A Autogestão Iugoslava
-
Upload
fernandagrillo -
Category
Documents
-
view
218 -
download
0
description
Transcript of A Autogestão Iugoslava
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
1/92
11982 1996
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 I l i 1 1 1
. BERTlNO i I013REGA DE QUEIROZ
Fundao
GetU~i~
Vargas
sco de
Adm,mstra~o
( IpEmPrl 5a d~ 5:\0 uln
Bihli.. tp. ;;t
Fortaleza, DEZ-19Bl
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
2/92
I.
A
OCTACiLIO QUEIROZ, meu pai, r~presen-
tantedo Estado da ParabanoCongre~ .
.soNacional, que desde cedo me ensi-
luta
pela justia social .;
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
3/92
.
/.
2
. .
...Uesa, obj et.Lvando+ae
vcoxnax
.o texto mais acesslvel ..
A datilografia do original esteve a
de Margaret Queiroz_
-, ..
cargo
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
4/92
- ,
1
N O T A E X P L I C A T I V A
Constitui o presente trabalho dissertao
do Curso de Mestrado realizado pelo Autor, no perodo 1976-
78, na rea de Teoria e Comportamento Organizacionais, da
Escola de Administrao de Empresas de so Paulo, da Funda-
o Getlio Vargas.
resultante das aulas e seminrios rea
lizados sob a orientao do prof. Fernando C. Prestes Mott~
cujo tema central situava-se, frequentemente, em torno do PO
DER BUROCMTICO nas organizaes ..A AUTOGESTAO IUGOSLAVA era
sempre uma referncia nos debates e apresentaes,quando se
queria idealizar caminhos e modelos, para superao do im-
passe criado pela dominao burocrtica
completa realiza-
o do Homem como sujeito apto ao exerccio de direitos e
deveres numa sociedade igualitria ..
Sendo um trabalho simples, omite-se o Autor
de :ma.toresconsideraes acerca da metodologia adotada. Jul
ga necessrio fazer, apenas, uma ressalva acerca das cita-
esencontradas no texto. Sao numeradas a cada pgina e
acham-se referidas s notas em baixo, indicadoras do nmero
da obra donde foram extradas. A numerao dos ttulos
. . .
e
feita no final na Bibliografia. Todas as citaes original-
mente em lnguas estrangeiras foram traduzidas .para a por tu
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
5/92
3
Nem o Estado, nem os sistemas,nem os
partidos polticos podem fazer a fe-
licidade do Homem: s o prprio Ho-
mem,
t.odav .a no.o
pode conseguir co-
mo indivduo isolado, mas, unicamen-
te, em relaes de igualdade com os
out ros ho me ns ..
CEDVARD KARDELJ, terico da autoges..-
to iugoslava no seu livro As Vias
da Democracia na Sociedade Social'is
ta l~
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
6/92
4
INDTCE
pgina
I.
rrrt
roduo
II. Autogestao e Socialismo
II . A Iugoslvia antes do socialismo,
IV.
O
Caminho~ocialistl da IU~Ios1yia::_
V As organiza es autoges tionrias
VI. O sistema de delegao
VII, O papel da Liga dos Comunistas
VI I. O desenvolvimentoscio-econmico
IX.,, ~ Avaliao e pers pectivas
X.:,_Anexo
XI.
Bibliografia
05
15
21
29
41
51
56
70
76
83
86
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
7/92
5
A crescente burocratizao do mundo era en-
tendida por WEBER como resultante do processo de desenvolvi
mento capitalista, caracterizado por constante avano no ta
manho e na complexidade das organiza5es, o que exigiria a
formao de estruturas burocrticas orientadas para um d':
sempenho- operacional efic:ien-te, em termos-deobteno de re
sultados que permitissem a manuteno da ordem e da acumula
ao capitalistas. A classe dominante passava, pela primeira
vez na Histria, a sustentar e legitimar seu controle sobre
os meios de produao e sua apropriao da riqueza social de
forma racionalizada, que somente a burocracia poderia lhe
oferecer.
A viso.weberiana, embora correspondesse a.
de algum situado nos primeiros tempos de aparecimento do
capitalismo monopolista, internacionalizado, tinha a clare-
za de quem havia se dedicado pacientemente a anlise do fe-
nmeno burocrtico em seu pais, a Alemanha, onde um desen-
volvimento capitalista retardtrio solicitaria a presena
da mquina estatal para competir com outros mais precoces e
j avanados na explorao das riquezas do Planeta.
110
capitalismo em seu estgio atual tende a
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
8/92
,.
6
fomentar de maneira acentuada o desenvolvimento da burocra-
cia (I) dizia WEBER no princpio deste sculo.
Esse desenvolvimento burocrtico, ele perce
bia como algo particularmente arriscado para a sobrevivn-
cia de um sistema democrtico, capaz de permitir uma igual-
dade de participaionas decis6es e oportunidades a
os individuos dele integrantes.
todos
E,-no enxergava, --tambm,--amenor possibili
dade de superao do poder burocrtico por um sistema, que
eliminasse a propriedade privada dos bens de produo, ao
nosso ver a caracterstica fundamental de um sistema socia-
lista~; ainda que no seja sua condio suficiente.
liA abolio do capitalismo privado signifi-
.
caria, simplesmente, que tambm a alta administrao das em
presas nacionais ou socializadas tornar-se-ia burocrtica
2}afirma WEBER, no seu ceticismo em relao ao xito de
uma luta capaz de vencer o poder institudo pelo avano ca-
pitalista ~ escala mundial.
O
pensador germnico imaginava, at que,
finalizao do'capitalismo privado, se sucederia um sistema
de dominao estatal, que poderia ser assemelhado ao do An-
tigo Egito, de dominio universal do fara~
0 futuro pertence burocratizao (3) co-
,(1)
Ob.22, pg ..29
(2) Ob. 22, pg~ 29
(3) OIS. 22,
pg. 19.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
9/92
7
locava WEBER, de forma enftica.
