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A ATIVIDADE LÚDICA COMO PROVEDORA DA REFLEXÃO-AÇÃO NA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

NORMA SUMIE ONUKI 1

MELISSA KOCH F. SOUZA NOGUEIRA 2

Resumo

A Educação Ambiental chama atenção para questões comportamentais dos

indivíduos, evidenciando uma tendência acentuada ao consumo e aquisição de bens

materiais por vezes supérfluos, gerando produção em grande escala de objetos

descartáveis. Assim como extração de matéria-prima natural, devastação da floresta

em função de cultivo agrícola e agropecuário, emissão de poluentes no ar, água e

terra. Há, por tanto, uma urgência de ações educacionais que viabilizem a formação

de responsabilidade individual e coletiva na escola, contribuindo e promovendo a

transformação e construção de uma comunidade consciente e responsável pelo

meio em que vive. O presente trabalho visou à sensibilização dos alunos frente aos

problemas ambientais existentes (água, doenças de veiculação hídrica, resíduos

sólidos, lixo e destinação final e a importância da floresta ciliar), através de

atividades lúdicas. As atividades lúdicas são reconhecidas como meio de aliar a

teoria à prática promovendo aquisição de conhecimento através de um ambiente

motivador e prazeroso. A ferramenta utilizada para essa prática foi a gincana

didática ecológica. Acredita-se que estas ações tenham incentivado a revisão de

valores quanto à interação humana com o meio ambiente, estimulando a construção

1Professora de Biologia da Rede Pública de Ponta Grossa – PR. Colégio Estadual Professor Colares. Ensino

Fundamental e Médio.

2 Professora Mestre em Ciências Biológicas – Botânica - DEBIO –UEPG – PR.

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de uma nova dinâmica de convivência, prevalecendo o respeito pelo ambiente,

através do pensamento crítico reflexivo e possibilitando a reflexão ação reflexão dos

problemas sócio ambientais.

Palavras chave: meio ambiente; atividade lúdica; reflexão-ação.

1 Introdução

É possível observar, no atual contexto, as transformações constantes da

sociedade e do comportamento dos indivíduos, nota-se que há uma tendência

comportamental acentuada ao consumo e aquisição de bens materiais por vezes

supérfluos, e tal comportamento é impulsionado pelos artifícios do comércio, como a

publicidade e o marketing. Este fenômeno gera produção em grande escala de

objetos descartáveis, e vai ao encontro dos mecanismos econômicos que

desenvolveram métodos de elevar o consumo, a fim de mover a economia baseada

no sistema capitalista.

Ressalta-se que este contexto exerce interferências negativas ao meio

ambiente, como, extração em grande escala de matéria-prima natural, devastação

da floresta em função de cultivo agrícola e agropecuário, produção exagerada de

embalagens e lixo, emissão de poluentes no ar, água e terra pelas indústrias, bem

como a poluição causada pelos meios de transporte motorizados.

Diante desta realidade é difícil estabelecer limites que nos auxiliem a viver

em harmonia com o meio ambiente. Partindo desta problemática, implementamos o

proposto projeto no Colégio Estadual Professor Colares. Ensino Fundamental e

Médio, Ponta Grossa, Paraná.

Para SATO “Sensibilização Ambiental: Processo de alerta, considerado

como primeiro objetivo para alcançar o pensamento sistêmico da Educação

Ambiental”. (2003, p. 24) Assim, numa tentativa de sensibilizar os alunos a

estabelecer uma relação harmoniosa entre homem e meio, evidenciando os

conteúdos água, doenças de veiculação hídrica, resíduos sólidos e floresta ciliar,

propôs-se a participação dos mesmos em uma Gincana Didática Ecológica.

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A sensibilização do educando deverá ser conseguida por uma relação prazerosa dele com o processo. Assim sendo, destaca-se na EA a importância do aspecto lúdico e criativo das atividades e dos procedimentos para envolver integralmente o educando, tanto em seu lado racional como em seu lado emocional – o que deve ser considerado em um plano de ação. (GUIMARÃES, 1995, p. 46)

A Educação Ambiental, quando trabalhada de maneira inovadora e

dinâmica, através da reflexão ação pode contribuir para mudanças de valores

comportamentais, tão importantes para a formação de uma nova sociedade. A

proposta de uma gincana despertou grande curiosidade e interesse, promovendo a

participação ativa dos integrantes, facilitando uma aprendizagem significativa, de

forma prazerosa, e assim, contribuindo para uma nova perspectiva de meio.

