60 - 01 - CCCRJcccrj.com.br/revista/842/22.pdf · 2012. 10. 25. · um profissional dos Estados...

6
Durante uma semana, Vitória, no Espírito Santo, tornou-se a capital mundial do conilon. Foi realizada entre os dias 11 e 15 de junho, a Conferência Internacional de Coffea canephora, no Centro de Convenções de Vitória. O evento teve como objetivo apresentar e discutir temas associados à pesquisa, desenvolvimento e inovações; qualidade, mercado e indústria com representantes de vários países do mundo. “Um pé de café conilon tem mais ciência, mais pesquisa, do que os telefones celulares mais modernos. Além de fazer riqueza, o café faz com que brasileiros simples, humildes, realizem seus sonhos”. Ao comparar os cafeicultores com Steve Jobs, Evair Vieira de Melo, presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), arrancou aplausos das mais de 500 pessoas que participaram da abertura da conferência. “Era difícil de imaginar que esse café que já foi tão estigmatizado, que já teve tanto preconceito, hoje é capaz de reunir a comunidade internacional. Esse avanço é resultado do planejamento e da integração entre Governo 22 Vitória, capital mundial do conilon Vitória, capital mundial do conilon e sociedade, e de todos os elos envolvidos na cafeicultura. O café está no dia-a-dia, faz parte da vida dos capixabas, e com o café forte o Espírito Santo e as famílias capixabas se fortalecem", destacou o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli. Para o produtor rural Francisco de Assis e Silva, de Afonso Cláudio, o intercâmbio de informações é de grande importância. “Estamos tendo a oportunidade de conhecer a realidade de vários países produtores e as demandas dos consumidores internacionais. Isso contribui para que possamos direcionar nossos investimentos adequadamente”, disse. Perspectivas do conilon no mundo O primeiro dia de trabalho da Conferência foi marcado por palestras sobre a transferência de tecnologia nos principais países produtores do mundo. O painel foi moderado pelo diretor executivo da Organização Internacional de Café (OIC), Robério Silva. O pesquisador, Aymbiré Almeida da

Transcript of 60 - 01 - CCCRJcccrj.com.br/revista/842/22.pdf · 2012. 10. 25. · um profissional dos Estados...

Page 1: 60 - 01 - CCCRJcccrj.com.br/revista/842/22.pdf · 2012. 10. 25. · um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados

Durante uma semana, Vitória, no Espírito Santo, tornou-se a capital mundial do conilon. Foi realizada entre os dias 11 e 15 de junho, a Conferência Internacional de Coffea canephora, no Centro de Convenções de Vitória. O evento teve como objetivo apresentar e discutir temas associados à pesquisa, desenvolvimento e inovações; qualidade, mercado e indústria com representantes de vários países do mundo.

“Um pé de café conilon tem mais ciência, mais pesquisa, do que os telefones celulares mais modernos. Além de fazer riqueza, o café faz com que brasileiros simples, humildes, realizem seus sonhos”. Ao comparar os cafeicultores com Steve Jobs, Evair Vieira de Melo, presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), arrancou aplausos das mais de 500 pessoas que participaram da abertura da conferência.

“Era difícil de imaginar que esse café que já foi tão estigmatizado, que já teve tanto preconceito, hoje é capaz de reunir a comunidade internacional. Esse avanço é resultado do planejamento e da integração entre Governo

22 Vitória, capitalmundial do conilonVitória, capitalmundial do conilon

e sociedade, e de todos os elos envolvidos na cafeicultura. O café está no dia-a-dia, faz parte da vida dos capixabas, e com o café forte o Espírito Santo e as famílias capixabas se fortalecem", destacou o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli.

Para o produtor rural Francisco de Assis e Silva, de Afonso Cláudio, o intercâmbio de informações é de grande importância. “Estamos tendo a oportunidade de conhecer a realidade de vários países produtores e as demandas dos consumidores internacionais. Isso contribui para que possamos direcionar nossos investimentos adequadamente”, disse.

Perspectivas do conilonno mundo

O primeiro dia de trabalho da Conferência foi marcado por palestras sobre a transferência de tecnologia nos principais países produtores do mundo. O painel foi moderado pelo diretor executivo da Organização Internacional de Café (OIC), Robério Silva. O pesquisador, Aymbiré Almeida da

Fonseca, falou sobre a importância das pesquisas do conilon. As experiências de outros países produtores também foram apresentadas. Koffi NGoran, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Agronômica da Costa do Marfim, falou sobre os estudos desenvolvidos em seu país. O cultivo de conilon na Indonésia foi apresentado por Pranoto Soenarto, diretor de operações PT. As experiências de Uganda e os projetos estratégicos do Vietnã, maior produtor mundial de robusta, foram apresentadas em seguida. O presidente da Empresa de Consultoria e Pesquisa da Indochina (IRC) Vietnã, Phung Duc Thung, deu uma visão geral da produção vietnamita de café, destacando alguns problemas enfrentados. “A ausência de pesquisadores especializados, de políticas nacionais para o setor e a falta de investimentos infelizmente ainda são uma realidade no Vietnã. Entretanto, somos hoje o segundo maior produtor do mundo, ficando atrás apenas do Brasil”.

Na sequência, Carlos Henrique Jorge Brando, da P&A Marketing Internacional, do Brasil, comentou algumas novidades e tendências de consumo para o segmento. “Percebemos um avanço das marcas próprias no Brasil e no mundo, que representa rentabilidade para o setor e preços melhores para os clientes. Além disso, são perceptíveis as novas medidas e hábitos de consumo, novos produtos no mercado, novos equipamentos e novos consumidores, principalmente nos mercados emergentes e países produtores. É preciso aproveitar as oportunidades e investir nessas novas tendências, indo ao encontro das necessidades dos consumidores, que buscam inovação, praticidade e opção para todos os orçamentos.”

Biotecnologia

Temas relacionados à biotecnologia também foram tratados na Conferência. O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Alan Carvalho de Andrade, destacou as vantagens que o sequenciamento do DNA do café conilon pode trazer para os produtores rurais. “Se já sabemos as características genotípicas do modelo, temos como prever quantidade da produção, as doenças mais suscetíveis, tamanho das plantas e outras informações que podem diminuir o custo do cultivo”, considerou.

O representante da Nestlé, Pierre Broun, chefe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Nestlé, R&D, na França, explicou que “Os marcadores genéticos tornam possíveis a elaboração de mapas genéticos do conilon, que podem ajudar a descobrir os fatores de qualidade do produto. Os consumidores estão cada vez mais exigentes e interessados em saber a procedência do café. Identificar os marcadores facilita o controle das fábricas sobre a qualidade do produto”.

Pierre Marraccini, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), falou sobre a caracterização molecular de determinantes envolvidos na tolerância à seca. “A seca é um dos fatores do meio ambiente que mais afetam o café, diminuindo o grão e trazendo outros defeitos que abaixam a qualidade da bebida”, afirma. Marraccini chama a atenção para o efeito socioeconômico que a seca pode trazer, com a repercussão em queda na renda dos cafeicultores. “Para reduzir os efeitos da seca no café, é necessário usar os genes de grupos tolerantes para desenvolver variedades que suportam mais a falta de água”, apontou.

Pesquisas do Incaperviram referência

O pesquisador do Incaper e coordenador do Programa Estadual de Cafeicultura do Estado, Romário Gava Ferrão, apresentou a importância do robusta, o programa de pesquisa desenvolvido no Espírito Santo e os resultados alcançados. “Temos 40 mil propriedades em 64 municípios do Espírito Santo que produzem o café conilon e muitas delas usam os materiais genéticos elaborados pelo Incaper e parceiros. Isso nos levou a ser um grande produtor e, este ano, temos a estimativa de colher 9,3 milhões de sacas somente de conilon no Estado”, afirmou Ferrão.

Romário também destacou as pesquisas, que começaram em 1985 pelo Incaper, e que deram origem a várias publicações, que fazem com que esse conhecimento

chegue até pesquisadores tanto do Brasil quanto de outros países, e também aos produtores por meio dos extensionistas que orientam sobre a melhor forma de plantio, poda, nutrição e adubação.

