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Entre ser negro e ser poeta:
questes da crtica atual para o cnone na poesia romntica
Adetalo Manoel Pinho1
Resumo: Este ensaio investiga as relaes entre cnone literrio brasileiro e a ordem social no Romantismo. Para tanto, estabeleo estudo na interface poesia e projeto abolicionista. Entram em foco afrodescendncia e liberalismo na cultura nacional do sculo XIX. So trazidos para o debate, textos de Castro Alves, Lus Gama, Machado de Assis, sob a tica crtica de Roberto Reis, Flvio R. Kothe, Regina Zilberman e outros. Palavras-chave: Cnone. Poesia romntica. Literatura brasileira. Histria da literatura.
E, com tretas e com furtos Vo subindo a passos curtos;
Fazem grossa pepineira, S pela arte do Vieira,
E com jeito e protees, Galgam altas posies!
(Quem sou eu?) (GAMA, 2000, p. 114).
Os estudos sobre o Romantismo brasileiro distinguem duas faces ntidas para
apreciao dos autores: cannicos e no-cannicos. Aqui, tomo de emprstimo o conceito muito
bem explorado por Roberto Reis em Cnon:
Se seguirmos esta noo, to corrente nos circuitos da chamada alta cultura e to
consagrada pelas instncias abonadoras da produo de bens simblicos, verificamos que o corpus cannico da literatura (e, via de regra, no se usa o adjetivo ocidental,
1 Dr. em Lingustica, Letras e Artes. Professor do Curso de Letras e Cordenador do Prigrama de Ps-graduao da UEFS. E-mail: [email protected].
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embora os autores sejam oriundos do Ocidente) est envolto por uma redoma de a-historicidade, como se houvesse sido estipulado por uma supracomisso de cpulas e de alto nvel (infensa a condicionamentos de ordem ideolgica ou de classe) que, por uma espcie de mandato divino, houvesse traado os contornos do cnon, elegendo tais obras e autores e varrendo do mapa outros autores e obras (REIS, 1992, p. 71).
Reis avana por uma discusso que pretende desvendar os mecanismos do
estabelecimento e permanncias do texto literrio. Os critrios de consagrao de autores e obras
como o esttico e estilstico seriam, no seu texto, verdadeiramente, a supracomisso de cpulas e
de alto nvel, que per si passaria ilesa perante os julgamentos partidrio e econmico, num
mandato divino, dogmtico, inquestionvel e tambm nebuloso. S se notaria o produto do
trabalho, o cnon, e no os sujeitos da ao: a supracomisso.
Essas reflexes apontam para uma postura de estudo na qual se deve desconfiar da
tradio de autores colocados no Cnone. Na atualidade, para o aprofundamento dos mecanismos
formadores da literatura, mais importante problematizar a engrenagem cannica e no
simplesmente, ou inocentemente, os autores nela encaixados, pois o que se pretende, ao se
questionar o processo de canonizao de obras literrias , em ltima instncia, colocar em xeque
os mecanismos de poder a ele subjacentes (REIS, 1992, p. 69). Os mecanismos ocultos na
aparente transparncia e unanimidade da consagrao nascem de uma necessidade de manuteno
de instituies da dominao.
H uma variao de tipologias para referenciar o cnone: autores menores e maiores,
autores snteses, autores consagrados e esquecidos. O distanciamento no tempo, a longa linhagem
de histrias da literatura publicadas nesse nterim, de textos crticos a elas ajuntados, vai fixando
uma opinio vencedora sobre autores que se superpem opinio crtica criando um conceito
atemporal, no datado. O Brasil acirra e agrava esse processo quando alia a dificuldade de
publicao de livros, o frgil sistema de leitura de massa, aos interesses de centros privilegiados
economicamente. O conceito de grande poeta est de maneira umbilical ligado aos interesses
erguidos pelo tipo de produo publicada pica, lrica, narrativa ou dramtica , em qual
suporte jornal, revista ou livro e em qual perodo histrico. Tal conceito construdo muito
mais para a satisfao dessas instituies do que para a prpria coroao do sujeito que pratica a
atividade literria. O Brasil do sculo XIX tem um cnone a ser preenchido a nacionalidade.
