A América Latina Face à Política de Integração Econômica Regional No Mundo Subdesenvolvido

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 8/ 6 /2014 A Am éri ca Latina face à p olítica de in t e gra ção e co n ô mica re gi onal no mundo subdesen v olv id o ht t p://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418 / sn-418-62.htm 1/10 Menú principal  Scripta Nova  REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIA LES Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98  Vol. XVI, núm. 418 (62), 1 de noviembre de 2012 [Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana ]  A AMÉRICA LA TINA FACE À POLÍTICA DE INT EGRAÇÃO ECON ÔMICA REGIONAL NO MUNDO SUBDESENVOLVIDO Francisco Fransualdo de Azevedo Departamento/Programa de Pós-Graduação em Geografia – Universidade Federal do Rio Grande do Norte [email protected] A América Latina face à política de integração econômica regional no mundo subdesenvolvido (Resumo) Em tempos de globalização, ou mundialização do capital, o sistema mundo se apresenta significativamente integrado, por meio da combinação entre técnica, ciência e informação. Valoriza-se ao máximo a capacidade de produção, circulação e consumo, portanto, a capacidade máxima de fluxos, de dinheiro, informação, mercadorias, insumos e pessoas. Nesse contexto surgem os blocos econômicos de poder, que dentre outros aspectos reconhecem e acirram as desigualdades socioespaciais, dentro e fora das regiões. Assim, este trabalho busca analisar a política de integração econômica regional no mundo subdesenvolvido, especialmente na América Latina, atentando para as desigualdades geradas ou reproduzidas no interior desse processo, especialmente no contexto da integração econômica do MERCOSUL. No caso da América Latina, o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), instituiu-se em 1991 através do Tratado de Assunção, objetivando integrar ainda mais as economias nacionais sul-americanas. Porém, é notória a produção e reprodução concomitante da riqueza e da pobreza, e o aumento das desigualdades e das contradições socioespaciais, portanto da segregação social. No MERCOSUL, destaca-se a posição do Brasil e da Argentina no cenário regional, considerando os níveis diferenciados de industrialização e desenvolvimento, não obstante as desigualdades socioterritoriais internas destes. Na divisão territorial e regional do trabalho os demais países mostram-se ainda mais dependentes e fragilizados, sobretudo em tecnologia e economicamente, embora em situações diferenciadas. Palavras chave: América Latina, MERCOSUL, integração econômica, desigualdades. Latin America in relation to the politics  of regional e conomic in teg ration in th e deve loping w orld (Ab stract) In times of globalization or mundialization of the capital, the world system presents itself significantly integrated, through the combination of technique, science and information. It values to the fullest the capacity of production, circulation and consumption, thus, a maximum capacity of flows, of money, information, commodities, as well as supplies and  peopl e. In t hi s con tex t em erg es th e econo m i c blo cs of po wer, th at am ong oth er th i ng s rei nf orce an d recog ni ze th e soci o-spati al i nequ al it i es wi th i n and outsid e regi on s. Th us, th i s  paper seeks to ana l yz e the pol icies of regi onal econom ic in teg rati on in the devel opi ng worl d, especi al ly i n Lati n Ameri ca, pay in g attent i on to th e in equa l it i es gen erated or reproduced inside this process, mainly in the context of the economic integration of MERCOSUL. In the Latin America case, the Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), establish edit self in 1991 by the Asunción Treaty, aiming to integrate even more the economies of South America. However, it is notorious the production and reproduction with the wealth and poverty, and the increasing inequalities and sociospatial contradictions, therefore the social segregation. Brazil and Argentina are in the top position in the regional scenario, considering the diff erent levels o f indu striali zation and de velopm ent, despite these in ternal soc io-terr itorial i nequali ties. In relation to the ter ritorial and regional divi sion of labor other countries show themselves even more depe ndent and vul nerable, espe ciall y in terms of t echnolog y and economy, although i ndif ferent situation s. Key words: Latin Ameri ca, MERCOS UL, e conomi c integration, inequali ties. América Latina frente a la política de integración económica regional en un mundo en desarrollo (Resumen) En l os tiempos de la globalización, o mundialización del capital, el sistema contribuye de manera s ign ifi cat iva a l a integración de mundo, a tra vés de la combinación del arte, la ciencia y la información. Los valores que prevalecen son los de la capacidad máxima de producción, la circulación y el consumo, por lo tanto influyen en la amplificación de los flujos de dinero, de información, de bienes, de suministros y de personas. En este contexto surgen los bloques de poder que, entre otras cosas, acentúan la manifestación de las desigualdades socio-espaciales dentro y fuera de las regiones. En este estudio se analiza la política de integración económica regional en el mundo en desarrollo, especialmente en América Latina, con especial atención a las desigualdades generadas o reproducida sen este proceso, especialmente en el contexto de la integración económica en el MERCOSUR. En el caso de América Latina, el Mercado Común del Sur (MERCOSUR) fue instituido en 1991 por el Tratado de Asunción, con el objetivo de integrar aún más las economías nacionales en América del Sur. Sin embargo, se evidencia de forma simultánea la producción y la reproducción de las desigualdades de riqueza, la pobreza, la creciente segregación socio-geográfica y las contradicciones en el ámbito social. En el MERCOSUR cuentan mucho las posiciones de Brasil y Argentina en el escenario regional, con sus diferentes niveles de industrialización y de desarrollo, a pesar de sus desigualdades socio-territoriales internas. En la división territorial de los países de la región es posible identificar que se muestran aún más como dependientes y vulnerables, especialmente en términos de tecnología y de comportamiento económico, aunque en diferentes formas. Palabras clave: América Latina, integración económica, MERCOSUR, desigualdades.  Neste text o anal isarem os o processo de i nt egr ação econôm i ca region al no mu ndo su bdesen vol vi do, buscan do enten der o papel da Amér i ca Latin a no cont ext o dos blocos econômicos de poder, especialmente do MERCOSUL, mostrando o conjunto de ações que marcam esta fase e que, por conseguinte refletem na dinâmica da sociedade e na reorganização dos territórios nacionais e regionais. A formação dos blocos econômicos de poder se constitui em estratégias político-econômica-institucionais de determinados países, no sentido de tentarem se fortalecer frente à lógica de (re)produção do capitalismo contemporâneo, numa escala espaço-temporalmente desigual. Diante disso analisaremos o papel do MERCOSUL no cenário econômico regional, buscando entender como o Brasil e a América Latina, se inserem nesse processo dinâmico que marca o atual período. O principal objetivo do trabalho é discutir como a formação de blocos econômicos contribui para a diminuição das fronteiras comerciais e para o fortalecimento da economia regional através da integração de mercados nacionais, mas busca-se entender, sobretudo, em que medida esse processo de integração acirra as desigualdades socioespaciais intraregionalmente.  Não obstan te o cont ext o de m uda nças percebe-se qu e a form ação e cons ol id ação dos bl ocos econ ôm icos, pri nci pal m ent e no qu e tan ge à real id ade su la m eri can a, têm corroborado para o aprofundamento da divisão internacional do trabalho e para a emergência de um novo e complexo cenário de desigualdades regionais. Os procedimentos metodológicos adotados nessa análise constituem-se de revisão bibliográfica, coleta e análise de dados secundários, e construção textual.