2. Fundamentação Teórica

A Educação Ambiental chama atenção para questões éticas relativas à

extinção e mutação de espécies, alterações climáticas, poluição, escassez de

recursos hídricos, exaustão de recursos naturais úteis, derretimento de geleiras,

devastação de floresta, produção de lixo, degradação da camada de ozônio, que

estão diretamente ligadas ao decurso da vida humana na terra. “A ecologia ganha

uma importância fundamental neste fim de século. Ela tem de estar presente em

qualquer prática educativa de caráter radical, crítico ou libertador.” (FREIRE, 2000,

p.31).

“[...] Jamais alguma civilização teve, em termos planetários, o poder

destruidor que tem a sociedade industrial” (BRUGGER, 1999, p.25). Este período

caótico pode ser chamado de crise ambiental. Há, por tanto, uma urgência de

solução proporcional à rapidez das mudanças em curso, pois a crise chamada

ambiental acontece em decorrência da crise de nossa sociedade. A escola, como

um centro de formação do cidadão, atuante e modificador social, assume o dever de

educar o sujeito de modo que este tenha condições de intervir positivamente em seu

contexto de maneira ampla e efetiva, estando plenamente incluídos neste aspecto

as questões e problemas ambientais.

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LAYRARGUES, menciona que “trata-se de uma crise antrópica, vale dizer,

de uma crise derivada de atividades humanas, quer praticadas de modo de vida

capitalista, quer no modo de vida chamado socialismo”. (2005, p. 44)

Considera ainda que “em todo histórico da recente crise ambiental, a

educação tem sido lembrada como um instrumento capaz de responder

positivamente a essa problemática ao lado de outros meios políticos, econômicos,

legais, éticos, científicos e técnicos”. (LAYRARGUES, 2005, p. 116)

O presente estudo consiste em elaborar uma dinâmica de abordagem para o

tema Educação Ambiental, a partir de atividades lúdicas que resultem em

pensamento crítico reflexivo em benefício da sociedade como um todo assim como o

vigor do ecossistema.

A Educação Ambiental baseia-se no respeito a todas as formas de vida,

afirmando valores e as ações que contribuem para a formação social do homem e a

preservação do meio ambiente. Assim, deve-se priorizar a educação voltada para a

formação de cidadãos ambientalmente conscientes, intervenientes e preocupados

com a defesa e melhoria da qualidade do ambiente. Segundo BRUGGER, “o que

precisamos, urgentemente é de novos valores ético em todos os setores de nossa

vida”. (1999, p. 23)

O que parece significativo evidenciar [...], em construir, tanto entre sociedades e a natureza como entre os diferentes seres humanos, relações que valorizem a vida e que por isso tornam-se humanizadoras, caracterizando essa prática social como politicamente compromissada. Assim quando entendida como processo indissociável de outros processos de sociabilidade, isto é, como prática social, entre outras, a dimensão política da educação evidencia-se. (CARVALHO, 2006, p. 23).

Visualiza-se, neste momento, a necessidade de criação e implantação de

programas de educação ambiental nas escolas, que tendam a aliar os domínios

teóricos aos práticos. Assim, a escola é também responsável por proporcionar ao

aluno a aquisição cognitiva de sentidos e valores relativos à preservação e

recuperação do meio ambiente que levem ao interesse ativo e atitude em proteger e

melhorar o meio ambiente.

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Pela preemente necessidade de se livrar ao âmbito escolar da discussão ser humano/ambiente, não apenas pela inclusão legal dessa temática no currículo escolar, mas pela efervescência do tema na sociedade, como também pela realidade do desajuste do mundo moderno, justifica-se a implantação da educação ambiental na rede escolar (GUIMARÃES, 1995, p. 51).

GUIMARÃES, na citação acima, nomeia o problema de “desajuste do mundo

moderno”. Desajuste pode significar a demasiada extração de recursos naturais em

relação ao que se devolve a natureza, ocupou-se o espaço, modificou-se a medida

de nossas necessidades, no entanto, desajustadamente são realizadas poucas

medidas para equilibrar o meio ambiente.