Todos os esforos de intelectuais, religiosos e militares devem concorrer para o bom xito
da empresa chamada Brasil. Segundo Roberto Reis,
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a crtica engajada num processo de emancipao da cultura brasileira da dependncia que a tem acossado desde os tempos coloniais, projeta a sua ideologia no corpus literrio e como que tende a avaliar os textos e escritores em funo do grau maior ou menor de nacionalidade que porventura contenham (REIS, 1992, p. 81).
Um dos mais destacados lugares-temas representativos da nacionalidade foi a Natureza,
sobre a qual um historiador francs do peso de Ferdinand Denis escrevia, se os poetas dessas
regies fitarem a natureza, se penetrarem da grandeza que ela oferece, dentro de poucos anos
sero iguais a ns, talvez nossos mestres (DENIS, 1978, p. 35). E, por essa via, orientava um
nacionalismo para a representao literria do Brasil, porque a grandiosidade, colorido e
exotismo daquela leva a sentir a necessidade de exaltar, antes de tudo, a sua ptria.(DENIS,
1978, p. 35). As observaes do ensasta e romancista francs foram atenciosamente ouvidas.
Num jogo bem intencionado, tudo concorreu para auxiliar o Brasil a livrar-se da
dependncia: a crtica autorizada selecionou autores e obras que destacam em suas realizaes
uma nacionalidade so brasileiras. Em diferena de outros textos, no conseguem alcanar essa
brasilidade, mesmo escrevendo em portugus sobre temas e lugares comuns ao espao geogrfico
chamado Brasil. Como desconfiam os autores que pesquisam sobre a nacionalidade, o ser
brasileiro pertence a um lugar, a uma fisionomia, a uma dico, a uma classe. E desse lugar que
emanam/atrai as produes consagradas, que Machado de Assis chamou de Instinto de
Nacionalidade (1959), de certa forma, tentando rever os exageros cometidos ao se atender os
conselhos de Denis, gravados no seu Resumo da histria literria do Brasil (1978).
Duas questes so visveis e impertinentes em tal discusso, facilmente exemplificveis.
Em nome da nacionalidade, toda uma produo artstica na literatura, na msica e na pintura
retratou os indgenas, como Iracema e Moema, coerentemente moda da classe endinheirada
branca brasileira do sculo XIX: esto l as cores prprias da tropicalidade original, a ambincia
paradisaca to vivamente descrita por Pero Vaz de Caminha, comum a uma viso provinda da
colonizao e, finalmente, a virgem delicada, plcida (neste mesmo instante os nativos estavam
sendo massacrados por latifundirios), plida (num jogo que faz duvidar da capacidade do
inclemente sol dos trpicos) feio dos europeus. Esse conjunto de obras consagrado pela sua
competncia e nacionalidade cannico (PINHO, 2008, p. 39).
A outra questo a ser abordada na relao nacionalidade e literatura pode ser
exemplificada com o poeta Lus Gama (1830-1882). Abolicionista, liberal, republicano,
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jornalista, brasileiro, rene em si os critrios da canonizao, uma vez que so esses os requisitos
exigidos: partilhar de uma Nao. O rbula baiano realizou feito herico ao publicar um livro
mpar: Primeiras trovas burlescas de Getulino (2000), onde imprimiu versos crticos, como os
seguintes, do poema Quem sou eu, a famosa Bodarrada:
E que os homens poderosos Desta arenga receosos Ho de chamar-me tarelo, Bode, negro, Mongibelo; [...] Se negro sou, ou sou bode, Pouco importa. O que isto pode? Bodes h de toda casta, Pois que a espcie muito vasta, [...] (GAMA, 2000, p. 116).
