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    Cad. Metrop., So Paulo, v. 12, n. 24, pp. 309-330, jul/dez 2010

    Disperso espacial da populaoe do emprego formal nas regies

    de influncia do Brasil contemporneo

    Population and formal jobs spatial dispersion

    in contemporary Brazilian influence regions

    Carlos Lobo

    Ralfo Matos

    ResumoDesde finais da dcada de 1970, vrios autores

    aventaram a hiptese de reverso da polarizao

    no Brasil, como proposto pelos modelos aplicados

    nos pases desenvolvidos. Diante das controvrsias,

    o objetivo deste trabalho foi avaliar a magnitude

    da disperso espacial da populao nas Regies

    de Influncia das principais metrpoles brasileiras,

    definidas pelo IBGE. Foram utilizadas as bases dos

    ltimos Censos Demogrficos e da Relao Anualdas Informaes Sociais, a partir das quais foi pos-

    svel identificar os fluxos da populao e da mo de

    obra ativa formal. Os resultados indicam a intensi-

    ficao na ocupao dos espaos alm das Regies

    Metropolitanas. No caso da metrpole paulista, o

    crescimento desses deslocamentos para sua Regio

    de Influncia direta parece confirmar uma espcie

    de disperso polinucleada.

    Palavras-chave:disperso espacial; migrao;mobilidade de trabalhadores formais; regies de

    influncia e disperso polinucleada.

    AbstractSince late 1970s, several authors have worked on

    the polarization reversion hypothesis in Brazil, as

    suggested by the models applied in the developed

    countries. Considering the existing controversies,

    this research aims at evaluating the current

    population spatial dispersion magnitude on the

    main Brazilian metropolises Influence Regions,

    defined by IBGE. The data for this research was

    extracted from the last Demographic Censuses andfrom the Annual Relation of Social Information,

    based on which it was possible to identify

    population and active formal workers flows. The

    results indicate the occupation of spaces expansion

    beyond the of Metropolitan Regions limits. In the

    case of So Paulo metropolis the increase of these

    population flows to its Influence Region seems to

    confirm a kind of polynucleated dispersion.

    Keywords:spatial dispersion; migration; formalworkers mobility; influence regions; polynucleated

    dispersion.

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    Carlos Lobo e Ralfo Matos

    Cad. Metrop., So Paulo, v. 12, n. 24, pp. 309-330, jul/dez 2010310

    Introduo

    Alm das controvrsias que resultaram da di-

    fuso de expresses como reverso da polari-zao, desconcentrao concentrada, de-

    senvolvimento poligonal, entre outras, h um

    relativo consenso acerca das evidncias empri-

    cas de declnio do crescimento demogrfico de

    grandes centros metropolitanos brasileiros nas

    ltimas dcadas do sculo passado. Embora os

    processos de urbanizao e metropolizao no

    Brasil sejam ainda relativamente recentes oque exige cuidado no uso de expresses como

    despolarizao ou mesmo desconcentrao

    os dados referentes aos dois ltimos Censos De-

    mogrficos parecem confirmar uma tendncia

    de disperso espacial da populao, a despeito

    de os principais centros metropolitanos conti-

    nuarem mantendo suas posies hierrquicas

    do ponto de vista macrorregional, atraindo ex-pressivos contingentes populacionais.

    Mesmo tendo em vista as contribuies

    da economia regional estrito senso, h um de-

    bate que requer aprofundamento quanto dis-

    tribuio espacial da populao, notadamente

    no que se refere aos movimentos migratrios

    e aos deslocamentos da fora de trabalho. No

    mbito da geografia regional, so poucos ostrabalhos sobre migraes internas que se uti-

    lizam de informaes censitrias para estimar

    os movimentos da populao no espao. Escas-

    sas tambm so as pesquisas voltadas para a

    anlise espacial dos estoques e deslocamentos

    da populao inserida no mercado de trabalho

    formal. A investigao sobre a distribuio e

    os fluxos da populao permite reconhecer di-menses ainda pouco exploradas do processo

    de desconcentrao ou disperso espacial da

    populao e por essa lacuna que este estudo

    pretende trilhar.

    O objetivo avaliar a atual magnitude

    da disperso espacial da populao e da fora

    de trabalho no Brasil, tendo como recorte es-pacial de anlise as Regies de Influncia das

    principais metrpoles, estabelecido pelo IBGE.1

    Pode-se perguntar se haveria um rearranjo dos

    fluxos migratrios e dos deslocamentos da for-

    a de trabalho ativa no interior das Regies de

    Influncia das principais cidades brasileiras.

    Seria a disperso espacial evidenciada pela

    intensificao e difuso da influncia metropo-litana? Ou essa disperso ainda muito inci-

    piente, estando ainda restrita s periferias das

    metrpoles?

    Diante desse propsito, foram utilizadas

    as bases referentes aos Censos Demogrficos de

    1991 e 2000 e Relao Anual das Informaes

    Sociais (RAIS) de 1996 a 2005, a partir das quais

    foi possvel identificar os estoques e fluxos dapopulao residente e da Populao Ativa For-

    mal (PAF). O pressuposto principal de que es-

    sa disperso se materializa no crescimento dos

    estoques de pessoas residindo e/ou trabalhando

    fora e em espaos mais distantes das principais

    Regies Metropolitanas do pas, bem como no

    incremento do volume dos fluxos de populao

    migrante e dos deslocamentos da PAF para osmunicpios de cada uma das Regies de Influn-

    cia, considerada a distncia envolvida nos veto-

    res que representam esses fluxos.

    Ainda que no seja o objetivo deste tra-

    balho investigar os fatores sociais, polticos ou

    econmicos determinantes da disperso espa-

    cial, a elaborao e divulgao de indicadores

    especficos podem ser teis elaborao eproposio de polticas pblicas necessrias

    reduo das desigualdades regionais no pas.

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    Em vrias circunstncias, a redistribuio da

    populao residente e dos trabalhadores for-

    mais deixa de ser uma mera consequncia de

    determinados processos espaciais, tornando-se

    catalisadora de profundas mudanas na reali-dade regional, a exemplo do papel da migrao

    na dinamizao do estado de So Paulo ou do

    Centro-Oeste brasileiro.

    Reverso da polarizao,

    desconcentrao ou dispersoespacial da populao.Aspectos tericose conceituais

    Richardson (1980) um dos textos-referncia

    sobre o processo de reverso da polarizao

    (RP). Nessa obra, o autor afirmava que o cres-

    cimento continuado da concentrao das ativi-

    dades econmicas no leva ao aumento con-

    tinuado da eficincia. Os benefcios marginais

    derivados da escala urbana e da concentrao

    produtiva tendem a diminuir a partir de certo

    tamanho de populao. Os custos mdios de

    prover infraestrutura fsica, servios pblicos

    e administrao governamental local aumen-

    tam em termos per capita com o crescimento

    da cidade. Dessa forma, a relao custo-be-

    nefcio altera-se diante dos custos crescentes.

