Introdução

O s i m p l a n t e s o s s e o i n t e g r a d o s atualmente têm um papel fundamental na

reabilitação dos pacientes com perda de dentes. A osseointegração definiu um novo conceito de planejamento nas reabilitações protéticas dos pac ientes desdentados, sendo menos

REABILITAÇÃO ESTÉTICA E FUNCIONAL UTILIZANDO IMPLANTE CONE

MORSE: RELATO DE CASO CLÍNICO

Resumo

O presente artigo tem como finalidade apresentar a descrição de um caso clínico utilizando implante do tipo cone morse com as dimensões 4,3x13mm realizando a técnica cirúrgica de dois estágios. A paciente com idade de 34 anos apresentava como queixa principal uma fratura no dente 24 após tratamento endodôntico. A paciente apresentava oclusão equilibrada com papilas preservadas após a exodontia do dente 24. A reabilitação foi conduzida com o uso de implante dentário. Os resultados revelaram que a colocação de implante do tipo cone morse foi uma técnica eficiente na obtenção da função oclusal e na estética dos tecidos periimplantares com a manutenção da arquitetura dos tecidos gengivais ao redor da restauração metalocerâmica.

Palavras Chaves: Implante dentário, Estética dentária, Cerâmica

Abstract

The article aimed to present a case report using a morse tapper connection implant with 4.3mm of diameter and 13mm length with two stages surgical technique.  A thirty-four years old patient broke her tooth after an endodontics treatment. The patient presented a balanced occlusion and preserved papillas after extraction of tooth. Dental implants were selested as a treatment. The results revealed that placing a morse tapper connection dental implant was an efficient technique to obtain an adequate occlusion and an  ideal esthetic gingival condition maintaining the soft tissue architecture around the metaloceramic restoration.Keywords: Dental Implant, Esthetic dental, Ceramics

CASPAR RC1 ,BARROS VM1*, SIMÃO ABR1, VAZ RR2, OLIVEIRA JÚNIOR CS2, DISCACCIATI JAC2, GUIMARÃES MM3

1Alunos do Curso de Especialização em Implantodontia da Faculdade de Odontologia da UFMG-Belo Horizonte Minas Gerais. 2Professores Adjunto do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia da UFMG-Belo Horizonte-Minas Gerais-Brasil. 3Professor Adjunto do Departamento de Clínica, Patologia e Clínica Odontológica da Faculdade de Odontologia da UFMG-Belo Horizonte-Minas Gerais-Brasil.

*Endereço para correspondência:Vinícius de Magalhães Barros Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Avenida Antônio Carlos, 6627 – Pampulha – Belo Horizonte – MG. CEP 31270-901 E-mail: viniciusmbarrros@hotmail.com

AESTHETIC AND FUNCTIONAL REHABILITATION USING MORSE CONE IMPLANT: CLINICAL CASE REPORT

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mutiladora e mais previsível1. O termo osseointegração foi definido pelo professor Branemark como um contato direto entre o osso vivo e a superfície do implante2.

Em restaurações sobre implante, a união da estrutura protética ao pilar pode ocorrer por meio do aparafusamento ou cimentação3, 4. A falta de adaptação passiva e o carregamento excessivo da prótese sobre o implante seriam os possíveis fatores que levariam ao afrouxamento e a fratura do parafuso de fixação resultando na instabilidade da conexão aparafusada5.

Esses problemas mecânicos levaram à busca de novos desenhos para a interface protética. Dentre os desenvolvimentos, podem-se destacar as junções internas ao implante. Os exemplos mais utilizados seriam o hexágono interno e o cone morse. O cone morse foi um termo originado da indústria de ferramentas mecânicas, que designa um mecanismo de encaixe, na qual dois elementos desenvolvem uma ação resultante em contato íntimo com fricção, quando um elemento “macho” cônico é instalado numa “fêmea” também cônica. Este tipo de encaixe foi inventado por Stephen A. Morse e o ângulo cone morse é determinado de acordo com as propriedades mecânicas de

cada material, nesse existe uma relação entre os valores do ângulo e o atrito entre as peças6.

Os movimentos entre o implante e componente protético poderiam levar a formação de uma microfenda nesta junção, portanto o maior embricamento entre as peças e consequente aumento do efeito morse pode ser positivo para o selamento da interface implante/pilar e, assim, para a saúde dos tecidos periimplantares7.

