A americanidade como conceito, ou a América no moderno sistema mundial

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A americanidade como conceito, ou a América no moderno sistema mundial Disciplina - Relações Internacionais: uma introdução crítica Professora - Luciana Ballestrin Mestrando – Rafael Cesar Ilha Pinto

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A americanidade como conceito, ou a América no moderno

sistema mundial

Disciplina - Relações Internacionais: uma introdução crítica

Professora - Luciana Ballestrin

Mestrando – Rafael Cesar Ilha Pinto

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Wallerstein começou a se interessar por temas mundiais na adolescência em Nova York, e estava particularmente interessado no movimento anticolonial na Índia da época. Ele frequentou a Columbia University, onde recebeu um BA em 1951, um M.A. em 1954 e o Ph.D. em 1959. Posteriormente ensinou até 1971, quando se tornou professor de sociologia na Universidade McGill. A partir de 1976, atuou como professor de destaque em sociologia na Universidade de Binghamton até sua aposentadoria em 1999, e como chefe do Centro Fernand Braudel para o Estudo das Economias, Sistemas Históricos e Civilizações até 2005. Wallerstein ocupou diversos cargos como professor visitante em universidades em todo o mundo, foi premiado com vários títulos honoríficos e de forma intermitente serviu como Directeur d'études associé na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, e foi presidente da Associação Internacional de Sociologia, entre 1994 e 1998. Durante os anos 1990, ele presidiu a Comissão Gulbenkian sobre a Reestruturação das Ciências Sociais.

Ele escreve em três domínios de análise de sistemas-mundo: o desenvolvimento histórico do moderno sistema-mundo, a crise contemporânea da economia-mundo capitalista, as estruturas de conhecimento. Livros em cada um desses domínios incluem, respectivamente, The Modern World-System (4 vols.); Utopística capaz, ou escolhas históricas para o século XXI, e Unthinking Ciências Sociais: Os Limites do século XIX Paradigmas.

Immanuel Maurice WallersteinSociólogo estadunidense, mais conhecido pela sua contribuição fundadora para a

teoria do sistema-mundo.

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Anibal Quijano (nascido em 1928, Yungay) é um sociólogo e pensador humanista peruano, conhecido por ter desenvolvido o conceito de "colonialidade do poder". Seu trabalho tem sido influente nas áreas de estudos pós-coloniais e teoria crítica. Ele freqüentou a Universidade Nacional de San Marcos, no Peru, onde obteve o grau de Ph.D. em 1964. Até 1995, ele era professor da Faculdade de Ciências Sociais de San Marcos. Atualmente é professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Binghamton, Nova York.

Dr. Quijano é um intelectual distinto em Ciências Sociais, ocupou vários cargos como professor visitante em universidades em todo o mundo: Maison des Sciences de l'Homme (Paris), Universidade de São Paulo, Universidade de Porto Rico, Universidade de Hannover, Universidade Livre de Berlim, Universidade Nacional do Equador, Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Universidad do Chile, Faculdade Latino-americana de Economia (ESCOLATINA), e George Washington University. Ele tem escrito numerosos livros e publicações sobre o colonialismo, política, democracia, globalização e outras questões sociais.

Anibal QuijanoSociólogo conhecido por desenvolver o conceito de Colonialidade do Poder

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Introdução:

Os autores apresentam a América como elemento essencial fundante da economia-mundo capitalista. Para tanto utilizam as análises de Wallerstein em “O Moderno Sistema Mundial de 1976”, onde para ele para o estabelecimento da economia-mundo capitalista foram essenciais três fatores: a expansão geográfica do mundo de então; o desenvolvimento de variados métodos de controle do trabalho para diferentes produtos e zonas da economia-mundo; e a criação de instituições de Estado relativamente fortes no que posteriormente se converteram nos Estados centrais da economia-mundo capitalista.

Na América houve uma destruição das sociedades e instituições existentes e uma reconstrução integral, a criação do “novo”, da “novidade”, o que depois se expandiu a todo o sistema-mundo. Essa “novidade” era constituída de quatro elementos:

• Colonialidade: hierarquia de Estados, metrópoles, impérios. Mesmo com o fim das colônias a colonialidade se mantêm como hierarquias sociais e culturais, entre o europeu e o não europeu. Elemento fundamental do sistema interestatal .

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• Etnicidade: (branco, negro, mestiço, índios) conjunto de limites “comunais” impostos por outros, ou por si mesmo como forma de definir a identidade e a relação com o Estado; Inexistente antes do moderno sistema mundial; Parte do que criou a “americanidade” e que posteriormente se converteu em matriz cultural de todo o sistema mundial; Divisão que não tem sentido histórica e geneticamente; Consequência da colonialidade; Justificativa para a divisão e controle do trabalho; Reforçado desde baixo pela socialização nas famílias e por um consciente e sistemático racismo.

• Racismo: Presente dentro da ideia de etnicidade, entretanto exercido e teorizado no século XIX como um constructo para reforçar a hierarquia econômica abalada pelas transformações políticas e culturais da “soberania popular” após 1789; Diferenças entre os racismos nas américas; Nos Estados Unidos em ascensão pós 1945 o racismo se refugia em seu aparente oposto, o universalismo, e o conceito derivado deste, a meritocracia.