    Richardson sugere que o ponto de inflexo e

    os custos sociais marginais refletem o comeo

    de crescentes deseconomias de aglomerao

    resultantes do incremento de diversos tipos

    de congestionamentos urbanos; da elevao

    do preo mdio da terra urbana (que passa a

    sofrer concorrncia entre usos alternativos de

    solo); do aumento do custo de vida devido aos

    gastos crescentes de transporte e habitao

    (explicados em parte pelas altas do preo da

    terra); da expanso da criminalidade e piora

    das condies de vida.Para Redwood III (1984), o momento de-

    cisivo de incio da RP refere-se intensificao

    das deseconomias de aglomerao e reflete in-

    crementos derivados da elevao dos custos de

    moradia e trabalho. Esse processo caracteriza-

    se pela mudana da tendncia de polarizao

    espacial na economia nacional, a partir da qual

    ocorreria a disperso espacial para fora da re-gio central. Essa mudana manifesta-se por

    uma sequncia de fases: no incio haveria um

    processo bem definido de concentrao econ-

    mica, quando se estabelece um centro e uma

    periferia; em sequncia ocorreriam transforma-

    es estruturais na rea central, momento em

    que os ncleos adjacentes passariam a apre-

    sentar crescimento mais acelerado que o cen-tro; o terceiro estgio marcaria o incio do pro-

    cesso de reverso da polarizao, quando a dis-

    perso ganharia maior amplitude; na sequncia

    a disperso tambm atingiria os centros secun-

    drios; e finalmente a rea central comearia

    a perder populao.2Ainda de acordo com

    Redwood III (ibid.), o crescimento demogrfico

    e econmico das cidades secundrias reflete a

    combinao de diversos fatores, que em vrias

    circunstncias exigem a interveno pblica na

    economia local.

    Richardson, todavia, para alm da ex-

    panso das cidades secundrias no entorno do

    core metropolitano, afirma que a difuso regio-

    nal do crescimento a prpria manifestao do

    processo de reverso da polarizao.3Para esse

    autor, a

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    Polarization reversal may be defined as

    the turning point when spatial polarization

    trends in the national economy give way

    to a process of spatial dispersion (grifonosso)out of the core region into otherregions of the system. [...] This process of

    interregional dispersion is the main feature

    of PR. (Richardson, 1980, pp. 67-68)

    Talvez seja exatamente essa disperso re-

    gional o principal aspecto controverso sobre a

    ocorrncia da reverso da polarizao no Brasil.

    Vrias foram as tentativas de aplicao desses

    modelos para o caso brasileiro, cujas particula-ridades estruturais e setoriais oferecem difi-

    culdades interpretao desse fenmeno. Um

    dos primeiros trabalhos que avaliou a possvel

    reverso da polarizao no Brasil foi realizado

    por Townroe e Keen (1984). Esses autores con-

    sideram que esse processo se verifica a partir

    do ponto em que a concentrao da populao

    urbana na regio central comea a declinar, demodo que a razo entre a populao da maior

    cidade e a populao total do estado comea a

    decrescer.4

    Redwood III (1984) apresentou outras

    evidncias sobre o caso brasileiro. Com a cons-

    tatao da perda da participao do estado de

    So Paulo a partir de finais da dcada de 1950,

    esse autor acreditava que estaria em curso umprocesso de desconcentrao das principais

    reas metropolitanas que favorecia os centros

    secundrios mais prximos. Ao trabalhar com

    as principais tendncias demogrficas e a lo-

    calizao da atividade industrial, foram encon-

    tradas evidncias de que os processos de su-

    burbanizao, de descentralizao urbana e de

    reverso da polarizao se difundiam em todoo sistema urbano (ibid.).5 essencial, nessa in-

    terpretao, a ateno dirigida s necessidades

    das cidades secundrias, que cumprem papel

    fundamental na eficincia econmica e no de-

    senvolvimento regional. Ao examinar o desen-

    volvimento econmico regional, o autor sugere

    que certos tipos de atividade industrial tendemnaturalmente a se localizar nessas cidades. As

    indstrias de bens intermedirios baseadas em

    recursos naturais (qumica, plsticos, madeira,

    papel e metalurgia, incluindo ao) podem es-

    tar localizadas prximas de grandes cidades, de

    modo a reduzir custos de transportes valendo-

    se da proximidade dos mercados. Outro grupo

    de indstrias se dirige s cidades secundriaspara se servir dos mercados locais protegidos

    da concorrncia externa, dados os custos de

    transportes relativamente altos. Alguns servios

    de maior magnitude e mais especializados, tais

    como universidades, hospitais, algumas ativi-

    dades comerciais, tambm procuram se instalar

    em centros mdios.

    Apesar de atraentes, as proposies so-bre a reverso da polarizao no Brasil sofre-

    ram inmeras crticas. As controvrsias envol-

    vem desde as evidncias empricas, at o tipo

    de variveis e a metodologia utilizada. Azzoni

    (1986), por exemplo, critica o fato de o tama-

    nho da cidade ser considerado com indicador

    de economias aglomerativas. Ao admitir que as

    vantagens aglomerativas esto presentes noambiente urbano, a exemplo da linha de pola-

    rizao psicolgica e do transporte de ideias,

    imprescindvel considerar a regio como capaz

    de gerar um campo de atrao sobre novos in-

    vestimentos. A ideia essencial que a atrao

    regional transcende o ambiente urbano, embo-

    ra os custos locacionais sejam essencialmente

    urbanos. Para Azzoni, era no mnimo apressadaa suposio de que haveria um processo de re-

    verso da polarizao no Brasil. Pelo contrrio,

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    [...] as evidncias indicam que, longede constituir-se um sinal de reverso dapolarizao, o fenmeno observado emSo Paulo estaria mais prximo de umespraiamento da indstria dentro da rea

    mais industrializada do pas, em um pro-cesso do tipo desconcentrao concen-trada. Seria aproximadamente um tipode suburbanizao das atividades indus-triais em mbito mais abrangente, o que possvel pelas oportunidades abertaspelo desenvolvimento tecnolgico, em umsentido amplo, e separao das atividadesprodutivas das atividades de comando

    empresarial. (Ibid., p. 126)

    Azzoni acreditava que a Regio Metropo-

    litana de So Paulo no deve ser tomada como

    referncia para anlise das alteraes espaciais

    no estado paulista. Ao considerar a ao de um

    campo aglomerativo, o autor apontou um

    conjunto de cidades, num raio de aproximada-

    mente 150 km da Regio Metropolitana, com

    alto poder de atrao sobre os investimentos

    industriais e consequentemente sobre a popu-

    lao. medida que aparecem novos avanos

    tecnolgicos, esse campo aglomerativo amplia-

    se e reduz o prprio poder de atrao do n-

    cleo central.6

    Diniz (1993), ao contestar alguns dos

    pressupostos e os resultados apresentados por

    Azzoni, incorpora uma srie de outros aspectos

    a considerar, alm das economias de aglomera-

    o.7 Desses aspectos, Diniz destaca cinco: a) a

    distribuio espacial dos recursos naturais; b)

    o papel do Estado; c) o processo de unificao

    do mercado nacional e suas implicaes para

    a concorrncia intercapitalista e para as estru-

    turas produtivas regionais; d) as economias

    de aglomerao; e) a concentrao regional

    da pesquisa e renda, que cria obstculos

    desconcentrao regional da indstria. Ava-

    liando o processo recente de desenvolvimento

    industrial e desconcentrao econmica, esse

    autor prope um novo tipo de dualismo espa-

    cial. A rea desenvolvida e verdadeiramentedinmica estaria restrita a um polgono que

    abrange o Sul e parte do Sudeste brasileiro, es-

    tendendo-se de Belo Horizonte a Porto Alegre,

    ficando de fora o Rio de Janeiro e a maior parte

    do territrio brasileiro. Nesse espao,

    [...] mais apropriado considerar o Brasil

    como um caso de desenvolvimento poli-gonal, onde um nmero limitado de novospolos de crescimento ou regies tem cap-turado a maior parte das novas atividadeseconmicas. O resultado est longe de seruma verdadeira desconcentrao, espe-cialmente porque os novos centros estono prprio estado de So Paulo ou relati-vamente prximos dele. (Ibid., p. 35).