Esse futuro, embora capaz de possibilitar
uma crescente efici~ncia e racionalidade das estruturas or-
ganizacionais, seria a fonte de criao de um jugo esmaga-
dor das liberdades individuais.
Essa constatao trazida por WEBER para a
Sociologia do ScUlo xx fz-se acompanhar de duas questes
de inquestionvel-relevncia:
Como se poder. preservar qualquer resqu-
cio de liberdade 'individualista'? (1)
Como ser a democracia de todo possvel?
21
Tais perguntas, WEBER as formulou no verao
de 1917. Na estao seguinte, o processo revolucionrio rus
so alcanava seu cume com a vitria bolchevique, conduzida
por uma liderana de pensadores marxistas e por um operaria
do relativamente reduzido, num paIs atrasado e arruinado
p~
la guerra.
Inaugurava ....e um sistema poltico, que ten
t.ar
a
concretizar o projeto de todos aqueles que pensaram na
extino do capitalismo e em sua substituio por um reino
de igualdade e justia social, o que seria alcanado aps
um perodo de ditadura do proletariado .
A
partir da, os
(1) Ob. 22,
pg,
32,
(2} Idem.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
10/92
8
traos da dominao burguesa seriam apagados pela
atuao
de um estado autoritrio, mas submetido vontade da classe
trabalhadora.
o
tempo decorrido, desde aquele ano de 17
at hoje, foi marcado por inmeras revolues, que destrui-
ram a burguesia de inmeros pasese levaram mais de um ter
o da Humanidade para o sistema pOltico-econmico, que nao
democr-t.Lco
r ep re sn lt . fi v -, -- ne ma pi ta Li st a; o nd e p ar ti do s
de ideologia marxista-leninista assumiram o controle do Es
tado. As empresas deixaram de pertencer a proprietrios pri
vados e grande parte das reas rurais foi coletivizada.
O
sistema de mercado, no qual parecia resi-
dir a fonte'de toda a alienao do Homem, foi eliminado. Em
seu lugar, implantou-se um rgido e centralizado sistema de
planejamento econmico e social que, sem sombra de dvida,
foi capaz de produzir impressionante progresso,sobretudo no
aparelho produtivo dos paises que adotaram aquela via, in-
c lu si ve p ro po rc io na nd o Unio Sovitica um poderio militar
que derrotou, aps herica resistncia, a barbarie
nazis-
ta, sequiosa do poder mundial. Posteriormente, conteve as
intenes hegemnicas dos paises imperialista, notadamente
os Estados Unidos e seu complexo industrial m.i..litar.
A expectativa geral sempre foi a de que o
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
11/92
\.
9
trmino do poder burgus. e a instalao da ditadura do pro
letariado seriam sucedidas por um enfraquecimento progre~
sivo da mquina estatal e, paralelamente, maior controle
social pelos trabalhadores das organizaes econmicas ou
no. Desapareceriam as classes sociais e se formatia uma Co
letividade de homens iguais e liberados do domnio patronal.
Ningum poderia, honestamente, deixar de re
conhecer que aquela expectativa tem sido frustrada a cada
dia que passa. o reconhecimento de que uma camada burocrti
ca poderosa e privilegiada se mantm, nos paises socialis-
tas, parece ser uma idia generalizada a quantos
ana
l
Lsarn o
problema. As contradies surgem e se agravam. As diferen-
as torn~' n-seexpressivas demais para que se possa acredi-
.tar que ainda se prossiga no caminho para uma sociedade sem
classes, embora a burocracia dominante no assuma todas as
caractersticas de um estrato social com uma legitima fun-
ao na produo .
Paul
M.
Sweezy, pensador marxista e militan
te da causa aoc .aL.atia, chega a uma sntese das mais pertu-
badoras, quando af Lrrnae
Como o exemplo da polonia mostrar os regi-
mes burocr
t.Lcos
no poder
r
naque
La parte do mundo, nao
. ,
so
esto separados da classe operria,. como esto profundamen-
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
12/92
~. 10
te opostos a ela, no mesmo sentido em que a burguesia est
oposta
classe operria nos paises capitalistas . (1)
O processo de burocratizao nos Estados,
chamados-por outros de Operrios , chega a se descrito em
tres fases:
lia) em primeiro lugar, surgem os privil-
gios de autoridade e as vantagens polticas sadas do mono-
plio do-poder no seio ao aparelho do Estaoo;
b} em seguida, sobretudo no interior de um
pas atrasado, d-se o aparecimento dos privilgios burocr
ticos, tanto no plano material, como cultural;
c) finalmente, a degenerescncia burocrti
ca completa, quando a direao j no resiste a esse fenm~~
no e o aceita conscientemente
f
integra-se nele, tornando-se
seu motor e procurando acumular privilgios (2)
Dada a importncia do fenmeno burocrtico,
o estudo da emergncia dessas camadas privilegiadas e dom i.....
nantes tem sido bastante ampliado no Ocidente e com maior
razo nos paises dependentes do capitalismo, onde se traam
.projetos de novas sociedades~
H
um reconhecimento, mais ou menos unifor-
me, de que a vitria da revoluo anti-burguesa em paises
atrasados, como a Rssa de
1917,
onde as relaes capita ....
(l}
Ob ..
16,
pg.
38
(2) OQ. 4,
pg.
27
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
13/92
11 ,....
listas se verificavam apenas em r~as urbanas e havia uma
relativamente pequena classe operria, tenha sido
fator
de grande importncia na criaao da camada burocrtica~
De forma, muito evidente, pode-se
observar
que a duraao do poder dos sovietes, to, enfaticamente pro-
clamado no momento da vitria revolucionria, dos mais f
meros, cabendo aos quadros do partido substituir na condu ...
o dos- negcios do Estado aquelas assembrei.as de trabalha-
dores, clulas onde foram geradas as mais decisivas
aoes
contra o Velho Regime~
O modelo burocrtico sovit,i.co foi seguido
por todos os demais paises socialistas, com maior expresso
naqueles que foram liberados do nazi-fascismo pelas
t
ropas
do Ex~cito Vermelho, no final da II Guerra .Mesmo na sia,
a direo,burocrti,ca preponderou, ainda que na China tenha
sido aber+a a luta contra, a dom .nao dos funcionrios do
Partido, no momento parecendo que a estes favorece a conten
da pelo poder ..