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A América Latina face à política de integração econômica regional no mundo subdesenvolvido

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  • 8/6/2014 A Amrica Latina face poltica de integrao econmica regional no mundo subdesenvolvido

    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-62.htm 1/10

    Men principal

    Scripta Nova REVISTA ELECTRNICA DE GEOGRAFA Y CIENCIAS SOCIALES

    Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depsito Legal: B. 21.741-98 Vol. XVI, nm. 418 (62), 1 de noviembre de 2012

    [Nueva serie de Geo Crtica. Cuadernos Crticos de Geografa Humana]

    A AMRICA LATINA FACE POLTICA DE INTEGRAO ECONMICA REGIONAL NO MUNDOSUBDESENVOLVIDO

    Francisco Fransualdo de AzevedoDepartamento/Programa de Ps-Graduao em Geografia Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    [email protected]

    A Amrica Latina face poltica de integrao econmica regional no mundo subdesenvolvido (Resumo)

    Em tempos de globalizao, ou mundializao do capital, o sistema mundo se apresenta significativamente integrado, por meio da combinao entre tcnica, cincia einformao. Valoriza-se ao mximo a capacidade de produo, circulao e consumo, portanto, a capacidade mxima de fluxos, de dinheiro, informao, mercadorias, insumos

    e pessoas. Nesse contexto surgem os blocos econmicos de poder, que dentre outros aspectos reconhecem e acirram as desigualdades socioespaciais, dentro e fora dasregies. Assim, este trabalho busca analisar a poltica de integrao econmica regional no mundo subdesenvolvido, especialmente na Amrica Latina, atentando para as

    desigualdades geradas ou reproduzidas no interior desse processo, especialmente no contexto da integrao econmica do MERCOSUL. No caso da Amrica Latina, o

    Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), instituiu-se em 1991 atravs do Tratado de Assuno, objetivando integrar ainda mais as economias nacionais sul-americanas.

    Porm, notria a produo e reproduo concomitante da riqueza e da pobreza, e o aumento das desigualdades e das contradies socioespaciais, portanto da segregao

    social. No MERCOSUL, destaca-se a posio do Brasil e da Argentina no cenrio regional, considerando os nveis diferenciados de industrializao e desenvolvimento, no

    obstante as desigualdades socioterritoriais internas destes. Na diviso territorial e regional do trabalho os demais pases mostram-se ainda mais dependentes e fragilizados,

    sobretudo em tecnologia e economicamente, embora em situaes diferenciadas.

    Palavras chave: Amrica Latina, MERCOSUL, integrao econmica, desigualdades.

    Latin America in relation to the politics of regional economic integration in the developing world (Abstract)

    In times of globalization or mundialization of the capital, the world system presents itself significantly integrated, through the combination of technique, science and information. It

    values to the fullest the capacity of production, circulation and consumption, thus, a maximum capacity of flows, of money, information, commodities, as well as supplies and

    people. In this context emerges the economic blocs of power, that among other things reinforce and recognize the socio-spatial inequalities within and outside regions. Thus, this

    paper seeks to analyze the policies of regional economic integration in the developing world, especially in Latin America, paying attention to the inequalities generated orreproduced inside this process, mainly in the context of the economic integration of MERCOSUL. In the Latin America case, the Mercado Comum do Sul (MERCOSUL),

    establish edit self in 1991 by the Asuncin Treaty, aiming to integrate even more the economies of South America. However, it is notorious the production and reproduction with

    the wealth and poverty, and the increasing inequalities and sociospatial contradictions, therefore the social segregation. Brazil and Argentina are in the top position in the regional

    scenario, considering the different levels of industrialization and development, despite these internal socio-territorial inequalities. In relation to the territorial and regional division of

    labor other countries show themselves even more dependent and vulnerable, especially in terms of technology and economy, although indifferent situations.

    Key words: Latin America, MERCOSUL, economic integration, inequalities.

    Amrica Latina frente a la poltica de integracin econmica regional en un mundo en desarrollo (Resumen)

    En los tiempos de la globalizacin, o mundializacin del capital, el sistema contribuye de manera significativa a la integracin de mundo, a travs de la combinacin del arte, la

    ciencia y la informacin. Los valores que prevalecen son los de la capacidad mxima de produccin, la circulacin y el consumo, por lo tanto influyen en la amplificacin de losflujos de dinero, de informacin, de bienes, de suministros y de personas. En este contexto surgen los bloques de poder que, entre otras cosas, acentan la manifestacin de las

    desigualdades socio-espaciales dentro y fuera de las regiones. En este estudio se analiza la poltica de integracin econmica regional en el mundo en desarrollo, especialmente

    en Amrica Latina, con especial atencin a las desigualdades generadas o reproducida sen este proceso, especialmente en el contexto de la integracin econmica en el

    MERCOSUR. En el caso de Amrica Latina, el Mercado Comn del Sur (MERCOSUR) fue instituido en 1991 por el Tratado de Asuncin, con el objetivo de integrar an

    ms las economas nacionales en Amrica del Sur. Sin embargo, se evidencia de forma simultnea la produccin y la reproduccin de las desigualdades de riqueza, la pobreza,

    la creciente segregacin socio-geogrfica y las contradicciones en el mbito social. En el MERCOSUR cuentan mucho las posiciones de Brasil y Argentina en el escenario

    regional, con sus diferentes niveles de industrializacin y de desarrollo, a pesar de sus desigualdades socio-territoriales internas. En la divisin territorial de los pases de la regin

    es posible identificar que se muestran an ms como dependientes y vulnerables, especialmente en trminos de tecnologa y de comportamiento econmico, aunque en

    diferentes formas.

    Palabras clave: Amrica Latina, integracin econmica, MERCOSUR, desigualdades.

    Neste texto analisaremos o processo de integrao econmica regional no mundo subdesenvolvido, buscando entender o papel da Amrica Latina no contexto dos blocos

    econmicos de poder, especialmente do MERCOSUL, mostrando o conjunto de aes que marcam esta fase e que, por conseguinte refletem na dinmica da sociedade e na

    reorganizao dos territrios nacionais e regionais.

    A formao dos blocos econmicos de poder se constitui em estratgias poltico-econmica-institucionais de determinados pases, no sentido de tentarem se fortalecer frente

    lgica de (re)produo do capitalismo contemporneo, numa escala espao-temporalmente desigual. Diante disso analisaremos o papel do MERCOSUL no cenrio econmico

    regional, buscando entender como o Brasil e a Amrica Latina, se inserem nesse processo dinmico que marca o atual perodo.

    O principal objetivo do trabalho discutir como a formao de blocos econmicos contribui para a diminuio das fronteiras comerciais e para o fortalecimento da economia

    regional atravs da integrao de mercados nacionais, mas busca-se entender, sobretudo, em que medida esse processo de integrao acirra as desigualdades socioespaciais

    intraregionalmente.

    No obstante o contexto de mudanas percebe-se que a formao e consolidao dos blocos econmicos, principalmente no que tange realidade sulamericana, tm

    corroborado para o aprofundamento da diviso internacional do trabalho e para a emergncia de um novo e complexo cenrio de desigualdades regionais. Os procedimentosmetodolgicos adotados nessa anlise constituem-se de reviso bibliogrfica, coleta e anlise de dados secundrios, e construo textual.

