep se não acredita em mim, Sebastian. Ela prometeu sermais cautelosa.

O duque olhou para a irmã, como se estivesse observando uma criançaimpertinente.

— Eleanor — Sebastian disse com uma voz fria, mas paciente —, minhafilha está com seis anos de idade. Confio mais na opinião dela do que na sua.

— Naturalmente. Sempre considera a sua verdade superior à dos outros,Sebastian. E não vai me tirar o cavalo.

— Não, não vou. Quem vai ficar com ele é Deverill.— Mas ainda nem vi o animal — falou o marquês. — Apesar de que fico aimaginar por que você pensa que eu desejaria um cavalo que é montaria de umamulher.

— Não se trata de um animal manso, Deverill. Eleanor o vem treinando aaceitar uma sela.

— Tenho feito isso. — Ela colocou as mãos nos quadris em um gesto dedesafio. — Não se atreva a pegar o meu Hélios, Valentine Corbett.

— Já foi o suficiente, Eleanor! — Sebastian perdeu a paciência.

— Concordo plenamente — Deverill opinou. Inclinando a cabeça em direçãoà dama, ele seguiu para a porta. — Se me dão licença, talvez ainda consiga salvaro meu compromisso de almoço.

Enquanto o marquês descia as escadas, os irmãos fuzilaram-na com o olhar.— Podem fazer a cara feia que quiserem. — Enfrentando-os, ela virou-se

de costas. — Podem pegar o meu bracelete e até tentar vender o meu cavalo, masisso não faz com que esse comportamento tirânico de vocês se justifique. — Elaempinou o nariz e saiu da sala.

— Aonde pensa que vai? — Sebastian perguntou com voz controlada.— Vou fazer compras — Eleanor respondeu, entrando em seu quarto.Suspirou, desanimada. Declarar que ia fazer compras não era prova de

independência alguma. Queria fazer algo ousado, algo que demonstrasse que erauma mulher livre. Por que apenas os homens podiam desfrutar da liberdade?

Deu uma olhada pela janela do aposento. Lá embaixo, Valentine pegava asrédeas de seu cavalo e subia na sela. Oh, ela invejava o marquês de Deverill,capaz de fazer o que queria e com qualquer um. Ninguém lhe dizia o que eracorreto ou não, nem o ameaçava de lhe tirar a mesada ou coisa do tipo. Ele não seimportava absolutamente com que os outros pudessem pensar do seucomportamento. Fazia o que lhe passava na cabeça.

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Respirando fundo, Eleanor saiu à procura de um par de luvas e em seguidaas calçou. Hum... Ela se importava com o nome e a reputação dos Griffin, apesarde Sebastian achar o contrário. Não seria capaz de jogar, nem de fumar, nem deandar com rapazes, mas os seus irmãos não tinham dado ainda a última palavra.

Eventualmente o fariam, quando estivessem cansados de suas rebeliões e aforçassem a se casar. Ela não tinha ilusões a respeito. Aconteceria com certeza,e Sebastian tinha total controle sobre as finanças, de forma que não seria capazde desobedecer às ordens impostas.

Mas ainda havia o momento presente. E naquela mesma noite Eleanorpoderia marcar um ponto a seu favor.

Quando Eleanor entrou na sala de jantar, Zachary, Shay e Melbourne jáestavam sentados, assim como Penélope, a filha de Sebastian. A presença damenina poderia representar um problema em seus planos, mas no momento em que

o duque percebesse a chance de haver uma discussão, provavelmente mandaria agarota sair da sala.— Boa noite — Eleanor cumprimentou, satisfeita que a voz soasse bastante

calma.Sem histeria, sem gritos, mas bastante calma e lógica. Era assim que ela

queria lidar com a situação.— Acredito que sua empregada a tenha avisado de que o jantar começaria

às sete esta noite — Sebastian se manifestou. — Preciso dispensar a criada pordeixar de lhe passar o recado?

Calma, Eleanor recomendou a si mesma.— Helen me informou do horário do jantar. A falta é minha, não dela.— Não duvido disso. Sente-se, por favor. Stanton, mande servir o jantar.O mordomo fez uma reverência.— Naturalmente, Vossa Graça.— Um momento, por favor, Stanton — Eleanor pediu, estendendo a

Sebastian uma folha de papel. Tinha sido difícil segurar a folha sem amassá-la, jáque as mãos tremiam levemente.

Melbourne olhou com surpresa para a irmã e aceitou o papel. .— O que temos aqui, Neil? — ele perguntou, usando o apelido com que

sempre chamavam a irmã.Ao ouvir a alcunha, ela mordeu os lábios. Sebastian fazia isso de propósito,

pois sabia que ela não gostava.— E uma declaração.— Uma declaração de quê? — Zachary perguntou, enquanto Eleanor se

dirigiu a uma das cadeiras mais afastadas da mesa.— Uma declaração de independência. De minha independência, no caso de

ser essa a sua próxima pergunta. — Ela viera preparada para uma batalha devontades e sutilezas, assim todos eles a enfrentariam com mais facilidade.

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Sebastian ainda não havia aberto a carta. Nem voltado um olhar para opapel, em vez disso encarou a irmã.

Eleanor enfrentou o olhar sem piscar. O assunto era sério, e quanto antesele entendesse isso, melhor.

— Stanton — Sebastian chamou sem levantar a voz —, por favor, escoltelady Penélope ao andar de cima e informe o chefe de cozinha de que o jantar vaiser atrasado.

O duque de Melbourne havia entendido quais eram as intenções da irmã.— Imediatamente, Vossa Graça — o mordomo respondeu.— Não quero ir — a menina protestou, mesmo quando Stanton começou a

puxar a cadeira para ajudá-la a descer.— Mandarei que seu jantar seja servido na sala de brinquedos, minha filha.O mordomo e a criança saíram da sala de jantar, e, depois de uma olhada

firme do duque, dois criados que estavam ali também deixaram o aposento.Eleanor olhou para Zachary e Shay. Talvez fosse melhor que os dois tambémsaíssem, mas Sebastian não deu ordem alguma. Com os braços sobre o colo, elaesperou, tentando ignorar o nervosismo. Apesar de ter tomado a decisão e nãoquerer voltar atrás, a situação representava um desafio. E suas chances devencer eram poucas.

Assim que a porta se fechou, Sebastian voltou a atenção para o que estavaescrito no papel. Depois de ler, levantou a cabeça e olhou para a irmã.

— E ridículo.

— Pois para mim é sério, eu asseguro.Shay tentou pegar a carta, mas o duque o impediu.— Lerei alto o conteúdo da missiva, assim economizarei mos tempo.Eu, Eleanor Elizabeth Griffin, estando bem física e mentalmente, declaro o

seguinte: Estou...— Parece um testamento — Zachary resmungou, dirigindo um olhar de

surpresa para a irmã. — Só espero que não seja profético.— Não me interrompa — Melbourne reclamou, continuando com a leitura.

Estou com idade legal para tomar minhas próprias decisões. Tenhoconhecimento das conseqüências se cometer erros, e sou capaz de assumir aresponsabilidade por minhas atitudes, certas ou erradas.

Assim, insisto em ter permissão de tomar minhas decisões sem qualquertipo de restrição ou interferência, o que inclui a escolha de um marido. Nãotolerarei mais atos de tirania, ou então serei forçada a revelar em público aforma como sou tratada nesta casa.

Dessa forma, absolvo meu irmão Sebastian, duque de Melbourne; lordeCharlemagne Griffin; e lorde Zachary Griffin de quaisquer responsabilidades

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pela minha vida daqui para a frente, e quero deixar claro que os outros membrosda família Griffin tampouco são responsáveis por minhas ações.

— Temos a assinatura de Eleanor, e a data, 23 de maio de 1811.Por um bom tempo, ninguém falou. Finalmente Sebastian encarou Eleanor.

— Tirania? — ele repetiu bem devagar.— Quando se recusa a escutar o meu lado da história, ou não leva em contaos meus sentimentos e desejos, ah, sim, isso é viver sob uma tirania. — Elasentiu-se como se todo o sangue lhe corasse o rosto, tamanha a raiva que estava.— Que outro nome daria a isso, Vossa Graça?

— Somos seus irmãos mais velhos — Shay lembrou-a. — E nossa obrigaçãoorientá-la e...

— Eu dificilmente classificaria como orientação o que vocês...— Quero crer que, além de sua liberdade, quer continuar recebendo a

mesada? — o duque interrompeu Eleanor, como se os dois fossem os únicos aestarem na sala.Ah, começaram as ameaças!— Não estou anunciando a separação de minha família. O que peço é que

minhas escolhas sejam independentes e livres de qualquer interferência porparte de vocês.

— Interferência — Shay repetiu.— Concordo com suas exigências — Sebastian anunciou. Charlemagne ficou

de boca aberta.

— O quê? Melbourne, não pode estar falando sério.— Sim, estou. — O duque enfiou a carta no bolso. — Sua liberdade lhe foi

concedida, sob uma condição.Eleanor suspirou. Claro que o irmão não concordaria tão depressa se não

tivesse algum trunfo.— E qual é essa condição?— Não tenho intenção de tornar pública a sua declaração de

independência, assim como não permitirei que anuncie aos outros as suasreclamações. E o que escreveu no papel não livra esta família de um escândalo,caso cometa algum erro grave. Desse modo, se criar alguma situação vergonhosapara a família Griffin, nosso acordo estará imediatamente cancelado.

Eleanor levou um minuto para analisar o que Sebastian dissera.— Concordo com os seus termos — concordou por fim.— Ainda não terminei. Não somente o acordo se encerra, como, uma vez

que tivermos sanado o problema que eventualmente venha a surgir, você deveráaceitar se casar com o cavalheiro que eu escolher, sem...

— O quê?— Sem demora ou protesto. — Sebastian pegou o sino e o tocou.Logo surgiram criados que começaram a servir o jantar.

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— Pensou que não haveria conseqüências? — o duque continuou sem alteraro tom de voz.

— E um monstro! — ela exclamou.— Oh, não, sou um tirano. Sempre há um preço pela liberdade, minha irmã.

Se deseja se arriscar, deve estar preparada para pagar por seus erros. Estamosde acordo?Se Eleanor recusasse, ele usaria tanto a declaração como a sua covardia

contra ela em toda e qualquer oportunidade futura. E por certo a forçaria a secasar com o primeiro homem insípido que aparecesse pelo caminho. A maiordificuldade era o fato de ser uma Griffin, e nunca enganaria a sua família.Qualquer marido que escolhesse deveria passar pelo julgamento de Melbourne.Bem, pelo menos abrira uma porta, o que lhe dava alguma independência.

— Estamos de acordo, Sebastian — ela respondeu lentamente.

— Não estamos — Shay resmungou. — Isso é ridículo, Melbourne!Como se tivesse se esquecido da presença dos irmãos, o duque voltou aatenção a eles.

— Eleanor e eu fizemos um acordo. Vocês o honrarão, está claro?Por um momento, ela pensou que Shay pudesse ter um ataque de nervos,

mas ele se controlou e acenou que sim para o irmão mais velho.Zachary balançou a cabeça em sinal de crítica.— Meu Deus, que absurdo! Tome cuidado com o que vier a fazer, Eleanor.— Agora sou livre para agir como quiser Zachary. — Vol-tando-se para

Melbourne, acrescentou: — Desde que eu não provoque escândalo algum.— Que os céus nos ajudem — Shay resmungou.— Não. — Sebastian cortou com muito cuidado a primeira fatia de carne

que havia na bandeja à sua frente. — Que os céus ajudem Eleanor. Porque não ofaremos mais.

Era quase uma hora da tarde quando Valentine acordou e se dispôs alevantar. No dia anterior, o clã dos Griffin arruinara completamente o seu prazerem desfrutar o que seria um almoço bem agradável. No caminho para o encontro,havia encontrado com lorde Whitton e Peter Burnsey e terminara em uma mesade jogo, de onde saíra um pouco mais rico.

— Matthews — ele chamou, jogando para o lado os lençóis. A porta se abriude imediato e o criado de quarto surgiu, prestativo.

— Sim, milorde? Devo lhe servir o café da manhã?— Não. Arranje-me uma camisa limpa.— O senhor tem de comer alguma coisa, milorde — o criado respondeu,

seguindo em busca da camisa.— Se mencionar a palavra comida, eu o demitirei — esbravejou Corbett.

Havia bebido em demasia na noite anterior e seu estômago sofria asconseqüências do exagero.

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— Oh, sim, milorde. Mas a sra. Beacon vai querer saber...— Vou almoçar no clube. Agora tem conhecimento do que irá acontecer.O criado arregalou os olhos.— Milorde?

— Você me escutou. Já avisei de que vou demiti-lo, ou está pensando quenão sou um homem de palavra?— Oh, certamente que não, isto é, o senhor não é um homem de palavra,

milorde.Valentine voltou-se, surpreso, para o criado, depois riu.— Tem razão, Matthews. Onde está aquela maldita camisa?— Aqui, milorde.Valentine vestiu a peça e começou a se barbear, enquanto o criado ia à

busca do resto do traje. Ao passar pela janela, abriu as cortinas, deixando que a

claridade entrasse no aposento.— Ótimo. — Agora podia se barbear sem correr o risco de cortar o rosto.— Afiei a sua navalha, milorde.O marquês ficou pensativo. Por vezes chegava a pensar que o criado tinha

vontade que ele errasse ao usar a lâmina e cortasse uma veia do pescoço.— Alguma novidade? — perguntou, descartando a idéia de que Matthews o

quisesse morto.— Bem, a governanta de lorde e lady Arthorpe foi mandada

inesperadamente para a propriedade em Sussex.

— Meu bom Deus!— E descobri que lady Arthorpe e o conde não estão mais se falando.Valentine fez uma careta.Aposto que Mary Arthorpe não tem tomado banho desde o último Natal.

Prefiro uma companheira de quarto perfumada. Alguma coisa mais?— Oh, sim. O sr. Peter Burnsey fechou a ala leste da Burnsey House e

despediu metade dos empregados.— Isso explica por que o idiota não largava o jogo ontem à noite. Decerto

ganhei as últimas libras do infeliz.— Ele não deveria se arriscar jogando contra o senhor, milorde.— Oh, deveria, sim.Agora sabia por que Burnsey exagerara na bebida. O homem devia estar

arrasado. Deus permitisse que nunca ficasse em situação igual à dele.Deixando de lado os problemas do infeliz, o marquês terminou de se

arrumar e encontrou seu cavalo Iago selado e à sua espera. O enorme garanhãoestava acostumado a sair nas horas mais irregulares e, sem que Valentineprecisasse fazer qualquer gesto, o animal seguiu para o clube.

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Ao passar, foi cumprimentando os conhecidos que encontrava na BondStreet. Inesperadamente, notou a presença de uma mulher que não devia estarfazendo compras naquela área.

— Eleanor! — chamou, parando o cavalo.

Ela saía de uma pequena loja de vestidos. Quando viu quem a chamava,respirou, aliviada.— Deverill. Meu bom Deus!— Esteve fazendo compras na loja de madame Costanza? — ele perguntou,

franzindo a testa.— Precisava de alguns vestidos novos.Valentine sabia que madame Costanza vestia atrizes e seus trajes não

eram exatamente o que Eleanor costumava usar.— Tenho certeza de que os vestidos que escolheu são fabulosos.

Antes que ele pudesse se despedir e seguir o seu caminho, a dama pediu:— Não conte nada a meus irmãos. Quero lhes fazer uma surpresa.— Oh, não se preocupe. Tenho certeza de que se surpreenderão com os

seus vestidos novos. Eu mesmo gostaria de vê-la usando um.— Vai estar presente à festa de Beckwith esta noite?— Naturalmente.— Então terá essa oportunidade. — Um leve sorriso surgiu nos lábios de

Eleanor e seus olhos brilharam mais.Valentine observou-a como se a estivesse vendo pela primeira vez. Sempre

colocara Eleanor na categoria de mulher intocável, já que era irmã de amigosseus. No entanto, naquele momento, desejou que ela pudesse estar em uma ca-tegoria mais acessível.

— Então nos veremos na festa.— A não ser que encontre distrações em outro lugar, não é, Deverill?— Pois posso dizer que dessa vez não me deterei pelo caminho. Não quero

perder por nada o baile dos Beckwith.— Milady, tem certeza de que quer usar esse... vestido no baile desta

noite?Eleanor fingiu ignorar tanto as palavras cuidadosas da criada como o olhar

crítico. Sabia, é claro, que estava se arriscando, usando aquela roupa, mas a noitetinha um propósito específico. Era um teste, tanto para provar que ela estavamesmo decidida a seguir com seus planos, quanto para verificar se os irmãoscumpririam a parte deles no acordo.

— Sim, Helen, tenho certeza — respondeu, olhando-se no espelho.O tecido em tom vinho e bordado com fios de ouro combinava bem com a

cor de seus cabelos e os olhos acinzentados." A saia acompanhava o corpo eterminava com adornos de pedras delicadas.

— Mas os seus irmãos, milady... Eles não irão...

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— Desaprovar o meu vestido? Certamente que irão. Não e um traje defreira nem nada do tipo. — Eleanor sorriu diante do reflexo no espelho e sesurpreendeu com a imagem da mulher sedutora à sua frente. — Eu, no entanto,não me importo com o que eles possam pensar.

— Não se importa?— De forma alguma. Meu corpo está coberto. Talvez com menos tecido doque habitualmente, mas conheço outras mulheres respeitáveis que usam vestidosneste estilo. — Não muitas, concluiu em pensamento. — Agora me ajude com ocasaco, por favor.

— Se não se incomoda com a reação de seus irmãos, por que vai usar ocasaco?

— Não sou tola, não é?O casaco cinza, que cobria todo o traje, evitaria um confronto ainda na

casa. Ela queria surpreender a todos no momento em que tirasse o manteau. Aíseria muito tarde para Melbourne ou um de seus outros irmãos tomar umaatitude sem chamar a atenção.

O casaco desempenhou perfeitamente o seu papel de esconder a sua dona,e os três Griffin apenas puderam deter seus olhares no penteado que ela fizera.Usava os cabelos soltos, caindo sobre os ombros e enfeitados com fitas cor devinho.

Os olhos de Melbourne, no entanto, detiveram-se um pouco mais no rostoda irmã.

— Lembre-se do que eu lhe disse sobre um eventual escândalo, Eleanor —ele falou, enquanto vestia o sobretudo.

— E você deve se lembrar de que escândalo e conversas são duas coisasdiferentes — ela disse, dando um passo para o lado, a fim de que Stantonpudesse abrir a porta da frente.

— Podem ser diferentes — o duque replicou, seguindo Eleanor até acarruagem e a ajudando a subir. — Mas afrouxe um pouco os limites de uma everá que ela se transformará no outro.

— Eu devia ter começado a beber mais cedo — Zachary resmungou,subindo também na carruagem. — Seja cautelosa, Neil. Fará isso?

Eleanor ajeitou as luvas.— Não, Zachary. Não vou fazer nada de errado, tampouco serei cautelosa.—Então será uma experiência bem curta — Charlemagne opinou. — E

poderá esquecer aquela bobagem de escolher o marido.Eleanor desejou com todo o seu coração que Shay estivesse errado quanto

a isso.— Eu não apostaria contra mim, se fosse você — ela falou, desejando

parecer mais confiante do que se sentia na verdade.

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Beckwith House ficava somente a cinco quarteirões dali, mas o percursonunca parecera tão longo antes daquela noite. Eleanor vibrava de tensão e calor, já que tinha fechado o casaco até a gola. Para piorar as coisas, Sebastian passarao caminho todo observando-a com ar enigmático.

Ela nem havia imaginado fazer alguma coisa errada, pois estava ciente doquanto o irmão dava importância ao nome da família. Porém, escolhera trilhar umcaminho que beirava de um lado o escândalo, e do outro as restrições ditadaspelo bom comportamento. Apenas esperava que esse caminho a levasse a algumlugar seguro, e não a uma rua sem saída.

Aos vinte e quatro e vinte e seis anos respectivamente, Zachary eCharlemagne já tinham desfrutado de amantes, mas tal comportamento eraperfeitamente aceitável dentro da sociedade inglesa, desde que houvessediscrição. Por outro lado, as regras para as mulheres eram muito rígidas, e por

quase nada as incautas se viam em meio a um escândalo. Mas Eleanor não estavaatrás de amante algum, tampouco almejava alguma coisa maluca. Se nãoaproveitasse a chance de se divertir, simplesmente poderia morrer. Inclusive detédio.

Chegaram, afinal, a Beckwith House, que já estava lotada. Em geral, quandoos Griffin compareciam a um evento junto, entravam seguindo uma ordem, àfrente Melbourne ao lado de Eleanor, atrás vinham Shay e Zachary. Naquelanoite, porém, assim que desceram da carruagem e alcançaram a porta da frente,Sebastian deixou Eleanor entrar por conta própria.

— Vá em frente — ele ordenou, fazendo um gesto. — Eu a seguirei.Ela concordou, fingindo que era exatamente o que desejava, e entrou na

casa.Quando o criado lhe estendeu a mão para pegar o casaco, Eleanor hesitou.

Respirou fundo e desabotoou o agasalho, entregando-o ao criado.A declaração de independência começaria a ser posta em prática. Contudo,

não deixou de se impressionar pelo silêncio que se seguiu. Zachary soltou umgemido, enquanto os outros dois irmãos não disseram palavra alguma. Ela sabiaque tudo iria piorar quando desse as costas aos rapazes, porque o decote dovestido era bastante ousado.

Virou-se e lamentou não ver a expressão do rosto de Sebastian.— Deus do céu... — Shay murmurou, empalidecendo.— Vamos entrar? — Eleanor perguntou, procurando aparentar uma calma

inexistente.O mordomo anunciou a chegada dos Griffin.— Senhoras e senhores, o duque de Melbourne, lorde Charlemagne Griffin,

lorde Zachary Griffin e lady Eleanor Griffin.A dama caminhou consciente da hostilidade dos irmãos. Chegaram a uma

mesa, mas nenhum deles se sentou.

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— Pare com isso, Shay — ela repreendeu o irmão.— Parar com o quê?— De tentar intimidar todos os que estão olhando para mim. Enquanto

estivermos neste salão, finja que não me conhece e farei o mesmo.

Shay abriu a boca para protestar, mas Melbourne se colocou entre os dois.— Penso que é hora de começarmos a beber como Zachary propôs.Em segundos, Eleanor se viu sozinha e caminhou em direção a uma amiga,

Bárbara Howsen. Percebeu a presença de lorde Deverill observando-a cominteresse, ignorando lady Franch, que flertava abertamente com ele. Pelaprimeira vez, pôde sentir o que as outras mulheres já vinham experimentandohavia tempos: aquele deus de olhos verdes mostrando-se interessado. Apesar deestar habituada com as visitas constantes de Deverill a seus irmãos, nãoconseguiu deixar de estremecer. O marquês a olhava agora de forma diferente.

— Boa noite — Eleanor cumprimentou, aproximando-se de Bárbara,beijando-a no rosto.— Está maravilhosa. Eu não lhe disse para tentar madame Costanza? —

Bárbara murmurou. — Estou surpresa que Melbourne não teve um ataque quandoa viu nesse vestido. Como conseguiu sair de casa sem que ele a trancasse noquarto?

— Cobri-me com um casaco e só o tirei aqui — Eleanor explicou. — Além domais, fizemos um acordo. Posso fazer o que quiser a partir de agora, minhaquerida.

Bárbara não era tão confiante quanto Eleanor, mas sorriu.— Acho que Wendell DuMer está babando. Eleanor riu, satisfeita.— Não deve ser por minha causa, Bárbara. Na verdade, eu...— Lady Eleanor. — Uma voz masculina soou. Ela se virou.— Cobb-Harding. Pensei que estivesse em Paris.—Voltei faz poucos dias. A primeira dança já vai começar, e notei que não

está com seu cartão. Dançaria comigo essa valsa?Não havia se passado nem mesmo cinco minutos desde que a aventura de

Eleanor começara, e já era convidada a dançar por alguém que Melbournecertamente recusaria como sua pretendente. Stephen Cobb-Harding não tinhaculpa de que o pai fosse apenas um baronete e que a família da mãe, os Cobb, eraabastada, daí o sobrenome com hífen.

— Essa é a melhor notícia que escuto nesta semana.— Eu agradeço, Cobb-Harding.— Não, Eleanor, eu é que sou grato. E, por favor, chame-me de Stephen.Ela observou o rapaz. Era bonito, tinha reputação de ser charmoso, mas,

com sua situação financeira precária, não havia a menor chance de agradar aMelbourne. Isso, porém, não a preocupava. Estava simplesmente dançando com

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ele, não o escolhendo como marido. Sim, por certo que gostaria de encontrar ummarido, no entanto, primeiro desejava se divertir um pouco.

— Sei que seus irmãos são muito severos com você. Posso perguntarquantas costelas estou arriscando por estarmos dançando agora?

— Nenhuma, Stephen. Prometo. E, se meus irmãos o aborrecerem, porfavor, fale comigo.— Isso é maravilhoso. — O rapaz sorriu, satisfeito. — Não gostaria de ter

de me esconder atrás de sua saia. — Fez silêncio por um momento, depoisprosseguiu: — Apesar de que se trata de uma saia excepcional.

Talvez ele fosse divertido, Eleanor pensou.— Obrigada pelo elogio ao meu vestido. Estou experimentando um novo

estilo.— Eu adoraria — ela respondeu, aceitando a mão que ele estendia.

A orquestra começou a tocar a valsa, e não demorou o casal rodopiava pelapista.— Estou tentando criar coragem para tirá-la para dançar há um ano — o

rapaz confessou, os olhos azuis perdidos no decote do vestido de Eleanor.— E por que esperou todo esse tempo?— Posso lhe dar três motivos. Três, é verdade.— Bem, meus irmãos e eu entramos recentemente em um acordo. Assim

nós dois poderemos dançar sempre que quisermos.Stephen sorriu.

— Espero que o adote. Está adorável, Eleanor. É algo que eu queria lhedizer também há um bom tempo.

Eleanor sentiu vontade de dar um murro no nariz dos irmãos. Quantodivertimento havia sido negado desde que completara quinze anos.

Podia haver coisa pior do que ter irmãos mais velhos?— Talvez queira me acompanhar a um passeio pelo Hyde Park amanhã,

Stephen.— Onze horas seria um bom horário?— Onze horas seria perfeito.— Valentine!Ao ouvir a voz estridente, Deverill olhou para trás.— Lady Franch?— Lorde Franch não está se sentindo bem e quer sair mais cedo da festa

— Lydia informou.— Gota?— Não tenho idéia. Provavelmente é isso mesmo. Assim temos de nos

apressar.Um vestido cor de vinho passou de relance pelos olhos de Valentine e sumiu

no meio dos outros pares que dançavam.

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— Apressarmo-nos? — ele repetiu, não conseguindo deixar de olhar para osirmãos de Eleanor.

Nenhum deles observava a irmã. Eleanor não mentira. Alguma coisa deviater acontecido naquela família. Algo que tinha permitido que ela comprasse um

vestido na loja de madame Costanza, famosa por suas criações ousadas. Con-siderando os resultados, ele somente podia aplaudir as mudanças no clã dosGriffin.

— Vamos à nossa aventurazinha de sempre, não é?— Minhas desculpas, Lydia, mas hoje não será possível. Lady Franch

arregalou os olhos diante da recusa do marquês, para em seguida notar para quemValentine olhava.

— Pretende se distrair com Eleanor? Simplesmente porque ela está usandoaqueles trapos? Você nunca deu atenção a ela antes.

— Na verdade nunca tinha reparado naquela beleza tão singela — Corbettrespondeu, distraído.Era estranho. Ele conhecia Eleanor Griffin havia muitos anos, a maioria dos

encontros que tiveram não resultou em nada além de uma conversa banal,genérica. Valentine não a considerava como uma irmã simplesmente porque não ti-nha nenhuma. Sempre vira os parentes como fardos. Mas, naquela tarde, Eleanorhavia repentinamente se tornado... uma mulher muito interessante.

— Não estou planejando fazer nada com a irmã do duque de Melbourne —ele acrescentou. — Apenas estou curioso com a mudança em sua aparência. O que

terá acontecido para que Sebastian nem sequer olhe na direção da irmã?— Não faço idéia. Tem certeza de que não me quer esta noite?— Sim. E lá vem seu marido. Boa noite, minha querida.Logo que lady Franch se afastou, Valentine voltou a atenção a Eleanor. A

valsa tinha acabado, e um grupo de rapazes a rodeava, certamente querendoanotar o nome em seu cartão de danças. Eram jogadores, caçadores de dotes,idiotas em geral. Bem, naquele momento, todos lutavam para se aproximar da beladama. Pareciam um bando de lobos, tentando agarrar uma nova presa, que até odia anterior estivera sob a proteção de três leões ferozes.

O marquês manteve-se a distância, mas Eleanor continuava atraindo-lhe àatenção. Alguma coisa havia mudado. Olhou novamente para ela, intrigado.

Uma conseqüência de Valentine ter ido dormir cedo era o fato de estar,naquele momento, tomando café na sala de desjejum, quando bateram à porta dafrente. Se tivesse previsto o que aconteceria nos próximos minutos, certamenteteria ficado na cama.

Continuou a comer o seu presunto e os biscoitos enquanto d mordomointroduzia o convidado na casa. Caso fosse uma pessoa indesejável, como LydiaFranch, por exemplo, Hobbes daria uma desculpa e não a deixaria entrar. Noentanto, logo Valentine escutava a voz do mordomo.

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— Milorde, o duque de Melbourne está...— Valentine — Sebastian interrompeu o mordomo. —Preciso falar com

você.— E creio que a conversa girará em torno de uma bela mulher que usava

ontem um vestido cor de vinho.—É assunto particular — o duque informou, olhando para os criados queestavam na sala.

Mastigando o seu presunto, Valentine observou Sebastian com atenção.Estranho, o duque nunca estivera antes tão agitado. Fez um gesto para Hobbes,que imediatamente indicou para os criados deixarem a sala.

— Sirva-se — Valentine convidou o amigo, apontando a mesa com asiguarias do café da manhã.

— Já comi.

— Então, pelo amor de Deus, pare de ficar andando pela sala que me deixaatordoado. Já levantei com dor de cabeça esta manhã, e você a está tornandopior.

Com um suspiro, Melbourne se sentou ao lado do amigo.— Viu Eleanor a noite passada.— Não pude deixar de notá-la, não é? Por quê? Está desafiando cada

sujeito que se atreveu a olhar para sua irmã? Os duelos vão levar uma semana.— Oh, cale-se. E isto deve ficar entre nós dois, Valentine.— Não sou fofoqueiro, Sebastian. Sabe disso. Melbourne respirou fundo.

— Sim, eu sei. Em parte é por essa razão que estou aqui. Na noite anterior,Eleanor me deu esta carta. — O duque estendeu a declaração ao amigo.

O marquês limpou as mãos e pegou o papel. Começou a ler, agradecendo aoscéus mais uma vez por ser filho única

— Por que está me mostrando isso? Para que eu admire a linda letra de suairmã?

— Ontem foi a primeira vez que ela ousou me provocar — Sebastian falou,pegando o papel de volta. — E nesta manhã Eleanor foi passear no Hyde Park comaquele idiota do Cobb-Harding.

Por um momento, Valentine ficou apenas olhando o duque. Um de seuspoucos amigos, porque escolhia com muito cuidado a quem dedicar uma amizadeverdadeira. Era algo que aprendera com o pai. Podia dormir com toda mulher quequisesse, mas escolhia os amigos com cuidado.

— O comportamento de sua irmã obviamente o aborrece, Melbourne, assimbasta que coloque um ponto final nisso tudo. Não é você quem controla o dinheirodela? Porém, não precisa de mim para dizer isso.

— Não é tão simples, Valentine. Concordei com os termos que ela exigiu nacarta, enquanto não se envolver em escândalo algum.

— Concordou? — o marquês repetiu, surpreso.

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— Sim, concordei, diabos. Ela me deixou fora de mim.— Então, tem de cumprir o seu lado do acordo, não é? Estou certo de que

madame Costanza vai adorar atender a sua irmã.— Ah, então foi lá que Eleanor comprou aquele maldito vestido! — O duque

procurou se acalmar. — A situação é mais complicada, Valentine. Seja como for,ela ainda usa o nome Griffin. E não pode envolver a nossa reputação em situaçõesdesastrosas. Tentei alertá-la esta manhã de que, se era um marido o que elaqueria, precisava ficar longe de qualquer escândalo e não perder tempo com caça-dotes como o idiota do Cobb-Harding. O que mais me irrita é que Eleanor pareceestar inclinada a flertar com esses cretinos.

— Então deixe que ela se distraia um pouco. Nunca vai querer se casar comCobb-Harding. Parece que deseja apenas se divertir, olhar o rebanho antes deescolher um garanhão.

— Não posso deixá-la em total liberdade, Valentine. E, por favor, desistadessas alusões. Eleanor não é como você. Um escândalo a afetará. Poderáarruinar a vida dela.

— E a reputação dos Griffin — completou Valentine.— Com certeza. Por mais inteligente que seja, minha irmã nunca deu um

passo para fora de nosso círculo. Quer se divertir sem provocar qualquerescândalo, mas não tem idéia de como é difícil e, se eventualmente acontecer umadesgraça, como será praticamente impossível voltar atrás.

— Não sei o que poderia fazer para que Eleanor mudasse de idéia, já que

você selou o tal acordo. Afinal, é um homem de palavra. Quanto mais a pressionar,mais ela irá querer escapar de seu cerco.

— Está certíssimo mais uma vez, Valentine. Por isso estou aqui.O marquês sentiu-se caindo em uma armadilha.— Pode me explicar o que pretende?— E o homem mais hedonista que conheço.— Bem, obrigado.— Não foi um elogio.— Suspeitava disso. Mas a que ponto quer chegar?— Você é o oposto de mim. E Eleanor sabe disso. Assim, já que ela não

aceitará a minha orientação, certamente poderá receber a sua.Valentine se pôs de pé, sentindo-se desconfortável com o rumo da

conversa.— O quê?! Quer me tornar o mentor de Eleanor? O mentor do pecado?— Bom Deus, nada disso. Mas, como observou com tanta astúcia, toda a

minha interferência só a leva a querer me contrariar ainda mais. Você já estáimerso no desregramento, por certo ela o escutará. Poderá inclusive o respeitar,imagino. Você pode manter minha irmã longe de problemas.

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— Preciso de uma bebida forte — Valentine disse, deixando a sala derefeição e seguindo para a biblioteca, onde tinha um bom estoque de licor euísques.

— Já pensei muito nisso — Melbourne continuou, seguindo o amigo. — Pode

manter um olho em Eleanor, evitar que ela faça alguma bobagem. Shay, Zachary eeu somente a levaríamos a cometer uma série de bobagens.Valentine se serviu de uísque.— Mas o que o faz pensar que eu me disporia a participar disso tudo? —

Para piorar a situação, ele vinha tendo pensamentos impuros em relação a EleanorGriffin. — Vá embora, Melbourne.

O duque sorriu, deixando Valentine ainda mais irritado.— Imaginei que você poderia se mostrar relutante em colaborar, então eu

trouxe isto aqui. — Melbourne tirou do bolso um papel amarelado pelo tempo.

Valentine reconheceu o documento imediatamente.— Não é justo, Sebastian. Eu estava bêbado quando o escrevi. Diabos!— E eu estava bêbado quando o aceitei. Estávamos ambos embriagados,

desse modo não posso dizer que tirei alguma vantagem.— Teria sido um terrível advogado, Sebastian. O duque sorriu novamente.— Insultar-me não ajudará em nada a nossa causa. — Sentou-se em uma

cadeira junto à lareira. — Posso ler o que assinou, caso não se lembre do texto.— Por favor, poupe-me. E uma forma muito ruim de lembrar alguém de um

de seus momentos de fraqueza.

— Um? — O duque voltou a sorrir e começou a ler.Em troca de serviços prestados, afastando de mim uma dama indesejável,

devo ao portador deste documento um favor de sua escolha. Valentine EugeneCorbett, Marquês de Deverill

Valentine jogou-se em uma cadeira.— Pelo amor de Deus, tudo bem. Você venceu. Apenas nunca mais volte a

repetir o meu nome inteiro nem para mim.— Esplêndido! — Sebastian levantou-se. — Minha irmã deve estar no Hyde

Park a esta hora. Sugiro que não se atrase.— Quer que eu vá atrás de Eleanor agora?— Stephen apareceu encarrapitado em uma pequena carruagem. Isso

tornará a sua busca mais fácil.— Não acredito...Já à porta, Sebastian se voltou para o amigo.— Mantenha Eleanor longe de problemas, Valentine. É tudo o que peço.

Apesar de tudo, confio em você e coloco a honra de minha família em suas mãos.O marquês fez um gesto de despedida ao duque que saía, então se

concentrou em tomar sua bebida. Por causa da nota que assinara, agora tinha departicipar daquele disparate.

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Sebastian deveria estar desesperado, para recorrer a ele. Mesmo assim,apesar de o duque ter dito que confiava plenamente no amigo, não tinha certezade que fora uma boa escolha. Valentine não servia como acompanhante de nin-guém. Na semana anterior, poderia ter considerado tal incumbência apenas mais

um aborrecimento, agora, porém, era diferente. Estava interessado em Eleanor.— E como mandar a raposa tomar conta do galinheiro — pensou alto.Levantou-se e mandou selar o cavalo.O problema era que a raposa tinha em suas mãos a honra da família de um

amigo, a honra de uma família de prestígio. Sendo assim, Eleanor Griffin tinha deficar longe de seu alcance, não importando o que ele pensasse a respeito.

Capítulo II

Não sei como você consegue lidar com seus irmãos — Stephen disse,enquanto parava a sua pequena carruagem embaixo de um carvalho.

— Como já disse, Sebastian e eu fizemos um acordo. Prefiro não discutiros detalhes neste momento.

— Oh, muito bem. Longe de mim arruinar este dia com perguntas.Eleanor retribuiu o sorriso do belo cavalheiro.— Muito diplomático de sua parte, Stephen.— Pressinto que um período sem brigas fará bem a você.O sorriso dela se alargou. Era uma vergonha que os irmãos a tivessem

impedido de se distrair com pessoas simpáticas como Cobb-Harding,especialmente porque ela pretendia apenas conversas agradáveis e nãonecessariamente um casamento.

— Você me parece ansiosa por novas experiências. Já dirigiu umacarruagem como a minha?

— Nunca. Me permitiria fazê-lo agora?! Cobb-Harding estendeu as rédeaspara Eleanor, que as aceitou exultante.

— Segure firme, por favor.— Farei exatamente isso.A experiência de controlar o cavalo não foi de todo fácil, mas os dois

terminaram chegando ao parque sem maiores problemas.

O passeio prosseguiu com uma caminhada. Gentilmente, Stephen decidiucomprar sorvete para os dois.

— Primeiro aquele vestido e agora cavalos. — Uma voz soou firme ao ladode Eleanor. — Está se tornando uma cigana, srta. Griffin?

Como sempre, Eleanor reconheceu aquele perfume único de colônia,misturado ao cheiro do charuto, responsável por parte do charme do marquês.

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— Deverill! O que está fazendo fora da cama a esta hora da manhã?Valentine, montado em seu temperamental garanhão Iago, cumprimentou-a

com um gesto de cabeça.— Então é assim tão cedo? Devo estar doente.

— O ar da manhã fará bem a você.— Interessante escolha a sua, Eleanor.O prazer que ela sentira com a chegada de Valentine dissipou-se

imediatamente.— Não me diga que se tornou um chato?!— Chato? — ele repetiu. — Você me ofende. Minha única reclamação é

contra a lamentável cor que Cobb-Harding escolheu para o seu casaco. Qual éexatamente, castanho-escura?

— Oh, não me venha com essa conversa sobre roupa, Deverill.

O marquês caiu na risada.— Suponho que o casaco, afinal, não seja assim tão feio. Estou surpresopor não avistar nenhum Griffin nas imediações.

— As coisas mudaram.— Pelo que vejo, está certíssima.— Oh, aqui está o seu sorvete, Eleanor — Stephen anunciou, aproximando-

se e nem sequer cumprimentando Deverill. — Conseguiu controlar a carruagemmuito bem. Acredito que poderemos começar as aulas de direção.

— Oh, eu adoraria.

Cobb-Harding voltou-se então para o marquês.— Bom dia, milorde. Não o havia notado. Eleanor e eu estamos passeando,

se nos der licença...— Naturalmente. Bom dia para os dois — Valentine falou, despedindo-se

com um toque em seu chapéu.Eleanor observou Deverill cavalgar em direção ao lado norte do parque.

Nunca vira alguém cavalgar tão bem quanto ele, tampouco um homem assimbonito.

— Jamais entendi como seus irmãos podem ser tão protetores em relaçãoa você e, no entanto, permitem que Corbett freqüente a sua casa.

— Deverill e Melbourne estudaram juntos em Oxford e herdaram seusrespectivos títulos com a mesma idade. Foram sempre muito amigos. Além domais, o marquês nunca me desrespeitou.

— Não quis ofendê-la, Eleanor.— Não o fez.Eleanor ficou um momento em silêncio, pensando em como Deverill e Cobb-

Harding eram diferentes. Na verdade, ela sempre via com bons olhos as visitasocasionais do marquês. Era como se entrasse um ar fresco na mansão. Tudo

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sempre parecia mais bonito com a presença dele por perto. Ela até tivera aimagem de Valentine em mente ao escrever a declaração de independência.

Naturalmente não apenas a autonomia a havia inspirado. Sempre que aimagem daquele homem sedutor vinha à sua mente, ela se lembrava dos olhos

verdes e imaginava como seriam os seus beijos, e as carícias e os prazeres que asenormes mãos deveriam proporcionar a uma mulher. Era inexperiente nessecampo, mas podia bem imaginar que o marquês deveria ser um amante formidável.

Desde que o vira perto da loja de madame Costanza, vinha sentindo umamudança no olhar dele, algo que lhe despertava as fantasias.

— Como está o seu sorvete?— Muito refrescante. Obrigada.— Gostaria de acompanhá-la à recepção que acontecerá amanhã à noite no

Hampton Ball. Você me permitiria essa honra?

Oh, Melbourne teria um ataque se o mesmo homem acompanhasse a irmã por dois dias seguidos. Tal pensamento divertiu Eleanor, que de pronto aceitou oconvite.

— Se chegar a minha casa às oito horas, ficarei feliz por sair em suacompanhia.

— Esplêndido. — Cobb-Harding inclinou-se.— O que está fazendo, Stephen?— Gostaria de experimentar o sabor de seu sorvete — ele respondeu,

beijando-a levemente nos lábios.

Nunca homem algum ousara tomar tal intimidade, irritando-a. Mas porpouco tempo. Logo sentiu que essa era mais uma prova de independência. A partirdaquele momento, sua vida não seria mais monótona.

— Está muito quieta. Eu a ofendi? — Cobb-Harding perguntou, cheio depreocupações.

— Não, apenas fiquei surpresa.— Não gosta de ser pega desprevenida? Lamento se interpretei errado o

seu caráter e...— Está tudo bem, Stephen. — A última coisa que queria era que Cobb-

Harding a considerasse uma mulher pudica. — Adoro surpresas.— Fico muito feliz com isso, Eleanor.Passaram mais uma hora conversando no parque e, por fim, Stephen a levou

à Mansão Griffin. Enquanto entrava na casa, pareceu estar sendo vigiada por trêspares de olhos, mas não viu irmão algum à vista.

— Boa tarde, lady Eleanor — o mordomo a cumprimentou, quando abriu aporta da frente.

— Stanton, onde estão os meus irmãos? — perguntou, já preparada paraenfrentar uma discussão naquele momento.

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— Sua Graça foi até a Casa dos Lordes para uma reunião. Lorde Shay elorde Zachary foram almoçar no clube e ainda não voltaram.

Eleanor mal acreditava no que ouvia.— Oh, muito bem. Obrigada, Stanton. Vou cuidar agora de minha

correspondência na sala de estar.— Sim, milady. Devo mandar servir um chá?— Seria ótimo.Os irmãos não estavam em casa? Não a esperavam para ver se chegava

intacta? Melbourne havia conversado com ela antes do passeio com Stephen e aalertara de que o rapaz era um caça-dotes. Tinha salientado que todo homem semfortuna era um caça-dotes. Agora nem se importava com o que pudesse teracontecido com ela?

Se Melbourne esperava que Valentine ficasse vinte e quatro horas por dia

vigiando Eleanor, o duque ficaria desapontado. O marquês inclinou-se na sela,observando Eleanor deixar Cobb-Harding no portão e sumir dentro da MansãoGriffin.