As crises e conflitos que intermitentemente
surgem naqueles pases entre os trabalhadores e a camada di
rigente refletem de forma nltida as contradies
vigentes
no seio das sociedades ..H lances muito parecidos com os
acontecidos .:nas': naoes que vivem sob o sistema, capital-i
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
14/92
12
ta, ou seja, fenmenos tpicos de luta de classes.
Nesse quadro de dominao burocrtica, a lu
goslvia oferece algo que difere e que tem atrado a aten-
o de todos os que analisam o atual quadro poltico do mun
do.
Em sua Repblica multi-nacional, federativ~
os iugoslavos foram capazes de implantar um modelo polti-
co autogestionrioi que vem progressivamente aperfeioando-
se no sentido de estabelecer uma legitima democracia de de-
cises e oprtunidades.
Fox.maa dos escombros da 11 Guerra, a lugos
.Lv .a
foi capaz de sobreviver s presses do sta1inismo e,
hoje, tem aperfeioada a experincia que desenvolve e que
pode servir de sbsidio para0 desenvolvimento scio-po1ti
-
o de outras naes.
A
prpria palavra autogesto tem sua origem
no idioma servo-croata, uma das trs lnguas faladas na lu
goslvia, alm de dia1etos~
- AUTOGESTO a traduo literal da palavra
servo-croata- SAMOUPRAVL-JE - sendo- SAMO, o equivalente es1a
va ao prefixo greso AUTO, e,- UPRAVL-JE, significando aproxi ....
madamerrt
e
GESTO . (1)
H suficiente literatura disponvel, capaz
-tIl
Ob ._
9,
pg.. 11 ..
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
15/92
13
de subsidiar uma analise da experincia iugoslava, se bem
que seja pouco provvel o alcance de um quadro fidedigno da
vida de um povo sem o contato direto e prolongado .com sua
realidade concreta.
De qualquer modo, o estudo da autogesto iu
goslava encerra, ainda que de forma indireta, uma importn-
cia indiscutvel para todos que se preocupem com a democra.- .
tizao do mundo, com a igualdade de dirert-os e deveres en-
tre os homens, em suma, com o socialismo.
A situao que hoje se presencia na Polnia
recomenda ainda mais a procura de caminhos alternativos ao
modelo de socialismo burocrtico, desenvolvido no Leste da
Europa .
A
Iugoslvia parece haver chegado mais per
to de um sistema poltico 'em que cada homem tem a possibi1i
dade. de exercer sua participao nas decises das organiza ....
es , em interao com os demais, escapan ....
do de um jugo vislumbrado muito apropriadamente por
WEBER
como avassa1ador ...burocrtico. E,se os iugoslavos conse ...
guiram se aproximar, mais que outros, de um sistema com
essas caracteristicas, eles esto construindo uma autgntica
sociedade socialista, tornando real a utopia sonhada.
Nesse sentido, os iugoslavos foram sensve~
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
16/92
14
as anotaes de MARX, quando diante da experincia da Comu-
na de Paris escrevia: que para nao perder de novo a sua do
mina~o ~ecm-conquistada, a classe operria deve, de um la
do, abandonar toda a velha mquina repressiva at ento uti
lizada contra ela
e,
de outro, prevenir-se contra os seus
prprios mandatrios e funcionrios, declarando-os demiss-
veis, a qualquer tempo e sem exceo . (1)
(11 Ob. ll~ pg_ 166
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
17/92
15
II ...UTOGESTO E SOCIALISMO
A proposta socialista, exposta desde os ut
picos no Sculo XIX, tem, irrecusave1mente, um fundo bsi-
co, - o da igualdade dos homens. A obra de Marx e de Engels
colocaria as coisas numa base mais objetiva e factvel: o
pro let.rLado , classe dominada no cap
ta1irrio,que nada te-
ria
a perder liano ser os seus grilhes , conduziria no es
tgio de classe para si ,' o processo revolucionrio, elimi
nando para sempre o sistema de classes, aps a atuao de
su~ ditadura anti-burguesa
..Muitos j afirmaram e aqui repetimosque_~
.nem Marx, .nem Engels, os grandes pensadores do socialismo ,
legaram um quadro detalhado do que seria a futura socieda-
de sem classes, e, naturalmente, no puderam explicar como
se desenrolaria o processo de transio at atingi-la.
Olhai para a Comuna de Paris. eis a ditadu
ra do proletariado
(l),
diz Marx sucintamente.
E os iugoslavos assim O fizeram.
Desde a poca do rompimento com Stalin e o
abandono do modelo burocrtico sovitico, nos idos de
1948,
tm os ideolgos da autogesto iugoslava buscado _'ser um
(1) Ob. 11, pg.167
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
18/92
16
fiel reflexo daquilo que Marx descreveu em A Guerra Civil
na Frana , relativamente Comuna.
- Uma vez estabelecido em Paris e nos cen-
tros secl,lndrios o regime comuna1, o antigo governo centra-
1izado teria que ceder lugar tambm nas provncias ao gover-
no dos produtores pelos produtores - segundo MARX.
Esse governo dos trabalhadores assumiria as
sim o carter aut.oqes t.onr-.oj que teria de-ser compatibili
zado com a idia de centralizao da economia, um dos pon-
tos basilares do pensamento marxista como antdoto eficaz
anarquia do mercado capitalista.
Numa obra descrita por Florestan Fernandes,
como tendo sido escrita no clmax de sua vida intelectual
e poltica -
O
Estado'
e a
ReVOlo ....ENIN expe em
. .
va-
rias passagens como imaginava que fosse a fase de transio
do capitalismo para o comunismo. A id~ia de uma
sociedade
autogestionada parece evidente em seu pensamento:
- Se todos os homens tomam realmente parte
na gesto do Estado, o capitalismo no pode manter.,..se .(l)
- Os operrios', senhores do poder poltico,
quebraro o velho aparelho burocrtico
f
o demoliro de alto
a baixo, no deixaro pedra sobre pedra e o substituiro par
um novo aparelho, compreendendo os operrios e os emprega-
(11 Oh, 8~pg.,l24 ..