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    A economia global caracteriza-se, dentre outros aspectos, por avanos na infraestrutura, transporte e comunicao, por exemplo, no sentido de garantir maior dinamismo e

    fluidez ao modo de produo capitalista como um todo (matria-prima, mercadorias, informaes, dinheiro, pessoas, etc.). Associado a esses eventos tem-se a elaborao de

    um avanado sistema de tecnologias da informao e da comunicao, financeirizao, desregulamentao e liberalizao estatal praticada por diversos pases, alm de novasformas de cooperao internacional, evidenciando muitas vezes o que Ulrick Beck chama de topoligamia de lugares, isto , o casamento do sistema econmico global com

    vrios lugares ao mesmo tempo, como forma de fazer com que esse momento histrico acontea em benefcio do capital. Para Beck (1999) preciso atentar para os

    equvocos que envolvem a noo de globalismo, e de modo particular o chamado livre comrcio mundial.

    Nesse contexto, constitui-se um ncleo de controle dotado de um conjunto de elementos necessrios interligao global do sistema econmico, isto , componentes como: os

    mercados financeiros, o comrcio internacional, produo transnacional, cincia e tecnologia. Assim, a economia global pode ser entendida como uma economia cujos

    componentes centrais tm a capacidade institucional, organizacional e tecnolgica de trabalhar em unidade e em tempo real, ou em tempo escolhido, em escala planetria[1].

    Tudo converge para uma velocidade cada vez maior das transformaes, especialmente tecnolgicas, refletindo significativamente no mundo do trabalho, do consumo, portanto,

    no sistema econmico, favorecendo, sobretudo os pases que detm maiores nveis de riqueza e de desenvolvimento cientfico-tecnolgico, impactando de forma direta na

    organizao socioespacial dos diferentes lugares e regies.

    Corroborando com essa anlise Harvey (1999, p. 121) afirma que os novos mtodos de trabalho so inseparveis de um modo especfico de viver e de pensar e sentir a

    vida. Logo, os Estados nacionais so impulsionados pelas grandes empresas a fazerem mudanas nas suas estruturas econmicas e polticas para que possam atender lgica

    neoliberal de produo e acumulao de riqueza.

    Ianni (1996, p. 134) afirma que as corporaes transnacionais desempenham um papel bsico, que pode ser decisivo na criao, institucionalizao e dinamizao dos

    sistemas econmicos regionais. Um conjunto de pases integra-se, a fim de aumentar sua fora e representatividade, pois quando esses se unem, suas influncias tm um maior

    alcance espacial, de modo que seus interesses sero supostamente mais facilmente garantidos, ampliando seu mercado consumidor e sua produo.

    O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), institudo em 1991 atravs do Tratado de Assuno, foi criado para integrar ainda mais as economias nacionais sul-americanas no

    contexto da economia global. Este bloco tem por objetivo desenvolver o potencial econmico dos pases membros, aumentando as relaes econmicas e polticas dentro doprprio grupo.

    Nos ltimos anos, o ritmo de importaes e exportaes tem sido crescente entre os pases do MERCOSUL, o que justifica uma relativa diminuio da dependncia deimportao desses pases, em relao aos Estados Unidos, o qual era responsvel por mais da metade das importaes feitas por estes, antes da criao do bloco.

    Nesse sentido, Arroyo (2006) constata um aumento no s das relaes econmicas, mas tambm polticas, diplomticas e empresariais entre os pases membros, e entre estes

    e o resto do mundo. Na medida em que este bloco comercial cresce, verifica-se a ampliao do seu mercado, configurando uma nova escala no processo de produo e decirculao, bem como uma mudana nos fluxos que, por sua vez modificam o territrio[2].

    No entanto, muitas vezes os blocos econmicos aumentam as desigualdades e as contradies socioespaciais, dentro e fora dos pases e regies. Isso normalmente depende donvel de industrializao de cada pas e do nvel de desenvolvimento, bem como das condies polticas e culturais a existentes.

    No caso do MERCOSUL, merece destaque a posio do Brasil e da Argentina no cenrio regional, tendo em vista a diferenciao observada no tocante ao processo deindustrializao e desenvolvimento, apesar das desigualdades socioterritoriais internas destes. Os demais pases apresentam-se num contexto de maior fragilidade,

    vulnerabilidade e dependncia, sobretudo econmica e tecnolgica, embora em situaes diferenciadas.

    Breve contextualizao sobre a economia global e os blocos econmicos

    Nessa anlise partiremos do princpio de que a economia capitalista mundializada diferenciada e heterognea espao-temporalmente, ao mesmo tempo contraditria. Isso

    envolve e desencadeia diferentes processos e diferentes eventos, abrangendo diversos atores, ditos globais e/ou locais, imbudos de relaes de foras e interesses muitas vezesconsideravelmente desiguais e contraditrios.

    As transformaes ocorridas no modo de produo capitalista contemporneo, observadas especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial, associam-se, sobretudo ao

    avano do meio tcnico-cientfico-informacional, proporcionado principalmente pelos avanos da cincia moderna. Logo, notam-se no contexto econmico global significativastransformaes em infraestrutura que, por conseguinte, garantem maior dinamismo e fluidez ao sistema econmico capitalista.

    Tais mudanas aportam-se na elaborao e no funcionamento de um complexo e avanado sistema de tecnologias da informao e da comunicao, desregulamentao eliberalizao estatal praticada pelos Estados nacionais, caracterizando o que se intitulou de neoliberalismo econmico, difundido principalmente a partir de meados do sculo

    XX. Paralelamente a esse processo, surgem novas formas de cooperao internacional, criando uma espcie de topoligamia de lugares, isto , a associao do sistemaeconmico global com vrios lugares ao mesmo tempo, como forma de garantir o acontecer desse momento histrico, tudo isso em benefcio do prprio sistema econmico.

    No entanto, Beck (1999) alerta sobre os equvocos que envolvem a noo de globalismo, especialmente o chamado livre comrcio mundial. Para o autor um equvoco, por

    exemplo, acreditarmos que a economia globalizada a mais adequada para oferecer o bem-estar para todo o mundo, ou que esta capaz de eliminar as desigualdadessocioespaciais. evidente que no haver jamais a partilha igualitria da riqueza gerada pela economia global, tampouco o alcance universal da dignidade de sobrevivncia e da

    constituio da cidadania. O que ocorre de fato um acirramento das desigualdades socioespaciais entre naes e regies, assim como num mesmo pas ou regio, aumentandoa diferenciao socioeconmica entre ricos e pobres. H de fato uma supervalorizao das relaes de mercado, em detrimento das questes e problemas sociais.

    notria a constituio de um ncleo de controle e comando dotado de um conjunto de elementos que so responsveis pela interligao global do sistema econmicocapitalista, envolvendo componentes como: os mercados financeiros, o comrcio internacional, a produo transnacional, a cincia e a tecnologia, que segundo Castells (2007,

    p. 143) gerou uma economia cujos componentes centrais tm a capacidade institucional, organizacional e tecnolgica de trabalhar em unidade e em tempo real, ou em tempoescolhido, em escala planetria.

