A 1554329

download A 1554329

of 7

Transcript of A 1554329

  • 7/25/2019 A 1554329

    1/7

    103 Cermica 54(2008) 103-109

    INTRODUO

    As evidncias arqueolgicas de povos ceramistas

    encontram-se entre as principais formas de sinalizar stiosarqueolgicos pr-coloniais, ocupados preteritamente

    por grupos culturais que desenvolviam uma economia dehorticultura. A maioria das peas arqueolgicas em cermica fragmentada e erodida, considerando, nesse caso, o grau

    Anlise parcial sobre a cermica arqueolgica do Vale do Taquari,Rio Grande do Sul

    (Partial analysis of the archaeological pottery from Vale do Taquari,

    state of Rio Grande do Sul, Brazil)

    N. T. G. Machado1, P. Schneider2, F. SchneiderF. Schneider3

    1R. Leovegildo Leal de Moraes 75, Parque Novo Horizonte, Santa Maria, RS 97110-8202R. Coronel Jos Diel 746, Centro, Santa Clara do Sul, RS 95900-0003R. General Netto, sala 3, prdio 388, Cruzeiro do Sul, RS 95930-000

    [email protected]

    Resumo

    A pesquisa arqueolgica pr-colonial desenvolvida na regio que compreende a bacia hidrogrca do Rio Taquari/Antas identicoua ocupao de grupos horticultores ceramistas, que habitavam e percorriam o territrio, antecedendo em dez sculos a chegadados primeiros colonizadores e imigrantes europeus. A presena de evidncias cermicas, foco desse estudo, pontua e comprovaa ocupao deste territrio. A coleo de fragmentos cermicos foi analisada com tabelas tecno-tipolgicas identicando-se ascaractersticas especcas de cada pea, modo de produo, tratamento de superfcie incluindo a pintura e os desenhos geomtricos.Deste modo se caracterizar a cultura material cermica desta regio. A produo das vasilhas cermicas por grupos culturais atestaocupaes humanas no interior do Rio grande do Sul, antes da chegada do imigrante europeu e criam-se hipteses sobre as prticasde vivncia dessas ocupaes.Palavras-chave: cermica pr-colonial, horticultores.

    Abstract

    The archaelogical research about pre-colonial times developed in Vale do Taquari (Taquari/Antas hydrograpical basin) has identied

    the occupation of horticulturist and ceramist groups that inhabited the territory, preceding in ten centuries the european arrival. Thepresence of pottery evidences, the purpose of this study, proves the occupation of this territory. The fragmented pottery collection

    was analysed with technical-typological tables, where it was possible to identify specic characteristics of each evidence, mode

    of production, treatment on surface including painting and geometrical drawings. This way, it will be characterized the material

    culture (pottery) of this region. The pottery production made by cultural groups proves past human occupations in the state of Rio

    Grande do Sul, before the european arrival and it creates hypothesis about living practices of these occupations.

    Keywords: pre-colonial pottery, horticulturists.

    1Coordenadora do Setor de Arqueologia do Museu de Cincias Naturais da

    UNIVATES, Doutora em Arqueologia Brasileira pelo MAE/USP, Professora

    e membro do Colegiado do Mestrado em Ambiente e Desenvolvimento da

    UNIVATES, Lajeado, RS.2Graduanda do curso de Licenciatura em Histria da UNIVATES, Bolsista

    de Iniciao Cientica BIC Funadesp e Procoredes FAPERGS.3

    Graduanda do curso de Licenciatura em Histria da UNIVATES, Bolsistade Iniciao Cientica BIC FAPERGS.

    de integridade dos stios arqueolgicos com caractersticasde horticultura.

    A cermica corresponde ao reexo do comportamento

    social do grupo que as produziu, sendo, inclusive, umadelimitadora funcional na medida em que so as mulheresque as produzem. Produo e utilizao do vasilhame ligam-se diretamente s atividades alimentares, necessidade bsicade sobrevivncia, envolvendo e entrelaando os indivduosdo grupo em seu convvio social. Em um universo mitolgico,a cermica demanda uma forte carga representativa, pois oscerimoniais e rituais que fortalecem a unidade mtica entreos indivduos so mesclados por artefatos especcos decermica.