Contou até dez, depois decidiu fazer as suas obrigações pessoais.Obrigações pessoais. Ele as detestava. E agora ainda tinha uma extra,

vigiar uma mulher virtuosa.Talvez Eleanor fosse menos virtuosa do que pensara. Tinha acabado de ver

Cobb-Harding beijá-la no Hyde Park, diante de várias pessoas. Por sua reação, elanem parecera constrangida de estar se exibindo em um lugar público. Não havia

chegado a desmaiar nem berrar, em vez disso dera mais uma mordida no sorvete.Controlada ou não, Eleanor tinha de ser mais cuidadosa, se não quisesse ver seucomportamento comentado pelos mexeriqueiros.

Tudo indicava que Cobb-Harding estava se saindo bem em seus planos deseduzi-la. Enquanto podia dar ao bufão algum crédito por seu atrevimento,Valentine não tinha certeza de que usaria a mesma estratégia com Eleanor.Irritar os irmãos Griffin era escolher o caminho mais rápido para a ruína. Foraisso, um beijo, o primeiro beijo, entre dois amantes em potencial nunca deveriaacontecer de imprevisto. Além do mais, o fato de imediatamente Eleanor voltar oseu interesse ao sorvete não era um bom sinal para Cobb-Harding.

O marquês suspirou. Nunca percebera o desafio que havia naquele sorrisoterno e no brilho de seus olhos. Tudo era novo e inquietante.

— Controle-se, Deverill — murmurou para si mesmo. Ao entrar em casadepois de mais um bem-sucedido jogo de cartas, foi recebido pelo mordomo quelhe estendeu uma missiva.

Valentine pegou o envelope.— Talvez seja de lady Mane Quenton. Ou de Lydia — disse ao criado.— Não me arriscaria a apostar nisso, milorde. O senhor deseja chá?

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Enquanto o marquês abria o envelope, pegou uma garrafa de vinho tinto e aestendeu ao mordomo.

— Abra isto para mim, por favor — ordenou e retirou-se para o seuescritório, onde leria a carta longe dos olhos curiosos de Hobbes.

A mensagem era curta e objetiva.Deverill,De acordo com a agenda de Eleanor, ela aceitou os convites que enumero a

seguir.Valentine pegou um cigarro.— Deve estar brincando, Melbourne — resmungou, afundando em uma

cadeira.Pela lista curta e detalhada onde constavam os lugares, datas e horários, o

marquês teve certeza de que Sebastian não estava para brincadeiras.

A maior parte desses passeios não exige a sua participação, mas, comopode ver, há um número incontável de horas sem programação. É quando deveráficar atento. Melbourne

O primeiro pensamento de Valentine foi rasgar a carta em mil pedaços e jogá-los na lareira. No entanto, havia uma observação escrita com letrasmaiúsculas no canto da folha:

VOCÊ ME DEVE ISSO.Felizmente Hobbes escolheu esse momento para entrar no escritório,

trazendo um copo de vinho em uma bandeja.

— Algo mais, milorde?— Sim. Traga-me a garrafa.O mordomo saiu e Valentine se pôs a reler a lista dos passeios de Eleanor.— E melhor rasgar aquele maldito documento, assim que eu terminar minha

função de vigia, Melbourne — resmungou, tomando um bom gole do vinho tinto.O marquês ficaria sem qualquer tempo livre, caso fosse vigiar Eleanor

continuamente. Além do mais, precisava ser discreto, para não se deixar notar.Se ela desconfiasse, jamais o perdoaria. E, por alguma razão, Valentine nãoqueria que isso acontecesse.

Já que, segundo a agenda, o próximo evento seria o jantar com BárbaraHowsen e família, ele teria pouco tempo para decidir o que fazer. Mascomparecer àquele compromisso significaria faltar ao libertino baile de máscarasque lorde Belmont pretendia oferecer aos conhecidos.

Um inesperado sorriso surgiu nos lábios de Valentine porque, sem dúvida,Eleanor estaria usando mais um dos reveladores vestidos criados por madameCostanza no jantar do dia seguinte. Tomara fosse um vestido vermelho.

— Neil, são quase oito horas! — A voz de Zachary soou junto à porta doquarto da irmã. — Já está pronta?

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Eleanor olhou mais uma vez para o espelho. O vestido tinha chegado umahora atrás, e ela não conseguira ainda se acostumar com a sua nova imagem.

— Meu Deus — murmurou, passando os dedos pelo decote que mal cobria osseios. — Sinto-me praticamente nua.

— Não vai escutar nenhum comentário de minha parte, milady? — Helenindagou, colocando um xale prata sobre os ombros da patroa. — O que seusirmãos dirão?

Eleanor já havia pensado nisso. Com ou sem acordo, não teria coragem dese apresentar aos irmãos usando aquela roupa. E tudo pioraria ainda mais, quandolhes dissesse que não seriam eles a escoltarem ao baile, e sim Cobb-Harding.

— Já está na hora, suponho. Por favor, informe Zachary de que estou comuma terrível dor de cabeça e não vou comparecer à festa.

— A senhorita quer que eu minta ao seu irmão? — inquiriu a criada.

— Não consigo fazê-lo eu mesma — Eleanor sussurrou a Helen. — Vá logo,antes que Zachary arrombe a porta.Antes que Helen abrisse a porta, ela se escondeu atrás de um biombo para

que o irmão não a visse. Melhor prevenir contrariedades.A criada voltou muito pálida ao aposento.— Os santos me protejam. Vou para o inferno por isso — resmungou.— Bobagem! Quando eu chegar ao baile, eles saberão que fui eu que a

forcei a isso. Estou apenas procurando evitar uma discussão antes da festa.— Está bem, milady. Mas o que faremos agora?

— Ficaremos olhando pela janela até que a carruagem de meus irmãos sedistancie, então desceremos e esperaremos o sr. Cobb-Harding.

Na verdade, Eleanor deixou Helen junto à janela, porque não queria correro risco de os irmãos olharem naquela direção e a vissem bem, e não repousando acabeça doída em um travesseiro. Quando a notassem no baile, os três não seportariam como selvagens, bem educados que eram, provocando fatalmente umescândalo.

— Já foram embora, milady — a criada informou depois de algunsmomentos. — Juro que Sua Graça olhou diretamente para mim.

— Mesmo que ele tenha feito isso, não significa nada. —* Eleanor sentiu,porém, um arrepio na espinha.

Estava disposta a desafiar o irmão mais velho. Queria liberdade e romancee, mesmo sendo excitante, provocava lhe nervosismo. Ficou imaginando comoDeverill conseguia praticar todos os excessos sem ter uma síncope.

Por fim, Helen e a ama desceram as escadas. Stanton empalideceu eesboçou uma tentativa de impedir que a srta. Griffin saísse vestindo aquelaroupa. Eleanor, porém, ergueu a cabeça e lhe dirigiu um dos olhares típicos dosirmãos. O mordomo então abriu a porta e ela olhou ao redor à procura dacarruagem de Cobb-Harding.

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Surpresa, notou que o rapaz não viera buscá-la em uma carruagem, e simem um pequeno coche descoberto.

— Como você não irá com acompanhante, preferi vir neste veículo que émais rápido — ele justificou.

A criada parecia horrorizada, mas Eleanor decidiu seguir com sua aventura.— Boa noite, Helen. — Subiu no coche e seguiram em um trote ágil.— Posso dizer que está maravilhosa esta noite? — observou galantemente

Cobb-Harding.Eleanor percebeu que ele não tirava os olhos de seu decote. Sentiu-se

desejada e ao mesmo tempo desconfortável, tentando então se cobrir um poucocom o xale.

— Obrigada, Stephen.— Seus irmãos não deram trabalho quando você lhes disse que eu a

acompanharia esta noite?— Não. — Ela não gostava de mentir e acrescentou: — Eu... não contei nadaa eles.

— Não? E imaginam que chegará à festa com alguém que eles aprovem,Eleanor? Eu não...

— Eu lhes disse que estava com dor de cabeça e que não iria à festa. Umasurpresa completa será melhor do que várias briguinhas.

— Pois tenho uma excelente idéia — Stephen falou, empolgado.— Posso saber do que se trata?

Um sorriso maroto surgiu nos lábios do rapaz.— Está querendo ir mesmo ao Hampton Ball ou deseja viver uma aventura

muito mais real e empolgante?— O que está propondo, Stephen?— Há uma outra festa, em uma casa respeitável, mas as moças podem

 jogar, beber e convidar os rapazes para dançar.Isso cheirava a encrenca, ela pensou.— Todos usarão máscaras, assim você não precisará se preocupar com um

eventual escândalo. Poderemos sair caso se sinta desconfortável lá dentro. Maspenso que a liberdade é a sua meta, não é, Eleanor?

— Sim. Vamos então a esse baile de máscaras.Com uma máscara, ninguém saberia quem era ela, refletiu. Poderia pelo

menos observar o lugar e avaliar se queria ficar. Os irmãos pensavam que elaestava em casa, assim não se preocupariam quando não aparecesse no HamptonBall.

— Tem certeza? — Stephen perguntou.— Sim. Quero ir a essa festa que sugeriu. Cobb-Harding sorriu, satisfeito.— Ótimo. Vamos nos divertir. Será excitante e romântico. Tudo o que vem

querendo experimentar.

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Eleanor desejava que fosse assim mesmo, porque uma voz interior dizia queestava fazendo uma tremenda bobagem.

Valentine chegou ao Hampton Ball precisamente às sete e trinta e cinco danoite. De acordo com o convite, a festa começara cinco minutos antes, na

verdade, ele era o terceiro convidado a entrar. Certamente não havia nenhumadama de olhos acinzentados em um ousado vestido vermelho, nem de qualqueroutra cor que fosse.

Isso era ridículo, pensou. Nunca chegava a uma festa que não fossebastante atrasado. Sem dúvida, morreria de tédio enquanto esperava a chegadade Eleanor, que, como mandava as regras não escritas da etiqueta, surgiria bemmais tarde.

O marquês estava no meio de uma conversa com um criado quandofinalmente apareceram mais alguns convidados.

— Deverill?Valentine voltou-se para ver quem o chamava.— Francis Henning! — ele exclamou, estendendo a mão para cumprimentar

o conhecido.— Que diabos está fazendo aqui tão cedo? — O olhar de Henning passeou

pelo salão quase vazio. — Pensei que estivesse junto a uma mesa de jogo.— Bem, sempre há alguma jovem interessante nestes eventos. — Valentine

sorriu.— Então me diga quem é ela.

— Ainda não me decidi por nenhuma. Henning caiu na risada.— Oh, entendo... Muito bem, Deverill.Então, o mordomo anunciou a chegada do duque de Melbourne, e Valentine

dirigiu o olhar para a porta de entrada.— Oh, lá está Sebastian. Você me dá licença, Henning, pois preciso falar

com meu amigo.O marquês foi ao encontro de Sebastian, Shay e Zachary, que estavam

entretidos cumprimentando os anfitriões da festa. E onde estava Eleanor? Emcircunstâncias normais, era fácil localizá-la, assim como os irmãos, mas nessanoite ela não estava em parte alguma. Que maravilha!

— Deverill. — Zachary notou a presença de Valentine e o saudou. — Acabeide ganhar vinte libras graças a você. Shay apostou que não estaria aqui na horaem que chegássemos.

— Bem, estou aqui. — Valentine voltou-se para o duque. — Onde Eleanorestá? Definitivamente isso não faz bem à minha saúde, sabia, Melbourne?

O duque não se conteve e, perdendo a compostura, riu do ar de desconsolodo amigo.

— Está livre esta noite.— Como assim?

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— Eleanor teve uma súbita dor de cabeça e ficou em casa repousando.Você está livre para deixar este baile e destruir um pouco mais a sua saúde,bebendo e jogando até altas horas da noite.

Para a própria surpresa, Valentine sentiu-se... desapontado. Não teria a

chance de ver o vestido que Eleanor tinha escolhido para aquela noite.— Poderia ter mandado me avisarem.— Não sabíamos de nada até o último momento — informou Zachary. —

Eleanor queria vir; achamos até que ela chegou a se vestir. Não foi culpa nossa.Que interessante... O que Eleanor estaria tramando?— Acham que ela se vestiu para a festa e desistiu no último momento? — o

marquês perguntou, dirigindo-se a Zachary. — Não a viram deitada?Melbourne franziu a testa, atento ao que Valentine parecia desconfiar.— Está sugerindo que Eleanor esperou que saíssemos e então foi para

algum outro lugar?— Não sei. Ela não é minha irmã. Mas o fato de não terem desconfiado denada me surpreende.

O duque olhou o amigo por um momento, a expressão pensativa. Finalmente,praguejou.

— A criada estava nos observando da janela — ele murmurou. — Eu a vi, enão pensei nada na hora.

— Mas Neil fez um acordo conosco — Zachary protestou. — Ela não sairiasem nos avisar.

— Isso, meu amigo, dependeria do que Eleanor estivesse planejando. —Valentine se esforçou para não sorrir e irritar os amigos. Eleanor havia enganadoos espertíssimos irmãos Griffin. Tal façanha não acontecia todos os dias.

— Posso estar errado, mas talvez ela esteja em casa, dormindo.— Shay, volte para casa e veja se Eleanor está lá — ordenou Melbourne.Sem dizer nada, Charlemagne virou-se e saiu do baile.— Vou ver se as amigas dela estão aqui — Zachary falou, antes de se

afastar.— Todas estão — Valentine murmurou.— Deverill...— Oh, não, não vai me pedir para fazer coisa alguma.Vocês a perderam. Ganhei a noite livre. Se descobrir onde Eleanor estará

amanhã, mande-me uma nota. Melbourne sorriu levemente.— Boa noite, Deverill.— Pretendo ter uma ótima noite, Sebastian.— Está se divertindo, meu belo cisne?Eleanor piscou várias vezes. Nunca tinha visto um candelabro brilhar tanto,

e ela não conseguia afastar os olhos a luz.— Creio que tomei conhaque demais e...

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— Foi rum que você bebeu — o homem usando uma máscara de raposanegra respondeu. — E tomou menos do que qualquer outra mulher que se encontraneste baile.

Eleanor fez um gesto chamando o garçom que também estava mascarado.

— Outro rum, por favor — ela pediu enquanto observava um casal em umadas alcovas se beijando diante dos demais convidados.Usavam máscaras de lobos. O homem segurava o seio da moça com uma das

mãos e o apertava. Ela gemeu e Eleanor percebeu que era de prazer. Procurouafastar os olhos da visão perturbadora. Estava tão zonza que nem sabia exata-mente como reagir ante esses atrevimentos a que assistia.

O homem que usava máscara de raposa chegou tão perto que Eleanorsentiu a respiração quente junto ao pescoço.

— Talvez devesse se sentar por um momento, meu lindo cisne.

Perfumes fortes misturados com o cheiro de bebida e de corpos excitadosdeixavam o ar quase irrespirável. Eleanor queria pedir a Stepheh que fossemembora dali, mas estava tão lânguida e sem o controle total de seus pensamentos,que nada disse.

— Sim, vou me sentar. — Ela fez um movimento e a cabeça começou a girarcomo se estivesse dançando uma valsa.

Somente não caiu no chão porque Stephen a segurou a tempo.— Vamos encontrar um lugar mais discreto onde possa descansar um pouco

— ele sussurrou.

— Acho melhor voltarmos para casa — ela balbuciou. — Já ficamos nestelugar por tempo demais.

— Iremos daqui a pouco — Stephen concordou. — Depois que você serecuperar. Não podemos deixar Melbourne vê-la desse jeito, não é verdade?

— Oh, por favor, não diga esse nome aqui — Eleanor pediu. — Não queroque saibam quem sou.

— Está bem. — Stephen puxou uma cortina pesada e ajudou-a a entrar emuma pequena sala com apenas um sofá e uma mesinha, de onde reluzia uma vela. —Aqui estamos nós. Acomode-se, belo cisne.

Ela se sentou no sofá e teria dormido no mesmo instante se a presença deStephen ao seu lado não a inquietasse.

— Assim está melhor? — ele perguntou.— Está. Obrigada.— Feche os olhos que ficarei vigiando.Um leve riso escapou dos lábios de Eleanor, que agradeceu ao rapaz.— Você é tão galante — ela conseguiu dizer.Foi quando começou a sentir os dedos de Stephen em seu rosto, depois na

nuca e, finalmente, ele se atreveu a puxar para o lado a manga do vestido einfiltrou a mão, pegando com firmeza um de seus seios.

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— Oh, você é adorável — Cobb-Harding murmurou, os lábios cobrindo os deEleanor.

Em seguida, ele infiltrou a língua sedenta por entre os lábios macios aponto de lhe tirar a respiração. Ao mesmo tempo, uma das mãos fortes começava

a levantar sua saia.— Pare! — ela quis gritar, porém, a voz soou baixa, um mero murmúrio.Tentou afastar o corpo de Cobb-Harding, mas o rapaz a segurou firme. — Nãoquero que vá adiante! — conseguiu dizer.

— Pois sei que está gostando — ele sussurrou. — Todas as mulheres gos...Stephen se viu suspenso pelo colarinho.— O que está acontecendo? — ele indagou, atordoado.— Deverill — Eleanor murmurou, quando reconheceu os lhos verdes por

baixo de uma máscara de pantera negra.

O homem enorme mantinha Cobb-Harding no ar. O marquês se voltou paraela e sorriu levemente.— A seu serviço, milady.— Tentei...— Não se preocupe em me dar explicações agora. Está machucada?— Não, mas completamente tonta.Ele se aproximou e subitamente Eleanor se lembrou de que estava quase

despida. Então tentou se ajeitar.— Deverill, eu...

— Vamos arrumar a sua roupa — ele falou.— Quero voltar para casa, Valentine.— E voltaremos. Espere apenas um momento. — Ele se voltou para Stephen

que o olhava, apavorado. — Se chegar ao meu ouvido algum rumor do queaconteceu aqui, você estará aniquilado. Vou ter o prazer de destruí-lo. Fui claro?

— Sim... sim...A atitude de Cobb-Harning merecia ser punida com maior rigor, mas

Valentine não tinha um minuto a perder. Precisava tirar Eleanor imediatamentedaquele lugar. Se alguém a reconhecesse, sua reputação estaria arruinada.

Ajudou-a a se levantar, e, com um suspiro, ela acabou se encostando-se nopeito forte. Caminhar não chegava a ser um problema, já que Corbett a seguravafirme, impedindo que ela viesse a desabar.

Já na rua, agradeceu aos céus por ter vindo na sua carruagem, apesar detê-lo feito com intenções menos inocentes. Pensara em arranjar uma garota parase divertirem, e estar com condução própria facilitava tudo.

Assobiou duas vezes e o cocheiro surgiu imediatamente, conduzindo oveículo.

— Dê algumas voltas em torno do Hyde Park—Valentine instruiu enquantoacomodava Eleanor no banco.

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— Deverill. — A voz fraca e sonolenta de Eleanor foi ouvida.— Descanse, amor. Está a salvo.— Sinto-me estranha.Ele gentilmente tirou a máscara de cisne de seu rosto.

— Foi drogada, Eleanor. Cobb-Harding deve ter misturado algum calmantena bebida que a fez tomar.— Mas... mas por que ele agiria dessa maneira?—Para não encontrar resistência aos propósitos sujos que tinha em mente.— Você também costuma agir dessa forma?A expressão no rosto de Valentine foi de protesto.— Não preciso drogar as mulheres com quem saio. Ou elas querem estar

comigo, ou nada acontece entre nós.— Mas você estava no Belmont.

— Apenas para o pecado consensual. — Ele amassou a máscara de cisne. —O que achou que lhe aconteceria indo a esse lugar?Eleanor fechou os olhos por um momento, o rubor cobrindo seu rosto.— Não sei. Stephen deveria me levar ao Hampton Ball, mas sugeriu outra

festa e na hora me pareceu... algo que Melbourne nunca me permitiria.— Então sabia que estaria se envolvendo com o pecado. Lágrimas

começaram a correr pelo rosto delicado.— Não sei. Eu queria... me sentir livre. Como você. Valentine franziu a testa

e observou Eleanor por um longo minuto. Aquilo era insano e extremamente

enervante.— Agir como eu somente a arruinaria, querida.— Mas eu... — Ela parou de falar, o rosto ficando branco como a neve. —

Acho que estou passando mal do estômago — murmurou, cobrindo a boca com amão.

— Pare a carruagem, Dawson — o marquês gritou para o cocheiro,colocando a cabeça para fora da janela.

O veículo foi imediatamente freado. Valentine ajudou Eleanor a descer e alevou até alguns arbustos, onde ela se inclinou e passou mal.

— Oh, Deus — ela gemeu, endireitando o corpo após o esforço.Sem dizer palavra alguma, Corbett lhe estendeu um lenço e ofereceu o

braço para voltarem à carruagem. Ao subir, Eleanor hesitou, olhando em volta.— Não estamos perto de minha casa — ela comentou.— Não rapto moças também — resmungou ele. — Se você aparecer em casa

nas condições em que se encontra, nem sei o que Melbourne poderia fazer.— Oh, meus irmãos não podem descobrir onde eu estava há pouco — ela

disse em desespero. — Pensam que fiquei em casa, dormindo. Deverill, seSebastian ficar sabendo o que aconteceu, vai me obrigar a casar com quem eleescolher. Tenho de voltar para casa e passar a impressão de que não saí de lá.

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Valentine ficou um momento em silêncio. Se o duque tomasse conhecimentodo que tinha feito para livrar Eleanor de um escândalo, tanto a obrigação como odébito estariam liquidados. Talvez o amigo precisasse descobrir a situaçãoconstrangedora em que a irmã havia se metido.

— Deixemos para nos preocupar com isso daqui a pouco — respondeu ele,ajudando-a a acomodar-se no banco da carruagem.— Por favor, Valentine, prometa-me que não vai dizer a ninguém aonde

Stephen me levou e o que ele tentou fazer.— Não estou certo se meu silêncio faria algum bem. Cobb-Harding tem

muito a ganhar e provavelmente vai espalhar o rumor de que manchou suareputação.

Eleanor arregalou os olhos, mais assustada ainda.— Se ele pensa que com isso me forçará a aceitá-lo como marido, está

redondamente enganado.— Coisas estranhas acontecem sem motivo algum. Eleanor tentou absorveraquelas palavras.

— Por que diz isso?— Não quero preocupá-la ainda mais, mas, antes que eu deixasse o

Hampton Ball, Melbourne havia mandado Shay voltar para casa, a fim de sabercomo você estava. A esta altura, eles já devem ter descoberto a verdade.

Eleanor encurvou os ombros e tal postura indicava o seu desalento.Valentine pensou rapidamente em alguma desculpa que ela pudesse dar aos

irmãos.— Vauxhall — ele disse.— O quê? — Ela parou de chorar por um instante.—Neste exato momento, acrobatas estão se apresentando em Vauxhall.

Homens andando com pernas de pau, caminhando sobre cordas, etc, etc.— E o que isso tem a ver comigo?— Você vai dizer a Melbourne que preferiu ver os acrobatas em vez de ir

ao baile. Por essa razão, esperou os irmãos saírem de casa e foi assistir aoespetáculo com sua criada. As escondidas.

A esperança começou a surgir nos olhos de Eleanor.— Mesmo assim, Melbourne ficará furioso.— Oh, certamente, mas não fará um escândalo nem a obrigará a se casar

imediatamente.— E se Stephen espalhar boatos?— Deixe-o por minha conta. Quando eu tiver terminado com ele, não estará

nem disposto a mencionar o seu nome outra vez, a não ser em cumprimentosmuito educados.

Eleanor inclinou-se e pegou a mão de Valentine.

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— Eu lhe devo muito, nunca serei capaz de retribuir um favor à altura. Eum bom amigo. Um homem generoso.

Valentine puxou a mão encerrando o contato, sentindo-se subitamentedesconfortável.

— Eu é que agradeço — ele falou. Então enfiou a cabeça para fora da janela da carruagem mais uma vez. — Dawson, siga para a Mansão Griffin. Parenuma esquina antes de chegarmos lá.

— Sim, milorde.Dessa forma, Eleanor poderia fazer o resto do caminho a pé, usando de

muita discrição. Ele a acompanharia até lá.— Deverill, não sei o que dizer.— Primeiro, prometa-me que nunca mais vai se envolver em uma situação

semelhante.

— Oh, eu prometo — ela disse com veemência.— Em segundo lugar, nunca mais use esse vestido. E uma pena, porqueparece uma deusa do fogo com ele, mas alguém que estivesse no Belmont poderiavir a reconhecê-lo e, assim, saber quem o usava. Principalmente porque vocêchegou com Cobb-Harding e saiu comigo.

Eleanor concordou, dirigindo ao seu traje um olhar crítico.— Nunca mais serei capaz de usá-lo. — Subitamente ela se lembrou de que

Valentine vira parte do corpo dela sem roupa alguma. — Você viu...— Nada que não tivesse visto antes — ele falou, como se adivinhasse seus

pensamentos. — Muitas vezes.— Não vai contar o que aconteceu a ninguém? Sei que é muito ligado a

Sebastian, mas, por favor, Deverill, não diga nada.— Dizer o quê a quem? E, pelo amor de Deus, pare de me chamar de

Deverill, meu nome é Valentine. — Ele forçou um sorriso, esperando deixarEleanor mais calma. — Sou o Heu salvador, não é?

Ela concordou com um gesto de cabeça e se recostou no banco.— Lembre-se, Eleanor, escapou de casa para ver alguns acrobatas.— Acrobatas. Homens caminhando sobre pernas de pau.— E voltou direto de Vauxhall, sem que nenhum conhecido a tivesse visto

por lá. Dirá isso?— Chegamos — anunciou o cocheiro.— Obrigada, Valentine. Muito obrigada.— Foi um prazer, milady.Desceram da carruagem e o marquês a escoltou até bem perto da Mansão

Griffin.Para ele seria mais conveniente se contasse a Melbourne que tinha

acontecido. Mas havia prometido a Eleanor não fazê-lo.Voltou à carruagem com a cabeça cheia de pensamentos.

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Cobb-Harding dificilmente se lembraria do que tinha acontecido. Estavabêbado demais para estar consciente de qualquer coisa.

Bem, essa era a esperança de Valentine. Caso contrário, teria de tomar

alguma atitude radical.Assim que Eleanor acordou, a dor de cabeça que a atormentara durante anoite aumentou.

— Que horas são? — ela perguntou à criada.— Seis e meia, milady.— Pelo amor de Deus, feche as cortinas imediatamente. Ainda não estou

pronta para me levantar.— Sua Graça pediu que a avisasse de que quer toda a família reunida para o

café da manhã, milady.

Eleanor sentiu o coração bater em descompasso. Será que Melbourne tinhadescoberto alguma coisa?— Não me sinto bem a ponto de tomar café da manhã. Só de pensar em

comida fico pior.— Milady, Sua Graça disse que a senhora deve estar presente, ou serei

despedida por não ter lhe passado as instruções devidamente.— O quê? — Eleanor levantou a cabeça dos travesseiros. — Ele não pode

fazer isso!Helen fez um gesto com as mãos, como se dizendo impotente para impedir

que o duque fizesse valer os seus desejos.— Então vou descer — Eleanor anunciou, fazendo um esforço enorme para

sair da cama. — Simplesmente diga a meu irmão que pare de ameaçar despedir osmeus criados.

A empregada pareceu bastante aliviada ao ver a patroa se levantar.— Obrigada, milady.A cabeça continuava doendo terrivelmente e ela não sabia se seria efeito

do calmante que ingerira na noite anterior ou do excesso de bebida consumida.Já pronta, desceu as escadas, soltando um gemido a cada degrau vencido.

Finalmente entrou na sala do desjejum. Lá estavam apenas Sebastian e Penélope.— Bom dia — ela disse, não reclamando com o irmão dedo à presença da

sobrinha na sala.— Bom dia — ele respondeu com voz agradável, enquanto Hegurava com

uma das mãos uma torrada e com a outra um documento que parecia ser oficial.Melbourne tinha sessão no Parlamento naquela manhã, Kleanor lembrou-se.— Está andando engraçado, tia — Peep falou, conforme Eleanor pegava um

prato e servia-se no bufê.— E por causa de minha dor de cabeça — Eleanor respondeu.

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Graças ao marquês de Deverill, ela teria uma desculpa pia usível para suaescapada na noite anterior. Se Melbourne Kwbesse o que tinha acontecido deverdade, ele a mandaria de volta a Devon naquele mesmo dia.

Suspirou pesadamente e sentou-se ao lado da sobrinha. Devia a Deverill

tanto por ter salvado sua virtude, como por lhe dar uma outra chance de escolherum marido, não que estivesse em busca de romance naquele exato momento. De-pois de ter caído na armadilha de Stephen Cobb-Harding, 'lisaparecera porcompleto o seu entusiasmo por arranjar um companheiro, sem antes consultar osirmãos sobre o his-lorico do possível pretendente.

Agora que podia pensar com maior clareza, precisava ad-inii ir que a festaonde Stephen a havia levado era um lugar indecoroso. Voltou a agradecermentalmente a Deverill. aquela manhã poderia ter se transformado em ummartírio, cwiho tivesse perdido a honra com aquele patife.

Zachary entrou na sala com ar de preocupação.— Aconteceu alguma coisa, Melbourne? — ele questionou.— Nada de relevante. Por que pergunta?— Porque é muito cedo. Nem são sete horas ainda!— Espero que não esteja fazendo isso para punir Eleanor — Shay interveio,

entrando na sala de desjejum. — Eu bem que preferia acordar um pouco maistarde. Fui para a cama ha a penas umas três horas.

Zachary e Shay serviram-se no bufê e sentaram-se à mesa.— Este é o novo hábito de nossa família. Já que cada um faz o que quer,

sem consultar os outros, teremos todos os membros da família reunidos pelomenos na hora do café da manhã. Três vezes por semana. Enquanto estivermossob o mesmo teto.

— Sempre às sete horas? — Zachary perguntou, servindo-se de umasegunda xícara de café.

— Nas manhãs que devo ir ao Parlamento, sim.— Depois do que aconteceu na noite passada, acho que esse tempo que

passaremos juntos fará bem a todos — disse Melbourne.Eleanor dirigiu um olhar meigo para o irmão.— Quero me desculpar pelo que fiz ontem, Sebastian. Fiquei animada com a

perspectiva de assistir ao espetáculo dos acrobatas em Vauxhall e não tivecoragem de falar a respeito. Temi que não me permitisse ir até lá, apesar denosso acordo. Contudo, nada fiz que provocasse qualquer escândalo envolvendo omeu nome.

Sebastian limpou os lábios com um guardanapo antes de responder:— Indo apenas com a criada, você colocou em risco a segurança das duas.

Por essa razão, quero que nos informe os lugares aonde pretende ir, mesmo quese trate de um simples passeio às lojas durante o dia e acompanhada de alguma

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matrona. — Antes que Eleanor pudesse protestar, ele fez um gesto intimidadorcom a mão. — E isso não é negociável.

Apesar de ter ficado irritada, não pretendia discutir a decisão do irmão.Não depois da confusão em que havia se metido na noite anterior. Queria ficar

longe de qualquer incidente desagradável no futuro.— Muito bem, estou de acordo — ela murmurou.Por um momento, o duque ficou em silêncio, surpreso com a facilidade com

que conseguira a promessa de Eleanor.— Então estamos entendidos. Agora, se me derem licença, irei ao trabalho.Depois que o duque deixou a sala de desjejum, Eleanor informou Shay e

Zachary de que passaria grande parte do ia fazendo compras com Bárbara. Entãose retirou, dividida entre o desejo de voltar para cama e o de se arrumar parasair. Seguiu para a cozinha onde pediu à cozinheira que cortasse um pepino em

fatias. Pretendia colocá-los sobre os olhos. Talvez diminuíssem a terrível dor decabeça que persistia.Quando Eleanor já estava em seu quarto, ouviu baterem à porta. Fez um

gesto a Helen para que atendesse. Era o mordomo.— Sim, Stanton?— Há uma visita para a senhorita lá embaixo — ele a informou,

estendendo-lhe um cartão.— Oh, diga a lorde Deverill que descerei em um minuto — ela falou, a voz

não muito firme depois de examinar o cartão.

— Sim, milady.Antes que o mordomo deixasse o quarto, acrescentou:— Sobre a noite passada... Eu... agradeço pela discrição... Um leve sorriso

surgiu nos lábios de Stanton.— Sou sempre discreto, lady Eleanor. Presumo que seus irmãos pensem que

a senhorita deixou a casa sem o meu conhecimento. Já que voltou bem, não vejorazão para dissuadi-los dessa idéia.

— Obrigada.— Informarei lorde Deverill de que a senhorita logo o atenderá.Eleanor respirou, aliviada, quando o mordomo deixou o quarto.

Aparentemente soube que tinha um aliado naquela casa.— Também serei discreta, milady — a criada afirmou enquanto penteava os

cabelos da patroazinha.— Obrigada, Helen.— Contanto que não se coloque em perigo novamente, milady. Fiquei

apavorada na noite passada, vendo-a deixar esta casa acompanhada daquele moçonão recomendável e voltando tão tarde.

— Tomarei mais cuidado daqui para a frente. Prometo. E obrigada por sepreocupar comigo, Helen.

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A empregada fez uma leve reverência.— A senhorita merece, lady Eleanor.Em seguida desceu ao encontro de Deverill, seguida por Helen. Por uns

tempos, não iria a parte alguma sem uma acompanhante. Pelo menos, até que

pudesse fechar os olhos sem ver uma máscara de raposa negra à frente.Valentine estava junto à janela, com um copo de uísque na mão, enquantoobservava a rua. Pelo traje, Eleanor percebeu que o marquês viera a cavalo. Nãoconseguiu deixar de admirar a elegância do corpo perfeito.

— Bom dia. — Ela abriu um sorriso, deixando claro que a presença deValentine era bem-vinda.

— Já vai sair? Não é ainda muito cedo? — ele quis saber, vendo-adevidamente vestida para um passeio.

— Oh, vou fazer compras. Pensei que estivesse no Parlamento esta manhã.

— Sabe que aqueles malucos marcam reuniões para as oito horas? Oitohoras! — o marquês exclamou. — Prefiro ir à sessão da tarde.Eleanor riu, grata por Deverill não ter feito referência alguma ao

acontecido na noite anterior.— E a razão de sua visita...? — ela perguntou, lembrando-se da presença de

Helen naquela sala.— Vim perguntar como está se sentindo, já que seus irmãos me contaram

que não passou bem ontem à noite e por isso perdeu o baile.Eleanor respirou fundo. Aquele homem tinha muitas qualidades. E nunca

fora atrevido nem havia tentado usar com ela o seu famoso poder de sedução.Subitamente, Eleanor sentiu o desejo de que Valentine a cortejasse.— Estou me sentindo muito melhor. Uma boa noite de sono faz maravilhas,

foi o que descobri.— Aceito a sua palavra e estou feliz que tenha melhorado. Fazendo um

gesto para que Helen permanecesse onde estava, Eleanor aproximou-se deDeverill, que ainda estava junto à janela.

— Posso perguntar uma coisa? — ela sussurrou.— O que quiser.— Na noite passada, como soube que era eu que usava a máscara de cisne?Deverill franziu a testa de leve antes de responder:— Na verdade, não a reconheci de imediato. Vi uma bela dama usando uma

máscara de cisne e um traje maravilhosamente provocante, o que me chamou aatenção.

— Oh, Deus. Foi isso?— Ah, sim. Não sei se tem consciência de que a cor vermelha fica muito

bem em você, Eleanor.Ela notou que o coração disparara. Também podia sentir um calor

envolvendo seu corpo inteiro. Deverill estava flertando com ela, coisa incomum.

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— Oh, que pena que eu tenha cortado em tiras o vestido que usei ontem ànoite.

Ao despir-se logo após ter chegado em casa do baile de mascaras, Eleanorquisera apagar da memória a lembrança de Cobb-Harding tocando-a de forma tão

indecente. Assim, havia rasgado o vestido.O que acontecera na noite anterior tinha sido provocado pela súbitaliberdade de que ela desfrutava agora? Ser livre representava ser capaz de viversem regras, sem moral?

Não queria que liberdade representasse algo assim.— Na noite passada — Eleanor disse em voz baixa, lembrando-se de que

Helen prometera ser discreta se ela nunca mais se envolvesse em enrascadas —,eu apenas queria me sentir livre. Ansiava por um pouco de aventura, um pequenoromance com um belo estranho.

O olhar de Valentine se deteve nos lábios de Eleanor. Queria estar com umestranho? Poderia ter mencionasses seus desejos a alguém com quem tivesse umrelacionamento mais profundo.

—Tem algum nome em mente? — Ela sentiu dificuldade para falarnormalmente, pois de súbito sentira falta de ar.

— Essa é a nossa fantasia, Eleanor. Talvez pudesse me contar o que temem mente. — Ele estreitou a distância entre os corpos, ficando sedutoramenteperto demais.

Naquele momento Eleanor desejou ardentemente ser beijada. Oh, queria

experimentar o beijo do marquês de Deverill. Mas não se moveu, pois sabia queesse homem lhe era proibido. Ele fazia parte do círculo Griffin.

De repente, Valentine afastou-se e colocou o copo de uísque sobre umamesa.

— Devo ir agora. Não tolero a Casa dos Lordes com o estômago vazio.Ele se voltou para a saída, mas Eleanor o pegou pelo braço.— O que aconteceu na noite passada foi um ato de liberdade ou romance?— Nem uma coisa, nem outra. Foi pecado. Disseram-me haver uma

diferença entre romance e pecado. Mas devemos, pelo menos uma vez na vida,experimentar todas as três opções.

— Mesmo o pecado?— Oh, sim. Apesar de que ele deve ser sempre consensual e lhe dar mais

prazer do que aquilo que você quase experimentou ontem.Com um gesto de despedida, Valentine se pôs a caminhar.— Logo voltarei a vê-lo? — ela perguntou. Ele virou o rosto e sorriu.— Estarei por aqui.Eleanor escutou as botas do marquês ressoando pelo hall e depois o som da

porta da frente sendo aberta e fechada. Ele tinha todas as respostas. Conhecia adiferença entre pecado e liberdade, e como encontrar os dois. Suspeitava que

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Deverill soubesse também alguma coisa sobre romance. Ninguém poderia negar obrilho que vira naqueles olhos verdes.

Era um homem perigosamente irresistível. Mais do que isso. Confiável.O marquês de Deverill mantinha-se um pouco afastado de Eleanor e da

amiga, lady Bárbara. As duas faziam compras e no momento haviam entrado emuma loja de doces. Tecnicamente não precisaria seguir Eleanor durante as com-pras, um ato que Melbourne considerava inocente.

No entanto, Valentine não sabia explicar a razão que o levara a ficaresperando para ver Eleanor sair de casa, a fim de se encontrar com Bárbara.Tampouco entendia por que continuava seguindo as duas mulheres, em vez de irao Parlamento.

Não havia lógica alguma em suas atitudes. Tudo não passava de um desejo,uma necessidade, de continuar vendo Eleanor. E pensar que quase a beijara na

saleta da casa de Melbourne. Isso não fazia sentido. Já se envolvera antes emsituação de risco, mas nunca trairia amigos. Nunca.Nesse momento, ouviu alguém chamá-lo. Voltou-se e viu-se diante de

Zachary Griffin, que saía de uma loja de artigos masculinos.— O que está fazendo aqui? — Zachary perguntou.— Ora, estou pagando a minha maldita dívida para com Melbourne.Zachary olhou em torno com curiosidade.— Minha irmã está por aqui?— Na quadra de baixo. Faz compras com lady Bárbara Howsen.

— Oh, ela avisou que o faria — Zachary observou. — Melbourne já contousobre a escapada que ela deu até Vauxhall?

— A própria Eleanor me contou quando fui até a Mansão Griffin perguntara ela se tinha melhorado.

— Oh, é minha saúde que agora está me preocupando, mos novas regras decomportamento em casa, sabia?

— Ouvi dizer. Tudo isso por causa de Eleanor? Por que ao aceitam que elacresceu e deseja experimentar o que o mundo pode lhe oferecer?

— Não sei. Penso que minha irmã não pretende fazer nada de errado. Porque se envolveria voluntariamente em problemas?

— As mulheres raramente são razoáveis, meu caro.

Zachary caminhou em silêncio ao lado de Valentine.— Suponho que somos protetores demais, mas não é culpa nossa. Quando

ela desapareceu em Devon tempos atrás... Nunca vi Sebastian tão desesperado.Como? Eleanor tinha desaparecido antes? Mas parecera tão genuinamente

perdida na noite anterior.— Melbourne nunca me contou...

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— Ele sabe que você não gosta de falar sobre dramas familiares —Zachary explicou. — Neil tinha doze anos de idade, e Melbourne uns vinte e três?Ela costumava fazer tudo o que fazíamos, nadar no lago, pescar, pular cerca —Zachary riu com a lembrança —, até cavalgar sem sela. Bem, certa tarde, Neil

pegou o garanhão de Sebastian, um cavalo enorme chamado Atlas. Quarentaminutos depois, o animal voltou sozinho.Valentine notou que Eleanor e Bárbara entravam em outra loja. Olhou

então para Zachary.— E o que tinha acontecido?— Os criados e a família inteira saíram em busca de Eleanor. Umas

quarenta pessoas, todas simplesmente certas de que encontraríamos Neil caídapor algum canto e com alguma fratura no corpo. O sol se pôs e ainda não ahavíamos localizado.

Valentine viu-se envolvido com a história e ansiando por conhecer o queacontecera com Eleanor.— E então?— Arranjamos tochas e lanternas e continuamos procurando. Melbourne

estava em desespero, gritando o nome de Eleanor em altos brados. Imaginava quealguém tivesse raptado a nossa irmã com a intenção de pedir um resgate.

Não tem idéia de como ele estava. Já passava da meia-noite quando Shayatirou para o alto com sua pistola, e todos corremos para descobrir que ele haviaencontrado Eleanor dormindo sobre uma pilha de folhas, ela esperava o ama-

nhecer para seguir para casa. Tinha quebrado apenas o braço. — Zachary riu. —Queria saber por que tínhamos demorado tanto para encontrá-la.

Valentine acabou rindo.— Parece que a garota era a única entre todos que estava imando o bom

senso.— Talvez, mas passamos a ficar mais atentos ao compor-i amento dela.

Eleanor permaneceu muito tempo fora de nos-sas vistas, Deverill. E posso dizerque foram as piores horas de minha vida.

Então Valentine fizera bem não contando aos irmãos Griffin sobre terencontrado Eleanor no Belmont.

— Outra razão pela qual prefiro não ter família — sen-irociou o marquês.

Capítulo III

Por que iria querer assistir a um recital de música, Shay? — Eleanorperguntou, as mãos na cintura em sinal de impaciência. — Nunca foi disso.

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Ela tinha certeza de que era uma das manobras de Melbourne, tentandoalterar as condições do acordo que haviam feito. Mandar um dos irmãos como cãode guarda para acompanhá-la era algo que ultrapassava os limites do razoável.

— Decidi aprimorar a minha educação artística. Podemos ir? Já está

pronta?— E espera que eu acredite nessa sua súbita sede de cultura?Charlemagne suspirou e balançou a cabeça, concordando com a irmã.— Suponho que não posso esperar que acredite nisso. Mas não aceita que

eu apenas me assegure de que chegará a salvo ao seu destino?— Não pretende...— Depois que chegarmos lá, irei sentar no último banco da sala de

espetáculo e me distrairei flertando com todas as mulheres solteiras e bonitasque estiverem por perto.

Pelo menos o irmão era sincero.— E não vai interferir se eu flertar com todos os homens solteiros ebonitos que estiverem assistindo ao recital?

Shay mordeu os lábios, um leve sinal de sua irritação.— Irei apenas lhe fornecer condução, Eleanor. O resto ficará por sua

conta. Porte-se como achar que deve e queira.Até que era uma proposta razoável.— Vou exigir que mantenha a sua palavra, Shay.A idéia de ter alguém em quem confiava por perto dava a Eleanor uma

absurda sensação de segurança. Porém, nunca revelaria sua fraqueza a ninguém, anão ser a Deverill. Naturalmente obrigaria Shay a manter a palavra de nãointerferir, caso resolvesse flertar com algum cavalheiro. Mas dessa vezprocederia com cautela, ou pelo menos manteria os olhos bem abertos.

O irmão portou-se como prometera. Uma vez que entraram na sala dorecital, sem fazer qualquer comentário, ele hc afastou, indo conversar com osdonos da casa e deixando líleanor à procura de uma bebida.

— Oh, que surpresa!Eleanor reconheceu a voz de Deverill no mesmo instante.— Não sabia que tinha sido convidado.— Não fui. Percebi muitas carruagens paradas diante da casa e entrei.

