95666775-VEGETAIS-FERMENTADOS
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Vegetais Fermentados
1. Introdução
O termo processamento é genericamente empregado para designar uma
série de operações unitárias conjugadas, cuja finalidade é prevenir alterações
indesejáveis que podem ocorrer em hortaliças após colheita, aumentando o seu
período de conservação. Tais alterações podem ser causadas pela invasão e
crescimento de microorganismos ou por reações químicas, físicas e bioquímicas
dos compostos naturalmente presentes nestes alimentos. [2]
Um dos métodos de conservação de alimentos é através do uso de
preservativos. Alguns preservativos são condimentares ou culinários (açúcar, sal,
álcool, vinagre), que além de agirem como condimentos funcionam como
germicidas, fungistáticos ou antifermentativos. Também existem preservativos
químicos não condimentares (benzoato de sódio, ácido sórbico, ácido bórico),
dentro dessa classificação encontram-se os preservativos desenvolvidos, que se
formam durante o processamento do alimento, por meio de fermentações, e que
servem para uma ou mais finalidades: produzir sabores e características físicas
novas desejáveis, isto é, um alimento diferente, e a ajudar na conservação dos
alimentos.[1]
A fermentação é um dos métodos mais antigos de preservação de
alimentos. Originário do Oriente (China e Japão), foi introduzido na Europa e
Estado Unidos, onde sofreu inúmeras adaptações. Sabe-se que durante a
construção da Grande Muralha da China, no século III a.C. se produziam vegetais
fermentados em grande escala (repolho, rabanete, nabos, pepinos, etc.). Hoje em
dia, os vegetais fermentados mais importantes comercialmente são os curtidos, o
chucrute e as azeitonas. Esses são preparados principalmente mediante a
fermentação bacteriana, atuando também fungos de determinadas espécies de
Aspergillus. [1,3]
Os ácidos atuam sob diferentes formas no processamento de alimentos,
além de contribuírem para melhorar a qualidade degustativa e estimular o
1
consumo. Têm sido utilizados como agentes saborizantes, como tampões no
controle do pH, conservantes na prevenção do crescimento de microorganismos e
da germinação de esporos, sinergistas aos antioxidantes, na prevenção da
rancidez e do escurecimento, modificadores da viscosidade, entre outros.
Portanto, o ácido serve como um conservante para o alimento podendo
proporcioná-lo uma vida de prateleira mais longa. [2]
Um alimento acidificado é definido como um alimento de baixa acidez, ao
qual foi adicionado um ácido ou um alimento ácido, para originar um produto que
tenha um pH final de equilíbrio de 4,6 ou menor e uma atividade de água acima de
0,85. No caso de vegetais acidificados artificialmente a acidificação é controlada
até o ponto de se ter um produto sem risco de desenvolvimento do C. botulinum
após a pasteurização (pH < 6), sem afetar significativamente o sabor do produto.
[2]
O valor nutritivo dos alimentos fermentados é muito pouco alterado e
compara-se aos demais métodos de preservação. Ocorrem pequenas mudanças
no valor energético, minerais e vitaminas. Em várias circunstâncias, os níveis
nutricionais são aumentados devido à presença de leveduras. Dessa forma, os
alimentos fermentados fornecem muitas qualidades nutritivas das hortaliças
frescas. [1]
O processo de fermentação reduz enormemente os níveis de compostos
tóxicos e antinutricionais como os filatos, o inibidor de tripsina, os glicosídios
cianogênicos e os nitratos e nitritos presentes em algumas plantas e verduras.[3]
As características de sabor, aroma e textura das hortaliças fermentadas
dependem não só de sua própria natureza como também das mudanças
resultantes da atividade das enzimas microbianas, das enzimas próprias do
alimento e das interações que ocorrem durante a fermentação e a subseqüente
cura e envelhecimento. Como ocorrem muitas mudanças durante a fermentação, é
evidente que grandes variações podem ser obtidas no produto final, com
possibilidade de muitos dos produtos serem de qualidade inferior.[1]
2
2. Produtos Fermentados
Existe uma grande variedade de produtos preparados como picles,
empregando-se as hortaliças como matéria-prima. Os picles podem ser agrupados
em quatro categorias: na primeira, estão incluídos produtos preparados
diretamente das hortaliças, sem que as mesmas sofram fermentação; na segunda
os produtos fermentados em salmoura de concentração relativamente baixa, entre
os quais se incluem os picles com endro e várias misturas de hortaliças; na
terceira categoria estão incluídas hortaliças fermentadas em salmoura de
concentração relativamente elevada para posterior dessalga e transformação em
outro tipo de picles; e a quarta categoria engloba ou produtos preparados pela
salga seca, empregando-se uma quantidade relativamente baixa de sal, como é o
caso do chucrute.[1]
A fermentação lática é utilizada na conservação de alimentos como meio
exclusivo de preservação ou como tratamento preliminar para o preparo de picles
em vinagre. No Brasil a maioria das firmas especializadas na fabricação de picles
utiliza-se do método em que nenhum tipo de fermentação se desenvolve. Os
picles são obtidos pela imersão de hortaliças em vinagre condimentado, tendo
como tratamento preliminar apenas o branqueamento. O picles preparado como
matéria-prima fermentada possui sabor agradável e é reputado de qualidade
superior à normalmente encontrada no mercado.[1]
Nos Estados Unidos, as indústrias que elaboram picles, relishes e
condimentos têm a maior importância. Nesse país, a área de plantação de pepino
para fabricação de picles é quatro vezes superior à área de plantação de outras
hortaliças que se destinam ao processamento.[1]
Além do pepino, outros produtos podem ser empregados como matéria-
prima no preparo de picles fermentado, quer sejam hortaliças, frutas ou cereais.