    Como fonte de estudo para os arquelogos, a cermica de vital importncia, permitindo a anlise e a compreenso

    da dinmica social e cultural dos grupos horticultoresantigos. Acredita-se que a cultura material pensada dentro

  • 7/25/2019 A 1554329

    2/7

    104

    da tica da representao, pois, segundo Funari, possveldescobrir ou aproximar-se do que est oculto nas evidnciasmateriais, levando em conta as ausncias, as diferenas esemelhanas que constituem o padro da cultura material emcontextos especcos [1].

    A cermica, atravs de seu prprio eixo, acrescenta

    informaes sobre a dinmica no territrio ambiental. Aescolha, seleo e organizao do territrio para assentamentodos grupos sociais, os locais de coleta de argila, deconfeco, de queima e de utilizao so fundamentais parao entendimento do arquelogo sobre o ambiente ocupado eo homem ocupador.

    Em arqueologia, a principal metodologia utilizada paraanlise dos fragmentos de cermica a quanticao e acaracterizao. Para realizar inferncias e anlises, considera-se o tratamento de superfcie e a forma de fabricao. Atravsde estudos tecno-tipolgicos e sobre disperso espacial/comportamental entende-se a dinmica cultural e territorial

    dos grupos sociais. Nesse sentido, as evidncias em contextotornam-se de vital importncia para o entendimento do stioarqueolgico.

    As pesquisas realizadas at o momento nos stiosarqueolgicos da regio conhecida geogracamente comoVale do Taquari demonstram a relao entre a cermica egrupos portadores da Tradio tecnolgica Tupiguarani.

    Os stios arqueolgicos dos ceramistas encontram-se emplancies de inundao, associadas a cascalheiras. As planciesso extensas, variando de 300 metros a 3 quilmetros. Noentanto, para esse estudo foram utilizados os dados dasanlises tecno-tipolgicas nas cermicas relacionadas aosstios RS T 101, 105, 107 e 110. Quanto as supostas pocasde ocupao, as dataes em termoluminescncia indicamum longo e intenso perodo de mobilidade cultural na regio,revelando datas que vo do sculo VI ao XV. As dataesforam realizadas atravs do LACIFID da Universidade deSo Paulo.

    MATERIAL E MTODOS

    A metodologia desenvolvida para aplicao dos dados

    partiu da anlise tecno-tipolgica [2] e da reconstruogrca, baseada em identicao da inclinao e dimetroda borda. A partir dessa metodologia foi possvel evidenciar

    cinco classes principais de vasilhas: panelas; caarolas;pratos (para comer e assar); jarros; tigelas. No stio RST 101identicou-se 84 vasilhas de classes diferentes, no RST 105,32 vasilhas de classes diferentes, no RST 107, 27 vasilhasde classes diferentes, no RST 110, 27 vasilhas, em um totalde 170 tipos de vasilhas de classes diferentes. Exemplo devasilha, Fig. 12.

    A anlise tecno-tipolgica consiste na separao dosfragmentos quanto a sua borda, parede e base. Ao promoveros trabalhos com as bordas, paredes e bases identicam-se caractersticas como o tratamento de superfcie eforma de produo. Para a anlise das bordas tambm

    so identicados a inclinao e o dimetro. No estudo dotratamento de superfcie considera-se a parte externa do

    fragmento, que pode apresentar variaes estilsticas emsua forma nalizada. A seguir, parte-se para uma descriodos tratamentos de superfcies mais correntes na coleocermica da regio do Vale do Taquari/RS. A caracterizaodos fragmentos foi realizada conforme os trabalhos de LaSalvia e Brochado, 1989 [2].

    O tratamento de superfcie corrugado considerado umdemarcador dos grupos ceramistas Tupiguarani. O corrugado caracterizado pela ao lateral do dedo sobre a superfciecermica, pressionando uma parte da argila, por arraste, eformando uma crista de forma semi-lunar como resultado doacmulo de argila arrastada [2]. Aparece somente na faceexterna, associado a face interna lisa e raras vezes pintada.

