#75 Oásis shutterstock - brasil247.com · ANATOMIA DO PÊNIS diane Kelly explica como é esse...

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#75 EDIÇÃO SHUTTERSTOCK OÁSIS INCRÍVEIS IMAGENS DE CRIATURAS MICROSCÓPICAS MUNDO PEQUENO VIAGEM AO ARAL O mar perdido ANATOMIA DO PÊNIS Diane Kelly explica como é esse órgão básico EMBU DAS ARTES Cultura e história ao lado de São Paulo

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#75

Edição

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Oásis

incrívEis imagEns dE criaturas microscópicasMUNDO PEQUENO

VIAGEM AO

ARALo mar perdido

ANATOMIA DO PÊNISdiane Kelly explica como é esse órgão básico

EMBU DAS ARTEScultura e história ao lado de são paulo

oásis . VIAGEM1/11

É preciso descobrir novas fontes de inspiração, novas formas de

‘trabalhar com a hipersensibilidade do coração’, oferecer ao público e

aos próprios artistas ocidentais novos padrões de estética e de criatividade

por

LUIS PELLEgRINI

Editor

N a semana passa, Oásis trouxe como maté-ria de capa uma galeria de fotos do mundo macro obtidas pelo telescópio espacial Hub-

ble. Agora, invertendo a ordem dos fatores, mas não a sua importância, preparamos para este número uma galeria de fotos do mundo micro. São algumas das fotos vencedoras de um concurso nos Estados Unidos, o Wellcome Image Awards, uma das mais importantes organizações mundiais para a promoção da fotografia científ ica.Como podemos apreciar nessas fotografias, a moderna tecnologia microscópica possibi l ita visões extraordi-nárias de criaturas vivas extremamente pequenas. Os concorrentes uti l izaram uma ampla gama de câmeras, lentes e técnicas de disparo, do microscópio eletrônico à fotografia médica.À parte a beleza das formas e cores que encontramos no mundo micro – que nada f icam a dever às maravi-lhas gigantescas do espaço sideral – essas fotos tira-das por microscópios também ensinam a mesma l ição daqueles obtidas pelo telescópio Hubble. A l ição de humildade que todos devemos ter diante dos mistérios insondáveis da Criação. Seja lá o que foi que inventou tudo isso, Deus ou qualquer outra coisa merecedora desse nome, é preciso que tiremos o chapéu em sinal de respeito e admiração.

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oásis . FOTOGRAFIA

FOT

Og

RA

FIA

VIAGEM AO MUNDO PEQUENO Incríveis imagens de criaturas microscópicas

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nsetos que parecem cria-turas alienígenas, células embrionárias similares a árvores, cristais de muitas

cores; são revelações do mundo micros-cópico que gira em torno a nós, mas que não conseguimos ver, a não com a ajuda de poderosos instrumentos.

Aqui estão as fotos finalistas da 15ª edição do Wellcome Image Awards 2012, concurso organizado pela Wellcome

Collection, o mais importante banco de dados em todo o mundo para imagens do campo médico. Os vencedores foram selecionados por um júri composto de cientistas, jornalistas e editores de foto-grafia. Os concorrentes utilizaram uma ampla gama de câmeras, lentes e técnicas de disparo, do microscópio eletrônico à fotografia médica.

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A moderna tecnologia possibilita visões extraordinárias de criaturas extremamente pequenas. Confira os resultados do último concurso Wellcome Image Awards de fotografia científica

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UMA fOlhA DE lAVANDA

AumentAdA pelo mICrosCópIo eletrônICo Até os 200 míCron, essA folhA de lAvAndA ApAreCe AssIm

Foto: Annie Cavanagh e David McCarthy/Wellcome Images

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MINúscUlOs GIrINOs AfrIcANOs

ovóCItos são CélulAs germInAtIvAs femInInAs ou CélulAs sexuAIs produzIdAs nos ovárIos dos AnImAIs. nA foto ApAreCem ovóCItos de umA rã

AfrICAnA (xenopus lAevIs) vIstos Ao mICrosCópIo. seu dIâmetro é entre 800 e 1000 míCron e CAdA ovóCIto é CIrCundAdo por mIlhAres de CélulAs

folICulAres (em Azul nA ImAgem), enquAnto A Cor vermelhA evIdenCIA os vAsos sAnguíneos que levAm

oxIgênIo A todo esse Conjunto de CélulAs vIvAs

Foto: Vincent Pasque, University of Cambridge/Wellcome Images

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DIVIDIr PArA MUltIPlIcAr

umA CélulA CAnCerígenA (helA) no Ato de se reproduzIr por mItose. é o que mostrA estA

