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ESTUDO HISTOQUIMICO DAS FIBRAS DO SIS- TEMA ELAsTICO E DA PROTEOGLICANAS DA PAREDE DE VEIAS SAFENADAS NORMAlS .E ALTERADAS. J. J. Carvalho * M. I. Rodrigues * G. Cotta Pereira * L O. Magalhaes ** M. D. B. Panico ** P. R. M. Silveira ** A. Medeiros ** No presente trabalho, foram estudadas as paredes de veias safenas normais e alteradas (varicosas e com tromboflebite) de 20 pacientes, observando-se as variaqoes qualitativas de seus componentes estruturais. Para isso, fragmentos de safena humana obtidos sirurgicamente foram pro- cessados para estudos ao microsc6pio 6pticos. As preparac;oes tiveram coloraqao pelas tecnicas da hematoxilma e eosina, tricromico de Gomori, alclan blue pH 0.4 e 2.5, acido peri6dico - Schiff (PAS), hematoxilina ferrica, orcinol neofucsina e resorcina fucsina. Os resultados demonstraram que a veia safena nor mal, na sua camada media, apresenta duas camadas de musculo fiso: circular interna e lon- gitudinal externa. Os componentes do sistema elas- tico (fibras elasticas, fibras elaunfnicas, fibras oxita- lanicas) sac visualizados em quantidades mode- radas nas suas tres tunicas. As fibras elasticas estao presentes principalmente na adven-tfcia, sendo bastante alongadas e sinuosas; na tunica media, essa fibras se encontram na sua metade externa. As fibras elaunfnicas sac vi-suafisadas na media e na fntima. Quanto as fibras oxitalanicas, sua identificaqao a microscopia 6ptica nao foi uma constante, razao pela qual nao foram es- tabe/ecidas conclusoes objetivas. Nas tres tunicas, encontrou-se forte positividade para as pro- teoglicanas acidas sulfatadas e nao sulfatadas. As glicoprotefnas foram identificadas em pequena quantidade na fntima e ao redor das celulas mus- culwes lisas. A veia safena varicosa mostrou-se tortuosa, com luz irregular e, ocasionalmente, espessamento da fntima. Nas suas camadas media e fntima, estao presentes celulas musculares lisas contrafdas e bem coradas, associadas a uma fragmentaqao de fibras elasticas e a um aumento de fibras elaunf- nicas. Observou-se, ainda, forte concentraqao de proteoglicanas acidas sulfatadas e nao sulfatadas. Nao houve aumento consideravel de glico-pro- te(nas. * Disciplina de Histologia e Embriologia do Instituto de Biologia - UERJ ** Se~ao de Angiologia do Hospital Universitario Pedro Ernesto - UERJ A veia safena com tromboflebite alem das alteraqoes descr;tas para a veia' varicosa, exibiu um aumento generalizado de tecido conjuntivo, traduzido pela elevaqao da positividade para pro- teoglicanas acidas, principalmente na fntima hlper- plasica e na area de formaqao do trombo, alem de celulas inflamat6rias na tunica media; tamMm foi notado um espessamento da fntima que, em algumas regioes mostrou descontinuidf1.de do indotefio. As celulas musculares apresentaram alteraqoes com perda das caracterfsticas mor- fol6gicas. Unitermos: histoqufmica, veia safena, varizes dos MM II. o sangue esta confinado em circuitofechado de vasos e sua propulsao e realizada pelo cora<;ao, que 0 ejeta para 0 interior das gran des arterias. Gra<;as ao tecido elastico, a pressao anivel desses vasos e convertida em aumento de tensao desuas paredes, a fim de que seja mantida constante dentro do sistema arterial. Nessas condi<;oes, 0 sangue e impulsionado atraves de ramifi- ca<;oes as diferentes partes do organismo, indo das arte- rias de distribui<;ao ate os capilares. Recolhido pelas venulas no infcio da circula<;ao de retorno, onde a pressao e muito baixa, 0 sangue passa a fluir vagarosamente. As veias representam vasos nosquais apressao e dimi- nuta, possuindo grande distensao e facil compressao; desempenham urn importante papel como reservatorio variavel de sangue (va so de capacitancia). Como mate- rial estrutural das paredes venosas, 0 tecido conjuntivo entra em maior propor<;ao do que 0 tecido muscular. Os componentes do sistema vascular sangufneo se- guem urn plano basico de organiza<;ao histologica, com diferen<;as segmentares em consequencia de adapta<;oes funcionais locais. Estes vasosconstituem-se, em geral, de tres tunicas: 1- iNTIMA, contendo endotelio, lamina basal e tecido conjuntivo sub endotelial, com lamina elastica interna; 2- MEDIA, composta de celulas niusculares e tecido conjuntivo com lamina elastica externa; 3- ADVENTicIA, na qual predomina 0 tecido conjun- tivo. o tecido conjuntivo eformado porfibras do sistema elastico, fibras do sistema colageno e substancia funda- mental amorfa. As fibras do sistema elastico saG responsaveis pela resistencia elastica do vaso. Nosestudos realizados por Sear et cols (12), em cultura de celulas derivadas de ligamento da nuca de bovino, foi identificada a presen<;a de glicoprotefnas ao redor das microfibrilas elasticas. Esse ligamento e considerado urn modelo para estudos das fibras do sistema elastico em desenvolvimento e ob- servadas ao microscopio eletronico. Tais fibras, denomi" nadas ehisticas, elauninicas e oxitahlnicas, saG consti- tuidas por microfibrilas com (elasticas e elauninicas) ou sem (oxitalanicas) material amorfo de permeio (3); so sao evidenciadas apos colora<;oes especfficas.