Assim, entre eles citam-se: cebola, cenoura, couve-flor, pimentão-doce,
alcachofra, tomate verde, beterraba, nabo, brócolis, vagem, chuchu e milho, e as
frutas: pêssego, figo, pêra, abricó, melão, melancia, morango, groselha-da-índia e
outras similares.[1]
3
3. Microbiologia da Fermentação
São relativamente poucas as espécies de bactérias responsáveis pela
fermentação da maioria das hortaliças. Elas se desenvolvem numa seqüência
natural e o papel de cada uma é primariamente governado pelas condições
ambientais. No decorrer do processo fermentativo, três grupos de microrganismos
são encontrados: as bactérias láticas, as enterobactérias e as leveduras. Desse, o
grupo láctico é o mais importante e, dentro do mesmo, determinadas espécies são
responsáveis pela maior produção de ácido lático e pelas características do
produto. Os demais grupos são indesejáveis, pois seu crescimento se dá em
detrimento das bactérias lácticas. Numa fermentação normal, as enterobactérias
terão seu desenvolvimento inibido quando o pH do meio atinge valores ao redor
de 4,5. As leveduras sempre estarão presentes e deve-se evitar ao máximo seu
crescimento, principalmente as oxidativas ou superficiais, que se desenvolvem
melhor no final da fermentação, dada a existência de maiores teores de ácido
lático, que é consumido pelas mesmas. Isso acarreta a elevação do pH e
possibilitará o crescimento de microrganismos deterioradores do material em
fermentação. [1,4]
As espécies responsáveis pela fermentação estão presentes na superfície
das hortaliças em número relativamente baixo. De fato, as proporções dessas em
relação às espécies aeróbicas indesejáveis são tão baixas que, para estimar o
número de organismos fermentativos, técnicas especiais devem ser usadas para
inibir o crescimento de bactérias aeróbicas e permitir o crescimento de espécies
fermentativas. Uma vez que as hortaliças crescem num ambiente aeróbico em
contato íntimo com o ar, o solo e a umidade, a maioria das bactérias presentes em
sua superfície quando colhidas são das espécies encontradas no solo e na água
pertencentes aos gêneros Pseudomonas, Flavobacterium, Achromobacter,
Aerobacter, Escherichia, Bacillus, Alginobacter, Paracolobactrum e Serratia. [1]
Dessa forma, no acondicionamento de hortaliças para a fermentação, é
essencial estabelecer condições ambientais desfavoráveis à flora aeróbica e ao
mesmo tempo favorável às bactérias lácticas. A ausência de ar e a concentração
4
adequada de sal são de maior importância. As hortaliças contêm açúcares e são
nutricionalmente adequadas como substrato para o crescimento das bactérias
lácticas e outros microrganismos. Embora os açúcares forneçam energia
necessária aos processos metabólicos, outros nutrientes são essenciais.
Desde 1930, a bactéria láctica Leuconostoc mesenteroides é considerada
ser de importância para iniciar a fermentação das hortaliças em salmoura ou
preparadas por salga seca, tais como: repolho, pepino, beterraba, rabanete,
couve-flor, vagem, tomate verde picado, repolho inteiro, couve-de-bruxelas e
mistura de hortaliças com soja. A fermentação é iniciada por Leuconostoc
mesenteroides, seguida por Lactobacillus brevis, Pediococcus cerevisiae e
Lactobacillus plantarum. As condições ambientais, número e tipos de organismos
presentes, limpeza, concentração e distribuição do sal, temperatura e cobertura
irão influenciar o curso da fermentação.[1]
Quando da colheita e as hortaliças são cortadas, pequena quantidade de
protoplasma exsuda na superfície de corte. As espécies fermentativas,
particularmente Leuconostoc, encontram um meio satisfatório para o crescimento.
Esse microrganismo produz CO2 que substitui o ar e provê condição de
anaerobiose favorável à estabilização do ácido ascórbico (vitamina C) e à cor
natural das hortaliças; ácido láctico e ácido acético, que abaixam rapidamente o
pH, inibindo conseqüentemente o desenvolvimento de microrganismos
indesejáveis e a atividade de enzimas que podem causar o amolecimento das
hortaliças. Essa espécie começa a crescer no meio de fermentação de hortaliças
mais rapidamente que as outras espécies de bactérias lácticas e numa grande
variação de temperatura e de concentração de sal.[1]
As mudanças complexas que ocorrem na fermentação de hortaliças são
produzidas pela seqüência de bactérias lácticas. Embora seja enfatizada a
importância da Leuconostoc mesenteroides, isso não significa que as outras
bactérias lácticas não sejam importantes. Lactobacillus plantarum é uma espécie
que produz grande quantidade de ácido e, juntamente com Pediococcus
cerevisiae, são as principais bactérias da fermentação, particularmente aquelas
em salmoura. Lactobacillus brevis é importante para dar às hortaliças a
5
característica de produto fermentado e é freqüentemente caracterizada por sua
habilidade em fermentar pentoses. [1]
Valores para a acidez de 1,0% a 1,2%, calculada em ácido láctico, podem
ser obtidos pela atividade de Leuconostoc mesenteroides em hortaliças
preparadas pela salga seca. Quantidades menores de ácido, 0,4% a 0,6%, são
produzidas em fermentações com hortaliças em salmoura desde que o efeito
“tampão” seja baixo. Lactobacillus plantarum se desenvolvem simultaneamente no
início da fermentação desde que a temperatura seja favorável. Em fermentação de
hortaliças preparadas pela salga seca, a acidez desenvolvida poderá ser de 2,0 a
2,5%, se a quantidade de açúcar for suficiente. Nas fermentações com hortaliças
preparadas em salmoura, teores de 1,0% a 1,2% de acidez são raramente
obtidos. Mas é bastante comum quando se aumenta rapidamente a concentração
de sal nas fermentações em salmoura; a ação inibidora do sal combinada com a
da acidez poderá paralisar a produção de ácido mesmo que a acidez esteja baixa.
Dessa forma, a espécie Leuconostoc mesenteroides produz aroma e sabor
desejáveis, derivados dos ácidos, álcoois e outros produtos da fermentação.
Aparentemente, este microrganismo propicia condições favoráveis ao crescimento
de outras bactérias lácticas que participam da fermentação. O pico da população
das várias espécies ocorrerá na ordem de sua tolerância à acidez, mas sempre
haverá uma sobreposição de espécies num dado momento. Além das espécies já
citadas, outras bactérias lácticas também foram detectadas nas fermentações com
diferentes hortaliças: Lactobacillus casei, L. leichmannii, Leuconostoc citrovorum,
L. dextranicum, Streptococcus faecalis var. liquefaciens. [1]
Como já foi mencionado anteriormente, o grupo de enterobactérias e
leveduras, embora indesejáveis, também se faz presente no decorrer do processo
fermentativo. Com relação às leveduras, os primeiros estudos microbiológicos em
hortaliças fermentadas indicaram a presença de várias espécies, às quais se
atribuía a produção de gás nos estágios iniciais da fermentação. Em uma
fermentação normal a sua quantidade é tão pequena quando comparada aos
números de bactérias lácticas que a sua contribuição para o processo é
questionável.