InCrível fotogrAfIA feItA AtrAvés de mICrosCópIo ConfoCAl e

utIlIzAndo-se A téCnICA do tIme-lApse. A Cor vermelhA evIdenCIA

o dnA; A Cor Azul mostrA A membrAnA CelulAr nAs várIAs

fAses dA dIvIsão por mItose

Foto: Kuan-Chung Su and Mark Petronczki, LRI/Wellcome Images

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fOlhAs AO VENtO

A ImAgem feItA AtrAvés de mICrosCópIo ConfoCAl

mostrA As estruturAs do teCIdo Interno de umA

folhA dA plAntA ArAbIdopsIs thAlIAnA, Com um CAmpo

horIzontAl de 200 míCron de lArgurA. essA plAntA,

pArente dA mostArdA e dAs Couves, é umA dAs

mAIs estudAdAs pelos botânICos. é utIlIzAdA Como

orgAnIsmo modelo pArA As CIênCIAs vegetAIs

Foto: Fernan Federici and Jim Haseloff/Wellcome Images

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crIstAIs DE cAfé

CerCA de 90% dA populAção AdultA oCIdentAl Consome CAfé todos os dIAs, mAs umA foto AssIm nunCA Antes forA vIstA. o que ApAreCe fotogrAfAdo pelo mICrosCópIo eletrônICo é um CrIstAl de CAfeínA, A substânCIA AlCAloIde ContIdA nos grãos de CAfé que possuI Ação estImulAnte do sIstemA nervoso CentrAl. nAs plAntAs que A produzem, A CAfeínA CostumA AgIr Como meCAnIsmo de defesA, pArAlIsAndo e mAtAndo Alguns Insetos que se nutrem dAs suAs folhAs e frutos

Foto: Annie Cavanagh and David McCarthy/Wellcome Images

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sErá UM GAlO, NO fUtUrO

Ao sIstemA vAsCulAr de um embrIão de frAngo (gAllus gAllus)

fotogrAfAdo doIs dIAs Após A feCundAção Com o uso de um mICrosCópIo de fluoresCênCIA.

grAçAs A umA Injeção de dextrAno fluoresCente foI revelAdA todA

A vAsCulArIdAde utIlIzAdA pelo embrIão pArA AlImentAr-se A pArtIr

dA gemA dentro do ovo. nestA fAse de desenvolvImento, o embrIão e suA vAsCulArIzAção Ao redor

oCupAm umA áreA pouCo menor que umA moedA de 5 CentAvos.

Foto: Vincent Pasque/Wellcome Images

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O QUE há DENtrO DE NOssAs cAbEçAs

estA é A fotogrAfIA venCedorA do ConCurso: elA mostrA A superfíCIe (Córtex) de um Cérebro humAno pertenCente A um pACIente epIléptICo. A ImAgem mostrA As ArtérIAs vermelhAs brIlhAntes que suprem o Cérebro Com nutrIentes e oxIgênIo e As veIAs roxAs que removem o sAngue venoso. foI tIrAdA numA sAlA operAtórIA, pouCo Antes que fossem ImplAntAdos CIrurgICAmente no pACIente eletrodos IntrACerebrAIs, pArA tentAr CurAr A suA moléstIA.

Foto: Robert Ludlow UCL Institute of Neurology, Londres

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O MONstrO DOs EsGOtOs

observAdo de tão perto grAçAs Ao mICrosCópIo eletrônICo, esse mosquIto-dos-esgotos (psyChodIdAe) não ApresentA um AspeCto muIto trAnquIlIzAdor. dIstInguem-se ClArAmente os pelos que reCobrem InteIrAmente o seu Corpo e As AsAs. Como sugere seu nome em Inglês, drAIn fly, esse Inseto busCA esgotos doméstICos, onde nAsCem e CresCem As suAs lArvAs.