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
19/92
17
dos e, para impedir que estes se tornem burocratas, tomaro
imediatamente as medidas propostas por Marx e Engels:
19) elegibilidade e, tambm, amovibilidade,
a qualquer tempo,
29) salrio igual ao de um operrio,
39) participaao de todos no controle e na
fiscalizao, de forma que todos sejam, t.empora r Lamerrt.e.vf nn
c..onr
.os, mas qu~ ningum possa:l::c>rna~-s~
bunoczat.a
f
.(1)_
no regime socialista, toda a gente gover-
nar por sua vez,.
e,
prontamente se habituar a que ningum
governe .(2)
E, ainda, na Comuna que LENIN se fundamen
ta, quando exprime: aprendamos, pois com os comunardos, a
audcia revolucionria, vejamos nas suas medidas prticas um
esboo das reformas fundamentais e imediatamente
realiz-
veis, e,seguindo esse caminho, chegaremos supresso com--
p:J..etaa burocracia ..O}
Essas idias de LENIN eram fruto da mente de
um revolucionario fora do poder, s vsperas de alcan-lo
de uma forma to audaciosa quanto competente. Em dez
dias,
abalaria o mundo. Abria 'sema nova etapa na Histria.
O controle dopder pelos sovietes seria,no
entanto, pouco duradouro, se que foi efetivo. A base mate
(11 Ob. 8, pg.
137/138
(21 Ob.
8, pg
147.'
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
20/92
18
rial atrasada da Rssia Imperial, a destruio do pais pela
guerra e embates revolucionrios. urgncia de desenvolvimen
to industrial do pais e de seu armamento para enfrentar a
agresso. externa, levaram os lideres revolucionrios a co0E.
tar toda a velha mquina burocrtica czarista para a tarefa
de construo da nova ordem.
Aps a morte de LENIN, o processo de cria-
o da -burocracia sov
.t..ca
se ap.roundar ra; .
mantendo-se
apenas: nas:palavras governo e partido dos trabalhadores.
A aplicao de sucessivos planos
quique-
nais, que imprimiram significativo avano
economia, refor
aria o poder da burocracia com centro em Moscou.
Em circunstncias histricas
diferentes,
tres dcadas aps
f
a Iugoslvia estabeleceria o poder pop~:-
lar, mantendo com brevidade o modelo burocrtico, para' em
seguida e por necessidade, ir buscar nos clssicos a indica
o que permitisse a sobr ev..vnc .a do regime h pouco Lmp Len
tado ..
T l : T O faz a propsito o seguinte comentrio:
Nos orientvamos pela teoria do marxismo ,
pelo pensamento de MARX - que se destaca em sua obra IA
GUERRA CIVIL NA
FRANA'~.
com base nas experier:J.ciasda Comu ...
na de Paris - de que a classe operria, ao assumir o poder,
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
21/92
,
,
19
supera rapidamente os assuntos, capacitando-se rapidamente
para executar todo o necessrio no interesse do trabalhador'
(1)
Milovan DJILAS, dirigente da
Iugoslvia,
quando da ruptura com o stalinismo, mais precisamente Se-
cretrio Geral do PCI e Ministro da Propaganda, e, depois,
dissidente e ferrenho inimigo do regime iugoslavo, exprime,
por Um citao d RUSINOW' .....The Yugoslav-~xperitnht - a-ma
neira como surgiu a idia autogestionria entre os dirigen
tes do PCI, no final da dcada dos 40: o relato de Djillas
quanto a gnesis da idia da autogesto sugestivo~
Logo
que o PCI foi expulso do COMINFORM, diz, comeou a reler O
CAPITAL, com um especial cuidado( objetivando encontrar a
resposta para o problema que colocava em termos simplisti-
cos a questo do stalinismo como uma coisa m e da Iugosl-
via como uma coisa boa. Nesse trabalho ele redes cobriu a
princpio marxista da autogesto social com suas
oes anti--estatistas e anti .....urocrticas ~(2)
E continua:
implica-
Certo dia - deve ter sido na Primavera de
1950 - ocorreu-me que nos, comunistas iugoslavos, estvamos
numa posio adequada para comear a criar a livre associa
o de produtores imaginada por MARX . (3)
(1)
Oba 18, pg.
167
(2)
Ob.
14, pg.
49
(3 )
Oba 14, pg. 50
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
22/92
20
Essa idia da autogesto como uma aplicao
fiel dos principios marxistas seria exposta em seguida aos
demais lideres do
p c r
e discutida longamente com KARDELJ;
que vinha a ser o mais importante terico do socialismo iu-
goslavo, para se materializar no primeiro projeto de forma-
o dos conselhos dos trabalhadores para gestao das rbri....,
cas.
A
opo
pe
La iv
.a autogestionria faria da
Iugoslvia a mais autntica seguidora da COMUNA, retomando
uma senda que havia sido a da Rssia dos Sovietes aps a
Revoluo.
A vinculao estreita da autogesto com o
socialismo f exposta pelos clssicos, era percebida pela di
reo partidria como urna forma de manuteno da democracia
proletria
f
gerada na dura luta dos. partisans iugoslavos
contra os invasores hitleristas~
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
23/92
21
3. A IUGOSIVIA ANTES' DO SOCIALISMO
Os eslavos vieram a se fixar nos
, . .
Balcas,
provenientes do Leste, talvez de reas da Ucrnia, por vol-
ta do sculo VII da nossa era. Foram evangelizados de um la
do por missionrios gregos e de outro por missionarios fran
cos. Dessa converso ao cristianismo resultou, traos marcan
tes at hoje presentes, como fica mais expressivo no usoden
tro da Iugoslvia de alfabetos cirlico e latino.
