85 MatemáTica Setembro2006

2
85-MISTÉRIO DA MATEMÁTICA-Setembro 2006 Os conservadores vão protestar: “Afinal, se a matemática é uma ciência exata, como poderia ser taxada de misteriosa?” . Essa é a questão, pois antes mesmo de ser desenvolvida e regulamentada pelos babilônios, gregos, romanos, egípcios e árabes, como se explica os resquícios de sistemas de numeração e figuras geométricas nas ruínas de construções anteriores a esses povos? De onde - antes da Idade Média e do Renascimento, períodos em que foi definitivamente reconhecida e aplicada – seriam provenientes essas noções aritméticas? Fruto da necessidade de quantificar as coisas para sobreviver? De contactos com extraterrestres ou foram puramente intuitivas? Os Maias, por exemplo, tinham um calendário tão sofisticado que continha predições relacionadas a eclipses lunares e solares de impressionante acuidade que até hoje surpreende aos metereologistas. De onde e como adquiriram tal precisão? O conhecimento matemático, como se sabe, é o conjunto de técnicas, habilidades, maneiras de entender e de lidar com o ambiente natural e cultural, desenvolvido – ao que se supõe - pelo homem que buscava a quantificação de tudo que fazia. Depois disso, ele começou a busca pela própria transcendência. O que intriga é essa ambigüidade da matemática, pois mesmo sendo exata, carrega mistérios ainda por resolver. Quer dizer, mesmo sendo um instrumento de investigação (ciência) e de expansão (tecnologia) dos fatos, a matemática serve igualmente como suporte aos fenômenos. Que o diga a Física Quântica. As navegações, por sinal, possibilitaram a descoberta de novas terras e culturas diferentes, dependendo (fundamentalmente) para tanto, do conhecimento de astronomia que, além disso, deu vazão a outro tipo de viagem: a leitura do céu, quando o homem começou a pensar de maneira mais filosófica, expandindo seu pensamento às questões da alma e da mente. Desse modo, a matemática sempre esteve presente também na área artística, como nas grandes obras arquitetônicas, na composição de músicas, na farmacopéia e em outros projetos importantes criados pelo homem, tornando-se primordial para a dar sentido à sua existência em praticamente todos os campos. Assim, ela ficou subjetiva quando foi diretamente ligada às questões

Transcript of 85 MatemáTica Setembro2006

Page 1: 85 MatemáTica Setembro2006

85-MISTÉRIO DA MATEMÁTICA-Setembro 2006Os conservadores vão protestar: “Afinal, se a matemática é uma ciência exata, como poderia ser taxada de misteriosa?”. Essa é a questão, pois antes mesmo de ser desenvolvida e regulamentada pelos babilônios, gregos, romanos, egípcios e árabes, como se explica os resquícios de sistemas de numeração e figuras geométricas nas ruínas de construções anteriores a esses povos? De onde - antes da Idade Média e do Renascimento, períodos em que foi definitivamente reconhecida e aplicada – seriam provenientes essas noções aritméticas? Fruto da necessidade de quantificar as coisas para sobreviver? De contactos com extraterrestres ou foram puramente intuitivas? Os Maias, por exemplo, tinham um calendário tão sofisticado que continha predições relacionadas a eclipses lunares e solares de impressionante acuidade que até hoje surpreende aos metereologistas. De onde e como adquiriram tal precisão? O conhecimento matemático, como se sabe, é o conjunto de técnicas, habilidades, maneiras de entender e de lidar com o ambiente natural e cultural, desenvolvido – ao que se supõe - pelo homem que buscava a quantificação de tudo que fazia. Depois disso, ele começou a busca pela própria transcendência. O que intriga é essa ambigüidade da matemática, pois mesmo sendo exata, carrega mistérios ainda por resolver. Quer dizer, mesmo sendo um instrumento de investigação (ciência) e de expansão (tecnologia) dos fatos, a matemática serve igualmente como suporte aos fenômenos. Que o diga a Física Quântica. As navegações, por sinal, possibilitaram a descoberta de novas terras e culturas diferentes, dependendo (fundamentalmente) para tanto, do conhecimento de astronomia que, além disso, deu vazão a outro tipo de viagem: a leitura do céu, quando o homem começou a pensar de maneira mais filosófica, expandindo seu pensamento às questões da alma e da mente. Desse modo, a matemática sempre esteve presente também na área artística, como nas grandes obras arquitetônicas, na composição de músicas, na farmacopéia e em outros projetos importantes criados pelo homem, tornando-se primordial para a dar sentido à sua existência em praticamente todos os campos. Assim, ela ficou subjetiva quando foi diretamente ligada às questões religiosas e místicas, servindo de elo ainda para essa busca pela transcendência quando a contagem de tempo foi instituída. Nesse momento, as pessoas passaram a ter noção de passado, presente e futuro, ampliando sua percepção de vida. Deduz-se, então, que sem saber lidar com os números, o ser humano tenderia fatalmente a se isolar, o que certamente limitaria sua evolução. Justamente por causa dessa aprendizagem, o modo de agir passou a ser calculado, portanto planejado com consistência. A partir dessa expansão de pensamento e de perspectivas, a humanidade pôde galgar novos patamares, tempo em que surgiram as artes divinatórias, como a numerologia e a astrologia que, por causa de seu pressuposto aritmético, foram ordenadas e sistematizadas. Essa dependência dos números tornou-se inevitável sob todos os aspectos. E foi cunhada a frase: “Deus geometriza”, numa alusão à perfeição geométrica do Universo. Finalmente, é curioso observar que, além dos gregos foram os muçulmanos que deram esse cunho místico à matemática, quando houve um grande estímulo para padronizar os saberes mágicos, alquímicos e farmacológicos, através de fórmulas de elixires e venenos. Em síntese, a análise de todas as coisas sob o ponto de vista empírico, tanto prático como pragmático, seria impossível sem a aplicação da matemática, pois a organização do conhecimento seria processada de forma aleatória, sem critérios e sem padrões, gerando o iminente caos. Pelo visto, essa propalada “exatidão matemática” ainda não foi plenamente captada. Muito mistério ainda se esconde por detrás dos números e dos cálculos. O elo perdido poderá ser finalmente decifrado através da solução de problemas matemáticos. Será essa a maneira certa de alcançar a almejada “Compreensão Cósmica”?