O objetivo do presente estudo é descrever um caso clínico de reabilitação estética e funcional em prótese dental unitária utilizando implante do sistema cone morse.

Caso clínico

A paciente E. D. F. com idade de 34 anos, sexo feminino, não fumante e sem alterações sistêmicas compareceu ao Centro de Tr iagem (CASEU) da Facu ldade de Odontologia da UFMG com a seguinte queixa principal: “Fraturei o dente após tratamento endodôntico em 2007 e estava muito incomodada com a falta do dente”. A paciente foi encaminhada ao Curso de Especialização em Implantodontia e, após a avaliação clínica, ficou evidenciado que a paciente apresentava

Figura 1 – Foto clínica inicial

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boa saúde bucal e bom padrão oclusal, com estabilidade em máxima intercuspidação habitual e guias anterior e laterais funcionais e preservadas (Figura 1). Em relação ao tecido mole da região edêntula foi possível observar tecido saudável, sem inflamação e papila distal do dente 23 e mesial do dente 25 preservadas (Figura 2 B). O exame radiográfico revelou uma pequena perda óssea no sentido gengivo-oclusal (Figuras 3 A e B), contudo foi definido que hav ia e spaço sufic i en te para o posicionamento tridimensional correto do implante.

Fase Cirúrgica

Após a anestesia local realizada com anestésico mepivacaína com adrenalina, 1:100.000, foi realizada a incisão sobre a crista

do rebordo alveolar edêntulo, ligeiramente deslocada para palatina, estendendo-se a região intrasulcular dos dentes 23 e 25. Um retalho de espessura total foi afastado garantindo o acesso cirúrgico ao tecido ósseo da região do dente 24 (Figura 4 A). Em seguida, com guia cirúrgico posicionado, foram realizadas as perfurações sequenciais para preparação do alvéolo cirúrgico (Figura 4 B). Foi selecionado um implante de formato cônico, de 4.3mm diâmetro por 13mm comprimento, da marca Neodent (Curitiba, Brasil). Optou-se pela utilização de um implante de conexão interna tipo cone morse. Seguindo a recomendação do fabricante, o implante foi posicionado 2.0mm abaixo da crista óssea (Figuras 5 A e B) com o torque final de instalação de 40 newtons. Em seguida foi fixado o tapa implante e o retalho foi suturado com fio de nylon 5.0.

Figuras 2 A e B – Exame clínico. A avaliação oclusal revelou um espaço protético satisfatório no sentido gengivo-oclusal e mesio-distal para as dimensões do primeiro pré-molar superior

Figuras 3 A e B – O exame radiográfico revelou pequena perda óssea em altura

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Após quatro meses, foi realizada radiografia per iapical da região que demonstrava íntimo contato entre a superfície óssea e toda a extensão do implante instalado (Figura 6 A). Em seguida foi realizada cirurgia de reabertura, com pequena incisão deslocada para palatina, e pequenas incisões relaxantes para possibilitar o reposicionamento vestibular do tecido ceratinizado. Um cicatrizador de 4.5x2.5mm foi instalado e o retalho de espessura parcial reposicionado, sendo suturado com fio de nylon 5.0 (Figura 6 B).

Após dez dias ocorreu remoção da sutura e foi selecionado e instalado o componente protético munhão universal cone morse nas dimensões 4.5/4/2.5mm utilizado

para prótese unitária cimentada. Para a instalação do componente protético sobre o implante utilizou o torque de 32 newtons, conforme recomendação do fabricante. Sobre o componente foi confeccionada restauração provisória para condicionamento do tecido perimplantar (Figuras 7 A e B).

Após as etapas clínicas de moldagem e obtenção de modelos de trabalho foi confeccionada a coroa metalocerâmica, sendo cimentada sobre o componente protético com cimento fosfato de zinco conforme as especificações do fabricante (Figuras 8 A e B).

O exame radiográfico final após a cimentação da restauração metalocerâmica revelou sua boa adaptação cervical, assim

Figura 4 A – Visualização do tecido ósseo após incisão e descolamento do retalho. Figura 4 B –

Estabilização do guia cirúrgico para realização das etapas cirúrgicas.

Figuras 5 A e B – Etapas cirúrgicas para instalação do implante cônico do tipo cone morse com 4.3mm diâmetro por 13mm de comprimento

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como do componente protético selecionado (Figura 8C).