“Realizamos trabalhos conjuntos com instituições nacionais e internacionais para identificar plantas de conilon com características de interesse dos consumidores. De posse dessas informações, já criamos e vamos lançar daqui a um ano novas variedades do robusta que vão produzir mais e com mais qualidade”, salienta Romário Gava Ferrão.

Qualidade provada e aprovada

Além das informações divulgadas nas palestras do evento, a qualidade do conilon capixaba também pôde ser comprovada na prática. Durante os dias da conferência, o café produzido no Estado foi o principal ingrediente das degustações. Duas cafeterias serviram a bebida aos participantes, num blend composto por 60% arábica e 40% conilon.

Provadores profissionais de várias nacionalidades tiveram a chance de testar – e atestar o quão especial é o café conilon produzido no Espírito Santo. E a qualidade dos melhores robustas capixabas não saiu da boca de quem entende do assunto. Foram selecionados 50 lotes de conilon especial dos municípios de Jaguaré, Vila Valério, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Muqui e Castelo.

Segundo o representante da Conilon Brasil, Arthur Fiorott, um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados foram levadas para uma cafeteria em Los Angeles, na Califórnia. “É justamente esse o intuito da sala de degustação. É importante disponibilizar os cafés para que o mundo inteiro conheça, e reconheça a qualidade do conilon capixaba. Este foi o primeiro passo do processo de negociação”, comemora Arthur Fiorott.

O Mercado e a Indústriade Solúvel

No painel focado no mercado, a primeira intervenção foi de Sulanini Menon, Chefe Executiva do CoffeeLab, da Índia, que vem se destacando pelo trabalho voltado para a melhoria de qualidade, e que posiciona a Índia como o país produtor que vem obtendo maior agregação de valor em suas vendas de café robusta. Menon indicou a sua opinião de que o conilon brasileiro - bem processado – apresenta nuances de bebida e aroma semelhantes àquelas típicas dos cafés robustas finos, com um bom potencial no mercado de qualidade. Na mesma direção centrou-se a apresentação de Ted Lingley, presidente da Associação Norte Americana de Cafés Especiais, que reafirmou os atributos qualitativos do robusta, que desmistificam a imagem de que a variedade prima apenas pelo maior rendimento industrial ou por representar simplesmente a massa.

Na palestra sobre o café solúvel, Sérgio Tristão, Presidente da RealCafé, fez um histórico da indústria de solúvel brasileira, estruturada a partir dos estímulos dados pelo Governo com base na existência de enormes estoques de cafés arábicas em estoque, que serviriam como matéria prima para a indústria. Assinalou também que o café solúvel representa hoje cerca de 22% do consumo mundial, equivalendo a 32 milhões de sacas. Mencionou os prejuízos causados à indústria brasileira de solúvel (quadro na página seguinte) pela discriminação tarifária aplicada ao produto brasileiro na Europa. Frisou que o imposto de 9% sobre as importações na Europa, nos últimos sete anos, significou a perda de exportações ao redor de 5,5 milhões de sacas, o que impacta igualmente os produtores, pela menor demanda.

Em sua análise de mercado, o Diretor do CeCafé Guilherme Braga Pires, apresentou dados que mostram que a utilização de cafés robustas representa algo entre 40% e 42% do consumo mundial, ou seja em torno de 55 a 58 milhões de sacas anuais, em ascensão. O palestrante destacou também a demanda interna de conilon, francamente ascendente, para atender as necessidades de matéria prima da indústria de torrefação e moagem e de solúvel (quadro abaixo).

Ao comentar o desempenho da Unicafé Comércio Exterior, empresa responsável pelo maior volume de café já comercializado do Brasil para o mercado externo, 71,550 milhões de sacas e uma receita cambial na ordem de 8 bilhões e 650 milhões de dólares, o seu presidente, Jair Coser, destacou a trajetória de 42 anos de atuação no comércio exterior. Citou as dificuldades iniciais, mas frisou que a sua persistência e atuação competente de sua equipe tornaram possível que a Unicafé tenha se transformado num caso de sucesso empresarial.

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

22 - 23 - 24 - 25 - 26 - 27.pdf 1 02/07/2012 18:49:12

Page 2: 60 - 01 - CCCRJcccrj.com.br/revista/842/22.pdf · 2012. 10. 25. · um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados

23

Durante uma semana, Vitória, no Espírito Santo, tornou-se a capital mundial do conilon. Foi realizada entre os dias 11 e 15 de junho, a Conferência Internacional de Coffea canephora, no Centro de Convenções de Vitória. O evento teve como objetivo apresentar e discutir temas associados à pesquisa, desenvolvimento e inovações; qualidade, mercado e indústria com representantes de vários países do mundo.

“Um pé de café conilon tem mais ciência, mais pesquisa, do que os telefones celulares mais modernos. Além de fazer riqueza, o café faz com que brasileiros simples, humildes, realizem seus sonhos”. Ao comparar os cafeicultores com Steve Jobs, Evair Vieira de Melo, presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), arrancou aplausos das mais de 500 pessoas que participaram da abertura da conferência.

“Era difícil de imaginar que esse café que já foi tão estigmatizado, que já teve tanto preconceito, hoje é capaz de reunir a comunidade internacional. Esse avanço é resultado do planejamento e da integração entre Governo

INCA

PER

Público conferência

e sociedade, e de todos os elos envolvidos na cafeicultura. O café está no dia-a-dia, faz parte da vida dos capixabas, e com o café forte o Espírito Santo e as famílias capixabas se fortalecem", destacou o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli.

Para o produtor rural Francisco de Assis e Silva, de Afonso Cláudio, o intercâmbio de informações é de grande importância. “Estamos tendo a oportunidade de conhecer a realidade de vários países produtores e as demandas dos consumidores internacionais. Isso contribui para que possamos direcionar nossos investimentos adequadamente”, disse.

Perspectivas do conilonno mundo

O primeiro dia de trabalho da Conferência foi marcado por palestras sobre a transferência de tecnologia nos principais países produtores do mundo. O painel foi moderado pelo diretor executivo da Organização Internacional de Café (OIC), Robério Silva. O pesquisador, Aymbiré Almeida da

Fonseca, falou sobre a importância das pesquisas do conilon. As experiências de outros países produtores também foram apresentadas. Koffi NGoran, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Agronômica da Costa do Marfim, falou sobre os estudos desenvolvidos em seu país. O cultivo de conilon na Indonésia foi apresentado por Pranoto Soenarto, diretor de operações PT. As experiências de Uganda e os projetos estratégicos do Vietnã, maior produtor mundial de robusta, foram apresentadas em seguida. O presidente da Empresa de Consultoria e Pesquisa da Indochina (IRC) Vietnã, Phung Duc Thung, deu uma visão geral da produção vietnamita de café, destacando alguns problemas enfrentados. “A ausência de pesquisadores especializados, de políticas nacionais para o setor e a falta de investimentos infelizmente ainda são uma realidade no Vietnã. Entretanto, somos hoje o segundo maior produtor do mundo, ficando atrás apenas do Brasil”.

Na sequência, Carlos Henrique Jorge Brando, da P&A Marketing Internacional, do Brasil, comentou algumas novidades e tendências de consumo para o segmento. “Percebemos um avanço das marcas próprias no Brasil e no mundo, que representa rentabilidade para o setor e preços melhores para os clientes. Além disso, são perceptíveis as novas medidas e hábitos de consumo, novos produtos no mercado, novos equipamentos e novos consumidores, principalmente nos mercados emergentes e países produtores. É preciso aproveitar as oportunidades e investir nessas novas tendências, indo ao encontro das necessidades dos consumidores, que buscam inovação, praticidade e opção para todos os orçamentos.”

Biotecnologia

Temas relacionados à biotecnologia também foram tratados na Conferência. O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Alan Carvalho de Andrade, destacou as vantagens que o sequenciamento do DNA do café conilon pode trazer para os produtores rurais. “Se já sabemos as características genotípicas do modelo, temos como prever quantidade da produção, as doenças mais suscetíveis, tamanho das plantas e outras informações que podem diminuir o custo do cultivo”, considerou.