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ESTUDO HISTOQUIMICO DAS FIBRAS DO SIS-TEMA ELAsTICO E DA PROTEOGLICANAS DAPAREDE DE VEIAS SAFENADAS NORMAlS .EALTERADAS.

J. J. Carvalho *M. I. Rodrigues *G. Cotta Pereira *L O. Magalhaes **M. D. B. Panico **P. R. M. Silveira **A. Medeiros **

No presente trabalho, foram estudadas asparedes de veias safenas normais e alteradas(varicosas e com tromboflebite) de 20 pacientes,observando-se as variaqoes qualitativas de seuscomponentes estruturais. Para isso, fragmentos desafena humana obtidos sirurgicamente foram pro-cessados para estudos ao microsc6pio 6pticos.

As preparac;oes tiveram coloraqao pelas tecnicasda hematoxilma e eosina, tricromico de Gomori,alclan blue pH 0.4 e 2.5, acido peri6dico - Schiff(PAS), hematoxilina ferrica, orcinol neofucsina eresorcina fucsina.

Os resultados demonstraram que a veia safenanor mal, na sua camada media, apresenta duascamadas de musculo fiso: circular interna e lon-gitudinal externa. Os componentes do sistema elas-tico (fibras elasticas, fibras elaunfnicas, fibras oxita-lanicas) sac visualizados em quantidades mode-radas nas suas tres tunicas. As fibras elasticasestao presentes principalmente na adven-tfcia,sendo bastante alongadas e sinuosas; na tunicamedia, essa fibras se encontram na sua metadeexterna. As fibras elaunfnicas sac vi-suafisadas namedia e na fntima. Quanto as fibras oxitalanicas,sua identificaqao a microscopia 6ptica nao foiuma constante, razao pela qual nao foram es-tabe/ecidas conclusoes objetivas. Nas tres tunicas,encontrou-se forte positividade para as pro-teoglicanas acidas sulfatadas e nao sulfatadas. Asglicoprotefnas foram identificadas em pequenaquantidade na fntima e ao redor das celulas mus-culwes lisas.

A veia safena varicosa mostrou-se tortuosa, comluz irregular e, ocasionalmente, espessamento dafntima. Nas suas camadas media e fntima, estaopresentes celulas musculares lisas contrafdas ebem coradas, associadas a uma fragmentaqao defibras elasticas e a um aumento de fibras elaunf-nicas. Observou-se, ainda, forte concentraqao deproteoglicanas acidas sulfatadas e nao sulfatadas.Nao houve aumento consideravel de glico-pro-te(nas.