6
Não existe dúvida de que várias espécies de leveduras são responsáveis
por muitas das condições indesejáveis para a fermentação de hortaliças. As
leveduras aeróbicas formam películas na superfície das hortaliças em
fermentação, obtendo energia pela fermentação do ácido láctico, neutralizando
dessa forma a salmoura e permitindo que outros microrganismos cresçam. As
leveduras são responsáveis pela destruição do ácido láctico, a hidrólise do
material péctico, a decomposição da proteína e lipídios resultam em sabores e
odores indesejáveis e mudanças na textura. Formação de “cavidades”,
amolecimento, mudanças de cor e aparecimento de manchas brancas em
hortaliças. As muitas espécies que podem estar presentes são englobadas nos
seguintes gêneros: Candida, Crytococcus, Debaryomyces, Saccharomyces,
Rhodotorula, etc. [1]
4. O Processo de Fermentação Láctica
A preservação de vegetais pelo emprego da fermentação láctica pode ser
efetuada por meio dos dois processos existentes: método de salmoura e método
da salga seca. O primeiro é empregado para frutas e para a maioria das
hortaliças, principalmente o pepino; o segundo é aplicado para o repolho, obtendo-
se o chucrute. [1]
As adições de sal servem para lixiviar o conteúdo celular, facilitando o
desenvolvimento dos microrganismos responsáveis pela fermentação, para evitar
em parte a multiplicação dos germes nocivos, favorecendo a ação das bactérias
lácticas e, finalmente, para contribuir para a melhoria da consistência do produto.
Para o caso do método da salmoura, sua concentração de sal ideal é de
10% de cloreto de sódio, na proporção de 1,8:1 entre a salmoura e a hortaliça.
Para se evitar adições de sal durante as fermentações, necessárias para restaurar
a concentração inicial da salmoura alterada pelo efeito do fenômeno de difusão,
devem ser adicionadas no início do processo salmouras com concentrações
superiores a de trabalho, empregando-se a equação:
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BM = (PH . BH + PS . BS) / (PH + PS)
Em que:
BM = Brix refratométrico da salmoura, após o equilíbrio osmótico, ou seja, a
concentração da salmoura desejável para a fermentação (valor de 12°Brix, que
corresponde a 10% de sal);
PH = Peso da hortaliça (valor conhecido);
BH = Brix refratométrico da hortaliça (determinado pelo refratômetro de campo);
PS = Peso da salmoura (calculado pela relação de 1,8:1 entre salmoura e
hortaliça);
BS = Brix da salmoura a ser colocada no momento do preparo das fermentações
(valor a ser calculado. O resultado deve ser subtraído de 2 para se ter a
porcentagem de sal).
Quanto ao método da salga seca que é aplicada para o repolho, obtendo-se
como produto o chucrute, empregam-se 2,5% de sal em relação ao peso da
hortaliça.
As fermentações, em ambos os casos, podem ser conduzidas em
recipientes de madeira ou tanques de alvenaria ou aço inoxidável de diferentes
tamanhos, de acordo com a quantidade de matéria-prima. Ainda, bombonas de
plástico podem ser utilizadas para a elaboração de produtos fermentados.
Quanto à temperatura de fermentação, recomenda-se não exceder 25°C,
embora tenha sido comprovado que o processo fermentativo se desenvolve
melhor na faixa de temperatura entre 18°C e 20°C. [1]
O final do processo fermentativo pode ser verificado das seguintes maneira:
a) Controle visual: pelas observações visuais do aspecto das hortaliças, pode-
se acompanhar a fermentação e detectar que, com o processo de cura, os
tecidos das hortaliças tornam-se translúcidos, mudando a coloração para
uma tonalidade mais clara. Isso caracteriza o final da fermentação.
b) Mediante controle físico (pH e acidez total expressa em% de ácido láctico):
as determinações de acidez total e do pH mostram que, no final da
fermentação, os valores encontrados praticamente se tornam constantes.
Se for permitido que a fermentação continue, a acidez diminui e,
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conseqüentemente, há elevação do pH. Durante o processo fermentativo
de picles de hortaliças verifica-se que ocorrem oscilações dos valores das
acidez total, as quais se acredita ocorram por causa do efeito tampão das
hortaliças, da elevação rápida da acidez da salmoura e posterior
abaixamento, para haver equilíbrio entre a acidez da salmoura e da
hortaliça, e da presença de leveduras oxidativas e superficiais. [1]
5. Elaboração de Picles
Os principais tipos de produtos de legumes e hortaliças conservados por
meio de anti-sépticos são os chamados picles. Picles são legumes, hortaliças e,
não raro, algumas frutas, conservados em salmoura ou em vinagre, com ou sem
fermentação lática e com ou sem adição de açúcar ou especiarias. Podem assim
ser divididos:
• Picles em salmoura: fermentados e não fermentados;
• Picles em vinagre: ácidos, doces e aromatizados.[2]
Fluxograma do Processamento de Picles Fermentado:
LIMPEZA E SELEÇÃO CLASSIFICAÇÃO
PREPARO E EXPURGO
BRANQUEA-MENTO
SALGAFERMENTAÇÃOARMAZENA-
MENTO
TRANSPORTE
DESCARREGA-MENTO
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COLHEITA
A seleção das variedades apropriadas é um dos fatores imprescindíveis na
elaboração do picles. Em geral, as hortaliças para esta finalidade devem
apresentar coloração uniforme, ser tenras e achar-se em ótimas condições de
conservação. Na colheita e transporte devem-se evitar batidas, ferimentos ou
qualquer dano físico que prejudique sua qualidade. O preparo varia de acordo
com a hortaliça empregada. De modo geral, envolve operações como
descascamento, corte em pedaços e outras, conforme o caso. Durante o preparo
deve ser feito o expurgo, que consiste na separação das partes das hortaliças
danificadas mecanicamente ou em processo de decomposição. As hortaliças
devem ser lavadas em água corrente e cortadas em tiras (pimentão), rodelas
(cenoura e pepino japonês) ou em pequenos ramos (couve-flor).
O branqueamento não deve ser aplicado quando a fermentação for natural,
ou seja, com os próprios microrganismos da hortaliça, este processo consiste
basicamente em tratamento pelo calor, que pode ser feito por imersão das
hortaliças devidamente preparadas em água fervente ou quase, ou tratá-las com
vapor por um tempo convenientemente determinado. As principais finalidades do
branqueamento são: promover uma desinfecção superficial do produto, reduzindo
o número de microrganismos; inativar enzimas em geral com o aquecimento; fazer
com que a consistência fique firme, embora tenra; fixar a cor, o sabor e o aroma
das hortaliças; eliminar o ar ocluído nos tecidos, evitando-se ou reduzindo-se a
ocorrência de oxidação prejudicial. Logo após o aquecimento, deve ser feito o
resfriamento, mergulhando-se as hortaliças em água fria ou submentendo-as a
uma série de aspersões. [1]
5.1 Fermentação do Picles:
A fermentação é efetuada em tanques cilíndricos de madeira ou de
concreto, ou de aço inoxidável, e cobertos por uma tampa falsa de madeira, onde
se colocam pesos para que as hortaliças fiquem submersas na salmoura.