O representante da Nestlé, Pierre Broun, chefe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Nestlé, R&D, na França, explicou que “Os marcadores genéticos tornam possíveis a elaboração de mapas genéticos do conilon, que podem ajudar a descobrir os fatores de qualidade do produto. Os consumidores estão cada vez mais exigentes e interessados em saber a procedência do café. Identificar os marcadores facilita o controle das fábricas sobre a qualidade do produto”.

Pierre Marraccini, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), falou sobre a caracterização molecular de determinantes envolvidos na tolerância à seca. “A seca é um dos fatores do meio ambiente que mais afetam o café, diminuindo o grão e trazendo outros defeitos que abaixam a qualidade da bebida”, afirma. Marraccini chama a atenção para o efeito socioeconômico que a seca pode trazer, com a repercussão em queda na renda dos cafeicultores. “Para reduzir os efeitos da seca no café, é necessário usar os genes de grupos tolerantes para desenvolver variedades que suportam mais a falta de água”, apontou.

Pesquisas do Incaperviram referência

O pesquisador do Incaper e coordenador do Programa Estadual de Cafeicultura do Estado, Romário Gava Ferrão, apresentou a importância do robusta, o programa de pesquisa desenvolvido no Espírito Santo e os resultados alcançados. “Temos 40 mil propriedades em 64 municípios do Espírito Santo que produzem o café conilon e muitas delas usam os materiais genéticos elaborados pelo Incaper e parceiros. Isso nos levou a ser um grande produtor e, este ano, temos a estimativa de colher 9,3 milhões de sacas somente de conilon no Estado”, afirmou Ferrão.

Romário também destacou as pesquisas, que começaram em 1985 pelo Incaper, e que deram origem a várias publicações, que fazem com que esse conhecimento

chegue até pesquisadores tanto do Brasil quanto de outros países, e também aos produtores por meio dos extensionistas que orientam sobre a melhor forma de plantio, poda, nutrição e adubação.

“Realizamos trabalhos conjuntos com instituições nacionais e internacionais para identificar plantas de conilon com características de interesse dos consumidores. De posse dessas informações, já criamos e vamos lançar daqui a um ano novas variedades do robusta que vão produzir mais e com mais qualidade”, salienta Romário Gava Ferrão.

Qualidade provada e aprovada

Além das informações divulgadas nas palestras do evento, a qualidade do conilon capixaba também pôde ser comprovada na prática. Durante os dias da conferência, o café produzido no Estado foi o principal ingrediente das degustações. Duas cafeterias serviram a bebida aos participantes, num blend composto por 60% arábica e 40% conilon.

Provadores profissionais de várias nacionalidades tiveram a chance de testar – e atestar o quão especial é o café conilon produzido no Espírito Santo. E a qualidade dos melhores robustas capixabas não saiu da boca de quem entende do assunto. Foram selecionados 50 lotes de conilon especial dos municípios de Jaguaré, Vila Valério, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Muqui e Castelo.

Segundo o representante da Conilon Brasil, Arthur Fiorott, um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados foram levadas para uma cafeteria em Los Angeles, na Califórnia. “É justamente esse o intuito da sala de degustação. É importante disponibilizar os cafés para que o mundo inteiro conheça, e reconheça a qualidade do conilon capixaba. Este foi o primeiro passo do processo de negociação”, comemora Arthur Fiorott.

O Mercado e a Indústriade Solúvel

No painel focado no mercado, a primeira intervenção foi de Sulanini Menon, Chefe Executiva do CoffeeLab, da Índia, que vem se destacando pelo trabalho voltado para a melhoria de qualidade, e que posiciona a Índia como o país produtor que vem obtendo maior agregação de valor em suas vendas de café robusta. Menon indicou a sua opinião de que o conilon brasileiro - bem processado – apresenta nuances de bebida e aroma semelhantes àquelas típicas dos cafés robustas finos, com um bom potencial no mercado de qualidade. Na mesma direção centrou-se a apresentação de Ted Lingley, presidente da Associação Norte Americana de Cafés Especiais, que reafirmou os atributos qualitativos do robusta, que desmistificam a imagem de que a variedade prima apenas pelo maior rendimento industrial ou por representar simplesmente a massa.

Na palestra sobre o café solúvel, Sérgio Tristão, Presidente da RealCafé, fez um histórico da indústria de solúvel brasileira, estruturada a partir dos estímulos dados pelo Governo com base na existência de enormes estoques de cafés arábicas em estoque, que serviriam como matéria prima para a indústria. Assinalou também que o café solúvel representa hoje cerca de 22% do consumo mundial, equivalendo a 32 milhões de sacas. Mencionou os prejuízos causados à indústria brasileira de solúvel (quadro na página seguinte) pela discriminação tarifária aplicada ao produto brasileiro na Europa. Frisou que o imposto de 9% sobre as importações na Europa, nos últimos sete anos, significou a perda de exportações ao redor de 5,5 milhões de sacas, o que impacta igualmente os produtores, pela menor demanda.

Em sua análise de mercado, o Diretor do CeCafé Guilherme Braga Pires, apresentou dados que mostram que a utilização de cafés robustas representa algo entre 40% e 42% do consumo mundial, ou seja em torno de 55 a 58 milhões de sacas anuais, em ascensão. O palestrante destacou também a demanda interna de conilon, francamente ascendente, para atender as necessidades de matéria prima da indústria de torrefação e moagem e de solúvel (quadro abaixo).

Ao comentar o desempenho da Unicafé Comércio Exterior, empresa responsável pelo maior volume de café já comercializado do Brasil para o mercado externo, 71,550 milhões de sacas e uma receita cambial na ordem de 8 bilhões e 650 milhões de dólares, o seu presidente, Jair Coser, destacou a trajetória de 42 anos de atuação no comércio exterior. Citou as dificuldades iniciais, mas frisou que a sua persistência e atuação competente de sua equipe tornaram possível que a Unicafé tenha se transformado num caso de sucesso empresarial.

INCA

PER

INCA

PER

Aymbiré Almeida da Fonseca

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

22 - 23 - 24 - 25 - 26 - 27.pdf 2 02/07/2012 18:49:19

Page 3: 60 - 01 - CCCRJcccrj.com.br/revista/842/22.pdf · 2012. 10. 25. · um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados

Durante uma semana, Vitória, no Espírito Santo, tornou-se a capital mundial do conilon. Foi realizada entre os dias 11 e 15 de junho, a Conferência Internacional de Coffea canephora, no Centro de Convenções de Vitória. O evento teve como objetivo apresentar e discutir temas associados à pesquisa, desenvolvimento e inovações; qualidade, mercado e indústria com representantes de vários países do mundo.

“Um pé de café conilon tem mais ciência, mais pesquisa, do que os telefones celulares mais modernos. Além de fazer riqueza, o café faz com que brasileiros simples, humildes, realizem seus sonhos”. Ao comparar os cafeicultores com Steve Jobs, Evair Vieira de Melo, presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), arrancou aplausos das mais de 500 pessoas que participaram da abertura da conferência.

“Era difícil de imaginar que esse café que já foi tão estigmatizado, que já teve tanto preconceito, hoje é capaz de reunir a comunidade internacional. Esse avanço é resultado do planejamento e da integração entre Governo

24

Prova de Classificação

e sociedade, e de todos os elos envolvidos na cafeicultura. O café está no dia-a-dia, faz parte da vida dos capixabas, e com o café forte o Espírito Santo e as famílias capixabas se fortalecem", destacou o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli.

Para o produtor rural Francisco de Assis e Silva, de Afonso Cláudio, o intercâmbio de informações é de grande importância. “Estamos tendo a oportunidade de conhecer a realidade de vários países produtores e as demandas dos consumidores internacionais. Isso contribui para que possamos direcionar nossos investimentos adequadamente”, disse.