Foto: Kevin Mackenzie, University of Aberdeen/Wellcome Images

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AlGA rADIOAtIVA

pAreCe um AvIso IndICAtIvo dA presençA de rAdIAções, mAs

trAtA-se ApenAs de umA AlgA unICelulAr dA fAmílIA dAs

dIAtomeAs, fotogrAfAdA Com um mICrosCópIo de vArredurA. Com

tAmAnho de ApenAs 80 míCron de dIâmetro, As dIAtomeAs são

reCobertAs por umA CApsulA de sIlíCIo. são As Componentes

mAIs Comuns do fItoplânCton, usAdAs Com frequênCIA Como

IndICAdores dAs CondIções AmbIentAIs e dA quAlIdAde dA

Foto: Anne Weston, LRI, CRUK/Wellcome Images

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crIstAIs cONtrA A DIArrEIA

o que ApAreCe nestA fotogrAfIA em Cores fAlsAs é A loperAmIdA, um fármACo ArA CombAter A dIArreIA que Age reduzIndo A motIlIdAde IntestInAl e A veloCIdAde dA pAssAgem do AlImento pelo IntestIno. esse grupo de CrIstAIs mede ApenAs CerCA de 250 míCron de dIâmetro

Foto: Annie Cavanagh and David McCarthy/Wellcome Images

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AlGA VErDE

A mICrogrAfIA mostrA umA AlgA verde (mICresterIAs

dentICulAtA), tAmbém ConheCIdA Como

desmIdIáCeA, um tIpo de orgAnIsmo vegetAl muIto

Comum que gostA de vIver em águAs áCIdAs. estA desmIdIáCeA em pArtICulAr

é ChAtA, unICelulAr, ApresentAndo duAs vAlvAs (semICélulAs). o CAmpo dA ImAgem mede ApenAs 150

Foto: Spike Walker/Wellcome Images

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BIE

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EARAL O mar perdido

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que são essas centenas de navios enferrujados, atirados sobre as areias do deserto? São os restos de um dos

maiores desastres ambientais já produzi-dos pela mão do homem. Até pouco mais de vinte anos, todos eles navegavam sobre as águas do quarto maior lago do planeta em superfície. Ele se estendia sobre essa área hoje ressequida. Era o lago Aral, ver-dadeiro mar salgado de origem oceânica

situado na fronteira entre o Uzbequistão e o Cazaquistão.

Da década de 1970 até hoje, sua su-perfície foi reduzida em 75%, e dos 68 mil quilômetros quadrados da área original sobram apenas cerca de 10%. Os restantes 90% são só areia, entremeada aqui e ali de alguns tufos vegetais de espécies que conseguem vencer a altíssima salinidade do solo. Toda a água que outrora existiu, simplesmente desapareceu.

Como isso aconteceu? Nos tempos da Guerra Fria, entre as décadas de 1950 e 1960, para incrementar a produção de algodão numa região árida como o Uzbe-quistão, o regime soviético pôs em prática um projeto de desvio através de canais artificiais das águas de dois rios – o Amu Darya e o Syr Darya - que, desde tempos imemoriais, alimentavam o mar de Aral. A água desviada foi utilizada para irrigar os campos das recentes culturas agrícolas estabelecidas nas áreas próximas.

Sem os rios que o alimentavam, o Aral rapidamente secou, deixando em seu lugar um deserto de areia salgada e tóxica sobre a qual sobrevivem apenas os esqueletos em decomposição das naves que, no passado, singravam suas águas. Para criar as plan-tações de algodão, com efeito, enormes quantidades de herbicidas altamente tóxi

O

ele era um verdadeiro mar salgado situado no coração da ásia Central. seu quase total desaparecimento nas últimas décadas é um dos maiores desastres ecológicos da históriaFotos: Divulgação

http://goo.gl/xwGSO

ArAl, o mAr perdidode: isabel Coixet, jornalista espanhola especializada em documentários

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cos foram utilizadas, poluindo irremediavel-mente toda a área circundante. A tal ponto que, ainda hoje, a poeira poluidora é levada pelo vento das frequentes tempestades de areia até os picos das montanhas do Himalaia, cordilheira não mui-to distante dali.

Antes dessa hecatombe ecológica, os rios que alimentavam o mar de Aral mantinham a baixa concentração salina e mineral da água, permitin-do a existência de um rico ecossistema aquático que garantia o sustento de mais de 60 mil pesca-dores.

Hoje, em muitos pontos, o litoral recuou mais de 100 quilômetros. Esse outrora vasto mar inte-

rior está agora dividido em três porções menores, todas elas em avançado processo de desertifica-ção.

A outrora próspera indústria pesqueira foi praticamente extinguida, provocando desempre-go e dificuldades econômicas. A região também foi fortemente poluída, acarretando graves proble-mas de saúde pública. O recuo do mar também já teria provocado uma acentuada mudança climáti-ca na região, com verões cada vez mais quentes e secos, e invernos mais frios e longos.