    Para Diniz, era restrita a abrangncia es-pacial da suposta reverso da polarizao para

    o caso brasileiro. O autor ainda acrescenta

    [...] no parece que esta tendncia de re-verso em sentido amplo continuar ato final do sculo. Ao contrrio, a grandenfase em indstrias de alta tecnologiae o relativo declnio e fracasso das pol-

    ticas regionais e do investimento estatalabrem uma terceira possibilidade. Nesta,o processo de desconcentrao ser en-fraquecido e o crescimento tender a secircunscrever ao estado de So Paulo e aogrande polgono em torno dele. Estamoschamando este processo de aglomeraopoligonal. (Ibid., p. 54)

    As concluses de Diniz (ibid.) introduzem

    a ideia de que o resto do pas estaria margem

    dos efeitos cumulativos do desenvolvimento do

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    core paulista. Na verdade, o autor no traba-

    lhou com uma temporalidade prospectiva de

    longa durao e, assim, no vislumbrava de-

    terminadas possibilidades de desenvolvimento

    econmico para o resto do pas fora do padrotcnico-moderno que as sociedades de con-

    sumo dos pases desenvolvidos prefiguram, e

    que, evidentemente, se encontra presente nos

    grandes centros urbanos do Centro-Sul brasilei-

    ro (Matos, 2003). Anlises com base nas redes

    geogrficas e, particularmente, nas redes urba-

    nas mostram-se mais eficientes reflexo eco-

    nmico-espacial do que as anlises baseadasem uma viso cartogrfica dual do territrio

    brasileiro presentes em recortes espaciais como

    o do polgono virtuoso de Diniz, onde o pas

    se resume a dois, o que est dentro do polgono

    e o que est fora. As redes podem expressar di-

    menses abstratas, mas comumente traduzem

    materialidades espaciais. So espaos e subes-

    paos em movimento. So lugares articuladospor fluxos multivariados. Fluxos de pessoas, ca-

    pitais, informaes, ideias e culturas. As redes

    mais importantes esto carregadas de tcnica

    e histria social, sendo, portanto, construes

    dinmicas relativamente durveis. As redes

    urbanas, por exemplo, so depositrias de es-

    truturas sociais pretritas e futuras, tradicionais

    ou modernas, que do forma e sentido vidade milhares de pessoas, famlias e instituies.8

    Matos (1995) acredita que importantes

    mudanas no padro de distribuio espacial

    da populao esto em curso, sem se conhecer,

    no entanto, qual o real alcance desse fenme-

    no, e se as explicaes existentes so suficien-

    temente abrangentes. seguro dizer, contudo,

    que tanto as pessoas quanto as atividadeseconmicas reagem aos impactos das deseco-

    nomias de aglomerao buscando localizaes

    alternativas. A migrao pode responder aos

    fatores de expulso do meio urbano (nota-

    damente aos custos de moradia e escassez

    de emprego), mas pode tambm se associar a

    outro grupo de causas, no econmicas, rela-cionadas melhoria da qualidade de vida e/

    ou busca de amenidades, como no retorno s

    localidades de origem aps a aposentadoria.

    indiscutvel que boa parte da expanso da ur-

    banizao do pas nas ltimas dcadas deriva

    dos efeitos multiplicadores de espraiamento da

    concentrao urbana e industrial do Sudeste.

    Esse processo estimulou o adensamento da re-de urbana e os vnculos de complementaridade

    entre as centralidades. A suposio que a reali-

    dade brasileira possa se enquadrar no modelo

    analtico da reverso da polarizao, ou mesmo

    em uma mudana de tendncia demogrfica

    de longo prazo, parece uma generalizao sim-

    plista, conquanto o pas esteja de fato passan-

    do por um ciclo de descompresso do cresci-mento urbano central, no qual os movimentos

    migratrios internos e os deslocamentos da

    fora de trabalho assumem importante papel

    explicativo.

    Fluxos migratriose disperso espacial

    Os deslocamentos da populao e a organi-

    zao do espao regional so nexos impor-

    tantes na literatura h muito tempo. Quando

    Ravenstein formulou suas teses sobre os movi-

    mentos migratrios, ainda em finais do sculo

    XIX, apresentava explicitamente a relaoentre as atividades econmicas e os desloca-

    mentos espaciais da populao. As principais

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    regularidades encontradas por esse autor di-

    ziam respeito distncia, aos movimentos

    por etapas, configurao das correntes e

    contracorrentes, predominncia da migrao

    feminina e tambm ao fato de que as migra-es tendiam a gerar movimentos sucessivos a

    partir de reas prximas a um centro industrial

    ou comercial.9Quase um sculo mais tarde, Lee

    (1980) retomou as formulaes de Ravenstein,

    incorporando informaes a respeito dos movi-

    mentos internos nas sociedades de capitalismo

    tardio. Na interpretao desse autor, a deciso

    de migrar est vinculada a uma deciso que le-va em conta os chamados fatores positivos e

    negativos nas reas de origem e destino. Lee

    tambm acredita que a migrao nunca com-

    pletamente racional. Dessa forma, natural

    que pessoas distintas sejam afetadas de ma-

    neira diferente por uma srie de obstculos ou

    incentivos possibilidade de migrar.

    Singer (1973), contudo, considera a mi-grao como um reflexo da estrutura e dos me-

    canismos de desenvolvimento do sistema ca-

    pitalista, cujo motor principal o acirramento

    das desigualdades regionais. Para esse autor,

    claro que qualquer processo de indus-trializao implica uma ampla transfern-cia de atividades (e, portanto, de pessoas)do campo s cidades. Mas, nos moldes ca-pitalistas, tal transferncia tende a se dara favor de apenas algumas regies emcada pas, esvaziando as demais. Tais de-sequilbrios regionais so bem conhecidose se agravam na medida em que as de-cises locacionais so tomadas tendo porcritrio apenas a perspectiva da empresaprivada. (Ibid., p. 222)

    Ao analisar a migrao, Singer identifica

    os chamados fatores de atrao e os fatores

    de expulso. Os primeiros referem-se neces-

    sidade de mo de obra decorrente do cresci-

    mento da produo industrial e da expanso do

    setor de servios urbanos que funcionam como

    foras de concentrao espacial. Os fatores deexpulso podem ser divididos em: fatores de

    mudana, decorrentes da penetrao do capi-

    talismo no campo e a adoo de um sistema

    poupador de mo de obra; e os fatores de es-

    tagnao, associados presso demogrfica

    sobre a disponibilidade de terras. Para Singer,

    a distino entre reas de emigrao (sujeitas

    aos fatores de mudana) e de estagnao per-mite visualizar melhor suas consequncias. As

    regies de mudana perdem populao, mas

    a produtividade aumenta, o que permite, pelo

    menos em princpio, uma melhora nas condi-

    es de vida locais. J as reas de estagnao

    apresentam deteriorao da qualidade de vida,

    funcionando s vezes como viveiros de mo

    de obra para os latifundirios e as grandesempresas agrcolas.

    Nessa mesma perspectiva estruturalista,

    h, tanto na economia como na demografia,

    vrios autores que expressam a migrao co-

    mo mobilidade, estreitamente vinculada cria-

    o, expanso e articulao dos mercados de

    trabalho do pas. O desenvolvimento desigual

    do sistema capitalista faz com que a popula-o se distribua seguindo a mesma lgica de

    intensificao dos espaos econmicos, for-

    mando grandes reservatrios de mo de obra.