Perspectivas do conilonno mundo

O primeiro dia de trabalho da Conferência foi marcado por palestras sobre a transferência de tecnologia nos principais países produtores do mundo. O painel foi moderado pelo diretor executivo da Organização Internacional de Café (OIC), Robério Silva. O pesquisador, Aymbiré Almeida da

Fonseca, falou sobre a importância das pesquisas do conilon. As experiências de outros países produtores também foram apresentadas. Koffi NGoran, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Agronômica da Costa do Marfim, falou sobre os estudos desenvolvidos em seu país. O cultivo de conilon na Indonésia foi apresentado por Pranoto Soenarto, diretor de operações PT. As experiências de Uganda e os projetos estratégicos do Vietnã, maior produtor mundial de robusta, foram apresentadas em seguida. O presidente da Empresa de Consultoria e Pesquisa da Indochina (IRC) Vietnã, Phung Duc Thung, deu uma visão geral da produção vietnamita de café, destacando alguns problemas enfrentados. “A ausência de pesquisadores especializados, de políticas nacionais para o setor e a falta de investimentos infelizmente ainda são uma realidade no Vietnã. Entretanto, somos hoje o segundo maior produtor do mundo, ficando atrás apenas do Brasil”.

Na sequência, Carlos Henrique Jorge Brando, da P&A Marketing Internacional, do Brasil, comentou algumas novidades e tendências de consumo para o segmento. “Percebemos um avanço das marcas próprias no Brasil e no mundo, que representa rentabilidade para o setor e preços melhores para os clientes. Além disso, são perceptíveis as novas medidas e hábitos de consumo, novos produtos no mercado, novos equipamentos e novos consumidores, principalmente nos mercados emergentes e países produtores. É preciso aproveitar as oportunidades e investir nessas novas tendências, indo ao encontro das necessidades dos consumidores, que buscam inovação, praticidade e opção para todos os orçamentos.”

Biotecnologia

Temas relacionados à biotecnologia também foram tratados na Conferência. O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Alan Carvalho de Andrade, destacou as vantagens que o sequenciamento do DNA do café conilon pode trazer para os produtores rurais. “Se já sabemos as características genotípicas do modelo, temos como prever quantidade da produção, as doenças mais suscetíveis, tamanho das plantas e outras informações que podem diminuir o custo do cultivo”, considerou.

O representante da Nestlé, Pierre Broun, chefe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Nestlé, R&D, na França, explicou que “Os marcadores genéticos tornam possíveis a elaboração de mapas genéticos do conilon, que podem ajudar a descobrir os fatores de qualidade do produto. Os consumidores estão cada vez mais exigentes e interessados em saber a procedência do café. Identificar os marcadores facilita o controle das fábricas sobre a qualidade do produto”.

Pierre Marraccini, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), falou sobre a caracterização molecular de determinantes envolvidos na tolerância à seca. “A seca é um dos fatores do meio ambiente que mais afetam o café, diminuindo o grão e trazendo outros defeitos que abaixam a qualidade da bebida”, afirma. Marraccini chama a atenção para o efeito socioeconômico que a seca pode trazer, com a repercussão em queda na renda dos cafeicultores. “Para reduzir os efeitos da seca no café, é necessário usar os genes de grupos tolerantes para desenvolver variedades que suportam mais a falta de água”, apontou.

Pesquisas do Incaperviram referência

O pesquisador do Incaper e coordenador do Programa Estadual de Cafeicultura do Estado, Romário Gava Ferrão, apresentou a importância do robusta, o programa de pesquisa desenvolvido no Espírito Santo e os resultados alcançados. “Temos 40 mil propriedades em 64 municípios do Espírito Santo que produzem o café conilon e muitas delas usam os materiais genéticos elaborados pelo Incaper e parceiros. Isso nos levou a ser um grande produtor e, este ano, temos a estimativa de colher 9,3 milhões de sacas somente de conilon no Estado”, afirmou Ferrão.

Romário também destacou as pesquisas, que começaram em 1985 pelo Incaper, e que deram origem a várias publicações, que fazem com que esse conhecimento

chegue até pesquisadores tanto do Brasil quanto de outros países, e também aos produtores por meio dos extensionistas que orientam sobre a melhor forma de plantio, poda, nutrição e adubação.

“Realizamos trabalhos conjuntos com instituições nacionais e internacionais para identificar plantas de conilon com características de interesse dos consumidores. De posse dessas informações, já criamos e vamos lançar daqui a um ano novas variedades do robusta que vão produzir mais e com mais qualidade”, salienta Romário Gava Ferrão.

Qualidade provada e aprovada

Além das informações divulgadas nas palestras do evento, a qualidade do conilon capixaba também pôde ser comprovada na prática. Durante os dias da conferência, o café produzido no Estado foi o principal ingrediente das degustações. Duas cafeterias serviram a bebida aos participantes, num blend composto por 60% arábica e 40% conilon.

Provadores profissionais de várias nacionalidades tiveram a chance de testar – e atestar o quão especial é o café conilon produzido no Espírito Santo. E a qualidade dos melhores robustas capixabas não saiu da boca de quem entende do assunto. Foram selecionados 50 lotes de conilon especial dos municípios de Jaguaré, Vila Valério, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Muqui e Castelo.

Segundo o representante da Conilon Brasil, Arthur Fiorott, um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados foram levadas para uma cafeteria em Los Angeles, na Califórnia. “É justamente esse o intuito da sala de degustação. É importante disponibilizar os cafés para que o mundo inteiro conheça, e reconheça a qualidade do conilon capixaba. Este foi o primeiro passo do processo de negociação”, comemora Arthur Fiorott.

O Mercado e a Indústriade Solúvel

No painel focado no mercado, a primeira intervenção foi de Sulanini Menon, Chefe Executiva do CoffeeLab, da Índia, que vem se destacando pelo trabalho voltado para a melhoria de qualidade, e que posiciona a Índia como o país produtor que vem obtendo maior agregação de valor em suas vendas de café robusta. Menon indicou a sua opinião de que o conilon brasileiro - bem processado – apresenta nuances de bebida e aroma semelhantes àquelas típicas dos cafés robustas finos, com um bom potencial no mercado de qualidade. Na mesma direção centrou-se a apresentação de Ted Lingley, presidente da Associação Norte Americana de Cafés Especiais, que reafirmou os atributos qualitativos do robusta, que desmistificam a imagem de que a variedade prima apenas pelo maior rendimento industrial ou por representar simplesmente a massa.

Na palestra sobre o café solúvel, Sérgio Tristão, Presidente da RealCafé, fez um histórico da indústria de solúvel brasileira, estruturada a partir dos estímulos dados pelo Governo com base na existência de enormes estoques de cafés arábicas em estoque, que serviriam como matéria prima para a indústria. Assinalou também que o café solúvel representa hoje cerca de 22% do consumo mundial, equivalendo a 32 milhões de sacas. Mencionou os prejuízos causados à indústria brasileira de solúvel (quadro na página seguinte) pela discriminação tarifária aplicada ao produto brasileiro na Europa. Frisou que o imposto de 9% sobre as importações na Europa, nos últimos sete anos, significou a perda de exportações ao redor de 5,5 milhões de sacas, o que impacta igualmente os produtores, pela menor demanda.

Em sua análise de mercado, o Diretor do CeCafé Guilherme Braga Pires, apresentou dados que mostram que a utilização de cafés robustas representa algo entre 40% e 42% do consumo mundial, ou seja em torno de 55 a 58 milhões de sacas anuais, em ascensão. O palestrante destacou também a demanda interna de conilon, francamente ascendente, para atender as necessidades de matéria prima da indústria de torrefação e moagem e de solúvel (quadro abaixo).

Ao comentar o desempenho da Unicafé Comércio Exterior, empresa responsável pelo maior volume de café já comercializado do Brasil para o mercado externo, 71,550 milhões de sacas e uma receita cambial na ordem de 8 bilhões e 650 milhões de dólares, o seu presidente, Jair Coser, destacou a trajetória de 42 anos de atuação no comércio exterior. Citou as dificuldades iniciais, mas frisou que a sua persistência e atuação competente de sua equipe tornaram possível que a Unicafé tenha se transformado num caso de sucesso empresarial.

INCA

PER

Carlos Brando

Pierre Marraccini

INCA

PER

INCA

PER

Pierre Broun

INCA

PER

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

22 - 23 - 24 - 25 - 26 - 27.pdf 3 02/07/2012 18:49:26

Page 4: 60 - 01 - CCCRJcccrj.com.br/revista/842/22.pdf · 2012. 10. 25. · um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados

Durante uma semana, Vitória, no Espírito Santo, tornou-se a capital mundial do conilon. Foi realizada entre os dias 11 e 15 de junho, a Conferência Internacional de Coffea canephora, no Centro de Convenções de Vitória. O evento teve como objetivo apresentar e discutir temas associados à pesquisa, desenvolvimento e inovações; qualidade, mercado e indústria com representantes de vários países do mundo.