Nos últimos anos, o Cazaquistão encetou esforços contínuos para salvar do total desapare-cimento pelo menos a pequena porção restante do norte do Mar de Aral. Como parte desse esforço, o projeto de uma barragem foi concluída em 2005 e, graças a ela, em 2008 o nível de água nessa área já havia subido doze metros a partir de seu nível mais baixo, ocorrido em 2003. A salinidade caiu, e os peixes ali agora são encontrados em núme-ro suficiente para viabilizar pelo menos a pesca esportiva. No entanto, as perspectivas para o mar remanescente, ao sul permanecem sombrias.

“Esse outrora vasto mar interior está agora dividido em três porções menores, todas elas em avançado processo de desertificação”

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O Mar de Aral, em fotos por satélite, sucessivamente nos anos 1989, 2003 e 2009. A redução de suas águas é simplesmente dramática.

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CIÊ

NC

IA

ANATOMIA DO PÊNIS Diane Kelly explica como é esse órgão básico

1/4oásis . CIÊNCIA

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iane A. Kelly é pesquisadora sênior da Universidade de Massachusetts, em Amherst.

Ela estuda a anatomia dos vertebrados, em particular a conexão que existe en-tre o design e a função reprodutiva dos órgãos. Seus estudos incluem a evolução dos sistemas copulatórios e a diferencia-ção sexual no sistema nervoso. Ela é bem conhecida no mundo científico por seus

trabalhos originais a respeito da anatomia e da função do pênis nos vertebrados. Dia-ne escreve também livros para crianças, cria exposições para museus de ciências, já auxiliou na exumação de animais pré--históricos, como um mastodonte, além de criar jogos para o aprendizado de ciências

D

há fatos fundamentais sobre o corpo humano sobre os quais, por incrível que pareça, ainda sabemos muito pouco. por exemplo: Como funciona a ereção dos mamíferos? diane Kelly, estudiosa de anatomia dos vertebrados, explica tudo neste vídeo do ted-Ideas Worth spreadingtraDução para o português brasileiro por lisângelo berti. revisão De naDja nathan

http://goo.gl/xwGSO

o que não sAbíAmos sobre a anatomia do pênis

quando vou a festas, normalmente não demora muito para as pessoas descobrirem que sou uma cientista e que estudo o sexo. então começam as perguntas. e as perguntas normalmente têm um formato muito particular. Começam com a frase, “um amigo me disse,” e então elas terminam com a frase, “Isso é verdade?” na maioria das vezes fico feliz em dizer que posso responder, mas às vezes tenho que dizer, “sinto muito, mas eu não sei porque não sou esse tipo de médica.”

ou seja, não sou clínica, sou uma bióloga comparativa que estuda anatomia. e meu trabalho é olhar dúzias de diferentes espécies de animais e tentar descobrir como seus tecidos e órgãos funcionam quanto tudo vai bem, ao invés de tentar descobrir como consertar as coisas quando funcionam mal, igual a muitos de vocês. o que eu faço é procurar por semelhanças e diferenças nas soluções que eles desenvolveram para problemas biológicos fundamentais.

hoje estou aqui para defender que isto de maneira nenhuma é uma atividade esotérica em uma torre de marfim que encontramos em nossas universidades, mas um amplo estudo através de espécies, tipos de tecidos e sistemas orgânicos que pode produzir conceitos que tem implicações diretas na saúde humana. Isso é verdade em dois dos meus mais recentes projetos sobre as diferenças sexuais no cérebro, e meu trabalho mais maduro sobre a anatomia e função dos pênis. Agora vocês sabem por que eu sou a alma das festas.

hoje vou dar a vocês um exemplo extraído do meu estudo sobre o pênis para mostrar a vocês como o conhecimento vindo dos estudos do sistema de um órgão forneceu conceitos bem diferentes. tenho certeza de que todos na plateia já sabem -- tive que explicar pro meu filho de 9 anos semana passada -- pênis são estruturas que transferem esperma de um indivíduo para outro. e o quadro atrás de mim dá uma pálida ideia de como ele é comum entre os animais. há uma grande quantidade de variação anatômica. você encontra tubos musculares, pernas modificadas, barbatanas modificadas, bem como o carnoso dos mamíferos, o cilindro inflável que nos é bem familiar -- pelo menos para a metade de vocês.

penso que vemos essa tremenda variação porque é uma solução verdadeiramente efetiva para um problema biológico bem básico, que é colocar o esperma em uma posição que encontre os óvulos e forme zigotos. o pênis na verdade não é indispensável para a fertilização interna, mas quando a fertilização interna evolui, os pênis quase sempre a seguem.