Atualmente, tem sido empregado para a cobertura dos recipientes um filme de
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plástico de polietileno tendo como peso a água. A fermentação também pode ser
realizada em bombonas de plástico. [1]
As hortaliças devidamente preparadas são cobertas com uma salmoura a
10%, e sal é adicionado durante a primeira semana, para manter a concentração
neste nível. A salmoura pode ter uma concentração mais elevada, de acordo com
a porcentagem de sólidos solúveis das hortaliças (°Brix) e, após o equilíbrio
osmótico, atinge a concentração de sal na fase inicial da fermentação.
A fermentação normalmente requer de 4 a 6 semanas, durante as quais a
concentração da salmoura deve ser mantida a 10%. Em seguida, essa
concentração é gradualmente elevada para 15%-17,5% para conservação.
A temperatura ideal para a fermentação é de 18°C a 20°C, podendo
também ser compreendida entre 20°C e 25°C, com bons resultados.
Normalmente, é desenvolvida uma acidez total, de 0,6% a 0,8%, expressa em
porcentagem de ácido lático podendo, entretanto, atingir valores superiores (de
1,0% a 1,2%).
Durante todo o processo, deve-se tomar o máximo cuidado para evitar a
ocorrência de fermentações secundárias indesejáveis, principalmente a butírica.
Diversas leveduras tolerantes ao sal, mesmo na concentração de 15%-16%, como
Debaromyces, Candida e Pichia, podem oxidar o ácido láctico. Esses
microrganismos formam na superfície da salmoura um filme de coloração de
branca a cinza. Para impedir o desenvolvimento de leveduras, têm sido
empregado o ácido sórbico e seus sais de sódio ou de potássio. A legislação
brasileira permite a adição dos mesmos, com tolerância máxima de 1g/kg. Uma
medida eficiente para a conservação do picles fermentado é colocar sobre a
salmoura uma camada de óleo mineral de 3mm de espessura. Assim, se forem
tomados os devidos cuidados, a preservação desse produto é por tempo
indeterminado. [1]
Modernamente, em vez da fermentação natural, têm sido empregados
fermentos lácticos selecionados. Neste caso, antes da fermentação, as hortaliças
devem ser branqueadas.
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Os picles fermentados para serem consumidos devem ser rigorosamente
lavados ou macerados em água morna (de 45°C a 55°C) por algumas horas. São
usados na cozinha, de diferentes maneiras, ou como matéria-prima para a
elaboração de picles em vinagre. Para isso o sal precisa ser retirado da matéria-
prima salgada por imersão em água, antes de colocá-la em vinagre. Para manter
as condições de textura razoáveis podem ser empregados cloreto de cálcio,
lactatato de cálcio e gluconato de cálcio nas operações de elaboração, na
quantidade máxima de 0,3g/kg, expresso em cálcio. [1]
A maioria das indústrias especializadas na fabricação de picles utiliza o
processo em que praticamente nenhum tipo de fermentação se desenvolve. Os
picles são obtidos pela imersão das hortaliças em uma solução de vinagre
condimentado, tendo como tratamento preliminar apenas o branqueamento. [2]
5.2. Elaboração do picles com endro
Diversos tipos de picles, como o “picles com endro”, são fermentados em
salmoura com baixo teor de sal. Esse tipo de picles é preparado com pepinos,
fazendo-se adição na salmoura da erva endro e uma mistura de especiarias, de tal
forma a conferir sabor e aroma não muito pronunciados. O produto é colocado à
venda nessa mesma salmoura e pode ser consumido após a fermentação, sem
nenhum processamento. [1]
A fermentação que ocorre é tipicamente láctica, durante a qual se verificam
mudanças na acidez, na textura, no sabor e no aroma. A cura envolve mudanças
nas propriedades físicas e químicas, sendo mais pronunciada a mudança da cor,
que do opaco se torna translúcida. O sabor e o aroma do picles com endro
genuíno é resultante das mudanças bioquímicas produzidas por microrganismos
durante a fermentação e o subseqüente processo de envelhecimento.
Existem muitas variações empregadas para o preparo do picles com endro,
porém normalmente se emprega uma salmoura com 5% de sal. Os pepinos são
colocados em barril em camadas alternadas com endro e especiarias. A
fermentação é rápida, sendo a concentração de sal reduzida para 3%; a acidez
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atinge 0,7%-1,0%, calculado em ácido láctico; e o pH apresentará valores de 3,5 a
3,6.
O picles com endro genuíno é pasteurizado a 74°C por 15min, seguido por
um resfriamento rápido, assim, permanecerá por longo período de tempo firme e
quebradiço. [1]
5.3 Principais alterações no picles:
a) Amolecimento: a indústria de picles pode sofrer consideráveis perdas devidas
ao amolecimento, que às vezes ocorre durante a fermentação ou no
armazenamento, geralmente indicando que a salmoura está com baixa
concentração de sal. Verificou-se que, de modo geral, o amolecimento é devido à
decomposição das substâncias pécticas da hortaliça. Essa decomposição pode
ser causada pelas próprias enzimas das hortaliças ou enzimas secretadas por
bactérias, leveduras ou fungos. Entre as bactérias, cita-se o Bacillus mesentericus
fuscus, como o principal, que é tolerante ao sal e cuja enzima produzida é
bastante tolerante ao meio ácido. A acidificação da salmoura fresca e
concentração de sal acima de 8% são as recomendações feitas para reduzir o
amolecimento.
b) Picles “ocos” ou com “cavidades”: algumas vezes, as perdas devido à produção
de picles com “cavidades” podem ser tão sérias quanto as causadas pelo
amolecimento. Têm-se considerado como agentes causadores dessa alteração
vários fatores: estrutura física da hortaliça, formação de gás por microrganismos,
efeito da pressão da salmoura sobre suas superfícies e, por último, acredita-se
que as diferenças entre variedades e estádios de maturação também sejam
responsáveis.
c) Escurecimento da salmoura: às vezes ocorre o escurecimento da salmoura
devido à formação de sulfeto de ferro. O gás sulfídrico provém da decomposição
da proteína e os sais de ferro necessários são fornecidos pela água ou pelo
equipamento, como bomba de ferro fundido, canos e outros equipamentos de
ferro. Em certos casos, a cor preta é um pigmento solúvel formado pelo Bacillus
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nigrificans, tendo como condição necessária a presença do açúcar, como
dextrose, presença de ferro, teor baixo de nitrogênio e reação neutra ou levemente
alcalina.
d) Salmoura viscosa: ocorre em salmouras que foram neutralizadas devido à
destruição do ácido láctico pelas leveduras. Os estudos revelaram que uma
bactéria gram-negativa é o agente causal da formação de salmoura viscosa. Esta
é uma bactéria formadora de cápsula que se desenvolve em meios onde os teores
de sal e ácidos são muito baixos. Recomenda-se o aumento no teor de sal como a
melhor medida para evitar essa alteração.