    O tratamento de superfcie ungulado consiste naexpresso decorativa da ao frontal da unha, na forma deum arco, com sentido e formato de quem aplica. Aparece naface externa e a parte interna alisada.

    O tratamento de superfcie liso consiste no alisamento

    com auxlio de uma pedra (brunidor), madeira ou a prpriamo de quem produz. Este objeto friccionado na parteinterna ou externa da vasilha, deixando a superfcie lisa.Ainda, o tratamento pode ser elaborado atravs do banho davasilha em uma argila mais plstica do que a utilizada na sua

    produo (tratamento de engobo). O tratamento de superfcieliso pode receber pintura na face interna e externa.

    Outro caso de tratamento de superfcie o roletado. Omtodo de fabricao tpico tupi-guarani utilizado pelasoleiras eram os cordis de argila sobrepostos, conhecidoscomo roletes. Poucas vezes esses cordis eram deixadosexpostos sem nenhum tratamento de superfcie complementar.

    No entanto, em nossas colees de cermica arqueolgicasesse tipo aparece com certa freqncia, o que nos possibilitaclassicar como mais um tratamento de superfcie. Figuramna face externa, com interior alisado e raramente pintado.

    Entre outros tratamentos superciais, o pintado- considerado por La Salvia e Brochado [2] como umelemento de decorao aplicado na superfcie lisa emambas as faces. Muitas vezes encontra-se associado a outrostratamentos de superfcie, porm ocorrendo em menorfreqncia. A aplicao da pintura na cermica realizadacom tinturas orgnicas e minerais.

    Os fragmentos de borda recebem um tratamentode alisamento e nalizao especial na parte superior.

    Este alisamento recebe o nome de lbio, mostrando-sedeterminante na diferenciao da parede e da borda. O lbio a parte superior da borda, que recebe um tratamento nalde alisamento, deixando bem evidente a separao entreo resto da pea. Os tipos de lbio podem ser enquadradosem trs categorias: aplanado, quando o lbio ca plano,apontado, quando o lbio pressionado cando com aspectode ponta, arredondado, quando o lbio alisado, candosemi-circular.

    Em ltima instncia, analisando as colees cermicasfoi possvel descrever os tipos de fragmentos cermicosencontrados. Nelas encontram-se as paredes, sendo estas

    os fragmentos de cermica sem lbio e borda. As bordasso fragmentos que apresentam lbios identicando a parte

    N. T. G. Machado et al. / Cermica 54(2008) 103-109

  • 7/25/2019 A 1554329

    3/7

    105

    superior da vasilha. As bases indicam o fundo da vasilha.Alguns fragmentos apresentam a juno destes trs tipos.

    Segundo as respostas obtidas atravs do estudo tecno-tipolgico da coleo, as bordas enquadram-se em trscategorias: inetidas, introvertidas e extrovertidas. Quanto primeira, percebe-se que sua abertura e borda esto em

    posio vertical parede. A segunda apresenta abertura eborda inclinadas direo interna do objeto. A ltima denida por uma inclinao das bordas direcionadas parafora.

    Somente com os fragmentos de borda possvel visualizaro tamanho da vasilha. Isso porque, a tcnica utilizada paradenio a medio do dimetro. O dimetro medidoatravs do bordmetro.

    Seguindo o que propem a anlise tecno-tipolgica, oacordelado a principal forma de produo das vasilhasconfeccionadas por grupos da tradio tecnolgica tupi-guarani. Em sua denio, a produo de cordis de argila

    sobrepostos, dando assim forma ao pote. Outro modode fabricao das vasilhas, porm em menor escala, omoldado. Em linhas gerais, a aplicao de uma porode argila dentro de um molde pr-fabricado. Encontra-seainda a tcnica do modelado na confeco de vasilhas, cujadenio a utilizao de uma poro de argila modeladacom os dedos para dar forma a vasilha.

    O estudo dos fragmentos cermicos dedica-se a entenderos processos ocorridos aps o abandono do assentamento.