Ninguém me barrou a passagem.— Nem pensariam em fazê-lo. Não quando aqui dentro há tantas damas

solteiras à procura de marido.— Oh, então caí em uma armadilha?Eleanor riu baixinho para não atrapalhar quem tocava naquele momento.— Uma armadilha bem-feita, usando ponche e chocolates como isca.— Encontrou algum marido em potencial? Ela franziu o nariz de forma

petulante.

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— Estou aqui apenas pelos chocolates. — Fitou-o com olhar de malícia. —Faria algo para mim, milorde?

Ele ficou em silêncio por um longo momento, o que a fez recear que omarquês recusasse. Finalmente, ele falou:

— O que tem em mente? Um beijo. Suas mãos sobre mim, ela pensou.— Preciso de um guia.— Está pretendendo viajar à África?— Não me provoque. Não é desse tipo de guia de que necessito.— Estou inteiramente às suas ordens.— Não sei por quanto tempo Melbourne vai honrar o nosso acordo —

Eleanor falou bem pausado. — E não terei outra oportunidade se ele desfizer ocombinado. Quero encontrar um marido, e não é só. Quero me sentir livre acimade tudo. Talvez, se você me guiasse, eu acabaria descobrindo como posso

alcançar o que almejo.O subconsciente de Valentine estava lhe pregando peças e na certadivertia-se em vê-lo em situação tão peculiar.

— Não precisa de mim como guia, Eleanor. Não sou a pessoa indicada.— Minha experiência diz o contrário. Em quem mais eu confiaria? Em Cobb-

Harding?Dessa vez ele não conseguiu deixar de rir.— Pecado e confiança não são compatíveis. Um trai o outro.Um leve sorriso surgiu nos lábios de Eleanor.

— Não quer me ajudar?Vir até o recital tinha sido uma má idéia. Era outro dos eventos inocentes

da lista que Melbourne lhe dera e que dispensavam a presença de um vigia. Noentanto, Valentine não conseguira resistir. E agora Eleanor estava pedindo que aensinasse a pecar.

— E irmã de amigos meus — o marquês resmungou. — Duvido que elesapreciassem essa minha ajuda.

— Está absolutamente certo. Melbourne iria preferir que eu me sentassenuma sala de costura e ficasse bordando, até que ele me encontrasse um maridoadequado e chato. Então eu deveria dar a esse idiota alguns filhos, tornar-meuma matrona e oferecer chá às minhas amigas. „

— Não é o que toda mulher almeja?— Não posso falar por todas as mulheres, Valentine, mas certamente não é

o que quero da vida. Ao contrário, é tudo o que espero que não me aconteça.— Shhhh... — Alguém da platéia pediu silêncio. Em geral, Valentine não se

importaria com o fato de estar acomodando, mas, naquele momento, sentiu-segrato pela iniorrupção. Nunca antes, uma mulher lhe provocara tal reação.

— Ache o marido primeiro — Deverill propôs baixinho — E deixe que elelhe ensine o que quer saber.

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— O que ele quiser que eu saiba, não é? Nada disso. Serei Ml a decidir oque desejo experimentar.

Como haviam surgido tais idéias na cabeça de Eleanor Griffin? Antes tãoinfantil e ingênua, agora querendo apren-ci como pecar sem provocar um

escândalo?Quem sabe não poderíamos deixar esta conversa para ais tarde? — omarquês indagou. Precisava de mais tempo para pensar.

— Está bem. O que me diz de irmos ao Hyde Park amanhã cedo?— O quê? Eu? Ela riu mais uma vez.— Por favor, Deverill? Valentine? Não sei mais o que fazer. Não quero

cometer outro erro como o da noite passada.Ele suspirou e acabou concordando. —Está bem. Passarei para apanhá-la em

sua casa às onze horas. E trate de levar uma acompanhante.

— Oh, sem dúvida. Obrigada, muito obrigada.— Ele está atrasado — Eleanor disse, andando com irri-t ação de um ladopara o outro.

— Sim, milady — Stanton concordou, consultando o relógio.Estava cada vez mais agitada à espera de Deverill. Aliás, li começava a

ficar angustiada demais. Mesmo que quisesse He distrair, a mente não seacalmava.

Fizera sentido recrutar o marquês, pelo menos era o que havia imaginado.Quem melhor do que ele para mostrar como ser livre em Londres? Não havia

outra pessoa para indicar um marido que não fosse um chato, como os aquelesconstantes da lista de Melbourne?

Na verdade, Eleanor se sentia atraída por Deverill, apesar de que não tinhasido essa a principal razão que a levara a escolhê-lo como guia.

Ou estava enganada a respeito?— Bom dia—Valentine cumprimentou Eleanor, entrando na sala.— Está atrasado — ela reclamou mais por dizer alguma coisa e não deixar

evidente o coração disparado.— Pensei que o meu recrutamento tivesse algo a ver com liberdade. Decidi

dormir mais que o de costume esta manhã. — Ele sorriu. — Afinal, fui me deitarbem tarde.

— E o que provocou essa noite de insónia?— Uma linda...— Valentine! — Sebastian entrou na sala naquele momento.— Melbourne. Eleanor e eu vamos dar um passeio.— Oh, sim. — O duque virou-se para a irmã. — Posso pedir que volte cedo

para tomar chá comigo e Peep na casa de tia Tremaine?Os olhos de Eleanor brilharam ao ouvir o nome da tia querida.

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— Voltarei lá pelas duas horas — Eleanor respondeu animada, e o irmãoconcordou.

— Então podemos ir ao parque? — Deverill perguntou, oferecendo-lhe obraço.

Ela esperou o duque se afastar antes de responder:— A não ser que tenha um lugar mais interessante em mente e que ofereçanovas oportunidades.

— Oportunidades?— Para que eu possa observar e aprender por meio do seu exemplo.Um leve sorriso surgiu no rosto de Deverill.— Por ora o parque será suficiente.O marquês ajudou Eleanor a entrar no pequeno veículo atrelado a uma

parelha de cavalos. Ao chegarem às redondezas do parque, ele pediu ao cocheiro

que parasse, a fim de ue pudessem passear a pé e conversar à vontade.— Pensei que estivesse determinada a não obedecer mais ordens de seusirmãos — constatou Valentine.

— Por que diz isso?— Porque permitiu que Melbourne, indiretamente, marcasse a hora em que

nosso encontro deveria terminar.Oh, nesse caso, não foi uma ordem. Quero de fato ver inha tia. Ele apenas

lembrou de minha promessa em isitá-la.O marquês pareceu pensativo por alguns instantes. Depois se voltou para

Eleanor.— Não há regras quanto a um verdadeiro estado de liberdade, mas sei que

não faço promessa alguma.— Porque se acha incapaz de manter a palavra?— Não, porque não gosto de me sentir obrigado a nada. Paço como quero e

quando bem entendo.Eleanor franziu a testa e discordou:— Acho que está enganado. Ser livre não o isenta de obrigações.Bem, tem razão. Então seria melhor dizer para não se reocupar com

ninguém.— Mas isso é horrível.Ela chegou a pensar que talvez o marquês a estivesse esafiando a reagir,

com aquelas considerações polêmicas. Mas Deverill não era tão cínico comodesejava aparentar.

— Se não se preocupa com ninguém, por que me salvou na outra noite?Valentine indicou Helen, que vinha logo atrás.— Você não deveria ser mais discreta?

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— Confio em minha criada. Além do mais, com essa pergunta, você deumostras de que se preocupa com alguém, além de si mesmo. Sem mencionar queestá cuidando de minha reputação.

— Estranho... — Ele voltou a atenção para a rua por um momento. — Gosto

de você. Suponho que, se sua honra for manchada, vou sentir parte da culpa.Valentine ficou surpreso. O que havia dito? Confessara os seussentimentos?

— Não considera o fato de estar me ajudando uma obrigação, não é?— Eu não teria concordado se assim fosse. Quero mesmo ajudá-la.— Então se trata apenas de uma feliz coincidência querer fazer a coisa

certa?— Exatamente.Eleanor sentiu-se frustrada com a resposta do marquês. Ansiava por uma

orientação mais específica, alguma espécie de livro de regras a seguir, que acapacitasse a mudar a sua vida de forma definitiva, sem se afastar da família.Desejava alguma coisa que permitisse realizar as suas vontades, casar-se comquem quisesse, sem ter de obedecer a conceitos preestabelecidos.

— Parece que você não vai me dar nenhuma resposta direta — reclamou.— Faça-me uma pergunta direta e veremos. Eu gostaria de ter uma idéia

mais ampla do que realmente deseja fazer, Eleanor — ele pediu, sentando-se emum banco.

— Está bem. — Ela se sentou ao seu lado e, no mesmo instante, percebeu

que alguns casais os observavam. — Quando seu pai... quando você se tornou omarquês de Deverill, sentiu-se pronto para assumir tamanha responsabilidade?

Por um segundo, rápido demais para Eleanor perceber, a expressão deValentine mudara, tinha endurecido e voltado ao normal novamente.

— Meu pai passou os últimos anos de vida como um lunático. Eu já cuidavade nossas propriedades havia três anos quando assumi o título. Assim, comcerteza, já estava pronto para as responsabilidades.

Eleanor ficou sem saber o que dizer. Havia tomado conhecimento quandoValentine recebera a herança, mas Sebastian jamais tinha mencionado o quehavia acontecido antes com o amigo. Claro que não considerara um assunto a sercomentado com a irmã mais nova.

— Que idade você tinha?— Quando meu pai morreu? Dezoito. Meu tio, lorde Waddell, ficou furioso

porque eu já tinha alcançado a maioridade, e ele estava ansioso para colocar asmãos em nossas propriedades. — Valentine sorriu com certa amargura.

— Não o vejo desde então.— Mas deve ter sido pesado arcar com tantas responsabilidades aos

dezoito anos.— Fiz a minha obrigação. Agora faço porque me dá prazer.

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— Então, para se sentir livre, rebela-se contra as regras, c isso?— Não se trata de revolta. — Ele se levantou de repente I puxou Eleanor

pelo braço para que o acompanhasse.— Deverill, o que foi?

— Vamos caminhar um pouco.— Mas...— Vou dar uma volta. Fique a minha espera, se quiser.Ela não tinha nenhuma dúvida de que, se ficasse ah sentada, logo uma outra

mulher se juntaria a ele. Levantou-se e aceitou o braço que o marquês lheoferecia. Por um momento, sentiu o roçar da mão grande em seu corpo earrepiou-se.

Helen levantou-se também e se dispôs a segui-los.— Espere aqui — Deverill ordenou à criada. Helen voltou imediatamente

para o banco.Estava perdendo o controle da situação, Eleanor pensou. Então parou e,encarando-o, decidiu enfrentá-lo.

— Não diga à minha criada o que fazer.Ele deu um passo à frente e seus corpos ficaram perigosamente próximos.— Teme contrariar alguma norma dos bons costumes ou quer evitar um

escândalo?— Um escândalo — ela respondeu de pronto.— Então não se preocupe. Voltaremos logo. Apenas pretendo dar uma

voltinha onde não haja tanta gente.Dirigiram-se a um dos lagos que havia por perto. Por um momento, Eleanor

caminhou em silêncio, tentando ler a expressão do rosto de Deverill. Procurou selembrar de como ele lhe parecera ao ir ao seu encontro e a salvar de Stephen.Recordou-se de como havia se irritado e enfrentado o patife. Era estranhocaminhar ao lado de um homem em quem confiava plenamente.

— Não tenho medo de você — Eleanor quebrou o silêncio. Valentine a olhoucom surpresa.

— Não estou tentando amedrontá-la.— Se não comentar comigo o que tem em mente, este nosso encontro não

terá servido para nada.— Posso mudar de idéia mais depressa que uma batida de seu coração —

ele murmurou.Oh, Deus. Eleanor antecipou que estava a caminho de fazer algo do qual se

arrependeria depois.— Eu...— Vamos apenas conversar, Eleanor. Sem nenhuma fiel criada atrapalhando

ou escutando o que dissermos.— Estou ouvindo. Pode falar.

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— O que deseja? Diga-me a verdade, por favor. Deverill sabia que ela nãotinha nada traçado em seu plano de liberdade, apenas queria soltar as amarrasque os irmãos haviam lhe imposto. Assinara um acordo com Sebastian sem saberao certo o que ia fazer.

— Muito bem, então. — Largando do braço que a amparava, começou aandar sozinha. — Pois bem, não faço a menor idéia.— Era o que eu imaginava.— Por isso pedi a sua ajuda, Valentine. Tem uma experiência infinitamente

maior do que eu em... tudo.Ele se aproximou, mas não lhe ofereceu o braço.— Não pode pontuar sua vida de acordo com os meus padrões. Por isso não

consigo imaginar o que realmente quer de mim.— Desejo tomá-lo como exemplo em algumas atitudes...

— Quais delas? A que tenho casos com mulheres casadas porque gostodisso? Ou quando falto ao encontro com meus amigos porque me surgiu pelafrente algo mais interessante? Ou quando aposto em uma mesa de jogo? Oubebo?

Ela o olhou por um momento, tomada pela surpresa.— Você não é assim, Valentine.— Sou sim.Eleanor parou, pensando que realmente não conhecia o suficiente daquele

homem para afirmar qualquer coisa.

— Bem, talvez aja como disse, mas não é realmente assim.— Verdade? Por favor, diga-me como sou, então, já que venho enganando a

mim mesmo.— Não se esqueça, salvou-me na noite passada. E ficou irritado com o

comportamento de Stephen. Posso não me lembrar dos detalhes, mas me recordodisso. E me levou para casa sem tentar tirar qualquer vantagem de mim.

— Mas, querida, um ato louvável em uma vida inteira não me faz um herói.Além do mais, o seu propósito não tem nada a ver com os meus hábitos, e sim comos que você pretende querer cultivar.

— Não quero cultivar nenhum mau hábito.— Então me diga o que estou fazendo aqui, pelo amor de Deus. — Ele

aumentou o tom de voz.Como Eleanor poderia explicar que o homem que Valentine descrevia não

era necessariamente o que ela via? Sim, ele tinha algumas tendências ruins e asreconhecia. Mas também ótimas qualidades, além da óbvia inteligência e do bomsenso. E honestidade. Ela nunca o escutara dizer uma mentira, mesmo que fossepara proteger seus maiores interesses, a não ser quando queria protegê-la.

— Gosto de você!— Como? — Valentine piscou, incrédulo.

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— Gosto do modo como não tenta se mostrar superior a ninguém, já quetem um título respeitado. Não muda de aparência para agradar aos outros, mascontinua charmoso « delicado quando decide ser assim.

— Correndo o risco de soar sentimental, parece estar descrevendo a si

mesma. Se for o que pretende na vida, então Dão precisa ter trabalho algum.Você já é assim, Eleanor.— Não tente me distrair com elogios. Essas são as coisas de que gosto em

você. O que quero é o seu modo de vida.— O meu...— Não os comportamentos impróprios que mencionou, mas a... liberdade.

Não tem de conversar sobre o tempo, nem dançar com uma moça porque é rica etem um título. Ou, simplesmente, caso não esteja com vontade de conversar nemde dançar, então não faz nem uma coisa nem outra. Não tem de medir as próprias

palavras e não se afeta em absoluto com os oitocentos anos de arrogância esuperioridade dos Griffin. — Ela respirou fundo. — Tudo isso e mais alguma coisa.— Então seja essa pessoa — o marquês disse, após um momento de silêncio.— Estou tentando... Mas não... consigo saber o que fazer para ter essa

liberdade sem magoar minha família. Há outras pessoas com quem devo mepreocupar em não tornar infeliz. Amo os meus irmãos. Eles representam tudo emminha vida.

— Se seu primeiro pensamento é que possa estar fazendo algo errado, nãoé liberdade, é medo.

— Mas tenho mais a considerar, já que não sou homem, e...— Notei que não é homem.—... e não quero ser forçada por meu irmão a um bom casamento. Quero

escolher o meu marido, mas para tal há regras que devo seguir. Ignorá-las seriaestupidez.

— Então siga as regras. — Vendo a expressão de relutância no rosto deEleanor, Valentine se aproximou ainda mais. — Imagino que saiba o que quero, esei que não sou quem você deva imitar se sua maior preocupação é ver todosfelizes. Não vai encontrar o marido que deseja, se insistir em ficar em minhacompanhia e receber os meus conselhos. Presumo que queira um bom homem. E hámuitos assim em Londres, muitos deles certamente ficariam felizes em se casarcom você.

— Mas eu...— O melhor a fazer é continuar sendo quem é. Pelo que me disse e pelo que

tenho observado, quer ser uma boa irmã, honrar o nome Griffin. Não temintenção alguma de deixar de cumprir suas obrigações, e não deseja se tornaruma pecadora. Meu melhor conselho é que volte para casa e diga a Melbourne quenão aceitará se casar, a não ser que seja com um homem de sua escolha.

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Maldição! Eleanor odiava reconhecer que Valentine estava absolutamentecerto. Uma lágrima furtiva escapou de seus olhos, antes que tivesse tempo deenxugá-la.

— Não tenho idéia do que quero, mas dentro da fortaleza Griffin jamais

descobrirei o que é. Não deixar de sonhar em ter ao menos uma grande aventura.Não vou. Não posso, Valentine.Para sua surpresa, ele se inclinou, dizendo:— Uma aventura? Que tipo de aventura pretende ter? Ela respirou fundo,

fechando os olhos para imaginar o que gostaria de fazer.— Penso em alguma coisa selvagem e livre, completamente louca. — Abriu

novamente os olhos. — E então eu encontraria um marido que combinasse comigoe pelo menos não irritaria Melbourne.

— Muito correto de sua parte. Está determinada, não é, Eleanor?

— Sim, estou. O que acha de tudo isso?— Vou pensar em alguma aventura de acordo. Não sou casamenteiro, assim,deixarei para você a parte de escolher um marido.

Bem, ela conseguira uma oferta de ajuda de Deverill. Mais tarde,conseguiria outras coisas. Ficou tão feliz que, por impulso, abraçou-o.

— Obrigada, Valentine.Ele lhe tomou o rosto nas mãos e tocou de leve os lábios de Eleanor com os

seus. Era um beijo suave, provocante. Ela prendeu a respiração e sentiu a pele daespinha se levantar em arrepios. Naquele momento, podia jurar que seus pés

haviam deixado o chão. Parecia estar voando.— Não devia ter me agradecido — ele murmurou, soltando-a e então

voltando a caminhar.

A lembrança da boca fria de Stephen foi subitamente substituída namemória de Eleanor. Agora, tinha algo mais suave, mais agradável e muito maisperturbador em que pensar.

Inventando um compromisso com o alfaiate, Valentine levou Eleanor paracasa antes do horário combinado com Melbourne. Logo que ela entrou em casa, omarquês desceu do veículo, dizendo:

— Dawson, pode seguir para casa.— Milorde? — o cocheiro perguntou, surpreso.— Vou voltar a pé. Quero caminhar um pouco.— Sim, milorde. — Logo o coche vazio descia a rua.Nada saíra como tinha planejado, Valentine pensou. Primeiro quisera

convencer Eleanor a abandonar o plano de rebeldia, ou pelo menos livrar-se daobrigação de ser seu instrutor. E o que conseguira foi ficar bem no meio docampo de batalha da família Griffin. Havia na verdade se oferecido para ajudá-la

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a achar algo que satisfizesse seu desejo por aventura. E então tudo piorara aindamais.

Tinha beijado Eleanor Griffin.— Pelo amor de Deus, você é um idiota, Valentine — ralhou consigo mesmo,

ignorando o olhar surpreso de um homem que passava por ele na calçada. — Umlouco. E um bobalhão.Os lábios de Eleanor lhe vieram à mente. Lábios suaves, virginais, que o

atormentariam mais do que a lembrança do pai. Ela e os irmãos confiavam noamigo. Além do mais, Eleanor tinha um bom coração, uma natureza adorável. Emcircunstâncias normais, nunca se envolveria com uma mulher assim. Nada faziasentido. Ela era diferente das outras mulheres. Tinha metas próprias, nenhumaenvolvendo pular na cama de um companheiro poderoso e rico. Que estranho! Ecomo o deixava excitado.

Naquela tarde havia dito a ela que não tinha nada a ensinar. Mas, ao mesmotempo, queria poder lhe mostrar tudo... Gostaria de ensiná-la a fazer amor, porexemplo. Mas esse item não deveria constar na lista de Eleanor.

Precisava de uma bebida com urgência, pensou.Um cavalo veio em sua direção e Valentine chegou a sentir a respiração

ofegante do animal em seu pescoço. Instintivamente, pulou de lado. A roda deuma pequena carruagem quase o atropelou.

Quem poderia ser o idiota que dirigia aquele veículo? A carruagem estariadesgovernada? Só podia ser isso.

Viu de relance a cabeça de um homem loiro. De repente, lembrou-se ondevira não só o veículo, como o cavalo e o homem de cabelos claros.

Quem quase o matara havia sido Stephen Cobb-Harding.Alguns pedestres correram para ver se ele estava bem. O que era

praticamente um milagre.Bem, isso era interessante. Um ato covarde não tornava Stephen menos

perigoso. Justamente o oposto. E não somente para o marquês.— Tia Tremaine! — Penélope passou pelo mordomo da casa e se jogou nos

braços da tia, que os esperava.— Comporte-se, Peep — Melbourne avisou, entrando no vestíbulo atrás de

Eleanor.— Ora, que bobagem, Sebastian — lady Gladys Tremaine disse, abraçando

a sobrinha-neta. — Abraços fazem parte do relacionamento entre parentes.— Está correta, titia. — Melbourne inclinou-se e a beijou no rosto.— E você, minha querida, vai me dar um abraço ou um beijo?— Ambos. — Eleanor deu um abraço bem apertado em Tia Tremaine. E

depois um beijo estalado que fez Peep rir bastante.

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A tarde transcorreu tranqüila e agradável, mas na saída, ao se despedir,Eleanor esperou o irmão e a sobrinha se afastarem para cochichar algo no ouvidoda tia.

— Posso voltar amanhã?

— Naturalmente, minha querida. Venha para o almoço. Alguma coisa estáerrada, não é?— Não é bem isso, mas poderia ter acontecido algo mais grave. Por favor,

tia, não diga nada a Melbourne.— Nós, mulheres, formamos um exército à parte. Pode me contar o que

quiser, Neil. Sabe disso, não é?—Obrigada, tia. — Beijando-a novamente no rosto, Eleanor correu para

fora e se reuniu ao irmão e à sobrinha na carruagem.— O que estavam cochichando? — Melbourne perguntou, olhando com

curiosidade para a irmã.— Nada de mais. Não estávamos falando sobre você, se é o que quer saber.Apenas assuntos entre sobrinha e tia.

— Nem por isso fico mais tranqüilo.— Na verdade, virei almoçar com ela amanhã. Tem alguma coisa contra o

programa?— Absolutamente nada. A propósito, pretende comparecer ao baile dos

Feryon hoje à noite?— Sim.

— E quem vai levá-la?— Sebastian, não combinamos que...—Não a estou proibindo de nada. Foi uma mera pergunta. Era verdade,

Eleanor refletiu. Não precisava ser hostil com o irmão por quem tinha tantocarinho.

— Pensei em irmos todos juntos — ela disse finalmente. — Se você nãotiver outros planos.

— Nunca faço planos que excluam a minha família. Eleanor balançou acabeça em desalento.

— Porque se sente feliz com a vida que leva. Pode fazer o que quiser,quando quiser, que ninguém o critica por isso.

Melbourne a olhou, atento.— Essa afirmação não parece ter vindo de você. Penélope puxou a mão do

pai, querendo chamar a atenção.— Tia Neil está lutando por sua independência — a menina falou

sabiamente. — E não é fácil.Eleanor não conteve um sorriso. A sobrinha era uma garota especial, não

tinha dúvida alguma.

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— Obrigada, Peep. — Voltando-se para o irmão, sorriu. Na verdade, oduque não era tão feliz assim. Perdera a esposa querida três anos atrás e nuncamais havia se envolvido com outra mulher. Devia ter saudade da mulher queamara.

— Desculpe-me, Sebastian — Eleanor murmurou. — Mas poderia ser maiscompreensivo comigo.— Sei disso. Porém, não pretendo ser.Chegando em casa, Eleanor se refugiou no quarto para ler um livro. Ficou

se perguntando se haveria alguma possibilidade de Valentine passar o dia fazendoo mesmo. Não, ele tinha mil e uma atividades interessantes para preencher otempo.

De súbito, passou os dedos sobre os lábios, levada pela lembrança do beijotrocado no parque.

Deverill era amigo de seus irmãos, sabia das regras da família e, noentanto, a havia beijado.Como gostaria que o marquês a beijasse mais uma vez. Talvez mais de uma.

Afinal, o beijo tinha sido especial, diferente dos que conhecia. Eventualmente,um ou outro rapaz lhe roubava um beijo, coisa boba, na verdade. Nada, porém,como a carícia que havia partilhado naquela manhã.

A excitação que sentira não deveria ser novidade. Afinal, desde criança,era atraída por Valentine Corbett.

Procurou deixar de lado tais pensamentos. Havia um acordo entre o

marquês e ela e o que importava dali em diante eram as escolhas que faria, osdesejos que satisfaria. No entanto, passava quase todo o tempo pensando emValentine ou o que ele faria em determinada situação.

— Oh, pare com isso — murmurou, repreendendo-se. Decidiu fazer umalista de seus objetivos. Pegou papel, pena e tinta e escreveu no topo da página:

1. Adquirir roupas que combinem melhor com o meu temperamento.Bem, isso já estava encaminhado. Ousara comprar inúmeros vestidos de

madame Costanza, inclusive aquele infame vermelho.2. Falar com qualquer homem ou qualquer mulher sem precisar da

autorização prévia dos meus irmãos.Também já o estava pondo em prática, apesar de que em sua primeira

tentativa, tinha sido drogada e atacada pelo "cavalheiro". No entanto, talinfortúnio não poderia detê-la.

3. ...Ela parou e ficou pensativa por um momento. Depois escreveu: Dirigir uma

pequena carruagem sem a ajuda de homem algum.Parou por um momento. Não deixaria de lado essa possibilidade apenas

porque Stephen tinha se oferecido para ensiná-la. O que precisava era de outro

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instrutor. Valentine provavelmente poderia ensiná-la, se conseguisse convencê-loa tanto.

4. Viver uma aventura.

Hum... Era vago demais. Decidiu escolher que tipo de aventura. Não ficariaà espera do que Valentine pudesse sugerir.De imediato, nada lhe ocorreu. Valentine havia dito que encontraria alguma

coisa, porém ao repensar, decidiu que era melhor resolver o assunto sozinha. Sedeixasse por conta do marquês, a aventura talvez fosse por demais escandalosa,arruinando sua honra e afastando possíveis pretendentes. Uma vez que decidisseo que fazer, os outros itens se resolveriam sozinhos. Afinal havia feito suadeclaração de independência dos irmãos havia poucos dias, então escolher umaaventura naquele momento talvez fosse contraproducente e pusesse em risco o

resto do plano.Não podia se esquecer que ter uma aventura vinha antes de encontrar ummarido. Então, como não havia decidido ainda o que fazer, resolveu deixar oespaço em branco, virar a folha e listar os possíveis maridos.

Depois de vinte minutos, floreando os números, sem conseguir preencher alista, compreendeu qual era o problema. Deveria, em primeiro lugar, trabalharmelhor o item dois. Faria uma lista de possíveis cavalheiros com quem pudesseviver uma aventura. Infelizmente, o único nome que lhe vinha à cabeça era o deValentine. E até que fazia sentido, uma vez que o marquês de Deverill seria um

péssimo marido.Além do mais, se ela o escolhesse, Sebastian sofreria um colapso. Para

encerrar, o próprio Valentine jamais se candidataria a essa condição, já queamava, antes de tudo, a liberdade de homem solteiro.

Ainda havia um agravante. Deverill gostava de mulheres casadas, compouca moral, que se satisfaziam em ter relações sexuais sem nenhumcompromisso. Eleanor, no entanto, queria amar o marido e que esse amor fossecorrespondido. Valentine estava fora de questão.

Sendo assim, deixou a lista de lado. Iria terminá-la mais tarde.Quando Helen veio ajudá-la a se vestir para o baile, Eleanor já tinha

decidido qual vestido usar. Era mais um traje feito por madame Costanza, dessavez em tom azul e menos escandaloso que o vermelho. Na verdade, a costureirase superara. O vestido era maravilhoso.

Pensou por algum tempo se deveria ou não se cobrir com um manto,evitando assim qualquer comentário dos irmãos. Decidiu não usá-lo.

Zachary assobiou quando a viu descendo as escadas. Era um sinal de queaprovava o traje e talvez até preferisse vê-la vestida com o novo estilo.

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Já a expressão no rosto de Charlemagne era de desaprovação. A deMelbourne era indecifrável. O duque apenas deteve o olhar no traje por um longomomento, depois fez um sinal para que Stanton abrisse a porta.

— Podemos ir? — Sebastian perguntou.

Enquanto Zachary ajudava Eleanor a subir na carruagem, voltou a lhedirigir um olhar de aprovação.— Aposto que na próxima estação todas as moças estarão usando vestidos

de madame Costanza. Já vou lhe agradecer por antecipação, minha irmã.Eleanor o beijou no rosto.— Ah, está ficando simpatizante de minha causa?— Não diga a ninguém ou serei considerado um traidor. Tenho de

reconhecer que está mais feliz agora do que antes. Se esse estilo de roupa a fazsorrir, conte com minha aprovação.

Depois do comentário, Eleanor sentiu-se mais confiante no futuro. Já nobaile, cada irmão foi para um lado e ela se viu sozinha. Era um passo muitopositivo.

Viu-se subitamente rodeada por todos os cavalheiros da sociedade inglesa,satisfeitos com o fato de ela não ser mais vigiada pelos irmãos.

Em poucos minutos, seu cartão de danças estava completo, apesar de terdeixado uma delas em aberto. Tinha uma leve esperança de que Valentinepudesse dançar, quem sabe, uma valsa com ela.

Depois de duas quadrilhas e de uma dança regional, os casais e a orquestra

tiraram um merecido descanso. Eleanor percebeu que a amiga Bárbara se dirigiaà mesa de refrescos e decidiu juntar-se a ela. Nisso, seu caminho foi bloqueado.Levantou o rosto e quase desmaiou de susto.

Stephen estava à sua frente, os olhos presos no decote do vestido azul. Deimediato, ela levou a mão ao peito.

— Boa noite, Eleanor. Posso ter o prazer de uma dança? O pedido era tãoabsurdo que por um momento ela não soube o que responder.

— Meu cartão de danças está todo preenchido — respondeu por fim,procurando readquirir o controle das emoções.

Quando tentou se afastar, Stephen mais uma vez bloqueou seu caminho.— Por certo reservou uma dança para o seu futuro marido.— E o último dos homens em Londres, ou mesmo no mundo inteiro, com

quem eu me casaria. E devia estar agradecido que eu não o tenha denunciado àpolícia e exigido a sua prisão.

— Ora, por que não fez isso? Oh, talvez porque tivesse de admitir que foiao Belmont por vontade própria. Eu, particularmente, não a arrastei até lá. Eentão, quando eu fosse interrogado, teria de contar à polícia que você bebeudemais e que fomos para uma das salas reservadas. Eleanor empalideceu.

— Não ousaria fazer uma coisa dessas.

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— Não? Eu até poderia descrever uma pequena marca que tem ali. — Eleapontou para o seio esquerdo de Eleanor.

Ela não conseguia nem respirar. Nunca ninguém ousara lhe dizer palavrastão atrevidas. Mas era ainda uma Griffin, e ninguém de sua família recuava

facilmente.— Pensa que assim vai me convencer a aceitá-lo como marido?Stephen sorriu abertamente.— Não preciso convencê-la de nada. Não tem escolha, minha querida.Eleanor pensou em Melbourne e sentiu vontade de chorar. Sebastian

ficaria tão desapontado quando soubesse do episódio em que se envolvera!— Minha querida, eu perguntei se queria me acompanhar até o baile

Belmont, e você concordou. Também não a obriguei a usar aquele vestido para meseduzir e, não duvido nada, provocar seu irmão. Se eu resolvesse tirar vantagem

de seu mau comportamento, era uma prerrogativa minha. E escolhi agir a meufavor.— E se eu optasse por acertar uma bala no meio de seus olhos? — A voz de

Valentine soou baixa e profunda. Ele ficou ao lado de Eleanor de modo que seuscorpos se roçavam. — Essa seria a minha prerrogativa.

Stephen balançou a cabeça, dando um passo para trás.— Não vim aqui para brigar com você. Pretendo meramente discutir alguns

assuntos com o duque de Melbourne.— Então não deveria estar ameaçando lady Eleanor nem ter tentado me

atropelar esta tarde.Eleanor arregalou os olhos e voltou-se para Deverill.— Ele fez o quê?— Rasgou-me o terno. Sendo assim, a pergunta que faço, Stephen, é se

prefere não falar com Melbourne, ou se deve mos marcar um duelo para antes doamanhecer em algum lugar privado?

A expressão arrogante de Cobb-Harding sumiu de seu rosto.— Não tem prova de nada.— Não preciso de prova alguma. Eu estava presente nas duas vezes. Vi o

que você fazia no Belmont e o reconheci quando tentou me atropelar. Tenho umavista muito boa e uma excelente memória. Agora trate de sair desta casa ouescolha o lugar para o nosso encontro amanhã cedo. Já escolhi usar pistolas.

— Mas isso é...O marquês começava a perder a paciência.— Se não sair imediatamente, não vou me importar de provocar um

escândalo. Vou matá-lo agora mesmo, Stephen. Pensando bem, posso me dar aoluxo de esperar até o amanhecer e até de deixá-lo fazer sua escolha. Decida-se já.

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Stephen mordeu os lábios, lançou um olhar a Eleanor, depois deu as costase saiu do salão.

— Meu Deus — ela murmurou.— Minhas desculpas — Valentine falou, beijando-lhe galantemente a mão.

— Não pretendia perturbá-la, mas Stephen sempre desperta o meu pior lado. Outerá sido o melhor?— Não precisa se desculpar. Eu agradeço muito, mais uma vez.— Não fiz a cena por sua causa, lady Eleanor. Esse miserável arruinou o

meu terno. E eu gostava dele mais do que gosto de muita gente. — O marquês lheofereceu o braço, levando-a até a mesa dos refrescos. — Passe a língua sobre osseus lábios, Eleanor. Mordeu-os com tanta força que estão sangrando.

Ela nem percebera que havia se ferido. Seguiu o conselho de Valentine,sentindo o gosto do sangue.

— Eu não esperava encontrar Stephen aqui — Eleanor disse baixinho.— Nem eu. O homem é um covarde da pior espécie que existe no mundo.— E você o ameaçou de morte.— Sabia que ele não ousaria ficar aqui. Tentou esconder o rosto esta tarde

quando quis me atropelar e não ousaria se aproximar de você se os irmãos Griffinestivessem por perto. Ele pretendia alcançar seu intento, deixando-a em pânico.Felizmente, dei a ele uma terceira possibilidade a considerar.

— Sim. — Ela respirou bem fundo. — O que escutou de nossa conversa?— Eu o ouvi fazendo ameaças a você. Para mim, foi o suficiente.

Eleanor sentiu o estranho desejo de sorrir, apesar de tudo 0 que haviaacontecido.

— Stephen disse que contaria a Melbourne minha ida a Belmont, caso eunão o aceitasse como marido.

Como haviam chegado junto à mesa de refrescos, Valentine pegou duastaças e as encheu de ponche.

— Aceita? — ele perguntou. Ela concordou imediatamente.— Na verdade, eu gostaria de beber algo mais forte... Não, não é isso que

quero fazer. Estou falando bobagens.— Há uma diferença entre rum e rum misturado com calmante, apesar de

que lady Feryon desmaiaria se visse alguém bêbado em sua casa. — Com um levesorriso, o marquês tirou seu frasco de uísque do bolso e tomou um gole.

Eleanor ficou escandalizada.— Valentine! Guarde isso agora mesmo.— Só se você prometer sorrir.— Parece civilizado demais de sua parte. E muito filosófico.— Sério? Sabe que me provoca estranhos sentimentos, não é?Oh, ela adorava olhar para ele, tentando decifrar o que poderia estar

pensando.

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— Talvez combinemos... — insinuou ela.

A voz de Valentine soou grave, um sussurro:— Se tivesse idéia do quanto gosto de estar com você, certamente sairia

correndo aos gritos.Deus do céu! Um calor inesperado queimou a pele de Eleanor.— Quero ouvi-lo dizer o quanto gosta — ela murmurou.— Ah, muito, muito.— Acha que poderia me seduzir? — Enquanto falava, sabia de antemão que

ele já a seduzira.Os dedos de Valentine apertaram os dela, e mais uma vez seus olhares se

encontraram.— Sim. Mas não vou fazê-lo. Suponho que algumas vezes há boas razões

para existirem regras.Eleanor sentiu como se a houvessem jogado na neve fria.— Não é justo.— Então acha que seria normal levá-la para baixo da mesa e levantar suas

saias? Certamente viveríamos uma aventura, mas penso que não lhe faria bemalgum.

— Parece-me que agora quem está fugindo é você.— De fato, estou.— Então eu deveria contar a Sebastian sobre Cobb-Harding. Ele me

enviaria no mesmo instante para nossa casa de campo e consultaria sua lista decunhados em potencial. E eu teria de seguir as regras por mais estúpidas quefossem.

— Não fui eu quem estabeleceu as regras. — Valentine olhou para onde osirmãos Griffin estavam.

Os três certamente haviam notado a conversa que o marquês tivera comStephen, mas não faziam idéia de que não fora nada amigável. Nenhum acordoque pudesse ter feito com Eleanor teria impedido Melbourne de ir defender ummembro da família, se achasse que o mesmo estivesse em perigo.

Valentine tinha de reconhecer que não se importara com o fato de queStephen havia ousado tentar atropelá-lo. Na verdade, enfurecera-se ao ver opatife conversando com a mulher que tinha drogado e tentado seduzir à força.

E Eleanor lhe parecera aterrorizada com o que ouvia. Por ais liberdade eaventura que desejasse vivenciar, ela ainda continuava sendo uma Griffin.

— Pode ficar com raiva se desejar — ele sussurrou em um tom suave. —Mas não espere que eu peça desculpas por nada. Gastei muito tempo e energia metornando o que sou. E não vou mudar por ninguém. — Não tinha intenção deadmitir que recentemente a idéia de quem se tornara começava a perturbar seusono.

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— Muito bem — Eleanor disse depois de um momento. — Apenas não mefale mais sobre regras.

Ora, ela ainda estava falando com ele e nem havia se retirado, ofendida.Eleanor Griffin era uma mulher notável.

— Sem promessas. E diga a Melbourne o que desejar — Deverillmurmurava, servindo-se de um biscoito numa travessa que havia sobre a mesa dedoces e refrescos. — Eu mesmo não contei nada ao duque por causa de Stephen.Eu já tinha avisado ao patife o que poderia acontecer a ele se tornasse a seaproximar de você. Acontece que ele não acreditou em minha palavra.

Eleanor dirigiu um olhar preocupado a Valentine.— Não vai matá-lo, não é?!— Ainda não sei o que farei. Mas não devia se preocupar com esse cretino.

E falo sério.

Ela abaixou os olhos, agora cheios de lágrimas. Valentine ofereceu umlenço, e ela fingiu que estava tirando um cisco da vista.— Cometeu um erro confiando em Stephen, mas não se sinta culpada. — Ele

sorriu. — E, acredite em mim, sei como é estar em situação complicada. — Entãose dispôs a afastar-se, mas voltou a ela com um olhar indagador. — Se houvermais alguma coisa em que eu possa ajudá-la...

— Oh, deixe-me ver. Já faz meus inimigos desaparecerem, livra-me dasameaças deles, ajuda-me a ter liberdade, esconde o meu mau comportamento demeus irmãos... Não, penso que não há nada mais no momento.

Deverill riu abertamente. Deus, Eleanor era uma mulher especial. Já sabiaque ela tinha um senso de humor aguçado, mas nunca prestara muita atenção aseus outros atributos.

— Então nos veremos mais tarde.Já estava se afastando, quando Eleanor o puxou pela manga do casaco.— Oh, eu havia me esquecido. Há mais uma coisa.— Do que se trata?— Há um espaço vazio em meu cartão de dança. Será que você...Valentine pegou o cartão e escreveu o seu nome no lugar apropriado.— Tem certeza de que quer valsar comigo?— Oh, sim — ela murmurou, ruborizando. — Tenho certeza.Faltando ainda uma hora para a valsa prometida a Eleanor, Valentine seguiu

para a sala de jogos. Mesmo que a sobriedade tornasse o jogo excessivamentemonótono, seria melhor do que ficar no salão olhando os casais dançarem.

Além do mais, Lydia Franch estava lá. Certamente o procuraria comaqueles seus apelos sedutores.

Desde quando ele se deixara envolver por mulheres casadas e sem moral?Uma lembrança amarga cruzou sua mente.

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Desde que o pai era jovem e vivia recebendo mulheres em casa. Mulheresque ele fazia o filho chamar de tias. Não que Valentine se deixara enganar algumavez. Sabia o que o pai pretendia com cada uma das amigas. Apenas prazeres gra-tuitos e sem compromisso algum. Claro que elas queriam assumir o papel de

duquesa, vago desde a morte da esposa de Alastair Corbett. Mas Valentinesempre soube que o pai não pretendia se casar com nenhuma.O belo e sedutor Alastair Corbett havia se transformado em uma figura

grotesca. Valentine vira o pai sucumbir à loucura e à doença aos cinqüenta e doisanos de idade.

Assim, as mulheres tinham conseguido a almejada vingança. Foi quando asatenções voltaram ao filho do marquês, l'or seu lado, este passou a usufruir,como o fizera antes o pai, apenas de prazeres sem compromisso.

Nada disso, porém, explicava a atração que sentia por Eleanor Griffin,

Valentine pensou. Toda vez que estava em una companhia, sentia o desejo detomá-la nos braços e beijá-la. Mais do que isso. Gostaria de despi-la de seusnovos e ousados vestidos e tocar a pele macia. No entanto, esses sentimentospassariam, tinha certeza disso.

— Deverill.O marquês levantou os olhos da mesa de jogo.— Melbourne.— Preciso falar com você.Claro que sim. Na certa, o duque desejava receber um relatório, narrando

todos os passos de Eleanor, e Valentine prometera a ela que não contaria nada arespeito do incidente com Stephen.

— Dê-me alguns minutos para que eu ganhe todo o dinheiro de Everton.Encontro com você na varanda.

O duque concordou e deixou a sala de jogo. Com a quebra da concentração,Valentine perdeu a rodada e deixou o local vinte libras mais pobre. Passara osúltimos minutos pensando no que diria a Sebastian, quanto poderia revelar semquebrar a promessa feita a Eleanor. Nada parecia satisfatório c não podiaretardar mais o encontro.

Sebastian estava fumando na varanda quando o marquês He aproximou.— Espero que tenha outro desse cigarro — Deverill disse, sentindo o aroma

delicioso do fumo americano.Melbourne tinha gostos caros, assim como ele.O duque tirou do bolso um cigarro e o estendeu a Valentine. os dois

passaram a caminhar pelos jardins da mansão, enquanto o marquês tentava pensarno que diria ao amigo.

— Muito bem — o duque iniciou a conversa. — O que há de novo?— Nada de muito importante. Eleanor dançou com alguns cavalheiros e

passeou no Hyde Park com Cobb-Harding.

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— E parece interessada em alguém em particular?— Não que eu tenha notado. — Precisava passar alguma informação

interessante a Melbourne, ou o duque desconfiaria de que estava trabalhandopara os dois lados. — Ela apenas quer ser livre. Duvido que esteja com pressa de

se casar.Melbourne ficou em silêncio por uns instantes.— Bem, o que estava conversando há pouco com Neil? E não adianta fazer

esse olhar inocente, porque alguma coisa estava acontecendo.— Shay contou que ela me pediu para lhe servir de guia, não é?O duque concordou com um sinal de cabeça.— E que conselho deu a minha irmã, diga-me, por favor.— Ainda não dei nenhum. Nem tenho idéia do que vou sugerir. Não quero

ser expulso de Londres e caçado implacavelmente pelo clã Griffin. Em vez disso,

pedi a Eleanor que dançasse comigo.— E quanto a Stephen? Não vai me dizer que terei de chamar aquele caça-dotes de cunhado, não é?

— Não. Pelas minhas observações, Eleanor não se interessa por ele.— Que bom. — Melbourne apagou o cigarro. — Odiaria fazer de minha irmã 

uma viúva se ela cometesse o erro de escolher esse pilantra.—Acho que não dá muito crédito à inteligência de Eleanor, Sebastian. Ela

pode estar com raiva de você, mas ainda é uma Griffin.— Pensei que essa fosse a parte de que ela mais desgostasse de sua vida.