* Disciplina de Histologia e Embriologia do Instituto de Biologia - UERJ** Se~ao de Angiologia do Hospital Universitario Pedro Ernesto - UERJ

A veia safena com tromboflebite alem dasalteraqoes descr;tas para a veia' varicosa, exibiuum aumento generalizado de tecido conjuntivo,traduzido pela elevaqao da positividade para pro-teoglicanas acidas, principalmente na fntima hlper-plasica e na area de formaqao do trombo, alemde celulas inflamat6rias na tunica media; tamMmfoi notado um espessamento da fntima que, emalgumas regioes mostrou descontinuidf1.de doindotefio. As celulas musculares apresentaramalteraqoes com perda das caracterfsticas mor-fol6gicas.Unitermos: histoqufmica, veia safena, varizes dos

MM II.

o sangue esta confinado em circuito fechado de vasose sua propulsao e realizada pelo cora<;ao, que 0 ejetapara 0 interior das gran des arterias. Gra<;as ao tecidoelastico, a pressao a nivel desses vasos e convertida emaumento de tensao de suas paredes, a fim de que sejamantida constante dentro do sistema arterial. Nessascondi<;oes, 0 sangue e impulsionado atraves de ramifi-ca<;oes as diferentes partes do organismo, indo das arte-rias de distribui<;ao ate os capilares. Recolhido pelasvenulas no infcio da circula<;ao de retorno, onde a pressaoe muito baixa, 0 sangue passa a fluir vagarosamente.As veias representam vasos nos quais a pressao e dimi-nuta, possuindo grande distensao e facil compressao;desempenham urn importante papel como reservatoriovariavel de sangue (va so de capacitancia). Como mate-rial estrutural das paredes venosas, 0 tecido conjuntivoentra em maior propor<;ao do que 0 tecido muscular.

Os componentes do sistema vascular sangufneo se-guem urn plano basico de organiza<;ao histologica, comdiferen<;as segmentares em consequencia de adapta<;oesfuncionais locais. Estes vasos constituem-se, em geral,de tres tunicas:1 - iNTIMA, contendo endotelio, lamina basal e tecidoconjuntivo sub endotelial, com lamina elastica interna;2 - MEDIA, composta de celulas niusculares e tecidoconjuntivo com lamina elastica externa;3 - ADVENTicIA, na qual predomina 0 tecido conjun-tivo.

o tecido conjuntivo e formado por fibras do sistemaelastico, fibras do sistema colageno e substancia funda-mental amorfa.

As fibras do sistema elastico saG responsaveis pelaresistencia elastica do vaso. Nos estudos realizados porSear et cols (12), em cultura de celulas derivadas deligamento da nuca de bovino, foi identificada a presen<;ade glicoprotefnas ao redor das microfibrilas elasticas.Esse ligamento e considerado urn modelo para estudosdas fibras do sistema elastico em desenvolvimento e ob-servadas ao microscopio eletronico. Tais fibras, denomi"nadas ehisticas, elauninicas e oxitahlnicas, saG consti-tuidas por microfibrilas com (elasticas e elauninicas) ousem (oxitalanicas) material amorfo de permeio (3); sosao evidenciadas apos colora<;oes especfficas.

As fibras do sistema colageno conferem a for<;a detensao que sustenta e man tern unidos os outroscompo-nentes estruturais do tecido conjuntivo. Nas veias existemais protefna colageno (tipos 1, Ill, IV) do que a pro-tefna elastina, enquanto que nas arterias, alem das fibrasdo sistema elastico, predomina 0 colageno tipo III. Per-turba<;oes no metabolismo da elastina e do colageno sur-gem no envelhecimento e nas doen<;as vasculares.

A subsHincia fundamental amorfa e urn gel hetero-geneo de proteoglicanas e glicoprotefnas estruturais,ocupando os espa<;os extracelulares. A concentra<;ao deproteoglicanas e maior nas paredes arteriais do que nasvenosas e contribui para as propriedades ffsicas das trestunicas, regulando a permeabilidade.

o tecido muscular da parede vascular e liso e cadacelula e envolvida pela lamina basal de proteoglicanase por fibras colagenas e elasticas vizinhas. Perturba<;oesna parede do vasa decorrentes de for<;as hemodinamicasou inflama<;ao, podem estimular a migra<;ao dessas celu-las para a intima e sua consequente prolifera<;ao, levandoa urn espessamento caracterfstico daquela tunica. E 0que ocorre, por exemplo, na forma<;ao da placa de atero-ma (14).