    Apesar de seu mrito, boa parte dessas teses

    responde apenas parcialmente a determina-

    das causas da migrao, no vinculadas to

    somente s necessidades estruturais do ca-

    pitalismo. Alm disso, essas formulaes noenfatizaram as externalidades que poderiam

    transformar os espaos de destino dos fluxos

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    migratrios, ignoravam as vantagens compa-

    rativas a favor das localidades no centrais e

    no puderam avaliar o peso da imigrao de

    origem urbana nem da migrao de retorno

    (Matos, 1995). Tambm investiram de modoinsuficiente no entendimento dos efeitos posi-

    tivos que a migrao pode gerar na dinamiza-

    o das regies de destino, no que diz respeito

    oferta de mo de obra qualificada, a certas

    possibilidades de novos investimentos e de

    intercmbio tcnico, por exemplo. Nesse senti-

    do, mais que um indicador de concentrao ou

    disperso das atividades econmicas, a migra-o reflete processos sociais mais complexos,

    cujas consequncias vo alm dos aspectos

    estruturais da economia.10

    Se o modo como so organizados os

    elementos do espao pode ser visto como

    um resultado histrico da atuao dos agen-

    tes sociais, os fluxos de informao, capitais

    e pessoas, por exemplo, permitem alimentaro dinamismo das formas e funes que com-

    pem e caracterizam o espao geogrfico. Para

    Santos (1996), a necessidade de fluidez uma

    das mais importantes caractersticas do mundo

    atual que , ao mesmo tempo, causa, condio

    e resultado. Essa condio de fluidez parti-

    cularmente relevante nos estudos sobre as mi-

    graes internas, que por definio envolvemo movimento de populaes entre pontos do

    espao, em um determinado intervalo de tem-

    po. As migraes so, em essncia, fluxos que

    se manifestam e se materializam no espao. A

    abordagem regional torna-se, nesse aspecto,

    relevante para a compreenso dos desloca-

    mentos da populao e da fora de trabalho e

    para a explicao de diferenciaes espaciaisque se consolidam.

    As regies de influncia dascidades (REGICs): a dimensoregional da disperso

    De acordo com o IBGE, a delimitao das

    Regies de Influncia das Cidades d conti-

    nuidade tradio de estudar a rede urbana

    brasileira e visa construir um quadro nacional,

    apontando as permanncias e as modificaes

    registradas. Os estudos anteriores realizados

    nos anos de 1966, 1978 e 1993 definiram os

    nveis da hierarquia urbana e estabelecerama delimitao das regies de influncia das

    cidades brasileiras a partir de questionrios

    que investigaram a intensidade dos fluxos de

    consumidores em busca de bens e servios. A

    atualizao realizada em 2007 e divulgada em

    2008 retoma a concepo utilizada nos primei-

    ros estudos realizados pelo IBGE em 1972, que

    resultaram na Diviso do Brasil em regies fun-cionais urbanas.

    A atual proposta estabeleceu uma classi-

    ficao hierrquica dos centros metropolitanos

    do pas e delimitou suas reas de atuao, de-

    nominadas Regies de Influncia (RI). Foi privi-

    legiada a funo de gesto do territrio, como

    sugerido por Corra, quando observou que o

    centro de gesto do territrio

    [...] aquela cidade onde se localizam, deum lado, os diversos rgos do Estado e,de outro, as sedes de empresas cujas de-cises afetam direta ou indiretamente umdado espao que passa a ficar sob o con-trole da cidade atravs das empresas nelasediadas. (Corra, 1995)

    Duas etapas metodolgicas so centraisna definio e hierarquizao dos centros de

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    Disperso espacial da populao e do emprego formal...

    Cad. Metrop., So Paulo, v. 12, n. 24, pp. 309-330, jul/dez 2010 317

    gesto do territrio e na delimitao de sua

    regio de influncia. De modo simplificado, a

    hierarquizao da rede de cidades privilegiou

    dois nveis de centralidade: a Gesto Federal,

    avaliada a partir da existncia de rgos do Po-der Executivo e do Judicirio Federal; e a Gesto

    Empresarial, conjugada com a presena de dife-

    rentes equipamentos e servios (estabelecimen-

    tos de ensino superior, sade, comrcio e servi-

    os, instituies financeiras, redes de televiso

    aberta, conexes areas e internet). Classifica-

    dos em seis nveis de hierarquia, conforme sua

    posio no mbito da gesto federal e empre-sarial, integram o conjunto final 711 centros de

    gesto do territrio. A intensidade das ligaes

    entre as cidades permitiu estabelecer suas reas

    de influncia e a articulao das redes no terri-

    trio. Para investigar a articulao desses cen-

    tros, foram considerados os eixos de gesto p-

    blica e de gesto empresarial, complementados

    pelos servios de sade. As reas de influnciados centros foram delineadas a partir da inten-

    sidade das ligaes entre as cidades, com base

    em dados secundrios e informaes obtidas

    por questionrio especfico da pesquisa, e per-

    mitiram identificar 12 redes de primeiro nvel.

    A partir de algumas adaptaes dessa proposta

    divulgada pelo IBGE, as Regies de Influncia

    (RIs) utilizadas neste trabalho esto representa-das na Figura 1, que identifica as onze divises

    regionais que compem o primeiro nvel hierr-

    quico estabelecido nas REGICs 2007.

    Figura 1 Regies de Influncia direta das principais metrpoles brasileiras(REGIC 1997)

    Fonte: Extrado e adaptado de IBGE 2007.

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    Carlos Lobo e Ralfo Matos

    Cad. Metrop., So Paulo, v. 12, n. 24, pp. 309-330, jul/dez 2010318

    Os recortes espaciais das Regies de In-

    fluncia das principais metrpoles brasileiras

    do IBGE (2008), sobrepostos diviso muni-

    cipal conforme diviso poltico-administrativa

    de 2000, serviu de referncia s tabulaes e anlise de dados explorados nesta pesquisa.

    Mais que isso, essa regionalizao permitiu

    avaliar a intensidade da disperso espacial da

    populao no interior das respectivas Regies

    de Influncia. Essa atualizao metodolgica

    trazida pela REGIC 2007, mesmo que possa

    suscitar ressalvas e limitaes, oferece um re-

    trato mais aproximado das relaes de inter-dependncia que se estabelecem no espao,

    onde os fluxos de migrantes e da fora de tra-

    balho so especialmente relevantes.

    (Re)distribuio espacialda populao e do empregoformal

    Sinais de disperso espacial da populao bra-

    sileira podem ser identificados pelas entradas e

    sadas de populao nos municpios das prin-

    cipais Regies Metropolitanas do pas, consi-

    deradas a partir dos fluxos referentes a migra-

    o de Data Fixa,11nos perodos 1986/1991 e

    1995/2000. No caso da RMSP, o saldo migra-

    trio manteve-se negativo e consideravelmenteelevado nos dois quinqunios, resultado direto

    do sensvel crescimento no volume de emigran-

    tes. Como observado na Tabela 1, no intervalo

    RMs1986/1991 1995/2000

    Entradas Sadas Saldo Entradas Sadas Saldo

    So Paulo 124.526 419.329 -294.803 142.783 510.260 -367.477

    Rio de Janeiro 60.736 107.527 -46.791 70.522 135.482 -64.960

    Braslia 39.946 74.360 -34.414 48.035 114.159 -66.124

    Manaus 24.468 13.100 11.368 36.871 30.575 6.296

    Belm 69.329 31.989 37.340 74.900 52.217 22.684

    Fortaleza 137.316 41.847 95.469 95.655 60.349 35.306Recife 84.726 43.235 41.490 70.342 49.030 21.312

    Salvador 111.880 52.045 59.835 108.251 70.901 37.349

    Belo Horizonte 145.143 62.638 82.505 152.081 75.126 76.955

    Curitiba 125.602 41.323 84.279 140.653 60.587 80.066

    Porto Alegre 165.872 87.068 78.804 144.252 106.932 37.320

    Tabela 1 Fluxos migratrios entre as regies metropolitanase os municpios da mesma REGIC (fluxos intra-REGIC)

    Migrao de Data Fixa - 1986/1991 e 1995/2000

    Fonte: IBGE. Censos Demogrficos de 1991 e 2000 (dados da amostra).

