A ABERTURA DA POLÍTICA BRASILEIRA: A CONSTITUIÇÃO … · ... e militante, em compreender o...
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A ABERTURA DA POLÍTICA BRASILEIRA: A CONSTITUIÇÃO DO DIRETÓRIO
ACADÊMICO QUILOMBO DOS PALMARES
NATALIA PIRES OLIVEIRA1
INTRODUÇÃO
Este artigo, surge das análises defendidas no meu trabalho de conclusão de graduação,
surgindo da necessidade de conhecimento, como pesquisadora e militante, em compreender o
processo de transição democrática no Brasil no período do fim da Ditadura civil-militar e em
obter informações sobre a formação, entre os anos de 1980 e 1982, do Diretório Acadêmico
Quilombo dos Palmares (DAQUIPALM), a entidade representante dos estudantes de História
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Aqui temos a intenção de se reconstruir parte da História do Movimento Estudantil, nos
momentos iniciais da reabertura política, depois de 21 anos de Ditadura Militar, que reprimia e
restringia a ação dos movimentos sociais e dos movimentos estudantis. Assim, esse recorte
temporal foi escolhido por ser o momento de organização da estrutura desse Diretório.
A motivação principal de escolha do DAQUIPALM como objeto desse estudo foi a falta
de informação que temos sobre o Diretório, não só de como ele foi construído, mas como se
deu esse processo, e de como os estudantes se organizaram para que ele fosse formado. Além
disso, essa Entidade tem, agora, trinta e três anos, sendo que muito já foi feito dentro dela pelos
e para os estudantes não só da História, mas, também, pelo Movimento Estudantil. O diretório
tem um valor histórico para os estudantes que participaram dele direta e indiretamente, sendo
uma organização de representação dos estudantes que reúne uma diversidade de pessoas que se
uniram e contribuíram para a construção de sua história.
O MOVIMENTO ESTUDANTIL NO RIO GRANDE DO SUL
1 Mestranda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina.
2
A União Estadual dos Estudantes sempre foi uma entidade que deteve muita força
política e sempre foi presente dentro do estado do Rio Grande do Sul. Ela foi criada em 1934,
por meio de doação, tem sede próprio em Porto Alegre durante o governo de Leonel Brizola.
Com a tomada do poder pelos militares, em 1964, e com a Lei Suplicy de Lacerda, todas as
entidades de representação estudantis foram fechadas e colocadas na ilegalidade, mas o único
estado que conseguiu manter o Diretório Estadual dos Estudantes, foi o Rio Grande do Sul.
Na eleição de 1966, venceu a eleição para a direção da UEE uma chapa de direita,
chamada Decisão2, em que via problemas legais ao chamar a entidade de “União”, mudando
seu nome arbitrariamente para DEE. Assim, atendeu as regras do governo, mas manteve o
patrimônio da entidade. O Estatuto foi refeito e excluída a representatividade dos estudantes,
passando agora a ser uma entidade de assistência estudantil e cultural. O assistencialismo desse
período foi uma marca da ação da direita estudantil, realizando convênios, atividades esportivas
e culturais, além da formação política.
Graças à posição política de direita alinhada à ditadura, o DEE3 sempre recebeu apoio
das autoridades e tinha facilidades para suas ações, inclusive ganhando incentivos financeiros.
Sua estrutura ideológica impossibilitava que a esquerda assumisse o controle da entidade
novamente, apenas no RS essa entidade teve sucesso dentro do movimento estudantil.
O DEE tinha um jornal chamado O Minuano, que explicitava suas ideologias e
pensamentos, principalmente os desgostos com um ME que não apoiava o governo e que não
entendia o real motivo de se ter uma intervenção militar no Brasil, o comunismo. O DEE
claramente sempre apoiou os militares assim como as reitorias, centralizando suas ações apenas
nos estudantes, lhes dando assistência.