• Conceito de novidade por si só: A deificação e reificação da novidade como uma derivação da ciência que é derivada ela própria da modernidade; A América como novidade, como mais moderno, o mais avançado; Posteriormente o desenvolvimento da América do Norte como prova (um argumento circular) de desenvolvimento e que desviava o foco do subdesenvolvimento do desenvolvimento.

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Parte II

As américas, separadas no período colonial, formaram a partir do século XIX uma parte específica do sistema-mundo hegemonizada pelos Estados Unidos.

O que levou as Américas a tão distintos caminhos? Para os autores a resposta está nas diferenças de constituição do poder e seus processos em cada momento e em cada contexto histórico. No que concerne a América ibérica a marca é a dominação dos aborígenes pelos europeus em sociedades de aborígenes e europeus, na América sob controle político da coroa britânica se formou uma sociedades-de-europeus-fora-da-europa.

Os britânicos chamavam as sociedades aborígenes de nações e faziam aliados e adversários; Os países ibéricos discutiam se indígenas possuíam alma, ao mesmo tempo em que destruíam civilizações nativas altamente desenvolvidas.

Em primeiro lugar tem de se ter claro que com a conquista, colonização e catequização das américas no século XV, começa a história do mercado mundial, do capitalismo e da modernidade. Quando a coroa britânica ocupa a américa do norte esse processo já esta em marcha e a formas de colonização de cada metrópole se distinguem. Para entender essa distinção é preciso contextualizar:

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Na Espanha a coroa recentemente havia reconquistado o seu território e iniciado a formação do Estado centralizado, destruindo também a autonomia, a democracia e a produção dos burgos subjugando-os a nobreza a ao regime de senhorio, entancando o trânsito do capital mercantil e industrial. Ao mesmo tempo a coroa busca expandir seu poder na Europa por motivações dinásticas de prestígio e mercantilistas. A contrarreforma e a Inquisição; A consequência disso para as colônias é a exportação de um modelo de controle senhorial, com um padrão econômico feudal e contrariamente um poder político centralizado e burocratizado. Com a transição para a dinastia Bourbon as consequências para as colônias foram ainda mais drásticas, favorecendo o mercantilismo e impedindo o desenvolvimento industrial.

Em contraste, no início da colonização britânica no início do século XVII, na Inglaterra já se processam as principais mudanças e tendências da transição capitalista politica e econômica. Nas colônias, primeiro se desenvolve o mercado interno e não o contrário, o processo de produção é combinado com a metrópole, o Estado regula e dita as normas mas não é o proprietário, a igreja não domina nem impede o processo de modernização.

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Nesse contexto os processo de independência tem lógicas e implicações distintas:No contexto ibérico só há um processo de independência quando os senhores que dominam as colônias decidem emanciparem-se no contexto liberal do século XIX. Há uma descentralidade política por conta dos diferentes interesses.

Na América britânica as colônias desde o início se organizam como os Estados Unidos, com um Estado forte, entretanto provido de uma sociedade civil e instituições capazes de regular suas funções. Combina a necessidade de desenvolvimento capitalista nacional e o debate político balizado pela nova lógica da modernidade/racionalidade.

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A hegemonia americana e o “Destino Manifesto” se consolidaram segundo os autores a partir de quatro fatores: a expansão territorial violenta; a imposição de um quase protetorado sobre a América Central, Caribe e Panamá; a imposição de uma hegemonia econômica e política a toda a América Latina a partir do fim da 1ª Guerra; a partir da 2ª Guerra , a imposição de sua hegemonia a todo o mundo, conduzindo-o a uma ordem global de poder. Todo este processo apoiado pelo rápido desenvolvimento capitalista estadunidense e a associação hegemônica com a Inglaterra após a 1ª Guerra, frente a América Latina e Europa e posteriormente o apoio britânico à hegemonia estadunidense.

No mesmo período a América Latina se “balcaniza”, se desagrega em guerras de fronteira, o poder se organiza em bases senhoriais, o desenvolvimento do capital se estanca, as classes dominantes introjetam a dualidade europeu/não-europeu como traço cultural. Isso tudo manteve a AL subordinada primeiro ao imperialismo europeu e posteriormente ao estadunidense, deixando várias questões nacionais, indentitárias e democráticas em aberto.

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Parte III (Conlusão)

A Américas adentram o século XXI com quase as mesmas desigualdades do século XIX, entretanto como partes de uma mesma ordem mundial de supremacia estadunidense e com a AL subordinada. Na visão dos autores para uma perspectiva americana do futuro certos processos precisam ser realçados: uma tendência de maior articulação entre as Américas, incluído o crescente fluxo migratório; maior articulação entre a América Latina; o desenvolvimento da descolonização da produção cultural, do imaginário e do conhecimento.

Para os autores o processo de americanização necessita de um amadurecimento e reoriginalização, ou uma “americanização das américas”, fruto da crise do modelo europeu. Segundo os autores é necessário unir a utopia estadunidense de igualdade social e liberdade individual, de uma sociedade que controla e regula o Estado, com a utopia latino-americana e indígena de reciprocidade, solidariedade social e democracia direta. Assim como a especifica utopia americana: a imigração de povos e culturas entre as américas e sua gradual integração em único marco de poder.

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FIM