Valentine se deu conta de que não sabia o que dizer a respeito. Melbourneapenas não queria que Eleanor se envolvesse em escândalos. O que incluiria beijaro marquês de Deverill, é claro.

— Eleanor não revelou quais são seus planos? Você tem um jeito especialde fazer as pessoas confidenciarem seus mais secretos pensamentos.

Sou mesmo a personificação do charme. — Valentine riu e apagou o cigarro.— Por quanto tempo mais deverei ser o seu criado?

— Até que eu decida que já saldou a sua dívida, ou até que Eleanor terminecom toda essa bobagem. Enfim, o que vier primeiro.

— É encorajador. — Considerando que podia ter acabado com toda aquelabobagem contando a Melbourne o que acontecera entre Eleanor e Stephen,Valentine concluiu que a culpa era toda sua.

Surpreendentemente, a tarefa de ser guardião de Eleanor tinha setornado mais interessante do que imaginara. Depois de salvá-la dos braços deoutro homem e provando o gosto doce dos lábios dela, a vida do marquês tinhavirado de pernas para o ar. E, naquele momento, não estava desgostoso de queisso tivesse acontecido.

Depois do intervalo, a orquestra começou a tocar a valsa. Uma vez queStephen havia sumido do salão, Eleanor estava tranqüila, mas ansiosa.

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Dançaria a valsa com Valentine.— Chegou a hora, não é? — Deverill se aproximara sem que ela percebesse.— Claro, milorde — respondeu ela em um tom formal. Ao segurar a mão

enluvada, Valentine frustrou-se por não

poder sentir a temperatura e a maciez da pele clara. Mas, depois dasameaças de Stephen, Eleanor não ousaria mais a se arriscar em público.Valentine a levou à pista de dança, onde começaram a valsar. Ela nunca o

vira dançar antes, apesar de ter ouvido falar de suas habilidades nessa arte.Então deixou-se levar por aqueles braços fortes e deslizar pelo salão.

Em um canto da sala, Melbourne conversava com o duque de Monmouth eparecia não notar o que acontecia na pista de dança. Eleanor, porém, o viu.

— Meu irmão lhe perguntou alguma coisa sobre o que andei fazendo?— Qual irmão?

— Melbourne, naturalmente.Eleanor imaginou vê-lo hesitar por um segundo, mas em seguida sorriu eapertou de leve seu pulso.

— Ele queria saber de seus planos.— E o que você contou?— Que não tinha conhecimento de nada em particular, mas que a ensinaria

a trapacear no jogo do vinte e um se você me pedisse.Eleanor riu com gosto.— Até que não é uma má idéia. Quem sabe na próxima semana? Obrigada.

Sei, por experiência, que não é fácil mentir para Sebastian.— Ah, mas sou um mestre na arte de enganar pessoas. Metade do tempo

não confio nem em mim mesmo — assegurou ele, reparando na reação dela aocomentário.

— Isso não é nada tranqüilizador.Valentine sorriu e a expressão em seus olhos verdes era exatamente a que

Eleanor não conseguia decifrar.— E assim que deve ser. Estamos seguindo regras ou não? Oh, o modo como

ele se comportava era tão tentador e aomesmo tempo um mau exemplo para ela.— Não sei ainda. Se eu não fosse irmã do duque de Melbourne, ainda assim

me ofereceria ajuda?— Claro que sim, gosto de você. E não é só porque é irmã do meu melhor

amigo.— É verdade, não é? Por isso considero-o superior aos homens com quem

dancei esta noite.— Está errada a esse respeito. Minhas razões por estar aqui não me

tornam um herói, e não significa que agirei corretamente com você. Melhor nãose esquecer disso.

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Dançaram em silêncio por alguns momentos. Melbourne podia estarfingindo não vê-los, mas ela podia notar Shay com os olhos pregados na pista dedança. E não era o único a observá-los. Moças de família não dançavam comDeverill, mas certamente a invejavam. Por sorte, Eleanor podia desfrutar daquele

prazer porque o marquês era amigo de seus irmãos.— Não entendo por que me alerta tanto sobre seu comportamento.— Suponho que pela mesma razão que a beijei.Ela engoliu em seco, desejando que o rosto não tivesse ruborizado.— E por que o fez?— Simples, porque desejei. Oh, Deus.— Mas nunca quis fazer isso antes.— Não entendi, alertá-la contra mim ou beijá-la?— Beijar-me.

Valentine respirou fundo e seu olhar se dirigiu aos lábios de Eleanor.— Ultimamente você tem chamado a minha atenção. Por isso deve ter emmente que precisa encontrar outro tutor.

— Não, obrigada. Estou muito satisfeita com o que escolhi.O que Valentine diria, Eleanor ficou imaginando, se confessasse que

sempre se interessou por ele? Decerto, o marquês a arrastaria para algum cantoe logo consumariam aquela atração evidente. E sem ninguém para salvá-la dessavez.

Talvez não quisesse ser salva. Esse tipo de aventura, porém, apenas

arruinaria a sua reputação. Ouvira rumores sobre mulheres com quem Valentinehavia se divertido e que foram esquecidas depois de uma noite de pecado.Aconteceria com ela também?

— No que está pensando? — ele perguntou.— Em liberdade. Ela o surpreendera.— Não era a resposta que imaginei ouvir. Está determinada, não é?— Sim, muito. Mas, no momento, você é responsável pelo futuro de minha

busca. Ainda há algo que gostaria de falar. —A valsa terminou, mas aindamantinham as mãos unidas.

Com uma olhadela para o lado, Valentine indicou uma porta.— Vá à biblioteca e procure um atlas.— Um atlas? O que devo procurar?— Qualquer coisa, um rio nas Américas... — O marquês soltou a mão de

Eleanor e seguiu para a mesa de refrescos.Com o coração batendo forte, Eleanor abriu caminho entre os convidados e

entrou na biblioteca. Não demorou e a porta se abriu novamente.— Temos apenas um minuto antes que seus irmãos apareçam por aqui à sua

procura. Muito bem, o que tem a me dizer.

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Ela ficou em silêncio por um momento, pensando no que diria a ValentineCorbett.

— Importaria-se em me beijar novamente? — ela pediu.— Ousada você, não.

Não houve tempo para respostas, pois logo a boca sequiosa de Valentinecobriu os lábios de Eleanor.Sentir-se tomada daquela forma foi uma experiência única, capaz até de

parar os ponteiros do relógio. Os corpos unidos pareciam flutuar para bem longeda biblioteca fria. O calor da respiração de Deverill fazia sua pele subir emdoces arrepios... Oh, céus!

Cedendo aos impulsos, Eleanor gemeu baixinho enquanto enfiava os dedosnos cabelos do marquês. Se em um momento ele correspondia ao beijo compaixão, no outro afastou-se inesperadamente, deixando-a perplexa. Dessa vez os

gemidos foram de decepção.— Por que...— Pediu um beijo — murmurou ele, tirando as mãos delicadas que

enlaçavam seu pescoço. — Há mais alguma coisa que eu possa fazer por você?Oh, sim. E você bem sabe o que...— E a minha aventura?— A sua aventura... — Deverill repetiu. — Claro. Que tal me dar alguma

pista para que eu saiba que direção devo tomar?— Não decidi ainda! — exclamou, contrafeita.

— Pois é melhor pensar, já que, apesar de sua momentâ-neii fraqueza, seique não quer o pecado como amigo cons-i.mlc. E isso diminui muito as suas opções.

— Sei disso. Por ora, decidi participar com lorde Michael Fltzroy e seusamigos em uma corrida de barcos amanhã.

Valentine abriu a boca e a fechou em seguida.— Como participante ou espectadora?Ela riu. Somente Deverill poderia achar que ela participaria de uma loucura

dessas.— Nunca remei antes na vida. — Eleanor riu de novo, imaginando-se em um

barco. — Suponho que posso simplesmente dizer que vou a esse passeio, eMelbourne que tire mias conclusões.

— Uma tática perigosa, mas aventureira também. Divir-• H.se- — Ele deuum passo para trás, fez uma reverência elegante e saiu da sala.

Eleanor ficou ali por um momento. Mal reparou que Eachary entrava nabiblioteca.

— Ficou louca? — ele disse, exasperado.— O que fiz? Não devia dançar com Deverill? Oh, céus, Zachary. Eu o

conheço há...

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— Não estou me referindo a isso, mas a Michael Fitzroy. Você não pode irremar no Tâmisa. Especialmente em um barco cheio de bêbados.

— Mas assistimos a outras corridas antes, Zachary. O que há de erradonessa em particular?

— Assistir à corrida e participar são duas coisas bem diferentes, Neil. Eeu não...— De fato são duas coisas diferentes, não é? Obrigada por me fazer

reparar nisso. Agora dance comigo ou vá embora.— Para que combine uma viagem à índia, a fim de aprender a encantar

serpentes? Deve haver um limite para essa sua aventura e isso se refere àsegurança.

— Zachary, não cabe a você ficar discutindo o que posso ou não fazer.— Estou do seu lado, mas age como uma inconseqüente.

— Valentine não pensa assim.— Ora, está julgando a sua sanidade pela do marquês? Santo Deus, Neil,ele é um devasso. Ouvi rumores sobre as coisas que ele tem feito. E a maiorparte não é simplesmente um boato! — Zachary sentiu vontade de sacudir a irmã.— Além do mais, você é mulher. Goste ou não, há coisas que um homem podefazer que arruinariam a reputação de uma moça, caso ela fizesse o mesmo. Remaré uma delas.

E beijar era outra, Eleanor pensou.— Se eu manchar minha reputação, então Melbourne e você serão os

vencedores. Portanto, não se aborreça.Ela pretendia deixar a sala, mas Zachary a agarrou pelo braço.— Não se trata de ganhar ou perder. Estou pensando na sua felicidade.

Tenha um pouco de cautela, Neil. Não quero vê-la casada com algum bufão porqueSebastian pensa que ele a manterá sob firme controle.

Eleanor sentiu um arrepio percorrer sua espinha.— Ele já escolheu alguém, não é?Zachary enrubesceu, soltando-lhe o braço. Eleanor deixou a biblioteca,

seguida pelo irmão.— Não, eu apenas estava dizendo...— Quem é ele, Zachary?— Se você for inteligente, saberá fazer a escolha certa e garanto que

Sebastian aprovará.— Não estou atrás de ninguém no momento — Eleanor mentiu, olhando na

direção de Melbourne. — Não se esqueçam que entramos em um acordo. Ninguémdisse uma palavra sobre qualquer mau comportamento da minha parte até agora.Assim, eu ainda mantenho as rédeas de meu destino.

— Não se amanhã morrer afogada no Tâmisa.

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— Seria melhor do que ter de me casar com o idiota que Melbourneescolheu para mim — sentenciou, dando as costas ao irmão. — Boa noite, Zachary.

Enquanto caminhava ao encontro de Bárbara e de algumas outras amigas,Eleanor ficou pensando que devia agradecer a Deverill por seu noivado ainda não

ter sido anunciado cm algum jornal de Londres. Se ele não tivesse conseguidodeter os planos diabólicos de Stephen, bem que poderia se atirar no Tâmisa nodia seguinte e morrer.

Que estranho! Um libertino chantageando outro. Eleanor la ria uma precenaquela mesma noite, para que o mais improvável dos heróis merecesse aconfiança que ela lhe depositava.

Capítulo IV

Pelo quinto dia consecutivo, Valentine se viu fora de casa antes do meio-dia, bem antes por sinal. E não se tratava da única mudança em seus hábitos, mas já tinha desfrutado de tanto sexo na vida que poderia se abster por uma ou duassemanas. Na verdade, nenhuma mulher que não fosse Eleanor o interessavanaquele momento.

Depois de tomar o café da manhã, decidiu tratar de alguns negócios antesde seguir em direção ao píer do Tâmisa, disposto a acompanhar de perto acorrida de barcos a remo.

A primeira parada foi no clube noturno Jezebel, que ainda nem abrira asportas já que as tinha fechado havia menos de duas ou três horas. A jogatinacorria solta ali até altas horas da madrugada.

Mesmo sendo tão cedo, Dicken, o proprietário, deixou Deverill entrar logoque percebeu que era o marquês quem batia à porta.

— O que o traz a esta hora em meu estabelecimento, milorde?— Preciso fazer uma pergunta, Dicken. Na verdade, várias. E todas podem

lhe trazer vantagens econômicas.— Fico sempre feliz de ser útil a um cliente leal de rneu estabelecimento.Valentine sentou-se a uma das mesas de jogo e não perdeu tempo com

conversa fiada.— O senhor mantém anotadas as dívidas de seus freqüentadores, não é?— Certamente, senhor.— Dívidas de jogo e de bebida?— Sim, ambas. — Dicken sorriu. — Parece que uma segue a outra.— Faz sentido. Teria, por acaso, anotações sobre as dívidas do sr. Stephen

Cobb-Harding?

— E confidencial, milorde. Valentine tirou a carteira do bolso.

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— Acontece que Stephen é meu amigo e, para salvar a família de qualquerembaraço, pensei em comprar as dívidas dele com o senhor. Por um preçorazoável naturalmente.

Dicken não se fez de rogado.

— Espere um momento, milorde.O homem desapareceu da sala de jogos e não demorou em voltar trazendoum livro, que entregou a Deverill.

Stephen devia oitocentas e vinte libras entre dívidas de jogo e bebida.— Sei que está se perguntando como foi que deixei a dívida chegar a esse

montante. Acontece que o sr. Cobb-Harding me assegurou de que se casaria comuma herdeira antes do fim do mês e que então me pagaria.

Valentine franziu a testa. Como Stephen tinha sido otimista.— Pois posso garantir, sr. Dicken, que a herdeira em questão está

interessada em outro pretendente.— Oh, maldição! O senhor deve ter certeza disso, já que é tão bemrelacionado.

— O que acha de me vender a dívida do sr. Cobb-Harding por um preçorazoável?

Dicken não escondeu o interesse.— E o que seria razoável, milorde?— Digamos quinhentas libras?— Oitocentas me deixariam dormir mais tranqüilamente.

— Quinhentas libras na mão o fariam dormir melhor do que oitocentas,que, provavelmente, nunca verá à sua frente.

Por um longo momento, Dicken mordeu o lábio, parecendo perdido empensamentos.

— Que tal seiscentas libras em dinheiro?— Feito — Valentine concordou, contando as notas e as entregando a

Dicken. — E os papéis?O homem deu a Deverill as promissórias assinadas por Stephen, sem nem

piscar os olhos.— Oh, milorde, avise seu amigo de que ele não será bem-vindo ao Jezebel

no futuro, a não ser que venha com dinheiro no bolso.— Será um prazer informá-lo, sr. Dicken.Quando Valentine deixou o clube, tinha as promissórias das dívidas de

Stephen no bolso. Oitocentas libras que se riam usadas para chantagear o jogador. Assobiou então chamando um coche.

Depois de passar por vários clubes, Valentine tinha pagado mais de trezemil libras e comprado promissórias assinadas por Stephen Cobb-Harding no valorpreciso de vinte e três mil, duzentas e oitenta e cinco libras.

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Quantia mais do que suficiente para livrar Eleanor de qualqueraborrecimento daquele patife.

Sentiu vontade de seguir diretamente para a casa do jogador e bater à suaporta ou derrubá-la e fazer suas exigências. O melhor, porém, seria mandar-lhe

um bilhete, dizendo claramente que estava de posse de todas as promissórias.Valentine consultou o relógio. Eram mais de onze horas. A corrida debarcos já devia ter começado. Não se preocupava com a segurança de Eleanor, jáque Fitzroy era um idiota, e ela sabia bem disso. E se tivesse o mínimo de juízo,não subiria em um daqueles barcos estreitos.

Estaria lá apenas para assistir ao espetáculo.E era exatamente o que Eleanor fazia quando Valentine chegou ao cais.— Onde estão os seus irmãos — ele perguntou, olhando em volta.— Devem estar na margem, berrando com Fitzroy. Parece que acreditavam

que eu estaria em um dos barcos e partidária da corrida.— E por que pensariam assim?— Não sei de onde tiraram a idéia. Jamais lhes afirmei que faria tal coisa.— Seus irmãos se preocupam com sua segurança, Eleanor.— Sei disso. Mas me deixaram claro que seria mais seguro eu não entrar

em barco algum. Como se isso tivesse me impedido, caso eu resolvesse contrariá-los. Eles não iam poder me impedir de...

— Eu a impediria.— Como? Mas...

— Mas isso não tem nada a ver com liberdade e sim com afogamento —comentou, sorrindo. — Eu, no entanto, tenho uma idéia melhor que não exigetermos de inalar o cheiro ruim do Tâmisa.

— E o que poderia ser?— Pensei em almoçarmos juntos — ele respondeu, esperando que esse

programa soasse mais aventureiro do que de fato era.— Um almoço?— Sem acompanhante.Valentine percebeu que o argumento convencera Eleanor de imediato.— Então, vamos? — ele propôs.— Não precisamos informar os meus guardiões onde estamos indo.— Podemos informá-los e ainda assim seguirmos com o nosso programa — o

marquês opinou.— Desde quando segue as regras do comportamento adequado, Valentine?Aquela era uma boa pergunta. Porém, ele tinha uma boa resposta.— Desde que me tornei o seu guia. Preciso garantir sua sobrevivência.

Afinal, terei em meus calcanhares nada mais, nada menos do que os irmãosGriffin.

Eleanor suspirou.

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— Então sua única preocupação é a autopreservação?— O que mais poderia ser? Ela voltou a suspirar.— Podemos então deixar um bilhete aos meus irmãos?— Esplêndida idéia. Menos chances de alguém sair ferido. Isso feito,

estavam livres para darem o próximo passo.— Onde almoçaremos? — Eleanor perguntou, dando o braço a Deverill.— O Restaurante Próspero é o mais perto daqui. E a comida, deliciosa.Ela concordou e caminharam em silêncio, enquanto Valentine se

congratulava por ter habilmente evitado a intervenção dos Griffin.— Acha que ando parecendo uma tola ultimamente? — Eleanor indagou,

quebrando o silêncio.— Não que eu tenha notado. Está se referindo a alguma coisa em

particular?

— Sinto-me como se estivesse exigindo coisas fantásticas ao mesmo tempoem que não tenho idéia de como alcançá-las. Outras são muito agradáveis... comoos seus beijos, que acabam por me confundir.

Os beijos eram agradáveis?— Não sabe o que quer, minha querida. Pelo menos reconhece que quer

alguma coisa. Mas até onde pensa ir?Eleanor parou, depois o encarou de frente, sem hesitar.— Na verdade, eu gostaria que me beijasse novamente. Isso tinha sido bem

direto.

— E eu gostaria de voltar a beijá-la. — Valentine soltou um longo suspiro.— Mas não vou.

— E quanto à minha aventura? Os beijos podem ser exatamente umaousadia minha. Não concordou em me ajudar?

— Sugiro que escolha outra coisa. Dois beijos em uma mulher inocente é omeu limite. Se vierem mais beijos, ela não terá chances de continuar inocente. •

— Mas não pode...— Acredite no que digo, Eleanor. Da próxima vez, não pararei no beijo e

sua honra estará manchada.

Ela puxou a mão que Valentine segurava, irritada.— Então por que está aqui? Você apregoa aos quatro cantos ser egoísta,

um misógamo. No entanto, levanta-se cedo para garantir que eu não cometa umaloucura, atirando-me de uma ponte e morrendo afogada. Por que faz coisas quecontradizem o que fala?

Não poderia responder a pergunta usando de sinceridade.— Estou apenas tentando agir como um amigo, Eleanor. Não é algo com que

eu esteja acostumado, ao menos não com uma mulher. Trata-se de uma novaexperiência para mim e errei quando ousei beijá-la.

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— E na segunda vez?— Foi um erro ainda maior.— Um erro — ela repetiu, colocando as mãos nos quadris. — Não chega a

ser muito lisonjeiro de sua parte.

Apesar da frustração crescente e de sentir-se excitado, o marquês forçouuma risada.— Está aborrecida porque não pretendo seduzir a irmã de meu melhor

amigo?— Eu...— Fique agradecida. Lembre-se, se houver um escândalo, você terá de se

casar. Como deve ser o seu nebuloso marido em potencial? Um idiota? Pois vocêflerta com o escândalo simplesmente por estar ao meu lado em público. Vocêprecisa escolher. Procura uma aventura para depois voltar correndo à vidinha de

sempre, ou pretende chegar aos extremos e sofrer as conseqüências? —Valentine aproximou o rosto a ponto de sentir o aroma dos cabelos de Eleanor.— Sei quais seriam as conseqüências.— Saber na teoria é uma coisa, sabê-las na prática, é bem diferente.

Sendo assim, está mentindo.Ela ruborizou, pondo-se a caminhar de novo. No que foi seguida por

Deverill.— Essa não é uma prerrogativa minha?Quando desviou o olhar, Valentine soltou a respiração. Eleanor o

surpreendia cada vez mais. Mesmo sugerindo que ele seria a aventura escolhida,isso apenas provava o quanto ela era inocente. De repente, o marquês se tornarauma espécie de príncipe encantado naquela história toda.

Precisava reconhecer uma coisa. Seria mais fácil ser frio e brutal sequisesse de fato ser excluído dos planos de Eleanor.

— Então me diga quem está considerando para ser seu marido — ele pediu.— Por quê? Quer caçoar de cada escolha minha?— Você me pediu ajuda. Eu a estou oferecendo.— Oh, enquanto você estiver no controle da situação, não é? Dois beijos,

mas nenhum mais porque poderá começar a se interessar verdadeiramente pormim?

E ele que julgara dizer as coisas sem rodeios.— Ora, essa é a minha prerrogativa. — Valentine respirou fundo. — Vamos

lá, Eleanor. Pelo menos eu poderia informá-la dos hábitos de seus possíveiscandidatos a marido.

— Posso vir a lhe dizer os nomes. Mas, de volta à minha aventura, algumasugestão?

— Ainda estou pensando em alguma coisa.

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Chegaram ao restaurante e se acomodaram. Só de estarem semacompanhante, já era uma aventura, mas não do tipo que Eleanor queria.

— Tem certeza de que ser vista na minha companhia não é considerado umescândalo?

— Melbourne confia em você. Eu confio em você — ela respondeu enquantoobservava as pessoas que almoçavam nas outras mesas.— Muito bem. — Ele fez sinal para o garçom. — Dois copos de vinho

Madeira — pediu — e a melhor refeição que podem oferecer.O garçom não demorou em trazer o vinho.— Alguma notícia de Stephen? — ela perguntou, enquanto tomava um gole

do delicioso Madeira. — Será que ele vai insistir em me chantagear?— Não acredito. Cuidei para que ele nem ouse se aproximar de você. Ou

melhor, cuidarei disso ao voltar para casa.

— Posso perguntar como vai conseguir tal proeza?Um sorriso de satisfação surgiu nos lábios de Valentine.— Um cavalheiro nunca revelaria seus planos.— Mas...— Sim, eu sei. Não sou um cavalheiro. Muito bem. Pretendo chantageá-lo.Eleanor arregalou os olhos.— Com o quê? — perguntou, sem disfarçar a incredulidade. Deus do céu, o

que Deverill estava pretendendo fazer comStephen? Conhecendo o marquês, havia tantas possibilidades que ficou em

dúvida em qual começar a imaginar.— Infelizmente, tive de recorrer ao mais tedioso dos métodos. Dinheiro.— Como assim?Valentine tomou um gole de vinho.— Cobb-Harding é um jogador. E não muito hábil. Eu comprei todas as

promissórias que ele assinou nos clubes de jogo. Logo que voltar à minha casa,pretendo enviar uma carta, informando-o do fato e exigindo que me pague o quedeve ou deixe o país. E que também mantenha a boca fechada no que diz respeitoàs tentativas covardes de roubar a virtude de uma dama.

— Covardes? — Eleanor repetiu, percebendo a raiva que havia na voz deValentine. — Esse não é um termo que parece constar de seu vocabulário.

— Bem, esse não é ainda o texto final de minha carta.— E se acontecer de Cobb-Harding simplesmente pagar as duplicatas?Valentine caiu na risada.— Não tem condições de fazê-lo. A não ser que encontre uma... Não vai ser

capaz de pagar — ele respondeu, sem fazer maiores considerações.Eleanor estudou a expressão do marquês por um longo momento.— Ia dizer que Stephen somente poderá saldar a dívida caso encontre uma

herdeira com quem possa se casar, não é? — Ela não esperou a resposta e

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continuou a falar: — Não estou magoada por conhecer as razões que fez Cobb-Harding se aproximar de mim. De certa forma, já sabia. Por Deus, sei que não épor amor.

Eleanor ficou pensativa por alguns instantes.

— Algo a preocupa?— Se Stephen encontrar uma herdeira, que o aceite como marido, elepoderá pagar a dívida. Quem garante que ele não vai aplicar o mesmo golpe quetentou comigo para convencê-la a aceitar o seu pedido de casamento.

Valentine suspirou.— Muito bem. Encurtarei o prazo para o pagamento da dívida, não lhe

dando tempo para cortejar moça alguma.— Não me parece muito decente — ela murmurou, sabendo que no fundo

estava contradizendo Deverill apenas porque se irritava com a idéia de os homens

manipularem as mulheres.— Chantagem nunca foi um ato de decência, minha querida.— Quanto custou comprar as promissórias? Não é justo que use o seu

dinheiro, Valentine. Diga-me, quanto custaram as promissórias?— Não mais do que eu estava querendo gastar — informou ele. — Na

verdade, eu estava até disposto a gastar mais para forçar esse sujeito a sumirde nossas vistas.

O almoço foi servido e eles se entretiveram em saborear a deliciosarefeição.

— Então, Eleanor — Valentine disse em tom casual, interrompendo umagarfada —, estava para me contar quais são seus candidatos a marido.

— Não, eu não estava.— Mas poderia me dizer assim mesmo, não é?— Não cheguei a fazer lista alguma. Apenas me passaram alguns nomes

pela cabeça.— E Cobb-Harding era um deles?A curiosidade que havia na voz de Valentine a surpreendeu.— Sim, quero dizer, se eu viesse a conhecê-lo melhor e gostasse dele,

talvez pudesse tê-lo considerado para entrar na lista.— Estranho, não é? Se ele soubesse disso, certamente não teria agido de

forma reprovável. Bastaria cortejá-la com decência.Ela não havia pensado nisso, mas Deverill agora abria seus olhos. Era

possível que outros cavalheiros estivessem sendo delicados e encantadoresvisando apenas seus objetivos pessoais. Não, não. Era melhor não pensar assim.

— Eu teria sido capaz de conhecer o verdadeiro caráter de Stephen maiscedo ou mais tarde, não é?

— Bem, isso agora não importa. Cobb-Harding está fora de sua lista. Diga-me outro nome possível.

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— Lorde Dennis Cranston parece um cavalheiro simpático — ela respondeu,apesar de que não estava verdadeiramente interessada em Dennis.

— Oh, não me diga uma coisa dessas. Pode escolher melhor, Eleanor.Alguém com mais cérebro.

— Ele é bonitão — ela protestou. — E você prometeu não caçoar dasminhas escolhas.— Na verdade, não me lembro de ter feito essa promessa. Quem mais está

na lista?— Hum... Não consigo pensar em mais ninguém. Valentine riu e Eleanor

perdeu-se em pensamentos. Não era possível uma pessoa ser tão atraente e aomesmo tempo tão cínica como Valentine.

— Muito bem, nenhum nome. E quanto à sua aventura? .lá teve algumaidéia? Alguma coisa em que eu possa concentrar os meus esforços?

— Oh, Valentine, sugira alguma coisa que possa ser divertido e ousado. Nãoconsigo tomar uma decisão.Ele ficou pensativo por alguns instantes.— Posso fazer sugestões, claro. Andar em um balão, cantar no palco de um

teatro, velejar pelo oceano Pacífico, viajar pela índia ou China, cavalgar porGrosvenor Square com os seios descobertos, dar tiros dentro do Parlamento...

— Oh, pare com isso! — Dividida entre o riso e o assombro, Eleanor tomouo restante do vinho. — Nada do que citou me interessa, a não ser, quem sabe,viajar em um balão.

Ele segurou as mãos de Eleanor.— Pense no que deseja fazer, minha querida. Darei um jeito para que

realize o seu desejo.Seria tão fácil escolher alguma coisa doida e livre. Provavelmente teria

sido, mas a verdade se mostrava perturbadora: Valentine era a aventura quealmejava.

Deverill mandou Eleanor para casa em um coche. Assim que ela entrou namansão, o comitê de recepção estava a sua espera. Porém, havia mais alguém.

— Tia Tremaine! — ela exclamou, lembrando-se naquele minuto de quemarcara um almoço com a tia e havia se esquecido completamente docompromisso. — Oh, Deus, faltei ao almoço. Lamento tanto.

— Não se preocupe, minha querida. Apenas fiquei preocupada com o quepoderia ter acontecido, já que não me mandou bilhete algum avisando docancelamento.

Oh, a memória começava a lhe faltar com tão pouca idade. Abraçou a tiaenquanto observava a reação de Sebastian, que estava nas proximidades.

—Já comeu? Quer que eu peça a Stanton que traga alguns sanduíches? Ouprefere chá? — perguntou à tia, levando a senhora para a sala de estar.

— Eleanor.

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Ela sentiu um frio na espinha ao notar o tom frio na voz do irmão maisvelho.

— Sim?— Gostaria de conversar com você em meu escritório. Agora.

Tia Tremaine deu um leve empurrão na sobrinha.— Esperarei na sala de estar, querida. Stanton, traga-me chá, por favor —a condessa pediu.

— Claro, milady. — O mordomo imediatamente fez sinal para uma criada.Eleanor seguiu Sebastian e não conseguiu deixar de sentir um friozinho no

estômago quando ele fechou a porta do escritório.— Recebi seu bilhete — ele disse, caminhando até a janela e olhando para a

rua.— Quis informá-lo onde eu estaria, como me instruiu a fazer. — Fingindo

serenidade, ela se sentou em uma das cadeiras mais confortáveis da sala.— Nós a procuramos na corrida por mais de uma hora. Alguém finalmentenos contou que a tinha visto ao lado de Deverill. — Sebastian sentou-se e ficouem profundo silêncio, encarando-a. — Na verdade, estou grato de que tenha deci-dido não participar daquela aventura maluca.

— Oh, Sebastian, eu nunca faria uma coisa tão tola. Sabe disso, não é?— Não, não sei. Pensei que a conhecesse, mas ultimamente você tem me

confundido. Como aconteceu de encontrar Deverill?— Ele também estava me procurando. Provavelmente para me impedir de

entrar no barco de Fitzroy.O duque balançou a cabeça, concordando.— E onde almoçaram?— Não preciso lhe dar essa informação.— Suponho que não. — Por um longo momento, ele ficou em silêncio, o olhar

voltado para o pequeno jardim que havia do lado de fora da casa. — Estousurpreso de que, com todos os riscos que tem assumido, não apenas chegou asalvo em casa como tem conseguido evitar escândalos. Penso que seja sensatoalertá-la, porém, que mesmo o mais talentoso jogador perde de vez em quando.

— Sei disso. Mas quero me arriscar.— Ainda não terminei de falar. Uma das razões pela qual nós... eu permiti

que você desfrutasse de tanta liberdade, foi para que não encarasse a vida com amesma inexperiência que eu. Mal havia começado a estudar em Oxford quandoherdei o título e passei a ser o responsável por Shay, Zachary e você. Massuponho que a ignorância não seja uma desculpa. E talvez isso faça com que suarebeldia seja culpa minha.

Eleanor levantou-se imediatamente.— Se tivesse escolhido me dar menos liberdade, estaria duplamente

errado.

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— Em geral, as meninas nobres não vão pescar com meninos, nem nadamnuas no lago, nem cavalgam nos animais dos irmãos a ponto de quebrar os braços,Neil. E, quando elas crescem, não se aventuram em passeios a Vauxhall por contaprópria, nem ficam almoçando com conhecidos libertinos.

— Pensei que Deverill fosse o seu melhor amigo.— E é. Mas você é minha irmã. — Sebastian respirou fundo. — Se querencontrar um marido por conta própria, que o faça. Se quiser visitar Vauxhall ouassistir às corridas de barco, um de nós a acompanhará, sem qualquer reclama-ção. Mas, pelo amor de Deus, não se arrisque demais.

Eleanor fechou os olhos por um momento, tentando organizar ospensamentos, para que pudesse finalmente expor suas idéias a Sebastian comclareza.

— Meu irmão, gosto muito de você. E não me olhe desse jeito. Por herança

você é um líder, o que o leva a se achar responsável por todos nós. Não seesqueça de que o mesmo sangue corre em minhas veias.— Sei disso.— Então deveria se lembrar de que até eu completar quinze anos eu podia...

fazer as mesmas coisas que você. A partir dessa idade, eu já não podia mais.— Eleanor...— Neste momento, quero assumir alguns riscos. Só que agora assumo a

minha responsabilidade, tomo as minhas decisões e sei que deverei arcar com asconseqüências, caso cometa um erro. Se errar, a falta é minha. Não sua.

— Você pode ver as coisas desse modo, mas o resto de Londres não. Eles...— Não me importo com o que pensam de mim. Sei que eventualmente terei

de me contentar com sonhos e ambições menores, e que, por causa das regrassociais e por ser uma Griffin, serei forçada a me casar com algum tolo escolhido,mas nesse meio tempo quero alguma distração, mesmo que curta.

— A minha preocupação é que você se arrependa do que vier a fazer...— Mas será um erro que cometi por vontade própria. Sebastian a deixou

dar a última palavra, o que era bemsignificativo para Eleanor. Ela havia explicado o seu ponto de vista ao

irmão, e, mesmo assim, ele não ficara ao seu lado. Ninguém, a não ser Valentine,ficava. Bem, mas Valentine não contava.

Lágrimas corriam pelo rosto quando ela se dirigiu ao encontro da tia.A condessa a recebeu de braços abertos.— Desculpe-me novamente, titia — pediu, procurando esconder as lágrimas.— Minha querida, sei que está precisando desabafar com alguém. Pode

confiar em mim.Eleanor achou que era melhor não revelar a paixão por Deverill. Decidiu

contar apenas o essencial.— Declarei minha independência.

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— Peep já me contou isso. O que você entende por isso?— Anunciei que serei eu a escolher o meu marido, sem a intervenção da

família, e que faria o que me desse vontade. Como, por exemplo, vestir-me a meugosto.

Tia Tremaine tomou um gole de chá.— E Melbourne não aceita a sua nova liberdade?— Oh, ele aceitou.—Aceitou? Então o problema é que você não está gostando da nova

liberdade?— Também não é isso.— Minha querida, creio que preciso de mais informações, antes de poder

lhe oferecer algum conselho ou ajuda.— Oh, se eu pudesse me explicar, tia. — Eleanor balançou os braços em um

gesto que deixava claro que se sentia sem rumo. — Tenho essa oportunidade deser livre como sempre quis e não sei como desfrutá-la.— Mas foi almoçar com lorde Deverill sem uma acompanhante. Isso me

parece um ato de liberdade, Neil.— Não foi. Não com Deverill. Quero dizer, ele faz coisas em minha

presença que a maioria dos homens não faria. Porém, é o melhor amigo deSebastian. Conhece as regras.

— As regras... — tia Tremaine repetiu em um tom de dúvida.— Ou seja, um comportamento padrão que os Griffin, assim como toda a

sociedade, deve seguir.— Quer dizer que se sente muito segura na presença de Deverill? —

perguntou a tia, sem esconder o riso irônico. — Não penso que possa usar essasduas palavras na mesma sentença: segurança e Deverill.

Eleanor tinha que admitir a veracidade daquela declaração. Tudo começoude maneira até inocente, mas não demorou a mudar, principalmente depois queValentine a tinha beijado. Mas, a despeito dos eventuais flertes verbais, o mar-quês já deixara claro que nada mais haveria entre eles. E ela queria muito mais...

Para não se trair por um rosto corado ou um tremor das mãos, afastouimediatamente a imagem de Valentine da mente.

— Trata-se de um dilema difícil — a tia opinou. — A liberdade, quero dizer.Acredito que tudo tem um preço.

— Foi o que Deverill me disse.— Ao menos, sensato ele é.Sim, Deverill tinha aquela e outras qualidades, apesar de negar. Ele a

surpreendia sempre.— Do que realmente preciso agora — Eleanor assentiu depois de tomar um

gole de chá —, é entender o que estou tentando fazer. Quantas bobagens, não,tia?

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— Querida, sua mãe era minha irmã. Uma filha de um conde quesubitamente se viu casada com um duque. E não um duque qualquer, mas o duquede Melbourne. Um título de oitocentos anos, pertencente a uma família que datados tempos dos romanos. Não foi fácil também para Elizabeth. Mas ela decidiu

que valia a pena. Orgulhava-se de ser quem era e do legado que deixava aosfilhos.— Então devo parar com essa história de independência e implorar a

Melbourne que me arranje um marido da escolha dele? Alguém que me mereça?— Não. Deve fazer o que pensa que é necessário para ser feliz. Apenas

tenha em mente que terá que compartilhar o nome de sua família com alguém queo mereça.

— Sei disso. — Ela beijou a tia no rosto. — E não me esquecerei desse fato.Obrigada, titia.

— Penso que não fiz nada, mas ofereço sempre o meu ouvido amigo quandoprecisar conversar com alguém, querida. — A condessa terminou o seu chá elevantou-se. — Não pedirei que seja cuidadosa, pois tenho certeza que será.

— Tentarei — Eleanor confirmou, acompanhando a condessa até a saída.E precisava tentar de verdade, considerando o que quase acontecera com

Stephen Cobb-Harding. O que teria acontecido, se não fosse por Valentine, quepor duas vezes havia ido em seu socorro.

Valentine mandou um de seus criados entregar a carta a Cobb-Harding,mas esperou na rua, observando discretamente a casa, para tentar descobrir qual

seria a reação do rapaz. Como havia imaginado, em menos de dez minutos,Stephen saía apressadamente e se dirigira a Pall Mall. Seguindo-o a uma distânciadiscreta, Valentine permitiu-se sorrir ao ver o tolo entrar de clube em clube,obviamente tentando verificar se haviam vendido as suas promissórias. Aresposta deve ter sido devastadora. No que dizia respeito ao marquês, cadagrama de agonia e desespero era bem merecido.

Cobb-Harding podia berrar, praguejar e desabafar a sua raiva, mas não lherestava nada mais por fazer. Apesar de Valentine não ter confessado a Eleanor,temia que o patife pudesse difamar alguma debutante ingênua de Londres.

Sendo assim, na carta a Cobb-Harding, ele tinha sido específico. OuStephen pagava o que devia ao marquês, ou deixava o país. E isso em menos de ummês. Caso contrário, Valentine recorreria à polícia e o devedor de mais de vinte etrês mil libras ficaria atrás das grades por um bom tempo.

Como Stephen demorava a sair do Clube White, Valentine se aproximoudiscretamente. Viu o rapaz sentado a uma mesa, com uma garrafa de uísque àfrente. Evidentemente, pagara aquela despesa com dinheiro vivo.

Valentine sorriu. Não costumava arruinar a vida dos outros, mesmo porquenão se importava com ninguém. Mas esse homem em particular tinha ousadoperturbar a paz de alguém que lhe era muito querida.

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Por um breve instante tentou nomear seus sentimentos, mas ao chegarperto da conclusão, recusou-se a nomear o que estava sentindo.

Além do quê, o sumiço permanente de Stephen era mais importantenaquele momento.

Valentine não tinha nenhuma intenção de ficar observando o crápula seembebedar, então voltou ao local onde havia deixado seu cavalo e afastou-se dali.Se fosse em outros tempos, Deverill teria alguma atividade um tanto sórdida comque se entreter. Porém, por alguma razão, sentia-se diferente.

Seguiu para casa. Não desfrutava da companhia de uma mulher havia umasemana. Não, não era verdade, porque passara um bom tempo com Eleanor. E,quando não estava com ela fisicamente, não pensava em mais nada. Nenhumlibertino perdia seu tempo com apenas uma mulher, especialmente uma com quemnão tinha ilusões de conseguir qualquer vantagem além da amizade.

Que ridículo!Se não fosse pelo maldito papel com que Melbourne o controlava, poderiaestar agora com Lydia ou com alguma outra mulher casada e amoral. No entanto,queria mesmo ficar com alguma delas ou contentar-se com a companhia deEleanor?

Entrou em casa e o mordomo apontou as várias cartas que haviam chegado.— Cartas de quem, Hobbes? — o marquês quis saber.— Oh, lady Franch, assim como lady DuMont, lady Caster, a srta. Anne

Young, lady Eleanor, lady Bethenridge, lady Pield...

— Obrigado, Hobbes. — Valentine parou de subir as escadas. — Disse ladyEleanor?

— Sim, milorde.O coração de Valentine pareceu perder o compasso, mas logo retomou o

batimento normal.— Convite ou carta?— Carta.O mordomo voltou para onde estava a bandeja de prata com as

correspondências e pegou a carta de Eleanor. Subiu as escadas até alcançarValentine, entregando o envelope.

— Mais alguma coisa, milorde?— Não. Pode ir.Valentine entrou em seus aposentos e sentou-se à escrivaninha. Colocou a

carta de Eleanor à sua frente, antecipando o prazer de ver o que ela escrevera.Por fim, desdobrou o papel.

Deverill,Pensei em uma aventura. Quando poderei lhe contar qual é?Eleanor— Só isso? — Ele virou a folha para ver se havia mais alguma coisa escrita.

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Nada. Não havia nem os tradicionais termos como querido, Valentine, desua... Frustrante.

Um pensamento cruzou sua mente. Talvez ela tivesse mostrado a carta aMelbourne e assim se restringido a um texto curto e seco.

Sentiu-se animado novamente. Sim, deve ter sido isso.Pegou uma folha de papel da gaveta e uma pena.Eleanor, ele escreveu, falando alto o que punha no papel. Estarei no Caster

Grand Ball esta noite. Se planeja comparecer ao evento, poderemos conversar.

Não, Valentine decidiu. Soava muito impessoal. Rasgou o papel e começouum novo bilhete. Ficarei feliz de escutar qual é o seu plano.

Assim era melhor, mas precisava deixar claro que estava sendo gentil, casoMelbourne pegasse a carta. Começou então um terceiro texto. Reserve a

quadrilha ou alguma outra dança para mim. Deverill.Sim, estava perfeito. Assoprando para a tinta secar, ele enfiou o papel emum envelope, selou-o e chamou um criado para entregar a correspondência.

Valentine tinha aproximadamente cinco horas até o início do baile. Asdemais cartas que recebera, e não havia se interessado em ler, deveriam conterpedidos das mulheres que se sentiriam felizes se ele as convidasse para dançar.Naquele momento, porém, não queria nada com elas. Seu desejo era sentir umagostosa sensação, enquanto pensava no encontro com Eleanor.

Eleanor recebeu a carta de Valentine e a leu sob os olhares curiosos de

Zachary.— O que é isso? — o irmão perguntou.— Nada. — Ela tentou entender a linguagem impessoal de Valentine.Claro, ele suspeitara que um dos irmãos Griffin podia interceptar a

correspondência. Mas, na sua presença, o marquês agia de outra forma receptiva.Eleanor sentiu as pernas fraquejarem, só em imaginar na possibilidade de trocaroutro beijo.

— Pretende ir ao Caster Grand Ball esta noite, não é? — Zachary indagou.— Parece que é o baile mais esperado da estação.

— Planejo ir, sim.— Conosco?— Pensei em compartilharmos da mesma carruagem,*se não se importarem.Por um momento, Zachary nada disse.— Por quanto tempo mais essa bobagem vai durar?— Imaginei que estivesse do meu lado, Zachary.— E estou, se a deixa feliz. Mas, para ser honesto, Neil, não vejo o que vai

conseguir, a não ser mais algumas discussões com Melbourne. Pensa que nãopercebi que saiu chorando do escritório do duque quando tia Tremaine estavaaqui?

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— Não chorei.— Não sou cego, sabia? Seus olhos estavam vermelhos e lacrimejantes. Se

quer saber a minha opinião, não acredito que Melbourne a force a se casar comalguém que não seja de seu agrado.