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    Cad. Metrop., So Paulo, v. 12, n. 24, pp. 309-330, jul/dez 2010 319

    1986/1991 cerca de 410 mil pessoas emigra-

    ram da RMSP para sua Regio de Influncia.

    Entre 1995/2000 o volume desse fluxo atingia

    mais de meio milho de migrantes. Nesse mes-

    mo perodo, o nmero de imigrantes na RMSPfoi inferior a 150 mil. Por outro lado, exceo

    das RMRJ e Braslia, que tambm exibiam sal-

    dos negativos, as demais RMs analisadas apre-

    sentavam saldo positivo nos dois perodos. No

    entanto, mesmo que essas Regies Metropoli-

    tanas funcionassem como ncleos de atrao

    de populao em suas respectivas Regies de

    Influncia (RIs), o nmero absoluto de imigran-tes foi reduzido quando comparados os dois

    quinqunios. Muito mais relevante, entretanto,

    foi o crescimento na emigrao metropolitana,

    observado em todas as REGICs.

    Quando avaliados os vetores migratrios

    que representam os deslocamentos espaciais

    da populao, nota-se um aumento generali-

    zado no nmero de municpios que receberamemigrantes das respectivas Regies Metropoli-

    tanas. Mesmo que parte desse crescimento ti-

    vesse sido resultado direto das emancipaes

    municipais entre 1991 e 2000, o aumento da

    frequncia e do volume de emigrantes proce-

    dentes das RMs sugere um novo arranjo na di-

    nmica migratria regional do pas. O caso da

    RM de So Paulo, cujos volumes so mais ex-pressivos, novamente deve ser mencionado. No

    perodo 1995/2000, 788 municpios da Regio

    de Influncia de So Paulo (RISP) receberam

    emigrados da RM, enquanto no intervalo ante-

    rior eram 702. Em alguns casos, como na REGIC

    de Porto Alegre, o crescimento no nmero de

    vetores foi ainda mais significativo, elevando-

    se de 387 de 1986/1991 para 510 municpiosentre 1995/2000.

    Determinadas evidncias surgem quan-

    do discriminadas as trocas de populao entre

    as RMs e os municpios das respectivas RIs.

    Novamente, o caso da RISP deve ser mencio-

    nado. De 1995 a 2000, como resultado dastrocas de migrantes com a RMSP, foram veri-

    ficados ganhos de populao em grande parte

    dos municpios de sua Regio de Influncia.

    Como representado na Figura 2, de um total

    de 808 municpios que integravam a RISP,

    mais de 89% deles (722) exibiram saldo po-

    sitivo. No quinqunio anterior, eram 626 mu-

    nicpios nessa condio. Apenas em algunsmunicpios localizados no Tringulo Mineiro

    e no sul de Mato Grosso do Sul foi maior a

    frequncia de saldos migratrios negativos.

    No entanto, mesmo nesses espaos, bastante

    diferenciados geograficamente, com caracte-

    rsticas fsicas peculiares, como relevo, clima e

    hidrografia, os vnculos com a metrpole pau-

    lista tambm configuram campos de atraode populao.

    Algumas observaes devem ser con-

    sideradas quando incorporada a dimenso

    distncia na anlise dos fluxos migratrios.12

    Discriminados em trs Regies de Influncia,

    RI-1, RI-2 e RI-3,13conforme tercisde distn-

    cia em relao ao ncleo metropolitano, em

    vrios casos, os resultados indicam um au-mento no volume da populao migrante que

    se dirigiu s reas mais prximas da Regio

    Metropolitana. Em todas as REGICs, nos dois

    quinqunios observados, mais da metade dos

    emigrados das RMs encaminharam-se para a

    sub-regio RI-1. Em Braslia e Fortaleza, por

    exemplo, a proporo de emigrantes que se

    dirigiu para a RI-1, nos dois quinqunios, foisuperior a 90%.

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    Carlos Lobo e Ralfo Matos

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    Figura 2 Saldo migratrio nas trocas entre os municpios da RISP e a RM1986/1991 e 1995/2000

    Fonte: IBGE: Censos Demogrficos de 1991 e 2000 (dados da amostra).

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    Cad. Metrop., So Paulo, v. 12, n. 24, pp. 309-330, jul/dez 2010 321

    Ainda que fosse esperado um maior vo-

    lume de migrantes com destino a RI-1, tendo

    em vista a predominncia da migrao de cur-

    ta distncia, como j descrita por Ravenstein,

    acrescenta-se o fato de tambm ter ocorrido,em todas as REGICs, exceto as de Belo Horizon-

    te e Manaus,14um crescimento absoluto e rela-

    tivo no nmero de imigrantes procedentes das

    RMs. Entre 1995/2000, dos 135.482 emigrados

    da RMRJ, 85.456 dirigiram-se para a RI-1, o que

    correspondia a 63,08%. No quinqunio ante-

    rior, essa proporo era de 52,68%. No caso de

    So Paulo, a proporo de migrantes com des-tino a RI-1 passou de 62,84% (1986/1991) pa-

    ra 68,19% (1995/2000), o que perfaz 347.957

    pessoas de um universo de 510.260 emigrantes

    da RM com destino a toda a RI nesse ltimo

    quinqunio.

    Diante dessas evidncias, o que se pode

    afirmar sobre a disperso espacial do emprego

    formal no Brasil contemporneo? Uma infor-

    mao relevante diz respeito aos nmeros refe-

    ridos aos trabalhadores de carteira assinada se

    analisados os dados da j mencionada Popula-

    o Ativa Formal (PAF). Os indicadores extra-dos das bases da RAIS,15que se referem a uma

    parcela importante da populao, permitem

    avaliar a distribuio espacial de parte da fora

    de trabalho. Avaliadas as sries anuais do pe-

    rodo 1996/2005, os resultados referentes aos

    estoques da PAF confirmam, em certa medida,

    a perda relativa na participao da RMSP na

    REGIC de So Paulo, ainda que em termos ab-solutos tivesse ocorrido um importante incre-

    mento nesse decnio. Em 1996, a PAF na RMSP

    agregava um volume prximo a 5 milhes de

    pessoas, o que correspondia a 55,98% do total

    da REGIC (ver Tabela 2). No ano de 2005 eram

    pouco mais de 6,4 milhes, o que representava

    51,83% de toda REGIC. Se a parcela relativa da

    AnoRM RI-1 RI-2 RI-3

    N % N % N % N %

    1996 5.306.121 55,98 2.339.810 24,68 1.046.249 11,04 786.512 8,30

    1997 5.370.550 55,56 2.392.710 24,75 1.071.228 11,08 831.186 8,60

    1998 5.338.769 55,09 2.437.679 25,16 1.065.011 10,99 848.673 8,76

    1999 5.387.028 54,60 2.504.488 25,38 1.097.451 11,12 877.427 8,89

    2000 5.603.159 54,10 2.658.119 25,66 1.169.096 11,29 926.860 8,95

    2001 5.694.868 53,39 2.764.271 25,92 1.220.508 11,44 986.543 9,25

    2002 5.840.923 53,01 2.860.420 25,96 1.282.877 11,64 1.034.496 9,39

    2003 5.931.732 52,46 2.951.009 26,10 1.339.481 11,85 1.084.426 9,59

    2004 6.198.726 51,97 3.142.180 26,34 1.429.342 11,98 1.157.174 9,70

    2005 6.470.277 51,82 3.330.611 26,67 1.479.634 11,85 1.206.297 9,66

    Tabela 2 Nmero e percentual da populao formal ativana RM e nas RIs da REGIC So Paulo

    1996 a 2005

    Fonte: MTE. RAIS 1996 a 2005.