e o que me perguntam quando começo a falar sobre isso, na maioria das vezes, é “o que

te deixou interessada nesse assunto?” e a resposta é esqueletos. vocês não pensariam que esqueletos e pênis têm muito a ver um com o outro. Isso porque tendemos a pensar nos esqueletos como sistemas de alavancas rígidas que produzem velocidade ou força. minhas primeiras incursões na pesquisa biológica, como graduanda em paleontologia de dinossauros, na verdade estavam dentro dessa área.

mas quando fui fazer o mestrado em biomecânica, eu queria muito encontrar um projeto de dissertação que expandisse nosso conhecimento sobre a função do esqueleto. tentei um punhado de coisas diferentes. muitas não foram em frente. mas um dia comecei a pensar sobre o pênis dos mamíferos. é realmente um tipo estranho de estrutura. Antes que possa ser usado para fertilização interna, seu comportamento mecânico tem que mudar de forma bem dramática. na maior parte do tempo é um órgão flexível. fácil de dobrar. mas antes de ser colocado em uso durante a copulação ele tem que se tornar rígido, tem que se tornar difícil de dobrar e mais que tudo, tem que funcionar. um sistema reprodutivo que falha na função produz um indivíduo que não tem descendência, e esse indivíduo é jogado para fora do patrimônio genético.

então pensei, “eis um problema que implora por um sistema esquelético -- não como esse aqui, mas um assim -- porque, funcionalmente, um esqueleto é qualquer sistema que apoie tecidos e transmita forças. eu já sabia que animais como esta minhoca, na verdade a maioria dos animais, não apoia os seus tecidos enrolando-os sobre os ossos. Ao invés disso são mais como balões d’água reforçados. usam um esqueleto que chamamos de esqueleto hidrostático. e um esqueleto hidrostático usa 2 elementos. o apoio do esqueleto vem de uma interação entre um fluído pressurizado e uma parede de tecido que o cerca mantida em tensão e reforçada com proteínas fibrosas. e a interação é crucial. sem esses 2 elementos você não tem apoio. se você tem fluído sem parede para cercá-lo e manter pressionado, você tem uma poça d’água. e se temos apenas a parede sem fluído dentro para colocar a parede em tensão, temos um pedaço de pano molhado.

quando se olha para o pênis em corte transversal, ele tem muito das características de um esqueleto hidrostático. tem um espaço central de tecido esponjoso erétil que é preenchido com fluído -- sangue no caso -- cercado por uma parede de tecido que é rica de uma proteína estrutural rígida chamada colágeno.

mas quando iniciei este projeto, a melhor explicação que pude encontrar para a ereção peniana era que a parede era cercada por esses tecidos esponjosos, e os tecidos esponjosos preenchidos com sangue e a pressão sobe e ‘voilá’! ele fica ereto.

o que não sAbíAmos sobre A AnAtomiA do pênis

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Isso me explicou a expansão -- fazia sentido: mais fluído, temos os tecidos expandindo -- mas isso na verdade não explicava a ereção. porque não há mecanismo nesta explicação para tornar essa estrutura difícil de ser dobrada. e ninguém havia sistematicamente observado a parede de tecido. então pensei, a parede de tecido é importante nos esqueletos. tem que fazer parte da explicação.

e este foi o ponto no qual meu conselheiro do mestrado disse, “opa! espera aí. mais devagar.” porque depois de 6 meses comigo falando sobre isto, acho que ele finalmente percebeu que eu levava a sério esse negócio de pênis.

então ele me fez sentar, e me avisou. Algo assim, “Cuidado ao ir por este caminho. não tenho certeza se este projeto vai vingar.” porque ele tinha medo de que eu estivesse indo para uma armadilha. eu estava assumindo uma questão socialmente embaraçosa com uma resposta que ele pensava que poderia não ser particularmente interessante. e isso porque todo esqueleto hidrostático que já havíamos encontrado na natureza até agora tinha os mesmos elementos básicos. ele tinha o fluído central, tinha a parede que o cerca, e as fibras que reforçam a parede arranjadas em hélices atravessadas ao longo do eixo do esqueleto.