“Necessita-se de uma mudança fundamental na maneira de pensamento, acerca de nós mesmos, nosso meio, nossa sociedade e nosso futuro; uma mudança básica nos valores e crenças que orientam nosso pensamento e nossas ações; uma mudança que nos permita adquirir uma percepção holística e integral do mundo com uma postura ética, responsável e solidária”. (MEDINA, 1999, p. 18)

É importante que a escola incentive a revisão de valores quanto à interação

humana com o meio ambiente e estimule a construir uma nova dinâmica de

convivência, onde prevaleça à solidariedade e o respeito pelo próximo e pelo

ambiente, pois, quando nos relacionamos com a sociedade e com a natureza,

damos valor a esta interação e de alguma forma passamos a manipular essa

realidade de acordo com nossos interesses. A realidade é modificada quando ela

não se encaixa na escala de valores de cada ser humano.

Ressalta GADOTTI, a “ânsia do ter, do acumular, do usufruir levou à

humanidade a individualidade, ao egoísmo, ao desprezo pelo semelhante”. Resgatar

o ser humano e a sua relação harmoniosa com o ambiente de vida é romper com

“analfabetismo ambiental”. (2000, p.31)

Para SANTOS, a educação é um processo social indispensável à formação

da mentalidade dos cidadãos de uma sociedade, é fundamental para a construção

das estruturas cognitivas – a nível individual e conceitual no nível de produção social

do conhecimento que lastreia o desenvolvimento de sua sociedade, portanto,

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credita-se à educação como um processo contínuo, permanente capaz de

transformar a sociedade. (1992, p. 18)

Considerando os problemas ambientais gerados através de anos e às

necessidades de cuidados na relação homem/meio ambiente, destaca-se a urgência

de ações educacionais que viabilizem a formação de responsabilidade individual e

coletiva na escola, contribuindo e promovendo a transformação e construção de uma

comunidade consciente e responsável pelo meio em que vive.

Contatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade, adaptar a ela. É por isso também que não me parece possível nem aceitável a posição ingênua, ou pior, astutamente neutra [...] ninguém pode estar no mundo com o mundo e com os outros de forma neutra. Não posso estar no mundo de luvas nas mãos constatando apenas. (FREIRE, 2000, p.37).

Os alunos, como sujeitos inseridos na sociedade contemporânea, vivenciam

os problemas sócio ambientais que estão presentes no planeta, e o educador exerce

o importante papel de mediar à construção do conhecimento técnico-científico de

forma a auxiliar o desenvolvimento de habilidades nos educandos, no sentido de

buscarem alternativas de soluções aos problemas ambientais. De acordo com

LAYRARGUES, “o domínio do conhecimento técnico-científico confere ao indivíduo

maior consciência de si mesmo e capacidade de intervir de modo qualificado no

ambiente”. (2005, p. 72)

Na expectativa de transformar positivamente o ambiente em que vivemos,

no que diz respeito a medidas ecológicas, acredita-se na implementação de

estratégias de ensino diversificadas para a superação dos obstáculos. Neste

sentido, busca-se através deste trabalho, explorar as possibilidades de utilização de

atividades lúdicas como método de ensino e sensibilização do aluno frente à

problemática equilíbrio ambiental. As atividades lúdicas são reconhecidas como

meio de aliar a teoria à prática promovendo aquisição de conhecimento ao

educando através de um ambiente motivador e prazeroso, que possibilite a

aprendizagem, além de motivá-lo a participar espontaneamente da aula. “Se não é

novo o tema ecologia, é novo o enfoque e a ênfase com que o tratas” (FREIRE,

2000, p.12).