6. Elaboração do Chucrute
O termo “chucrute” é de origem germânica, embora não se possa
comprovar que o repolho, na forma de produto fermentado, seja de criação
germânica. Esses povos eram nômades e podem ter absorvido essa prática em
contato com outros povos. Até recentemente, o chucrute era preparado de
maneira empírica, sua qualidade era inferior e o produto se deteriorava facilmente.
Os estudos iniciados por volta de 1900, objetivando pesquisar a influência de
fatores ambientais em relação ao processo fermentativo do repolho, resultaram
em métodos que contribuíram para a padronização do produto. Variedades doces
de cabeça sólida e branca, cultivares que amadurecem em épocas diferentes,
resultam na fabricação de produtos uniformes. [1]
Segundo as Normas Técnicas Especiais Relativas a Alimentos e Bebidas,
chucrute ou repolho fermentado é o produto obtido pela fermentação láctica do
repolho (Brassica oleraceae), principalmente da variedade branca, lisa, e
apresentando-se sob a forma de tiras finas, úmidas, de cor amarelo-esverdeada e
de gosto ácido característico. O chucrute deverá apresentar acidez mínima
correspondente a um consumo de 11,0mL de solução de soda normal, por 100mL
de salmoura, e um teor de cloreto de sódio mínimo de 2,0g e máximo de 3,0g por
100mL de salmoura.
14
A Alemanha, a Holanda e a Iugoslávia são grandes produtores. Na
Iugoslávia é um vegetal de grande importância na dieta do povo como importante
fonte de vitamina C. Na época da safra, é consumido fresco, e na entressafra,
como produto fermentado. Nos Estados Unidos, o chucrute tem grande significado
econômico, ocupando o quinto lugar entre os alimentos enlatados, sendo
superado por ervilha, feijão, milho e tomate. Para suplementar sua produção, há
importação da Alemanha, da Holanda e da Iugoslávia. Outras hortaliças foliáceas,
como o espinafre, a acelga e a alface podem ser preparadas como chucrute.
Fluxograma do Processamento de Chucrute:
Devem ser usadas as cabeças sadias e firmes, que são armazenadas em
local bem arejado durante vários dias para permitir um ligeiro murchamento, o que
evita a quebra do repolho por ocasião do corte. É realizada a remoção do centro
através de uma faca cônica e o repolho é cortado em tiras finas.
LIMPEZA E SELEÇÃO
ACONDICIONA-MENTO
ESTERILI-ZAÇÃO
RESFRIA-MENTO
ENLATAMENTO
TRANSPORTE
DESCARREGA-MENTO
COLHEITA
15
O repolho é transformado em chucrute pelo processo de fermentação
láctica, sendo necessária a presença de uma concentração moderada de sal para
reduzir o crescimento dos microrganismos deterioradores e favorecer o
crescimento das bactérias lácticas. Empregam-se normalmente 2,5% de sal em
relação ao peso da matéria-prima, que é misturada ao repolho cortado, à medida
que o tanque ou outro recipiente vai sendo enchido. [1,4]
São utilizadas para a fermentação industrial tinas circulares com tampa
falsa sobre a qual se colocam pesos que exercem pressão sobre o repolho. A
pressão e o sal possibilitam a extração do suco (osmose) do repolho e imediata
formação de salmoura que o cobre totalmente. Os microrganismos agentes da
fermentação se desenvolvem rapidamente e há um grande desprendimento de
gás nos primeiros estágios da fermentação. Embora os fermentos estejam
presentes em número considerável e possam produzir pequenas quantidades de
álcool, especialmente durante os estágios iniciais da fermentação, os organismos
predominantes são os formadores de ácido láctico, o grupo Leuconostoc está
sempre presente e é responsável por considerável formação de gás, como
também pelos ácidos láctico e acético e ésteres de manitol. Caso possa ser
evitado o desenvolvimento de leveduras, de Aerobacter e de organismos butíricos,
ou pelo menos reduzi-los a um mínimo, a qualidade do produto será melhorada na
mesma proporção. [1,3]
Provavelmente o fator mais crítico na produção de chucrute refira-se ao
efeito do ar. A fermentação depende das bactérias lácticas que são microaerófilas.
O contato com o ar permite o crescimento de leveduras e fungos na superfície das
hortaliças e geralmente resulta em amolecimento, escurecimento e
desenvolvimento de sabor e aroma indesejáveis, que podem difundir por toda a
massa de chucrute. A temperatura ótima para a fermentação do repolho está
compreendida entre 18°C e 20°C. a acidez aumenta rapidamente durante a
fermentação e freqüentemente atinge 1,8%, expressa em ácido láctico. A
fermentação se inicia depois de 3 ou 4 dias e se completa em 3 ou 4 semanas.
[1,4]
16
Terminada a fermentação, os tanques devem ser vedados para impedir a
entrada de ar, cuja presença permite a ação de fungos, de leveduras formadoras
de película e de bactérias deteriorantes. Quando se emprega só uma cobertura de
líquido, este deve ser escumado com freqüência, para evitar o crescimento
excessivo das leveduras superficiais ou então o líquido precisa ser recoberto com
uma camada de óleo mineral neutro. Pode-se utilizar como preservativo o ácido
sórbico e seus sais de sódio ou potássio. [1]
6.1 Principais alterações no chucrute:
a) Alterações da cor:
Chucrute rosa: causada pelo desenvolvimento de um fermento róseo. Pode ser
devido ao desenvolvimento de um número grande de células de leveduras
formadoras de pigmento ou também devido à má distribuição do sal no preparo da
fermentação e o desenvolvimento de uma cepa de Lactobacillus brevis que produz
um pigmento de coloração vermelha. [1]
Chucrute escuro: pode ser conseqüência da temperatura da fermentação,
variedade ou condição de crescimento do repolho, ou por oxidação do produto
após o término da fermentação, no momento da retirada dos tanques de
fermentação (recomenda-se o enlatamento imediato).
b) Amolecimento: pode ser causado pela atividade de microrganismos aeróbios
que se desenvolvem em bolsas de ar ou em chucrute que não foi devidamente
acondicionado, ou devido a salga desigual ou à temperatura muito elevada.
c) Sabores desagradáveis: podem ser causados por fermentação anormal ou
pela absorção de sabores e odores provenientes de barris ou tanques de
fermentação. O sabor metálico ou amargo pode ser ocasionado pela presença de
compostos de enxofre, principalmente glucosídios que variam com a cultivar, grau
de maturação e condições de produção do repolho. [1]
6.2 Enlatamento:
17
Há uma grande procura do chucrute enlatado, por ser mais facilmente
distribuído e menos sujeito às deteriorações próprias ao do acondicionado em
grandes volumes. O chucrute usado para enlatamento, em geral, é curado por um
tempo menor que o chucrute a ser vendido a granel, pois se prefere para o
enlatamento um produto de cor mais clara e de acidez mais baixa. Colocado nas
latas adiciona-se salmoura e pasteuriza-se até o centro da lata atingir 65°C.