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    Carlos Lobo e Ralfo Matos

    Cad. Metrop., So Paulo, v. 12, n. 24, pp. 309-330, jul/dez 2010322

    PAF na Regio Metropolitana reduziu-se no de-

    cnio 1996/2005, o mesmo no ocorreu nas trs

    sub-regies de Influncia de So Paulo. Em todas

    essas RIs houve um crescimento, tanto absoluto

    quanto relativo. Cabe, porm, citar o significati-vo aumento da PAF observado na RI-1. De 1996

    a 2005, ocorreu a incorporao de quase 1 mi-

    lho de trabalhadores na PAF dessa sub-regio,

    que passou a integrar 3,3 milhes de pessoas ao

    final do perodo (em 1996 eram 2,3 milhes). Em

    termos relativos, a RI-1, em 2005, j compreen-

    dia 26,67% da PAF total da REGIC. No ano de

    1996, essa proporo era de 24,68%.Considerados os fluxos anuais, obtidos

    a partir da declarao do municpio de tra-

    balho, o nmero referente PAF que deixou

    a RM evoluiu de 83.690 para 90.351 entre

    1996/1997. Grande parte desses deslocamen-

    tos tinha como destino os municpios da RI-1,

    os quais absorviam 78,26% dos fluxos no inter-

    valo 2004/2005 (parcela que envolvia 70.709pessoas). No perodo 1996/97 essa proporo

    era de 70,61%, o que representa um cresci-

    mento de quase 8% nos deslocamentos da PAF

    para a RI de So Paulo. Nas duas outras RIs foi

    verificada uma reduo relativa nos fluxos pro-

    cedentes da RM. No caso da RI-3, observou-se

    uma reduo no volume de trabalhadores que

    vieram se ocupar na regio, de 10.104 entre1996/1997 para 5.297 entre 2004/2005. Boa

    parte dessa diminuio ocorreu em funo da

    diminuio nos deslocamentos para Campo

    Grande e rea de influncia, tradicional frontei-

    ra de expanso receptora de trabalhadores da

    REGIC de So Paulo.

    A Figura 3 identifica a densidade mdia

    dos deslocamentos anuais da PAF procedentes

    da RMSP no perodo de 1996 a 2005. Nela des-

    tacam-se quatro principais eixos direcionais de

    disperso, coincidentes com os principais tron-cos virios do estado: 1) o da via Dutra, no vale

    do Paraba do Sul, cujos ncleos so Taubat

    e So Jos dos Campos; 2) o da Anchieta/Imi-

    grantes, na Baixada Santista, onde o papel cen-

    tral exercido por Santos; 3) o da Anhanguera/

    Bandeirantes, cujos centros polarizadores so

    Jundia e Campinas; e 4) o da Castelo Branco,

    onde se destaca o municpio de Sorocaba. NaRI-2 e RI-3, a densidade ainda era marcada pe-

    la existncia de polos de atrao menos inte-

    grados, o que denotava certa nuclearizao

    espacial.

    Dessa forma, alm dos estoques da PAF,

    as informaes referentes aos deslocamentos

    espaciais tambm indicam um crescimento no

    volume da fora de trabalho formal que dei-xou a Regio Metropolitana de So Paulo. Esse

    crescimento no fluxo de trabalhadores para

    fora da Regio Metropolitana parece confir-

    mar a atratividade e o dinamismo de um grupo

    de municpios da Regio de Influncia de So

    Paulo, notadamente aqueles da RI-1 que for-

    mam uma segunda periferia metropolitana.

    Nesse espao, consolidam-se centros nodaiscom notvel funo polarizadora e formam-

    -se espaos contguos de alta densidade que

    tm atrado parcelas crescentes e significativas

    da fora de trabalho regional, inclusive aque-

    la que, em algum momento, vinculava-se ao

    mercado de trabalho metropolitano.

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    Cad. Metrop., So Paulo, v. 12, n. 24, pp. 309-330, jul/dez 2010 323

    Consideraes finais

    Existem incertezas acerca dos padres de dis-

    tribuio espacial da populao brasileira. A

    crena na suposta reverso da polarizao ou

    mesmo de desconcentrao espacial, como

    sugerida por determinados autores e propostanos modelos clssicos da economia regional,

    tem se mostrado pouco adequada anli-

    se do caso brasileiro. Contudo, a progressiva

    queda no peso econmico e demogrfico dos

    principais centros urbanos do pas, bem como

    a desacelerao no ritmo de crescimento popu-

    lacional das principais Regies Metropolitanas,

    requer um maior aprofundamento na avaliaode novas tendncias e padres na distribuio

    espacial da populao brasileira.

    As ltimas trs dcadas do sculo passa-

    do so decisivas na anlise da dinmica demo-

    grfica brasileira. Se a progressiva queda nas

    taxas de fecundidade foi responsvel direta pe-

    la forte desacelerao no ritmo de crescimento

    demogrfico do pas, de outro lado, as migra-

    es internas tornaram-se fundamentais paraentender o processo de redistribuio espacial

    da populao. A partir da dcada de 1970, co-

    mo resultado da dinmica migratria interna,

    ampliaram-se as evidncias acerca da reduo

    do peso relativo das metrpoles. Mesmo que as

    metrpoles e suas periferias continuem atrain-

    do expressivos contingentes demogrficos, a

    intensificao nos fluxos de emigrantes tem re-fletido diretamente no crescimento demogrfi-

    co de vrios ncleos urbanos fora das principais

    Figura 3 Densidade dos deslocamentos anuais mdios da PAFprocedentes da RM para as regies de influncia da REGIC de So Paulo

    1996 a 2005

    Muito baixaBaixaMdiaAltaMuito alta

    Densidade

    Fonte: MTE. RAIS 1996 a 2005.

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    Carlos Lobo e Ralfo Matos

    Cad. Metrop., So Paulo, v. 12, n. 24, pp. 309-330, jul/dez 2010324

    Regies Metropolitanas brasileiras, tornando

    mais densa a rede de cidades em cada uma de

    suas Regies de Influncia.

    Os resultados obtidos neste trabalho

    no confirmam a integralidade da reversoda polarizao nos termos de Richardson,

    nem a suposta desconcentrao econmico/

    demogrfica destacada por Redwood III, en-

    tre outros, mas oferecem claros sinais de dis-

    perso espacial da populao, j proeminente

    em determinados casos, como na Regio de

    Influncia de So Paulo. Ainda que as maio-

    res Regies Metropolitanas brasileiras tenhammantido sua centralidade regional o que

    torna equivocado absolutizar o processo de

    desconcentrao espacial , o crescimento

    demogrfico acelerado de vrios pontos da

    rede urbana brasileira tm feito aumentar sua

    participao na atrao de migrantes, o que

    indica uma redistribuio espacial da popula-

    o no interior das Regies de Influncia dasprincipais metrpoles do pas.

    No caso da Regio de Influncia de So

    Paulo, os efeitos dessa disperso espacial da

    populao mostram-se mais consolidados, so-

    bretudo no interior da rede de cidades mais

    prximas capital. A denominada Regio de

    Influncia 1 (RI-1) compreende muitos muni-

    cpios que tm atrado um crescente nmerode pessoas que deixaram a RMSP. O volume

    desses fluxos direcionados aos principais polos

    de atrao da regio foi to expressivo que re-

    duziu os escores de distncia ponderada, o que

    sugere tratar-se de uma forma de disperso po-

    linucleada(Lobo, 2009), por onde se observamclaros sinais de expanso no interior da Regio

    de Influncia, para alm dos modestos 150 km

    do campo aglomerativo de Azzoni.