A imagem atrás de mim mostra um pedaço de tecido em um destes esqueletos helicoidais cruzados cortado para que vocês vejam a superfície da parede. A seta indica o eixo maior. e podem ver 2 camadas de fibras, uma em azul e uma em amarelo, arranjadas em ângulos para a esquerda e para a direita. e se não olharem apenas para uma pequena parte das fibras, essas fibras estariam indo em hélices ao redor do maior eixo do esqueleto -- algo como uma armadilha chinesa para dedos, onde você põe seus dedos e eles ficam presos.

estes esqueletos apresentam um conjunto particular de comportamentos, os quais demonstrarei em um filme. este é um modelo de esqueleto que fiz a partir de um pedaço de tecido que enrolei ao redor de um balão cheio. o tecido é cortado em diagonal. vocês podem ver que as fibras se enrolam em hélices, e essas fibras podem se reorientar quando o esqueleto se move, o que significa que o esqueleto é flexível. se alarga, encurta e dobra bem facilmente em resposta a forças internas ou externas.

A preocupação do meu conselheiro era: e se a parede de tecido do pênis for igual a qualquer outro esqueleto hidrostático. o que se poderia contribuir? que novidade você estaria contribuindo ao nosso conhecimento de biologia? e eu pensei, “é, ele fez uma boa pergunta.” então passei muito, muito tempo pensando nisso. e uma coisa que ficou me incomodando, é que, quando estão funcionando, os pênis não tremem. Algo de interessante

tinha que haver.

fui em frente, coletei tecido de paredes, preparei-o como se estivesse ereto, seccionei, coloquei em transparências e coloquei no microscópio para dar uma olhada, esperando ver hélices cruzadas de colágeno de alguma espécie. mas o que eu vi foi isto. existe uma camada exterior e outra interior. A seta indica o eixo longitudinal do esqueleto.

fiquei muito surpresa com isto. todos a quem mostrei ficaram bem surpresos com isto. por que todos se surpreenderam com isto? porque sabíamos teoricamente que havia outra maneira de arranjar fibras em um esqueleto hidrostático, que era com fibras a zero grau e a 90 graus em relação ao eixo longitudinal da estrutura. o negócio é que ninguém jamais tinha visto isto antes na natureza. e agora eu estava olhando para um.

estas fibras nesta orientação em especial dão ao esqueleto um comportamento muito, muito diferente. vou mostrar um modelo feito exatamente dos mesmo materiais. ele terá o mesmo tecido de algodão, o mesmo balão, a mesma pressão interna. mas a única diferença é que as fibras estarão arranjadas diferentemente. e como verão, ao contrário do modelo de hélice cruzada, este modelo resiste a extensão e contração e resiste a dobras.

o que isso nos diz é que os tecidos de parede fazem muito mais do que apenas cobrir os tecidos vasculares. eles são parte integral do esqueleto peniano. se a parede que cerca o tecido erétil não estivesse ali, e se não fosse reforçado desta maneira, o formato não mudaria, mas o pênis inflado não resistiria a dobras, e a ereção simplesmente não funcionaria.

é uma observação com óbvias aplicações médicas em humanos também, mas também relevante em um sentido maior, penso, para o projeto de protéticos, robôs flexíveis, basicamente qualquer coisa onde mudanças de forma e rigidez sejam importantes.

resumindo: 20 anos atrás, tive um conselheiro que me disse, quando fui para a faculdade e falei: “Acho que estou interessada em anatomia,” disseram, “Anatomia é uma ciência morta.” ele não poderia estar mais errado. Acredito mesmo que ainda temos muito a aprender sobre a estrutura normal e a função de nossos corpos. não apenas sua genética e biologia molecular, mas aqui em cima na ponta de carne da escala. temos os limites de nosso tempo. quase sempre focamos em uma doença, um modelo, um problema, mas minha experiência sugere que deveríamos usar o tempo para aplicar ideias largamente entre os sistemas e ver aonde isto nos leva. Até porque, se ideias sobre esqueletos de invertebrados podem nos dar sugestões sobre os sistemas reprodutivos de mamíferos, podem existir muitas outras conexões doidas e produtivas só esperando para serem descobertas.

obrigada.