Algumas perdas têm ocorrido em chucrutes enlatados devido ao desprendimento
de hidrogênio causado pela ação do ácido do chucrute sobre a folha-de-flandres.
O chucrute enlatado recém aberto tem cheiro desagradável, mas desaparece com
a cocção do produto.
6.3 Suco de Chucrute:
O suco que se forma durante a fermentação do chucrute ou o que se obtém
pela espremedura do produto final é muito procurado. Alguns desses sucos são
consumidos ainda frescos ou crus, e outros, como produto enlatado ou
engarrafado, conservados por pasteurização.
6.4 Chucrute de alface:
Pode ser preparado com variedades de alfaces firmes, empregando-se o
mesmo método do preparo do chucrute de repolho. O chucrute de alface tem
sabor mais suave que o de repolho e porta-se bem no enlatamento.
6.5 Diferença de qualidade do chucrute:
A diferença de qualidade que pode existir entre os chucrutes pode ser
devida a um ou mais dos seguintes fatores:
a) Presença de substâncias inibidoras ou bactericidas nas diferentes cultivares;
b) Ausência de substâncias essenciais ao crescimento das desejáveis bactérias
lácticas;
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ADOÇAMENTO
LAVAGEM
ESCOLHA ECLASSIFICAÇÃO
COLHEITA
ACONDICIO-NAMENTO
SALGA
INCUBAÇÃO NATURAL
c) Fermentações superficiais indesejáveis.
Um produto de qualidade deve ser ligeiramente colorido, com uma
concentração de 1,72-2,3% de ácido láctico, um pH entre 3,4 e 3,6 e um aroma e
sabor agradáveis devido ao diacetil.[3]
7. Azeitonas
Aparentemente as azeitonas são mais sensíveis à deterioração que o
chucrute e outros fermentados. A adição de uma cultura stater de Lb. Plantarum
tem sido indicada para reduzir a possibilidade de alterações por microrganismos
não desejados. É especialmente importante a manutenção das condições de
anaerobiose na elaboração das azeitonas fermentadas, já que a contaminação por
leveduras é um dos principais problemas desta indústria. [3]
Conforme o estádio de maturação e o modo de preparo, as azeitonas de
mesa são classificadas em diferentes tipos ou estilos: azeitona verde tipo
espanhol, azeitona verde tipo siciliano, azeitonas maduras tipo californiano,
azeitonas verde-maduras e tipo grego (curada em azeite). [1]
Fluxograma do Processamento de Azeitona tipo Espanhol e Siciliano:
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ADOÇAMENTO
ESCOLHA ECLASSIFICAÇÃO
COLHEITA
PASTEURIZAÇÃO (60°C/45min)
OXIDAÇÃO
LAVAGEM
ACONDICIO-NAMENTO
ESTERILIZAÇÃO (121°C/50imn)
CONSERVAÇÃO
Fluxograma do Processamento de Azeitona Verdes-maduras e Maduras:
7.1 Azeitona Verde tipo Espanhol
20
Os frutos são colhidos quando atingem o desenvolvimento completo, mas
sem estar maduros ou ficar moles. Evitando machucá-los, são colocados nos
recipientes de preparo de picles o mais rapidamente possível. Azeitonas verdes
tipo Espanhol são submetidas ao tratamento com soda; azeitonas verdes estilo
Siciliano são fermentadas sem tratamento prévio com soda.[1,4]
O tratamento com lixívia ou solução de soda cáustica (hidróxido de sódio ou
de potássio, de 2% a 4%), também designado “adoçamento”, consiste na
eliminação do amargor dos frutos, atribuído a oleuropeína, por uns considerado
como verdadeiro glucosídio e, por outros, um éster duplo de glucose e ácidos
prorocatéquico e oleuropéico. Para uma “cura rápida”, a lixívia penetra até quase
ao caroço; para uma cura normal, ela penetra de dois terços a três quartos da
distância da casca ao caroço. Uma solução diluída de fenolftaleína aplicada à
superfície cortada do fruto indicará a profundidade da penetração da lixívia. [1]
A lixívia é removida e as azeitonas são cobertas com água, que é trocada
várias vezes ao dia, até o fruto ficar praticamente livre de toda a soda. A maioria
dos carboidratos fermentescíveis é removida das azeitonas lavadas por tempo
demasiado; se, porém, não são lavadas suficientemente, a alta alcalinidade
favorecerá o desenvolvimento e a ação das bactérias deterioradoras. Também,
quando as azeitonas são lavadas por tempo demasiado ou indevidamente
expostas ao ar durante a lavagem, elas podem se tornar acinzentadas.
A concentração de sal varia de acordo com o país produtor. Na Espanha,
as azeitonas lavadas são colocadas em salmoura numa concentração de 10%-
11% de tal forma a ficarem totalmente submersas, a fim de sofrer o processo da
fermentação láctica. Em outros países como nos Estados Unidos, devido às
características de determinadas cultivares, emprega-se uma salmoura de
concentração bem inferior. As variedades Sevillana e Ascolana são propensas ao
enrugamento e, em virtude desse fato, a salmoura empregada deve ser de baixa
concentração de sal (5,20%-6,25%) e, após a fermentação ter sido iniciada, a
concentração deve ser aumentada para 6%-8%. Para as variedades Manzanilla e
Misión, a salmoura deve ter a concentração de 10%-15% de sal. Após o equilíbrio
21
osmótico, a salmoura apresentará 2,5%-4,0% de sal, para o grupo Sevillana e
Ascolana, e de 6%-9% de sal para o grupo Manzanilla e Misión.
Terminado o preparo, os tonéis completamente cheios são bem fechados e
colocados em local ensolarado, para incubação natural; como, porém, as
azeitonas são colhidas em outubro e novembro, o tempo nublado e frio muitas
vezes retarda a fermentação. Esta é bem lenta em comparação com a do pepino,
provavelmente devido à escassez de substâncias nitrogenadas para alimento das
bactérias. [1]
Em virtude do tratamento com soda e a subseqüente lavagem, 65% do
açúcar fermentescível é removido e a fermentação não ocorrerá rapidamente em
temperatura baixa ou em alta concentração de sal. Adicionando-se açúcar, a
fermentação poderá estar completada em aproximadamente três semanas, e a
acidez atingida será de 0,7%-1,0% calculada em ácido láctico, e o pH obtido será
de 3,8 ou menor.