Discussão

O sistema cone morse é um mecanismo de encaixe bicônico em que a efetividade é significantemente aumentada devido à pré-carga gerada pelas superfícies de contato7. Os testes mecânicos realizados em ambiente laboratorial utilizando implantes com junções cônicas internas ou “cone morse” têm resultados excelentes quanto a estabilidade do componente protético, demonstrando que esse tipo de junção resulta em maiores valores de retenção da prótese sobre implante8. Segundo Soares et al. (2009)9 o sistema cone morse tem

como grande vantagem a capacidade para suportar cargas transversais, pois possui uma maior área de contato entre o implante e o abutment quando comparados a implantes com mesma macrogeometria.

Ressalta-se aqui a importância do planejamento reverso prévio a instalação de implantes do sistema cone morse. Diante da menor versati l idade dos componentes protéticos deste sistema, o posicionamento tridimensional correto é imperativo no resultado estético final10.

Os conceitos de “platform switch”, também aplicados aos implantes do sistema cone morse, passaram a ser descritos pela literatura moderna como fatores importantes para obtenção de estética e manutenção do

Figura 6 A – Exame radiográfico realizado após 4 meses. Figura 6 B – Procedimentos cirúrgicos de reabertura realizados após 4 meses e instalação de cicatrizador com as dimensões de 4.5x2.5mm.

Figura 7 A – Procedimentos de instalação do munhão universal cone morse com as dimensões 4.5/4/2.5mm. Figura 7 B – Preservação das papilas interproximais e definição do contorno gengival proporcionado pela restauração provisória

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tecido periimplantar longitudinalmente. O caso clínico revelou uma estética satisfatória com a preservação das papilas interproximais e definição do contorno gengival proporcionado pela restauração provisória (Figura 7 B).

Contrariamente a esperada perda óssea marginal ao redor de um implante de conexão externa e plataforma combinada, descrita por Adell et al. (1981)11, de 1.5mm no primeiro ano após a instalação do componente protético e de 0.1mm anualmente; os primeiros resultados com implantes de “platform switch” resultaram e m m a n u t e n ç ã o d o t e c i d o ó s s e o perimplantar12.

Atualmente duas teorias são utilizadas para explicar a menor perda óssea observada ao redor do implantes do sistema “platform switch”. A primeira, biológica, afirma que o distanciamento horizontal do infiltrado inflamatório ao redor do “microgap” entre o implante e o componente protético, reduziria o efeito nocivo das bactérias sobre a crista óssea, e consequentemente sua preservação13, 14, 15, 16. A segunda, mecânica, demonstrou que a distribuição das tensões nos implantes restaurados com plataforma “switching” foi melhor e mais homogênea do que nos

implantes de platafor ma combinada, resultando em menor concentração de tensão sobre o osso perimplantar17, 18, 19, 20.

A colocação do implante em uma área cicatrizada oferece uma maior previsibilidade d o c o m p o r t a m e n t o d o t e c i d o m o l e perimplantar em comparação com os procedimentos clínicos que envolvem a exodontia e instalação imediata de implantes21. Nas figuras 8 A e B observamos quantidade e qualidade dos tecidos moles periimplantares e a harmonia com os dentes adjacentes.

O exame radiográfico final após a cimentação da restauração metalocerâmica revelou o maior contato entre o interior do implante e a face externa do munhão universal CM demonstrando o embricamento do efeito Morse (figura 8 C). O selamento desta interface implante/componente protético é um dos re sponsáve i s pe la saúde dos tec idos periimplantares. A técn ica c i rúrg i ca execu tada juntamente com o tratamento restaurador apresentou sucesso estético e funcional, indicando que prótese sobre implante depende sempre do planejamento operatório específico para cada situação clínica.

C"Figuras 8 – Cimentação da restauração

m e t a l o c e r â m i c a ( A e B ) . E x a m e

radiográfico final após a fixação da

restauração metalocerâmica (C)

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Conclusão

A colocação de implante do tipo cone morse foi uma técnica eficiente na reabilitação da função oclusal e estética dos tecidos periimplantares, com a manutenção da arquitetura dos tecidos gengivais ao redor das restaurações provisória e definitiva.

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Recebido em Setembro de 2012Aceito em Outubro de 2012

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