Cabe aqui um conceito de atividade lúdica, que nos é dado por Maluf:

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Todo o ser humano pode beneficiar-se de atividades lúdicas, tanto pelo aspecto de diversão e prazer, quanto pelo aspecto da aprendizagem. Através das atividades lúdicas desenvolvemos várias capacidades, exploramos e refletimos sobre a realidade, a cultura na qual vivemos, incorporamos e, ao mesmo tempo, questionamos regras e papéis sociais. Podemos dizer que nas atividades lúdicas ultrapassamos a realidade, transformando-a através da imaginação. A incorporação de brincadeiras, jogos e brinquedos na prática pedagógica, podem desenvolver diferentes atividades que contribuem para inúmeras aprendizagens e para a ampliação da rede de significados construtivos tanto para crianças como para os jovens. (MALUF, 2006)

Nesta conjuntura, o recurso lúdico é uma ferramenta eficaz na prática

docente, pois contribui para o desenvolvimento afetivo e social, possibilitando ao

educando construir conceitos e formular ideias. [...] “o desenvolvimento do aspecto

lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora

para uma boa saúde mental, prepara para o estado interior, facilita os processos de

socialização, comunicação e expressão e construção do conhecimento”. (SANTOS,

1997, p. 62).

Os processos de aprendizagem acontecem a partir de incorporações ativas, superação por incorporação, reestruturação e reelaborações sucessivas, de caráter dialético e dinâmico que permitem a elaboração de novas visões e compreensões críticas do mundo, possibilitando a ação transformadora. (MEDINA e SANTOS, 1999, p.37).

Esta temática se adéqua ao conteúdo estruturante: Biodiversidade3, e ao

conteúdo Básico: Dinâmica dos ecossistemas relação com os seres vivos e

interdependência com o ambiente. Abaixo, um trecho das Diretrizes Curriculares que

aborda o tema jogos didáticos e vem ao encontro das ideias tratadas neste estudo.

Como: A educação ambiental na disciplina de Biologia tratada através de jogos

didáticos, especificamente neste caso, atividades lúdicas, em coerência com as leis

educacionais.

3 Os Conteúdos Estruturantes e Conteúdos Básicos são encontrados nas Diretrizes Curriculares

da Disciplina de Biologia.

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[...] os jogos didáticos contribuem para gerar desafios, conforme Moura (1994), o jogo é considerado uma estratégia empregado de conteúdos culturais, a serem veiculados na escola. Ele detém, contudo, com finalidade de desenvolver habilidade de resolução de problemas, o que representa a oportunidade de traçar planos de ação para atingir determinados objetivos. Quando o trabalho envolve educação ambiental, em concordância com a Lei n. 9.795/99 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, esse deverá ser uma prática educativa integrada, continua permanente no desenvolvimento dos conteúdos específicos. Portanto é necessário que o professor contextualize esta abordagem em relação ao conteúdo estruturante, de tal forma que os conteúdos específicos sobre as questões ambientais não sejam trabalhados isoladamente da disciplina de biologia. (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ, 2008, p.67).

O Tema do Projeto de Intervenção Pedagógica foi trabalhado conforme as

Diretrizes Curriculares para Ensino Médio, e como recurso didático utilizamos a

atividade lúdica, especificamente a Gincana. O trabalho aconteceu em duas tardes

por semana, durante o período de um mês em contra turno ao período de estudo

dos alunos participantes. É possível que enquanto participamos dessa espécie de

atividades, desenvolvemos potencialidades como o prazer, a criatividade, a

interação e a cooperação múltipla. Vislumbrando “possibilitar o exercício de uma

vivência, que permite reflexões e aprendizados mais profundos e elaborados.”

(MILITÃO & ROSE, 1999). Segundo estes autores a definição de Gincana:

É uma competição, dinâmica, saudável, entre pessoas de interesses comuns, que visa da simples recreação, a viabilização da aprendizagem e reflexão. Fazer com que todos os participantes interajam, embora alguns não se envolvam e prefiram ficar no anonimato. [...] Permite reencontrar sua liberdade, através não só das respostas, mas da procura de formas novas para os desafios da vida, liberando sua espontaneidade criativa. (MILITÃO & ROSE, 1999, p. 24).

É Possível dizer que, quando o aprendizado acontece por meio de jogos e

atividades lúdicas, sucede o desenvolvimento efetivo do sujeito, quando este

participa ativamente do processo, seja discutindo hipóteses, ou regras, seja

propondo soluções a fim de elucidar o problema. É importante que o professor traga

para o contexto escolar este desafio ao coletivo, e, que ao decorrer das atividades

os participantes se sintam confortáveis ao expressar e expor suas opiniões.