A fermentação dependerá da concentração de sal, da temperatura e da
quantidade de açúcar presente. O mesmo grupo de bactérias que fermentam o
chucrute e picles é responsável pela fermentação de azeitonas: Leuconostoc
mesenteroides, Lactobacillus brevis e Lactobacillus plantarum. Porém outras
espécies dos gêneros Aerobacter, Escherichia e Bacillus bem como leveduras
poderão persistir por um tempo prolongado e, aparentemente causar alterações.
Embora seja comum a formação de gás durante os primeiros estágios da
fermentação, seu excesso causa a formação de bolsas de gás. A espécie
Aerobacter aerogenes, muitas vezes está associada à produção de gás da mesma
maneira que as leveduras, embora as bactérias lácticas heterofermentativas
possam também estar envolvidas. As bactérias lácticas homofermentativas são as
desejáveis; assim, parece recomendável a adição de culturas puras, embora
trabalhos realizados nesse sentido não tenham apresentado o sucesso que era de
esperar. [1]
Na ocasião do acondicionamento, as azeitonas já devem estar livres de
açúcares fermentescíveis, também já devem ter perdido seu sabor natural,
atingindo uma cor “verde-oliva”. A acidez total deve estar acima de 0,75%,
22
expressa em ácido láctico. O cheiro deve ser agradável e a textura, firme e tenra,
nem rija nem mole. As azeitonas escolhidas são acondicionadas cuidadosamente
a mão em frascos de vidro, seguindo às vezes uma arrumação especial. Os
frascos são enchidos automaticamente com água ou salmoura e esvaziados da
mesma maneira, para ficar enxaguados e sem sedimentos aderentes os vidros
são, então, cheios com salmoura ao redor de 7,5% de concentração. Recomenda-
se a adição de 0,2 a 0,5 g de ácido láctico por 100mL de salmoura principalmente
se as azeitonas estiverem com acidez abaixo da ótima. Costuma-se também
adicionar de 0,1 a 0,2 g de ácido acético por 100mL, com vinagre destilado. Os
frascos devem ser vedados sob vácuo, para impedir o desenvolvimento de
fermentos aeróbicos, mas também é muito comum o fechamento sob pressão
atmosférica. A ocorrência de sedimentação devido ao desenvolvimento de
bactérias é menor, quando as azeitonas embaladas são pasteurizadas a 60°C ou
empregada salmoura na temperatura de 79°C a 82°C. [1,4]
7.1.1 Principais alterações nas azeitonas verdes tipo Espanhol:
a) Alambrado ou Fisheye: esse tipo de deterioração se evidencia pela formação de
bolsas e bolhas de gás. É geralmente causada pela bactéria do gênero
Aerobacter, embora as leveduras às vezes também sejam responsáveis. A
acidificação e o elevado teor de sal da salmoura no início da fermentação
desfavorecerão essa alteração. As medidas de controle mais viáveis na práticas
industriais incluem o uso de salmouras que se estabilizam com 7% a 8% de sal,
somando, entretanto, medidas para assegurar a imediata atividade dos
lactobacilos pelo uso de inóculos de cultura pura.
b) Fermentações butíricas: ocorrem mais freqüentemente durante a etapa inicial
da fermentação, quando existe nas salmouras abundância de glicose e manitol. A
alteração é produzida por bactérias anaeróbicas do gênero Clostridium. O controle
dessa alteração pode ser efetuado da mesma maneira que para Alambrado, ou
seja, emprego de salmoura de 7% a 8% de sal e pH 4,0 ou menor, e inoculação
com cultura pura.
23
c) Fermentações pútridas: este tipo de fermentação só é verificado quando se
empregam para a fermentação recipientes sujos e mal conservados. Se forem
tomadas as mais elementares medidas de higiene, praticamente não haverá
perigo de ocorrer esse tipo de alteração, não havendo necessidade de um
verdadeiro procedimento de controle.
d) Alterações da cor: quando as azeitonas ficam expostas ao ar indevidamente,
durante a lavagem que se segue à lixiviação, a cor escurece e, quando termina a
fermentação, as azeitonas podem adquirir coloração cinza, defeito esse que
afetará bastante suas qualidades de comercialização e, portanto, seu valor.
Quando a lavagem é muito prolongada (de 2 a 3 dias) elas poderão também ficar
cinzentas, por causa da oxidação. Segundo alguns autores, a adição de ácido
ascórbico assegura a cor desejável. [1]
e) Formação de manchas brancas: o crescimento de leveduras ou mesmo a
formação de colônias de Lactobacillus plantarum sob o tecido envoltório da
azeitona pode ocasionar o aparecimento de manchas brancas na superfície
externa dos frutos.
f) Amolecimento: a presença de fungos, leveduras e bactérias do gênero Bacillus
podem resultar no amolecimento das azeitonas. As cultivares Sevillana, Ascolana
e Manzanilla são mais susceptíveis ao amolecimento que a cultivar Misión.
g) Alterações que ocorrem durante a conservação das azeitonas: a mais
importante é a Zapatera. Normalmente, ocorre quando a fermentação não atinge
condições de pH e acidez convenientes. O mesmo pode ocorrer quando a
conservação não é boa, ocorrendo o crescimento de leveduras superficiais que,
ao consumirem o ácido formado na fermentação, elevam o pH. As azeitonas com
esse tipo de alteração caracterizam-se por apresentar um odor e, sobretudo um
gosto muito desagradável, que, às vezes, se confundem com os provocados por
outros tipos de alteração. Os microrganismos responsáveis pertencem às distintas
espécies dos gêneros Clostridium e Propionibacterioum. Esses não se
desenvolvem em valores de pH inferior a 4,5 e numa salmoura de concentração
se sal superior 7%-8%. Sem dúvida alguma, na prática industrial, para se ter
segurança absoluta é preciso que, além da concentração de sal indicada, o valor
24
de pH seja de 4,0 ou inferior, de preferência obtido por fermentação. Esse valor
poderá ser obtido com o auxílio ou não de matéria fermentescível, adição de
cultura pura e outros. [1]
7.2 Azeitona tipo Siciliano
São preparadas a partir de frutos cuja coloração varia do verde ao amarelo
palha, geralmente da variedade Gordales ou Sevillana. Para seu preparo não se
faz o tratamento com lixívia, que serve para a remoção do amargor. [1]
Após a escolha e classificação, as azeitonas são colocadas em salmoura
de concentração relativamente baixa, e o sal é adicionado, paulatinamente, até a
concentração atingir 7%-8%. Os barris são completamente cheios de salmoura
para suprimir o crescimento de leveduras. A fermentação láctica é rápida uma vez
que não houve a remoção de açúcares, pelo fato de não ser feito o tratamento
com lixívia para a remoção do amargor. Sendo a concentração final de sal elevada
e a acidez de 0,3%-0,6%, o crescimento de leveduras é suprimido. Ocorre a
mesma seqüência de crescimento bacteriano que para a fermentação de
azeitonas estilo Espanhol. Terminada a fermentação, o produto é acondicionado
numa salmoura recém-preparada, com 6%-7% de sal, adicionada ou não de
especiarias. Às vezes emprega-se vinagre de boa qualidade para a acidificação.