Ele reuniu um tomo de poemas moda de um Bernardo Guimares de Orgia dos
duendes ou, lvares de Azevedo de um Macrio, e o Castro Alves condoreiro da lrica
feminina e negra. E os versos seguintes, como exemplo, de Meus amores:
Meus amores so lindos, cor da noite Recamada de estrelas rutilantes; To formosa crioula, ou Ttis negra, Tem por olhos dois astros cintilantes. A cabea envolvida em nbia trunfa, Os seios so dois globos a saltar; A voz traduz lascvia que arrebata, - coisa de sentir, no de contar. (GAMA, 2000, p. 243-4).
O poema representa a beleza da mulher negra. O belo um dos grandes temas do
Romantismo sempre em conjuno/oposio ao grotesco2. H muita semelhana com os versos
de Castro Alves, principalmente dA Cachoeira de Paulo Afonso. A valorizao dos traos fsicos
da mulher negra tema dos dois poetas. No poema Maria, de Castro Alves, a descrio do
corpo da mulher, tanto do que v, braos e coxas, quanto do que se deseja ver, o segredo por
baixo da saia curta, que a grama um beijo furta, muito se aproxima da estrofe a seguir de Gama:
Quando a brisa, por entre anguas Espaneja as cambraias escondidas, Deixando ver aos olhos cobiosos As lisas pernas de bano luzidas. (GAMA, 2000, p. 244).
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Esse livro teve trs reedies, demonstrando o interesse freqente dos leitores por suas
trovas. Mesmo assim, pouco depois de sua morte, a tradio tratou de soterrar a veia potica,
satrica e crtica do autor de Quem sou eu, a famosa bodarrada, na qual tanto ele quanto os
ditos brancos so nomeados de bodes. Antonio Candido, citado por Lgia Ferreira, ressalta o fato
de Lus Gama andar na contramo, se comparado a Machado de Assis ou Cruz e Sousa, por
lanar ataques diretos definio de brancura, valor fundamental para o branco dominador,
por inverter as regras: em seus escritos o negro que faz troa do branco (GAMA, LXVIII e
LXIX). Ainda valendo-me do texto de Roberto Reis, a desconfiana de que a no condio de
pertena classe dirigente tenha sido um dos empecilhos para a consagrao. Aqui vale mais o
lugar da fala e no transposio de mscaras, pois segundo Flvio Kothe, no seu Cnone
imperial,
a poesia de Castro Alves no consegue sequer acompanhar a discusso filosfica de sua poca. No passa de retrica inconsistente de um acadmico de direito. Diante de uma violenta luta, de um processo revolucionrio em curso, o que ele sabe propor e o cnone sacramentar apenas que o negro v para a frica ou que se mate (KOTHE, 2000, p. 393).
Diante da aspereza do crtico para com o grande poeta, deve-se observar que no perfaz
comparao com outros poetas como Lus Gama, somente detecta a contradio do plano
poltico/ideolgico consagrador da reputao de Castro Alves, poeta dos escravos, com a
interpretao de suas linhas. Em dois exemplos explorados: A Cachoeira de Paulo Afonso, e
Navio negreiro. No primeiro, o crime de estupro da protagonista negra Maria pervertido porque
o criminoso, filho do patro e branco, irmo do protagonista Lucas. Ele o nico que poderia
usar a sua grandiosidade, fora, herosmo para uma reparao, no entanto, estaria impedido pelo
parentesco nebuloso.
Por sua vez, Lucas comete suicdio, esvaziando a retrica potica e frustrando um trato
crtico do tema, na opinio de Kothe: o poder institudo poeticamente ao negro, no poema, dilui-
se na perda e fragilidade do salto fatdico na grande cachoeira.
O moralismo condoreiro serve a fins imorais: apagar a responsabilidade histrica da coroa portuguesa, da Igreja Catlica, da elite latifundiria e do Imprio, escamoteando principalmente a espoliao do trabalho escravo pelas classes dirigentes, a ponto de sugerir que o negro deveria ficar agradecido se pudesse ficar no pas, j que o seu lugar era a frica (KOTHE, 2000, p. 273-4).