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VIA

gEM

EMBU Cultura e história ao lado de São Paulo

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mbu das Artes é uma cidade alegre. Animada, a simpáti-ca estância turística recebe milhares de visitantes todos

os fins de semana, quando abriga em seu centro histórico a Feira Internacional de Artes e Artesanato. Os turistas chegam de todos os cantos, mas são, sobretudo, pau-listanos – afinal, o município fica a meia hora da capital paulista. Embu das Artes, porém, não é só um polo regional da cul-

E

mais conhecido pela feira de arte e artesanato que realiza desde a década de 1960, o município paulista é um dos mais antigos do país e tem muita história para contar. suas ruas guardam casas de taipa e construções arquitetônicas típicas dos tempos do brasil Colônia, um dos mais preservados tesouros históricos remanescentes em são paulopor Fabíola MusarraFotos: luciana itinoseki - Divulgação

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tura brasileira. Concilia o charme de uma típica cidade do interior a atrações para todos os gostos, desde passear pelas suas bucólicas ruas de para-lelepípedos para conhecer um pouco da história e da arquitetura do Brasil Colônia e fazer compras de objetos de arte e decoração até desfrutar de seus espaços verdes, resquícios da Mata Atlântica que por ali se espalham.

O centro histórico de Embu das Artes é, por si só, uma atração imperdível. Abriga preservadas casas de taipa e construções que revelam como era a arquitetura nos tempos do Brasil Colônia. Ali também estão o Centro Cultural Embu das Artes, o Museu do Índio, a Capela São Lázaro, o centro de informações ao turista e diversas pou-sadas e restaurantes de gastronomia nacional e internacional, além de uma praça de alimentação com 25 quiosques. Mas, sem dúvida, a principal estrela do lugar é a Feira Internacional de Artes e Artesanato.

Idealizada pelo escultor Claudionor Assis Dias, o mestre Assis do Embu, como era conhecido o artista que morreu em 2006, a feira existe desde

1969, quando foi criada por artistas que tinham ido morar na cidade a partir de 1920. Entre eles, o pintor Cássio M´Boy, os mestres Sakai e Gama, Solano Trindade e Ana Moysés. Juntos, mais do que ajudar a fundar a feira, esses artistas proje-taram internacionalmente a cidade, fazendo com que ela se transformasse em um sinônimo de arte.

Em seus 43 anos de existência, a feira foi ocu-pando todas as ruas do centro histórico de Embu das Artes, um circuito hoje conhecido como Pas-seio das Artes. É nesse imenso ateliê ao ar livre

“ Esses artistas projetaram internacionalmente a cidade, fazendo com que ela se transformasse em um sinônimo de arte ”

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que 550 expositores mostram as suas obras, desde pinturas, porcelanas, esculturas, instrumentos musicais, roupas e bijuterias até objetos utilitá-rios. Não são os únicos. Ao redor da feira encon-tram-se ainda diversas galerias de arte, antiquá-rios e lojas de artesanato e de móveis artesanais de estilo rústico. Muitos deles abrem nos fins de semana e feriados.

Saindo do centro histórico, no bairro de Vila Cercado Grande, fica o Memorial Sakai, com um acervo de peças do artista japonês Tadakiyo Sakai (1914-1981), um dos maiores expoentes da escul-tura em terracota do país. Ao lado do memorial situa-se a Capela de Santa Cruz. Em seu altar há uma cruz de madeira ladeada por dois anjos

de terracota com suas violas, criada pela artista Helaine Malca.

Não muito distante dali, na Avenida Professor Cândido Motta Filho, uma raridade que merece ser conhecida: a Fonte dos Jesuítas. Situada den-tro de um “santuário ecológico”, a fonte somente foi descoberta em 1944 e é uma das mais antigas do Brasil. A exemplo desse lugar, Embu das Artes tem ainda muitos outros espaços de vegetação remanescente de Mata Atlântica, com trilhas que são um tentador convite a caminhadas.

Na direção diametralmente oposta à fonte está Parque do Lago Francisco Rizzo, com mais de 217 mil metros quadrados de área verde e um impo-nente lago povoado por dezenas de espécies de peixes. De moderna infraestrutura, possui brin-quedoteca, pistas de cooper, biblioteca sobre meio ambiente e viveiro de mudas. Fica na Rua Alberto Giosa.

história e arquitetura Embu das Artes nem sempre se chamou assim.

“A Fonte dos Jesuítas. Situada dentro de um “santuário ecológico”, a fonte somente foi descoberta em 1944 e é uma das mais antigas do Brasil”

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Até recentemente seu nome oficial era Embu, mas foi modificado após a realização de um plebiscito no ano passado. Também não faz muito tempo que se tornou um município – pertenceu à Itape-cerica da Serra até 18 de fevereiro 1959, quando se emancipou. Esta cidade que é uma das mais antigas do país é simplesmente apaixonante para quem gosta de história. Até o século 16, a região era povoada por tupiniquins, índios guerreiros e violentos. Os jesuítas bem que tentaram, mas não conseguiram catequizá-los. Expulsos, partiram em busca de um lugar próximo dali para se fixar. Em 1554, ao lado dos índios guaranis, com quem já conviviam, os religiosos fundaram a aldeia de Bohi, depois M’Boy, a meio caminho do mar e do sertão paulista.