Casamento. Ela havia se esquecido de que esse fora o principal motivo desua rebelião.— Porém, sei que não vai se colocar contra Sebastian se ele fizer o

contrário e me forçar um casamento que não quero.— O que me surpreende é vê-la pedindo conselhos a Deverill, quando não

pede nenhum a mim.— Apenas ouço os conselhos do marquês e faço o que desejo.— Ouvir os conselhos de Deverill sobre como agir em casos de amor é

ridículo, Eleanor. Ele não tem coração, por isso é o homem menos qualificado da

Inglaterra para ajudá-la a arranjar um marido.Eleanor enfiou a carta de Valentine no bolso e levantou-se.— Não vou discutir mais esse assunto. Você também pode escolher com

quem se aconselhar sem que nenhum de nós interfira.— Estou feliz como sou, não preciso de opiniões alheias — ele retrucou,

mas Eleanor já começava a sair da sala, fingindo não ouvi-lo.Era bom que Zachary se sentisse feliz, pensou, no entanto, apenas

contrastava com sua própria realidade. Ela não era feliz; sua vida era repleta debrigas e desafios, e ainda assim as chances de conseguir tudo o que desejava

permanecia distante.

Mesmo sua revolta não estava levando as coisas para a direção que queria.O homem em cujos braços gostaria de estar escrevia cartas lacônicas e nãoprometia nada, apenas sugeria um encontro para uma dança.

— Homens — ela murmurou, subindo as escadas para examinar os doisnovos vestidos do ateliê de madame Costanza que tinham acabado de chegar edecidir qual usaria naquela noite.

— Exatamente quantos vestidos novos você tem? — perguntouCharlemagne à irmã quando entravam no salão de baile.

Eleanor ajeitou o traje verde que escolhera usar naquela noite.— Eles ainda estão chegando. Encomendei pelo menos uns quinze. Por que

pergunta?— Talvez porque cada um deles encurta a minha vida em pelo menos uma

década.Sorridente, Eleanor acenou para algumas amigas.— Então espero comparecer ao seu funeral por volta da próxima quarta-

feira.

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Ela olhou discretamente para os convidados, temendo que Cobb-Hardingestivesse presente. Era certo que contava com a presença de Valentine, mas elenão parecia ter chegado ainda. Talvez tivesse surgido alguma coisa maisinteressante que o desviara do baile.

Ao entrar, cruzou o salão e foi conversar com as amigas, comentaramsobre o que vinha acontecendo na estação. Distraída, ouviu alguns mexericossobre quem havia conseguido ficar noiva e quem continuava sem nenhumpretendente. Enquanto tagarelava, Eleanor mantinha os olhos discretamentepresos à porta de entrada. Muitos convidados estavam chegando, mas nem sinaldo marquês de Deverill. .

— Soube que Phillipa Roberts ficou noiva? — Rachel Edderly cochichou aoouvido de Eleanor. — Com lorde Ulbright.

— Não! — Bárbara exclamou, cobrindo a boca. — O pai ela ameaçou

deserdá-la, caso se encontrasse com o barão ais uma vez.— Pois é verdade, mas com a fortuna dos Ulbright, ela não vai se importarem ser tirada do testamento do pai.

— O barão é vinte anos mais velho do que Phillipa! — Eleanor lembrou asamigas.

Diacho, onde está esse homem? Enquanto se fingia interessada no que asamigas contavam, inclusive conseguindo participar da conversa, Eleanor começavaa se irritar com a ausência de Valentine.

— Falando em escândalo... — Rachel virou-se para ela. — O que me diz dos

seus passeios com o marquês de Deverill?Surpresa, Eleanor arregalou os olhos. Afinal não havia feito nada de errado

e já comentavam sobre os seus passeios. Oh, trocaram dois beijos...— Não há nada além de amizade entre mim e Valentine. É o melhor amigo

de Melbourne.— Sei disso, mas mamãe me contou que ambos estavam no Próspero,

almoçando juntos. E sem acompanhantes.Então esse era o prenúncio de um escândalo, Eleanor pensou. Deverill a

tinha alertado de que estar na companhia dele era arriscado, mesmo com asbênçãos de Melbourne.

— Pelo amor de Deus, Rachel! — exclamou, abanando-se com o leque paradar mais ênfase ao protesto. — Acho que tenho o direito de almoçar com umamigo da família, se eu assim o quiser. E em um lugar aberto, com trinta pessoasa minha volta...

— Bem, suponho que não haja nada de mais mesmo — a srta. Edderlyconcordou. — Apesar de que não sei se eu teria coragem de ir a algum lugar comDeverill, com acompanhante ou...

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Sem se virar, Eleanor soube que Valentine estava às suas costas. Esperouum momento, deliciando-se com a sensação de prazer que a presença do marquêslhe provocava, e então se voltou para ele.

— Boa noite, milorde — cumprimentou, fazendo uma pequena reverência.

— Lady Eleanor.A expressão daqueles olhos verdes a fez estremecer e sentir a boca seca.Considerando a natureza da aventura que havia escolhido, talvez fosse melhornão incluir Valentine. O problema, porém, era que não conhecia mais ninguém emquem pudesse confiar. Como se fosse essa a razão pela qual ela queria acompanhia dele...

Atrás do marquês havia uma verdadeira fila de cavalheiros à espera, parafalar com as damas.

— Percebo que estou bloqueando o caminho para o paraíso — constatou ele,

com um tom irônico. —Vejo você mais tarde?— Somente se reservar uma dança comigo.Sem responder, ele rabiscou o nome no cartão de danças. Voltou-se então

para Rachel Edderly:— Se alguma vez chegar a ter coragem de me conceder uma dança, avise-

me. — Em seguida, lançando um último olhar para Eleanor, caminhou para ondeestavam os irmãos Griffin.

Rachel tapara a boca com as mãos.— Oh, o marquês ouviu-me dizer que não tinha coragem de sair com ele.

Oh, não! E me fez um convite!— Ele apenas foi gentil — Eleanor explicou, rindo do medo da amiga e ao

mesmo tempo com ciúme por Valentine ter sugerido a Rachel que dançaria comela. — Você não precisa aceitar o convite se não desejar.

— Diz isso porque sabe que Deverill jamais ousaria seduzir a irmã de seusamigos. Eu, contudo, não posso contar com tal proteção.

A orquestra começou a tocar uma quadrilha e Eleanor engoliu em seco.Valentine não estava à vista. Consultou o seu cartão e notou que ele havia escritoo nome ao lado de uma valsa, a primeira que tocariam naquela noite.

Bárbara cochichou alguma coisa em seu ouvido.— Amigos, hein?... Tem certeza de que ele sabe o que é amizade?— Claro que sim, caso esteja se referindo a lorde Deverill. Ambos

sabemos. E ele tem informações interessantes a me dar. Isso é tudo. Pelo menoso marquês não fica falando do tempo e da cor do céu em Londres nesta época doano.

— Tenha cuidado — a amiga aconselhou em voz bem baixa. — Muitos dosque estão aqui provavelmente vão adorar imaginar algum tipo de relacionamentomais íntimo entre vocês.

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— Sei disso. — Eleanor suspirou.—Pelo menos Melbourne não dáimportância a essas bobagens. Caso contrário, minha declaração de independênciateria sido anulada uma semana atrás.

—Já fez sua lista de pretendentes?—Bárbara perguntou.

— Pensei em alguns nomes — mentiu. — Ainda não estou preparada pararevelá-los. Primeiro quero ter certeza de que são de fato interessantes.— Se tiver sorte, eles lutarão entre si e restarão menos para facilitar a

sua escolha.Com uma risada, Eleanor guardou o cartão de danças na bolsa. Estava

totalmente preenchido.— Está pronta, lady Eleanor? — Thomas Chesterfield abriu passagem

entre alguns cavalheiros e colocou-se ao seu lado. — Creio que a próxima dança éminha, não?

— Naturalmente, sr. Chesterfield.Quando a música começou a tocar, ela e seu companheiro curvaram-se umdiante do outro e começaram a se movimentar no ritmo da quadrilha.

— Está mais bela que a própria Vénus — Chesterfield disse quando, por ummomento, ficaram lado a lado.

Ela desejou que ele não estivesse se referindo a uma vénus que havia napintura de Botticelli. Afinal, no quadro, a deusa estava nua. Depois do queacontecera com Stephen desconfiava de todos os comentários, imaginando umduplo sentido em cada um.

— Mais adorável do que Afrodite — Chesterfield acrescentou quando adança os aproximou mais uma vez.

Então era isso. Estava apenas a comparando com as deusas em geral,independentemente de estarem nuas ou não.

Oh, Deus, por que não ficava satisfeita em receber uni elogio?Aparentemente havia adquirido uma ponta do cinismo de Deverill.

A quadrilha juntou Eleanor a Charlemagne.— Com quem está dançando? — ela perguntou ao irmão.— Com lady Charlotte Evans. E quem é o seu par?— Chesterfield.— Um idiota — Shay falou e se afastou, levado pela dança. Porém, Eleanor

apenas concordara em dançar comChesterfield, não em se casar. Comentavam que Thomas poderia ter futuro

na política, se viesse a se decidir por tal. Não era sua culpa que não era atraente,nem charmoso como o marquês de Deverill.

Ainda estava pensando nos motivos de Chesterfield não a interessarem,quando a música acabou e o casal se dirigiu à mesa dos refrescos.

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— Foi esplêndido dançar com você — Thomas elogiou. — Fiquei pensando senão gostaria de ir comigo a um piquenique. — Ele ruborizou. — Tenho muitosplanos para o futuro, como você deve saber.

— Oh, sim, já ouvi falar sobre eles.

— Acredito que todos nós temos planos de algum tipo — Deverill disse,intrometendo-se na conversa. — Talvez você pudesse chamar os seus deaspirações, Chesterfield.

— Mas tenho planos de...— Mantenha-os para você — o marquês o interrompeu e voltou-se para

Eleanor. — Não me concedeu uma valsa?Seguiram para a pista de dança, deixando o pobre rapaz em busca de

bebidas mais fortes.— Isso foi realmente necessário? — ela perguntou. — O coitado só me

convidou para um piquenique.— Oh, ele era um dos seus maridos em potencial? Minhas desculpas. Voltelá e termine a sua conversa. Deve estar desesperada para saber o futurobrilhante que ele planeja.

— Você o deixou tão nervoso que nunca mais vou conseguir conversar comele.

— Duvido que conseguisse fazê-lo antes.A valsa começou, Valentine a segurou pela cintura e a puxou, estreitando a

distância entre eles, talvez mais perto do que o aconselhável. O coração de

Eleanor disparou, tanto de ansiedade como de excitação. Precisava contar a ele oque tinha em mente ainda naquela noite. Ao mesmo tempo, ficou imaginando o quefazia o marquês ser mais atraente do que os outros homens, mesmo os maisdecentes.

— Valentine, faça algum elogio para mim.— Como?— Diga-me algo que falaria para impressionar uma dama. Um sorriso

malicioso surgiu naquela boca sensual.— Meus elogios não são apropriados para ser ditos em público.— Tente, por favor. Ele suspirou.— Muito bem. — Dançaram em silêncio por um momento.— Um elogio. Hum..— Oh, pare com o suspense — ela protestou, enrubescendo. — Certamente

é capaz de pensar em alguma coisa.Eleanor esperou que ele fizesse algum comentário sobre a cor de seus

olhos, ou os cabelos, ou a semelhança com alguma deusa. Em vez disso, eleassumiu um ar muito sério.

— Você é a mulher mais interessante que conheci em minha vida.Esse era provavelmente o melhor elogio que ela poderia esperar ouvir.

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— Considerando o número de mulheres que já conheceu— disse, sorrindo, sem deixá-lo notar o quanto estava emocionada —,

sinto-me honrada.— E também pode me contar qual aventura escolheu? — Valentine indagou

em voz baixa, aproximando os lábios do rosto de Eleanor.Meu Deus. Se Melbourne e Deverill não fossem amigos, o marquês estariaem grandes apuros naquele momento. Aliás, ela também. Estar ao lado daquelehomem a deixava totalmente confusa.

— Estive pensando no que gostaria de fazer e me dei conta de que é algoque não faço desde criança.

Valentine franziu a testa, sem entender aonde ela queria chegar.— Explique-me, por favor.Respirou fundo, agora vinha a pior parte, explicar. Na verdade, nunca havia

imaginado como era difícil falar sobre coisas simples como:— Quero... quero nadar — informou de supetão.— Nadar?! — espantou-se ele. — Isso é fácil. Tenho de admitir, porém, que

estou desapontado.— Mas é o que quero fazer. E importante para mim.— Por quê?Eleanor mordeu os lábios. Pelo menos, ele não a estava ridicularizando.— Quando meus irmãos e eu éramos crianças, costumávamos nadar no lago

de Melbourne Park quase todos os dias durante o verão. Metade do tempo

nadávamos nus. Ninguém se importava, porque éramos crianças e estávamos nosdivertindo. Quero sentir essa sensação de novo, Valentine.

— Nua?! — Ele continuava em estado de choque.— Esse não é o ponto. Eu gostaria de nadar em um lago. Digamos que à

meia-noite, no Hyde Park.Valentine afastou-se para poder fitá-la e entender a proposta que acabara

de ouvir.— É errado o que quero fazer?— É mais espetacular do que pode imaginar, Eleanor. Quer nadar nua à

meia-noite em um lugar público?— Mas estará totalmente escuro.— Então está determinada a fazê-lo?— É claro. E gostaria que me ajudasse, porém, se não quiser se envolver,

encontrarei outra pessoa...— Quando?— Vai me ajudar?— Você ainda tinha dúvidas que sim?De repente, ela se sentiu ainda mais nervosa do que antes. Não poderia

recuar.

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— Fiz algumas consultas. Amanhã à noite teremos lua nova e tempo bom.Valentine sorriu, com os olhos brilhando.— Oh, fez uma pesquisa. Isso é admirável.— Todo o cuidado é pouco. Sei que posso me envolver em uma enorme

encrenca.— Não deixarei que nada lhe aconteça.A valsa terminou, mas continuaram presos pelo olhar.— Consegue sair de casa sem que ninguém a veja?— Isso não será problema. Darei um jeito.Olhando para Melbourne de soslaio, Valentine concordou.— Minha carruagem estará esperando por você na esquina de sua casa à

meia-noite. Se mudar de idéia, mande um recado.— Não vou mudar de idéia — ela murmurou. Deverill levou-a até as amigas e

afastou-se.Deus meu, ele murmurou para si mesmo. Esperava alguma coisa ousada, algocomo as aventuras que sugerira antes. Mas nadar... Eleanor tinha escolhido algosimples, que daria prazer apenas a ela.

Isso significava sua rebelião. Não queria brigar com os irmãos nemdesafiá-los.

Até poucas semanas antes, tudo o que interessava a Valentine eraencontrar uma mulher e, se ambos estivessem dispostos, iriam se divertir juntos.A partir do momento em que deixara de ver Eleanor Griffin como uma garota e

havia passado a enxergá-la como, mulher em que ela se tornara, sua vida tinhamudado.

Eleanor queria coisas que não eram tangíveis, não se interessava emdinheiro nem bens. Tudo que ele tinha visto e aprendido com o pai, observando afila de amantes que entravam e saíam do quarto do velho marquês, mesmo de seuquarto, lhe ensinara que as mulheres eram manipuladoras. Não pensavam em nadamais além da própria segurança financeira.

— Está se sentindo bem? — Shay perguntou, aproximando-se e pegando umcopo de vinho do Porto que um garçom servia. — Parece que viu um fantasma.

— Estou bem — Valentine respondeu, distraído. Fitava Eleanor ao lado deum rapaz com quem dançaria em seguida. — Apenas observando.

— Tem idéia do que Eleanor pretende? — Shay notou para quem o amigoolhava.

O marquês forçou uma risada, enquanto se servia de vinho também.— Acha que ela confiaria em mim para me revelar alguma coisa mais

íntima? Sou a encarnação do pecado, lembra-se? Dou conselhos, nãoescuto confissões.

— Fico pensando que tipo de conselho pode dar a minha irmã, exceto dizero que ela não deve fazer.

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— Por que a repreendem tanto?Charlemagne franziu a testa, estranhando a pergunta.— Ora, somos irmãos e zelamos por ela. Além do quê, costumamos dizer

uns aos outros o que fazer ou não.

— Então por que Eleanor está tão revoltada e Zachary não, por exemplo?—Não tenho certeza se gosto desse interrogatório, Deverill. Melbournepediu que você mantivesse Eleanor longe de problemas. O resto não é de suaconta.

Aquele tipo de conversa agressiva era comum entre os homens, por issoValentine não se importou, respondendo no mesmo tom:

— Se eu conseguisse descobrir a razão da rebeldia de Eleanor, poderia teruma idéia do que ela pretende fazer. E não precisaria ficar vigiando-a o tempointeiro.

Shay tomou um gole de vinho e deu de ombros.— Se eu tivesse a mínima idéia das intenções de Eleanor, talvez não mepreocupasse tanto. Mas não tenho. Que irmão não se interessaria em saber comquem a irmã fala ou com quem dança? Não queremos que ela se case com um caça-dotes, que termine por nos explorar.

— Então é essa a preocupação de vocês?— Eu mesmo não saberia ser tão sincero...Valentine ficou imaginando se Melbourne pensava da mesma forma ou se

levava em conta os sentimentos da irmã. Se todos pensassem como Shay, isso

explicava a revolta de Eleanor. E também por que o duque precisara pedir ajudade fora, mesmo de alguém como ele. Se ela não encontrasse o que procurava, osGriffin estariam em apuros. E ele, o melhor amigo da família, encabeçaria a fila.

Capítulo V

Eleanor entrou debaixo das cobertas de sua cama. Fechou os olhos,enquanto Helen apagava a vela que havia no criado-mudo e saía do quarto,fechando a porta silenciosamente. Então começou a contar de um a cem para tercerteza de que a criada havia descido para o andar inferior e se recolhido.

Ansiosa, pulou da cama, correu até o guarda-roupa, escolheu um vestidobem simples e o colocou por cima da camisola. Depois foi até a penteadeira ondeajeitou o cabelo, fazendo duas tranças que prendeu no alto da cabeça.

— Sapatos — murmurou.Seria inconcebível andar pela rua descalça.Consultou o relógio que havia em cima da lareira. Meia-noite e dois. Ela

tentara convencer os irmãos a voltarem mais cedo do jantar na casa dos Gurnsey,

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mas Zachary estava determinado a ganhar pelo menos um jogo de charadas. Porconta daquilo, estava atrasada.

Sabia que o marquês de Deverill tinha pouca paciência e, como não estavaparado na esquina para encontrar uma mulher com quem fosse se divertir,

duvidava que ele a esperasse por muito mais tempo.No último momento, decidiu usar um chapéu. Assim, se alguém passassepela carruagem não a reconheceria, já que estaria com o rosto meio coberto.Afinal, o que pretendia era apenas sentir o sabor da liberdade, não arruinar suareputação.

Respirou fundo, procurou tomar coragem e partir para a grande aventura.Claro que ir nadar à noite com um amigo em quem confiava não era assim tãonotável. Ela já completara vinte e um anos e nadava desde os oito.

Colocou a mão na maçaneta da porta e continuou hesitante.

Abra a porta, Neil, ordenou a si mesma e, num ato que exigiu um bocado decoragem, viu-se no corredor silencioso, mas ainda iluminado pelas velas que havianas paredes. Se tivesse um tremendo azar, toparia com algum dos irmãos,vagando pela casa. Fez uma pequena prece para não encontrar nenhum criadotambém.

O coração parecia querer saltar de seu peito. Se essa seria a aventura desua vida, não tinha certeza de sobreviver a algo mais extenuante. Na verdade,escapar da casa e do olhar vigilante de Melbourne a deixava mais do quepreocupada. Mas aquela sensação desapareceria quando estivesse na carruagem

de Valentine. Isso, se chegasse até ela.Parou no hall de entrada, atenta a passos, vozes ou alguma coisa que

indicasse que não era a única acordada na mansão. O silêncio era sepulcral.Demorou um pouco a seguir, lembrando-se que os irmãos deveriam ser

informados sempre que saísse de casa. Por certo, nenhum deles permitiria que elanadasse no Hyde Park à meia-noite, mesmo que não soubessem que ela tinha aintenção de se despir lá. Por isso, começava ali a violar as regras e sentir operfume da tão aclamada independência.

Desse modo, a saída devia ser a mais sigilosa possível.O relógio da sala bateu, lembrando-a de que estava muitos minutos

atrasada. Testar a paciência de Valentine era arriscado, era melhor se apressar.Contou até cinco, abriu a porta e viu-se no jardim. Segurando a saia com uma dasmãos, correu até a esquina, murmurando a cada passo:

Por favor, esteja lá. Não me decepcione, Valentine.No silêncio da noite, debaixo de uma lâmpada de gás, um coche preto

estava estacionado. De repente, ocorreu a Eleanor que alguém poderia ter ouvidosua conversa com Deverill, e poderia ser Stephen a aguardá-la na escuridão.Receosa, diminuiu o passo, mas não parou. Não iria desistir levada por medosimaginários.

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Quando chegou mais perto, o escudo amarelo de Deverill ficou visível,estampado na porta da carruagem e ela soltou um suspiro de alívio. O marquêsviera e a estava esperando. O cocheiro a ignorou, parecia olhar para a direçãooposta. Sem dúvida, estava acostumado com os encontros secretos de Valentine

em horas tardias.Eleanor bateu à porta da carruagem, que imediatamente se abriu.— Boa noite, minha querida — Deverill a cumprimentou e estendeu a mão

para ajudá-la a subir os degraus do coche.— Não sabia se ainda estaria aqui — ela murmurou, sentando-se em frente

a ele.No escuro, usando um casaco preto e calça com colete cinza, Valentine

parecia ainda mais atraente. As linhas marcantes do rosto estavam apenasinsinuadas pela sombra, conferindo-lhe um certo mistério excitante.

Aquela altura, ela já não sabia se o pulsar acelerado do coração e osarrepios que percorriam seu corpo de alto a baixo eram por conta da presençamáscula de Valentine ou pela própria aventura a que estava se expondo.

— Eu disse que a esperaria aqui — ele sussurrou, fechando a porta dacarruagem.

— Sei que estou atrasada, desculpe-me.— Ainda estamos dentro do previsível. — Deverill tirou um frasco do bolso

e o ofereceu a Eleanor. — Uísque?Ela se sentiu tentada a experimentar. Mas achou melhor recusá-lo:

— Não, obrigada. Porém, mantenha-o por perto. Posso precisar mais tarde.Ele guardou o frasco sem beber.— Tem razão.Pela primeira vez, Valentine pareceu relutante.— Não quero obrigá-lo a se envolver em minhas aventuras - disse,

desapontada, não com ele, e sim com a vida que os colocava em posições tãodistantes. O que para ela representava uma grande conquista, para ele deveriaser algo monótono, considerando sua experiência e reputação. — Pos-Ho arranjaruma carruagem e...

— Seria bem mais interessante vê-la chegar em casa, molhada e em umacarruagem alugada.

Ela sorriu apesar do nervosismo. Para alguém tão perigoso, Valentine tinhaum jeito especial de deixar as pessoas nvontade.

— Muito bem. Estamos indo ao Hyde Park?— Foi o que pediu, não? No entanto, alterei um pouco o combinado inicial.

Eu não permitiria que se banhasse nas águas sujas da represa, mas encontrei umpequeno lago, bem agradável e meio escondido, no canto nordeste. E tem umaatração adicional, está o mais longe possível da Mansão Griffin.

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Longe de casa e da segurança que a propriedade lhe proporcionava, Eleanorpensou. Por um momento, sentiu-se inquieta.

Valentine percebeu a ansiedade.— Eu disse a você como me relaciono com as mulheres. O interesse deve

ser mútuo ou não há acordo. Assim, se a qualquer momento quiser desistir, é sóavisar que mandarei Dawson manobrar a carruagem e levá-la de volta para casa.Ou, se preferir, diga apenas a Dawson, e ele o fará. Meu cocheiro tem instruçõesde receber as suas ordens acima das minhas.

O gesto surpreendeu Eleanor, e, embora não quisesse admitir, acalmou-se.— E se eu ordenasse a ele que o deixasse nesta rua e me levasse de volta

para casa?— Eu voltaria a pé para casa. Não muito feliz claro.— Então devo me refrear para não fazê-lo — comentou ela, rindo.

— Obrigado. — Valentine observou o traje de Eleanor com curiosidade. —Interessante escolha da roupa.

Ela lutou para não enrubescer, apesar de que sempre acontecia quando osolhos de Valentine se detinham em alguma parte de seu corpo.

— Pensei que vestir alguma coisa simples seria mais apropriado.— Já que não vai usá-la por muito tempo, é o que quer dizer? A não ser que

planeje nadar completamente vestida...— Apesar de confiar em você, Deverill, acho que quanto menos souber do

que pretendo fazer, melhor será.— Como desejar. Estava apenas curioso. Não me recordo de nenhuma

mulher com quem me relacionei ter nadado em um lago de Londres. Não depropósito naturalmente.

— Então vou lamentar por elas depois que eu o tiver feito.— Eu já lamento desde já, porque, mesmo as tendo conhecido tão bem, não

sei nada sobre seus hábitos de banho.— Não é assim tão mau — Eleanor opinou, mantendo um tom suave de voz.

— Não lamento conhecê-lo.— Só conhece o meu lado bom — ele murmurou. — Veja, chegamos ao

parque. Agora falta pouco para alcançarmos o lago. Importa-se em me anteciparsó um pouco o que vai fazer? Devo levá-la até a água, depois me virar de costas eficar de guarda? Ou devo esperar na carruagem enquanto se banha em paz?

Ela queria que Valentine fosse junto, mesmo que aquela fosse a pior idéiado mundo.

— Eu me sentiria... melhor se pudesse ficar por perto, mas, uma vez que meindique a direção do lago, posso ir por conta própria.

Ele concordou.

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— Trouxe uma manta ou alguma coisa para cobrir o corpo molhado? —Valentine perguntou. — Estou preocupado com que fique doente.

— Esqueci completamente desse detalhe.— Mas eu não — atestou triunfante, tirando uma manta de um baú, debaixo

do assento.

Os dedos de ambos se tocaram quando o marquês entregou a ela umacoberta. Poderia ter sido acidental, mas, desde o ultimo beijo que haviampartilhado, Eleanor não tinha mais Certeza de nada. Nem desejava ter. Imaginarque Deverill He excitava ao estar do lado dela tornava a vida bem maisinteressante.

— Obrigada. A que horas acha que devemos voltar? Stanton se levantaantes das cinco, acredito.

— Depende de quanto tempo pretende ficar na água.— Bem, só poderei afirmar ao descobrir a temperatura da água.Ele não riu, antecipando o encantamento de vê-la mergulhar apenas a ponta

do pé.— Achei o lugar, mas não posso garantir que a água não esteja gelada.— O que é justo. — Ficou sem saber o que mais dizer e o silêncio perdurou

por alguns instantes.A carruagem aproximou-se do local onde ficava o lago.— Vou tentar não demorar — ela prometeu.

— Leve o tempo que quiser, Eleanor. Este é o seu momento de liberdade.Ela soltou um suspiro profundo.— Por que será que estou tão ousada? Isso está me deixando com os

nervos à flor da pele.Valentine sorriu maliciosamente.— Começo a achar que não está tentando provar nada a ninguém, mas sim a

você mesma. Se nadar não a fizer se sentir feliz, arrumarei uma viagem de balãoou...

— Não me esquecerei disso — ela falou, rindo, sem perceber a malíciadaquele silêncio proposital no final da frase. — Oh, está bem escuro aqui, não é?— Olhava através da janela da carruagem.

— Acenderei uma tocha à beira do lago. E estarei por perto, mantendoguarda. Mas, se desistir...

A carruagem parou finalmente, e Eleanor desceu.— Quero seguir adiante! — ela exclamou.— Muito bem. Venha por aqui — Valentine disse, após pegar uma lanterna

que havia na carruagem.Atravessaram uma área de vegetação exuberante que conduzia ao lago,

cercado de enormes carvalhos. Eleanor pa rou à margem.

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— E como imaginei — ela murmurou. Ele sorriu, satisfeito.— Este lago é usado como pia batismal, o fundo deve ser bem firme. — O

marquês colocou um lampião em cima de uma pedra, depois começou a se afastar.— Vou ficar ao lado das árvores. Chame quando estiver pronta para sair.

— Obrigada.Ele ainda a observou colocar a manta em um canto e tirar os grampos doscabelos, que caíram como uma cascata sobre os ombros delicados, acariciando apele macia e se agitando com a brisa. Engoliu em seco e se esforçou para dar ascostas àquela visão magistral.

— Divirta-se — Valentine conseguiu dizer.Deus! Só em vê-la soltar os cabelos com toda a inocência o deixava

surpreendentemente excitado. E não podia fazer nada. Tinha obrigação de semanter a distância, não apenas por ela, mas por Melbourne.

Parou e encostou-se em uma árvore.— O que está acontecendo, Deverill?! — resmungou, passando as mãos pelorosto.

Oh, havia dito a Eleanor que se divertisse. Enquanto isso, teria que ficarali, contando os minutos que começavam a se arrastar.

Ouviu o barulho da água. Mantendo o olhar na lua nova, ele se recusou aimaginar as curvas do corpo de Eleanor, agora molhado pelas águas do lago. Játinha passado dos limites beijando-a, não uma, mas duas vezes. Não cometeriaesse erro novamente. Nem mesmo que isso acabasse com sua tranqüilidade.

Eleanor prendeu a respiração quando a água fria envolveu seu corpo.Deveria ter escolhido nadar à tarde. Mas a indiscrição que cometia não poderiaacontecer, a não ser naquela escuridão e longe de olhares curiosos. Melbournedesfaria o acordo se ela rompesse as regras do bom senso e da decência. Não queestivesse naquele momento fazendo algo imoral.

Porém, não poderia dizer o mesmo com referência aos pensamentos nadainocentes com um certo marquês, considerado o exemplo de libertinagem.

Aos poucos seu corpo foi se adaptando à temperatura da água. Não estavatão ruim, pensou, submergindo completamente. Depois nadou para o centro dolago.

Nadar na escuridão provocava uma estranha sensação, nuncaexperimentada nos tempos de criança. Sentia o corpo, a pele, as vibrações, osdesejos todos aflorarem à vontade. Até o roçar dos cabelos em seus seiosprovocava arrepios.

Talvez a presença de Valentine por perto fosse a razão de elacompreender definitivamente o que era ser mulher.

Mais do que nadar, queria agora os beijos e as ousadias do marquês.

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Procurou afastar tais pensamentos e se concentrar no prazer de estar ali.De repente, lembrou-se do irmão mais velho e na reação que teria se a soubessenadando nua com um pervertido como guardião. Ele certamente cairia morto, ví-tima de um ataque cardíaco fulminante.

Para expulsar qualquer energia positiva que pudesse interferir na glóriadaquele momento, nadou até que os braços e as pernas começaram a doer. Mesmorelutante em deixar o lago, sabia que chegara a hora de encerrar a aventura esair dali. Precisava voltar para casa antes que os criados acordassem.

Levantou-se, firmou os pés no leito do lago e começou a caminhar para amargem. Sabia que não repetiria tamanha ousadia. O que era uma pena. Mesmoassim, sempre teria como recordação aquele momento de extrema liberdade.

Já em terra firme, começou a puxar o vestido e deu com dois olhosestranhos a observando, ali mesmo, aos seus pés.

Seria um esquilo? Um ouriço?Não era de sua natureza ter medo de bicho algum, contudo estava nua eisso a fazia sentir-se fragilizada.

Soltou um gemido, sem saber que atitude tomar. Fez um movimento com opé, procurando espantá-lo, mas o animal reagiu, arreganhando os dentesameaçadoramente.

— Valentine... — chamou em voz baixa.Por mais baixo que tivesse sido o chamado, o marquês surgiu do nada.— Eleanor?

Ela de imediato voltou à água e esperou que Deverill se aproximasse.— Alguma coisa errada?— Há um bicho embaixo do meu vestido. Valentine foi até a pilha de roupa

com olhar duvidoso.— Tem certeza?— Posso garantir nunca ter ouvido um vestido de seda rosnar. Livre-se

desse animal para que eu possa sair da água, por favor!Ele a observou por um momento, depois procurou um pau ou alguma coisa

que pudesse espantar o bicho.Encontrou o que queria e bateu no chão perto do vestido. O animal, em vez

de fugir, assustado, agarrou com os dentes a ponta do galho que Valentine tinhanas mãos. Praguejando, o marquês usou da força e conseguiu movimentar o ramona direção das árvores. O que aconteceu, porém, foi que homem, bicho e galhocaíram no lago. Eleanor não conseguiu conter o riso.

— Oh, muito bem. Muito obrigado — ele resmungou, enquanto tentava secolocar de pé. Estava totalmente encharcado!

— Desculpe — ela pediu, não contendo o riso. — Mas quem já teve a chancede ver o marquês de Deverill cair no lago do Hyde Park?

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Deverill pensou em responder, mas o estranho animal o mordeu e depoisnadou até a margem, saindo do lago e sumindo por entre as árvores.

A situação era tão ridícula que o próprio marquês não conteve o riso. Tirouuma bota, depois a outra, jogando-as para fora da água.

— O que pensa que está fazendo? — ela perguntou sentindo um arrepiopercorrer a sua espinha.Valentine parou, meneou a cabeça e olhou para Eleanor sem se perturbar.— Vou nadar. Não disse que se eu quisesse, poderia lhe fazer companhia?O coração de Eleanor bateu em descompasso.— Mas eu... estou sem roupa.Em segundos, ele tirou as próprias roupas, jogando-as em cima do casaco

que já estava no chão.— Vou tentar recuperar o tempo perdido.

Eleanor pensou em retrucar dizendo que isso não era necessário, mas nemseu olhar nem a mente podiam ir além da visão deslumbrante daquele peito nu edo abdome musculoso.

— Mas já estou saindo da água... — ela gaguejou, forçando-se a encará-lonovamente.

— Então faça isso. Precisa de ajuda?— Valentine, eu...— Quer que eu vá embora? — ele perguntou em um tom sensual.— Não quero — ela apressou-se em responder antes que se arrependesse

da própria ousadia.Deverill submergiu completamente na água, enquanto ela se afastava para a

parte mais funda do lago para poder endireitar o corpo, que estivera curvado nosúltimos minutos. Sabia que aquilo era loucura, mas ao mesmo tempo uma vozmarota no fundo de sua mente dizia que seria doida se deixasse o momentopassar.

Como uma criança se divertindo, ele emergiu e submergiu mais uma vez,deixando à vista somente o movimento do pé descalço.

De repente, Eleanor tomou consciência do canto dos grilos e do barulho daágua que soavam como notas musicais perdidas no ar. Sentiu a respiraçãoofegante, e o coração batendo forte. Quando Valentine emergiu a uma pequenadistância, com a água escorrendo pelos cabelos negros, e a linhas marcantes dorosto, refletindo o luar prateado; Eleanor sentiu que a brisa leve os transportavapara um mundo onde só valiam os sentimentos e sensações.

— Valentine?— Sim, minha querida?— Você me beijaria de novo? — ela sussurrou o pedido, estranhando ser

dona de tamanha sensualidade no tom de voz.

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— Eu a alertei sobre o que poderia acontecer a partir de um terceiro beijo— ele respondeu suavemente.

— Sei disso.— Vou pensar no assunto — ele disse, e mergulhou novamente.

Eleanor ficou à espera do próximo movimento do marquês, irritada com aprovocação. Afinal já havia dado o primeiro passo, por que ele insistia emestragar a noite mais importante de sua vida? Não teria coragem de ousar tantonovamente, confessando a um homem o quanto o desejava.

De súbito, lábios ardentes tocaram seu ombro desnudo, e uma mão forteacariciou os cabelos molhados que cobriam os seios exuberantes. Movida por umaemoção desconhecida, ela ficou imóvel, deliciando-se com as carícias que aquelaboca sequiosa proporcionava à pele do pescoço, aventurando-se para o colo.

— Resolvi atender ao seu pedido. — A voz grossa sussurrada ao ouvido,

deixou-a totalmente entorpecida. — Mas vou lhe dar mais uma chance de mudarde idéia agora. Tem certeza de que é isso mesmo que quer?— Sim, esta é a aventura que desejo. Mas, apenas por esta noite.Deverill precisava entender que não tinha intenção de embarcar em um

romance porque, além de matar os irmãos de desgosto, seu futuro estariaarruinado.

— Ora, querida, este é o acordo que todo homem sonha em fazer.

Ainda de mãos dadas, ele fez um movimento para trás e Eleanor perdeu o

equilíbrio, apoiando-se contra o peito musculoso.— Esta é a sua noite — ele murmurou, afastando seus lábios por um

momento. — O que quer fazer? O que quer que eu faça?— Não quero nenhum movimento estudado...E entremeando os dedos pelos cabelos molhados do marquês, cedendo aos

impulsos mais desvairados, deixou-se embarcar naquela espiral estonteante,tomando uma vez mais a iniciativa de beijá-lo.

A sensação era extraordinária: os lábios de Valentine tocando sua pelequente; corpos que se roçavam, envolvidos pela água fria, causando pequenas ealucinantes sensações de choque de temperatura.

Quando pressionou seu corpo frágil contra o dele, percebeu que formavamuma única escultura humana, moldada com o perfume do desejo e da paixão. Derepente, ao senti-lo excitado, implorando-lhe a entrega total à masculinidade que,latejante, insinuava-se pelas coxas macias, resolveu perdurar um pouco mais oprólogo de sua aventura única.

Então, ela resolveu mergulhar, afastando-se o suficiente para instigá-lo avir procurá-la debaixo d'água. Não demorou muito para sentir-se presa a braçosfortes.

Abruptamente o ar faltou e ela emergiu. Valentine surgiu à sua frente.

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— Cristo, não pretendia afogá-la.— Não foi isso. Valentine... Eu quero ver você.Ele não pareceu nem um pouco surpreso com o pedido, isso porque

provavelmente tinha feito a mesma coisa com muitas outras mulheres, talvez

naquele mesmo lago. Eleanor sentiu um frio na espinha, então gemeu quando ele apuxou de encontro ao corpo viril e capturou mais uma vez sua boca.— Espero que aquela maldita doninha tenha ido embora — Deverill

murmurou, nadando até a margem, saindo do lago. Pegou a manta e imediatamentea estendeu no chão.

— Talvez devêssemos ter ficado na água — ela sugeriu, dando uma olhadanos arbustos em volta, saiu da água correndo.

— Você não entendeu o pretexto, minha querida — ele retrucou, deitandosobre a manta, e puxando-a para deitar-se ao seu lado. — E que eu também quero

vê-la...— Mas já viu tantas mulheres nuas antes... — Eleanor sentiu o rosto arderem um misto de ódio, ciúme e vergonha. — E também me viu quase nua naquelanoite terrível.

— Oh, sim. Admito que observei cada detalhe do seu corpo. Você temocupado um bom espaço em meus pensamentos. Vou tornar esta noite perfeitapara nós dois.

Sorrindo, ele acariciou-a no rosto com a ponta dos dedos, depois tomou-aem um beijo ávido. No momento seguinte, com a mão em concha, capturou um dos

seios. Foi um toque leve e lânguido, mas a antecipação do próximo passo a deixavaainda mais entorpecida. Os dedos longos circulavam os seios, enquanto a bocaquente descia pela pele arrepiada até encontrar os mamilos já túrgidos.

— Valentine! — ela gemeu, inclinando a cabeça para trás e arqueando ascostas, oferecendo-se sem preconceitos.

Renderam-se ao bailado de línguas, enquanto as mãos grandes seapossavam dos seios. Eleanor sentia espasmos de prazer a cada novo toque e novasensação.

Pensar com lógica seria impossível; cada pedacinho de seu cérebro estavafocado apenas em memorizar o movimento sensual. Aquela noite seria única, nadapassaria sem ser fotografado na memória.

Não havia mais espaço para acanhamentos pueris, assim ela agarrou omembro rijo.

Com os olhos fechados, Deverill sentiu-se pronto para consumar o ato, aosentir que as mãos delicadas começavam a massageá-lo. Um leve sorriso iluminouseu rosto, ao mesmo tempo em que suas mãos deslizavam pelo ventre macio, atéatingir os pêlos sedosos da virilha de Eleanor.

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Inebriada, ela deixou-se cair sobre a manta enquanto o sentia explorar suaintimidade. Agora, a boca ávida movia-se por seu corpo, a língua atrevida, sedentapor se fartar do líquido que lhe escorria pelas coxas bem torneadas.

— Oh, Deus — gemeu enquanto ele continuava com aquele doce tormento.

Eleanor sentiu a bruma da morte iminente. Imaginou que não seria capaz desuportar o calor tão intenso, a paixão alucinante, todo aquele desvario deemoções.

A doce descoberta começou quando Valentine descansou os joelhos entresuas coxas e se inclinou para outro alucinante beijo. Pele pressionava pele.Eleanor segurou a respiração quando ele começou a penetrá-la vagarosamente.Ela sentiu a pressão, e então uma dor aguda, seguida por uma sensaçãoindescritível quando começaram os movimentos rítmicos da dança mais primitiva.

Com as unhas encravadas na pele das costas largas, ela seguiu a mesma

cadência, com o coração retumbando, desafiando qualquer outro instrumento depercussão.Quisera tornar-se mulher plena por tanto tempo, antes mesmo de saber

precisamente o que era. Jamais imaginou que poderia possuí-lo da mesma formacom que se entregava. Por um breve momento que fosse, monopolizava todas asatenções e sentimentos; sentiu-se dona daquele corpo másculo que rendia-se àssuas aspirações mais íntimas. Valentine gemeu, aprofundando a penetração,pressionando o corpo frágil com o peso de sua masculinidade.

Seguindo o compasso natural, os movimentos e as estocadas se tornaram

mais rápidos, e, com um grunhido, ele alcançou o seu clímax. Gentilmente largou ocorpo saciado sobre o dela, os lábios acariciando-lhe o pescoço, mordiscando olóbulo...

Abraçados daquela forma, os corações pareciam um só batendo emuníssono.

Bem devagar, a névoa que os envolvia naquele doce delírio começou a sedissipar, os sons dos grilos e sapos voltaram e os trouxeram de volta ao mundo.

O cenário era o mesmo, mas a realidade de Eleanor estava modificada parasempre. Estava amparada por braços fortes com a bênção da lua que os envolviaem seu manto prateado. Qualquer outro homem que ela conhecesse depois destanoite não seria como Valentine, mas ela manteria para sempre a lembrança domodo como ele a fizera sentir, desde o primeiro instante em que haviam sedeitado sobre a manta até o ato consumado. Isso significava alguma coisa, masnão se arriscaria a arruinar a magia daquele momento com explicaçõesdesnecessárias.

Um beijo mais terno veio selar a comunhão dos corpos satisfeitos peloprazer. Ele encontrou os lábios ainda quentes, embora inchados depois de tantascarícias.

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Até para o experiente marquês aquele ato de amor fora único,surpreendendo-o com a vontade de não parar de beijá-la. Estranhou também queEleanor não usara de recurso algum para seduzi-lo. Ao contrário, fora sincera aoextremo ao confessar o desejo reprimido e demolira qualquer possível

preconceito ao se entregar com ardor e entusiasmo. Coroando ainda com apromessa de não fazer exigência alguma.Foram inúmeras as mulheres que passaram por sua cama, mas Eleanor fora

a única a tatuar seu coração com as tintas do mais profundo amor.Valentine estremeceu com a friagem da noite e sentiu que ela também

tremia.— O que está achando de sua aventura? — perguntou. Ela apenas sorriu.— Não poderia sonhar com algo semelhante.— Bem, considerando que já é de madrugada e minhas roupas estão nesse

estado, eu...— Sei, sei. Se não voltarmos logo, metade da criadagem estará acordadapara me cumprimentar à porta da frente.

— E não queremos isso, não é?Claro que não. Isso significaria que ele seria forçado a se casar com

Eleanor, isto é, se sobrevivesse da bala que Melbourne certamente acertaria emseu peito.

Mesmo diante do possível desastre que aquela aventura poderia ter,Valentine desejou compartilhar o que sentia, queria contar que fora uma

experiência única. Mas, Eleanor continuava calada, observando as estrelas,perdida em pensamentos.

Com a razão já se apossando daquele universo mágico, resolveu então sevestir, enquanto ela o observava atentamente.

Fale alguma coisa, ordenou-se, procurando compor alguma fraseespirituosa que a deixasse mais à vontade e ele não parecesse um completo idiotaapaixonado.

— Casarem você com algum bobalhão seria um desperdício — comentou,estendendo a ela um dos sapatos enquanto calçava a bota.

— Pelo menos posso dizer que fui protagonista de uma aventura sem terque pedir permissão a ninguém.

Os olhares se encontraram e conversaram em um silêncio eloqüente, até osamantes trocarem um último beijo, agora carregado de uma emoção diferente,cheio de promessas.

— Acho que é melhor voltarmos para casa antes que se arrependa do quefez.