Por todos os sculos passados at o
tempo
presente, os eslavos do sul - Iugoslvia origina-se do ser-
vo-croata JUGOSLAVIJA, vocbulo formado por JUG,significan-
do SUL e SLAVIJ.~, TERRA, PAs DOS ESLAVOS- sofreram as mais
duras'e cruis dominaes, comeando pela de Bizncio, de
um lado do pais, pelos francos de outros, pelos turcos no
lugar onde estavam os bizantinos( pelos venezianos no Lito-
ral e pelos austriacos ao Norte.
A Srvia, hoje uma das seis repblicas fede
radas da Iugoslvia, apareceu pela primeira vez como uma
unidade poltica independente, por volta do sculo XIV, che
gando a ter uma posio influente na regio balcnica, at
ser esmaga.da pela invaso turca, consumada pela conquista
de Belgrado pelos exrcitos de Solimo I, o Magpifico, no
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
24/92
22
ano de 1521.
A cidade-estado de Dubrovnik, Ragusa
para
o Ocidente, exerceu atividade comercial no Adritico, riva~
lizando com a po
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
25/92
23
vos, ainda que mutilados e confundidos, os caracteres .cul-
turais eslavos. As condies de inacessibilidade, de muitas
reas facilitou a prtica guerrilheira, muitas vezes confun
dida com bandoleirismo.
Somente em 1804 comearia a se formar a Iu-
goslvia moderna. Uma grande revolta, sob o nome de Djordje
Petrovic KARADJORDJE levou ma.s de dois mil guerrilheiros
tomada .de -Belgrado do controle otomano-. Embora esse dom-
nio ainda viesse a ser efemeramente restaurado, foi em tor-
no daquela cidade que foi se formando o Estado srvio, for-
malmente reconhecido pelo Congresso de Berlim, em
1878.
Uma
outra repblica da Iugoslvia de hoje, o ento Reino do Mon
tenegro, histrico reduto de resistentes, encravado nos Al-
pes Dinricos, teve, tambm, referendada pelas naes hege-
mnicas sua existncia pOltica.
Aps a I Guerra Mundial, conflito em que a
Srvia teve um papel deflagrador bastante conhecido, bem
expresso no atentado de Serajevo, emergeria uma nova naao
un.ndo a maior parte dos eslavos balcnicos ~ A 19 de dezem-
bro de 1918, em assemblia reunida na cidade de Zagreb, os
eslavos da Crocia e da Eslovenia se uniam aos do Montene-
gro e da Srvia, sob uma coroa com sede em Belgrado.
No ano seguinte, na esteira da Revoluo Rus
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
26/92
24
sa, militantes dissidentes dos partidos social -democratas
fundavam o partido comunista, que viria a participar com
relativo xito das eleies para formao da Assemblia Cons
tituinte do Reino dos Srvios, Croatas e Eslovenos,em 1920.
o conflito permanente entre os povos que
formavam a nao iugoslava e os embates de natureza classis
ta, resolvidos sempre em favor da burguesia hegemonica da
Srvia, impediram o equilbrio democrtico do novo Estado.
Uma ditadura monrquica repressiva foi estabelecida e esta
oficializaria o nome IUGOSLVIA, em 1929.
o
perodo da dcada dos 30 seria
marcado
por uma oscilao poltica do Reino entre o nazi-fascismo
em expansao e os paises capitalistas da Europa Ocidental.
A partir de 1935, interna e externamente a Iugoslvia come-
a a pender para o atendimento dos interesses do eixo Roma-
Berlim ...
Em outro plano, porm, uma outra
~.
ascensao
se consumava. A de JOSIP BROZ TITO, um croata, de
humildes
origens camponesas, nascido no ano de 1892, ex-sargento das
tropas imperiais austro-hngaras. Combatente da frente rus-
sa, foi ferido e preso, tendo, ento, ocasio de manter os
primeiros contactos com os recm vitoriosos 'bolcheviques.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
27/92
- 25
Filia-se ao Partido de LENIN e permanece por certo tempo na
jovem repblica revolucionria. Volta a sua ptria em 1920
como militante comunista, comeando a realizar ativo traba-
lho nos quadros inferiores do PCI, constitudo h pouco.
Chegaria em dezesse'tenoavde atividade partidria ao cargo
de secretrio geral, passando por uma experincia de impor-
tncia primordial para sua vida futura, como organizador,em
Paris, de destacamentos eslavos para combater o franquismo
na Espanha. O ncleo de guerrilheiros que o acompanharia na
luta anti-fascista comearia ento a ser constitudo.
~ insatisfao popular com o governo real
iugoslavo, declarado simpatizante do nazi-fascismo, ativada
pela ao.do PCl, com o apoio do exrcito nacional, consumou
a derrubada do govrno e o pretexto para o ataque das tro-
pas alemes, italianas e blgaras~ Em 06 de abril de 1941,
inicia...e. Avano fcil e rpido. A resistncia organizada
foi dbil. No espao de duas semanas,as principais cidades
iugoslavas foram ocupadas e o pais politicamente dividido
em estados fantoches governados por delegados de Hitler.
Fechado o campo de ao do poder nacional
burgus, comea a se organizar e atacar o invasor a fora
popular guerrilheira~alimentada pela longa tradio de com
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
28/92
:- 26
-
bate por foras irregulares aos opressores da naao eslava ~
O
carter dessa difcil e tenaz luta . dos
Upartisans vai influenciar marcadamente as divergncias do
-
pos-guerra com o stalinismo e determinara opao autoges-
tionria feita:::emesposta s press'es soviticas.
Inicialmente, o combate se trava como con . ..
trapartida ao brbaro terrorismo implantado pelosnazi-fas-
cistas e seus quislings
i.,
notadamente um que mais se des-
tacou para a Histria por seu brutal autoritarismo, chama-
do PAVELIC.