“Um pé de café conilon tem mais ciência, mais pesquisa, do que os telefones celulares mais modernos. Além de fazer riqueza, o café faz com que brasileiros simples, humildes, realizem seus sonhos”. Ao comparar os cafeicultores com Steve Jobs, Evair Vieira de Melo, presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), arrancou aplausos das mais de 500 pessoas que participaram da abertura da conferência.

“Era difícil de imaginar que esse café que já foi tão estigmatizado, que já teve tanto preconceito, hoje é capaz de reunir a comunidade internacional. Esse avanço é resultado do planejamento e da integração entre Governo

25

e sociedade, e de todos os elos envolvidos na cafeicultura. O café está no dia-a-dia, faz parte da vida dos capixabas, e com o café forte o Espírito Santo e as famílias capixabas se fortalecem", destacou o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli.

Para o produtor rural Francisco de Assis e Silva, de Afonso Cláudio, o intercâmbio de informações é de grande importância. “Estamos tendo a oportunidade de conhecer a realidade de vários países produtores e as demandas dos consumidores internacionais. Isso contribui para que possamos direcionar nossos investimentos adequadamente”, disse.

Perspectivas do conilonno mundo

O primeiro dia de trabalho da Conferência foi marcado por palestras sobre a transferência de tecnologia nos principais países produtores do mundo. O painel foi moderado pelo diretor executivo da Organização Internacional de Café (OIC), Robério Silva. O pesquisador, Aymbiré Almeida da

Fonseca, falou sobre a importância das pesquisas do conilon. As experiências de outros países produtores também foram apresentadas. Koffi NGoran, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Agronômica da Costa do Marfim, falou sobre os estudos desenvolvidos em seu país. O cultivo de conilon na Indonésia foi apresentado por Pranoto Soenarto, diretor de operações PT. As experiências de Uganda e os projetos estratégicos do Vietnã, maior produtor mundial de robusta, foram apresentadas em seguida. O presidente da Empresa de Consultoria e Pesquisa da Indochina (IRC) Vietnã, Phung Duc Thung, deu uma visão geral da produção vietnamita de café, destacando alguns problemas enfrentados. “A ausência de pesquisadores especializados, de políticas nacionais para o setor e a falta de investimentos infelizmente ainda são uma realidade no Vietnã. Entretanto, somos hoje o segundo maior produtor do mundo, ficando atrás apenas do Brasil”.

Na sequência, Carlos Henrique Jorge Brando, da P&A Marketing Internacional, do Brasil, comentou algumas novidades e tendências de consumo para o segmento. “Percebemos um avanço das marcas próprias no Brasil e no mundo, que representa rentabilidade para o setor e preços melhores para os clientes. Além disso, são perceptíveis as novas medidas e hábitos de consumo, novos produtos no mercado, novos equipamentos e novos consumidores, principalmente nos mercados emergentes e países produtores. É preciso aproveitar as oportunidades e investir nessas novas tendências, indo ao encontro das necessidades dos consumidores, que buscam inovação, praticidade e opção para todos os orçamentos.”

Biotecnologia

Temas relacionados à biotecnologia também foram tratados na Conferência. O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Alan Carvalho de Andrade, destacou as vantagens que o sequenciamento do DNA do café conilon pode trazer para os produtores rurais. “Se já sabemos as características genotípicas do modelo, temos como prever quantidade da produção, as doenças mais suscetíveis, tamanho das plantas e outras informações que podem diminuir o custo do cultivo”, considerou.

O representante da Nestlé, Pierre Broun, chefe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Nestlé, R&D, na França, explicou que “Os marcadores genéticos tornam possíveis a elaboração de mapas genéticos do conilon, que podem ajudar a descobrir os fatores de qualidade do produto. Os consumidores estão cada vez mais exigentes e interessados em saber a procedência do café. Identificar os marcadores facilita o controle das fábricas sobre a qualidade do produto”.

Pierre Marraccini, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), falou sobre a caracterização molecular de determinantes envolvidos na tolerância à seca. “A seca é um dos fatores do meio ambiente que mais afetam o café, diminuindo o grão e trazendo outros defeitos que abaixam a qualidade da bebida”, afirma. Marraccini chama a atenção para o efeito socioeconômico que a seca pode trazer, com a repercussão em queda na renda dos cafeicultores. “Para reduzir os efeitos da seca no café, é necessário usar os genes de grupos tolerantes para desenvolver variedades que suportam mais a falta de água”, apontou.

Pesquisas do Incaperviram referência

O pesquisador do Incaper e coordenador do Programa Estadual de Cafeicultura do Estado, Romário Gava Ferrão, apresentou a importância do robusta, o programa de pesquisa desenvolvido no Espírito Santo e os resultados alcançados. “Temos 40 mil propriedades em 64 municípios do Espírito Santo que produzem o café conilon e muitas delas usam os materiais genéticos elaborados pelo Incaper e parceiros. Isso nos levou a ser um grande produtor e, este ano, temos a estimativa de colher 9,3 milhões de sacas somente de conilon no Estado”, afirmou Ferrão.

Romário também destacou as pesquisas, que começaram em 1985 pelo Incaper, e que deram origem a várias publicações, que fazem com que esse conhecimento

chegue até pesquisadores tanto do Brasil quanto de outros países, e também aos produtores por meio dos extensionistas que orientam sobre a melhor forma de plantio, poda, nutrição e adubação.

“Realizamos trabalhos conjuntos com instituições nacionais e internacionais para identificar plantas de conilon com características de interesse dos consumidores. De posse dessas informações, já criamos e vamos lançar daqui a um ano novas variedades do robusta que vão produzir mais e com mais qualidade”, salienta Romário Gava Ferrão.

Qualidade provada e aprovada

Além das informações divulgadas nas palestras do evento, a qualidade do conilon capixaba também pôde ser comprovada na prática. Durante os dias da conferência, o café produzido no Estado foi o principal ingrediente das degustações. Duas cafeterias serviram a bebida aos participantes, num blend composto por 60% arábica e 40% conilon.

Provadores profissionais de várias nacionalidades tiveram a chance de testar – e atestar o quão especial é o café conilon produzido no Espírito Santo. E a qualidade dos melhores robustas capixabas não saiu da boca de quem entende do assunto. Foram selecionados 50 lotes de conilon especial dos municípios de Jaguaré, Vila Valério, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Muqui e Castelo.

Segundo o representante da Conilon Brasil, Arthur Fiorott, um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados foram levadas para uma cafeteria em Los Angeles, na Califórnia. “É justamente esse o intuito da sala de degustação. É importante disponibilizar os cafés para que o mundo inteiro conheça, e reconheça a qualidade do conilon capixaba. Este foi o primeiro passo do processo de negociação”, comemora Arthur Fiorott.

O Mercado e a Indústriade Solúvel

No painel focado no mercado, a primeira intervenção foi de Sulanini Menon, Chefe Executiva do CoffeeLab, da Índia, que vem se destacando pelo trabalho voltado para a melhoria de qualidade, e que posiciona a Índia como o país produtor que vem obtendo maior agregação de valor em suas vendas de café robusta. Menon indicou a sua opinião de que o conilon brasileiro - bem processado – apresenta nuances de bebida e aroma semelhantes àquelas típicas dos cafés robustas finos, com um bom potencial no mercado de qualidade. Na mesma direção centrou-se a apresentação de Ted Lingley, presidente da Associação Norte Americana de Cafés Especiais, que reafirmou os atributos qualitativos do robusta, que desmistificam a imagem de que a variedade prima apenas pelo maior rendimento industrial ou por representar simplesmente a massa.