    Nesse sentido, o movimento que se apresenta evidencia uma velocidade cada vez maior das transformaes socioespaciais, em contraposio ao movimento dos espaos e

    homens do tempo lento. Tais transformaes refletem diretamente no meio ambiente, no mundo do trabalho, e no contexto do consumo, portanto, no sistema econmico, o quefavorece especialmente os pases que detm maiores nveis de riqueza e de desenvolvimento cientfico e tecnolgico.

    Discutindo os blocos econmicos como uma estratgia capitalista normativa no processo de integrao regional

    Apesar de certo anacronismo em torno do processo de integrao econmica, nota-se que a diminuio progressiva das barreiras, no que concerne s trocas comerciais, bemcomo o prprio processo de integrao numa perspectiva econmica data do incio do sculo XVI, quando os europeus iniciaram os movimentos de expanso e de

    investimentos no mundo, por meio das grandes navegaes europeias e das companhias de comrcio. E essa integrao progressiva se constituiu nas bases do que mais tardese denominou processo de globalizao ou mundializao do capital.

    O perodo de expanso do ps-guerra entre 1945 e 1973 estava embasado na disciplina da fora de trabalho para os propsitos de acumulao do capital - controle social

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    das capacidades fsicas e mentais - tecnologias, hbitos de consumo e configurao/valorizao de poder poltico e econmico por parte de determinados agentes. Logo, a esse

    conjunto de prticas deu-se o nome de Fordista - Keynesiano.

    Havia a o anseio de se estabilizar o capitalismo e evitar as crises recorrentes, bem como o nacionalismo das solues nacionalsocialistas, que s seria possvel por meio do

    estabelecimento de um conjunto de estratgias administrativas cientficas e poderes estatais. De acordo com Harvey (1990) o capitalismo ainda era bastante instvel e dependiada ao coletiva, ou seja, dependia de uma regulamentao e interveno do Estado.

    Ocorre que na dcada de 1970, especialmente em 1973, desencadeia-se a crise do petrleo, originada principalmente pelo desequilbrio na oferta do produto, o que elevou

    expressivamente o preo do barril do produto, gerando conflitos entre os pases rabes, maiores produtores, como tambm acirrando a crise marcada por recesso nosEstados Unidos e no continente europeu, o que afetou sobremaneira a economia mundial. A partir dos anos 1990 difundem-se as polticas de reestruturao do sistema,

    induzindo uma nova diviso territorial e internacional do trabalho, com nfase no desenvolvimento tecnolgico como subsdio da estruturao dessa nova diviso, principalmentenas reas da informtica e da comunicao. E essa mesma revoluo tecnolgica que vai agir diretamente em todo o sistema social, econmico, poltico e cultural do mundo.

    sabido que o final do sculo XX foi marcado por mudanas na economia poltica do capitalismo. As marcas dessas modificaes podem ser observadas em processos detrabalho, hbitos de consumo, configurao geogrfica, regime de acumulao e modo de regulamentao social e poltica diferenciado e muitas vezes anacrnico. Assim, osmercados globais e os blocos econmicos de poder surgem no contexto da globalizao, por meio da nova dinmica do capital, pressupondo uma maior capacidade de

    fortalecimento das foras produtivas capitalistas.

    A partir desse perodo, as economias mundiais passam a conviver com a necessidade de integrao, tendo em vista a dinmica e a agilidade/velocidade dos processos que

    marcam o funcionamento da economia-mundo. Logo, vrios pases so impulsionados pelo setor econmico, representado pelas grandes empresas (de produo, comrcio efinanas, etc.) a fazerem mudanas nas suas estruturas econmicas e polticas para que possam assim atender lgica neoliberal de acumulao e (re)produo da riqueza.

    Nesse contexto, os Estados Nacionais passaram a ter um papel fundamental, pois o mercado cobra a qualquer custo a viabilizao por parte do Estado das condiesnecessrias para garantir a tecnicizao e a fluidez do territrio, como forma de garantir maior produo (e produtividade), circulao e consumo. Passamos a conviver com o

    que Santos (2001) chamou de imperativo do consumo, marcado pelo despotismo deste. J Ianni (1996, p. 134) afirma que as corporaes transnacionais desempenham umpapel bsico, que pode ser decisivo na criao, institucionalizao e dinamizao dos sistemas econmicos regionais.

    Nota-se que a partir da um conjunto de pases integra-se, a fim de aumentar seu poder econmico e geopoltico, pressupondo, portanto ganho de fora e representatividade no

    cenrio geopoltico mundial, pois quando essas economias nacionais se unem, pressupe-se que suas influncias tm um maior alcance espacial, de modo que seus interessessero supostamente mais facilmente garantidos, ampliando seu mercado consumidor e sua produo. Dessa forma, possvel observar que, enquanto alguns desses blocos

    comerciais encontram-se bem estruturados, outros ainda demonstram incipincia, muitos limites e fragilidades.

    Alguns dos principais blocos econmicos mundiais como: Unio Europeia, Nafta, MERCOSUL, APEC, ASEAN, SADC e CEI respondem pela maior parte das transaes

    econmicas/financeiras da economia capitalista na contemporaneidade, esta, dita integrada. Ainda como parte intrnseca da poltica de integrao econmica outros tipos deintegrao tm surgido no Sistema-Mundo como forma de garantir as condies necessrias para o processo integrador das economias nacionais e regionais. Exemplo disso

    o que tem ocorrido na Amrica Latina, com o surgimento da ALADI (Associao Latino-Americana de Integrao), com a instituio da IIRSA (Iniciativa para a IntegraoRegional Sul-Americana), entre outros.

    At recentemente (2008) a Unio Europeia se constitua no bloco econmico com maior representatividade econmica e poltica no cenrio geopoltico mundial. O bloco foi

    institudo em 1992, passando a exercer forte poder sobre os demais pases e regies do mundo, pois conforme afirma Castells (2007), este passou a dinamizar a economiaglobal, estabelecendo alianas, realizando fortes transaes comerciais em tempo recorde, de modo que passou a ser responsvel por expressivos fluxos financeiros e uma

    circulao veloz, complexa e mundialmente conectada.

    importante destacar que as noes de soberania, austeridade e territorialidade so elementos marcantes entre as naes europeias. Ressalta-se que a consolidao de um

    sistema de cooperao e integrao econmica entre estes pases demorou dcadas e enfrentou diversos obstculos, os quais se fazem notar ainda hoje. Isso pode serevidenciado pelos diferentes tratados que foram realizados, objetivando essa configurao, a exemplo dos tratados de Roma, Maastricht e Amsterd, buscando conciliarem

    interesses e foras que convergiram para a consolidao do bloco econmico regional formado por vrios dos pases europeus na dcada de 1990. Em 2007, o bloco passou ase constituir de 27 Estados soberanos.

    Dos principais objetivos da Unio Europeia destacam-se uma poltica de comrcio comum, bem como uma poltica agrcola comum; promoo do bem-estar socioeconmico

    dos pases membros; poltica comum no setor de infraestrutura, como energia, transporte e telecomunicaes; livre circulao de pessoas, mercadorias, servios e capitais;

    poltica monetria comum, o que ainda no atingiu todos os pases membros, a exemplo da Inglaterra que no aderiu moeda comum o Euro.