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Para Flvio R. Kothe, os favores para com aquelas instituies, via obra, e por sua
limitao quanto ao problema da escravido, providenciaram um lugar confortvel para Castro
Alves no cnone brasileiro, e no por alguma grandeza. Lus Gama era negro e atacava uma
elite brasileira, a partir de um lugar denunciado do ser negro, pobre, etc., e no por utilizar uma
mscara descartvel de defensor dos marginalizados. Numa simples devassada no cnone,
pensando nas origens dos poetas, veremos que h poucas mulheres, quase nenhum no-branco e
muito provavelmente escassos membros dos segmentos menos favorecidos da pirmide social.
Outro caso Machado de Assis, que desloca seu lugar de origem das cozinhas e senzalas
das grandes casas fidalgas para o lugar puramente de poder as letras. Neste caso, a temtica
outra nacionalidade, a anlise e reflexo sobre a prpria pertena do poder. Machado,
compreendendo a limitao sobre a brasilidade numa nica classe, constri uma obra sem
vibraes com a intromisso problemtica de outras classes. Sua narrativa a negociao em
nveis dramticos e psicolgicos. A sua atuao como funcionrio pblico, jornalista, preservou a
posio confortvel e o quase apagamento da sua origem de classe subalterna. O modo como
conduziu sua obra, buscando outra universalidade o pessimismo, construindo uma sociedade
composta quase toda ela de homens mesquinhos, mulheres adlteras, na qual nem o pobre teve
salvao, como diria Roberto Schwarz, tudo nos romances de Machado de Assis tingido pela
volubilidade de seu narrador, quando analisa a personagem de dona Plcida.
Porm, este retrato descarnado da sociedade brasileira que s um escritor culto e
requintado, vontade na variedade dos estilos, das filosofias e das experincias de classe pde
alcanar (SCHWARZ, 1983, p. 50) levantou crticas de outro estudioso, Flvio Kothe, em livro
referido. Segundo o autor de Cnone Imperial,
Ele nunca ri do poder, mas apenas para o poder, ou seja, dos mais fracos: daqueles que dependem do poder alheio ou querem exibir mais do que tm. Se ele tem muito contra negros e arrivistas, demonstra, no entanto, predileo pelos membros da oligarquia latifundiria, por aqueles que so muito ricos (2000, p. 525).
Uma vez na posio confortvel, arremata sua consagrao com a orientao, criao e
direo do local mximo do cnone a Academia Brasileira de Letras. Esta, por si, ritualstica,
cerimonial e embecada. O escritor redesenha a sua fisionomia distante da correspondncia fsica
e existencial dos marginalizados culturalmente, pois orais, limitados geograficamente, pois
acorrentados, e excludos, pois descamisados e descalados. Lembrando outro estudo j referido,
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o autor de Memorial de Aires, sabedor do peso da margem e do Outro, retrata a si em cores e
escritas da diferena (PINHO, 2008).
Machado de Assis, aparentemente, compreende o jogo da consagrao. O texto Instinto
de Nacionalidade e o romance Memrias Pstumas de Brs Cubas apontam para esta afirmao,
pois operam com mecanismos e recursos ficcionais extrados das leituras em diversas reas de
conhecimento. Ironia, metalinguagem e analogias que aparentam superficialmente um elogio
classe dominante, mas sabotam seus paradigmas mais preciosos: inteligncia, cincia,
competncia, organizao social. Requisitos percebidos no conto A teoria do medalho. Como
afirma muito bem Roberto Schwarz, Machado opera como um trapezista, pervertendo a ordem e
se equilibrando numa ocultao milimtrica de seu discurso. forte sua imprecao ao vencedor
as batatas. Machado pode ser criticado porque no se posiciona explicitamente sobre o lugar das
classes em seus livros, mas se o faz por saber da situao delicada da sua posio.
A reunio de foras da nacionalidade funcionaria como linha reta, poderosa, justificada,
que apontasse para um caminho seguro identificao das camadas sociais com o projeto
brasileiro. Obstculos posicionam-se impedindo a acomodao de Brasil e populao: a
escravido obrigava uma fico que acomodasse umas das classes brasileiras. O intelectual e os
literatos construram um bem simblico para acomodar o desvio nos princpios do liberalismo,
como diria Pierre Bourdieu (2001, p. 117).