    Outra concluso deste trabalho refere-se

    necessidade de se utilizarem ferramentas de

    geoprocessamento na anlise espacial, ainda

    pouco exploradas na Economia, na Demografia

    e na Geografia. O estudo dos fluxos migrat-rios associados varivel distncia um exem-

    plo das possibilidades oferecidas s pesquisas

    nas reas de Cincias Humanas e Ambientais.

    O recorte espacial oferecido pelas Regies de

    Influncia das Cidades, proposto pelo IBGE,

    mesmo que seja passvel de crticas pontuais

    tendo em conta os conceitos adotados e os ele-

    mentos metodolgicos utilizados, permite umaanlise diferenciada das tradicionais aborda-

    gens desenvolvidas pela Economia. Por ltimo,

    cabe tambm destacar a importncia, nota-

    damente para a Geografia da Populao e os

    estudos relativos s migraes, de se explorar

    mais acuradamente as bases de dados extra-

    das de fontes como o Censo Demogrfico e a

    RAIS. So possibilidades que ganham relevn-cia tendo em vista o novo Censo de 2010.

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    Cad. Metrop., So Paulo, v. 12, n. 24, pp. 309-330, jul/dez 2010 325

    Carlos Lobo

    Doutor em Geografia. Fundao Joo Pinheiro. Universidade Federal de So Joo Del-Rei. Belo Hori-

    zonte, Minas Gerais, Brasil.

    [email protected]

    Ralfo Matos

    Doutor em Demografia. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

    [email protected]

    Notas

    (1) Cabe, contudo, expor algumas consideraes iniciais. Uma primeira refere-se adoo da Regio

    Metropolitana (RM) como centro de disperso. Ainda que outras pesquisas tenham considera-

    do o ncleo e a periferia como endades disntas e separadas, optou-se em manter a unidade

    dessas regies, tendo em vista tratar-se, em geral, de espaos com razovel conguidade sica

    e forte nvel de interdependncia, tanto econmica, quanto polca. Mesmo que existam dife-

    renas quando comparadas as diversas Regies Metropolitanas no Brasil, resultado de critrios

    disntos na delimitao e denio dos municpios que integram cada uma delas, parece pouco

    razovel no considerar as RMs em sua integralidade. Veja os exemplos de So Paulo/Guaru-

    lhos, Rio de Janeiro/Niteri, Belo Horizonte/Contagem, etc. Embora sejam unidades polcas e

    administravas disntas, so espaos altamente arculados, cujas inter-relaes juscaram oprprio estabelecimento das Regies Metropolitanas. Outro ponto diz respeito no adoo de

    um nico ncleo polarizador. Em estudos anteriores, foi comum a ulizao de So Paulo, seja

    o municpio, RM ou Estado, como centro aglunador, a parr do qual era avaliada a suposta

    desconcentrao espacial. Contudo, parece pouco plausvel supor que a acelerao do cresci-

    mento demogrco das Regies Metropolitanas de Belo Horizonte, Curiba, Recife e Salvador,

    por exemplo, possa representar um quadro de desconcentrao espacial da populao. Alm

    do mais, So Paulo e regio manveram sua relevncia demogrca e econmica e ainda exer-

    cem forte inuncia em grande parte do territrio nacional. A anlise centrada nas Regies de

    Inuncia das principais regies metropolitanas do pas pode conduzir a resultados mais consis-

    tentes e coerentes com a realidade atual. Mais que uma ampliao de escala, essa abordagemregional permite idencar processos espaciais que ocorrem em nveis hierrquicos inferiores,

    mais prximos das relaes que se estabelecem entre os centros regionais e os demais muni-

    cpios de sua rea de inuncia. Outro aspecto que tambm no deve ser ignorado refere-se

    reduzida srie histrica dos dados referentes aos movimentos migratrios. Ante a necessidade

    de ulizao dos uxos intermunicipais, a anlise restringiu-se aos dois quinqunios dos lmos

    intervalos censitrios (1986/1991 e 1995/2000). Assim, a idencao de tendncias muito de-

    nidas em duas contagens consecuvas no de todo conclusiva, mas convm no desconhecer

    que esse perodo foi de forte desacelerao no ritmo de crescimento populacional das principais

    metrpoles brasileiras.

    (2) Na literatura econmica, como indicado por Lo e Salih (1991), so listadas as seguintes condi-es para a ocorrncia do processo de reverso da polarizao: a) existncia de pleno empre-

    go (o que pode fomentar os uxos migratrios procedentes de reas rurais); b) aparecimento

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    Carlos Lobo e Ralfo Matos

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    de deseconomias de aglomerao (o que faria com que novos empreendimentos buscassem as

    regies perifricas); c) ocorrncia de efeitos de espraiamento em larga escala; d) aumento da

    complexidade organizacional nas avidades empresariais.

    (3) Richardson analisou os casos do Japo e da Coreia, onde teria vericado o processo de reverso

    da polarizao. Contudo, a experincia americana, com a perda expressiva de populao das

    grandes cidades do Nordeste e o grande crescimento dos centros do Sul do pas, aquela que

    mais se aproxima do modelo proposto.

    (4) Townroe e Keen, alm de calcularem ndices de reverso da polarizao, sugerem certa dualida-

    de dos fatores que levam concentrao das avidades econmicas, representados pelo papel

    concentrador de determinadas foras sociais e econmicas, que a parr de um ponto passa-

    riam a atuar na direo oposta: da desconcentrao. A transio demogrca, os graus de de -

    sigualdade social e econmica, os padres de desenvolvimento rural e as formas instucionais

    e sociais de difuso de informaes e inovaes podem incrementar ou no a concentrao na

    distribuio da populao urbana.

    (5) Uma constatao feita por Redwood III foi a reduo na parcipao do estado de So Paulo na

    produo industrial nacional, que passou de 48,3% em 1970/75 para 47,3 em 1980. Esse autor

    tambm chama a ateno para a queda na proporo do emprego industrial na Regio Me-

    tropolitana de So Paulo, que reduziu de 70,7% em 1959 para 63,3% em 1977/79. Na rea de

    inuncia da RMSP, a tendncia foi inversa, com valores relavos que subiram de 29,3% para

    36,4% no mesmo perodo.

    (6) Para Negri (1996), a abordagem de Azzoni constui-se, na verdade, uma crca aos pressupos-

    tos metodolgicos dos economistas da polarizao reversa, mas no transcende esse quadro

    e busca indicar que a perda de importncia relava da regio metropolitana de So Paulo foi

    compensada pelo crescimento do interior do estado. De acordo com esse autor, h ainda vriasquestes a serem qualicadas. Em primeiro lugar, a anlise locacional deixa de lado uma srie

    de contribuies novas da moderna organizao industrial (formao de oligoplios e barreiras

    comerciais; novas estruturas de mercado; novos padres de compees capitalistas; e diversi-

    cao da produo visando ocupar mercados potenciais). Em segundo, houve subesmao da

    ao do Estado, cujos invesmentos diretos e desdobramentos nem sempre so ditados pelas

    regras de mercado. Por lmo, a existncia de um conjunto de outras determinaes externas

    indstria e ao plano microeconmico das decises locacionais, que tambm se consturam em

    determinantes especcos de desconcentrao.