    Vale destacar que h divergncias e fortes desigualdades entre os pases membros da Unio Europeia, pois nem todos apresentam o mesmo nvel de desenvolvimento e/ou a

    mesma fora poltica e econmica, pelo contrrio, h pases em situao, por exemplo, socioeconmica, de acentuada fragilidade, a exemplo da Romnia.

    Alm da Unio Europeia, merecem destaque os blocos econmicos NAFTA, MERCOSUL, APEC e ASEAN, alm de outros blocos com menor representatividade poltica e

    econmica, mas que participam do cenrio da economia global e da nova configurao dos blocos regionais de poder.

    O Tratado de Livre Comrcio da Amrica do Norte (NAFTA) foi institudo em 1988 e entrou em vigor em 1994, reunindo o Canad, os Estados Unidos e o Mxico,

    formando um grande mercado e um poderoso sistema produtivo, com influncias em todo o mundo[3].

    De acordo com Castells (2007), j existia uma forte relao entre esses pases, de modo que o NAFTA surgiu apenas para institucionaliz-la. Atentando para astransformaes na dinmica econmica global no final do sculo XX, Castells (2007, p. 154) observa que na verdade h uma economia norte-americana, composta por EUA,

    Canad e Mxico, e no o surgimento de um bloco.

    Assim, para o autor, h de fato uma intensificao das relaes que j existiam entre esses pases, inclusive com uma dependncia histrica do Canad e do Mxico, em relao

    aos Estados unidos. Assim, o bloco tambm apresenta fortes desigualdades entre os pases do prprio bloco, haja vista o papel do Mxico perante os demais membros.

    A configurao da APEC teve incio em fins dos anos 1980 e incio dos anos 1990, prevendo-se a instalao gradual e a configurao de uma rea de livre-comrcio

    abrangendo pases asiticos, americanos e da Oceania, banhados pelo Pacfico. O principal objetivo do bloco prev o fortalecimento econmico da bacia do Pacfico e da

    costa oeste do continente americano, tendo em vista que os Estados Unidos e o Canad so pases banhados tanto pelo Atlntico quanto pelo Pacfico. De alguma forma aAPEC tambm inclui outros blocos, a exemplo do NAFTA, e alguns blocos menores, como o Pacto Andino e ASEAN. O bloco composto por 21 pases membros, dos

    quais se destacam vrias potncias econmicas mundiais, a exemplo dos Estados Unidos, China, Japo, Canad, Coria do Sul, etc.

    Entre os blocos menores destacam-se: o Pacto Andino (CAN - Comunidade Andina), CARICOM (Mercado Comum do Caribe), ALADI (Associao Latino-Americana de

    Integrao), MCCA (Mercado Comum Centro-Americano), SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da frica Austral), COMESA (Mercado Comum dos Pases doLeste e Sul da frica), ANZCERTA (Acordo Comercial sobre Relaes Econmicas entre Austrlia e Nova Zelndia).

    importante ressaltar que todos os blocos econmicos so marcados por um contexto de relaes desiguais internas, sejam elas econmicas, polticas ou sociais, bem como

    dentro dos pases-membros. Essa mesma situao marca as relaes entre os blocos, sobressaindo blocos hegemnicos, em detrimento de blocos frgeis, econmica epoliticamente. De modo geral, os blocos de maior representatividade poltica e econmica no cenrio geopoltico mundial so a Unio Europeia e o NAFTA, com maior

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    representatividade de alguns pases europeus (Alemanha e Inglaterra, por exemplo) e os Estados Unidos.

    J o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), institudo em 1991 atravs do Tratado de Assuno, foi criado com o objetivo de viabilizar uma maior insero das economias

    sul-americanas no contexto da economia global. Este bloco visa desenvolver o potencial econmico dos pases membros, aumentando as relaes econmicas dentro do

    prprio grupo de pases.

    Os dados mostram que nos ltimos anos tem aumentado o ritmo de importaes e exportaes entre os pases do MERCOSUL, o que de certo modo justifica uma diminuio

    da dependncia quanto s importaes desses pases perante os Estados Unidos, os quais respondiam por mais da metade das importaes destes. Desse modo, este bloco

    comercial cresce concomitante a ampliao do seu mercado, configurando uma nova escala no processo de produo e de circulao, bem como uma mudana nos fluxos que,

    por sua vez modificam o territrio[4].

    O fato que toda essa articulao no promove a incluso total das regies e de todos os indivduos, mas intensifica as diferenas sociais entre os pases e regies, bem como

    entre as classes sociais a existentes. Ou seja, normalmente os blocos econmicos aumentam as desigualdades e as contradies socioespaciais, dentro e fora dos pases,

    regies, e do prprio bloco. Cria-se geralmente um conjunto de relaes de poder marcado por foras desiguais, no qual sempre haver concesso de benefcios ebeneficiados em detrimento de prejuzos e explorados.

    Ao estudar as Geografias das desigualdades na contemporaneidade, Souza (2006) fundamentada em Olivier Dollfus (1991) aponta que o sistema mundial no pode ser

    equilibrado, logo, desigual e contraditrio. A nova ordem mundial circunscrita com o fim da Guerra Fria, associada hegemonia econmica norte-americana, europeia e

    japonesa impe uma nova dinmica no sistema-mundo. Para a autora a crise do modelo do Estado, a limitada eficincia das grandes instncias de regulao mundial,ampliao das desigualdades, em todos os nveis e em todos os lugares, a velocidade da informao subvertendo os mercados mundiais, onde as fronteiras se abrem aos

    produtos e se fecham aos homens impossibilitam um melhor funcionamento do territrio, haja vista o estabelecimento do caos em toda parte, ocasionando o rompimento

    entre Sistema Mundo e Sistema Terra o que reflete e impacta diretamente no processo de sobrevivncia dos homens.

    Nesse sentido, os mercados mundiais acabam impondo um contexto tal de desigualdades, marcado essencialmente por fortalecimento e enfraquecimento ao mesmo tempo, isto

    , fortalecimento dos atores que j so hegemnicos, e enfraquecimento, ainda maior, dos atores no-hegemnicos.

    O mercado comum sul-americano (MERCOSUL) constitudo pelo Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela. O bloco ainda dispe de cinco pases associados:

    Bolvia, Chile, Columbia, Peru e Equador. As relaes comerciais deste com o resto do mundo mostram-se bastante desiguais, na inter-relao entre seus membros,evidenciando estreitas relaes entre alguns integrantes do prprio bloco e algumas potncias econmicas mundiais (Quadro1), justamente pelo carter desigual do

    desenvolvimento do Sistema Mundo, intrnseco diviso internacional do trabalho.

    Depreende-se que o maior volume de capital das exportaes do MERCOSUL em 2007, considerando o montante das transaes dos cinco principais pases de destino,

    evidencia a representatividade comercial, sobretudo do Brasil e da Argentina, merecendo destaque o valor transacionado entre estes dois, bem como entre estes e os EstadosUnidos e a China. Os principais itens exportados do Brasil para os Estados Unidos so: petrleo bruto, avies, ferro, lcool, caf, etc. Para a Argentina o Brasil exporta,

    sobretudo veculos com motor exploso, terminais portteis de telefonia celular, minrio de ferro, etc. Para a China o pas exporta produtos como: soja, minrio de ferro,

    petrleo bruto, leo de soja, fumo, avies, etc. Para Alemanha destacam-se: minrio de ferro, caf, soja, automveis com motor exploso, etc.[5]. Torna-se visvel, portanto,

    a importncia e a valorizao da poltica de comoditizao no contexto das principais transaes comerciais no bloco.