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Os jogos propiciam a simulação de situações-problema que exigem soluções imediatas. Isso estimula o planejamento de ações e possibilita a construção de uma atitude positiva diante dos erros, uma vez que as situações sucedem-se rapidamente e podem ser corrigidas de forma natural, no decorrer da ação, sem deixar marcas negativas. As atividades de jogos permitem ao professor avaliar quatro aspectos: a facilidade para entender o processo do jogo; a possibilidade de construir uma estratégia vencedora: a capacidade de comunicar o procedimento seguido e a maneira de atuar, e a capacidade de comparar com as previsões ou hipóteses. (ROCHA e SANTOS, 2009).

Buscou-se, através deste projeto, atenção especial para o tema “Educação

Ambiental”. O tema recebeu um cuidado distinto, através de metodologia específica,

com ferramentas alternativas, de forma crítica, inovadora, trazendo a reflexão ação

reflexão dos problemas sócio- ambientais. Acredita-se que deste modo possa

contribuir para as mudanças de valores comportamentais e construção de uma nova

relação homem/natureza na sociedade contemporânea. “[...] a prática educativa será

tão mais eficaz quanto, possibilitando aos educandos o acesso a conhecimentos

fundamentais ao campo em que se formam, desafiando-os a construir uma

compreensão crítica de sua presença no mundo” (FREIRE, 2000, p.92).

Esta inquietação leva a compreensão das observações de DIAS, onde a

escola por ser catalisadora de uma educação para a cidadania consciente pode e

deve ser o agente otimizador de novos processos educativos, que conduzam as

pessoas por caminhos onde se vislumbre a possibilidade de mudança e melhoria do

seu ambiente total e da qualidade da sua experiência humana. (1998, p.113)

ZERBINI visualiza a possibilidade de um projeto que a autora chama de

sustentabilidade na pós-modernidade, onde se estabelece, em um contexto de

consumo exagerado, um eixo ou método que ela chama de “Enxergar, Inquietar-se e

Intervir”. Onde o resultado esperado é “uma consciência política emancipada e

comprometida com a vida”. (2006, p.54-55)

3. Metodologia

O presente trabalho teve por finalidade sensibilizar os alunos frente aos

problemas ambientais existentes (água, doenças de veiculação hídrica, resíduos

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sólidos, lixo e destinação final e a importância da floresta ciliar), através de uma

gincana, construindo o conhecimento sobre a dimensão sócio ambiental,

possibilitando ao aluno a participação em pesquisas, análise, reflexão e debate.

Iniciamos com uma reunião no Colégio Estadual Professor Colares, Município de

Ponta Grossa, Paraná, no período de julho de 2011, com a direção, professores,

equipe pedagógica e funcionários para apresentação do projeto A Atividade Lúdica

como Provedora da Reflexão-Ação na Educação Ambiental, cronograma de

desenvolvimento e objetivos. O material didático proposto para a implementação do

projeto foi a Unidade Didática, realizada no período de fevereiro a junho de 2011,

com sugestões de atividades lúdicas para os professores. O GTR (Grupo de Estudo

em Rede, no site www.e-escola-pde.pr.gov.br, online, pela plataforma e-moodle)

desenvolveu-se no período de outubro a dezembro de 2011, com a participação de

quinze professores da rede estadual de ensino que desenvolveram atividades e

análise do Projeto de Intervenção Pedagógica, Unidade Didática e da

Implementação do Projeto de Intervenção na Escola.

A implementação do projeto contou com a presença de alunos do 3º ano do

Ensino Médio, turno matutino. Inicialmente o número máximo de alunos inscritos na

gincana era de aproximadamente trinta, mas por ser uma atividade realizada em

contra turno e por haver dispêndios em transporte, apenas doze alunos realizaram a

inscrição. Ao decorrer da implementação alguns alunos começaram a trabalhar no

horário da intervenção e ao final restaram apenas seis alunos, ficando as equipe

com apenas três componentes. Mas este pequeno índice de alunos propiciou

condições potenciais de integração entre as duas equipes realizando todas as

atividades previstas e consolidando os objetivos propostos em “Regras Gerais da

Gincana Didática Ecológica”.

A incorporação prática de valores éticos ambientais exige que sejam exercitados, no próprio desenvolvimento do trabalho de capacitação: cooperação, solidariedade, responsabilidade consigo mesmo e com os outros, compromisso de uma construção coletiva de uma nova racionalidade ambiental, alternativas de desenvolvimento sustentável com justiça social, entre as pessoas e os grupos e o respeito pelas suas opções.