Os estudantes universitários, pelo Decreto Lei 2284 de 1967, deveriam votar nas eleições
dos Diretórios Acadêmicos. Caso não o fizessem, poderiam ser suspensos por até trinta dias. O
2 Sobre isto ver: LIMA, Mateus da Fonseca Capssa. Movimento estudantil e Ditadura Civil-Militar em Santa Maria
(1964-1968). 3 Diretório Estadual dos Estudantes 4 BRASIL. Decreto Lei nº 228/67 de 28 de fevereiro de 1967. Reformula a organização da representação estudantil
e dá outras providencias. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decretolei/Del0228.htm>. Acesso
em: 16 novembro 2015.
3
propósito dessa Lei era que todos os estudantes, contrários ao governo, fossem destruídos nas
urnas e diminuíssem sua militância, como, também, acabar com o “monopólio” das esquerdas
nessas entidades, o que não ocorrera, em parte.
Havia uma preocupação por parte do DEE no controle dos Diretórios Acadêmicos
(DA’s) e dos DCE’s. Então sua diretriz política era chamar essas entidades para discussões e as
atividades que ele mesmo organizava, para o controle político e ideológico. Nas eleições de DA
e DCE, o DEE estava sempre presente, além de afirmarem que tinham representações em
algumas cidades do estado, como Santa Maria, Uruguaiana, Bagé e Santa Cruz do Sul, pois
quase todas as universidades e faculdades do Rio Grande do Sul tinham vínculo com o DEE,
com exceção dos DCE’s da (Universidade de Caxias do Sul e da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul ).
A partir do momento que a Ditadura Militar começa a ter uma maior abertura, em 1979,
começou a mudar a política dentro do DEE e dos DCE’s alinhados, quando estas entidades
começaram a defender medidas e ideias liberais, principalmente do liberalismo econômico5 e
um Estado de direito, além do eterno combate a ideias coletivistas e socialistas. Apesar disso,
em 1979, havia articulação para participar da reorganização da UNE, inclusive lançando
candidatos com o a chapa Maioria, mesmo que obtivessem um número muito baixo na votação.
Quando o restante do Rio Grande do Sul pensava na rearticulação das UEE Livres, o
DEE se articulava para eleições diretas, ainda sob seu controle, distribuindo cartazes, que
chegaram aos órgãos de informações e eles deram avisos a delegacias de policias para que
ficassem atentos a movimentação da esquerda. O DEE não teve apoio para eleições diretas, e
tenta participar da construção da UEE Livre, mas todas suas participações eram para acabar
com o movimento e nunca obtinham sucesso.
5 Tinham como princípios a ideia do direito à propriedade e esta sendo um direito natural e fundamento da
personalidade humana, com restrições as suas funções sociais.
4
Em 1980, o DEE começou a cair em decadência e perdeu força política, mas se manteve
por interesses pessoais, principalmente pelos privilégios que alguns tinham participando dessa
entidade. Nesse ano, ainda, ocorreu um CONEG6, que acabou por unificar UEE e DEE.
A UNE então veio para o Rio Grande do Sul para negociar a fusão, mas encontrou um
cenário diferente no qual as entidades não tinham mais interesse na união. Em abril, se fizeram
as eleições para a UEE, com a demanda do reconhecimento por parte da UNE da UEE. Como
os estudantes repudiavam a Lei Suplicy que criou os DEE, a proposta de reconhecimento foi
logo aceita.
A primeira gestão da UEE procurou se fazer presente e ter legitimidade com os
estudantes e as entidades, conseguindo ampliar a representação no interior, mas não conseguiu
dar uma direção aos estudantes. Em 7 e 8 de outubro de 1981, ocorreu novas eleições para a
UEE, quando a chapa Travessia saiu vencedora, com uma diferença de 8 mil votos, fazendo
com que a chapa já entrasse na gestão consolidada perante o ME gaúcho.