    Na cermica o grau de conservao de superfcie consisteem avaliar o estado fsico do fragmento ou da pea. Osnveis de conservao so organizados em trs categorias:conservada - quando se identica o tratamento de superfcie-, semi-erodida - quando apenas parte da pea (+ ou 50%)se encontra desgastada e erodida - quando no possvelidenticar o tratamento da face externa, mesmo que a faceinterna esteja bem preservada.

    RESULTADOS

    Atravs da anlise do material cermico foi possvelcomprovar a predominncia da tcnica do acordelamento nafabricao das vasilhas. Em nossas colees, estudadas ato momento, 99% dos fragmentos enquadram-se na tcnicareferida.

    Estudando os fragmentos, detectaram-se algumascaractersticas presentes na pasta. Esta, em geral, apresentacolorao variada, predominando a colorao cinza escurae marrom avermelhada na superfcie, devido queimaoxidante incompleta, porm bem controlada, resultandonuma vasilha de boa qualidade.

    No que concerne ao estudo prvio da composio daargila, que apresenta-se bastante plstica identicou-se a

    presena de gros de hematita (xido de ferro), materialorgnico e caco modo.

    Quanto ao acabamento da superfcie interna o alisado o mais comum. No tratamento corrugado, os fragmentos

    da coleo apresentam algumas peas com pintura internavermelha.

    Os fragmentos cermicos ungulados da coleoapresentam o modelo simtrico e o assimtrico.

    Os fragmentos lisos do Vale do Taquari tm suas faces

    interna e externa bem alisadas.A juno de tratamentos de superfcie identicada nos

    Figura 1: Caracterizao do tratamento de superfcie corrugadoda coleo de evidncias arqueolgicas cermicas do Vale doTaquari/RS.[Figure 1: Characterization of the corrugated treatment of surface

    of the collection of ceramic archaeological evidences of the Valley of

    the Taquari/RS.]

    Figura 2: Caracterizao do tratamento de superfcie unguladoda coleo de evidncias arqueolgicas cermicas do Vale doTaquari/RS.[Figure 2: Characterization of the ungulado treatment of surface

    of the collection of ceramic archaeological evidences of the Valley

    of the Taquari/RS.]

    N. T. G. Machado et al. / Cermica 54(2008) 103-109

  • 7/25/2019 A 1554329

    4/7

    106

    fragmentos cermicos da coleo. Como exemplo, pode-se citar a juno do tratamento de superfcie liso com oungulado, do ungulado com rolete exposto, do corrugadocom o ungulado e o liso com o corrugado, vide caractersticasespecicas de cada tratamento supra-citadas.

    O roletado aparece na face externa com face internaalisada. A coleo apresenta alguns fragmentos com os roletesexpostos na parte superior prximo borda e outros perto da

    base.

    Quanto aos fragmentos pintados, notam-se algumasvariaes como a cor banca, preta e vermelha. O tratamento

    pode aparecer em todo o pote, mas normalmente ocorre naparte superior, interna ou externamente. Geralmente, osdesenhos geomtricos so delineados com a cor branca ou

    vermelha no fundo. So freqentes ainda faixas vermelhas delarguras variadas circundando a vasilha. Tradicionalmente,

    Figura 3: Caracterizao do tratamento de superfcie liso da coleo

    de evidncias arqueolgicas cermicas do Vale do Taquari/RS.

    [Figure 3: Characterization of the smooth treatment of surface of

    the collection of ceramic archaeological evidences of the Valley of

    the Taquari/RS.]

    Figura 4: Caracterizao da juno de tratamento de superfciecorrugado, ungulado e liso da coleo de evidncias arqueolgicascermicas do Vale do Taquari/RS.[Figure 4: Characterization of the junction of corrugated, ungulado

    and smooth treatment of surface of the collection of ceramic

    archaeological evidences of the Valley of the Taquari/RS.]

    Figura 5: Caracterizao do tratamento de superfcie com roleteevidente, coleo de evidncias arqueolgicas cermicas do Valedo Taquari/RS.[Figure 5: Characterization of the treatment of evident surface

    with rolete, collection of ceramic archaeological evidences of the

    Valley of the Taquari/RS.]