A veia safena normal e constitufda por tres tunicase nao esta inclufda na classifica<;ao histol6gica geral earbitraria de veias de grande, medio e pequenos calibres.E considerada uma veia diferenciada, com adapta<;oesfuncionais, possuindo urn rico suprimento de muscula-tura lisa. A tunica fntima apresenta endotelio e tecidoconjuntivo subjacente, com uma lamina elastica internaincompleta, alem de fibras musculares lisas orientadaslongitudinalmente ao vasa (14). A tunica media contemcamadas musculares entremeadas com tecido conjuntivo.A tunica adventfcia compoe-se de fibras colagenas, fibraselasticas, vasos sangufneos (vasa vasorum) e celulas dotecido conjuntivo (fibroblastos, principalmente).

As veias, em geral, sao supridas por vasa vasorumem maior quantidade do que as arterias, localizadas pre-dominantemente na adventfcia e, por vezes, alcan<;andoa media; apresentando, ainda, urn sistema de valvas.Vma vez que a parede venosa perca sua elasticidade,ha uma tendencia a dilata<;ao, em consequencia do esfor-<;0 para suportar uma coluna de sangue contra a for<;ada gravidade. As veias tornam-se irregulares e tortuosasalem de exibirem incompetencia das valvas, passandoa ser denominadas varizes (2).

Nos membros inferiores, em veias de pequeno e mediocalibres, a riqueza de musculo liso esta presente princi-palmente nas veias superficiais e aumenta paralelamentea eleva<;ao da pressao hidrostatica. A musculatura lisatern importante papel na manuten<;ao da circula<;ao veno-sa normal nas extremidades e as altera<;oes primariase secundarias da fun<;ao muscular estao envolvidas napatogenese da insuficiencia venosa e das veias varicosas(16).

Em estudos experimentais sobre a organiza<;ao de urntrombo mural venoso, observou-se a participa<;ao dosfibroblastos da parede vascular na sua forma<;ao. Osmacr6fagos foram encontrados em pequeno numero e,

Histoqufmica da Veia Safena

urn aglomerado de celulas, provavelmente fibroblastos,estava presente entre as celulas sangufneas e rodeandoo trombo. Os Iinfocitos eram numerosos. No trombomural, areas de avan<;ada organiza<;ao foram vistas ap6soito dias e 0 tecido intimal hiperplasico invadia, fazendoparte da organiza<;ao desse trombo. Ap6s dezesseis dias,celulas semelhantes as celulas endoteliais formavam ca-nais no segmento que contem 0 trombo em dege,nera<;ao.A observa<;ao do tecido intimal invadindo 0 trombo ve-noso sugere que, nao somente fibroblastos, mas celulascom caracterfsticas de musculo liso estao envolvidas nasua organiza<;ao (17).

Os disturbios geneticos do tecido conjuntivo saD capa-zes de gerar urn grande numero de doen<;as clfnicas dife-rentes, tendo como aspectos fundamentais altera<;oes nasestruturas de apoio do corpo e a transmissao hereditaria.Conceitualmente, 0 corpo humano pode ser divididoem espa<;os intra e extracelulares. 0 espa<;o extracelulare organizado por uma matriz constituida de protefnasfibrosas (colageno e elastina) e compostos complexos(proteoglicanas e glicoprotefnas estruturais). A organi-za<;ao especffica desta matriz assegura urn certo numerode fun<;oes biol6gicas essenciais. Disturbios desta matrizse refletem nas diversas apresenta<;oes c1fnicas das doen-<;asdo tecido conjuntivo.

Com a finalidade de se obter mais dados que possamservir para melhor esclarecer a patogenese de urn gruporepresentativo dessas afec<;oes conjuntivas (veias varico-sas e com processo inflamat6rio), e, em fase subsequen-te, realizar uma avalia<;ao mais apurada dos efeitos daschamadas drogas venotr6picas, iniciamos este estudomorfol6gico e histoqufmico da parede de veias safenasnormais e alteradas.