No período de 1983 a 1985, a militância estudantil gaúcha entrou em crise, pois diversos
DCE’s do estado se tornaram apoiadores da UNE e se separavam da UEE. Naquele momento,
a UEE passou a ter muito pouca influência dentro do ME gaúcho. Em 1985, no Congresso da
UEE-RS, ocorreram diversas denúncias de fraude, tanto efetuadas pela direção como pela
oposição, fazendo que no fim fosse decidido por um Congresso não deliberativo.
O Congresso do ano seguinte, 1986, foi cancelado.
MOVIMENTO ESTUDANTIL EM SANTA MARIA-RS
Compreendendo a formação da Universidade de Santa Maria (USM), conseguiremos
entender o Movimento Estudantil que estava inserido nela:
A criação da Universidade de Santa Maria (USM), em 1960, possui algumas
peculiaridades, por ter sido formada também pelas Faculdades Agregadas, que eram
instituições privadas, e por se constituir na primeira Universidade Federal criada fora
de uma capital no Brasil (LIMA, 2013: 32)
6 Conselho Nacional de Entidades Gerais.
5
A USM foi idealizada pelo Professor e médico José Mariano da Rocha Filho, que uniu
as diversas faculdades que tinham na cidade, como a Faculdade de Farmácia e a Faculdade de
Medicina. No ano seguinte a sua formação, em 1961, já haviam sidos criados os cursos de
agronomia, veterinária, belas artes e filosofias7. Ela foi formada para que se ampliasse o acesso
ao ensino superior.
A primeira entidade de representação estudantil da USM foi a USE8, mas, a partir de
1961, esta passou a representar apenas os estudantes secundaristas, enquanto a FEUSM9 se
tornou o órgão representativo dos universitários. Quando se deu o Golpe Civil-Militar, a
FEUSM não assumiu posição concreta, apoiando algumas semanas depois o Golpe, entregando
a direção da Federação aos militares. Como resultado, muitos centros acadêmicos se
posicionaram contra essa atitude tomada pela entidade.
A Lei Suplicy, que previa a extinção da UNE, era amplamente apoiada dentro da USM,
fazendo com que se iniciasse o processo de controle por meio do DCE, que apesar de ser um
instrumento dos militares, na sua primeira eleição, a chapa que ganhou foi de esquerda. As
gestões de esquerda no DCE terminaram em 1965, mas, apesar da derrota, a esquerda estudantil
continuou a tentar reaver o DCE. Porém, “ao que parece, houve um refluxo na atuação das
esquerdas em Santa Maria, durante o ano de 1967” (LIMA, 2013:89).
Santa Maria naquele momento, 1964, tinha 120mil habitantes e o segundo maior
contingente militar do Brasil, perdia apenas para o Rio de Janeiro, então as manifestações antes
mesmo de acontecerem já eram facilmente controladas pelos militares, pois havia enorme rede
de informações dentro USM, que contava com professores, funcionários e alunos. Apesar desse
grande controle, o movimento estudantil de Santa Maria não estava alheio aos acontecimentos
do restante do Brasil.
Durante anos, o DCE esteve ligado ao DEE, até meados de 1970, quando, a partir dali,
a oposição passou a ganhar força. Em 1978, foi organizado o Movimento de Oposição
Estudantil. Mesmo sem apoio, do DCE, os estudantes se articulavam e faziam suas
8 União Santamariense de Estudantes. 9 Federação dos Estudantes Universitários de Santa Maria.
6
manifestações, como em 1979, quando houve a manifestação para que se diminuísse o preço
do RU (após o fim dos Decretos Lei 228 e 477, foi baixado apenas para os moradores da Casa
de Estudantes).
Em 31 de maio de 1979, o reitor da UFSM anunciou eleições estudantis diretas. Foi
neste ano, também, que ocorreu uma vigília pela reorganização da UNE, organizada pelo DCE
da UFRGS. Em decorrência, em 29 de outubro do mesmo ano, a direção da UNE veio para
Santa Maria acompanhar a prometida eleição direta para o DCE, ocasião em que a esquerda
facilmente venceu a direita.