    De modo geral, os demais pases apresentam montantes bastante reduzidos no contexto de exportaes do bloco, muito embora, destaca-se ainda a relao da Venezuela com

    os Estados Unidos, a partir da importncia do petrleo no contexto das exportaes entre os dois pases. O Brasil aparece como principal importador de trs pases-membros,

    a saber: Argentina, Paraguai e Uruguai, sobressaindo o montante de capital transacionado com a Argentina.

    No tocante s importaes a situao tambm se mostra bastante complexa, pois h forte dependncia econmica do bloco em relao aos Estados Unidos e a China, embora

    seja notria a dependncia da maioria dos pases-membros do bloco em relao ao Brasil (Quadro 2).

    Depreende-se que a Argentina e o Paraguai importam, sobretudo do Brasil, enquanto o Uruguai e a Venezuela importam mais da Argentina e dos Estados Unidossucessivamente; Quanto ao Brasil, as importaes originam-se sobretudo na China, Argentina, Alemanha e Nigria. Este ltimo exporta principalmente petrleo bruto para o

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    Brasil, o que representa aproximadamente 55% da aquisio brasileira deste produto. J a Nigria importa do Brasil principalmente produtos como acar, lcool, arroz e

    fumo[6]. Dos Estados Unidos o Brasil importa principalmente turborreatores, leo diesel, equipamentos, peas e acessrios para aeronaves, locomotivas diesel-eltricas, trigo,etc.[7].

    A China aparece como uma importante economia de base de exportaes no cenrio econmico mundial e regional, haja vista a influncia econmica do pas no contexto das

    importaes (e exportaes) do MERCOSUL. Todos os pases do bloco mantm relaes expressivas de importaes com a China, sobressaindo o Brasil, a Argentina e a

    Venezuela como principais mercados consumidores de produtos chineses no mbito do MERCOSUL.

    Avaliando as transaes comerciais do MERCOSUL no intervalo de seis anos (2002 a 2008), observa-se que o volume de exportaes e importaes aumentou

    consideravelmente no perodo, destacando-se o saldo comercial da relao Brasil Argentina e Brasil Venezuela (Quadro 3).

    Quadro 3.

    Intercmbios comerciais do mercosul 2002 a 2008 (us$ mil fob)

    Brasil - Argentina 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    EXPORTAES(FOB)

    2.346.508 4.569.767 7.390.967 9.930.152 11.739.592 14.416.946 17.605.621

    IMPORTAES(FOB)

    4.743.785 4.672.610 5.569.811 6.241.110 8.053.263 10.404.246 13.257.926

    SALDOCOMERCIAL

    -2.397.277 - 102.843 1.821.155 3.689.043 3.686.329 4.012.700 4.347.695

    Brasil Paraguai 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    EXPORTAES(FOB)

    559. 625 708.750 873.352 962.720 1.233.639 1.648.191 2.487.561

    IMPORTAES(FOB)

    383.087 474.750 297.825 318.936 295.899 434.120 657.496

    SALDOCOMERCIAL

    176.537 234.000 575.527 643.785 937.740 1.214.071 1.830.065

    Brasil Uruguai 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    EXPORTAES(FOB)

    412.541 405.791 670.582 853.137 1.012.598 1.288.440 1.644.126

    IMPORTAES(FOB)

    484.847 537.868 522.855 493.653 618.225 786.386 1.018.199

    SALDOCOMERCIAL

    -72.305 -132.076 147.726 359.484 394.373 502.054 625.927

    Brasil Venezuela 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    EXPORTAES(FOB)

    798.974 608.229 1.469.802 2.223.705 3.565.424 4.723.940 5.150.188

    IMPORTAES(FOB)

    633.060 275.154 199.083 255.605 591.553 345.925 538.549

    SALDOCOMERCIAL

    165.914 33.307 1.270.718 1.968.100 2.973.871 4.378.015 4.611.639

    Fonte: M Fonte: MRE/DPR/DIC, 2012.

    Vale frisar que o montante avaliado em valor FOB diz respeito comumente s cotaes internacionais de mercadorias. A expresso FOB FreeOnBoard significa Preo

    Livre a Bordo, o que representa o preo auferido cobrindo todas as despesas e riscos do produto at que o mesmo chegue ao pas comprador. Assim, no interstcio 2002-2003 o saldo comercial do intercmbio entre Brasil e Argentina foi negativo, assim como entre o Brasil e o Uruguai, passando a apresentar notrio crescimento nos anos

    subsequentes.

    No incio de 2011, a balana comercial brasileira apresentou um saldo de aproximadamente R$ 300 milhes de reais no contexto comercial do MERCOSUL, merecendo

    destaque a relao comercial entre o Brasil e a Argentina (exportaes e importaes). Sendo que as exportaes brasileiras para a Argentina movimentaram valoressuperiores s importaes. Transaes essas representadas, principalmente pelo comrcio de commodities. J as relaes comerciais do Brasil com o Paraguai e Uruguai

    mostram-se tmidas, representando menos de 20% em relao Argentina, tanto no tocante s exportaes quanto s importaes (Grfico 1).

    Fonte: Sistema Alice, 2012. Adaptado de: Secretaria de Comrcio Exterior SECEX.

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    Os dados evidenciam tambm que um ano depois, isto , entre janeiro de 2011 e janeiro de 2012, as relaes comerciais entre o Brasil e a Argentina se ampliaram,

    aumentando, sobretudo as importaes brasileiras perante aquele pas, ao passo que houve diminuio no volume de capital transacionado entre os demais pases, sobretudo

    nas relaes comerciais com o Uruguai (Grfico 2).

    Fonte: Sistema Alice, 2012. Adaptado de: Secretaria de Comrcio Exterior SECEX.

    Ao avaliar o papel da Argentina nas relaes comerciais do MERCOSUL, verifica-se uma participao semelhante ao desempenho do Brasil, isto , o pas apresenta notrio

    desempenho comercial no mercado sul-americano, sobretudo nas transaes com o Brasil (77% das exportaes e 90% das importaes), enquanto os demais participam deforma incipiente das transaes comerciais do bloco. Juntos os demais pases representam 23% das exportaes e 10% das importaes da Argentina (Grfico 3 e 4).

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    Fonte: Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior, 2012.

    Fonte: Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior, 2012.

    Diante do exposto, depreende-se que a desigualdade comercial no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) evidencia, de certo modo, as disparidades observadas no cenrio

    econmico internacional, realidade presente tambm nos mercados comuns dos demais blocos, embora que em propores diferenciadas, caracterstica essencial da lgica de

    acumulao e de reproduo capitalista. A esse respeito Oliver Dollfus (2002, p. 35) assinala que o poderio mundial se exerce numa concentrao geogrfica dos poderes. O

    controle das vastas extenses territoriais quase j no intervm, da a obsolescncia dos Imprios difceis de gerir, de manejo dispendioso e fontes de conflitos internos.