[1]
7.3 Azeitonas Maduras
De acordo com as normas de qualidade do Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos, as azeitonas maduras propriamente ditas, conhecidas como
azeitonas pretas californianas, são “aquelas que foram tratadas e oxidadas
durante a fabricação, de forma a adquirir uma cor característica, que vai do
marrom-escuro ao preto”. [1]
25
A cor dos frutos para a colheita varia do verde ao vermelho-cereja. O
transporte é feito em caixas especiais de forma a mão acarretar danos físicos aos
frutos nas operações de carga e descarga. Ao chegarem à indústria, as azeitonas
são escolhidas para remoção de frutos defeituosos e a classificação atendendo
principalmente a cor, em três grupos: verdes, intermediárias e maduras. As
demasiadamente verdes se destinam ao preparo de azeitona estilo Espanhol e as
mais maduras, para a extração do óleo. As azeitonas maduras podem ser
preparadas imediatamente; porém a falta de capacidade das instalações para
elaborar toda a matéria-prima que chega à indústria e outras razões de ordem
industrial fazem com que haja a necessidade de conservar os frutos. O período de
conservação é variável, geralmente, de 1 a 8 meses, às vezes até 18 meses,
antes do tratamento com soda e lavagens. Essa conservação se realiza em
soluções de cloreto de sódio, em tanques de madeira ou concreto, com
capacidade variável entre 3 e 15t. A concentração de salmoura empregada
depende da cultivar. Aquelas de frutos grandes, Gordales e Ascolana, por serem
muito susceptíveis ao enrugamento, são colocadas em salmouras mais fracas, de
2,5% a 5%. As cultivares Misión e Manzanilla podem resistir a concentrações
maiores, até mesmo próximas de 10%. No tanque de conservação ocorre um
processo moderado de fermentação láctica. A acidez pode alcançar teores ao
redor de 0,4% e o pH, valores compreendidos entre 4,0-4,6. A formação de
películas superficiais de fungos e leveduras nesses tanques é bastante freqüente,
se as condições sanitárias não forem adequadas. [1]
Os frutos frescos ou provenientes da salmoura são tratados com uma série
de soluções diluídas de soda. Após cada tratamento com lixívia, as azeitonas se
enegrecem por oxidação, em virtude do tratamento com ar. Este pode ser feito
pela exposição direta dos frutos ao ar durante 24 horas ou, na maioria dos casos,
por injeção de ar na água, por meio de um sistema de tubos de ferro ou de aço
perfurados, e uniformemente distribuídos no fundo do recipiente. Após o período
de tratamento alcalino, as azeitonas são lavadas várias vezes como água para
eliminar a soda, nos mesmos recipientes em que foram submetidos ao
adoçamento e enegrecimento. Às vezes emprega-se a adição de ácido clorídrico
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diluído de 0,01% a 0,1% na água de lavagem para acelerar o processo de
neutralização da soda. Para estabilização da cor, após a lavagem, faz-se a
imersão dos frutos em solução com gluconato ferroso a 0,1%, durante um período
variável de 1 a 12 horas, segundo a cultivar.
Para se evitarem alterações microbianas depois da lavagem, as azeitonas
são submetidas à pasteurização submersas em água. Esta pasteurização é
efetuada a 60°C, durante 45 min. Em algumas instalações, a operação é realizada
injetando vapor na água até a mesma atingir 93°C; a seguir, desliga-se o vapor.
As azeitonas são colocadas em salmoura com concentração de aproximadamente
3% de sal, durante 1 a 3 dias. Para a esterilização, utilizam-se autoclaves,
contínuas ou descontínuas, segundo a importância das instalações. As latas de
3kg são esterilizadas a 115°C por 60 min, ou a 121°C por 50 min. [1]
7.4 Azeitonas Verdes-Maduras:
Segundo as normas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos,
as azeitonas do tipo verde-maduras são “aquelas que não são oxidadas durante o
processo de elaboração, variando na cor, que pode ser verde-amarelado,
amarelo-esverdeado, ou outros tons de verde, e que podem estar com a coloração
desuniforme”.
Para este tipo de preparação, só se destina pequena porcentagem de
azeitona madura pertencente, principalmente, às cultivares Manzanilla, Misión e
Sevillana. Para o preparo desse tipo de azeitona, o processamento difere daquele
para obtenção de azeitona madura nas seguintes operações:
a) O estádio de maturação é menos avançado que para as azeitonas maduras;
entretanto a coloração do fruto fresco varia do verde ao vermelho-cereja.
b) Uma vez escolhidas e classificadas, as azeitonas são imediatamente
processadas sem que haja a operação de conservação em salmoura.
c) Não se faz nenhuma aeração nos períodos intermediários dos tratamentos com
soda, os quais na prática industrial são reduzidos geralmente a dois. O primeiro,
mais forte, para se conseguir a penetração na pele e, o segundo, mais fraco, que
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é deixado a penetrar até o caroço, a fim de se conseguir a total eliminação do
amargor. [1]
7.5 Azeitona tipo Grego
Para o preparo de azeitonas tipo Grego, é empregado a cultivar Conservolia
de Amphissa. São preparadas pelo processo de cura em salga seca, ficando o sal
em contato direto com os frutos; posteriormente, adiciona-se o azeite de oliva
como cobertura. [1]
8. Referências Bibliográficas:
[1] AQUARONE, E., LIMA, U. A, BORZANI, W. Alimentos e bebidas produzidos
por Fermentação. Biotecnologia-Volume 5. Editora Edgard Blücher, São Paulo,
1983. 243 páginas.
[2] BENEVIDES, C. M . J., FURTUNATO, D. M. N. Hortaliças Acidificadas.
Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
20611998000300004. Acessado em 23/08/2005.
[3] LEE, B. H. Fundamentos de Biotecnologia de los Alimentos. Editorial
Acribia, S. A., Zaragoza/Espanha. 475 páginas.
[4] SILVA, J. A. Tópicos da Tecnologia de Alimentos. Livraria Varella/São
Paulo-SP, 2000. 230 páginas.
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