A criação da UEE foi legitimada em Santa Maria no Congresso da própria entidade,
acontecido no final do mês de março de 1980, enquanto em maio se iniciou a mobilização para
mudança do estatuto da UFSM. Já em setembro, a UNE chamou uma greve geral e os estudantes
aderiram quase na sua totalidade. As eleições seguintes não foram de todo tumultuadas, mas
com diversas correntes presentes, com disputa política intensa.
OS DIRETÓRIOS ACADÊMICOS NO PÓS-GOLPE
A partir do ano de 1964, os Diretórios tiverem que se adaptar a Lei Suplicy, a qual
controlava as ações dos diretórios, restringindo a participação e atuação dos estudantes na
sociedade e na Universidade. A Lei limitou a participação de alunos nas entidades,
principalmente pelo rendimento acadêmico, estabelecendo o voto obrigatório a todos os
estudantes. Apesar desse controle, a ação dos militares ajudou na retomada das ações do
Movimento Estudantil, dando visibilidade a sua resistência.
Ainda nesse ano, as eleições para as diretorias das entidades de base foram canceladas
e se teve intervenções diretas nas UEE. Além disso, estudantes foram presos. Mesmo com essas
atitudes tomadas pelo governo, as mobilizações estudantis se intensificaram pelo Brasil.
A luta agora era para uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade, e a Reforma
Universitária, inspirada pelos estudantes de Córdoba, Argentina. As ações dos Diretórios,
então, se voltaram para a Universidade e para a educação, principalmente.
PRA QUE(M) SERVE O DIRETÓRIO ACADÊMICO?
7
Em 1985, foi criada a Lei nº 7.39510, que assegurava aos estudantes o direito de se
organizar para formarem e serem representados por um Diretório ou centro acadêmico11 Essa
organização se daria a partir de um estatuto que seria aprovado por uma assembleia geral de
curso para aprovação.
O Movimento Estudantil é um entre tantos outros meios de se criar uma consciência
política nos estudantes, visto principalmente pela representação estudantil dentro da
Universidade e dos colégios, na vontade de transformar, não só o seu curso, ou a sua instituição,
mas também a sociedade em que ele participa e vive.
Fazer parte de um Diretório acadêmico é uma experiência extraordinária, pois dentro
dele se aprende e se vivem coisas que apenas a passagem por uma graduação não traz, fazendo
com que os estudantes tenham uma ideia de grupo e união, não só entre os seus colegas, mas
também entre estudantes de outro cursos que também estão presentes no Movimento Estudantil.
Assim, o ME faz com que o estudante tenha responsabilidades com e para outras pessoas,
construindo vivências nos movimentos sociais, entre tantas outras oportunidades que o
Movimento pode servir, como alternativa, para um estudante.
Dentro da representação estudantil temos os Diretórios acadêmicos, que representam
todos os estudantes de um determinado curso, reivindicando direitos, promovendo integração
entre os alunos e a comunidade acadêmica, lutando por melhorias que envolvem direta e
indiretamente a Universidade, como o transporte público, a reestruturação de currículos, a
10 O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º - A União Nacional dos Estudantes - UNE, criada em 1937, é entidade representativa do conjunto dos
estudantes das Instituições de Ensino Superior existentes no País; Art. 2º - As Uniões Estaduais dos Estudantes
UEEs são entidades representativas do conjunto dos estudantes de cada Estado, do Distrito Federal ou de Território
onde haja mais de uma instituição de ensino superior; Art. 3º - Os Diretórios Centrais dos Estudantes - DCEs são
entidades representativas do conjunto dos estudantes de cada instituição de ensino superior; Art. 4º - Fica
assegurado aos Estudantes de cada curso de nível superior o direito à organização de Centros Acadêmicos - CAs
ou Diretórios Acadêmicos - DAs como suas entidades representativas; Art. 5º - A organização, o funcionamento
e as atividades das entidades a que se refere esta Lei serão estabelecidos nos seus estatutos, aprovados em
assembléia-geral no caso de CAs ou DAs e através de congressos nas demais entidades; Art. 6º - Esta Lei entra
em vigor na data de sua publicação; Art. 7º - Revogam-se as disposições em contrário, especialmente as contidas
na Lei nº 4.464, de 9 de novembro de 1964, e na Lei nº 6.680, de 16 de agosto de 1979. 11 Os diretórios e centros acadêmicos têm a mesma função. A diferença dos nomes se deu quando instaurado a
ditadura Militar, quando se criaram os diretórios acadêmicos. Com o fim da Ditadura, alguns diretórios mudaram
seus nomes para centros, enquanto as entidades de base criadas a partir de 1985 começaram a se autodenominar
como centros acadêmicos.