A causa da resistncia nacional era condu ....
zida no s pelos comunista de TITO e seus par+Lsans
mas
tambm por Draza MIHAILOVIC e seus chetniks .Os primeiros,
nao s mais numerosos e bem estruturados, mas decididamente
mais comprometidos com a luta contra o invasor e, paralela-
mente, por urna nova sociedade.
No final de junho de 1941, forma-se o esta-
do maior dos destacamentos partisans , exrcito de liberta
o, liderado por TITO e seus companheiros veteranos da Gua:::-
ra Civil Espanhola.
A 4 de junho de 1941, comea a insurreio
armada por todos os pontos do pas. E, TITO assinala seu
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
29/92
27
estado d'alma naquele momento de hist6rica significao:
- Era para n6s claro que o -momento para
o levante nos
f'avoz-eo .a ,
que tinhamos que inici-lo e que
o Partido tinha que estar na sua frente. Sabiamos que os
comunistas haveriam de suportar o maior peso da insurreio.
No s6 de sua organizao, mas tambm da luta. Ningum fi-
cou na retaguarda .
(1)
o chamado luta obteve resposta
imedi.ata
pelos campos e cidades da Iugoslvia. Aguerridos e portando
uma causa inteiramente justa, passo a passo foram sendo im-
plantadas reas liberadas do poder nazi-fascista, onde os
primeiros rgos do poder popular vieram a ser implantados
.Contando com uma organizao_ eficaz e uma
liderana carismtica e frme, os comunistas, ao contrrio
de Mihailovitch e seus chetniks ( foram ganhando a confian
a do povo, recusando qualquer tipo de compromisso com os
italianos e alernescombati.dos, por todos os meios.
A
26
e
27
de novembro de
1942,
logo aps a
organizao formal do Ex.rcito.de Libertao Popular, reali
za-se a primeira reuni plenria do Conselho Antifascista
de Libertao Popular da Iugoslvia, conhecido pela sigla
AVNOJ, que reunindo
54
representantes do movimento parti-
u: Ob.
18,
pg,
211.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
30/92
28
~an comeou a definir as bases do futuro estado nacional,
igualitrio e federativo.
O prosseguimento com ixito da luta contra
o invasor vai elevando o prestgio externo de TITO
e de.
seus guerrilheiros. No outono de 1943, uma misso anglo-am~
ricana passa
colaborar com os iugoslavos e no ano seguin-
te tambm a Unio Sovitica.
A sE3gu.~?a.
eun..o
do AVNOJ, em novembro de
1943, j contaria com um nmero bem maior de delegados de
todas as regies do pais - 208 - formando~se, ento explici
tamente um governo provisrio com TITO na presidincia e a
deciso d~'implantar um Estado federal socialista.
A reunio seguinte dos delegados partisan~'
seria realizada num palco bem mais diferente: Belgrado libe
rada. Transformar-se-ia em Assemblia Nacional.
11 de novembro de 1945 a data da declara-
o oficial da Repblica Popular Federativa da Iugoslvia
formada por seis repblicas: Bsnia-Herzegovina, Crocia,Es
lovnia, Macedonia, Montenegro e Servia, esta com duas pro-
vncias autnomas, habitadas principalmente, por minorias
albanesas e hngaras, respectivamente.
Estavam unificados para uma nova vida os es
lavos do Sul.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
31/92
-,
IV - O CAMINHO SOCIALISTA DA IUGOSL1\VIA
A construo da Nova Iugoslvia, no
Aps
Guerra, seria marcada pelo xito de um movimento democrti
co-militar, que se forjara e se organizara de forma signifi
cativamente autnoma ao esfro de resistncia e ataque da
Unio Sovitica as hordas hitlerianas. Alis, a Iugoslvia
e a Albania foram os paises da Europa Oriental que s,e liber
taram de forma bastante isolada em relao ao Exrc'ito Ver-
melho, que em outros casos chegou ate mesmo a conduzir no
seu avano os futuros lideres comunistas das naes que li-
bertava do nazi-fascismo.
A participao popular na formao e contro
le dos comits de libertao tinha acostumado os iugoslavos
a exercerem influncia nas decises das comunidades e mui-
tos lderes surgiram na esteira das cruciais decises deen
frentamento do poderoso inimigo e de construo de uma re-
ta.guarda organizada.
--
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
32/92
30
va na peninsula Balc5nica.
Quando o Exrcito Vermelho chegou a Belgra-
do, colaborando com a libertao da capital, j os comunis-
tas iugoslavos tinham adquirido um efetivo prestgio dian-
te das populaes dos territrios liberados, nos campos e
cidades, e exercitado uma prolongada atuao participatria
dentro do esquema de frente popular, bastante abrangente, a
ponto de somar diversificado conjunto de foras anti-fascis
tas.
Terminada, entretanto, a guerra de liberta-
ao, a necessidade de enquadramento no COMINFORM - o novo
rgo criado por STALIN para controlar a atividade dos par-
tidos comunistas, levaria a direo do PCI a abandonar o
comportamento da poca guerrilheria, partindo para a impo-
sio de um modelo burocrtico no estilo sovitico, com um
rigido.plano quinquenal, julgado necessrio ao reerguimento
do pais, bastante arruinado pelos combates.
TITO demonstra suficientemente bem essa op-
ao: O conceito do PCI sobre a edificao e o desenvolvi-
mento da Iugoslvia como pas socialista estava, no princ-
pio, sob o influxo da teoria e prticas soviticas( o que
era compreensvel nas condies ento vigentes .
(1)
(1)
Oh. 18, pg.
75.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
33/92
31
Havia uma L~periosa necessidade de traba1h~
pela rpida reconstruio nacional e o PC iugoslavo se orien
tava fortemente para a formao de uma base material, que
fosse adequada ao aprofundamento do modelo
socializante,
entao sujeito as presses dos elementos da burguesia,basta. .
te inconformados com as medidas do novo governo.
Como aconteceu de uma forma geral nos
. . . .
paJ.-
ses da Europa, que sofreram os devastadores efeitos da Guer
ra, o desenvolvimento material da Iugoslvia, no
perodo
1945/1949 foi invulgar~
J em 1948 a produo industrial alcanava.