(MEDINA, 1999, p. 71)

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As ações ocorreram nas segundas e quartas-feiras, contando com duas

horas/aula. Nas primeiras horas foram abordados os temas teóricos com reflexão,

permitindo um exercício prático de consensos e discussões dos conceitos da

Educação Ambiental. Para viabilizar essas discussões, a utilização da internet atuou

como recurso facilitador e motivador da aprendizagem.

TELLES ao asseverar que “quando criticamos, fazemos julgamentos,

analisamos e fazemos avaliações”, salienta a importância do conhecimento para

uma crítica de real valor. (2002, p. 50)

Posteriormente realizou-se a Gincana Didática Ecológica, que promoveu um

feedback dos conteúdos trabalhados através da resolução dos problemas em que a

equipe teve que encontrar a causa, melhor solução, considerando possíveis

resultados. Durante esse pequeno processo foi necessário que o aluno pensasse,

discutisse, refletisse, pesquisasse, debatesse em equipe e tomasse decisões. Ao

final o professor mediador das atividades realizou uma discussão sobre a

possibilidade de utilizar os recursos encontrados pelos alunos na realidade e não

apenas no jogo, favorecendo uma consciência crítica e uma relativa experiência em

relação as questões ambientais em pauta, além de estimular a avaliação das

condições ambientais.

SATO ilustra este importante aspecto, citando:

A aprendizagem ativa é um componente vital para os Programas de Educação Ambiental, pois oferece motivos que levam os alunos a se reconhecerem como parte integrante do meio em que vivem, esclarecendo as relações de interdependência, desenvolvendo as atividades de comunicação efetiva e pensando em alternativas para soluções dos problemas ambientais. (2003, p. 43)

Segundo TELLES, as estratégias lúdicas aproximam-se muito da

espontaneidade dos alunos e tornam os conteúdos mais atraentes. (2002, p. 45)

Assim a aquisição do conhecimento se tornou transformador, interativo, criativo e

prazeroso.

Cada jogo é um momento novo, com grupos, pessoas, condições diferentes, oferecendo resultados sempre surpreendentes e isso tem nos

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mostrado que por mais que tenhamos realizado estas atividades, estamos sempre aprendendo em novas oportunidades. (TELLES, 2002, p. 27)

Acredita-se que os jogos promoveram a participação dos alunos,

desencadeando o processo de raciocínio cognitivo dinâmico e crítico.

Quanto às atividades artísticas, observou-se que foram realizadas com muito

prazer, criatividade e cooperação mútua, demonstrando interesse em proteger e

melhorar o meio ambiente.

Além das ações pretendidas do projeto, incluímos a elaboração de um vídeo

sobre a preservação do meio ambiente, confeccionada pelas equipes, que foi

sugerida pelos participantes da gincana.

O resultado da gincana foi representativo, os alunos aprenderam “brincando”

e refletindo as ações voltadas para o equilíbrio e manutenção ao meio ambiente.

4. Análise e discussão dos resultados

Partindo dos conteúdos (água, doenças de veiculação hídrica, resíduos

sólidos, lixo e destinação final e a importância da floresta ciliar), os componentes das

equipes da gincana tiveram que desenvolver as atividades propostas a fim de

considerar seus possíveis resultados e durante esse pequeno processo foi

necessário que os alunos pensassem, discutissem, refletissem, pesquisassem,

debatessem e tomassem decisões. A professora mediou à construção do

conhecimento técnico-científico de forma a auxiliar o desenvolvimento das

habilidades. Na abordagem de GUIMARÃES, [...] “possibilitar ao educando

questionar criticamente os valores estabelecidos pela sociedade, assim como os

valores do próprio educador que está trabalhando em sua conscientização”. (1995,

p. 31)

Através da gincana didática ecológica foram desenvolvidas as seguintes

atividades lúdicas:

Atividade 01 – Paródia: o assunto embasado foi o meio ambiente. Essa

atividade contribuiu para a reflexão sobre o tema de modo criativo.

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Atividade 02 – Quizz: o jogo de perguntas e respostas onde os

conhecimentos efetivos foram avaliados e reforçados.