Na palestra sobre o café solúvel, Sérgio Tristão, Presidente da RealCafé, fez um histórico da indústria de solúvel brasileira, estruturada a partir dos estímulos dados pelo Governo com base na existência de enormes estoques de cafés arábicas em estoque, que serviriam como matéria prima para a indústria. Assinalou também que o café solúvel representa hoje cerca de 22% do consumo mundial, equivalendo a 32 milhões de sacas. Mencionou os prejuízos causados à indústria brasileira de solúvel (quadro na página seguinte) pela discriminação tarifária aplicada ao produto brasileiro na Europa. Frisou que o imposto de 9% sobre as importações na Europa, nos últimos sete anos, significou a perda de exportações ao redor de 5,5 milhões de sacas, o que impacta igualmente os produtores, pela menor demanda.

Em sua análise de mercado, o Diretor do CeCafé Guilherme Braga Pires, apresentou dados que mostram que a utilização de cafés robustas representa algo entre 40% e 42% do consumo mundial, ou seja em torno de 55 a 58 milhões de sacas anuais, em ascensão. O palestrante destacou também a demanda interna de conilon, francamente ascendente, para atender as necessidades de matéria prima da indústria de torrefação e moagem e de solúvel (quadro abaixo).

Ao comentar o desempenho da Unicafé Comércio Exterior, empresa responsável pelo maior volume de café já comercializado do Brasil para o mercado externo, 71,550 milhões de sacas e uma receita cambial na ordem de 8 bilhões e 650 milhões de dólares, o seu presidente, Jair Coser, destacou a trajetória de 42 anos de atuação no comércio exterior. Citou as dificuldades iniciais, mas frisou que a sua persistência e atuação competente de sua equipe tornaram possível que a Unicafé tenha se transformado num caso de sucesso empresarial.

INCA

PER

Sulanini Menon

INCA

PER

Pranoto Soenarto

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

22 - 23 - 24 - 25 - 26 - 27.pdf 4 02/07/2012 18:49:30

Page 5: 60 - 01 - CCCRJcccrj.com.br/revista/842/22.pdf · 2012. 10. 25. · um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados

Milhões de sacas

Demanda Interna Total de CONILONAno-Civil: 2011

2,6 mi13,7 mi

16,4 mi

ExportaçõesCafé Verde

Demanda IndústriaSolúvel e T&M

Demanda TotalCONILON

=+Elaboração: CeCafé

Mil sacas 60Kg

Consumo de solúvel no mundo

Exportações brasileiras de solúvel

Participação brasileira

Projeção mantendo-se a participação 2005

Perda anual para a concorrência

Estimativa de perda acumulada

2005

24.692

3.525

14,3

-

3.525

-

2008

27.519

3.355

12,2

3.927

572

1.709

2011

29.183

3.305

11,3

4.164

859

4.499

2012

29.878

3.305

11,1

4.264

958

5.458

Mercado mundial de Café Solúvel

Elaboração: Realcafé / Tristão

Durante uma semana, Vitória, no Espírito Santo, tornou-se a capital mundial do conilon. Foi realizada entre os dias 11 e 15 de junho, a Conferência Internacional de Coffea canephora, no Centro de Convenções de Vitória. O evento teve como objetivo apresentar e discutir temas associados à pesquisa, desenvolvimento e inovações; qualidade, mercado e indústria com representantes de vários países do mundo.

“Um pé de café conilon tem mais ciência, mais pesquisa, do que os telefones celulares mais modernos. Além de fazer riqueza, o café faz com que brasileiros simples, humildes, realizem seus sonhos”. Ao comparar os cafeicultores com Steve Jobs, Evair Vieira de Melo, presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), arrancou aplausos das mais de 500 pessoas que participaram da abertura da conferência.

“Era difícil de imaginar que esse café que já foi tão estigmatizado, que já teve tanto preconceito, hoje é capaz de reunir a comunidade internacional. Esse avanço é resultado do planejamento e da integração entre Governo

26

Prova de Classificação

e sociedade, e de todos os elos envolvidos na cafeicultura. O café está no dia-a-dia, faz parte da vida dos capixabas, e com o café forte o Espírito Santo e as famílias capixabas se fortalecem", destacou o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli.

Para o produtor rural Francisco de Assis e Silva, de Afonso Cláudio, o intercâmbio de informações é de grande importância. “Estamos tendo a oportunidade de conhecer a realidade de vários países produtores e as demandas dos consumidores internacionais. Isso contribui para que possamos direcionar nossos investimentos adequadamente”, disse.

Perspectivas do conilonno mundo

O primeiro dia de trabalho da Conferência foi marcado por palestras sobre a transferência de tecnologia nos principais países produtores do mundo. O painel foi moderado pelo diretor executivo da Organização Internacional de Café (OIC), Robério Silva. O pesquisador, Aymbiré Almeida da

Fonseca, falou sobre a importância das pesquisas do conilon. As experiências de outros países produtores também foram apresentadas. Koffi NGoran, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Agronômica da Costa do Marfim, falou sobre os estudos desenvolvidos em seu país. O cultivo de conilon na Indonésia foi apresentado por Pranoto Soenarto, diretor de operações PT. As experiências de Uganda e os projetos estratégicos do Vietnã, maior produtor mundial de robusta, foram apresentadas em seguida. O presidente da Empresa de Consultoria e Pesquisa da Indochina (IRC) Vietnã, Phung Duc Thung, deu uma visão geral da produção vietnamita de café, destacando alguns problemas enfrentados. “A ausência de pesquisadores especializados, de políticas nacionais para o setor e a falta de investimentos infelizmente ainda são uma realidade no Vietnã. Entretanto, somos hoje o segundo maior produtor do mundo, ficando atrás apenas do Brasil”.

Na sequência, Carlos Henrique Jorge Brando, da P&A Marketing Internacional, do Brasil, comentou algumas novidades e tendências de consumo para o segmento. “Percebemos um avanço das marcas próprias no Brasil e no mundo, que representa rentabilidade para o setor e preços melhores para os clientes. Além disso, são perceptíveis as novas medidas e hábitos de consumo, novos produtos no mercado, novos equipamentos e novos consumidores, principalmente nos mercados emergentes e países produtores. É preciso aproveitar as oportunidades e investir nessas novas tendências, indo ao encontro das necessidades dos consumidores, que buscam inovação, praticidade e opção para todos os orçamentos.”

Biotecnologia

Temas relacionados à biotecnologia também foram tratados na Conferência. O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Alan Carvalho de Andrade, destacou as vantagens que o sequenciamento do DNA do café conilon pode trazer para os produtores rurais. “Se já sabemos as características genotípicas do modelo, temos como prever quantidade da produção, as doenças mais suscetíveis, tamanho das plantas e outras informações que podem diminuir o custo do cultivo”, considerou.

O representante da Nestlé, Pierre Broun, chefe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Nestlé, R&D, na França, explicou que “Os marcadores genéticos tornam possíveis a elaboração de mapas genéticos do conilon, que podem ajudar a descobrir os fatores de qualidade do produto. Os consumidores estão cada vez mais exigentes e interessados em saber a procedência do café. Identificar os marcadores facilita o controle das fábricas sobre a qualidade do produto”.

Pierre Marraccini, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), falou sobre a caracterização molecular de determinantes envolvidos na tolerância à seca. “A seca é um dos fatores do meio ambiente que mais afetam o café, diminuindo o grão e trazendo outros defeitos que abaixam a qualidade da bebida”, afirma. Marraccini chama a atenção para o efeito socioeconômico que a seca pode trazer, com a repercussão em queda na renda dos cafeicultores. “Para reduzir os efeitos da seca no café, é necessário usar os genes de grupos tolerantes para desenvolver variedades que suportam mais a falta de água”, apontou.

Pesquisas do Incaperviram referência

O pesquisador do Incaper e coordenador do Programa Estadual de Cafeicultura do Estado, Romário Gava Ferrão, apresentou a importância do robusta, o programa de pesquisa desenvolvido no Espírito Santo e os resultados alcançados. “Temos 40 mil propriedades em 64 municípios do Espírito Santo que produzem o café conilon e muitas delas usam os materiais genéticos elaborados pelo Incaper e parceiros. Isso nos levou a ser um grande produtor e, este ano, temos a estimativa de colher 9,3 milhões de sacas somente de conilon no Estado”, afirmou Ferrão.