    Figura 6: Caracterizao do tratamento de superfcie com pinturaexterna, fundo branco, faixa vermelha e desenhos geomtricosde conjunto de linhas em zigue-zague vermelhas. Coleo deColeo deevidncias arqueolgicas do Vale do Taquari/RS.[Figure 6: Characterization of the treatment of surface with

    external painting, deep white, red band and geometric drawings of

    set of red lines in zigzag. Collection of archaeological evidences of

    the Valley of the Taquari/RS.]

    N. T. G. Machado et al. / Cermica 54(2008) 103-109

  • 7/25/2019 A 1554329

    5/7

    107

    relaciona-se cermica pintada aos grupos tupiguarani e estasteriam, em sua essncia, uma presente funo em rituais. Acoleo apresenta vasilhas pintadas com dimetro de bordavariando de 15 a 31 cm.

    Como j dito, as bordas enquadram-se em trs categorias- bordas inetidas, introvertidas e extrovertidas. Na coleo

    arqueolgica do Vale do Taquari essas trs categorias estopresentes.

    Em bordas nas quais possvel vericar medidas dedimetro, as aberturas da boca apresentam mdias de 20cm, variando de +/- 8 a +/- 40 cm. Entretanto, no total de

    bordas de cada stio apenas alguns fragmentos com tamanhosuperior a 5 cm possibilitaram a identicao do dimetro.

    No stio RS T 101, das 92 bordas foi possvel vericar o

    dimetro de 42. No stio RS T 105, totalizando 32 bordasidenticou-se o dimetro de 12. No stio RS T 107, de

    Figura 7: Caracterizao do tratamento de superfcie com pinturaexterna, fundo branco, faixa vermelha e desenhos geomtricosem vermelho. Coleo de evidncias arqueolgicas do Vale doColeo de evidncias arqueolgicas do Vale doTaquari/RS.[Figure 7: Characterization of the treatment of surface with

    external painting, deep white, red band and geometric drawings

    in red. Collection of archaeological evidences of the Valley of the

    Taquari/RS.]

    Figura 8: Caracterizao do tratamento de superfcie com pinturainterna, fundo branco, faixa vermelha e desenhos geomtricos em

    preto. Coleo de evidncias arqueolgicas do Vale do Taquari/RS.Coleo de evidncias arqueolgicas do Vale do Taquari/RS.[Figure 8: Characterization of the treatment of surface withinternal painting, deep white, red band and geometric drawings

    in black color. Collection of archaeological evidences of the

    Valley of the Taquari/RS.]

    Figura 9: Caracterizao do tipo de borda, extrovertida. Coleo deevidncias arqueolgicas do Vale do Taquari/RS.[Figure 9: Characterization of the type of edge, extrovert. Collection

    of archaeological evidences of the Valley of the Taquari/RS.]

    Figura 10: Caracterizao do tipo de borda, introvertida. Coleode evidncias arqueolgicas do Vale do Taquari/RS.[Figure 10: Characterization of the type of edge, introvert.

    Collection of archaeological evidences of the Valley of the

    Taquari/RS.]

    LisaCorrugada

    9,53 mm

    345/101

    Lisa Corrugada

    8,23 mm

    34/101

    N. T. G. Machado et al. / Cermica 54(2008) 103-109

  • 7/25/2019 A 1554329

    6/7

    108

    45 bordas mediu-se o dimetro de 32. No stio RS T 110apenas 2 bordas num conjunto de 21 tiveram seu dimetroreconstitudo. Conforme Rogge (1996:98) [3] as formas

    podem ser de panelas de servir e cozer alimentos, aparecendoainda algumas tigelas. Porm, a maioria das vasilhas indicauma funo de cozer, com lbios arredondados e inetidos.

    Os fragmentos de lbio apresentam os trs tipos denalizao: 43,4% aplanado, 13,6% apontado e 43,7%arredondado. Dos fragmentos identicados 76% so de

    paredes, 22,9% so de borda e 1,1% de base. As bases

    so em sua maioria arredondadas, ou, s vezes, levementecnicas. Os fragmentos apresentam-se bem preservados, em

    Figura 11: Caracterizao do tipo de borda, inetida. Coleo deevidncias arqueolgicas do Vale do Taquari/RS.[Figure 11: Characterization of the type of edge, inected.