Atividade 03 – Labirinto: os jogadores receberam estímulos que auxiliaram na

memorização da destinação seletiva dos resíduos, bem como no pensamento lógico

para a resolução de problemas.

Atividade 04 – Basquete do lixo: essa atividade demonstrou como a seleção

dos resíduos pode ser divertida e simples, os jogadores foram incentivados a

continuar está prática de seleção na escola, em casa e nos lugares públicos,

atribuindo maior importância à reciclagem a preservação do meio ambiente através

da destinação correta do lixo.

Atividade 05 – Cruzada Ecológica: representou um estimulo cognitivo aos

participantes da gincana. Reforçou a compreensão sobre o assunto e estimulou os

jogadores a sanarem as dúvidas que restaram.

Atividade 06 – Propaganda: os alunos incentivaram de alguma forma o

espectador a pensar sobre determinado aspecto da preservação ambiental. Foram

realizados vídeos e dramatizações.

Atividade 07 – Cartão Postal: com algumas dicas de como usar e

economizar a água. O material confeccionado foi xerocado e distribuído no colégio

como forma de divulgar a urgência do cuidado com a água. Essa atividade efetivou

a ação do jogador para fora do grupo participante da gincana, pois este interferiu

diretamente na comunidade escolar e em sua consciência sobre as questões

ambientais.

Atividade 08 – Caminho das Águas: um jogo realizado para testar os

conhecimentos de forma divertida e competitiva.

Atividade 09 – Luxo do lixo: os alunos confeccionaram fantasias com

materiais recicláveis. Uma forma de reduzir o consumo de recursos naturais não

renováveis e evitar um impacto fora de proporções nos recursos reduzidos e no

equilíbrio ecológico.

Consideramos especificamente relevante a citação de SATO:

Técnicas como jogos, atividades fora de sala de aula, simulações, teatros ou produções de materiais pedagógicos são fortemente recomendadas para o desenvolvimento da Educação Ambiental, pois possibilitam trazer para as salas de aula situações reais que muitas vezes são impossíveis de ser vivenciadas. (2003, p. 29)

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É indispensável lembrar que “a avaliação dos alunos se deu de forma

diagnóstica e formativa no decorrer de todo o projeto, uma vez que não havia a

preocupação de promover o aluno para a etapa escolar seguinte”. (ZEPPONE, 1999,

p. 44)

5. Conclusão

A Educação Ambiental deve ser trabalhada na escola, através de ações

reflexivas, para que o aluno estabeleça uma relação harmoniosa entre o homem e o

meio ambiente. É imprescindível que haja uma interação entre professor e aluno,

para que juntos busquem novas formas de sensibilização, através da solidariedade,

respeito ao próximo e zelo aos bens naturais. Esse resgate de valores possibilita

uma sustentabilidade equitativa.

Para promover essa transformação social é necessário iniciar pela mudança

de pequenos hábitos como a economia de água, a energia na hora do banho,

utilizando os recursos de forma racional evitando o consumo exacerbado e

promovendo uma destinação adequada ao lixo produzido. E é a escola que vai

facilitar a formação desse cidadão crítico, com responsabilidades e condições

necessárias para o enfrentamento das questões sócio ambientais.

A atividade lúdica é uma excelente ferramenta, na Educação Ambiental, pois

permite reflexões e possibilita que o aluno assuma compromissos em relação à

proteção ambiental. Além de estimular a aprendizagem, a Gincana Didática

Ecológica promove também os aspectos de relações sociais e emocionais, como a

solidariedade, o respeito aos limites do outro, a ajuda mútua e o resgate de valores

que estão se perdendo ao longo do tempo. Esta competição oportuniza a apreensão

de conteúdos, através das brincadeiras, que são esquecidas no ensino médio, mas

são tão necessárias e oferecem resultados surpreendentes.

Infelizmente o resultado da Implementação do Projeto não se dá a curto

prazo, mas acredita-se que quando estamos envolvidos nessa prática, resignificando

conceitos e valores, sentimo-nos capaz de formar esse indivíduo mais crítico e

consciente em relação ao meio ambiente.

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Cabe a nós educadores levar essa mensagem aos nossos alunos e

sensibilizá-los diante dessa catastrófica realidade ambiental, e não existe melhor

maneira de fazer isso do que brincando.

Referências

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