Em 1607, as terras do lugarejo passam a ser de Fernão Dias (tio do bandeirante Fernão Dias, o Caçador de Esmeraldas) e Catarina Camacho. Em 1624, o casal doa as terras da aldeia M’Boy à Companhia de Jesus, com a condição de que os jesuítas devotassem Nossa Senhora do Rosário e

organizassem uma festa de adoração à Santa Cruz. Em 1690, o padre Belchior das Pontes manda er-guer uma igreja em homenagem àquela santa, hoje a padroeira do município.

Em 1730, os jesuítas constroem a sua casa ao lado da igreja. Não moram ali por muito tempo: por ordem da Coroa Portuguesa, são expulsos do Brasil em 1759. Os padres vão embora, mas deixam um tesouro para a cidade paulista: um belíssimo conjunto de arquitetura colonial, hoje sede do Museu de Arte Sacra, no centro histórico. Tombado como Patrimônio Histórico Nacional e protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), é uma das mais preser-vadas construções jesuítas remanescentes em São

“Esta cidade que é uma das mais antigas do país é simplesmente apaixonante para quem gosta de história”

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Paulo. Embora exiba detalhes do estilo barroco pau-

lista, a arquitetura do conjunto tem como princi-pal característica a simplicidade das linhas retas. A edificação é composta pela antiga casa dos padres e pela igreja Nossa Senhora do Rosário, construída em taipa de pilão e parcialmente con-cluída em 1734, quando a pintura e douração da capela-mor e da sacristia começaram a ser feitas. Faz parte de seu acervo imagens de anjos, santos e personagens bíblicos entalhados em madeira, modelados em terracota ou em armações de roca, produzidos pelos jesuítas entre os séculos 17 e 19. O ponto alto do museu é a obra “Senhor Morto”, esculpida em tamanho real em uma única tora de madeira.

Palco da história e dona de um privilegiado conjunto arquitetônico colonial, Embu das Artes ostenta ainda uma natureza rústica e exuberan-te. Com todos esses atrativos, não fica difícil de entender o porquê esse singular pedacinho de paraíso de São Paulo vive, respira, transpira e produz arte o tempo todo.

cobra, árvore ou ensino?Embu se desenvolveu a partir do crescimento

da aldeia M’Boy, “cobra grande”, como definem alguns de seus habitantes. Há, contudo, outras versões intrigantes. De origem tupi, a palavra pode ser traduzida como “água de cobra”, resul-tado da uma junção de mboîa (cobra) e y (água),

espAço terrA hotel

estrada JosÉ Mathias de caMargo, 515, eMbu das artes, são Paulo.

inforMações: (11) 4781-2488

ou umbu, a árvore de pequeno porte que no Brasil Colônia era chamada de ambu, imbu e ombu, corruptelas da palavra tupi-guarani y-mb-u, que quer dizer “árvore que dá de beber”. Outra possível tradução é “ensino”, pois mboé significa “ensinar”.

* A jornalista Fabíola Musarra visitou

Embu das Artes a convite da Assimptur Assessoria de Imprensa e do Espaço Terra Hotel.

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Situado em Embu das Artes, o Espaço Terra Hotel tem um

grande diferencial em relação às opções hoteleiras próximas da

capital paulista. É um dos únicos empreendimentos que possui

uma charmosa adega com 1.500 garrafas e mais de 120 rótulos de

vinhos nacionais e importados. Intimista e aconchegante, o

espaço é ideal para namorar ou mesmo apenas para degustar a

bebida do deus Baco.

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O restaurante do Espaço Terra Hotel é uma boa

opção para os fins de semana dos amantes da boa

comida e de bons vinhos. Com capacidade para 60 pessoas e estacionamento

gratuito, concilia refeições caseiras a um ambiente

cercado por Mata Atlântica. Funciona de segunda-feira a domingo, sempre das 12h

às 15h e das 19h às 23h.

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O Espaço Terra Hotel oferece ainda piscina com raia, hidromassagem climatizada ao ar livre, playground, sala de jogos, sala de fitness, campinho de futebol e bar sauna seca e a vapor e um SPA com diversos tipos de terapias, além de sala de fitness, campinho de futebol e bar.