150
em relao ao ano de
1939
(l]~A gesto estatal buro-
cratizada alcanava seu grande sucesso, superando as difi-
culdades da run~ das bases materiais causada pela ao mi~
litar.
Vencida essa primeira fase, comearam a se
fazer notar aspectos negativos da gestao econmica do pa--
is: cada vez se manifestava mais a deficincia em relao
eficcia e a racionalidade da produo material, a distri-
buLo e o intercmbio . t2>.
As distorses do burocratismo so bem colo-
cadas por TITO neste trecho: cada vez mais s manifestava
(1} Ob. 18,
pg
o. 76.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
34/92
32
uma certa indiferena do produtor diante do trabalho, por
no haver suficiente estimulo econmico, ao mesmo tempo, as
direes das empresas, nas condies da planificao admi-
nistrativa centralizada, comearam a ocultar as capacidades
reais das empresas, para realizar mais facilmente os planos,
sem ter suficientemente em conta nem o nmero de empregados,
nem a eficcia da produo . (1)
Essas Lnf Lunc .ascrrcer nas, que
-
transpare-
cem do discurso do lder iugoslavo, foram as decisivas no
sentido do rompimento com Stalin e as que levaram a Iugosl
via a uma via diferente daquela que vinha sendo seguida pe-
la URSS. Houve um ponto da relao russo-iugoslava em que
STALIN julgou rompida a cade .a de compLement.a ao da economi
ca sovitica formada pelos paises da democracia popular .A
Iugoslvia teria que ser submetida pela presso
po
l.Lt.Lca.pos
tencionava caminhar de uma forma demasiadamente autnoma o
que contrariava a poltica traada pela direo burocrtica
sovitica.
Aps um decisivo encontro com STALIN, TITO
revelaria a seguinte impresso: vi ento que aquilo se pa-
recia com a histria do lobo e do cordeiro, que turvava a
gua ainda que estivesse abaixo na corrente. Senti que alg~
(11
Oh.
18,
pg. 76
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
35/92
33
ma coisa nao ia bem . (1)
A expulso da Iugoslvia do COMINFORM se
consumaria em 1949 com uma enftica resoluo que declara-
ria entre coisas que o Partido Comunista da Iugoslvia est~
va cheio de assassinos e espies . O isolamento
iugoslavo
se tornava, assim, dramtico, de um lado o Ocidente natural
mente hostil a um regime comunista, de um outro o bloco de
paises do socialismo, seguidores fiiis da orientao do
Krem1im.
Naquele momento de ruptura, como reconhece
KARDELJ, quase nO existia:esfera da vida social do
. .
pa~s,
que nao estivesse submetida a administrao e direo es-
tatais.
Os regulamentos oficiais procuravam abran-
ger todo o agir humano.,
Diante das dificuldades impostas pela que-
bra dos laos com o COMINFORM, os tericos e dirigentes iu-
goslavos foram coagidos busca de modelos alternativos,que
permitissem sustentar o desenvolvimento socialista sem re-
verso ao estado burgues. A poca, registrou-se uma busca
e reflexo em trno das obras de MARX, ENGELS e LENIN, es-
tabe1ecidos como marcos para a soluo do conflito ideolgi
(2) Ob. 18, pg. 216.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
36/92
34
co, A anlise dos .textos clssicos, numa
y ; f J
\j
e / o
exegese
em
busca
de luzes, levou o PCI a ado.tar a deciso histrica de ini-
ciar a contenao do processo de estatizaaoem curso e de
abertura de um novo que corresponder ia a uma crescente par-
ticipao operria na direo das empresas.
A 27 de julho de 1950 foi aprovada pela As-
semblia Federal aLEI BSTCA SOBRE A GESTO DAS EMPRESAS
ECONMICAS ESTATAIS, que entregava a administrao dessas
organizaes aos trabalhadores, o marco inicial da luta pe-
la implantao da autogestao na Iugoslvia.Significativamen
te, por essa poca, eram abolidos cerca de 100.000
cargos
nas burocracias do Estado e do Partido.
Essa inclusaodo trabalhador na administra-
ao. das fbricas teve uma importncia histrica inegvel
para o soc .a
smo , No era uma concesso da burocracia do-
minante. Surgia em meio a uma crise econmica grave, que
afetava todos os setores do pais e gerava insatisfao ge-
neralizada. Era um primeiro passo num rumo, antes sonhado
pela utopia, em busca. do desconhecido.
Foram introduzidas inmeras reformas objeti
vando no s conter os privilgios burocraticos,mas, por ou
tro lado,visando ao alcance de acrscimos de produtividade,
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
37/92
35
com a diminuio dos elevados custos operacionais, que se
vinham verificando nas empresas industriais.
Foi abandonada a rigidez do estilo soviti-
co de planejamento centralizado. Decidiu-se que cada empre-
sa planejaria de forma mais adequada sua produo p~ra o
mercado, em relao a um planejamento estatal centralizado
menos rigoroso. Se proporcionaria, concomitantemente s em'
.-
..
presas, uma aprecivel capacidade de manipulao de seus
rendimentos liquidos. O processo de acumulao ampliada se
decidiria ao nivel de cada organizao econmica ..O desen-
volvimento iugoslavo estaria ainda submetido
coero dos
planos quinquenais
t
mas considervel liberdade operacional
era proporcionada as empresas .
o
prosseguimento do processo de transforma-
a.o do regime continuaria a se afirmar, com o importante VI
Congresso do PCI, que redefiniria o papel do organismo po-
lit,ico como fora ideolgica apartada do Estado. A nova LIa\.
se distnciava do partido no estilo stalinista para tentar
se parecer mais com a Liga.de Trabalhadores observada por
MARX, na I Internacional.
A FRENTE POPULAR, um aglomerado polltico fer
mado nos duros anos de guerra, transformou-se-em 1953 na
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
38/92
36
ALIANA SOCIALISTA DO POVO TRABALHADOR DA IUGOSLVIA , com
funes importante, de cunho poltico a nvel de cada orga-
nizao autogerida.