    Tais desigualdades podem explicar tambm o nvel de desenvolvimento tecnolgico e o processo de internacionalizao das economias do bloco, associado dentre outros

    fatores ao funcionamento do neoliberalismo e ao papel dos Estados nacionais nesses pases, at porque as principais transaes comerciais do bloco apresentam

    necessariamente uma forte dependncia tecnolgica do processo produtivo, em relao ao mundo desenvolvido, dependendo tambm de forte interveno estatal quanto gerao e manuteno da infraestrutura necessria e do financiamento da produo, mesmo que isso implique (e tenha implicado) em endividamento dos Estados nacionais

    perante organismos internacionais, como o Fundo Monetrio Internacional, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, etc.

    Assim, por toda parte as mesmas grandes infraestruturas, plataformas, aeroporturias e porturias, redes rodovirias e ferrovirias, os mesmos grandes hotis e as altas torres

    onde tm sede as grandes empresas; por toda parte os preos dos imveis nos grandes centros urbanos so justificados pelo nmero de negcios das empresas mundiais que ase encontram[8].

    Alm do mais a principal base econmica regional na Amrica do Sul primrio-exportadora, sobressaindo produtos como gros (soja, milho, etc.), carnes, frutas e minrios,

    ao passo que no interior do bloco, as principais transaes comerciais correspondem a veculos com motores exploso, peas e acessrios do setor automobilstico, cuja

    produo, bem como tecnologia utilizada so detidas, normalmente, por empresas multinacionais do setor, sejam elas europeias, americanas ou asiticas. Logo, as remessasdos lucros desse sistema de produo e comrcio destinam-se aos pases de origens de tais agentes econmicos. Por causa disso, nos ltimos trinta anos viu-se uma

    reconfigurao dramtica da geografia da produo e da localizao do poder poltico-econmico[9].

    No caso do Brasil destaca-se ainda a participao do pas no contexto das relaes comerciais dos BRICS, isto , no importante mercado constitudo pelo grupo de algunsdos pases que mais crescem economicamente no mundo, isto , Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul, embora no normatizado territorialmente como um bloco

    econmico.

    Entretanto, esses pases, e de modo particular o Brasil, se apresentam de fato na contemporaneidade como importantes potncias econmicas mundiais sem, contudo, atenuar

    as desigualdades socioespaciais e territoriais historicamente a constitudas e reproduzidas. Alis, nota-se uma realidade socioespacial semelhante entre os citados pases, isto ,assim como no Brasil, os citados pases apresentam fortes desigualdades socioespaciais e territoriais, no obstante o progresso econmico verificado nos ltimos anos.

    Nesse sentido, a presente anlise contrape a tese que prima pelo economicismo, ou seja, que valoriza a capacidade de pensar o desenvolvimento numa perspectiva meramente

    econmica, pautada na elevao dos ndices econmicos, PIB, PNB, supervit primrio, etc.. A esse respeito Dollfus (2002, p. 35) assinala que no interior desse processomatrias-primas e gneros que s intervm em alguns centsimos no PNB so adquiridos no Mundo ao melhor custo e transportados com poucas despesas. O essencial

    assegurar um abastecimento regular mediante estratgias de controle econmico e poltico segundo a diversidade dos lugares de produo.

    Portanto, nesse contexto de primazia pelo crescimento econmico, as foras hegemnicas do modo de produo, mas, sobretudo os Estados nacionais esquecem-se muitas

    vezes das condies sociais e materiais de vida dos indivduos que permanecem margem do progresso econmico, haja vista a defesa justificada dos recordes da balanacomercial, do crescimento do PIB e do PNB nos citados pases, sem que se alterem as liberdades individuais e grupais, e portanto o desenvolvimento humano propriamente

    dito[10].

    Ao analisar o crescimento do PIB de alguns pases e de algumas regies do mundo possvel um melhor entendimento sobre a complexidade da questo ora analisada (Quadro4). Nesse contexto, nota-se que o imperativo do crescimento econmico mostra-se com destaque no mundo subdesenvolvido, especialmente nos pases que recentemente

    passaram a integrar o grupo denominado BRICS (Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul). Nos pases ditos ricos o crescimento verificado no interstcio 1990-2003 no

    passa de 2,5%, com estimativa inferior para o perodo 2003-2030. No entanto, em pases como China e ndia o crescimento mostra-se acelerado e diferenciado no perodo

    1990-2003, com relativa diminuio no perodo subsequente. A Europa Ocidental e os EUA, juntamente com a Austrlia, Canad e Nova Zelndia apresentam taxas de

    crescimento relativamente prximas. O Japo apresenta taxa anual de mudana relativamente baixa no contexto dos pases ricos.

    Quadro 4.

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    Crescimento do PIB: o mundo e as principais regies, 1950-2030

    Nveis em bilhes de dlares (1990)Taxa anual mdia da

    mudana

    Regies /Pases/Mundo 1950 1973 1990 2003 2030 1990-2003 2003-2030

    Europa Ocidental 1.396 4.097 6.033 7.857 12.556 2,05 1,75

    EUA 1.496 3.537 5.803 8.431 16.662 2,91 2,56

    Austrlia, Canad e Nova Zelndia 180 522 862 1.277 2.414 3,07 2,39

    Japo 161 1.243 2.321 2.699 3.488 1,17 0,95

    RICOS 3.193 9.399 15.019 20.264 35.120 2,33 2,06

    Europa Oriental 185 551 663 786 1.269 1,33 1,79

    Rssia 315 872 1.151 914 2.017 -1,76 2,98

    Outros Pases da Antiga URSS 199 641 837 638 1.222 -2,17 2,43

    Amrica Latina 416 1.389 2.240 3.132 6.074 2,61 2,48

    China 245 739 2.124 6.188 22.983 8,56 4,98

    ndia 222 495 1.098 2.267 10.074 5,73 5,68

    Outros Pases da sia 363 1.387 3.099 5.401 14.884 4,36 3,83

    frica 203 550 905 1.322 2.937 2,96 3,00

    RESTO 2.148 6.624 12.117 20.648 61.460 4,19 4,12

    MUNDO 5.341 16.022 27.136 40.913 96.580 3,21 3,23

    Fonte: HARVEY (2011, p. 31).

    importante observar que no mundo subdesenvolvido tal crescimento fortemente marcado por desigualdades socioterritoriais e regionais, isto , segregao social nosprprios pases e numa mesma regio, a exemplo da Amrica Latina e frica. A ttulo de exemplificao, verifica-se que a China e a ndia apresentam significativas taxas de

    crescimento mdio anual, no entanto convivem com srios problemas sociais, como o cerceamento das liberdades individuais e grupais, analfabetismo, baixa remunerao da

    fora de trabalho, precrias condies de trabalho, dficit no sistema de sade, no saneamento bsico, insegurana, etc.