— Não há a menor chance de isso acontecer.Eleanor acordou tarde e levou um bom tempo se vestindo. 0 corpo doía em

lugares inesperados. Tudo parecia diferente; ela se sentia diferente. E pensar

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que havia deixado sua casa às escondidas na noite anterior, certa de que suaaventura seria nadar nua em um lago. Mas não podia negar que estava ciente quealgo mais aconteceria. Por mais que tivesse relutado em admitir as verdadeirasintenções daquele passeio, no ver Valentine a seu lado, não teve como não conter

que o desejo explodisse, fazendo-a pedir pelo terceiro beijo...Eram mais de onze horas quando desceu as escadas e entrou na sala dedesjejum.

— Bom dia — Zachary cumprimentou, levantando o olhar do jornal.— Bom dia — Eleanor respondeu, procurando fingir uma aparente

normalidade. — Sobraram alguns pêssegos?Zachary assentiu e apontou para o bufê.— Stanton mandou que a criada enchesse novamente a travessa.Com um leve sinal de cabeça, ela agradeceu ao mordomo.

— Há três cavalheiros à sua espera na sala de estar. Querem levá-la parapassear ou alguma coisa assim — Zachary resmungou.— O quê? Não combinei nenhum encontro com ninguém para esta manhã.— Eles apareceram aqui na esperança de que você estivesse disponível.— E quem são eles?Era evidente que o marquês de Deverill não seria nenhum daqueles

cavalheiros. Ao pensar em Valentine, suspirou. Oh, a noite anterior havia sido ummomento de liberdade e paixão. Valentine a ajudara a viver essa experiência,embora seu coração apertasse ao lembrar que foi apenas uma noite e nada mais.

Não houvera qualquer promessa diferente. Deverill tinha a reputação de não seenvolver em romances longos, muito menos de ser fiel.

— Pergunte a Stanton quem está à sua espera — Zachary propôs.Ela voltou o olhar curioso ao mordomo.— O sr. Roger Noleville, lorde Ian Woods e lorde Chambrey, milady —

Stanton informou.Zachary levantou o olhar do artigo que lia no jornal e observou a irmã.— O que foi? — Eleanor perguntou.— Nada. Apenas estou notando o seu bom humor, e me pergunto por que

será. Nem ouso perguntar, não quero nem saber se pretende quebrar algumaregra desta casa.

— Obrigada — respondeu, servindo-se de pão com manteiga.— De nada. E o que vai fazer quanto aos cavalheiros esperançosos que

estão na sala de estar?— Pensei que estivesse muito ocupado para se interessar em meus planos.— E estou. Mesmo assim, não posso evitar a curiosidade em saber o que vai

fazer com esses idiotas.— Preciso comer antes de resolver—respondeu, tentando ganhar tempo.

Nenhum dos cavalheiros a interessava de fato. Talvez Noleville, mas ele não

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deixava de ser meio tolo. — Não é de bom-tom deixá-los esperando, não é? —indagou mais para si mesma do que para o irmão.

— Vai sair com os três? Subitamente Eleanor teve uma idéia.— Stanton, quem foi o primeiro a chegar.

— Lorde Chambrey, milady.Claro, aquele com pescoço de ganso. Ela mordeu os lábios. Chambrey seriauma escolha justa, mas era o que menos a interessava. E aprendera com Valentinea ser um pouco cínica e egoísta.

— Stanton, por favor, informe o sr. Noleville de que estarei pronta daqui aalguns minutos. E diga aos outros que agradeço a visita e espero vê-los em breve.

O mordomo saiu imediatamente da sala e Eleanor levantou-se para apanharalguns pêssegos.

Logo depois, ela se apresentava na sala de estar.

— Bom dia, sr. Noleville — cumprimentou o cavalheiro. O conde se pôs depé imediatamente.— Lady Eleanor. Estou muito feliz por ter decidido sair comigo nesta

manhã.Ela observou o rapaz com discrição. Era um homem elegante, atencioso e

seria uma companhia agradável em um passeio pelo parque.Já na carruagem, ficou pensativa. Precisava se decidir por algum cavalheiro

se quisesse escolher o próprio marido. Os nomes que deveriam constar da lista deMelbourne provavelmente a fariam ter um ataque.

O conde Noleville, por exemplo, não era o pior dos possíveis pretendentes.Talvez mais simpático do que os demais candidatos que a rodeavam nos últimosdias.

Milady, onde está a sua acompanhante? — perguntou o conde, hesitando emdar ordens para que o cocheiro seguisse para o parque.

— Estamos em uma carruagem aberta, sr. Noleville — ela constatou. —Dificilmente cometeremos algum ato indevido, mesmo que quiséssemos.

O conde ruborizou de imediato.— Eu jamais ousaria...— Não, claro que não.A vida de Eleanor havia mudado muito desde a noite anterior, porém, não

podia começar a cometer desatinos que arruinariam sua reputação.Aparentemente, Valentine tinha feito mais do que tirar sua virgindade, apesar deque ele riria se soubesse como agora ela via as coisas com mais clareza. Pretendiase comportar de tal modo que irmão algum seria capaz de repreendê-la.

Conforme entravam no Hyde Park, ela olhou em volta. Estivera por ali namadrugada passada, mas, felizmente, sua escapada não tinha sido presenciadapor ninguém. Voltou a atenção para Roger Noleville, que não parara de falar nosúltimos dez minutos. Eleanor apenas sorria de vez em quando.

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O conde comentava sobre trivialidades, chegava mesmo a mexericar, comose esperasse que fosse esse o assunto que a interessaria.

De repente, ela se voltou para Noleville, decidida a descobrir se elefigurava na lista de Melbourne.

— Esteve conversando com Sebastian ultimamente, o duque de Melbourne?Roger sorriu discretamente.— Lembro-me bem de nossa conversa. Levei três semanas para criar

coragem de me aproximar do duque. Um amigo nos apresentou e então lhe pedipermissão para visitá-la. O duque me olhou como se eu fosse um inseto e disseque precisava me conhecer melhor.

Eleanor sabia o que o irmão esperava de Noleville. Provavelmente que oconde fizesse o pedido uma segunda vez. Bem, isso significava que Sebastian nãoo desaprovava por completo. Mas que bobagem. Por que perdia tempo em avaliar

os candidatos do irmão, se não se casaria com nenhum? Ah, que assunto maiscomplicado esse de escolher marido.Mesmo porque não pretendia arruinar sua chance de ser feliz no

casamento, apesar do que os irmãos pudessem pensar sobre o homem que elaescolhesse para marido.

Estava para puxar conversa sobre a decoração da soirée que acontecera noGranden, quando de repente engoliu as palavras e o coração pareceu querersaltar de seu peito.

Ele estava no parque.

Sentado em seu garanhão, Iago, lá estava Valentine, usando um chapéu azulinclinado para o lado, que deixava à mostra parte de seus cabelos negros. Ele sevoltou e seus olhares se cruzaram. O marquês fez um leve cumprimento.

Eleanor ruborizou. Menos de vinte e quatro horas antes, ela estivera nuanos braços daquele homem.

Foi então que reparou que Valentine não estava sozinho. Uma pequenacarruagem aberta estava parada ao lado do cavalo, e duas jovens riam econversavam com o marquês com grande naturalidade. Eram as irmãs Mandelay,Eleanor as reconheceu. As duas adoravam flertar. Valentine deveria tomarcuidado...

Eleanor procurou acalmar-se, sem deixar transparecer a raiva. Deverillsabia o que estava fazendo. Aliás, não estava fazendo nada diferente do quesempre havia feito. A noite anterior não tivera um efeito especial em suaexistência de libertino convicto.

— Lady Eleanor?Ela se voltou para o conde ao seu lado no mesmo instante.— Desculpe-me, sr. Noleville. O que estava dizendo?— Não precisa se desculpar. Lorde Deverill é um bom amigo de sua família,

não é?

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— Oh, sim, é.No entanto, não era na amizade que estava interessada e sim em saber

como Valentine se sentia depois do envolvimento íntimo que tiveram na noiteanterior. Mas talvez a resposta fosse dolorosa, considerando onde ele estava

naquele momento e com quem.— Precisa falar com o marquês? — Roger perguntou, notando-a tãoinquieta. — Por que não vamos até lá?

— Oh, não, não. Fiquei surpresa porque não esperava vê-lo nesta manhã. —Eleanor deu uma tossidela. — Além disso, ele está ocupado.

— É verdade. Não que seja uma surpresa, dada sua reputação.— Eles estão conversando da mesma forma que nós — ela sentenciou, sem

entender por que agia daquela forma.— Não exatamente — o conde replicou, franzindo as sobrancelhas. — Veja

bem, eu me apresentei em sua casa, anunciei a minha presença e expus o meuinteresse em levá-la a um passeio, dando aos seus irmãos oportunidade de memandarem sair. E certamente não abordo damas no parque enquanto estãotomando ar.

— Tenho certeza de que não aborda ninguém, sr. Noleville. — Eleanor logose arrependeu da observação brusca e indelicada.

O problema era que não estava com vontade de ser gentil com ninguém.Mas, tampouco iria falar com Deverill. Não depois de vê-lo flertandoabertamente com Lilith e Judith Mandelay.

— Talvez não. Eu abordaria os pais das damas se os visse. Oh, mas queconversa tola, Eleanor pensou.

Queria apenas passear. O sol brilhava por entre as nuvens e a brisa quevinha do sudeste afastava a fumaça de milhares de chaminés que havia emMayfair. Respirou fundo. Aquele dia parecia diferente. Sua vida pareciadiferente, por causa do homem em quem ela confiara inteiramente. Agora preci-sava deixar aquele momento guardado apenas como uma bonita lembrança evoltar a atenção para outras coisas.

— Sr. Noleville, tem vários irmãos mais velhos, não,é? — indagou depois deum longo momento de silêncio.

Ele a olhou com curiosidade.— Tenho, sim. Por que pergunta?— Eu mesma tenho irmãos mais velhos.— Sei disso.— O que eu gostaria de saber é se os seus irmãos tentam... governar a sua

vida.Roger riu.

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— Oh, não. Esse deve ser o dever de um pai, não de um irmão. — De súbito,o conde empalideceu. — Como fui rude. Perdoe-me, lady Eleanor. Por um instanteme esqueci de que perdeu seus pais...

— Por favor, não se preocupe com isso, sr. Noleville. Eu tinha apenas cinco

anos quando o barco em que meus pais estavam afundou. Mesmo sentindo faltadeles, certamente não me ressinto de que o senhor tenha ainda os seus. Isso mefaria uma pessoa horrível.

— O que certamente não é o seu caso. Eleanor forçou um sorriso.— Obrigada. Mas, voltando à minha curiosidade, o senhor obedece às

regras e ordens de seu pai?— Que pergunta estranha. Claro que sim. Ele é o patriarca da família.— E é quem controla as finanças. Noleville mordeu os lábios, nervoso.— Não acho que esse seja um assunto apropriado para discutirmos no

momento. Não seria nada cavalheiro de minha parte.Por um momento, Eleanor não teve certeza se estava irritada oumortificada. Não era um bom sinal quando um pretendente à sua mão começasse,no primeiro encontro, a lhe criticar o comportamento. No mesmo instanteimaginou que se casasse com Roger Noleville, estaria apenas trocando deendereço, mas a prisão domiciliar continuaria.

— Talvez seja melhor voltarmos para minha casa, sr. Noleville, já que aminha conversa o ofende.

Ele concordou prontamente com a expressão séria.

— Acho que é o melhor que temos a fazer. Ouso propor também que tomeuma xícara de chá de hortelã, já que a percebo agitada.

Eleanor se esforçou para não revirar os olhos e dizer exatamente o quepassava por sua mente, porém optou por preservar a boa educação que recebera.

Contudo, pensando bem, talvez o problema fosse ela. Nenhuma mulher, emseu juízo normal, ousaria questionar os valores patriarcais. Ambos se mantiveramem silêncio até que a carruagem parou diante da casa dos Griffin. Logo queStanton abriu a porta, Noleville tirou o chapéu em cumprimento e despediu-se.

Ela não se importou em lhe dar uma resposta, entrando na casa como umfuracão e subindo direto para o quarto.

— Quanta estupidez! — resmungou pelo caminho, sem saber se estava sereferindo a Roger Noleville ou a si mesma.

Valentine sentou-se à sua escrivaninha, examinando os convites querecebera. Um jantar, um recital e dois bailes. Tudo para aquela noite, tambémaproximadamente no mesmo horário.

Pegou o convite para o recital e ficou pensativo. Seria muito improvávelque Eleanor Griffin escolhesse aquele programa. Na verdade, não se interessava

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por programa algum. Seria melhor ir ao clube e se distrair com o jogo. Assim de-cidido, pôs de lado os quatro convites.

Levantou-se e já deixava o escritório, quando mudou de idéia e voltou àescrivaninha.

Era bobagem evitar Eleanor depois do que acontecera na noite anterior.Dia mais, dia menos, voltariam a se encontrar em alguma festa. E tinha deconfessar a si mesmo que vê-la naquela manhã ao lado de Roger Noleville o haviadeixado um tanto aborrecido. Eleanor estaria selecionando os pretendentesagora que já desfrutava de sua liberdade?

— Está louco, Valentine — murmurou, pegando os convites novamente, ecolocando-os no bolso.

Capítulo VI

Ao entrar no salão do segundo baile da noite, Valentine reconheceu quedeveria ter analisado melhor os convites e definido qual seria o da preferênciade Eleanor.

Ela também não estava ali. Faltava verificar se tinha ido ao recital ou ao jantar.

— Deverill — o duque de Melbourne chamou, batendo nas costas do amigocom entusiasmo demais.

Valentine surpreendeu-se com a aparente alegria de Sebastian.— Não fique assim tão feliz em me ver — o marquês murmurou, notando

que íris Stewart vinha na direção deles. — Não estou aqui para afugentar asdamas que querem chamar sua atenção. Na verdade, procuro Eleanor.

— Diabos — o duque praguejou, já que não conseguiria escapar da srta.Stewart.

— Lamento, mas estou indo embora. Onde está sua irmã afinal?— Charlemagne e ela foram ao jantar dos Goldsborough. Caia fora daqui

antes que seja tarde demais. Lembre-se, porém, de que tem mais um débitocomigo.—Ah, nada disso — protestou. — Vou embora exata mente para cumprir o

que me determinou há poucos dias. Meu outro débito. Não vai me impingir maisum.

O duque suspirou.— Está bem. Deu um passo à frente para cumprimentar a filha da dona da

casa. — Srta. Stewart. Está especialmente adorável esta noite.Deixando o amigo em apuros, Valentine saiu discretamente do baile.

— Vamos para a casa dos Goldsborough — ordenou ao cocheiro.

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O criado dirigiu-lhe um olhar atravessado. Era o terceiro destino empouquíssimo tempo.

Chegar no meio de um jantar era uma indelicadeza, mas, em se tratando delorde Deverill, tudo seria aceito com normalidade.

O mordomo dos Goldsborough o anunciou, e ele seguiu o criado, entrandoem uma enorme sala de jantar. Por ter um título, todos se levantaramrespeitosamente. Valentine não olhou para Eleanor, apesar de já tê-la localizadocom o canto dos olhos.

Dirigiu-se então aos donos da casa.— Minhas desculpas, George, milady—anunciou. — Precisei cuidar de alguns

negócios urgentes, por isso me atrasei.George Goldsborough deu uma piscadela para Deverill.— E qual o nome desse negócio urgente? — o anfitrião perguntou, rindo.

Só podia pensar que o marquês se atrasara porque havia estado entretidocom alguma mulher.— George! — exclamou a sra. Goldsborough, ruborizando e olhando feio

para o marido. Depois se voltou para o recém-chegado. — Estamos muito felizesque tenha se juntado a nós, lorde Deverill.

— Obrigado, lady Goldsborough.— Deeds, por favor, mostre a lorde Deverill a sua cadeira — a condessa

instruiu o criado.Enquanto se dirigia ao lugar, Valentine reparou que Eleanor e Charlemagne

estavam sentados ao lado do conde e da condessa.— Shay, Eleanor — cumprimentou-os com um leve aceno de cabeça.—Valentine. Faz sentido que tenha chegado a tempo para a famosa

sobremesa de chocolate de lady Goldsborough — Shay disse, rindo.— Enfrentaria uma batalha para estar aqui. Nada me faria perder essa

delícia — o marquês falou com entusiasmo, apesar de nunca ter comido a talsobremesa de que Shay vivia falando.

Eleanor não disse nada, apenas o cumprimentou baixando a cabeça.Valentine aspirou o perfume que ela usava e se arrependeu imediatamente deestar ali. Deveria ter ido ao clube.

Como bem imaginara, terminou se sentando numa das extremidades damesa, com Amelia Hartwood de um lado e Roger Noleville do outro. Cumprimentouos dois e mais uma vez desejou estar em qualquer outro lugar, menos ali.

Amelia estava totalmente ruborizada e as mãos tremiam, mal segurando ostalheres. Já Noleville olhou, interessado, para Valentine.

— Deverill. Eu o vi no parque esta manhã.— Oh, também o vi, Noleville. Ao lado de lady Eleanor, se não me engano.— Sim, é verdade.— Estava cortejando-a, não?

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Roger ficou embaraçado e abaixou o tom de voz:— Trata-se de um assunto pessoal, não acha?De certo e tampouco era do feitio de Valentine constranger as pessoas em

busca de informações.

— Bem, sou amigo da família por isso meu interesse.— Foi exatamente o que a srta. Griffin me disse. Na verdade, ela atédefendeu o seu comportamento com as irmãs Mandelay.

— Que comportamento? Estávamos apenas conversando.— Não sou eu que irá discordar — Noleville comentou, retraindo o sorriso

irônico. — Mas não é nada elegante um cavalheiro solteiro abordar mulheres empúblico.

— O quê?— Deverill — Shay chamou do outro lado da mesa. — Quem lhe vendeu

Iago?

Valentine respirou fundo. Era melhor não começar uma briga com ninguém,especialmente em um jantar elegante. Além do mais, dada a falta de imaginaçãode Noleville, duvidava que Eleanor pudesse considerar aquele impertinente comoum pretendente viável.

— Não comprei Iago. Eu o ganhei em uma mesa de jogo. Era de Wellington.Um murmúrio percorreu o ambiente e vários dos convidados se

surpreenderam ao ouvir que o duque de Wellington jogava cartas e que havia

perdido a partida. Dada sua habilidade em estratégias de guerra, o duque não eraum mau jogador. Porém, Valentine se empenhara ao máximo, já que queria Iago aqualquer preço.

Antes que Noleville ou outra pessoa o acusasse de ter trapaceado o duqueou qualquer outra bobagem do gênero, o criado aproximou-se, trazendo a famosasobremesa. Parecia feita de framboesas e chocolate derretido. Valentine ar-riscou uma colherada e olhou em volta para ver se alguém havia notado que eletestava o doce.

Percebeu que Eleanor o olhava e tentou adivinhar-lhe o pensamento pelaexpressão do rosto delicado.

Parecia decepcionada.Com ele? Por quê, em nome de Deus? O desempenho de Valentine na noite

anterior tinha sido excepcional. Ou seria ciúme porque o vira conversando com asirmãs Mandelay.

Comeu mais uma colherada da sobremesa e achou o doce gostoso. Nãomerecia, porém, os muitos elogios que Shay vivia fazendo a respeito.

Voltou a fitar Eleanor. Precisava falar com ela. Sim, ele deveria estarvigiando-a, seguindo as ordens de Melbourne. Não estava agindo da forma que oduque esperaria de um amigo.

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Talvez tivesse razão ao ter desconfiado que Eleanor, agora não mais tãoinocente, havia decidido se casar. Mas certamente não poderia considerar comopretendente um idiota como Roger Noleville. Ainda assim, por que estariadesapontada com ele, o marquês de Deverill, amante fantástico?

Depois da sobremesa, as damas abandonaram a mesa para conversar sobremexericos e bordados. O mordomo trouxe uma caixa de charutos e vinho doPorto, enquanto Valentine se levantava de seu lugar e escolhia outro ao lado deShay.

— Que diabos está fazendo aqui? — o amigo sussurrou, colocando o copo nafrente da boca para que suas palavras não fossem ouvidas por ninguém mais, alémde Deverill. — Vim apenas porque Neil precisava de um acompanhante.

— Estou aqui porque sigo ordens de seu irmão. Se soubesse que Eleanor

estaria acompanhada, eu poderia estar em outro lugar mais interessante. Jádisse mil vezes para Melbourne me enviar um recado quando minha presença nãoé necessária.

— Pelo menos a sobremesa valeu a viagem — Charlemagne disse, rindo.Valentine aproveitou a deixa.— Falando em sobremesa, Eleanor quase não tocou na dela. Ela está se

sentindo bem?— Oh, deve estar confusa. Nem sabe o que fazer com tantos

pretendentes. Hoje apareceram três na parte da manhã, outros quatro depois do

almoço, todos querendo cortejá-la.— Sete em apenas um dia? — Valentine quis saber, já sentindo um nó no

estômago.Shay assentiu.— Verdade seja dita, se todos não fossem uns idiotas, eu ficaria

preocupado. Mas sei que ela não está interessada em nenhum desses sete.— Mas já decidiu que quer se casar—insistiu, procurando não demonstrar

muito interesse.— Não sei nada a respeito. Ela não me faz confidências. Tornei-me um de

seus inimigos.— Oh, Shay, não se preocupe, logo ela irá voltar às boas com a família toda.

Apenas quer ter a chance de experimentar coisas novas, antes de se unir aalguém para o resto da vida.

Depois de fumarem e beberem, os homens voltaram a se aproximar dasdamas. Lady Goldsborough informou Deverill de que havia um lugar vago ao ladode lady Wendermere, mas preferiu sentar-se próximo a Eleanor.

— Deveria estar sentado ao lado de lady Wendermere — Eleanorcontrapôs. — Ela é uma excelente companhia.

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— Não sou o único homem presente e prefiro escutar respostas às minhasperguntas.

Ele queria perguntar a Eleanor se por acaso estava arrependida com o quehavia feito na noite anterior. Não tinha certeza, porém, se gostaria da resposta

que ela poderia dar.— Estou surpresa de vê-lo aqui esta noite — ela continuou em voz baixa.— Pareceu-me um bom lugar para conseguir uma refeição agradável.— Então não veio por minha causa?Por um momento, ele apenas olhou para Eleanor, encantado por saber que

dizia exatamente o que pensava, sem rodeios. Era o que o marquês habitualmentefazia, mas não naquela noite.

— E por acaso eu deveria? — inquiriu ele, arqueando uma sobrancelha.— Desculpe a presunção... — ela respondeu sem saber se estava com raiva

ou frustrada pela resposta fria.— Bem, joguei uma moeda — mentiu — a fim de me decidir aonde deveriair, se aqui ou no baile dos Stewart. Depois, pensando melhor, como eles têm duasfilhas solteiras e de pés grandes, preferi vir para cá — emendou, contraindo aboca para não rir.

— Oh, entendo. E posso lhe fazer uma pergunta?—Apesar de terpercebido a brincadeira, Eleanor resolveu pressioná-lo até o fim.

— Claro.— A noite passada significou alguma coisa para você? Não é possível! Que

coragem dessa mulher em me enfrentar dessa forma!— A noite passada? O que posso dizer? — Divagou, ganhando tempo para

controlar a emoção de ter sido pego de surpresa. — É claro foi uma noiteagradável, você estava excepcionalmente adorável, e eu não nadava havia um bomtempo.

— Não nadava havia um bom tempo... sei... — ela ecoou. — Suponho que oresto não tenha sido novidade alguma. Costuma fazê-lo seguidamente.

Deus, Eleanor não podia estar com ciúme, Valentine pensou.— Como foi o seu passeio com Roger Noleville esta manhã?— Como foi o seu bate-papo com as irmãs Mandelay? — ela replicou.— Chato, como era de se esperar, mas ajudou a passar o tempo.Eleanor franziu levemente a testa.— Quer dizer que não tinha nada mais interessante para fazer.Valentine respondeu de pronto:— O que eu gostaria de fazer não era possível, já que você não estava

disponível.Eleanor arregalou os olhos.— Então queria...— Oh, sim. Você, no entanto, fez uma exigência, e decidi honrá-la.

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Agora foi a vez de Valentine experimentar o prazer de virar o jogo,pegando-a desprevenida.

— O jeito foi partir à procura de outra mulher?Como se ele pudesse tirar Eleanor de seus pensamentos... Além do mais,

aquela conversa estava se tornando muito pessoal.— Eleanor, não quero mudar nada em minha vida. Foi você que mostrou essedesejo. Estou muito feliz com meu modo de viver.

— Quer dizer que é feliz vivendo sem compromissos e com brevesrelacionamentos? — perguntou em tom de provocação.

— Isso não é de sua conta. Não se esqueça que foi você quem colocou asregras desse jogo. — Valentine se levantou, procurando não subir o tom de voz. —Não espere que me torne um monge ou algo parecido apenas porque...

— Desculpe-me — ela disse, levantando-se também. — Mas, se você não se

importa, preciso assumir algumas responsabilidades e tomar algumas decisõessérias sobre o meu futuro. A sua determinação a ser frio e distante está medeixando com dor de cabeça.

— Engraçado que estou me sentindo da mesma forma. Pode me insultar, sea faz se sentir melhor, minha querida, mas passe um pouco de tempo olhando-seno espelho. Penso que poderia descobrir que me inveja mais do que me desaprova.

— Pode ser que sim, sob alguns aspectos — ela admitiu, surpreendendo-o.— Por exemplo, no que diz respeito à liberdade de fazer e dizer o que quiser,escolher a companhia que lhe agrada. Mas eu não invejo a sua falta de...

sentimento por outra pessoa, que não seja você mesmo.— E melhor encerrarmos essa nossa conversa — ele falou, virando-se e

deixando a sala sem nem se despedir dos anfitriões.Eleanor sentou-se novamente, tentando ignorar o vazio que tomara conta

de seu peito.Não previra o que estava acontecendo. A idéia inicial era viver

intensamente uma aventura e depois tocar a vida, porém jamais poderia terimaginado que fazer amor com Deverill a marcaria para sempre, não conseguiriaesquecê-lo.

— Neil, o que há de errado? — Shay perguntou, aproximando-se da irmã. —Já vi ladrões que estão para ser enforcados com cara mais feliz.

— Não há nada de errado. Estava apenas pensando.— Ficou assim depois de ter saído com Noleville. Por acaso o idiota disse

alguma coisa que a magoou? Se for isso, faço-o em pedaços.Eleanor pensou em pedir a Shay que lhe fizesse esse favor, não se

referindo a Noleville, e sim a Deverill. Ela gostaria que Shay fizesse o marquêsem pedaços.

— Não é necessário — murmurou. — Estou apenas cansada. Poderia melevar de volta para casa?

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— Imediatamente. — Charlemagne se pôs de pé.Os dois se desculparam com lorde e lady Goldsborough e saíram.— Perdoe-me por tirá-lo da festa — Eleanor disse ao irmão quando já

estavam na carruagem.

O que ela precisava era parar de pensar em Deverill e nem se lembrar danoite anterior.Será difícil não pensar no momento mais importante de minha vida.— Eu estava mesmo querendo arranjar uma desculpa para deixar a festa —

Shay falou. — Vim só pela sobremesa, lembra-se?Eleanor forçou um sorriso.— Como pude me esquecer.— Mas, então, não vai me dizer o que há de errado.— Já disse. Estou apenas...

— Cansada. Sim, eu a escutei. A propósito, notei que Valentine deixou afesta como um louco após a conversa que tiveram. Ele por acaso disse algumacoisa que a ofendeu, Neil? Ou falou as bobagens de sempre?

—As bobagens de sempre — respondeu lacônica. Por mais que seesforçasse, não estava conseguindo sequer conversar.

Ficaram sentados em silêncio por vários minutos e Eleanor fingiu estar comsono para não deixar Shay preocupado.

— Neil?— O que foi?

— Está chorando? — quis saber o irmão, aproximando-se.— Não. — Eleanor enxugou a lágrima furtiva com as costas das mãos.— Está, sim.— Oh, que bobagem. Estou terrivelmente feliz. Consegui tudo com que

sonhei. Tudo é como imaginei.Shay ficou em silêncio, depois tirou as próprias conclusões sobre as

lágrimas da irmã.— Então não se trata de Noleville. É tão idiota que não teria imaginação

nem personalidade para fazê-la chorar.— Esqueça esse assunto, Shay.— E Valentine, não é?— Ora, quem se importa com o marquês de Deverill? Eu certamente não.A carruagem parou diante da casa dos Griffin, e Stanton ajudou Eleanor a

descer.— Milorde?—O mordomo olhou, confuso, para Charlemagne, que continuava

sentado.— Ainda é cedo, Stanton. — Ele deu uma ordem ao cocheiro. — Preciso ver

uma pessoa.

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— Necessita de mais alguma coisa, milorde? Valentine levantou um pouco acabeça. Hobbes estava à porta, o corpo já meio voltado em direção aos quartosdos criados.

— Não, pode ir dormir.

— Obrigado, milorde.Valentine tomou outro gole de uísque. Boodle também não tinha oferecido oque ele queria aquela noite. As perguntas de Eleanor sobre como conduzia suavida o levaram ao azar e havia perdido em todos os jogos em que se arriscara.Agora estava completamente bêbado.

Bateram à porta e Valentine resmungou. Hobbes, porém, foi atendê-la eacompanhou a visita, mesmo sendo tão tarde da noite.

— Charlemagne? O que veio fazer aqui?— O que disse a Eleanor?

— Como?Shay sentou-se na frente de Valentine, encarando-o com expressão séria.— Durante o jantar, conversou com ela, depois saiu. Sobre o que falaram?— Não me lembro. E, seja lá o que tenha sido, não é de sua conta. Fui

chantageado para vigiar sua irmã, não para relatar as minhas conversas.— O acordo incluía fazê-la chorar?Valentine franziu a testa. Entendera certo? Eleanor havia chorado?— Tem certeza de que foi culpa minha? Parece que os membros de sua

família estão contribuindo bastante para deixar sua irmã em lágrimas.

— Pode ser, mas dessa vez, estou certo que o motivo foi você. E não mevenha dizer que não sabe por quê. Melbourne não o recrutou para piorar ascoisas.

— E como estão chamando a chantagem? Recrutamento?— Não mude de assunto.— Não me lembro do que conversamos — Valentine mentiu. — As mulheres

choram à toa. Como pode ter certeza de que não entrou um cisco no olho deEleanor. Espero que você não perca a cabeça cada vez que vir uma mulherchorando.

— Eleanor nunca chora.Valentine tomou outro gole de uísque. Maldição! Eleanor e ele tinham

conversado, depois ela o deixara irritado. Havia sido ela a começar com aquelasperguntas e considerações desagradáveis.

— Eu não daria muito crédito ao que uma mulher fala. Sem dúvida, Eleanorquer algum presente, ou talvez, um vestido novo, quem sabe. Um daqueles comdecote profundo. Maravilhosos.

— Pare com esse tipo de comentário. Não sei como as mulheres apreciamsua companhia, quando as vê com tanto desagrado.

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— Não é assim, eu apenas não me deixo abalar por lágrimas. Basta vocêfalar algumas frases melosas, ou beijá-las que elas já se imaginam noivas e eu,por outro lado, já me vejo preso a uma coleira.

— Não acredito que você seja tão desprovido de bons sentimentos. —

Charlemagne se levantou, pronto para se retirar, indignado.Valentine se ergueu também, mas com mais dificuldade.— Devo ter algum sentimento escondido riu em alguma parte do coração,

apenas não consegui encontra-lo ainda.— Isso não passa de desculpa para seu comportamento leviano. Talvez

pense assim porque não tem irmã ou sobrinha e tira conclusões pelas mulheresfúteis que sai. Se disso algo nessa linha de pensamento a Eleanor, deve desculpasa ela.

— Bobagem. — Valentine riu com deboche.

— Não me faça pedir uma segunda vez — ameaçou Shay.— Tive mãe também. Mas as mulheres que guardo nas lembranças são asprostitutas que meu pai punha dentro de casa. Com o tempo, esqueci até comominha mãe era. Porém, as mulheres são todas iguais.

Charlemagne esmurrou Valentine. Se o marquês não estivesse tão bêbado,teria reagido, mas, no estado em que estava, nada fez. Se ao menos o amigosoubesse o quanto estava amargurado e infeliz, entenderia que estava usando avulgaridade para defender um coração apaixonado. Embora a estratégia nãofosse das melhores.

— Não sei no que Sebastian estava pensando quando o escalou para vigiarEleanor. — Charlemagne limpou as mãos em um guardanapo e deixou-o caído nochão. — Fique longe de minha irmã, Deverill. Bem longe.

Depois que a porta foi fechada com uma estrondosa batida, Valentine ficousentado, olhando para o copo de uísque. Se estivesse sóbrio, teria revidado osoco de Charlemagne. Ou o desafiado a um duelo.

Mas por que faria isso? Pelo fato de o amigo tê-lo esmurrado? Sabia quehavia merecido o soco. O pior era que Shay o proibira de ver Eleanor Griffin.

— Droga! — praguejou e tomou o restante do uísque que havia no copo.Sebastian examinava alguns documentos quando Zachary entrou no

escritório, seguido de Charlemagne.— Soube o que esse idiota fez? — Zachary perguntou ao irmão mais velho,

sentando-se numa cadeira.— Creio que vou ficar sabendo agora.— Fiz porque foi necessário — Shay se defendeu. A voz ainda demonstrava

raiva. — E você não deveria ter permitido que ele assumisse esse papel.Se havia uma coisa de que Sebastian não gostava era que alguém lhe

dissesse que tinha cometido um erro e que outra pessoa precisou corrigi-lo.— O que fez, Shay?

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— Ele deu um soco em Deverill — Zachary se adiantou. — E exigiu queficasse longe de Neil.

Sebastian arregalou os olhos, surpreso.— Esmurrou Deverill? E como conseguiu sobreviver?

— Ele estava bêbado.—Por que, precisamente, sentiu necessidade de esmurrar o meu amigo ealiviá-lo de uma obrigação que tinha comigo?

— O marquês... disse alguma coisa a Neil na noite passada que a fez chorar.Bem, por isso Melbourne não esperava.— O que ele disse?— Não sei.— Você não sabe e mesmo assim...— Eleanor não iria me contar. Nem Deverill. Para que precisamos da ajuda

dele? Eleanor tem nos pedido que a escoltemos às festas. Não era isso o quetinha em mente? Não somos melhores do que Deverill? Precisava ter ouvido asbarbaridades que ouvi.

Melbourne franziu a testa.— Ele disse alguma coisa que desrespeitasse Eleanor?— Não especificamente. Falou mal de todas as mulheres em geral, inclusive

da mãe dele. Esse homem deveria ficar a milhas de distância de nossa irmã.Sebastian levantou-se devagar.— Quer dizer que confrontou um bêbado, incitou-o a dizer alguma coisa

lamentável e então o esmurrou. Em público, sem dúvida.— Não, o marquês estava na biblioteca de sua casa.— Oh, um bêbado caseiro — Sebastian comentou, escondendo o riso. — Por

acaso você parou para pensar o que teria levado Deverill a se embebedar?— Talvez se sentisse mal por ter dito a Neil coisas que a magoaram? —

Zachary questionou.— Como se Deverill sentisse alguma coisa por alguém — opinou Shay.— Quando esse lamentável episódio aconteceu? — perguntou Sebastian, já

tomado pela raiva e a frustração.Maldição. Deverill era a única pessoa em quem Neil confiava, e não apenas

ela e Valentine haviam brigado, mas Charlemagne esmurrara o marquês. E agoraMelbourne tinha perdido a sua melhor arma para manter Eleanor a salvo.

— A noite passada — Shay resmungou. — Bem tarde da noite.— Já que ele não o desafiou a um duelo, acredito que Valentine esteja

disposto a aceitar um pedido de desculpas. E é isso que você vai fazer.— Não vou me desculpar de jeito algum — Shay contrapôs com o rosto

vermelho de raiva.— Oh, vai, sim, ou me desculparei em seu nome.— Perdoa muito facilmente, Melbourne.

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— Diga isso a Eleanor — Sebastian falou. — Bem, Charlemagne, desculpe-secom Deverill. Se não for hoje, que seja amanhã.

Valentine entregou ao criado de Halfax o seu casaco, o chapéu e as luvas.Quase tinha deixado de comparecer à festa, mas, depois do murro de

Charlemagne, não ia dar àquele cabeça-quente a satisfação de pensar que sesentira intimidado. Além disso, não havia visto Eleanor por um dia inteiro e querialhe pedir desculpas.

Não que ele tivesse errado, mas a fizera chorar.Não deveria ter se deixado levar pela raiva e exposto seus piores

pensamentos. Por sinal, não deveria ter feito muitas coisas com Eleanor, e simmanter-se a distância. Mas um sentimento ou emoção fora forte o suficientepara fazê-lo mudar seus hábitos para espioná-la. E depois, como que movido poruma sede insaciável, não só a havia beijado como lhe tirado a virgindade.

A primeira pessoa que encontrou ao entrar no salão foi Charlemagne.— Deverill — Shay resmungou e lhe ofereceu a mão.— Que diabos você quer?— Pedir desculpas pela noite passada.— Alguém o está obrigando a fazê-lo?— Honestamente?— Por favor.— Estou pedindo desculpas porque Melbourne assim o exigiu.— Vamos esclarecer uma coisa então. Se eu não estivesse bêbado, você não

teria saído de minha casa como saiu. Mas eu estava embriagado e não sei o quedisse. Você deve ter tido razão ao fazer o que fez. Não precisa se desculpar.

— É um homem estranho, Deverill.— Não se faz alguma coisa, a não ser que se queira. E o que penso.Automaticamente os pensamentos do marquês se voltaram para a noite

 junto ao lago e o ato de amor que se seguira. Segundo a própria filosofia, tinhaalguma coisa a mais para pensar. E era isso o que mais vinha fazendo nos últimostempos.

— Não o quero como inimigo, Deverill.— Então nunca repita o que fez. — Olhando acima do ombro de Shay, viu

Melbourne se aproximando. — E vou lhe dar mais um conselho amigo. Por estanoite, o clã Griffin deve ficar longe de mim. — Com um aceno, ele se voltou para amesa de refrescos, deixando os dois irmãos no meio da sala.

Considerando que tinha deflorado a irmã deles, Valentine deveria tertentado ser mais simpático e caridoso, mas sua mente estava confusa. Eleanordançava uma valsa com John Tracey naquele exato momento e parecia evitarolhar para o lado onde o marquês estava. Talvez ela tivesse encontrado umhomem com quem pudesse repetir a sua aventura.

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Valentine fechou os punhos. Não, aquela situação estava ficando pior doque pensara. Para ele não havia sido apenas uma simples noite de prazer. Poroutro lado, Eleanor tivera o seu momento de liberdade e agora pretendia voltar àsim busca pelo marido ideal.

John Tracey poderia ser um esplêndido candidato à sua mão. Era militar,fora promovido a major, se as divisas em seu uniforme estivessem certas. Jovem,dedicado, muito atraente, o irmão do conde Heflin também tinha garantido umarenda que vinha das propriedades da família.

— Bastardo — Valentine murmurou.Finalmente o marquês ousou olhar para Eleanor e a viu rindo de alguma

coisa que Tracey dissera. Os olhos dela dançavam, o sorriso era mais brilhanteque a luz do sol. Diabos, isso o estava matando, e nem sabia por quê. Ou talvezsoubesse, mas não quisesse admitir...

— Bem, não é interessante? — Stephen Cobb-Harding apoiou-se na parede,ao lado do conservatório Halfax.— O que é interessante, além de Deverill estar descartando uma mulher

sem uma boa razão? — Andrew Perline questionou.— Abaixe a voz, Perline e preste atenção. Deverill tornou-se uma sombra

de lady Eleanor, isso vinha acontecendo há semanas, e agora ela nem lhe dirigeum olhar. Parece que o marquês rompeu com Charlemagne Griffin e Melbourne.Alguma coisa aconteceu.

— Talvez tenham se cansado um do outro — Perline falou.

— Pode ser...— Então o que isso interessa a você? Valentine ainda está com suas

promissórias. E você tem poucos dias antes de começar a chamar Paris de lar.— Obrigado por me lembrar e mantenha a voz baixa. Mas não é a isso que

estou me referindo. Não precisamente.— Então a que...— Se houve um rompimento entre Deverill e Melbourne, posso ter a chance

de contar ao duque a minha versão da história. — Cobb-Harding observou Eleanorpor algum tempo. — E aposto que Sebastian não ouviu nenhum dos lados, assimminha tarefa será simples.

— Não pense que o duque vai deixá-lo se casar com ela.— Quando eu tiver terminado a minha história, Melbourne estará me

implorando para fazer de Eleanor a minha esposa. E a família Griffin certamentetêm dinheiro suficiente para eu pagar aquelas malditas promissórias. Se tudocorrer como planejo, terei uma chance de mudar de vida, sem precisar sair dopaís.

— Estou contente que tenha voltado a Londres, John — Eleanor disse,sorrindo, enquanto caminhavam em direção à mesa dos refrescos. — Vocêcertamente abrilhanta a noite.

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— Acredito que você seja a constelação mais brilhante do firmamento. —John Tracey retribuiu o elogio, dirigindo a Eleanor o mais aberto dos sorrisos. —Sou apenas um astrônomo que a admira.

Com leve aceno de cabeça, Eleanor aceitou o copo com ponche que ele

oferecia. Felizmente, John Tracey estava ali naquela noite. Quando vira a figuraimponente de Valentine entrando no salão, a sensação que havia tido foi dedesmaio, tal a avalanche de sensações que a dominara. E era assustador estardividida entre o desejo de apertar o pescoço do marquês e ser beijada por ele.

— Boa noite, Tracey.Ao ouvir a voz de Deverill, Eleanor voltou-se, sentindo o sangue subir às

faces. Valentine estava bem próximo, mas com a atenção voltada ao irmão doconde Heflin.

— Deverill. Como vai? — cumprimentou Tracey.

— Quero lhe dar as boas-vindas — continuou o marquês. — ComoWellington vai conseguir ficar sem você?John riu.— Nem quero saber. Tirei uma folga de poucas semanas. Devo voltar à

península em agosto.— Espero que não seja tempo suficiente para os franceses descobrirem

que você não está lá. — Deverill finalmente se voltou em direção a Eleanor. —Imaginei se poderia interromper a conversa por um momento. Eleanor está plane- jando uma surpresa para o irmão, e tenho uma sugestão a lhe dar.

Tracey inclinou a cabeça.— Naturalmente. Não quis monopolizá-la, milady. Eleanor se irritou com

Deverill.— Se eu achasse que sua companhia não fosse agradável, John, eu teria

dito. Poderia fazer a gentileza de me trazer um copo de vinho Madeira?O major fez uma saudação.— Ao seu dispor. Voltarei já.Quando Tracey estava a certa distância, Eleanor voltou-se a Valentine.— Não me diga que está espantando os homens de mim.— Ele é muito... brilhante, não é?— Pare com isso. O que deseja?— Uma palavra com você.— Pois fale.Deverill fez uma careta.— Não aqui. Na varanda, quem sabe?— Nem pensar — ela negou, abrindo o leque para espantar o súbito calor

que subiu pelo corpo.— No hall de entrada então.— Não. — E o leque foi agitado com mais força ainda.

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— Eleanor, preciso falar com você em particular. — Ele sustentou o olharpor um momento, depois respirou fundo. — Se tiver vontade de me punir, poderáfazê-lo em particular, sem receio de um escândalo.

— Oh, está tentando me seduzir? — indagou ela, franzindo o cenho. — E o

que foi essa mancha roxa em seu queixo? A quem devo agradecer?— Eleanor, por favor.Ela nunca pensara ouvi-lo se desculpando, não diretamente, pelo menos.

Contudo era melhor ficar atenta, sabia bem que estava diante do mestre damanipulação. O problema era que queria vê-lo em particular e monopolizar toda asua atenção. Enquanto tivesse consciência dessa fraqueza, nenhum mal aacometeria.

— Muito bem. Mas somente por alguns minutos. Ele concordou com umgesto de cabeça.

— Onde?— Encontre-me na varanda em cinco minutos.Com uma reverência, Valentine se afastou. Imediatamente Eleanor desejou

ter recusado o pedido, mas não podia mais voltar atrás. Logo que ele sumiu devista, vários cavalheiros a rodearam, querendo uma dança ou elogiando o vestido,os cabelos...