Fragmentos de veias safenas obtidos cirurgicamente,em pacientes normais e varicosos foram fixados em for-mol a 10%, neutro, a 4 graus centfgrados, desidratadosem alc60l e inclufdos em parafina. Dessas pe<;as, foramrealizados 60 preparados histol6gicos~ 20 de safena nor-mai, 20 de safena varicosa e 20 de safena com trombo-flebite. De cada preparado histol6gico foram feitas 30laminas coradas pelas tecnicas de hematoxilina e eosina,tricr6mio de Gomori, alcian blue, acido peri6dico-Schiff(PAS), resorcina fucsina, hematoxilina terrica e orcinolneofucsina, num total de 1800 laminas examinadas. Estastecnicas permitem uma melhor visualiza<;ao do compo-nente muscular, das proteoglicanas e das fibras do siste-ma elastico, que integram a parede do vaso.

Pelas tecnicas da hematoxilina e eosin a e do tricr6miode Comori, pode-se distinguir, na veia safena normal,tres tdnicas (fig. la):1- iNTIMA, constitufda de endotelio e tecido conjun-tivo subjacente, entreameado com musculo liso que se-gue disposi<;ao longitudinal ao vaso.

FIGURA la - Fotomicrografia de corte longitudinal de veia safenanormal onde podemos observar as tres tunicas. A tunica intima possui,alem do endotelio, conjuntivo subendotelial e musculo liso orientadolongitudinalmente; a tunica media possui conjuntivo e musculo Iisodisposto em duas camadas: circular interna e longitudinal externa;a tunica adventfcia possui apenas tecido conjuntivo; col.: tric6mio deGomori 200X.

2 - MEDIA, constitufda de tecido conjuntivo e tecidomuscular liso, disposto em duas camadas: circular internae longitudinal externa.3 - ADVENTICIA, constitufda basicamente de tecidoconjuntivo.

A veia safena varicosa apresenta-se tortuosa, dilatada,as vezes espessada, ou entao, adelgac;:ada quando a mus-culatura lisa encontra-se bastante contrafda. As celulasmusculares apresentam-se intensamente coradas (fig.Ib). A veia safena com tromboflebite mostra-se tambemtortuosa e muito dilatada, com urn grande espessamentoda parede em geral. Na fntima, observa-se urn nftidoaumento do tecido conjuntivo (as custas de colagenototalmente alterado), principalmente na area do trombo;em outras areas, nota-se descontinuidade do endotelio,com aderencia de celulas sangufneas a face intern a dovaso. Na tunica media, ha acumulo de celulas inflama-t6rias, principalmente macr6fagos. Existe uma desorga-nizac;:ao das camadas musculares em geral, com altera-c;:6esestruturais nas pr6prias celulas musculares (fig. Ic).

Utilizando a tecnica do alcian blue, com pH 0.4 e2.5, observou-se a existencia de proteoglicanas acidasna parede da veia. No pH 0.4, identifica-se somenteproteglicanas acidas fosfatadas, enquanto que 0 pH 2.5sao visualizadas tanto as sulfatadas quanto as nao sulfata-das. Na veia safena normal, encontrou-se positividadepara as proteoglicanas.acidas nas tres tunicas. Usando-sedo pH 2.5, foi vista maior concentrac;:ao de proteogli-

Histoqu{mica da Veia Safena

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FIGURA Ib - Fotomicrografia de corte longitudinal de veia safen.avaricosa onde podemos observar uma musculatura hipercorada e espes-sada em parte do segmento; col.: tric6mio de Gomori 200X.FIGURA Ic - Fotomicrografia de corte longitudinal de veia safenacom varicotromboflebite mostrando 0 espessamento da tunica intima,celulas inOamatorias e altera~iies das celulas musculares lisas; col.:tric6mio de Gomori 200X.

FIGURA 2a - Fotomicrografia de corte longitudinal de veia safenanormal onde parte da media e toda adventicia da parede venosa seapresenta com fraca positividade para proteoglicanas acidas, tantopara as sulfatadas quanto para as nlio sulfatadas; col. Alcian BluepH 2.5 200X.