Cndido adverte para o jogo teatral montado pela elite brasileira quando do advento da
Independncia, e o que parecia uma movimentao pretendida desde os tempos da Conjurao
Mineira no significou mais do que um (mise en sciene) desesperado, via o (laissez faire) vindo
da Europa, para promover a manuteno do estado de coisas que era o Brasil preso a Portugal.
Nesta perspectiva, estudos importantes do professor paranaense Jurandir Malerba, em Cultura no
Brasil Imperial, e Alfredo Bosi, em Dialtica da Colonizao, apontam a chegada no Brasil, no
incio do sc. XIX, de um liberalismo que se adaptou s contingncias ideolgicas das nossas
elites, um liberalismo matizado, na concepo do primeiro estudioso.
Malerba reflete sobre o descompasso no Brasil, entre os ideais liberais e a condio
ancien rgime com o Imprio e a escravido, surgindo aqui, segundo ele, um tipo adaptado de
liberalismo. Aquela linha reta funciona a reboque, como diria Antonio Candido, no aponta para
o Brasil do litoral para o interior, mas sim num movimento baldado para a Europa. Esse
sintoma facilmente explicado porque uma das classes componentes da sociedade brasileira veio
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de Portugal. Resumo da pera: a sociedade que compunha e deveria sustentar o projeto brasileiro
tinha uma parte acorrentada e outra estrangeira. No poderemos deixar de falar do ndio, que
no obstante pertencer a uma classe totalmente excluda da composio social da Nao, no
tendo acesso ao menor privilgio nacional, alado titularidade de Heri do novo pas. Smbolo
indigente e indigesto s pretenses de um encontro possvel de identificao.
No Brasil, tnhamos poetas provindos das classes acorrentada, livre (digamos assim),
estrangeira. E no poderia deixar de ser dramtico o posicionamento destes diversos criadores
de literatura dos lusos trpicos. To engajadamente travado esse embate que sobrou um mal-estar
que as geraes contemporneas devem desconstruir. Num pndulo gil e energizado, a crtica
teria que promover a manuteno da arte literria de maneira a estar ligada e justificada em todas
as possveis classes letradas o pndulo gira para um lado; somente os poetas escolhidos da
classe interessante para a manuteno do status quo da nova Nao o pndulo gira para o outro
lado.
O movimento pendular deve ser linear e intermitente. Nenhum dos dois movimentos deve
ser questionado. Os poetas brasileiros constantes de uma lista de talentosos devem ser
justificadamente os melhores poetas do Brasil. Os clssicos, premiados com as reedies, com as
abordagens universitrias, os programas especiais veiculados nos meios de comunicao. A partir
desst estudo, possvel fazer algumas poucas constataes sobre a intercalao dos temas da
afrodescendncia com a consagrao via literatura no sculo XIX. Atravs de poetas de palavras
meldicas e tons de pele diversos, o cnone como um veculo de excluso e privilgios questiona
o tema da nacionalidade.
Abstract: This essay investigates the relationships between Brazilian literary canon and
Romantic social order. To this aim, an interface between abolitionist poetry and project is
established. Afrodescendancy and liberalism in XIX century Brazilian culture are brought into
consideration. Texts written by Castro Alves, Luis Gama, Machado de Assis are discussed taken
into consideration, among other authors, Roberto Reis, Flbio R. Kothes and Regina
Zilbermans critical views.
Keywords: Canon. Romantic poetry. Brazilian literature. History of literature.
Notas
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2 A valorizao da beleza to significativa que em A escrava Isaura, Bernardo Guimares rompe uma hierarquia entre escrava e senhora, impe tal beleza a Isaura que causa espanto a Malvina, tambm de beleza grandiosa. Acima do critrio econmico e moralista-escravista, a beleza quebra o intransponvel muro das classes e Isaura libertada e transforma-se em senhora.
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