    Collection of archaeological evidences of the Valley of the

    Taquari/RS.]

    Figura 12: Desenho de borda de onde foi possvel tirar a medidado dimetro. Coleo de evidncias arqueolgicas do Vale doColeo de evidncias arqueolgicas do Vale doTaquari/RS.[Figure 12: Drawing of edge of where it was possible measure

    the diameter. Collection of archaeological evidences of the Valley

    of the Taquari/RS.]

    mdia superior a 5 cm de largura. Do total de peas, 3,38%esto erodidas, 5,08% esto semi-erodidas e 91,69% estoconservadas.

    CONCLUSES

    Conforme a posio dos stios arqueolgicos, localizadosnas margens do rio Forqueta, auente do rio Taquari elevando em considerao a proximidade entre os stios quemargeiam o Forqueta, uma de nossas principais hipteses que estamos tratando de um mesmo grupo tnico e cultural oqual ocupou por muitos sculos a regio.

    Segundo bibliograas referentes ao assunto, algunsgrupos humanos pr-coloniais deslocavam-se por grandesreas na busca de alimentos, matrias-prima para cermica,ltico, vestimentas e construo de moradias. As evidnciascermicas apresentam-se dispersas em grandes extenses doterreno, tratando-se, possivelmente, de uma regio regada

    de aldeias de horticultores. No entanto, no se descartamos elementos ps-deposicionais que ocorrem em um stioarqueolgico. A perturbao intensa da ora e da faunaregional, assim como os constantes trabalhos agrcolasdesenvolvidos no local contribuem para a modicao dostio arqueolgico, e so responsveis, na grande maioriadas vezes, pela retirada do material de seu contexto original,dicultando a interpretao mais precisa da dinmica sociale cultural do stio.

    Outro fator que refora a suposio de se tratar de umgrupo horticultor, a analise do ambiente natural sem asfronteiras polticas atuais. As caractersticas ambientais quecondicionam a captao de recursos e a semelhana entre osmateriais encontrados e os confeccionados por horticultores,como os conhecidos Guarani, enaltecem a hiptese de estarse falando de grupos que praticavam horticultura.

    O material encontrado nos diferentes stios que selocalizam nas margens do referido rio, praticamente nasmesmas condies, havendo grande concentrao de materialnas manchas pretas do terreno indicando ao humana -tanto na superfcie quanto nos terraos uviais.

    A cermica, coletada juntamente com sedimento entreos nveis 20 e 30 cm de profundidade, no talude do rio,foi enviada para anlise termoluminescente no LACIFIDda Universidade de So Paulo. Os resultados apresentados

    foram os seguintes: a amostra da cermica possui 1099 anos,portanto a ltima incidncia de calor, ento de queima, foiefetuada no ano de 906 DC. A informao est de acordo como perodo aceitvel para a ocupao Guarani no Rio Grandedo Sul, assim como as datas se aproximam das ocupaesidenticadas nos Vale do Rio Pardo e Jacu [3].

    Na anlise do material cermico, abordam-se,normalmente, aspectos da produo com a funo do objeto

    pr-denida, decorao e forma especca para cada funodo objeto. Nesse sentido, possvel estabelecer a funo dedeterminado objeto cermico sem uma confrontao comdados etnogrcos e estabelecer um padro de comportamento

    para um grupo. Excluir totalmente as excees e tambm asubjetividade do comportamento de cada indivduo, sendo