Romário também destacou as pesquisas, que começaram em 1985 pelo Incaper, e que deram origem a várias publicações, que fazem com que esse conhecimento

chegue até pesquisadores tanto do Brasil quanto de outros países, e também aos produtores por meio dos extensionistas que orientam sobre a melhor forma de plantio, poda, nutrição e adubação.

“Realizamos trabalhos conjuntos com instituições nacionais e internacionais para identificar plantas de conilon com características de interesse dos consumidores. De posse dessas informações, já criamos e vamos lançar daqui a um ano novas variedades do robusta que vão produzir mais e com mais qualidade”, salienta Romário Gava Ferrão.

Qualidade provada e aprovada

Além das informações divulgadas nas palestras do evento, a qualidade do conilon capixaba também pôde ser comprovada na prática. Durante os dias da conferência, o café produzido no Estado foi o principal ingrediente das degustações. Duas cafeterias serviram a bebida aos participantes, num blend composto por 60% arábica e 40% conilon.

Provadores profissionais de várias nacionalidades tiveram a chance de testar – e atestar o quão especial é o café conilon produzido no Espírito Santo. E a qualidade dos melhores robustas capixabas não saiu da boca de quem entende do assunto. Foram selecionados 50 lotes de conilon especial dos municípios de Jaguaré, Vila Valério, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Muqui e Castelo.

Segundo o representante da Conilon Brasil, Arthur Fiorott, um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados foram levadas para uma cafeteria em Los Angeles, na Califórnia. “É justamente esse o intuito da sala de degustação. É importante disponibilizar os cafés para que o mundo inteiro conheça, e reconheça a qualidade do conilon capixaba. Este foi o primeiro passo do processo de negociação”, comemora Arthur Fiorott.

O Mercado e a Indústriade Solúvel

No painel focado no mercado, a primeira intervenção foi de Sulanini Menon, Chefe Executiva do CoffeeLab, da Índia, que vem se destacando pelo trabalho voltado para a melhoria de qualidade, e que posiciona a Índia como o país produtor que vem obtendo maior agregação de valor em suas vendas de café robusta. Menon indicou a sua opinião de que o conilon brasileiro - bem processado – apresenta nuances de bebida e aroma semelhantes àquelas típicas dos cafés robustas finos, com um bom potencial no mercado de qualidade. Na mesma direção centrou-se a apresentação de Ted Lingley, presidente da Associação Norte Americana de Cafés Especiais, que reafirmou os atributos qualitativos do robusta, que desmistificam a imagem de que a variedade prima apenas pelo maior rendimento industrial ou por representar simplesmente a massa.

Na palestra sobre o café solúvel, Sérgio Tristão, Presidente da RealCafé, fez um histórico da indústria de solúvel brasileira, estruturada a partir dos estímulos dados pelo Governo com base na existência de enormes estoques de cafés arábicas em estoque, que serviriam como matéria prima para a indústria. Assinalou também que o café solúvel representa hoje cerca de 22% do consumo mundial, equivalendo a 32 milhões de sacas. Mencionou os prejuízos causados à indústria brasileira de solúvel (quadro na página seguinte) pela discriminação tarifária aplicada ao produto brasileiro na Europa. Frisou que o imposto de 9% sobre as importações na Europa, nos últimos sete anos, significou a perda de exportações ao redor de 5,5 milhões de sacas, o que impacta igualmente os produtores, pela menor demanda.

Em sua análise de mercado, o Diretor do CeCafé Guilherme Braga Pires, apresentou dados que mostram que a utilização de cafés robustas representa algo entre 40% e 42% do consumo mundial, ou seja em torno de 55 a 58 milhões de sacas anuais, em ascensão. O palestrante destacou também a demanda interna de conilon, francamente ascendente, para atender as necessidades de matéria prima da indústria de torrefação e moagem e de solúvel (quadro abaixo).

Ao comentar o desempenho da Unicafé Comércio Exterior, empresa responsável pelo maior volume de café já comercializado do Brasil para o mercado externo, 71,550 milhões de sacas e uma receita cambial na ordem de 8 bilhões e 650 milhões de dólares, o seu presidente, Jair Coser, destacou a trajetória de 42 anos de atuação no comércio exterior. Citou as dificuldades iniciais, mas frisou que a sua persistência e atuação competente de sua equipe tornaram possível que a Unicafé tenha se transformado num caso de sucesso empresarial.

INCA

PER

Jair Coser

INCA

PER

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

22 - 23 - 24 - 25 - 26 - 27.pdf 5 02/07/2012 18:49:37

Page 6: 60 - 01 - CCCRJcccrj.com.br/revista/842/22.pdf · 2012. 10. 25. · um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados

Durante uma semana, Vitória, no Espírito Santo, tornou-se a capital mundial do conilon. Foi realizada entre os dias 11 e 15 de junho, a Conferência Internacional de Coffea canephora, no Centro de Convenções de Vitória. O evento teve como objetivo apresentar e discutir temas associados à pesquisa, desenvolvimento e inovações; qualidade, mercado e indústria com representantes de vários países do mundo.

“Um pé de café conilon tem mais ciência, mais pesquisa, do que os telefones celulares mais modernos. Além de fazer riqueza, o café faz com que brasileiros simples, humildes, realizem seus sonhos”. Ao comparar os cafeicultores com Steve Jobs, Evair Vieira de Melo, presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), arrancou aplausos das mais de 500 pessoas que participaram da abertura da conferência.

“Era difícil de imaginar que esse café que já foi tão estigmatizado, que já teve tanto preconceito, hoje é capaz de reunir a comunidade internacional. Esse avanço é resultado do planejamento e da integração entre Governo

e sociedade, e de todos os elos envolvidos na cafeicultura. O café está no dia-a-dia, faz parte da vida dos capixabas, e com o café forte o Espírito Santo e as famílias capixabas se fortalecem", destacou o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli.

Para o produtor rural Francisco de Assis e Silva, de Afonso Cláudio, o intercâmbio de informações é de grande importância. “Estamos tendo a oportunidade de conhecer a realidade de vários países produtores e as demandas dos consumidores internacionais. Isso contribui para que possamos direcionar nossos investimentos adequadamente”, disse.

Perspectivas do conilonno mundo

O primeiro dia de trabalho da Conferência foi marcado por palestras sobre a transferência de tecnologia nos principais países produtores do mundo. O painel foi moderado pelo diretor executivo da Organização Internacional de Café (OIC), Robério Silva. O pesquisador, Aymbiré Almeida da

Fonseca, falou sobre a importância das pesquisas do conilon. As experiências de outros países produtores também foram apresentadas. Koffi NGoran, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Agronômica da Costa do Marfim, falou sobre os estudos desenvolvidos em seu país. O cultivo de conilon na Indonésia foi apresentado por Pranoto Soenarto, diretor de operações PT. As experiências de Uganda e os projetos estratégicos do Vietnã, maior produtor mundial de robusta, foram apresentadas em seguida. O presidente da Empresa de Consultoria e Pesquisa da Indochina (IRC) Vietnã, Phung Duc Thung, deu uma visão geral da produção vietnamita de café, destacando alguns problemas enfrentados. “A ausência de pesquisadores especializados, de políticas nacionais para o setor e a falta de investimentos infelizmente ainda são uma realidade no Vietnã. Entretanto, somos hoje o segundo maior produtor do mundo, ficando atrás apenas do Brasil”.

Na sequência, Carlos Henrique Jorge Brando, da P&A Marketing Internacional, do Brasil, comentou algumas novidades e tendências de consumo para o segmento. “Percebemos um avanço das marcas próprias no Brasil e no mundo, que representa rentabilidade para o setor e preços melhores para os clientes. Além disso, são perceptíveis as novas medidas e hábitos de consumo, novos produtos no mercado, novos equipamentos e novos consumidores, principalmente nos mercados emergentes e países produtores. É preciso aproveitar as oportunidades e investir nessas novas tendências, indo ao encontro das necessidades dos consumidores, que buscam inovação, praticidade e opção para todos os orçamentos.”

Biotecnologia

Temas relacionados à biotecnologia também foram tratados na Conferência. O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Alan Carvalho de Andrade, destacou as vantagens que o sequenciamento do DNA do café conilon pode trazer para os produtores rurais. “Se já sabemos as características genotípicas do modelo, temos como prever quantidade da produção, as doenças mais suscetíveis, tamanho das plantas e outras informações que podem diminuir o custo do cultivo”, considerou.