Eleanor não havia percebido antes que a presença de Valentine mantinha oshomens a distância da mesma forma que seus irmãos faziam. Conseguiu sair dosalão instantes depois, sem chamar atenção, e dirigiu-se à varanda. Encontrou-a

vazia. Provavelmente Valentine se cansara de esperar e tinha ido buscardistração em outra parte. Virou-se para a porta quando ouviu a voz do marquês:

— Indo embora tão depressa?Valentine surgiu das sombras. Eleanor procurou fazer a respiração voltar

ao normal, mas não podia controlar nem as batidas do coração.— Estou aqui — ela disse. — O que você quer?— Pedir desculpas.— Desculpas? Mas nem sabe por que estou com raiva de você.Valentine mordeu os lábios em um gesto de apreensão.— Não, não sei, mas não importa. Eu a deixei com raiva, e não era minha

intenção. Certamente não pretendia fazê-la chorar. Lamento muito.Eleanor contraiu o rosto de raiva.— Como sabe que chorei? Valentine a tocou de leve no rosto.— Charlemagne me contou.Ela levou as mãos à boca em um gesto de surpresa.— Oh, Deus. Foi por isso que ele não entrou em casa quando voltamos da

festa.— Aceitas então?— O quê?

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— Minhas desculpas. — O marquês continuou o pedido com um tom de vozbem sensual.

— Por que está fazendo isso?Ele deu um passo à frente e os dois ficaram bem perto.

— Não sei pedir desculpas direito, Eleanor. Apenas quero manter a nossaamizade e relevar acontecimentos passados.Eleanor ficou em silêncio por um momento, tentando descobrir se

Valentine estava sendo sincero ou brincando com suas emoções.— Por que se importa? Já fez sexo comigo, sendo assim, pode seguir em

frente. Não é o que sempre faz?— Está com ciúme? Pensei que aquela noite fosse o seu momento de

liberdade, sua aventura...— Não quero mais um momento de liberdade — ela o interrompeu.

Horrorizada, percebeu que não estava dizendo o que planejara. Pretendiafalar a Valentine que ele seria mais feliz se não fosse tão egoísta, que voltasseseus sentimentos para outras pessoas também. Não queria confessar quecontinuava desejando tê-lo ao seu lado.

— Não significa que eu espere que... — ela tentou se corrigir. Valentineagarrou-a pelos ombros e prendeu-a com o olhar.

Antes que pudesse reagir, sua boca foi tomada por lábios quentes em umbeijo que a remeteu aos delírios de paixão da noite no lago.

Como se tivessem sido transportados de volta àquele pequeno paraíso, por

alguns momentos os dois se abraçaram e se beijaram com a mesma volúpia edesejo de sempre.

— Lamento, mas o que estava dizendo? — ele murmurou, sem tirar os olhosda boca de Eleanor.

— Eu... eu... não me lembro.— Oh, você queria mais do que um momento de liberdade. Lembro-me disso

— o marquês falou, embora estivesse a ponto de perder-se novamente noesplendor daqueles seios que subiam e desciam, revelando a respiraçãodescompassada de Eleanor.

— Sim, sim. Estava querendo dizer que não espero que continue meajudando. Imagino que já desfrutei demais de sua boa vontade.

Valentine balançou a cabeça, negando.— Não foi caridade, Eleanor. Nunca faço caridades.Oh, Deus, como queria que ele se calasse e voltasse a beijá-la...— Mesmo assim, você...— Eleanor, você é uma mulher complicada — ele resmungou, beijando-a de

novo com sofreguidão. — Eu a quero. Se essa é a liberdade que tem em mente,então nos encontraremos em um lugar isolado.

— Nesta casa? — ela perguntou, menos chocada do que deveria.

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Valentine engoliu em seco, mal podia crer que ela estava aceitando seuconvite. Mas havia pessoas demais vigiando os passos dos dois. Melbourne omataria se descobrisse o que estava acontecendo entre eles. Eleanor estariadesgraçada e seria forçada a se casar com Noleville. Ou, pior para ele, com

Tracey. Sentiu um frio na barriga. Alguém tinha de manter o bom senso e essaera a função de Deverill naquele momento.— Não aqui. Descobrirei um lugar.— Não deveria me dar tempo para pensar — ela o avisou, fazendo um certo

charme e levantando a mão para acariciar os cabelos negros.O gesto provocou arrepios em Valentine.— Provavelmente, não — respondeu, forçando urf1 sorriso.— Ordenaram-me que ficasse longe de você, Eleanor. E creio que

Charlemagne já nos viu conversando.

— Vou conversar com Shay. Meus irmãos não vão interferir em minhaagenda social.— Agora me diga. Por que estava com raiva de tnim? Eleanor olhou de

relance para a porta, como se temesse que alguém aparecesse ali e osencontrasse juntos -

— Não sei bem quem você é, Valentine. Num momento salva minha virtude,no próximo a tira de mim, então me conforta, e depois me insulta. Metade dotempo, invejo a sua liberdade e a outra metade reprovo o seu comportamento.

Então não tinha sido ciúme, mas desapontamento, concluiu Valentine.

— Levei muito tempo para me tornar como sou, Eleanor. Julgue-me, seassim o desejar, mas estou vendo algumas surpreendentes similaridades entrenós ultimamente.

— Concordo com você. — Dessa vez, ela não se sentiu insultada. — Do quenão tenho certeza, porém, é se mudei ou foi você quem mudou.

Ele sorriu.— Beije-me ou me mate, mas não faça perguntas que não sei responder.— Hum. Não sei se isso me satisfaz. — Ela o beijou levemente nos lábios. —

Procure-me amanhã.— Eu...Antes que Deverill pudesse responder, ela deixou a varanda e voltou ao

salão.— Procure-me amanhã — ele repetiu, cínico.Era algo que ele usualmente fazia, ao convencer uma mulher a procurá-lo,

sem que precisasse se esforçar em seduzi-la. Mas era difícil ser cínico quandosabia que estaria na casa dos Griffin a alguma hora do dia seguinte.

Provavelmente seria mais um dia em que Valentine se levantaria antes doalmoço.

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O duque de Melbourne estava sentado de pernas cruzadas na sala deestar, ouvindo a filha contar uma história divertida sobre um coelho e suaenorme cenoura. Era a décima sétima vez que escutava a mesma história, mas aoportunidade de passar a manhã com Peep era tão rara que ele não se importaria

de ouvir as aventuras do coelho, mais oitenta ou noventa vezes.Penélope levantou os olhos do livro e olhou para o pai.— Que tamanho pode ter uma cenoura gigante, papai?— Não pode ser muito grande já que os coelhos são pequenos. Como eles

poderiam comê-las se fossem grandes demais?— É verdade. Não tinha pensado nisso. — Ela sorriu, beijando-o no rosto.Bateram à porta, interrompendo aquele momento de paz e satisfação entre

pai e filha.— Entre — Sebastian disse, meio aborrecido. Stanton apareceu.

— Peço desculpas, Vossa Graça, mas há uma pessoa querendo falar com osenhor. Eis o cartão que mandaram entregar.O duque ignorou o cartão que o mordomo lhe estendia.— Quem é, Stanton?— O sr. Stephen Cobb-Harding, Vossa Graça.Sebastian lembrava-se vagamente desse nome. Na verdade, Stephen

parecia ter se desinteressado de Neil e sumido do mapa.— Leve-o ao meu escritório. Estarei lá em poucos minutos.— Bom dia, Vossa Graça. Obrigado por me receber.

— Sente-se, Stephen. — Sebastian caminhou na direção de sua cadeiradiante da escrivaninha. — Em que posso ajudá-lo?

— Na verdade, o que tenho a dizer será em benefício mútuo.O duque ficou pensativo, lembrando-se do que a filha dissera sobre os

pretendentes de Neil.— Sou todo ouvidos.— Na noite passada, não pude deixar de notar um certo distanciamento

entre sua família e lorde Deverill. Dado o fato e considerando a naturezadelicada da informação que estou para lhe passar, gostaria de contar com suacompreensão.

Cobb-Harding estava enrolando as palavras e não dizendo nada, Melbournepensou. Mas lhe fez sinal para que prosseguisse.

— Continue, por favor.— Sim, claro. —- Stephen deu uma tossidela. — Lorde Deverill vem

tentando me chantagear.Bem. Obviamente o duque precisava arranjar melhores fontes de

informação, já que não tivera conhecimento disso.— E o que deseja que eu faça a respeito?

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O rapaz ficou em silêncio por um momento, como se não tivesse gostadomuito do aparente desinteresse por parte do duque.

— Serei franco — ele disse por fim. — Poucas semanas atrás, acompanheisua irmã a uma soirée, oferecida por lorde Belmont.

Sebastian apertou os dedos até deixá-los brancos, mas a expressão de seurosto não se alterou.— Sim?— Eu queria levá-la ao Hampton Ball, mas ela insistiu em que a soirée de

Belmont seria mais de seu gosto. Uma vez lá, envergonho-me em dizer,envolvemo-nos em mútua indiscrição. Eu, é claro, imediatamente ofereci fazer acoisa honrada nesse caso e pedir a mão de lady Eleanor em casamento, mas lordeDeverill interveio, atacou-me e ameaçou-me de me levar à bancarrota, se eurevelasse uma palavra do comportamento de Eleanor a qualquer pessoa que fosse.

— Entendo. — Enquanto escutava, Melbourne ficou imaginando se Cobb-Harding tinha alguma idéia de como estava flertando com o perigo. Mas o duquetinha adquirido com o tempo a virtude da paciência, assim permaneceu impassível.— Prossiga, por favor.

Encorajado pelo interesse aparente de Sebastian, Stephen endireitou-sena cadeira.

— Sim. Com a desavença que existe agora entre o senhor e Deverill, temonão haver um modo de evitar que alguém comente o comportamento escandalosode sua irmã. Dessa forma, vim pessoalmente lhe informar o ocorrido, ao mesmo

tempo em que me ofereço para unir o meu nome ao dos Griffin e assegurar que areputação de lady Eleanor não seja arruinada.

—Acredita que casando-se com minha irmã, irá dissuadir o marquês dedivulgar a citada indiscrição, é isso? — indagou Melbourne e olhou para Stephenpor um momento.

Obviamente o rapaz não tinha idéia de como o duque e Valentine eramamigos, e agradecia a Deus por isso. No entanto, mesmo reconhecendo que omarquês agira em defesa de Eleanor, iria pedir a ele algumas explicações. E elatambém precisaria se justificar.

— Presumo que não existam outras testemunhas desse fato que acabou derelatar, além de Deverill e você mesmo.

— Alguns poucos convidados poderiam ter desconfiado da identidade delady Eleanor, apesar de ela estar usando máscara, pois o baile era a fantasia.Bem, ela própria testemunhou o episódio, embora eu a considere participante, enão testemunha.

Isso já tinha passado dos limites.— Eu não ousaria fazer em minha casa o que estou com vontade, e também

não o chamaria do que merece debaixo do teto onde vive minha família—

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Sebastian argüiu, erguendo o tom de voz. — Levante-se e saia imediatamentedaqui. Você tem menos de um minuto para desaparecer de minha propriedade.

Cobb-Harding empalideceu.— Mas vim com a idéia de desfrutarmos de um benefício mútuo. Estarei

salvando a reputação de sua irmã e de sua família.— O nome do que está tentando fazer é chantagem. Para sua infelicidade,você é tão idiota que é incapaz até de um ato baixo como esse.

— Mas eu...— O quê, Stephen? Vai arruinar a reputação de minha irmã se eu recusar a

sua generosa oferta? O que Deverill fez para assegurar o seu silêncio nem sequerchega perto do que farei com você, caso deixe escapar uma palavra sobre o ditoepisódio.

Sebastian levantou-se, e Stephen fez o mesmo.

— Eu não falaria dessa forma. Tenho provas e posso usá-las para forçá-lo ame aceitar.— E que prova poderia ter que não fosse uma mentira?— Posso descrever os seios de sua irmã com detalhes e... O duque agarrou-

o pelo colarinho e o arrastou para a porta, dizendo com voz calma e firme:— Faça o favor de nunca mais passar em frente a essa casa. Aplaudo a

tentativa de melhorar as suas finanças, mas não tolerarei que o faça à custa deminha família. — Aproximou-se de forma ameaçadora do rapaz. — Fui claro?

— Perfeitamente — Stephen murmurou, procurando se desvencilhar da

mão do duque que ainda o segurava, implacável.Com a mão livre, Sebastian abriu a porta do escritório e arrastou o infeliz

até o hall. Stanton, com sua expressão impassível, abriu a porta da frenteenquanto o duque empurrava o visitante para fora. Cobb-Harding rolou os de-graus da entrada, levantou-se às pressas e correu para a sua carruagem.

— Tenha um bom dia, Stephen — o duque disse, dirigindo-lhe um aceno.— Muito bem, Vossa Graça — Stanton falou, fechando a porta.— Chame Charlemagne e Zachary — Sebastian ordenou. — Quero os dois

aqui o quanto antes.— Quem está à minha espera esta manhã? — Eleanor perguntou, vendo

Zachary subir as escadas.Ela acabara de colocar as luvas e estava prestes a descer.— Venha esperar comigo, Eleanor — ele disse sem maiores explicações.— Como assim? O que ou quem? Vou a um piquenique. Ou talvez fazer

compras. Ainda não me decidi. Depende de quem eu escolher para passear. —Pretendia divertir-se naquele dia, sentia-se mais confiante, especialmente depoisdo beijo trocado com Deverill na noite anterior.

Pela primeira vez, Eleanor havia compreendido também ter certo podersobre Valentine. A euforia da descoberta ainda a mantinha meio aérea. Claro que

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agora havia pessoas do tipo de Francis Henning e Howard Fanner esperando parasaírem com ela. Mas Valentine viria visitá-la ainda naquele dia. Disso ela tinhacerteza.

Zachary fez apenas um gesto para Eleanor acompanhá-lo, não lhe dando

maiores explicações. Ela ficou confusa. O irmão era um tagarela e vê-lo silenciosoa inquietou. Quem sabe Valentine já tivesse chegado. Apenas imaginá-lo presentesentiu um arrepio pelo corpo. Se ele aparecera ali tão cedo, significava algumacoisa especial.

Entrou na saleta, certa de encontrar os pretendentes.— Bom dia, cavalheiros...A sala estava vazia. Surpresa, Eleanor virou-se para o irmão. Ele não

parecia admirado e, quando fechou a porta e se acomodou em uma cadeira, elateve certeza de que havia acontecido alguma coisa grave.

— O que foi? — perguntou, preocupada.— Não sei.— Não sabe, ou não quer me dizer nada.— Não sei, mas também não diria se soubesse. Sente-se e tome o seu chá.Não tinha outra opção. Eleanor percebeu que o comportamento típico dos

irmãos voltara a reinar. E o que acontecera com o acordo que havia feito comSebastian? Zachary não o estava respeitando.

— Podemos pelo menos ir à sala de estar? Lá as cadeiras são maisconfortáveis.

— Não creio que possamos.— Ora, Zachary. Melbourne mandou que ficasse de olho em mim ou ele

disse que eu deveria ficar exatamente nesta sala?— Ninguém me falou nada. Mas está correta quanto à mobília. Muito bem,

vamos nos sentar na sala de estar.— Obrigada.Ela teria ido à frente, porém, o irmão pegou-a pela mão e liderou o

caminho. A preocupação de Eleanor aumentou. O que estivesse acontecendo, nãoera nada bom. Teria a ver com o beijo que ela trocara com Valentine? Ou coisapior?

Enquanto atravessavam o corredor, a porta da frente se abriu.Charlemagne entrou seguido de perto por De ver dl Nenhum dos dois pareciafeliz, e Eleanor sentiu o coração disparar. Valentine lhe lançou um olhar, mas aexpressão de seu rosto era indecifrável.

O marquês voltou a atenção a Shay.— Você está começando a me perturbar. Por que tive de sair de casa sem

nem tomar o meu café da manhã?— Vamos ao escritório — Shay falou laconicamente.

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— E nós para a sala de estar — Zachary ordenou a Eleanor. Ela se libertoudo irmão e o confrontou:

— Isso tem a ver comigo, assim exijo que me diga o que está acontecendo,Zachary? Não sou mais criança. Esse subterfúgio é ridículo e...

Sebastian saiu do escritório. A expressão furiosa de seu rosto deixouEleanor petrificada.— Vá à sala de estar e fique lá até que eu a chame — o duque ordenou. —

Isto não é mais um jogo.Valentine viu Eleanor empalidecer e arregalar os olhos. Gostaria de dizer a

ela que se acalmasse, que não havia nada com que se preocupar, que não tinhaintenção de prejudicá-la de forma alguma, mas optou por seguir o comando deMelbourne.

— Estão começando a assumir os ares de inquisidores espanhóis — disse o

marquês, observando a atitude dos irmãos Griffin.Em seguida, o duque tornou a entrar no escritório e sentou-se em suacadeira. Não perdeu tempo com cumprimentos. Foi logo dizendo a Deverill, que ohavia seguido:

— Recebi uma visita hoje cedo.Valentine nunca ouvira o amigo falar com aquela voz fria. O duque estava

furioso, percebeu-o de imediato.— Suponho que vai me dizer quem era o visitante.— Stephen Cobb-Harding.

Valentine precisou se esforçar muito para permanecer sentado. Melbourneo observava, então o marquês cruzou as pernas tentando aparentar calma.

— Que excitante para você. Gostaria, porém, que tivesse escolhido umahora decente para me contar as novidades.

— Por acaso o está chantageando, Deverill?Ainda bem que Melbourne tinha decidido falar primeiro com ele e não com

Eleanor. Confrontar a irmã com acusações que Cobb-Harding deveria terlevantado seria desnecessariamente cruel.

— A temporada estava muito monótona. Assim eu tinha de me ocupar dealguma coisa mais excitante.

O duque deu um murro na mesa.— Diabos, Valentine! Sabe o que ele me contou? Como o infeliz se ofereceu

para preservar o bom nome de minha família e a reputação de minha irmã pormeio de um pedido de casamento? E eu tive de ficar aqui sentado e escutá-lo,porque ninguém me havia contado nada a respeito! Recrutei você para manterEleanor fora de encrenca, não para deixar que ela fizesse o que lhe agradasse edepois escondesse de mim o que tinha feito.

Valentine sentou, esperando o duque desabafar. Já que não tinha umaresposta imediata a lhe dar, preferiu ter tempo para pensar.

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Poderia mentir, é claro, dizer a Sebastian que não fazia idéia do queStephen estava falando. Isso o eximiria de ter participado do caso, mascomplicaria a situação de Eleanor. Seria injusto, e ela não merecia passar poraquilo.

— Explique-se, Valentine — Melbourne exigiu. Valentine decidiu não entrarem detalhes sobre o episódio.E contra-atacou secamente:— Não sou de ficar contando casos. E mantenha a voz em tom baixo. Se

continuar com essa gritaria, será escutado em Paris.— Não mude de assunto. Estou esperando suas explicações.— Sebastian, é complicado. Não se trata do que está pensando.Na verdade, é até pior.— Então me conte a sua versão, diabos. Estou perdendo I paciência.

— Stephen enganou Eleanor e a levou à festa na casa de Belmont. Era umbaile de máscaras, assim ninguém a reconheceria.O duque fez um gesto de dúvida, porém parecia mais calmo.— Ele se ofereceu para me descrever certas... partes do corpo de Neil.Stephen era um homem morto.— Stephen drogou Eleanor. Com láudano, que é um sedativo forte demais.

Então a levou para um quarto e a atacou. Cheguei a tempo de impedir queacontecesse o pior. Não foi culpa de sua irmã, Sebastian.

Por um momento, Melbourne ficou imóvel. Em seguida, ajeitou-se na

cadeira.— E por que não me informou a respeito? Eu teria terminado com a

pequena rebelião de Neil semanas atrás.— Por isso que não contei nada a você.— Além do fato de ela haver lhe implorado para não fazê-lo.— Era a primeira tentativa de liberdade de Eleanor. Achei que ela merecia

ter outra chance.— Oh, pensou. Isso não cabia a você. Não faz parte desta família. O seu

envolvimento era apenas pagar um débito de honra.— Havia uma razão que o levou a me recrutar para ser babá de Eleanor, se

me lembro bem. Nenhum de vocês conseguia controlá-la, eu podia. Você me disseque não devia haver escândalo algum, e não houve. Até Stephen vir direto aqui.Ninguém mais sabe de nada.

— É verdade. Só que ele não veio humildemente, e sim tentando mechantagear e conseguir me deixar sem poder nem influência sobre ele.

— Conforme o acordo feito entre mim e Stephen, ele terá de deixar aInglaterra em alguns dias.

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— Que sorte a dele. Bem, esse assunto está encerrado. — Melbourne fezuma pausa e continuou: — Quanto a Eleanor, ela não soube desfrutar a liberdadeque dei. Agora terá que se casar, ter a sua família e responsabilidades.

Valentine riu. Não que estivesse achando a situação divertida.

— Pelo amor de Deus, Sebastian, sua irmã vai ficar ressentida com vocêpelo resto da vida, se não deixá-la desfrutar a vida conforme sua vontade. Não aforce a se casar agora.

— Pensei que ficaria aliviado, Valentine. Não queria se envolver nessahistória no começo...

Deus, era verdade!— Tem sido mais... interessante do que eu esperava.— Entendo. Então o que mais ela fez que você não se deu ao trabalho de me

contar?

Valentine levantou-se e caminhou até a janela, depois voltou à cadeira ondeestivera sentado. Começou a caminhar de um lado para o outro. Queria defenderEleanor, tanto as ações como as razões que havia por trás delas. Mas, se ofizesse, Melbourne perceberia o quanto estava envolvido naquele projeto. E maisainda, o quanto estava envolvido com Eleanor.

— Tente ver as coisas sob o ponto de vista de sua irmã — Valentine propôs.— O quê? Está me dizendo que uma mulher tem o direito de ter algum

ponto de vista? Justamente você?— Ela não é simplesmente uma mulher, mas a irmã de meu amigo —

Valentine replicou, irritado a ponto de ignorar a parte sábia de seu cérebro que omandava manter a boca fechada. — E uma mulher com idéias e necessidades eserá infeliz com qualquer tipo de vida que você escolher, especialmente agora queexperimentou um pouco de liberdade. Deixe que ela mesma encontre a própriafelicidade.

— Que diabos está dizendo?Antes que Valentine pudesse responder, a porta se abriu e Eleanor entrou

no escritório como um furacão, tendo Zachary e Charlemagne aos seuscalcanhares.

— Tentamos segurá-la, mas... — Zachary procurou se justificar, passando amão na mancha vermelha que havia em seu rosto, onde por certo tinha sidoatingido.

— Vocês estão falando alto demais — Shay acrescentou, irritado.Valentine vagamente ouviu o duque ordenar que todos saíssem dali. Olhava

para Eleanor que se aproximava com as mãos nos quadris. Não podia definir aexpressão de seu rosto, mas sentiu um aperto no peito.

— Foi obrigado a tomar conta de mim? — ela perguntou, fora de si. —Valentine o mandou me vigiar para que rum me envolvesse em encrenca e vocêconcordou em fazê-lo?

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— Eleanor, eu...— Era um espião? — Ela parou para respirar melhor. Pensei que fôssemos...

Pensei que fôssemos amigos.— E somos amigos. Não...

Eleanor o esbofeteou, pegando-o de surpresa, já que isso nunca haviaacontecido antes. Por mero reflexo, Valentine segurou-a pelo punho, mas porpouco tempo.

— Como ousou fazê-lo? — Em seguida, ela se voltou para Melbourne. — Evocê não podia confiar em mim nem um segundo, não é? — Olhou para os outrosdois irmãos. — V, não posso acreditar que vocês também participaram dessecomplô, que vergonha.

Antes que algum deles pudesse fazer qualquer comentário, Eleanor sedirigiu mais uma vez a Valentine.

— Devia se envergonhar por ter concordado com essa farsa e não ter medito nada sobre tal acordo. — Um choro sentido impedia que sua voz soassenormalmente. — Pensei que eu era livre, Valentine. Mas tudo fazia parte de outroplano de meus irmãos para controlarem a minha vida. V, você fazia parte dessafarsa. Tudo o que disse, tudo o que aconselhou...

Deverill deu um passo à frente, tentando secar as lágrimas que corriampelas faces de Eleanor.

— Por favor — ele pediu —, deixe-me explicar...— Seguiu-me porque queria mesmo me ajudar? Importava-se comigo? Ou

apenas tentava me distrair e me controlar? Impedir-me de fazer alguma coisaque poderia criar problemas? E, se meus irmãos confiavam em você, como pôde secomportar de forma tão vil comigo? — quis saber, indignada. — Eu tambémconfiava em você. Confidenciei os meus mais íntimos pensamentos. Como não mecontou que tinha sido designado para me vigiar?

Valentine sentiu vontade de sacudi-la, mas, antes que pudesse fazer umgesto, ela saiu do escritório, batendo a porta com tanta força que as janelastremeram.

O marquês ficou sem saber o que fazer. Se Eleanor houvesse lhe dado achance de se explicar... Não tinha idéia de como agir agora.

— E o que significa essa conversa? — Melbourne perguntou com voz fria.— Ela não sabia que você tinha me obrigado a dar uma de babá — Valentine

proclamou, incerto se estava mais irritado do que o duque por não ter dito aEleanor a verdade.

Ou melhor, por ter se envolvido naquela mentira.— Não estou me referindo ao fato de Eleanor desconhecer que você seguia

ordens minhas. Ela mencionou algo sobre...— O que Eleanor quis dizer com o seu comportamento vil? — Charlemagne

interrompeu, segurando Valentine pelo braço. — Ordenei que não a perturbasse.

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Valentine empurrou a mão de Shay, usando de todo o seu autocontrole paranão levá-lo ao chão.

— Você interrompeu o meu café da manhã — o marquês vociferou,voltando-se para a porta. — Se não se importa, vou voltar a ele.

— Quero algumas respostas — Sebastian disse com a voz sob controle.— Também eu — Valentine murmurou, abrindo a porta para deixar oescritório.

Shay ia bloquear o caminho, mas Melbourne interveio.— Deixe-o ir. E não volte até que possa se explicar conosco.— Não se esqueça que a idéia foi sua, não minha. Instantes depois, Deverill

entrava na carruagem em que viera com Charlemagne e deu ordem ao cocheiro:— Corbett House. Agora.— Sim, milorde.

A carruagem começou a andar, mas parou subitamente Praguejando,Valentine abriu a porta.— Diabos, já mandei...Eleanor bloqueava a passagem dos cavalos, a ira fumegando os olhos.— Espere um momento, Dawson — ela pediu ao cocheiro. — Quero ter uma

conversa com o seu passageiro.

Capítulo VII

Não estou disposto a discutir, Eleanor — vociferou Valentine. — Saia docaminho. Ela tampouco estava disposta a permitir que ele fosse embora sem lhedar algumas explicações.

— Não mova a carruagem, Dawson — ela ordenou, saindo da frente doscavalos e dirigindo-se à porta do veículo. — Afaste-se um pouco que vou subir, ousimplesmente exponho os meus sentimentos aqui no meio da rua.

Valentine abriu a porta e se moveu no banco, abrindo espaço para ela sesentar. Não a ajudou a subir, ela segurou as saias com uma das mãos e entrousozinha.

Ele procurou ficar o mais distante possível, com os braços cruzados sobreo peito. Com raiva, exatamente como ela. Eleanor hesitou por um momento. Nãoeram muitas as pessoas que ousavam cruzar o caminho do marquês de Deverill.

— Você tornou as coisas mais difíceis para mim do que era necessário —ele acusou.

— Difíceis? Confiei em você, Valentine.— Pois esse parece ter sido o seu erro — resmungou por entre os dentes.

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Por um longo momento, ela apenas fitou o marquês, tentando descobrirquem o verdadeiro Valentine Corbett seria. Um amigo? Um patife? Um devasso?Como ela solucionaria aquele enigma?

— Não vou chorar nem dizer que você me usou ou manchou minha

reputação. Participei daquela experiência bem consciente.— Folgo em saber... — ele murmurou.— Fique quieto, ainda não terminei de falar. — Eleanor respirou fundo. —

Tudo o que eu queria era um pouco de liberdade, uma aventura.— E fiz o possível para que a realizasse.— Não, não o fez. O tempo todo em que me disse ser meu amigo e parecer

compreender os meus sentimentos, estava meramente seguindo ordens deSebastian, apesar que ele não soube de toda a verdade. — Se Sebastian tivesseconhecimento da ousadia da irmã, tanto ela quanto Valentine estariam mortos

naquele momento ou sendo forçados a deixar o país.— Foi você quem decidiu confiar em mim. Lembra-se de todas as vezes quenão poupei críticas ao meu comportamento? Insistiu em me ver como amigo.

—Não cometerei novamente esse erro. Maldição, Valentine. Não sou umacriança que precisa ser mantida longe dos doces. Sou adulta. E pensei que oadmirava. Ora, que bobagem. Tenha certeza de que não vai precisar se envolverem minha próxima aventura. E não será nada que possa controlar. — Eleanorvoltou a se exasperar. — Você devia ter me contado.

— Que diferença teria feito?

— Eu teria encontrado alguma outra pessoa em que eu pudesse confiar.Alguém que não precisasse apresentar relatórios a Sebastian.

— Não apresentei nada. É por isso que ele estava furioso comigo. Omiserável do Stephen veio falar com ele e tentou descrever os seus seios,Eleanor.

— Stephen Cobb-Harding esteve hoje em minha casa? — indagou abismada.— Ele ofereceu casamento como modo de proteger a sua reputação. Se eu

tivesse contado a Sebastian o que havia acontecido no baile de Belmont, seuirmão estaria mais preparado para a visita inesperada.

Eleanor não tinha argumentos para negar tal fato.— Talvez. Mas você não fez nenhum favor a mim.— Não foi isso o que disse na outra noite.— Ora, o que aconteceu naquela noite foi idéia minha. Você pode ter

contribuído, nada mais do que isso. Eu o queria e você me satisfez. Já parou parapensar se outras de suas mulheres não o usaram com o mesmo propósito? Nãoposso negar que é um ótimo amante.

— Ninguém jamais me usou.— Tem certeza? Talvez as mulheres que pensa ter seduzido nada mais

fizeram do que se divertirem com você. — Eleanor abriu a porta da carruagem

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para sair. — Porque, francamente, Valentine, dadas as suas ações, não sei paraque outra coisa você serve.

Ninguém jamais se atrevera a falar com ele daquela maneira. Procurou semanter sentado e controlou a vontade de esbofetear Eleanor.

— Leve o marquês para casa, Dawson. Já terminei de falar com ele.Agora Eleanor tinha ido longe demais. Imediatamente Deverill saltou dacarruagem.

— Vou a pé — ele disse ao cocheiro.— Muito bem, milorde.Ela não ia dar a palavra final, Valentine decidiu. Virou-se e viu que Eleanor

 já entrara na casa. Stanton olhou para o marquês e fechou a porta.— Está errada! — Deverill gritou mesmo assim.Ir a pé para casa podia ser uma boa idéia. Teria tempo para se acalmar um

pouco.No primeiro quilômetro, ele simplesmente praguejou. Então Eleanor odetestava. E por que isso o incomodava tanto? Apenas se acostumara a vê-la ehavia se divertido um pouco.

Não havia mentido, apenas não comentara que Melbourne o haviaencarregado de vigiá-la. E agora se sentia como se ela o tivesse atingido no peito.Melbourne certamente não daria à irmã mais nenhuma chance. Ele a obrigaria ase casar o mais breve possível com o homem da escolha dele.

Selecionaria John Tracey. Decerto Eleanor não se oporia a se casar comum herói de guerra.

— Diabos — blasfemou.— Valentine! — Uma voz familiar soou por perto. O marquês se voltou e viu

um conhecido seu.— Henning — cumprimentou.— Alguma mulher o colocou fora de casa porque o marido chegou de

repente? Por essa razão está a pé? Venha, vou dar uma carona a você.— Obrigado, no entanto, prefiro caminhar.— Mas...— Não estou com disposição para conversas neste momento, Francis —

Valentine o interrompeu. — Não se ofen da, quero ficar sozinho.Henning concordou.— Vou embora então. Já vi esse olhar antes. Valentine parou.— Que olhar?— De homem que foi descartado por alguma mulher. Eu mesmo já fiquei

com essa cara.— Nenhuma mulher me descartou. — Valentine sentiu o rosto corar e ficou

com raiva de estar tão exposto.

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— Não precisa me contar nada. — Francis Henning sorriu e deu ordens aococheiro para partir.

Não fazia sentido. Eleanor estava enganada. Ninguém o tinha usado. Aquiloera ridículo.

Eleanor Griffin era diferente. Outras mulheres o teriam chamado decruel, mas nunca de imprestável. E, vinda do Eleanor, a acusação era maisperturbadora do que poderia esperar.

Teria ele de alguma forma destruído a amizade que havia entre os dois pornão ter lhe dito que Melbourne o encarregara de se tornar o guardião da irmã? Epor que estava tão perturbado? Por que se importava com o que Eleanor pensava?Ela o insultara, assim como todos os três irmãos também o tinham feito. Pareciaque todos o haviam usado, se o que Eleanor dissera fosse verdade.

Praguejou novamente, não se importando com que as pes-Hoas o olhassem,

surpresas.Subitamente, viu uma igreja. Tinha estado uma ou duas (rezes ali. Sementender por que o fazia, abriu a porta e en-11 ou. Olhou em volta, sentindo-seum pouco estranho naquele ambiente.

— Bom dia, meu filho. — Uma voz masculina soou atrás dele.Bem, não podia ser Deus falando com ele, Valentine pen-hou com certa

ironia e voltou-se para ver quem era.— Padre. Lamento estar perturbando o senhor. Apenas precisava de um

lugar tranqüilo para pensar um pouco.

O homem alto, vestido de preto, arregalou os olhos.— Você é lorde Deverill, não é? Valentine Corbett?— Sou eu mesmo.— Oh, acredito tê-lo citado em mais de um sermão.Se havia uma coisa que Valentine não esperava era ver um padre com

aquele bom humor.— Estou honrado.— Oh, sim, mencionar o pecado sempre faz com que o rebanho preste mais

atenção. — O padre bem idoso sorriu para o marquês. — Sempre quis perguntar...você recebeu o nome de um santo, não é?

Deverill deu de ombros.— Suponho que sim. Nasci no dia de São Valentino. Meu pai sempre achou

engraçada a relação entre minha personalidade e meu nome. Não o entendia atéque fiquei um pouco mais velho.

— Bem, posso lhe garantir que São Valentino era mais puro de coração doque você, pelo menos levando em conta Mua reputação, marquês. Mas apenas anecessidade de pen-m\r é que o trouxe aqui?

— Sempre aguarda a visita de pecadores para poder con-vrrtê-los?O padre riu.

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— Se quer saber, eu estava aqui para regar as minhas rosas. Você serásempre bem-vindo a esta igreja. Fique o tempo que quiser, meu filho. Pense oquanto precisar. Valentine, porém, seguiu o padre.

— Diga-me, padre — disse um momento depois —, é algum tipo de pecado

não dizer a uma pessoa que a está vi giando porque alguém pediu para fazê-lo edeixar essa pessoa pensar que a está protegendo sem reservas?— Um pecado? Não dos mortais. Trata-se de omissão.— Sim, mas foi para o bem dessa pessoa.— Depende...— Verdade? Do que, se posso perguntar?— Quem decidiu que o silêncio era para o bem dessa pessoa? E tal atitude

evitou que ela fizesse o que queria?— E se o que ela queria fosse justamente o pecado? O padre lançou um

olhar curioso a Valentine.— Você não me pediu que discutisse moralidade, apenas ações.Valentine ajudou o padre a encher o regador de água e o levou até onde

estavam os canteiros.— Ações. Sim, suponho que não revelei a verdade porque poderia impedir

que ela agisse com naturalidade.— Então você estava errado — sentenciou o padre.— Só isso?— Pensei que quisesse uma resposta direta. Posso contar uma parábola, se

preferir.— Obrigado, mas não. — Por um momento, Valentine se concentrou no que

fazia, ou seja, regar as rosas.— Agora eu deveria corrigir o que fiz.— Eu não poderia aconselhá-lo a agir de uma maneira que encorajasse o

pecado. — Com um sorriso matreiro, o padre pegou o regador e continuou a regaras flores. — Endireitar as coisas me parece mais nobre do que entortá-las.

— E mais difícil de qualquer forma. Obrigado. Esta nossa conversacertamente me surpreendeu, padre...

— Michael. Padre Michael. Eu é que a achei interessante, lorde Deverill.Sinta-se livre para vir conversar em qualquer segunda ou quinta-feira.

— Por que apenas nesses dois dias?— É quando rego as rosas.Valentine riu. Colocando o chapéu, saiu da igreja. No caminho, outra

pergunta veio à sua mente. Ficou horrorizado, porém, mesmo assim, voltou.— Padre Michael?— Sim, meu filho.— Se eu trouxesse alguém aqui, o senhor... — Sentiu a boca seca. Seria

apenas uma pergunta, sem conseqüência alguma. — O senhor nos casaria?

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— Não sem ter pedido uma licença especial de Canterbury. Se estiverassim tão desesperado para deixar de pecar, posso sugerir Gretna Green. —Padre Michael parou um instante. — Apesar de que não encorajo esse tipo decoisa. E escandaloso.

Concordando, Valentine fechou o portão e voltou à rua, seguindo paraCorbett House. Chegava a chocá-lo pensar que tinha conseguido pronunciar apalavra casar, e mais ainda que continuasse a considerá-la. Uma coisa sabia comcerteza. Não permitiria que Eleanor se casasse com lorde John Tracey.

Eleanor seguiu direto para as escadas com os três irmãos em seuscalcanhares e se fechou em seu quarto.

— Vão embora — ela gritou, colocando uma cadeira na porta para quenenhum deles ousasse derrubá-la.

Fez uma barricada e ninguém entraria ali.

— Não acabou ainda, Neil. — A voz de Sebastian soou como se elejaestivesse um pouco distante, talvez atrás dos outros dois irmãos.— Não estou escutando o que diz. Vou passar um tempo fechada, pensando

na minha vida. Quando estiver mais calma, sairei e teremos uma conversa.— Enquanto não se sentir pronta ficará escondida aí dentro? — Desta vez

foi Shay que questionou.— Não estaria escondida se parassem de me perseguir. E não pense que

venceu esta guerra, Sebastian — ela berrou.— Acho que ninguém ganhou — ele respondeu. — Esta remos lá embaixo,

Neil. Ninguém vai sair desta casa antes de resolver esse assunto.Eleanor agarrou uma almofada e cobriu o rosto para poder gritar sem que

ninguém a ouvisse.Começou a chorar copiosamente. Não porque Stephen tinha aparecido e

feito ameaças à família. Seus irmãos podiam lidar com isso. Por mais furioso queMelbourne estivesse, ele não deixaria que a reputação da família fosse afetada.Era importante demais para ele.

Não, ela sabia bem por que chorava. Estava com o coração partido e saberque era por causa de Valentine a fazia chorar ainda mais.

Por que confiara naquele homem? Por que tinha acreditado que o libertinomarquês de Deverill estaria interessado em sua amizade? A resposta era uma sóe bem simples: acre ditara por ser essa sua vontade.

— Estúpida — resmungou.Valentine partia corações com alarmante regularidade, e ela havia pensado

estar imune. Além do mais, ele a vinha acompanhando apenas porque seguiraordens de Melbourne.

E a aventura... Sim, ela havia escolhido a aventura e quisera que Valentinefizesse parte daquele momento especial. Oh, não sabia o que pensar. E, para suasurpresa, queria falar com o marquês. Não gritar com ele de novo, mas descobrir

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o que realmente Deverill tinha pensado e, mais importante, sentido, enquantoestiveram juntos.

Enterrou o rosto nas mãos e chorou ainda mais. Nunca se sentira tãosozinha.

— Maldição! — praguejou.Valentine conseguiu localizar John Tracey no terceiro clube em queprocurara naquela manhã. O herói de guerra parecia calmo e confiante, eprovavelmente não tinha idéia do que poderia ter a chance de se unir a uma dasfamílias mais importantes da Inglaterra. Pelo menos, ainda nada devia teracontecido, caso contrário o major estaria tomando o café da manhã com afutura família.

Valentine sentou-se a uma mesa em um canto da sala, bem distante deTracey, para que pudesse observá-lo sem ser notado. Tracey parecia estar com

um bom apetite, havia ordenado um prato com presunto e dois ovos cozidos, en-quanto ele pedira apenas torrada e café. Aquilo não fazia sentido. Tracey eraquem não devia estar com nenhum apetite, preocupado em saber se os Griffin,Eleanor em particular, o considerariam digno de pertencer ao clã.

Valentine havia passado a noite bebendo e traçando possíveis planos.Pelo amor de Deus, se ele houvesse decidido se casar, poderia ter a mulher

que quisesse. Mesmo uma casada poderia ser persuadida a abandonar o marido eir viver com ele. O problema era que nenhuma outra moça que não fosse Eleanor ointeressava. E não podia tê-la.

Verdade, podia conversar com padres e fazer planos, mas era o libertinomarquês de Deverill. E não se envolvia em situações que o embaraçassem, nemcolocava em risco os seus princípios, nem perdia a cabeça no que se referia amulheres.

Agora estava ali, fazendo algo que jamais supusera nem sequer pensar.Vigiava um futuro pretendente à mão de Eleanor, um homem que nem Melbournepoderia enxergar defeito.

Tracey acabou de tomar o seu café da manhã e levantou-se, com Valentineo seguindo discretamente. O marquês queria saber em primeira mão o queMelbourne estava planejando. Se descobrisse os planos do duque, poderia sedesculpar e ser novamente aceito como amigo. Então ele teria de se sentar eescutar os irmãos planejarem a vida de Eleanor saber que não se interessavampelo que ela queria ou necessitava ou merecia.

Vinte minutos depois que Tracey deixou o restaurante, um criado dosGriffin se aproximou do major e lhe entregou uma carta.

Diabos.Já estava acontecendo. Claro, Neil terminaria gostando de Tracey, sendo

feliz com ele. Bem, isso não era aceitável. Nem ele iria ficar observando adistância e sabendo que poderia tê-la para si se tivesse agido melhor.

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Então chegara a hora de enfrentar as malditas conseqüências. Respiroufundo e se aproximou do herói de guerra.

— Tracey, notei que recebeu uma carta de Melbourne — ele falou,apontando para o envelope.

— Deverill. Sim, devo comparecer à Mansão Griffin à tarde paraconversarmos — informou, surpreso pela aparição do marquês.— Tem idéia do que se trata?John encarou Deverill e não se acanhou em responder:— Suponho que sim. Imagino, pelo menos. Mas, se não se importar, não

gostaria de discutir esse assunto com você.— Sei por que foi chamado — Valentine disse sem se importar com as

palavras de Tracey. — Está interessado na união?— Quem não estaria? Lady Eleanor é uma mulher bonita.

— E rica também.Tracey franziu a testa, curioso.— Posso perguntar qual é o seu interesse nesse caso?— Sou amigo da família. Apenas quero me certificar de que Eleanor seja

feliz.— Então precisa perguntar a ela. E, se me der licença, tenho coisas a

fazer.Valentine inclinou a cabeça e se afastou. Sabia agora o suficiente.

Melbourne, e talvez até mesmo Eleanor, havia escolhido um candidato, e o marido

em potencial não tinha objeções ao casamento.Bem, mas ele tinha razões suficientes para contrapor-se àquela união.

Ninguém lhe perguntara quem ele achava sei o par perfeito para Eleanor, etampouco o considerariam um pretendente adequado. Claro que não, não omarquês de Deverill com sua alma negra. Nem poderia convencer os irmãosGriffin de como Eleanor tinha se tornado importante em sua vida, nem de comonão conseguia visualizar uma existência sem tê-la ao seu lado. Como agüentarianão mais conversar com ela, beijá-la, ou olhar para aquele rosto lindo?

De acordo com a Igreja, na pessoa do padre Michael, ele precisava corrigiros erros que cometera. E havia apenas uma coisa a fazer. Assim, estava prestes aenfrentar o que tinha jurado evitar a todo custo.

Ia permitir que o coração guiasse seus passos.Eleanor acordou abruptamente. Sentiu-se desorientada por um minuto.

Algo parecia acontecer naquele quarto. Não sabia que horas eram, mas, pelosilêncio da casa e da rua, diria que devia ser entre duas da madrugada e cincohoras da manhã.

Suspirando, virou-se para o lado, decidida a voltar a dormir.

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Não pense em nada, ordenou a si mesma, apesar de que surgiam em suamente imagens do charmoso John Tracey e de como ele estava feliz por poder seencontrar com o irmão dela.

De repente, uma mão cobriu sua boca e outra prendeu seus braços à cama.

Tentou gritar, mas o som saiu abafado. Chutando por baixo das pesadascobertas, ela tentou libertar as mãos.— Surpresa. — Uma voz masculina soou em seu ouvido. Deveria gritar,

afinal tinha três irmãos dormindo por perto, que acordariam se a ouvissem soltarum mero gemido.

Ela se voltou para o homem e viu-se observando profundos olhos verdes,meio encobertos por uma máscara negra.

— Valentine?— Shhh.

