A anti notícia o papel da imprensa em situações de conflito

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VIII COlóquio Técnico-Cientifíco do UniFOA 269 unifoa.edu.br/ editorafoa A anti-notícia: o papel da imprensa em situações de conflito MONTEIRO, Talissa de Angilis UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda Introdução: A guerra na Síria, iniciada em 2011 durante a Primavera Árabe, já está em seu terceiro ano e não mostra sinais de resolução. Definida pela ONU como uma das maiores crises humanitárias do mundo, já deixou 190 mil mortos e cerca de dois milhões e quinhentos refugiados, segundo o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos (ACNUDH). Suas consequências, entretanto, ultrapassam as fronteiras do país, envolvendo diversos atores e suas políticas externas. Um dos agravantes é que potências mundiais como Rússia e Estados Unidos assumem posturas diferentes em relação ao conflito. No entanto, a guerra não acontece apenas no campo de batalha, mas também no da informação. Nesse contexto, a mídia se mostra com uma importante ferramenta na manutenção da opinião pública, ajudando a definir os rumos da crise. A questão deste estudo, que tem no caso da guerra síria seu leit- motiv, é a objetividade na informação jornalística. Tomando como pressuposto básico a discussão no âmbito das Ciências Sociais, também o jornalismo está sujeito às controvérsias em torno da isenção nas notícias. Nas Ciências Sociais, a objetividade é condição inerente a todo processo de conhecimento. O observador “deve por de lado, sistematicamente, todas as prenoções antes de começar a estudar a realidade. Estas prenoções seriam viseiras que o impediriam de ver o que realmente estaria se passando”. No entanto, autores como Max Weber e Emile Durkheim, reconhecem a

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A anti-notícia: o papel da imprensa em situações de conflito

MONTEIRO, Talissa de Angilis

UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda

Introdução:

A guerra na Síria, iniciada em 2011 durante a Primavera Árabe, já está em seu

terceiro ano e não mostra sinais de resolução. Definida pela ONU como uma das

maiores crises humanitárias do mundo, já deixou 190 mil mortos e cerca de dois

milhões e quinhentos refugiados, segundo o Alto Comissariado da ONU para

Direitos Humanos (ACNUDH). Suas consequências, entretanto, ultrapassam as

fronteiras do país, envolvendo diversos atores e suas políticas externas. Um dos

agravantes é que potências mundiais como Rússia e Estados Unidos assumem

posturas diferentes em relação ao conflito. No entanto, a guerra não acontece

apenas no campo de batalha, mas também no da informação. Nesse contexto, a

mídia se mostra com uma importante ferramenta na manutenção da opinião pública,

ajudando a definir os rumos da crise.

A questão deste estudo, que tem no caso da guerra síria seu leit-motiv, é a

objetividade na informação jornalística. Tomando como pressuposto básico a

discussão no âmbito das Ciências Sociais, também o jornalismo está sujeito às

controvérsias em torno da isenção nas notícias. Nas Ciências Sociais, a objetividade

é condição inerente a todo processo de conhecimento. O observador “deve por de

lado, sistematicamente, todas as prenoções antes de começar a estudar a realidade.

Estas prenoções seriam viseiras que o impediriam de ver o que realmente estaria se

passando”. No entanto, autores como Max Weber e Emile Durkheim, reconhecem a

impossibilidade prática desta postura. Assim parece ser, também, com a atividade

do repórter. Porém, mesmo sua ausência, em sociedades democráticas, pode

contribuir para a coexistência de amplo espectro de posições políticas e ideológicas,

além de permanente debate entre contrários.

Contudo, mesmo em democracias, nas situações de conflito, o nível de diversidade

reduz-se sensivelmente. A experiência tem demonstrado que a imprensa está,

quase sempre, mais comprometida com as posições adotadas por seus governos

nacionais do que com os fatos em si. Os exemplos são vários. Em seu livro “A

Próxima Vítima”, Phillip Knightley relata o caso da Primeira Guerra Mundial, onde os

correspondentes “escreviam jovialmente a respeito da vida nas trincheiras,

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mantinham um silêncio deliberado a respeito da carnificina e se deixavam absorver

pela máquina da propaganda”.

Dessa forma, entendemos ser necessário investigar a relações da imprensa com as

políticas de governo em situações de conflito e optamos pelo caso da guerra na

Síria, onde há profundas diferenças de abordagem dos fatos noticiados.

Objetivos:

Avaliar se, em situações de conflito, há uma interferência dos governos nacionais na

atividade formadora de opinião exercida pela imprensa. E se esta seria favorecida

pelos sentimentos nacionalistas vigentes entre os diferentes segmentos da

sociedade.

Metodologia:

Para desenvolver a pesquisa, a opção metodológica adotada é o estudo de caso: a

guerra civil na Síria. A fim de provar a hipótese, coletamos, durante o mês de julho

(2014), dados para a pesquisa. Primeiro, selecionamos os países mais envolvidos

na guerra da Síria. Devido aos mais variados motivos, cada um dos governos destes

países têm tido papel importante no desenrolar do conflito. São eles: Irã, Turquia,

Arábia Saudita, Rússia, Inglaterra e Estados Unidos.

Em seguida, para mostrar como a imprensa atua em situações de crises

internacionais, como a guerra, escolhemos um veículo de cada um dos países

citados. São eles Iran News, Anadou Agency, Arab News, Ria Novasti, BBC e New

York Times. A partir dessa seleção, acompanhamos os veículos, durante um mês,

coletando matérias relacionadas ao conflito. Fossem elas sobre as batalhas militares

ou sobre decisões internacionais.

Agora, estamos em fase de análise dos dados coletados, a fim de investigar como

atuam os veículos de cada país, e se estão alinhados com as políticas externas de

seus governos.

Resultados:

Os resultados ainda são preliminares e por estarmos em fase de análise dos dados

coletados, podemos mostrar apenas o resultado da coleta. Ao todo, foram coletadas

72 matérias de seis veículos diferentes, um de cada país escolhido na metodologia.

Todas as notícias são relacionadas a acontecimentos no campo de batalha ou

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diplomático. Publicações maiores como New York Times apresentam

muito mais conteúdo do que as menores como o Irã News, apesar da

localização.

Conclusões:

A pesquisa ainda não está concluída, porém, com a análise de dados em

andamento podemos perceber que, em face de situações como a guerra, a

imprensa de países envolvidos no conflito mantém uma homogeneidade no

seu discurso. Nessas publicações a diversidade de opiniões reduz-se

sensivelmente, além de parecer se alinharem com a posição que seus

próprios governos nacionais assumem. Há também uma expressiva diferença

entre a divulgação de um mesmo fato por imprensas de países que possuem

objetivos opostos.

Referências:

LOWY, Michael. Ideologias e Ciência Social. São Paulo,

Cortez, 1991. KNIGHTLEY, A Próxima Vítima. Rio de Janeiro,

Nova Fronteira, 1978. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto

Alegre, Artmed, 2005, 4ª Ed.

Agradecimentos:

Ao meu orientador, Reginaldo Heller e aos meus amigos sírios Adel

Bakkour e Muaaz Ataya, por me ajudarem a entender melhor esse conflito.

Palavras-Chave: Guerra síria; jornalismo de guerra; Síria; guerra; imprensa.

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