    LisaCorrugada

    11,95 mm

    35/101

    Dimentro +/- 17 1545/101

    LisaLisa

    8,89 mm

    9,46 mm

    N. T. G. Machado et al. / Cermica 54(2008) 103-109

  • 7/25/2019 A 1554329

    7/7

    109

    que mesmo em objetos similares em forma e decorao,permanece a marca individual. No se analisa o ser humanoque produz e no se observa a singularidade de cada pea.Dene-se o pensamento humano na produo dos recipientes,limitando a individualidade, dentro de um grupo, ou melhor,dentro de indstria de produo. Indstria, praticada

    conforme as necessidades do grupo, visando a praticidade nautilizao destes recipientes. Obviamente, a relao com ospadres de comportamento da sociedade atual, interferede maneira negativa, em uma concluso a respeito desteassunto. Porm ser mesmo necessria uma concluso sobreesse assunto? No basta saber que guardavam alimentos,acondicionavam lquidos, cozinhavam e que utilizavammateriais feitos de cermica? E onde coletavam a argila,onde produziam os vasilhames? realmente fundamentalsaber o que era usado para determinado m? Estar-se- reduzindo um ambiente complexo de comportamentoem mincia. Parece sucientemente complexo analisar o

    fato de que sabiam exatamente que tipo de matria primautilizar, que materiais adicionar e excluir e identic-losem laboratrio, para depois em campo saber onde eramcoletados, vericando a dinmica do grupo no territrio.

    Classica-se o material cermico quanto ao seu tratamentode superfcie, separando-se os diferentes tipos. Porm, serque cada tratamento possua um m pr-determinado? Cadaforma exigindo um determinado tratamento de superfcie, asexcees so totalmente excludas neste tipo de anlise.

    O fundamento da arqueologia a anlise do objetoproduzido e alterado pela mo humana. Ao arquelogo cabeidenticar as diferentes evidncias deixadas e preservadas

    pelo tempo, a tcnica utilizada na confeco destasevidncias, a provenincia das matrias-prima, a dinmicado grupo no territrio, a rea de ocupao, inferir sobreuma possvel funo e utilizao destes objetos, pormdicilmente conseguir atravs destes objetos a descriodo comportamento social, a hierarquia, o sistema familiardestes grupos.

    REFERNCIAS

    [1] P. P. A. Funari, Arqueologa e Historia, ArqueologaHistrica mundial y de Amrica del Sur, Anales deArqueologa y Etnologa, Mendoza50-51(1999) 109-132.[2] F. La Salvia, J. P. Brochado. Cermica Guarani,

    Posenato Arte e Cultura, Porto Alegre, RS (1989).[3] J. H. Rogge, Adaptao na oresta subtropical: a tradioTupiguarani no mdio rio Jacu e no rio Pardo, Arqueologiado Rio Grande do Sul, Documentos 06, Instituto Anchietanode Pesquisas, S. Leopoldo RS (1996).[4] M. Albuquerque, CLIO, Revista do Curso de Mestradoem Histria da UFPE, Srie Arqueolgica (1990) 81.[5] M. Albuquerque, CLIO - Srie Arqueolgica, Revistado Curso de Mestrado em Histria da UFPE, nmeroextraordinrio dedicado aos Anais do I Simpsio de Pr-histria do Nordeste Brasileiro (1991) 121.[6] I. Hodder, Arqueologa Espacial: Colquio sobre

    distribucin y relaciones entre los asentamientos, Teruel(1984) 7.[7] S. Klamt, Uma contribuio para o sistema deassentamento de um grupo horticultor da Tradio CermicaTupiguarani, Srie Conhecimento, 29 Ed. UNISC, SantaCruz do Sul (2005).[8] J. L. Morais, Perspectivas Geoambientais da Arqueologiado Parapanema Paulista, Tese de Livre-Docncia, USP-MAE, S. Paulo (1999).[9] N. T. G. Machado, Relatrio nal para IPHAN, ref.Portaria n. 59 de 14 de maio de 2004.[10] J. H. Rogge, Fenmenos de fronteira: um estudo dassituaes de contato entre os portadores das tradiescermicas pr-histricas no Rio Grande do Sul, Tese deDoutoramento, Unisinos, S. Leopoldo, RS (2004).[11] A. L. R. Soares, Contribuio Arqueologia Guarani:Estudo do Stio Ropke, Vol. 1, Ed. UNISC, Santa Cruz doSul (2005).(Rec. 08/08/2007, Rev. 30/10/2007, Ac. 27/12/2007)

    N. T. G. Machado et al. / Cermica 54(2008) 103-109