8
melhoria nos restaurantes universitários e da educação pública de qualidade, sempre com a
procura de soluções e com o intuito de instigar os estudantes a participar.
O Diretório acadêmico também é promotor de atividades que podem ser tanto artísticas
como culturais, incentivando debates e estudos sobre determinadas áreas ou temas, por meio de
palestras, oficinas, semanas acadêmicas e seminários.
DAQUIPALM: ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO
O Estatuto atual do DAQUIPALM vem do ano de 1995, no qual é estabelecido que o
Diretório é uma entidade sem fins lucrativos, sendo o órgão máximo de representação dos
estudantes de história da UFSM, sem filiação partidária.
Estruturalmente, o Diretório é dividido por coordenações: a coordenação geral, que com
este novo Estatuto veio substituir a direção, antes comandado por apenas uma pessoa, e agora
dividida entre três estudantes, sendo isto pensado para a maior democratização das decisões
finais dentro do DAQUIPALM; a coordenação de comunicação, que faz a divulgação das ações
do Diretório; a coordenação de formação política, que tem a tarefa trazer o debate político para
dentro da Universidade e do curso; a secretaria geral, que trata da prática burocrática; a
secretaria de finanças, que cuida da gestão dos recursos financeiros dentro do Diretório e; a
secretaria de formação de base, que faz o trabalho diretamente com os estudantes do Curso,
procurando fazê-los entender o que é um Diretório, uma federação, como se atua, etc.
Sobre sua coordenação, há eleições anuais, com no mínimo dez integrantes em cada
chapa, sendo que a candidatura do secretário de formação de base, é lançada junto com a sua
chapa, mas eleito separadamente. Se nas eleições não houver quórum mínimo, se fazem novas
eleições com a obrigatoriedade de inscrição de uma nova chapa. Caso não ocorra, a gestão que
está atualmente coordenando, fica interinamente até se convoque uma nova eleição.
Pelo Diretório são chamadas as assembleias de Curso, sendo por meio delas que se pode
escolher representantes discentes nos colegiados do Curso e do Departamento de História da
UFSM, assim como para se mudar o estatuto, pensar u novo currículo. Desta forma, qualquer
decisão que o Diretório tome, sempre ela deve passar por uma assembleia.
9
Atualmente, o espaço físico do DAQUIPALM está no Campus Camobi da UFSM, no
prédio 74-C, onde fica sediado o Centro de Ciências Sociais e Humanas, no mesmo local em
que o Curso de História está alocado. Dentro dele se encontram o arquivo com documentação
sobre o Diretório, cópias reprográficas que foram doados para distribuição entre os alunos,
livros e revistas. Neste espaço também ocorrem discussões entre os alunos e variadas reuniões,
podendo ser visto como um lugar de troca de conhecimentos entre os que o frequentam.
O DAQUIPALM faz parte da FEMEH12, construindo coletivamente a FEMEH-SUL.