    (7) Para Diniz o espraiamento industrial brasileiro no ocorreu apenas dentro do limitado raio de

    150 km da rea metropolitana de So Paulo. Aps a incontestvel concentrao econmica e

    demogrca vericada at nais da dcada de 1960, iniciou-se em um primeiro momento o pro-

    cesso de reverso dessa polarizao. Entretanto, o processo de desconcentrao no teria ocor-

    rido de modo ampliado e sim em espaos selevos bem equipados e ricos em externalidades,

    reendo, sobretudo, o espraiamento para o interior de determinados estados brasileiros. Em

    uma segunda fase, ocorreria a relava reconcentrao no polgono denido pela regio formada

    por Belo Horizonte Uberlndia Londrina/Maring Porto Alegre Florianpolis So Jos

    dos Campos Belo Horizonte.

    (8) As redes urbanas podem ser expressas mediante tcnicas que combinam um grande nmero de

    dados econmicos, sociais e geogrcos, preferentemente transcritos em intensidades variveisde uxos entre as localidades. O dado populacional est sempre presente nas formulaes te -

    ricas e sempre ulizado em qualquer tcnica de regionalizao, no raro substuindo variveis

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    de uxos inexistentes. Sobre os signicados da populao enquanto varivel-controle, especial-

    mente das populaes em movimento, convm observar que elas no s exprimem a sociedade,

    a cultura e a ao polca, real ou virtual, mas impactam tambm os ambientes onde se repro-

    duzem, por constuir fora de trabalho e mercados de consumo, fatores-chave para a gerao

    de riqueza. Ademais, o estudo das populaes, sobretudo com base em dados censitrios, per-

    mite conhecer em detalhe diversas caracterscas dos uxos de pessoas entre as localidades,pr-requisito para a formao de redes geogrcas e redes sociais (Matos, 2003).

    (9) Para Ravenstein (1980, p. 26), as grandes cidades proporcionam facilidades to extraordinrias

    diviso e combinao do trabalho, ao exerccio de todas as artes e prca de todas as pro-

    sses que, a cada ano, um nmero maior de pessoas nelas possa habitar. Para o autor, outros

    aspectos que tambm induzem a migrao so as facilidades educacionais, a salubridade do

    clima ou a caresa de vida.

    (10) Na discusso sobre os fatores que atuaram na quebra do padro concentrador, vrios autores

    chamam a ateno para o perl de desenvolvimento rural e urbano, as formas instucionais e

    sociais de difuso de informaes e inovaes, a insero tardia ou avanada na transio de-mogrca e os graus de desigualdade regional. De acordo com Matos (2003), novas abordagens

    devem levar em conta as alteraes recentes no padro migratrio brasileiro, marcado pela

    perda de primazia dos uxos do campo para a cidade e pela dinamizao da rede urbana. Em

    grande parte, essas mudanas respondem difuso de determinadas possibilidades oferecidas

    na periferia e novos uxos migratrios podem se reorientar espacialmente, reagindo a fatores

    de atrao presentes nas cidades secundrias.

    (11) Conforme Carvalho e Rigo (1998), as informaes obdas a parr desse quesito referem-se

    ao conceito de migrante semelhante quele implcito no saldo migratrio por tcnica indireta.

    Dessa forma, o migrante de data xa denido como a pessoa que residia em locais diferentes

    no incio e ao nal do quinqunio considerado.

    (12) importante destacar que parte do incremento no volume de emigrantes metropolitanos pode

    ser explicada pelo prprio aumento no estoque de populao residente, consequncia direta do

    crescimento demogrco vericado no intervalo entre os dois levantamentos censitrios.

    (13) Convm observar que, ao trabalhar com o fator distncia, vrios aspectos geogrcos das Regies

    de Inuncia explicam, direta ou indiretamente, possibilidades de trajetrias migratrias con-

    sideradas a origem e desno dos migrantes. Nas Regies de Inuncia com vrios municpios

    localizados na faixa litornea, por exemplo, h interferncia de atributos relavos s condies

    morfoclimcas, aos recursos naturais disponveis e a fatores culturais. J nos espaos interiora-

    nos, tambm h barreiras sicas similares e/ou especcas que podem restringir e/ou favorecer

    a imigrao.

    (14) Tendo como base o recorte cartogrco referente diviso polco-administrava de 2000,

    adotado no Censo Demogrco de 2000, ulizou-se como referncia as coordenadas geodsicas

    de referncia da sede municipal do core metropolitano, de acordo com critrios estabelecidos

    pelo prprio IBGE. A partir desse ponto, para cada uma das REGICs, foram identificadas as

    distncias em linha reta em relao sede de cada municpio. O conjunto desses valores permite

    agrupar os municpios de cada REGIC conforme tercis de distncias, denominados de RI-1, RI-2

    e RI-3 (o primeiro formado pelos municpios mais prximos do Core Metropolitano e o lmo

    pelos mais distantes). Dessa forma, cada uma das RIs compreende aproximadamente 1/3 dosmunicpios de cada REGIC em 2000. Por exemplo, na REGIC de So Paulo as sub-regies RI-1,

    RI-2 e RI-3 possuem 270, 269 e 269 municpios, respecvamente. As distncias em relao a

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    Carlos Lobo e Ralfo Matos

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    So Paulo so obdas pelos seguintes raios de circunferncia: RI-1 aat 240,32 km; RI-2 ade

    240,33 km a 453,52 Km; e a RI-3amais de 453,53 km.

    (14) Nesses dois casos, a pequena queda na proporo de migrantes metropolitanos na RI-1 parece ser

    um reexo da estrutura e organizao espacial da rede de cidades de cada REGIC, bem como de

    caracterscas geogrcas singulares. Na RI de Belo Horizonte, um aspecto que provavelmente

    inuencia essa disperso da migrao associa-se ao fato de que boa parte das Capitais Regionais

    localiza-se nas RI-2 e RI-3, que atuam como importantes centros de atrao de populao.

    Das seis Capitais Regionais consideradas pelo IBGE, excludos os municpios de Uberlndia e

    Juiz de Fora (que integram as REGICs de So Paulo e Rio de Janeiro, respecvamente), apenas

    Divinpolis e Ipanga compem a RI-1. J na RI de Manaus o quadro ainda mais disnto. Alm

    de uma disperso relava prpria estrutura da rede urbana regional, fortemente limitada

    pelas condies naturais, o principal centro de polarizao da RI Boa Vista (RR), muito alm

    dos 303,82 km que delimitam a RI-1 Manaus.

    (15) A Relao Anual das Informaes Sociais (RAIS) foi instuda pelo Decreto n. 76.900, de 2 de

    dezembro de 1975. Originalmente, a RAIS foi criada para obter informaes acerca da entradada mo de obra estrangeira no Brasil e os registros relativos ao FGTS, teis ao controle de

    arrecadao e concesso de benecios pelo Ministrio da Previdncia Social, e para servir de

    base de clculo do PIS/PASEP. A RAISMIGRA uma base de dados derivada do registro da RAIS

    e visa o acompanhamento geogrco, setorial e ocupacional da trajetria dos trabalhadores

    ao longo do tempo. A base est organizada de forma longitudinal, permindo a realizao de

    estudos de mobilidade, durao e reinsero de indivduos no mercado de trabalho, o que

    no permido pela base RAIS convencional, que est organizada por ano de referncia da

    declarao dos vnculos empregacios. Trata-se de uma forma de levantamento censitrio de

    registro administravo. Contudo, essa cobertura variada no tempo e espao. De acordo com

    o prprio MTE, a cobertura atual dessa base oscila em torno de 97% do universo do mercadoformal brasileiro (MTE, 2009).

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    Texto aprovado em 2/jun/2010