FIGURA 2b - Fotomicrografia de corte longitudinal de veia safenavaricosa onde observamos parte da media e da adventfcia da paredevenosa com relativo aumento da positividade para proteoglicanas acidassulfatadas e nlio sulfatadas; col. Alcian Blue pH 2.5 200XFIGURA 2c - Fotomicrografia de corte longitudinal de veia safenacom varicotromboflebite onde ocorre urn aumento de positividade paraas proteoglicanas acidas sulfatadas e nlio sulfatadas, principalmentena tunica intima; col. Alcian Blue pH 2.5 200X.

canas acidas do que 0 pH 0.4 (fig. 2a). Nas veias alteradas(varicosas e com tromboflebite), coradas com alcian blueem ambos os pH notou-se, alem da positividade nastres tunicas, urn grande acumulo de proteoglicanas acid asna intima e na area de forma<;:ao do trombo (*) (figs.2b e 2c).

Pela tecnica do PAS(**), a veia safena normal apre-senta sua tunica intima com uma fraca positividade paraglicoprotefnas neutras, havendo forte positividade nasfibras musculares. Foi realizada tambem a rea<;:ao debloqueio da amflase. Nas veias alteradas, nao se obser-yOU aumento significativo de glicoprotefnas neutras.Nasveias com tromboflebite, as celulas musculares sofreramaltera<;:6es com perda das caracterfsticas morfologicas.

Pelas tecnicas da hematoxilina ferrica e orcinol neofuc-sina, que saD seletivas para as fibras elasticas, obser-vou-se na veia safena normal a presen<;:a de fibras elasti-cas nas tunicas media e adventicia, sendo encontradasem maior quantidade e mais espessadas na ultima. Nasveias alteradas, ha fragmentac;:ao das fibras elasticas, queocorre de modo mais acentuado na veia com trombo-flebite.

FIGURA 3a - Fotomicrografia de corte Longitudinal de veia safenanormal mostrando a presen~a de fibras elasticas e elauninicas na paredevenosa; coJ. Resorcina Fucsina 200X.

Pela tecnica da resorcina fucsina, em preparac;:6es naooxidadas com oxona, encontrou-se, na veia safena nor-mal, fibras elasticas e elaumfnicas, sendo que as ultimaspredominam na media e na fntima (fig. 3a). Na veiasafena varicosa, as fibras elasticas se apresentam frag-mentadas e ocorre urn au men to das fibras elaunfnicas(fig. 3b). Na veia com tromboflebite, as fibras ehisticasapresentam-se ainda mais fragmentadas, 0 mesmo ocor-rendo com as fibras elaunfnicas (fig. 3c).(*) A colorac;:ao pelo alcian blue ocorre com a ligac;:aodeste a radicais positivos da molecula de proteoglicanas.o aumento da intensidade de colorac;:ao significa maiordestrui<;:ao das proteoglicanas acidas, pois estas quandodestrufdas liberam maior quantidade de radicais posi-tivos que, por sua vez, reagem com 0 corante.(* *) A tecnica do PAS cora proteoglicanas neutras eglicogenio que a celula muscular armazena normalmen-te. Com a reac;:ao do bloqueio da amilase ha a retiradade todo glicogenio celular estocado e pelo PAS coram-setao somente as proteoglicanas neutras (mantem a arqui-tetura da parede do vaso).

FIGURA 3b - Fotomicrografia de corte longitudinal de veia safenavaricosa onde observamos urn aumento de fib_ras elaunmicas, ah~mda fragmenta~ao das fibras elasticas; coJ. Resorcina Fucsina 200X.FIGURA 3c - Fotomicrografia de corte longitudinal de veia safenacom varicotromboflebite onde observamos a fragmenta~ao de ambosos tipos de fibras (elasticas e elauninicas)j coJ. Resorcina Fucsina 200X.