Por causa dessa aproximação com a sua Federação ele não tem ligação com a UNE, apesar de
seus integrantes poderem participar dos espaços que a UNE propõe, mas não podem representar
este Diretório. O Diretório também não é filiado a nenhum partido político, nem é de qualquer
tendência partidária.
FUNDAÇÃO DO DAQUIPALM
A parte final deste trabalho é uma pequena síntese do que foi apresentado nos dois
primeiros capítulos, associado ao início do Diretório Acadêmico, tendo como objetivo
apresentar a trajetória dos estudantes para a construção desta entidade.
Retomando um pouco sobre o Movimento estudantil temos Santana (2007), que disserta
sobre o ME em 1974, onde este inicia sua reconstrução, por meio de reuniões nacionais de área
e de greves que queriam a resolução imediata de seus problemas. Já em 1975, inicialmente, o
ME se volta para defesa de três alunos indiciados pelo decreto-lei 477, além disso, os estudantes
da Escola de Comunicações e Artes (ECA) entram em greve para que o diretor da Faculdade
Manuel Nunes Dias saísse do seu cargo, essa greve chaga ao fim dois messes depois, sem ter
alcançado sua principal reinvindicação, mas, ele “representou uma grande ação dos alunos em
direção á retomada da liberdade e a rearticulação do Movimento Estudantil” (Ibidem, p. 184).
No período entre 1975 e 1980 surgiram diversas correntes estudantis (Ibidem, p. 185),
que tinham lutas em comum, principalmente o fim da Ditadura, o retorno a Democracia, e uma
nova constituição, apesar de diferirem na forma de condução do Movimento Estudantil.
12 Federação do Movimento Estudantil de História.
10
Como já dito, a partir de 1979 se aprofunda uma abertura política do Brasil, com a maior
retomada da ação dos movimentos sociais, em especial no que interessa aqui, do Movimento
Estudantil. Em Santa Maria não foi diferente, pois o Movimento Estudantil começa a ser
repensado, sendo neste momento que começou a se ter uma ideia do que viria ser o órgão de
representação estudantil de história da UFSM, o DAQUIPALM13.
Até o início da década de 1980, o Centro de Ciências Sociais e Humanas tinha apenas
um órgão de representação estudantil, o chamado Diretório Acadêmico da Filosofia e
Humanidades, o qual atendia as demandas de todos os cursos que estavam alocados neste
Centro, dos cursos de comunicação a filosofia e a história.
Em 1982, os estudantes de história, decidiram se separar deste grande Diretório,
começando a se articular para a formação de um Diretório que fosse apenas do Curso de
História, pois não se sentiam mais representados e não tinham seus interesses atendidos por esta
entidade geral.
Naquele momento, o Curso de História se encontrava no prédio 21 no Campus de
Camobi da UFSM. Foi neste prédio que foi articulada a criação do Diretório, sendo chamada
uma reunião dos estudantes de História na qual foi proposta a separação da História do Diretório
da Filosofia e Humanidade. Também se propôs que fosse criada uma entidade realmente
representativa, um novo Diretório, proposta aceita com ampla maioria dos alunos do Curso.
Alguns professores também foram favoráveis a criação desta entidade.
A partir deste momento, os estudantes interessados, se dividiram em três grupos, com
propostas e defesas de um nome. Foi então decidido por DAQUIPALM, em homenagem ao
Quilombo dos Palmares, Quilombo dos tempos colônia, localizadas na Serra da Barriga, na
então Capitania de Pernambuco, um símbolo da resistências dos africanos à escravidão,
resistindo aos ataques do poder da metrópole por mais de um século.
13 Entrevista concedida por GAGLIETTI, Mauro. Mauro Gaglietti: depoimento [Nov. 2015]. Entrevistadora:
Natalia Pires Oliveira. Santa Maria: [Faculdade Palotina de Santa Maria], 2015. Entrevista concedida para a
pesquisa monográfica.