    Diante desse processo, o investimento de capital no setor produtivo feito de forma extremamente seletiva e desigual, concentrado espacialmente, o que interfere decisivamentena diviso territorial do trabalho, gerando regies densas e dinmicas economicamente, ao lado de regies e zonas perifricas, opacas, habitadas por populaes pobres, muitas

    vezes indigentes; exemplo disso o que ocorre nas zonas do agronegcio brasileiro, onde convive lado-a-lago as grandes multinacionais, produtoras de commodities para a

    exportao, avizinhadas por grupos humanos pauperizados e indigentes.

    Assim, conforme explicitado, a Amrica Latina apresenta importante potencial econmico, a partir da capacidade produtiva e de consumo de pases como o Brasil e a

    Argentina, no entanto, nveis elevados de indigncia e de pobreza mantm-se nesses mesmos pases, assim como nos demais. A segregao social chega a nveis extremos, isto

    , empresas e agentes capitalistas regionais constituem o seleto grupo dos mais ricos do mundo, ao passo que boa parte da populao vive abaixo da linha de pobreza,

    mantendo-se, sobretudo analfabeta, mal alimentada e desassistida socialmente. S no Brasil, o Estado reconhece e estima que aproximadamente 30 milhes de pessoas vivam

    nessas condies.

    Sem embargo, o pas deixou de ser essencialmente agrrio-exportador at meados do sculo XX, para se tornar a sexta economia do mundo no incio do sculo XXI, o que

    tem implicado necessariamente na produo e reproduo simultnea da riqueza e da pobreza. Ao estudar as desigualdades socioespaciais no Brasil, Souza (2006, p. 26)

    afirma que a produo da riqueza paradoxalmente, se reverte a cada dia em um cruel, persistente e agravante sistema de pobreza, com todas as suas consequncias

    desumanas: a fome, o analfabetismo, as epidemias, a violncia, que afeta toda populao brasileira, mas sobretudo os mais pobres. E isso ocorre em todos os estados, cidades

    e regies do pas.

    Por causa das desigualdades socioespaciais e regionais, e relacionado ao processo de integrao econmica, no contexto do MERCOSUL o Brasil e a Argentina se constituem

    em pases de forte convergncia de imigrantes. Por exemplo, s em So Paulo (maior metrpole regional) estima-se que vivem cerca de 100 mil imigrantes bolivianos[11], boa

    parte destes submetida a condies de trabalho anlogo ao trabalho escravo. Mas, somam-se a esses, milhares de imigrantes peruanos, colombianos, venezuelanos,

    equatorianos, etc., todos praticamente submetidos a uma mesma lgica de expropriao e explorao do trabalho, bem como vivendo nas mesmas condies de vida, isto ,

    sujeitos a precrias condies alimentares, de moradia, de sade, de educao e segurana.

    Consideraes finais

    Algumas questes emergiram no decorrer dessa anlise sobre a poltica de integrao econmica regional no mundo subdesenvolvido, sobretudo na Amrica Latina e

    particularmente a partir da poltica do MERCOSUL. O texto buscou apresentar aspectos relevantes da poltica de integrao econmica regionalizada mundialmente, em curso

    desde o final do sculo XX, mostrando que apesar do discurso que eleva a perspectiva de integrao entre pases, produz-se e reforam-se as desigualdades inter e

    intraregionais, bem como nos territrios nacionais dos pases membros dos mercados comuns.

    Trata-se de uma capacidade de integrao, sobretudo econmica, tendo em vista a poltica de exportaes e importaes de mercadorias, insumos e aquisio de tecnologias,

    a qual vem sendo adotada pelo bloco. Nem de perto tal poltica permite a integrao de culturas, por exemplo. A relao de integrao e interao estabelecida no representa

    simetria poltica ou econmica, basta avaliar o desempenho do Brasil e da Argentina no contexto do MERCOSUL face aos demais pases membros, Uruguai, Paraguai e

    Venezuela.

    Negligenciam-se problemas como os conflitos territoriais, historicamente presentes nos pases integrados, assim como normalmente desconsidera-se ou pouco se atenta para

    a complexa questo das fronteiras nacionais, para os recursos e os interesses em jogo, questes ambientais, questes tnicas, culturais, violncia, trfico de pessoas, de

    mercadorias e de drogas, etc., a exemplo dos sucessivos e frequentes eventos que ocorrem na fronteira do Brasil com os pases limtrofes, problemas esses relacionados a

    essas e outras questes socioambientais.

    Assim, entende-se que muitas vezes os blocos econmicos (e os mercados comuns) legitimam e/ou aumentam as desigualdades e as contradies socioespaciais nos pases e

    regies. Isso ocorre principalmente devido seletividade espacial do capital que prima pela concentrao de investimentos, tcnica e informao nos territrios, reforada pelos

    avanos da cincia contempornea, tambm desigualmente constitudos e distribudos.

    Portanto, no MERCOSUL destaca-se a posio do Brasil e da Argentina no cenrio regional, considerando os nveis diferenciados de industrializao e desenvolvimento que

    esses pases apresentam apesar das suas prprias desigualdades socioterritoriais. No caso do Brasil, o pas deixa de ser essencialmente agrrio-exportador em meados do

    sculo XX, com sua populao vivendo, sobretudo no campo, e passa a ser a sexta maior economia do mundo no incio do sculo XXI, com sua populao vivendo,

    sobretudo no espao urbano, sem, contudo alterar a complexa estrutura social marcada por uma elevada concentrao de riqueza por parte de uma minoria. Reproduz-se

    ento uma dramtica situao de gerao e produo de riqueza e pobreza simultaneamente, tanto no campo quanto na cidade.

    Internamente, o pas tambm apresenta fortes desigualdades regionais, a exemplo do que se observa no contexto das exportaes para o MERCOSUL, pois sobressaem as

    relaes do Centro-Sul do pas, considerado mais industrializado e mais desenvolvido, em detrimento das regies Norte e Nordeste, consideradas as regies mais pobres do

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    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-62.htm 9/10

    pas. Diferenciam-se tambm os nveis regionais de pobreza e de indigncia, considerando que essas ltimas regies so as reas que apresentam maior gravidade e

    complexidade quanto a tais questes. Ademais, no contexto do MERCOSUL, os outros pases-membros apresentam desempenhos e papis incipientes, se comparados ao

    Brasil e a Argentina, evidenciando dependncia, sobretudo econmica e tecnolgica, embora marcados por especificidades e diferenciaes.

    Notas

    [1] Castells, 2007, p. 143.

    [2] Arroyo, 2006.

    [3] Ianni, 1996, p. 132.

    [4] Arroyo, 2006.

    [5] Portal Global 21 Guia do Exportador, 2012.

    [6] Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento do Brasil, 2012.

    [7] Portal Global 21 Guia do Exportador, 2012.

    [8] Dollfus, 2002, p. 35.

    [9] Harvey, 2011, p. 34.

    [10] SEN, 2001.

    [11] Cacciamali & Azevedo, 2005.

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    Copyright Francisco Fransualdo de Azevedo, 2012. Copyright Scripta Nova, 2012.

    Ficha bibliogrfica:

    AZEVEDO, Francisco Fransualdo de. A Amrica Latina face poltica de integrao econmica regional no mundo subdesenvolvido. Scripta Nova. Revista Electrnica de

    Geografa y Ciencias Sociales. [En lnea]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de noviembre de 2012, vol. XVI, n 418 (62). . [ISSN: 1138-9788].

    ndice del n 418

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