— Saia imediatamente daqui! — ela exigiu, mas a voz saiu baixa eatrapalhada.— Não vou fazer isso. — Antes que ela pudesse protestar, o marquês

amarrou um lenço em volta do seu rosto. — Fique quieta — murmurou, amarrandoos braços também.

Largou-a na cama e seguiu para o armário, em busca de algumas roupas.Abriu e fechou gavetas e foi enfiando mm peças em uma maleta.

Eleanor não acreditava no que estava vendo. O coração batia em disparada,e, em poucos segundos, o medo se transformou em raiva. O que Valentine tinha

em mente?, ela se perguntava.Quando Deverill voltou para onde Eleanor estava, ela aproveitou para

chutá-lo com toda a força. Ninguém cresce com três irmãos mais velhos semaprender a chutar.

Ela tentou escorregar da cama e atingi-lo em um lugar específico, mas elese esquivou e escapou do chute.

— Pensei que quisesse uma aventura — o marquês resmungou, agarrandofirme as mãos delicadas.

— Que diabos está fazendo? Não quero ir a lugar algum com você — eladeclarou, sentindo o coração bater em uma velocidade espantosa.

— Lamento, mas não consigo entender o que está falando E melhor quefique quieta.

Ele apertou ainda mais a mordaça, levantou-a da cama o seguiram nadireção da porta.

Valentine fitou-a por um longo momento. Os cabelos estavamdespenteados, soltos, cobrindo os ombros. E parecia furiosa, dado o brilhointenso dos olhos.

— Não queria uma aventura? Então pare de lutar e venha comigo.

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Eleanor sacudiu a cabeça e disse algo que deveria ser um insulto. Recusava-se a deixar de lutar, mesmo enquanto desciam as escadas em silêncio. No quartodegrau, porém, a madeira chiou e Valentine ficou imóvel, procurando ouvir se osom acordara alguém na casa. Nada aconteceu.

Esperando que o som fosse algo com que todos ali estives sem acostumadosa ouvir, ele continuou descendo com ela nos ombros.Conseguiram chegar à porta, destrancá-la e logo estavam nos jardins. A

carruagem de Deverill o esperava no fim da rua, e o cocheiro apressou-se emabrir as portas enquanto ele colocava Eleanor dentro do coche.

— Vá, Dawson — o marquês ordenou.— Sim, milorde.A carruagem percorreu a rua enquanto Valentine se aprumava, tirando o

chapéu e a máscara negra.

— Não foi tão ruim, não é? — ele indagou, como se estivessem conversandoem um passeio.Eleanor de alguma forma tinha conseguido se movimentar a ponto de

abaixar um pouco o lenço que lhe cobria a boca.— O que pensa que está fazendo?— Estou providenciando uma aventura para substituir a que arruinei com a

minha dupla função.— Quer fazer o favor de me soltar. Só então poderemos conversar como

duas pessoas civilizadas.

— Espere mais um pouco, não desejo ser golpeado por ama mulher.— Mas ser atingido será a menor de suas preocupações, Valentine. Pare

esta carruagem e leve-me imediatamente para casa.— Não. E não me ameace, lembrando-me de que tem três irmãos fortes.Ela respirou fundo, obviamente tentando pensar direito.— Não preciso de você para desfrutar de outra aventura — ela disse por

fim em um tom de voz mais razoável. — Não preciso de você para nada. Deixe-meir.

— No momento precisa de mim, considerando que não usa nada, a não seressa camisola. Bem transparente, por sinal.

— Isto é ridículo, Valentine.— Não, é algo que você não pode controlar. Não vou voltar. Eleanor estudou

a expressão do rosto de Deverill.— Então me diga o que vamos fazer — ela pediu. — Pelo menos pode me dar

essa informação, não é?— Sim. Estamos indo para a Escócia.— Escócia?— Gretna Green, para ser mais específico.Ela engoliu em seco, sentindo como se o sangue se esvaísse do rosto.

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— Gretna Green? Então está pensando em se casar comigo? Melbourne jáfalou com John Tracey. Chegou tarde, Valentine. Sendo assim, é melhor fazeresta carruagem dar meia-volta e levar-me para casa. Se o fizer, ninguém vaisaber que me raptou.

— Não vou permitir que outro homem se case com você. — Valentine sentiuraiva e ciúme só de pensar em Eleanor nos braços de Tracey. Ou de qualqueroutro homem.

— Ficou louco? O que está pensando?—Você me levou a isso. E esses lindos olhos acinzentados, seu sorriso e o

modo como fala só me fizeram ter certeza do que estou fazendo. Não consigotirá-la de minha mente. E tampouco o som de sua risada, as lágrimas quando seentristece... — Ele fechou os olhos por um momento, tentando imaginar se alguémmais, algum dia, o levara a se sentir como naquele momento. Não, ninguém. — E a

única mulher que cheguei a... gostar.— Gostar?! — exclamou Eleanor sem saber se chorava de alegria ou ria dedesespero. Tudo o que esperava era ouvi-lo admitir o que sentia, mas sonhara quefosse de outra forma...

— Sabe o que quero dizer. Sinto dificuldade em expressar meussentimentos, querida. E esta minha confissão é mais do que receberia de Tracey.Aposto nisso.

— Tendo conhecido tantas mulheres, acho que descobrirá que não sou tãoespecial. E estou comprometida com outro homem.

Valentine ficou decepcionado ao perceber que ela havia aceitado comtranqüilidade a escolha de Melbourne. Parecia satisfeita que John Tracey setornaria o seu marido. Seria culpa de Valentine? Havia entristecido Eleanor alémdos limites?

— Não quero saber de qualquer outra mulher — ele disso por fim. —Conheci muitas, mas há uma diferença entro estar com alguém até que algo maisinteressante apareça e estar com alguém porque não pode se imaginar sem ela.

Eleanor ficou verdadeiramente surpresa com aquela declaração de amorinusitada.

— Mas, se você se sentia assim, por que não me disse antes? Tudo o queaconteceu poderia...

— Porque eu não sabia — Valentine respondeu, começando a se sentiraborrecido.

Não gostava das perguntas de Eleanor porque elas o faziam analisar a suavida e com isso seus erros e más escolhas.

— E quando descobriu?— Diabos, Eleanor! Não sabia até que começou a berrar comigo e me

chamar de inútil. Percebi que Melbourne a obrigaria a se casar. E foi o que elefez, não foi? E eu... jamais aceitaria passivamente.

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Ela hesitou.— Eu sabia que minha rebeldia não poderia durar muito tempo.— Mas não conseguiu a aventura que queria, não é? E assim sua rebelião

não acabou.

— Então você decidiu que se casará comigo, sem ao menos me consultar.A não ser que ele estivesse enganado, a maior parte da raiva havia sumidoda voz de Eleanor. Isso era um excelente sinal, especialmente considerando queele estava determinado a se casar. Não iria levá-la de volta para casa. E seEleanor não o aceitasse como marido, ele agora, pelo menos, poderia convencê-laa mudar de idéia. Ela não ia se casar com John Tracey. De jeito algum.

— Bem, padre Michael pregou contra o pecado. E quando eu perguntei seele poderia nos casar o quanto antes, disse-me que se eu estivesseverdadeiramente desesperado, Gretna Green seria uma alternativa a se

considerar.— Considerar. Isso significa que você deveria pensar a respeito, não saircorrendo para lá.

Valentine sorriu.— Pode ser, mas como eu disse, desse modo, tudo se torna uma aventura

mais excitante.— Pensei que você estivesse determinado a nunca se casar. E quanto às

amantes que o mantêm longe da monotonia? Não é isso tudo o que mais quer navida?

— Não toquei em mulher alguma desde que a beijei — Valentine confirmou.— Mas eu já disse que o usei — Eleanor falou bem devagar, estendendo as

mãos atadas para ele mais uma vez.Ele teria de soltá-la em algum momento, por que não fazê-lo logo? Assim,

desamarrou as mãos de Eleanor, procurando não machucar a pele macia.— Não acredito que tenha me usado, minha querida. E a única coisa que não

contei a você foi que Melbourne tinha me convocado para vigiá-la. Depois daprimeira noite, eu teria feito isso por minha vontade.

Vagarosamente, ela tocou naquele rosto tão querido.— Eu gostaria muito de acreditar que tenho à minha frente o verdadeiro

Valentine Corbett. Gosto deste homem, mas algumas vezes não consigo encontrá-lo.

— E porque tudo é novo para ele — O marquês respondeu, inclinando-se elevando os lábios de encontro aos dela. — Mas ele está tentando. E tem três diaspara convencê-la. Vai dar uma chance a esse homem?

O pensamento de não ser capaz de vê-la sempre que quisesse, de não poderconversar e ouvir sua entusiástica visão do mundo, quase o tinha levado ao pânico.

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Eleanor gemeu suavemente e Valentine imediatamente ficou excitado.Verdade seja dita, ela ainda não tinha concordado em se casar, mas tampoucorecusara o pedido.

— Você vai mesmo manchar minha reputação — ela murmurou com um

ligeiro tremor na voz.— Claro que sim, assim será obrigada a se casar comigo.— Só se eu quiser — desafiou, erguendo o nariz afilado. — Melbourne

provavelmente ainda pode convencer Tracey a me aceitar como esposa, mesmodepois deste incidente.

— Sou bem mais convincente — murmurou ele, enquanto aprofundava obeijo e acariciava-lhe as curvas perfeitas do corpo.

— Ou posso decidir entrar para um convento — Eleanor sugeriu, deslizandoa língua em pequenos círculos pela orelha de Valentine.

— Não agora — ele disse rindo. — Não vai ser capaz de viver sem sentir umhomem tocando você, fazendo amor. — Bem devagar ele deslizou sua mão pelascoxas macias, depois a levou para lugares mais escondidos.

Imediatamente percebeu que tinha dito alguma coisa errada, porque elaafastou o corpo para encará-lo.

— O que me diz de passar o resto de sua vida sem fazer amor com outramulher? Se pensa que vou tolerar que tenha amantes, pode...

Ele encantou-se, excitando-se ainda mais ao perceber o ciúme na voz deEleanor.

— Tudo o que posso oferecer a você, é minha palavra, que provavelmentenão vale muito. Mas eu... não quero tocar em qualquer outra mulher. Eu desejoapenas você.

— Isto é muito bom, mas também lhe é conveniente.— Pensa que foi conveniente entrar em sua casa como um ladrão e raptá-

la?— Estranho que tenha se decidido a tomar uma atitude depois que

Melbourne o mandou ficar longe de mim, e depois que convocou John Tracey.Bem, ele não podia negar que aqueles acontecimentos haviam-no apressado

a tomar atitudes extremas.— Antes eu pensava que nós... que eu... teria mais tempo para descobrir a

razão de me sentir assim. Mas Cobb-Harding com sua idiotice apressou tudo. — Omarquês sorriu levemente. — Então entrei pela janela de seu quarto.

— Fez isso por mim ou por você?— Não pode ser por nós dois?— Você...— Não sei agir com propriedade, Eleanor. — Ele voltou a beijá-la, sentindo-

se compensado pela retribuição imediata. — E não sou capaz de fazer algo que

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seja completamente contra o meu próprio interesse. Se eu pudesse, ainda assimnão permitiria que se casasse com Tracey.

Ela suspirou.— Sim, penso que não me deixaria. — Enfiou os dedos por entre os cabelos

de Valentine, querendo senti-los. — Mas você supera Tracey em todos ossentidos?Valentine sorriu, sugando-lhe o canto do lábio inferior.— Muito melhor. Pense nisso. Desde que não queira agir como uma dama

bem comportada, talvez nós dois formemos um bom par.Eleanor se irritou.— Bem, é fácil para você me seduzir enquanto estou com uma camisola

transparente e dependo da sua proteção para garantir minha segurança. Mas equanto ao amanhã?

Em parte Valentine gostava da forma como Eleanor via as coisas, comoexpunha abertamente os seus pensamentos. Esta noite, porém, ele teriapreferido que ela tivesse aceitado o seu pedido de casamento sem contra-argumentar.

— O que sei é que não tem sentimentos especiais por John Tracey, ou nãoestaria ainda nesta carruagem. Teria pulado mesmo com o coche em movimento.Mas está certa. Não posso convencê-la a confiar em mim, e não tem comoacreditar que eu nunca a magoarei.

— Escute...

— Eu simplesmente vou dizer o que você já sabe — ele continuou. — Eu evocê nos sentimos bem juntos. Entendemos um ao outro, nos divertimos. Diabos,você me entende melhor do que eu mesmo e penso que posso dizer o mesmo emrelação a você. — Valentine acariciou-a levemente no queixo. — Mas estas sãoapenas palavras e você precisa pensar. Assim, vou deixar que descanse.

Ele se acomodou no banco, fechou os olhos e tentou se convencer que tudoo que fazia era por uma boa causa. Ele a desejava mais do que tudo na vida. Maisdo que poderia vir a desejar alguém. Mas a decisão devia partir de Eleanor. E nãoqueria que uma decisão apressada fosse tomada apenas para provocar Melbourne.

Como o silêncio se prolongasse, ele abriu um olho. Eleanor estava sentadano canto oposto do banco, os braços cruzados sobre o peito, observando-o.

— Sente frio?— Um pouco.— Por que não me disse? — Ele imediatamente tirou o casaco e a envolveu.— Não estou acostumada com as regras de um rapto. Valentine deixou o

comentário passar sem ironizar, considerando que tinha esperado uma batalhaacirrada.

— Então decidiu se casar com Tracey? Ela suspirou.

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— Não sei. Ele certamente é o menos ofensivo dos candidatos queMelbourne e eu analisamos.

— Melbourne discutiu os candidatos com você? Isso me surpreende. Penseique lhe havia imposto o noivo.

— Bem, ele me disse claramente que eu devia parar de dar voltas emLondres e me casar, tanto para minha segurança como para o bem da família.— Parar de dar voltas? E assim que ele chama a sua ânsia de liberdade?— Sim. Como você a chamaria?— Divertir-se? Explorar? Decidir o curso de sua vida? Eleanor sorriu.— Você me entende.— E o que venho tentando dizer a você, minha querida. Nós nos

completamos em todos os sentidos.— Oh, Deus! — Ela ruborizou e encolheu-se dentro do enorme casaco. —

Amanhã você continuará sendo este Valentine galã?— Sempre fui assim, querida.— Não creio, mas não posso dizer porque não convivíamos tanto. Sei que

você já foi um libertino, porém nas últimas semanas, descobri que pode ser...assustadoramente compreensivo.

— Agora sou eu que fico sem jeito.— Vou ser honesta. — Ela colocou suas mãos sobre os joelhos de Valentine.

— O tempo todo em que estive conversando com John Tracey, já sabiaprecisamente o que ele me responderia a qualquer coisa que eu dissesse. Eu podia

levar a conversa toda por minha conta.Valentine deteve a respiração, atento.— Isso economizaria o seu tempo.— Suponho que sim, se meu sonho fosse não ter nenhuma surpresa na vida

ou mesmo uma boa discussão sobre alguma coisa. — Estreitou a distância entreeles, e traçou com a ponta da língua uma trilha pelo pescoço dele até cobrir aboca em um beijo voluptuoso.

— E quem iria querer uma vida assim? — ele murmurou, procurando secontrolar e deixar que Eleanor tomasse todas as iniciativas, quando percebeu queos botões de sua calça eram abertos rapidamente.

— Que garota decente desejaria que alguma coisa inesperada ocorresseem sua vida?

Com um sorriso, ele entendeu o malicioso jogo de palavras e movimentosnada decentes quando sentiu que seu membro intumescido era acariciadosensualmente por uma boca sequiosa. Aos poucos Eleanor o dominou por inteiro.

Ao sentir que não mais agüentaria retardar o clímax que já se prenunciavaatravés de espasmos de prazer, Valentine afastou-se para segundos depois virá-la de costas no banco.

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Suas línguas se encontraram no mais ousado dos beijos. Seguindo oinstinto, foram se amoldando como peças complementares. Cada reentrânciapreenchida por peles arrepiadas; cada recôndito da alma preenchido pelosentimento mais completo de todos. Eleanor afastou as coxas, convidando-o a

penetrá-la sem mais demora.E assim seguiram com movimentos frenéticos até que um gemido roucorompeu o silêncio, anunciando que ambos haviam atingido o ápice do prazercontido, dos sonhos desvairados.

— Agora vai ter de se casar comigo — ele murmurou.— Não vou não. Mas pensarei no assunto.Eles haviam parado no caminho apenas uma vez, a fim de mudar a bagagem

para o compartimento do passageiro para que ela pudesse trocar de roupa.Eleanor examinava no baú os vestidos que Valentine tirara de seu armário.

— Não há nada aqui que não seja traje para um baile. Penso que vocêescolheu cada vestido de madame Costanza que havia no meu armário, e nadamais.

— Pode me culpar por isso, minha querida?— Mas o que vou usar quando for tomar o café da manhã? Espera que eu

use isto?— Não precisa usar nada, no que me diz respeito.— Estou certa de que todos os criados da hospedaria iriam adorar isso.— Eu gostaria, e é o que importa. Também não vamos nos expor muito por

aí, por isso não se preocupe.— Tem medo que eu mude de idéia? — Se o casamento não fosse do gosto

de Melbourne, o irmão poderia mandá-la para fora de Londres, ela nunca maisvoltaria à cidade e tampouco se casaria. Valentine tinha diminuído consideravel-mente suas chances, mas nem mesmo assim conseguia se zangar com ele.Encontrava-se em uma situação complicada graças ao marquês. Por outro lado,era uma aventura que podia ser desfrutada. Pelo menos uma coisa que Valentinetinha dito era verdade: ninguém a fazia se sentir assim tão livre, tãoesperançosa. E ela o amava. E até que essa realidade chegasse a proporçõesdesastrosas, deixaria o destino seguir por sua conta e risco.

— Temo que seus irmãos estejam nos caçando. E não quero matar nenhumde seus parentes antes do nosso casamento.

Eleanor olhou para Valentine para ver se ele falava sério. Sentiu umarrepio. Exausta ou não, ela se sentia mais viva do que nunca. Ele a excitava e asurpreendia e a saciava plenamente. E estava certo quando afirmava que seusirmãos seriam contra o que havia feito. Não desejariam Valentine como membroda família, apesar de aceitarem-no como amigo.

— Melhor não pararmos pelo caminho — sugeriu ela. Valentine a puxou para junto de seu corpo.

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— Creio que podemos dar uma parada rápida para tomar mos café damanhã e trocarmos de cavalos. Melbourne deve ter acordado há uma hora.

— E ainda não descobriu para onde fui.— Pode ter uma idéia.

— Como assim?— Deixei um bilhete sobre a sua cama. Eleanor sentiu um frio na espinha.— Por que fez isso?— Porque não queria que ele pensasse que você tivesse sido levada por

algum estranho. Pareceu-me a atitude certa a tomar.— Entendo... — Eleanor respondeu vagamente, com os olhos perdidos no

horizonte.Eles pararam na Hospedaria Greenbriar para tomar o café da manhã e

trocar os cavalos. A estalagem ficava na principal via que levava a Londres, desse

modo, Valentine não se surpreendeu ao ver muitos hóspedes ali. Significava quepoderiam encontrar algum conhecido que se tornaria uma eventual testemunha daindiscrição que seria atribuída maldosamente a Eleanor. Apesar de ela ter ficadonervosa ao saber que Valentine deixara um bilhete aos irmãos dela, informandopara onde estavam indo, o marquês ainda acreditava que tinha tomado a melhoratitude.

Surpreendia-se, inclusive, com essa nova faceta de sua personalidade. Cadavez mais procurava fazer o que era adequado para um cavalheiro.

— As pessoas estão olhando para nós — Eleanor comentou baixinho.

— Deixem que olhem. Estão só de passagem, logo partirão. — Percebendo-apreocupada, ele teve uma idéia. — Vou alugar uma sala de jantar particular paranós.

O estalajadeiro mostrou uma saleta bem discreta com uma mesa e umalareira.

— Estarei de volta num instante com a refeição, milorde — anunciou. —Muitos dos hóspedes estão partindo e devo acompanhá-los às suas carruagens.

— Apenas nos mande chá para começar — o marquês pediu. — E depois nostraga um substancial café da manhã.

— Sim, milorde.Quando o estalajadeiro deixou o aposento, Eleanor mostrou toda a sua

apreensão.— Ele me olhou de forma estranha — ela desabafou assim que a porta se

fechou.— Claro que sim. Você está usando um traje de noite. Eleanor riu.— Você informou nossos verdadeiros nomes? Não está nem mesmo

tentando escapar de Sebastian?— Não, tenho certeza de que nos distanciamos bem de seus irmãos. Meu

melhor cenário é que, quando a sua criada decidiu acordá-la e não a encontrou no

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quarto, levou o bilhete a Sebastian, por volta de umas onze horas. O duquereuniu-se com Zachary e Shay e os três elaboraram um plano. Sendo assim,devem ter saído a cavalo por volta do meio-dia. — Valentine consultou o relógio.— O que nos dá quatro horas de vantagem.

— Pois prefiro que coloque umas dez horas na frente. Isso nos permitiráchegar à Escócia?— Se forçarmos os cavalos, sim.Eleanor não parecia em nada tranqüilizada.— E qual é o seu pior cenário?— Eles estarão aqui em dez minutos — Deverill respondeu, rindo. — Mas

vamos ser otimistas. Esta é a minha nova filosofia.Eleanor não resistiu e acabou rindo.— Deus do céu. Se este for um desastre, pelo menos será espetacular.

A palavra desastre perturbou Valentine, que deu uma olhadinha pela janelapara se certificar de que os outros hóspedes haviam partido.Uma criada entrou na sala trazendo chá, fez uma reverência enquanto

servia à mesa e depois se apressou em sair. Sem dizer palavra alguma, Eleanor osserviu, acrescentando um torrão de açúcar em sua xícara e dois na de Valentine.

— Você se lembrou — ele murmurou, apontando para o açúcar.— Sempre observei tudo a seu respeito, Valentine, desde criança... — ela

confessou.Ele se levantou e a abraçou carinhosamente.

— E continua atraída ainda? — perguntou suavemente, beijando-a nopescoço.

— Quando eu tinha quinze anos, você me parecia fascinante.Tais palavras apenas fizeram com que Valentine intensificasse o beijo.— Era por isso que costumava me dar biscoitos de limão com bastante

açúcar em cima?—Deverill indagou, enquanto trançava os cabelos de Eleanor queestavam soltos.

— Você notou que eu fazia isso?Eleanor voltou-se e Valentine prendeu-lhe os lábios, primeiro em um beijo

suave, depois ardente.— Sou muito observador.O estalajadeiro entrou na sala naquele momento.— Tomei a liberdade de trazer mais chá e pão quente.— Obrigado — o marquês disse, um pouco irritado pela entrada inesperada

do homem.Eleanor afastou-se para o lado, bastante embaraçada. Valentine pediu que

fosse servido presunto, ovos e pêssegos frescos para os dois.— Vai continuar aí parada? — questionou assim que o estalajadeiro saiu.

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Ela agora estava sentada ao lado da lareira. Parecia entretida empensamentos.

— Acho que sim. Tenho algumas perguntas a fazer antes de concordar emme tornar sua esposa.

— Ah, tem ainda mais perguntas? — Valentine procurou parecerdescontraído, mas sentira um estranho mal-estar.— Muito bem. — Ela respirou fundo, um pouco nervosa. — Filhos. Você quer

tê-los?— Um mês ou dois atrás, eu teria dito que queria um filho, que herdasse o

meu título. Agora a idéia de vida em família me agrada. Quero envelhecer ao seulado, meu amor. E gostaria de ter filhos com você. — Ele hesitou antes decontinuar, desejando não parecer um idiota. — Não sei que tipo de pai posso vir aser, mas eu gostaria de me sair melhor do que o meu.

— Disse que quer envelhecer ao meu lado. Mas não se esqueça de que nãoserei mais bonita, e meus cabelos ficarão grisalhos. Mesmo assim... — ela quissaber, embora também lhe parecesse uma preocupação fugaz.

— Você se esquece que também não serei mais tão bem apessoado — ele ainterrompeu. — Posso até ter engordado.

— Mas...— Nunca vou querer outra mulher além de você. Agora vejo as coisas de

forma diferente. Não sei explicar ao certo o que sinto, creio que palavras paraexprimir o que sinto ainda não foram inventadas.

— Oh... — murmurou, emocionada. A porta voltou a se abrir.— Coloque a comida sobre a mesa — Valentine disse, sem olhar para ver

quem havia entrado, julgando ser o estalajadeiro.Alguém se moveu rapidamente atrás dele e meteu-lhe um pesado prato na

cabeça. Valentine caiu no chão, desacordado.Eleanor gritou ao reconhecer Cobb-Harding.— Está tendo uma aventura e tanto, não é? — Stephen indagou.Eleanor pegou um pedaço de madeira que estava na lareira e avançou

contra ele.— Vá embora daqui! Saia!Ele agarrou-a pelo braço e a fez soltar a madeira. De repente tudo ficou

confuso. O assunto com Cobb-Harding estava encerrado! Seu irmão haviarecusado a proposta indecente que ele fizera. Valentine o expulsara do país.Como podia estar ali ameaçando-a?

— Socorro! — ela gritou.Stephen a agarrou e a sacudiu ferozmente.— Pare com isso — ele exigiu, jogando-a no chão. Eleanor caiu ao lado de

Valentine, que estava desacordado.

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— Oh, não, não — ela murmurava, procurando ver se o marquês aindarespirava.

Um homem desconhecido entrou na sala naquele momento. Pelo olhar quetrocou com Cobb-Harding, Eleanor percebeu que estavam juntos. E haviam

planejado aquele novo golpe. Ela começou a gritar, fazendo Stephen perder apaciência.— Cale a boca! Não quero bater em você.— Então o que deseja?— Vou fazer uma simples proposta de negócios — ele comunicou. — Se você

se acalmar e quiser me ouvir.— Como vou me acalmar. Atacou Valentine pelas costas, seu covarde.— Fique feliz que eu não o tenha matado. Isso me livraria de uma dívida

bastante alta e do embaraço de ter de me mudar de país.

Oh, Deus, ela havia se esquecido disso.— Eu não...— Tentei explicar ao seu irmão que eu estava em uma situação

insustentável. Infelizmente, você é a minha única solução.Ela pulou sobre Cobb-Harding e o chutou, mas ele reagiu e a atirou contra

a lareira. Um terceiro homem entrou na sala, e Eleanor o reconheceu de imediato.— Sei quem é você! — bradou. — E Peter Burnsey. Joga cartas com Shay.— Perdi no jogo para seu irmão — o neto do marquês de Sneldon

acrescentou. — Também perdi outras coisas para Sebastian. Até agora, é claro.

— Deve estar desesperado, para se unir a esse idiota. — Eleanor desejouque a voz estivesse mais firme.

Deu uma olhada em direção a Valentine, mas ele não se movia.— Corro certo risco em troca de uma recompensa — Peter explicou. — A

carruagem está pronta. Vamos tomá-la ou vai esperar que chegue o próximocorreio do Norte? Cobb-Harding fez uma careta.

— Poderia se vestir de forma menos provocante, Eleanor. Assim vai chamara atenção por onde passarmos.

— Não vou a parte alguma com você. Vá embora e me deixe em paz.— Não é você quem dá as ordens aqui, milady. Além do quê, apenas

estaremos continuando a sua viagem. Valentine pretendia levá-la a Gretna Green,não é?

Eleanor sentiu um frio tomá-la de súbito.— Pare com isso.— Oh, não. Preciso de vinte e cinco mil libras para poder me livrar da

dívida que tenho com este crápula. A não ser que eu o mate, a dívida continua.Prefiro não matá-lo, o que me obrigaria a sair da Inglaterra, que é o que venhotentando evitar. Dei a seu irmão a oportunidade de me ajudar e de manter a suareputação a salvo. Ele recusou.

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— Você queria abusar de mim! — ela gritou. — Tentou...— Tentei garantir o nosso casamento. E agora o vejo mais necessário do

que antes. Assim, nos casaremos, com Burnsey e Perline como testemunhas, eSebastian terá de pagar as minhas dívidas.

Burnsey caiu na risada.— E talvez também as minhas.— Nesse caso — Stephen continuou —, eu me livrarei de Valentine, e farei

parte do clã Griffin. Vê algum aspecto negativo nesse meu plano? Porquefrancamente não vejo nenhum.

— Eu vejo.Valentine atingiu o peito de Cobb-Harding, que caiu sobre a mesa de

madeira. Burnsey deu um passo atrás quando o pão e o chá voaram pelo ar.Stephen tentou sair do raio de ação do marquês, mas este voltou a atingi-lo com

um soco no peito.Eleanor correu para ajudar, porém não conseguiu ir longe sem pisar na saiae cair. Valentine precisava de ajuda, ou pelo menos que ela distraísse os outros.Conseguiu ficar em pé, contudo Burnsey veio em sua direção com as pioresintenções.

— Não! — ela exclamou, atingindo-o na cabeça e no ombro com o bule dechá.

Burnsey recuou, gritando, quando o chá quente atingiu seu rosto,queimando-o. Andrew Perline entrou na sala naquele momento, disposto a ajudar

os amigos.— Valentine, cuidado, atrás de você! — Eleanor bradou, jogando agora a

bandeja de pão em cima de Burnsey.Valentine enfrentou Perline e os dois rolaram pelo chão no mesmo instante

em que Stephen, que se refizera dos socos recebidos, agarrava Eleanor por trás.— Você vem comigo! — ele exclamou. Mesmo com o nariz sangrando e um

corte profundo na cabeça, o rapaz conseguira se manter de pé. — Deixo Deverillentregue aos meus amigos. Mais tarde você poderá lhes perguntar o destino quederam ao marquês. Claro que, se você cooperar, este episódio pode terminar umpouco menos desagradável para ele.

— Pare com isso e deixe-me ir — ela pediu. — Nunca vou concordar em mecasar com você.

— Vai, sim. Se não o fizer, sua reputação estará completamente arruinada.— Não, se me raptar.— Apenas estou seguindo o plano de Valentine. Não fui eu quem a raptou,

fui? O marquês a terá arruinado, não eu. Estou apenas terminando o negócio. —Stephen riu e fez uma careta porque seu lábio doía. — Deveria me agradecer,isso, sim.

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— Não me importo de passar o resto da vida em um convento — elaconstatou, dando um soco no rosto do raptor. — Não vou me casar com você!

— Eleanor! — Valentine berrou, em meio aos outros dois homens.— Acabem com ele — Stephen gritou. — Minha paciência se esgotou.

Oh, Deus, eles vão matar Valentine. Ela arriscava agora mais do que areputação. E não poderia levar Deverill a perder a vida.— Esperem. — Eleanor se voltou a Stephen. — Irei com você.— E por quê?— Deixem Valentine em paz. Amarrem-no, tranquem-no em um quarto, e

não me rebelarei mais.— Concorda em se casar comigo?Uma lágrima escorreu pelo rosto de Eleanor.— Se não machucar Valentine, farei isso. Cobb-Harding virou-se para o

marquês com um ar de triunfo.— Ouviu o que ela disse, Deverill?! Eleanor vai se casar comigo. Vocêperdeu.

Valentine levantou-se com Perline segurando-o de um lado e Burnsey dooutro. O rosto do marquês estava coberto de sangue.

— Eleanor, não!— Pare com isso, Valentine — ela ordenou, outra lágrima unindo-se à

primeira. — Não lute mais. Vou embora com Stephen.— Está desistindo?

— Não. Ela está escolhendo a mim. Amarrem-no. Valentine livrou o braçoque Burnsey segurava.

— Não precisa. Pensei que era uma lutadora, Eleanor. Se é isso o que aliberdade significa para você, tudo bem. É demais para mim.

Eleanor olhou, surpresa, para Deverill. Cobb-Harding era mais cético.— Está querendo que eu acredite que está abandonando Eleanor,

Valentine?Ao contrário do esperado, o marquês jogou o casaco sobre os ombros,

dizendo:— Eu pretendia me divertir um pouco à custa dos poderosos Griffin. Mas

agora esta história não está mais me agradando.Finja, Neil, ela disse a si mesma, percebendo que Valentine queria

confundir os patifes.— Como posso ter me enganado tanto a seu respeito, Valentine?— Não me olhe desse jeito! — o marquês exclamou, o sangue lhe

escorrendo pelo rosto. — Você fez um acordo, eu não.— Mas...

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Movendo rapidamente o braço, Valentine pegou Burnsey distraído,atingindo-o no queixo. O homem caiu no chão com um ruído seco. Perline procuroureagir, mas o joelho de Valentine o atingiu no rosto, e ele também caiu para trás.

— Agora — o marquês disse, esfregando as mãos —, está bem melhor.

— Mas você concordou... — Cobb-Harding começou a falar.— Eleanor concordou, não eu. E infelizmente ela mentiu— constatou o marquês, abrindo um sorriso de triunfo. Cobb-Harding

segurou o braço de Eleanor com mais força.— Ela vai comigo. Fique onde está. Não quero machucar a moça, mas o farei

se não me der escolha.— Uma escolha — Valentine repetiu. Sua voz soou calma, mas o olhar era

assustador.Eleanor sentiu-se feliz por não estar na pele de Cobb-Harding naquele

momento.— Eu lhe dou uma escolha então — o marquês continuou.— Largue Eleanor ou vou tirar sua pele enquanto vivo e dar a carcaça aos

cachorros.— Não! Não vai vencer este jogo. Pode ter qualquer mulher. Não precisa

desta, mas eu sim.— Está errado, Stephen. — Valentine agarrou uma das cadeiras da sala. —

Eleanor, abaixe-se.No momento em que ela se jogou no chão, a cadeira atingiu Stephen no

ombro e o derrubou.— Quebrou o meu braço! — Cobb-Harding urrou de dor.— É essa a sua reclamação? Deite-se e vire de cara para o chão. —

Valentine olhou para Eleanor. — Arranje cordas ou qualquer coisa com que eupossa amarrá-lo.

Ela correu para a porta, abriu-a e deu com o dono da hospedaria e a esposaà escuta.

— Ouviram o que ele disse — gritou. — Quero uma corda!— Esses homens nos ameaçaram — o homem disse apavorado.— Não me interessa. Encontre uma corda imediatamente. Eleanor logo

deduziu que os estalajadeiros haviam sidosubornados porque no mesmo instante lhe entregaram uma corda.— Deseja que eu chame a polícia? — o homem perguntou. Ela quase

concordou, mas antes tinha de conversar comValentine.— Eu o informarei em um momento — respondeu, voltando à sala.Valentine e Eleanor amarraram os três homens. Deverill apertou tanto as

pernas de Cobb-Harding que ela não se surpreenderia se o filho do condeacabasse com gangrena.

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— Agora estes cretinos não vão a parte alguma — vociferou Valentine.— Você está bem? — ela perguntou.O marquês lhe estendeu a mão em um gesto de carinho.— Está com sangue no queixo — ele murmurou, tocando no rosto de

Eleanor.— Não creio que seja meu. Deve ser daquele que rachou o crânio. — Elapercebeu que suas mãos tremiam. — Você me assustou.

— Eu sei. Precisei deixar que eles pensassem que eu estava fora decombate. Nunca quis... — Ele parou, pigarreando. — Nunca deixaria que alguém amachucasse, Eleanor. Eu deveria ter percebido que Stephen não ia desistir tãofacilmente. Coloquei-a em perigo. Isso...

— Shhh. Não estou ferida.— Oh, sim, está. — Deverill se inclinou para beijá-la. — Não sou o tipo de

homem em quem uma mulher possa confiar.— Entrego a minha vida a você, Valentine. Ele sorriu.— Você tem me feito pensar muito, sabia?— Tenho?— Oh, sim.A porta se abriu e o marquês, sem pensar, colocou-se na frente de Eleanor,

protegendo-a.— Oh, não — Eleanor murmurou.Os irmãos Griffin os haviam alcançado.

Maldição!, Valentine pensou enquanto lutava para controlar tanto otemperamento quanto a tontura que sentia por causa dos golpes recebidos.

— Sebastian! — Eleanor exclamou, agarrando a mão de Deverill com força.O duque ficou parado na porta, um irmão de cada lado. Depois de alguns

segundos, porém, a atenção de Melbourne se dirigiu para a mobília quebrada, alouça em cacos e os três homens amarrados.

— Shay, reúna todos que possam ter ouvido o que aconteceu aqui — disse,puxando a carteira do bolso e a estendendo ao irmão. — Faça com que seesqueçam do que escutaram.

Charlemagne concordou, pegou a carteira e se afastou. Considerando quenão estava no seu melhor estado físico naquele momento, Valentine aguardou osacontecimentos. Mas ninguém ia impedi-lo de se casar com Eleanor.

— Que diabos ocorreu aqui? — Zachary perguntou, olhando a bagunça nasala.

— Um desentendimento.— Uma bela pancadaria, eu diria — Zachary opinou, com os olhos

fulminando de raiva. — Valentine, você raptou minha irmã!— Penso que devemos nos acalmar agora — Eleanor interveio, apertando

ainda mais a mão de Deverill.

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— E acho que o marquês deveria se afastar de você, a não ser que queiramais um pouco do que acabou de receber — Zachary disse, com os punhoscerrados.

— Espero que mantenha a boca fechada, rapaz — falou Valentine,

procurando aparentar calma. — E é melhor que não se aproxime.— Não ouse...— Zachary — o duque interrompeu o irmão. — Vamos, tentar resolver isto

de forma civilizada. Perguntas e respostas, sem acusações.— E se eu não gostar das respostas? — o irmão mais novo dos Griffin

perguntou.— Ainda assim deveremos agir como pessoas civilizadas. — Melbourne

ergueu uma cadeira que estava intacta. — Por que não nos sentamos?Valentine teria recusado, mas podia sentir que Eleanor tremia ao seu lado.

Fora isso, a cabeça do marquês doía e ele sentia que estava prestes a cairinconsciente. Concordando, Valentine levou Eleanor até o banco que havia ao ladoda mesa, e então se sentou bem devagar ao seu lado. Manteve-se a uma distânciatal que podia segurar-lhe a mão, e longe o suficiente para ter espaço de se moverrapidamente, caso um dos irmãos tentasse atacá-lo.

— Posso explicar — ela disse inesperadamente. O duque arqueou asobrancelha.

— Por favor, faça-o então, tendo em mente o que está escrito aqui. — Eletirou um papel do bolso. — Duvido que o tenha lido. Este bilhete diz que foi

raptada por Deverill e que ele a estava levando para Gretna Green com a idéia dese casarem para mantê-la longe de minha... — Melbourne voltou os olhos para opapel. — Oh, sim, de minha falta de conhecimento de suas necessidades.

— Saí de casa porque quis — ela mentiu, ruborizando.— Então o bilhete mente, e decidiram fugir juntos?— Eu a raptei — Valentine afirmou. — Eu não podia ficar sentado o

observando a forçá-la a...—... uma vida infeliz? — Melbourne terminou a frase. — Dramático demais,

eu diria. Especialmente partindo de você, Valentine, é pragmático e cínico.— Eu pretendia dizer "uma vida comum" — corrigiu o marquês Melbourne.— Mas pedi ajuda a Valentine — Eleanor o interrompeu.— O que aconteceu foi culpa minha. Ele me salvou. — Apontou para Cobb-

Harding.— Oh, pare com isso, Neil — o duque protestou. — O marquês de Deverill

não precisa de ninguém se sacrificando por ele. Todos sabem disso.Charlemagne entrou na sala e entregou a carteira a Melbourne.— O que perdi desta conversa?— Nada ainda. Melbourne estava para explicar por que ele escolheria

alguém inaceitável para vigiar a irmã — respondeu Valentine.

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— Não fiz isso — Sebastian se defendeu com extrema calma.— Melbourne, ele raptou nossa irmã, tirando-a do próprio quarto no meio

da noite — Zachary disse. — E ainda o considera seu amigo? Sugiro quechamemos a polícia e que leve os quatro presos e exilados para a Austrália.

Valentine ignorou os insultos, preferiu encarar o duque por um longomomento. Centenas de conversas, uma dúzia de cenários passaram por suacabeça. Ele conhecia Melbourne havia um longo tempo e nunca o tinha visto darum passo errado, interpretar mal uma proposta de negócios ou um sócio. Não, porDeus, o duque sabia o que estava fazendo quando o havia chantageado paraparticipar daquela farsa.

— Estava querendo nos unir?! — Eleanor indagou no auge do espanto. Omarquês e ela chegavam à mesma conclusão no mesmo segundo. — Pretendia queValentine e eu nos interessássemos um pelo outro?

— O quê? — Shay arregalou os olhos. — Não seja ridícula! Por queMelbourne pensaria que Deverill se comprometeria a...— Mas ele se comprometeu — Sebastian interrompeu o irmão.Eleanor levantou-se, pálida e estarrecida.— Não está querendo dizer que planejou tudo isso? — Ela olhou para o

marquês, sentindo uma dor profunda no peito.— Valentine, não...— Eu não sabia de nada. — Deverill subitamente ficou apavorado. Não

podia correr o risco de perder Eleanor. — Na verdade, não me importo com o que

tenha acontecido para nos trazer até aqui.— Valentine, estou cansada de ser manipulada. Não vou tolerar esta

situação. Como...Em vez de se perder com palavras, Deverill a beijou. Era a única forma que

conhecia de calar aquela linda boca. Aos poucos, Eleanor parou de protestar ecorrespondeu ao beijo.

— Realmente não me importo com as circunstâncias que nos uniu, Eleanor.Descobri o meu amor por você. Este sentimento sempre deve ter existido, desdequando a vi pela primeira vez.

— Está dizendo que me ama, Valentine?— Estamos sendo solenemente ignorados — Zachary reclamou. — Fugiram

e...— Cale a boca, Zachary — Deverill interrompeu o rapaz, pegando a mão de

Eleanor. — Querida, quer dar uma volta comigo?— Não permitiremos que fiquem fora de nossas vistas. — Charlemagne

começou a atravessar a sala para impedir que alguém saísse dali.— Então nos impeça — Valentine desafiou, sem demonstrar medo algum.— Deixe-os ir — por fim o duque falou, antes que começassem a discutir.

— Eles sabem que não podem se livrar de nós facilmente.

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Deverill levou Eleanor para o jardim que havia nos arredores dahospedaria.

— Acredita mesmo que Melbourne arquitetou tudo isso? — Eleanorperguntou, olhando para o marquês. — Que ele deu um jeito de nos unir?

Valentine meneou a cabeça, assentindo.— Penso que Sebastian achou que eu teria uma boa influência sobre você evice-versa. Quanto ao resto, ele não podia ter idéia alguma.

— Exerço uma boa influência sobre você? — Eleanor observavaatentamente o rosto do marquês.

De alguma forma, ele parecia até mais bonito, com o cabelo despenteado eo rosto ensangüentado.

— Transformou-me em outro homem.Eleanor envolveu o rosto de Valentine com as mãos e o beijou. Não

conseguia resistir, esquecendo-se da presença dos irmãos. Ele havia dito averdade e tinha lhe confessado o seu amor.— Fui nadar nua no lago, no meio do Hyde Park — ela murmurou. — Fiz

passeios sem acompanhantes e falei de meus interesses com as pessoas sem mepreocupar com o que elas pudessem pensar.

— E pode fazer tudo de novo, Eleanor. Não precisa se contentar com umavida comum.

— Não acredito que conseguiria, estando com você.— Sim, estará sempre comigo. — Valentine lhe acariciou o rosto. — Pense

um pouco. Viver com o marquês de Deverill não é uma verdadeira aventura?— Oh, meu querido, eu sempre soube que tipo de aventura desejava, o que

queria para a minha vida, desde a noite em que me salvou de Stephen na soirée deBelmont. Eu apenas não sabia se seria sensato.

— E agora?— Sei que pode não ser convencional, mas é bondoso e honrado. — Ela

sorriu. — E quero ser como você, Valentine.— Acho que já somos iguais desde sempre. Levando-se em conta apenas

meu lado bom, é claro. Por que não seguimos logo com nossa viagem e noscasamos?

Ela concordou, as lágrimas escorrendo pelo rosto.— Isso é tudo o que eu mais quero na vida. Ele a beijou devagar,

carinhosamente.— Muito bem. Agora vamos escapar de seus irmãos.— Vamos a Gretna Green? #— Melbourne pensa que sabe de tudo. Mas aposto que não espera que

prossigamos com nossa aventura. Vai querer um casamento em uma catedral, commil e um convidados e tudo o mais.

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Eleanor cobriu a boca com as mãos. Agora que os irmãos estavam ali, queela sabia o que desejava da vida, simplesmente não podia esperar um casamentoconvencional. No que dizia respeito a Valentine Corbett, a vida só lhe reservariasurpresas. E, para ela, isso era liberdade.

— Sim — concordou. — Vamos embora, meu amor.