Os estudos morfologicos e histoqufmicos realizadosem veias safenas normais, varicosas e com tromboflebite,permitiram os seguintes achados conclusivos:1 - A disposic;:ao histologica da musculatura lisa natunica media da veia safena normal difere das descritas,de urn modo geral, para as veias ditas de medio calibre,sendo por nos observada a existencia de duas camadasde musculo liso: circular interna e longitudinal externa.2 - A musculatura Iisa da veia safena varicosa se apre-sentou mais corada quando foi comparada com a veiasafena normal. A veia varicosa mostra urn aumento rela-tivo de musculo Iiso nos segmentos espessados.3 - na veia safena com tromboflebite, as celulas muscu-lares sofrem grandes alterac;:6es, com perda das caracte-rfsticas morfologicas havendo uma desorganiza<;:ao gene-relizada das camadas musculares.4 - Existe urn aumento da positividade para proteogli-canas acidas na parede das veias alteradas (varicosase com tromboflebite), quando comparada com a veiasafena normal. Na veia com tromboflebite, a fntima apre-senta uma acentuada positividade, alem de se mostrarmuito espessada.5 -A fntima da veia com tromboflebite, alem de hiper-pi asia (as custas de colageno sub-endotelial alterado),pode por vezes, evidenciar descontinuidade do endo-telio, com aderencia de celulas sangufneas.6 - As fibras elasticas, dispostas normalmente na mediae adventfcia da veia safena normal, apresentam-se frag-mentadas nas veias alteradas.7 - As fibras elaunfnicas dispostas nas tunicas mediae fntima da veia safena normal, mostram-se aumentadasem numero na veia varicosa e fragmentada na veia comflebite.8 - Nao houve aumento significativo para gliprotefnasneutras pela tecnica do acido periodico - Schiff (PAS).No entanto, observou-se c1aramente a presenc;:a de celu-las musculares lisas no interior de urn trombo em forma-c;:ao,que se encontrava num segmento de uma veia vari-cosa.

A estrutura da parede da veia safena normal apresentacaracterfsticas histol6gicas diferentes das que saD descri-tas para as veias em geral. Diversos autores que tratamdesse assunto nao estao em acordo quanto aos consti-tuintes de cada uma das camadas que comp6em a safena.Simionescu e Simionescu (14) afirmaram que, de acordocom adapta<;6es funcionais, a parede vascular pode au-men tar ou diminuir seus elementos estruturais e queisto ocorre especialmente na composi<;ao muscular dealgumas veias; observaram, ainda, que feixes muscularespodem ser encontrados nas tres tunicas de diversas veias.Estes autores incluem a safena como exemplo de veiaque apresenta musculo liso longitudinal na fntima. Cor-mack (2) descreve a safena como uma veia de mediocalibre, formada por uma tunica media espessada, queapresenta na sua pon;ao mais interna, fibras muscularesdispostas longitudinalmente, associadas a fibras elasti-cas; na sua por<;ao mais extern a e mais espessa existemfibras musculares lisas dispostas circularmente.

No presente trabalho, observamos que na veia safenanormal, as fibras elaunfnicas e elasticas acompanhama disposic;ao da musculatura lisa, tanto na fntima quantona media, sendo que as fibras elasticas estao presentesna parte mais externa da tunica media e na adventicia,como foi evidenciado pelas tecnicas da hematoxilina fer-rica e do orcinol neofucsina. Nas veias varicosas, 0 au-mento em quantidade das fibras elaunfnicas pode repre-sentar uma resposta dos componentes teciduais da veiaas altera<;6es fisiol6gicas promovidas por diferentes fato-res, tendo por base uma causa genetica (15). Conside-rando-se que 0 conteudo de elastina apresentado pelasfibras elaunfnicas Ihes confere certa elasticidade, esteaumento em quantidade das fibras pode significar umaresposta adaptativa que iria propocionar certa elastici-dade compensat6ria a pare de da veia. De fato, Svejcare cols. (15), estudando 0 conteudo de colageno, elastina,celulas musculares e hexosaminas em veias safenas nor-mais e varicosas, observaram diminui<;ao de colagenoe aumento do tecido muscular e de hexosaminas, nasveias varicosas; 0 conteudo de elastin a nestas veias, se-gundo esses autores, tambem aumenta em 18%, em rela-c;ao a veia normal. Nas veias com tromboflebite, a frag-menta<;ao das fibras elasticas e elaunfnicas poderia serexplicada pela liberac;ao de enzimas proteolfticas pelascelulas do infiltrado inflamat6rio.