O representante da Nestlé, Pierre Broun, chefe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Nestlé, R&D, na França, explicou que “Os marcadores genéticos tornam possíveis a elaboração de mapas genéticos do conilon, que podem ajudar a descobrir os fatores de qualidade do produto. Os consumidores estão cada vez mais exigentes e interessados em saber a procedência do café. Identificar os marcadores facilita o controle das fábricas sobre a qualidade do produto”.

Pierre Marraccini, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), falou sobre a caracterização molecular de determinantes envolvidos na tolerância à seca. “A seca é um dos fatores do meio ambiente que mais afetam o café, diminuindo o grão e trazendo outros defeitos que abaixam a qualidade da bebida”, afirma. Marraccini chama a atenção para o efeito socioeconômico que a seca pode trazer, com a repercussão em queda na renda dos cafeicultores. “Para reduzir os efeitos da seca no café, é necessário usar os genes de grupos tolerantes para desenvolver variedades que suportam mais a falta de água”, apontou.

Pesquisas do Incaperviram referência

O pesquisador do Incaper e coordenador do Programa Estadual de Cafeicultura do Estado, Romário Gava Ferrão, apresentou a importância do robusta, o programa de pesquisa desenvolvido no Espírito Santo e os resultados alcançados. “Temos 40 mil propriedades em 64 municípios do Espírito Santo que produzem o café conilon e muitas delas usam os materiais genéticos elaborados pelo Incaper e parceiros. Isso nos levou a ser um grande produtor e, este ano, temos a estimativa de colher 9,3 milhões de sacas somente de conilon no Estado”, afirmou Ferrão.

Romário também destacou as pesquisas, que começaram em 1985 pelo Incaper, e que deram origem a várias publicações, que fazem com que esse conhecimento

chegue até pesquisadores tanto do Brasil quanto de outros países, e também aos produtores por meio dos extensionistas que orientam sobre a melhor forma de plantio, poda, nutrição e adubação.

“Realizamos trabalhos conjuntos com instituições nacionais e internacionais para identificar plantas de conilon com características de interesse dos consumidores. De posse dessas informações, já criamos e vamos lançar daqui a um ano novas variedades do robusta que vão produzir mais e com mais qualidade”, salienta Romário Gava Ferrão.

Qualidade provada e aprovada

Além das informações divulgadas nas palestras do evento, a qualidade do conilon capixaba também pôde ser comprovada na prática. Durante os dias da conferência, o café produzido no Estado foi o principal ingrediente das degustações. Duas cafeterias serviram a bebida aos participantes, num blend composto por 60% arábica e 40% conilon.

Provadores profissionais de várias nacionalidades tiveram a chance de testar – e atestar o quão especial é o café conilon produzido no Espírito Santo. E a qualidade dos melhores robustas capixabas não saiu da boca de quem entende do assunto. Foram selecionados 50 lotes de conilon especial dos municípios de Jaguaré, Vila Valério, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Muqui e Castelo.

Segundo o representante da Conilon Brasil, Arthur Fiorott, um profissional dos Estados Unidos provou e aprovou a qualidade do robusta. Amostras de grãos verdes e torrados foram levadas para uma cafeteria em Los Angeles, na Califórnia. “É justamente esse o intuito da sala de degustação. É importante disponibilizar os cafés para que o mundo inteiro conheça, e reconheça a qualidade do conilon capixaba. Este foi o primeiro passo do processo de negociação”, comemora Arthur Fiorott.

O Mercado e a Indústriade Solúvel

No painel focado no mercado, a primeira intervenção foi de Sulanini Menon, Chefe Executiva do CoffeeLab, da Índia, que vem se destacando pelo trabalho voltado para a melhoria de qualidade, e que posiciona a Índia como o país produtor que vem obtendo maior agregação de valor em suas vendas de café robusta. Menon indicou a sua opinião de que o conilon brasileiro - bem processado – apresenta nuances de bebida e aroma semelhantes àquelas típicas dos cafés robustas finos, com um bom potencial no mercado de qualidade. Na mesma direção centrou-se a apresentação de Ted Lingley, presidente da Associação Norte Americana de Cafés Especiais, que reafirmou os atributos qualitativos do robusta, que desmistificam a imagem de que a variedade prima apenas pelo maior rendimento industrial ou por representar simplesmente a massa.

Na palestra sobre o café solúvel, Sérgio Tristão, Presidente da RealCafé, fez um histórico da indústria de solúvel brasileira, estruturada a partir dos estímulos dados pelo Governo com base na existência de enormes estoques de cafés arábicas em estoque, que serviriam como matéria prima para a indústria. Assinalou também que o café solúvel representa hoje cerca de 22% do consumo mundial, equivalendo a 32 milhões de sacas. Mencionou os prejuízos causados à indústria brasileira de solúvel (quadro na página seguinte) pela discriminação tarifária aplicada ao produto brasileiro na Europa. Frisou que o imposto de 9% sobre as importações na Europa, nos últimos sete anos, significou a perda de exportações ao redor de 5,5 milhões de sacas, o que impacta igualmente os produtores, pela menor demanda.

Em sua análise de mercado, o Diretor do CeCafé Guilherme Braga Pires, apresentou dados que mostram que a utilização de cafés robustas representa algo entre 40% e 42% do consumo mundial, ou seja em torno de 55 a 58 milhões de sacas anuais, em ascensão. O palestrante destacou também a demanda interna de conilon, francamente ascendente, para atender as necessidades de matéria prima da indústria de torrefação e moagem e de solúvel (quadro abaixo).

Conilon em verso e prosa A origem do café na África, a descoberta do grão, a chegada das primeiras mudas e sementes ao Espírito Santo e os investimentos em pesquisa e tecnologia fazem parte da história e da evolução do café conilon. Elas foram contadas em forma de cordel na solenidade de abertura da Conferência Internacional de Coffea canephora. Os versos foram recitados pela própria autora Kátia Bobbio, que é natural de Conceição da Barra (ES). Estudiosa do folclóre e das coisas populares, ela é destaque em literatura de cordel no Espírito Santo e possui mais de 100 títulos publicados. O “Cordel do Centenário do Café Conilon no Espírito Santo” encantou os participantes do evento, que também receberam um exemplar impresso da obra.

Ao comentar o desempenho da Unicafé Comércio Exterior, empresa responsável pelo maior volume de café já comercializado do Brasil para o mercado externo, 71,550 milhões de sacas e uma receita cambial na ordem de 8 bilhões e 650 milhões de dólares, o seu presidente, Jair Coser, destacou a trajetória de 42 anos de atuação no comércio exterior. Citou as dificuldades iniciais, mas frisou que a sua persistência e atuação competente de sua equipe tornaram possível que a Unicafé tenha se transformado num caso de sucesso empresarial. 27

Lançamentos marcama Conferência A Conferência foi marcada também pelo lançamento de diversos produtos. Um café especial, com um blend formado por 70% de arábica e 30% de conilon foi lançado no evento. O Zimbro foi desenvolvido pela torrefadora mineira Santo Antonio Estate Coffee, membro da Associação Brasileira de Cafés Especiais (Brazil Specialty Coffee Association – BSCA), a partir do café arábica do Sul de Minas Gerais com o conilon especial produzido em Santa Teresa, no Espírito Santo. “Nossa meta é fazer o consumidor e a indústria entenderem a qualidade do conilon”, apontou o produtor Luís Carlos Gomes, que é um dos fornecedores para o novo blend.

Além do café, foram lançadas ainda a cachaça e a cerveja de café. As bebidas receberam o nome de Robusta, uma homenagem ao conilon, matéria-prima que garante cor, sabor e aroma às bebidas. O grão utilizando na produção da cachaça e da cerveja de café é cultivado em São Gabriel da Palha. Esta é a prova de que, além da xícara, o conilon pode estar presente em copinhos e tulipas, nas mais exigentes rodas de boteco.

INCA

PER

Ted Lingle

INCA

PER

INCA

PER

Koffi NGoran

Phung Duc Tung

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

22 - 23 - 24 - 25 - 26 - 27.pdf 6 02/07/2012 18:49:44