11
Inicialmente, esta entidade estava voltada para sua própria organização e não tinha
muitas pautas na quais trabalhar, mas entre suas pautas inicias estavam o fim da Ditadura, e
questões que envolvessem a UFSM, uma delas, o transporte público, onde se pedia aumento da
frota de ônibus que iam do Centro para a Universidade (em Santa Maria), e para que isso viesse
a acontecer queriam que se aumentasse o valor das passagens.
Apesar de toda essa mobilização e entusiasmo estudantil, o DAQUIPALM, foi criado
na ilegalidade, pois ainda estava em vigor a Lei Suplicy de Lacerda, que vetava a criação de
novos órgãos de representação estudantil. Essa ilegalidade se estendeu até 1985, ao término da
Ditadura, mas apenas em 1987 foi cedida oficialmente uma sala para o Diretório, que
juntamente com o curso havia se mudado para o centro de Santa Maria dois anos antes, para o
prédio de Apoio da UFSM, onde funcionara por muitos anos o Hospital Universitário, no
4ºandar.
Assim, nos cinco anos anteriores, todas as suas reuniões foram feitas em salas aleatórias
dentro da Universidade, não se tendo registro documental de como foi o processo para o seu
início.
CONCLUSÃO
Entre 1970 e 1980 o Brasil passou pelo fim da Ditadura Militar, apesar dos movimentos
sociais estarem muito cautelosos com suas ações nesse período, pois não tinham certeza dos
rumos que a política estava tomando. É nesse sentimento de incerteza no Brasil que o
Movimento Estudantil ganhou nova forma dentro da sociedade brasileira, ocasião em que as
entidades de base estudantis se reorganizaram. É neste processo que foi formado o
DAQUIPALM.
A separação dos estudantes de História do Diretório que representava grande parte dos
estudantes do Centro de Ciências Sociais e Humanas da UFSM ocorreu em virtude da
necessidade de uma entidade que realmente atendesse e representasse esses estudantes. Assim,
o DA começou a ser visto para além da Universidade e do mundo acadêmico, se mostrando
para os movimentos sociais e para a comunidade santa-mariense.
12
O DAQUIPALM sempre foi influenciado pelo contexto em que viveu, e sua criação é
o maior exemplo disso. Em um momento em que se havia muito a fazer pela sociedade e pelos
estudantes, a representação estudantil foi uma luta dos estudantes para os estudantes. Assim, é
preciso que os estudantes percebam a força que têm enquanto organização e grupo, nas lutas
por seus direitos, na Universidade e fora dela.
Apesar do interesse e da intensa mobilização dos estudantes de História para a
construção do DAQUIPALM, e do interesse em continuar os trabalhos do Diretório pelos
alunos que vieram pós-Fundação, o Movimento Estudantil vem sendo constantemente
desvalorizado, pelos professores, pela sociedade e pelos próprios estudantes. É preciso que se
lembre que cada vez que um estudante vota dentro da Universidade, quando pode participar de
decisões, que é por causa dos que vieram antes dele e com muita luta que se conseguiu garantir
esses direitos.
O Movimento Estudantil, precisa ter seu papel repensado, como organização e entidade.
Como militante, vejo um crescente desânimo e a falta de interesse dos estudantes pelo ME. A
questão que sempre se pensa é o porquê de isso vir ocorrendo dentro do ME e como que
podemos mobilizar esses estudantes para que voltem a participar dele? Em todos os debates
sobre Movimento Estudantil é sempre essa a pergunta central, de como se mobilizar. Não
conseguimos ter a resposta para isso, apenas reflexões de como podemos tentar mobilizar, como
podemos fazer o estudante participar, de como podemos fazer ele se interessar.
A participação do estudante na sociedade pode ser política, social, cultural e possuir
frentes de atuação local, regional e nacional. Alguns têm maior destaque, outros nem tanto, mas
os estudantes não podem deixar de acreditar na força que tem de não permitir que seu espaço
seja restringido ou que tenha fim.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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13
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14
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