Neste estudo, tivemos tambem nosso interesse desper-tado para a variac;aoda positividade das paredes venosas,em rela<;ao as colora<;6es realizadas visando a identifi-cac;aodas proteoglicanas, que se caracterizam por seremformadas de complexos protefna-glicosaminoglicanas,nos quais as glicanas contribuem com a maior parcelade peso molecular. Observamos, pelas tecnicas empre-gadas, que na parede das veias varicosas e com trombo-flebite houve aumento da positividade para proteogli-canas acidas, sendo este aumento mais marcante nasveias co'!! 0 processo inflamat6rio. Este resultado estade ac6rdo com 0 encontrado por Svejcar e cols (15),em veias varicosas, nas quais verificaram aumento de

Histoqu{mica da Veia Safena

67% no conteudo de proteoglicanas, em rela<;ao a veianormal. Kaplan e Meyer (6) chamam aten<;ao para aassocia<;aoentre esses compostos (particularmente 0 aci-do hialur6nico) e as fibras elasticas, ressaltando que afragmenta<;ao dessas fibras pode vir a ser conseqiienciade modificac;6es nestes componentes. Niebes eLastz (10)demonstraram a atividade de algumas enzimas lisossb-miais agindo na degradac;ao de polissacarfdeos e obser-varam que a concentra<;ao destas enzimas e mais altana parede de veias varicosas do que nas normais. Estasmodifica<;6es bioqufmicas apresentam suas express6esmorfol6gicas, demonstradas pelo aumento de radicaisacidos livres de polissacarfdeos, com consequente acen-tuac;ao da positividade. Bouvier e Groberty (1) questio-naram se as anormalidades do tecido conjuntivo nas veiassaDdevidas somente a destrui<;ao das estruturas normaisou a atividade metab6lica anormal das celulas respon-saveis pela sfntese destas estruturas. Estudos recentesconfirmaram que no sangue de pacientes com varizestern sido notado aumento da quantidade de enzimas 10-sossomiais; alem disso, parece que a quantidade destasenzimas no sangue depende da gravidade da doenc;a vari-cosa. As mesmas altera<;6es saDvistas em pacientes comtromboflebite (11).

Em nossas prepara~6es, observamos urn aurnentorelativo de tecido muscular liso em areas a1teradas daparede das veias varicosas. As celulas musculares, emdeterminados segmentos, se apresentam contraidas e for-temente coradas. 0 aumento secundario do tecido mus-cular liso, observado nas veias varicosas foi tambemestudado por Svejcar e cols. (15). As celulas muscularescontraidas, denominadas mi6citos metab6licos, repre-sentam urn dos tipos de celulas musculares que aparecemna parede de arterias ou veias e que predomin~ emcertas condi~6es pato16gicas,como: artenosclerose, hiper-tensao, diabetes e no envelhecimento (13). Niebes eLaszt (10) afrrmam que urna varia~ao ultra-estruturaldo cohigeno e da elastina aumenta atividade de diver-sas enzimas que degradam as glicanas. Este fato, sugereque estas a1tera~6es metab6licas seriam responsaveis pelainstabilidade dos lisossomas das fibras musculares e alibera~ao posterior destas enzimas (9). Isto explicaria anossa observa~ao quanta as a1tera~6es das celulas mus-culares nas veias acometidas pelo processo de trom-boflebite.

Normal, varicose and phlebitic saphenous veinswere studied by hystochemical procedures to deter-mine the qualitative variations of their structural com-ponents. The hysto/ogic preparations were stainedby heamatoxilin-eosin, Threechromic (Gomory), al-cian blue (pH 0.4 and 2.5), periodic acid (Schiff),ferric heamatoxilin, orcin-neofucsin and resorcin-fuc-sin.

Normal saphenous vein presented two layers ofsmooth muscle cells: a circular internal and a lon-gitudinal external. The components of the elastic sys-tem could be found in the three layers of the vein.Elastic fibers were present in the adventitia in an alon-gated and sinuous fashion. In the media they werepresent throughout the external portion. Elaumicfibers were found in the media and intima. Theoxitalamic fibers could not be consistently found. Inthe three layers, the proteoglicans were highly posi-tive. Glycoproteins were indentified in small quan-tities, in the intima and around smooth muscle cells.

The media and intima of varicose veins showedcontracted smooth muscle cells associated with frag-mented elastic fibers and augmentation of elaumicfibers. There was also an increased concentration ofproteoglycans. There was no augmentation ofglycoproteins.

In the cases of thrombophlebytes the same al-terations observed in varicose veins could be ob-served. There was also an increase of connectivetissue and inflammatory cells in the media. The musclecells showed loss of morphologic caracteristics.

Uniterms: hystochemistry, veins, varicose veins,thrombophlebytis

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