1953, ano da morte de STALIN, marcaria a re
tomada do crescimento econmico do pas, de forma acelera-
da. A prtica autogestionria comeava a responder positi-
vamente.
A implantao da autogesto nas f.bricas am
pliaria o debate ideolgico e uma crise de propores se ge
raria no seio da LIGA com as.propostas de MILOVAN DJILAS,rtern
oro da direO partidria
f
no sentido de que fossem abando
nados os postulados marxistas para a construo da nova so-
ciedade. O debate terminou com a expulso de DJlLAS. Cedia-
se ao temor de uma retomada do domnio classista ..
O vigoroso impulso no sentido da autogesto
soeLaL prosseguiria com a transfed~ncia de poder da Federa-
o para as Repblicas e destas para as comunas, rgos de
poder local a nvel de municpio~ que a partir de 1954 po-
deram participar com parcela pondervel dos resultados das
empresas localizadas em suas jurisdies.
Os acontecimentos da Hungria em
1956,
re-
sultantes da insatisfao do povo com os mtodos burocrti-
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
39/92
37
cos de gestao, ajudaram a reforar o processo de liberaliz~
ao iugoslavo. Em 1958 o Programa da LIGA colocava coisas
ainda mais surpreendentes como, por exemplo:
- . depois da consolidao do poder por
parte da classe operria e dos trabalhadores em geral, a
questo acerca da extino paulatina do Estado se apresenta
como o problema fundamental e decisivo do sistema social
socialista. Na esfera das relaes econmicas este processo
significa ao mesmo tempo um processo de superaao dos resi-
duos do capitalismo estatal , ..
E. defini.a o socialismo como sendo
. , o sistema social baseado na sociali ....
zao dos meios de produo
em que
O
pr odut O s oci al&ad:
mihistrado pela associao do s produtores diretos.
A
comemorao dos dez anos da lei de entre-
ga das fbricas ~ gesto direta dos operrios encontraria,
no entanto, uma participao estatal ainda bastante acen-
tuada na administrao da economia. A reforma que se
necessria para que a autogesto se aprofundasse na
ca foi realizada em 1961. Estabeleceu-se entre outras
fazia
prti-
coi-
sas importantes uma melhor distribuio dos rendimentos l-
quidos entre as empresas e o Estado - alem de 15% dos resul
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
40/92
38
tados liquidos podiam ser dispostos autonomamente pelas em-
presas. Os ganhos salariais ficariam, por sua parte, estri-
tamente condicionados aos ganhos d produtividade das orga-
nizaes econmicaas. Foram estabelecidas, tambm, as pri-
meiras medidas no sentido de estender a autogesto a outras
atividades, no econmicas. Comites seriam eleitos para ge-
rir fundos de organizaes da rea de educao e sade pu-
blica.
Em 1963, uma nova carta constitucional foi
proclamada, normatizando muitos procedimentos gerados pela
prtica da autogestao nas empresas. Nas assemblias das co-
munas#: foram criados os Conselhos Comunais, eleitos por to-
dos os cidados residentes e o Conselho das Comunidades do
Trabalho, eleitos pelos trabalhadores efetivamente ocupa-
dos .N~ Federao e nas Repblicas por suas constituies ~
ram criados os CnselhosEconmicos, de Educao. e Cultura,
de Assuntos Sociais e sade Pblica e o Conselho Poltico
de Organizaao, alem dos Conselhos Federal e das Nacionali-
dades, ele~tos pelas comunas e pelas assemblias das Rep-
blicas e Provncias Autnomas, respectivamente.
A participao da classe trabalhadora no
aprofundamento da autogestao parece ter sid crescente como
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
41/92
39
indicam os nmeros de ativa participaao nas assemblias. A
liderana estatal e a LIGA tim procurado estimular o avan-
o do sistema, ainda que dificuldades tenham sido registra-
das no relacionamento com estudantes e intelectuais, sobre-
tudo como resultante de velhos resquicios de divergincias en
tre os povos iugoslavos, ainda marcados por diferenas de
desenvolvimento no superados mesmo contando com o fato de
que grandes esfros tm sido realizados nessa direo.
A
Constituiaode
1974
representa o coroa-
mento da autogesto iugoslava como ela est sendo considera
da neste trabalho. ~ uma Carta longa e minuciosa. A
mais
longa do mundo de hoje, com
406
artigos. Declara em seu
prembulo - o direito
autogesto com base em que todo tra
balhador - igualmente com todos os outros trabalhadores-de-
ve decidir sobre s.eu prprio. trabalho e sobre as condies
e
resultados desse trabalho, no seu e no interesse comum,
orientado para o desenvolvimento social e exercendo o po-
der e a administrao de outras esferas da sociedadei (1J
Seu carter socialista democrtico se defi-
ne quando proclama-: o trabalho e os resultados dO traba-
lho determinam a posio material e social do Homem, na ba-
se de direitos e responsabilidades iguais (2). H evidin-
(11
Ob .
27,
pg.
14
(21 Ob. 15, pg. 12
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
42/92
4u
ciasde que at o presente a prtica no tem senao confirma
do em grande medida essa inten~o .
o
-.~.
-. :
'o
o~
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
43/92
41
v ,...
AS ORGANIZAES AUTOGESTIONARIAS
o sistema de autogesto na Iugoslvia est,
hoje, estabelecido em todos os pontos da sociedade .As ex
ceoes parecem ser a LIGA e o Exrcito, onde persistem es-
truturas burocratizadas, o que pode ser entendido como con-
sequ~ncia na primeira d_a
.manut.eno
do
pr
Lnc
Lp
Lo do
cencz-a
lismo democrtico , transformado nos paises socialistas em
centralismo burocrtico , j que h a persistncia da ten
dncia de controle da cpula por uma pequena camada, que se
prpetua usando frmulas diversas. No caso do Exrcito .se
mantm o principio de hierarquia, presente em qualquer cor
po militar.,
As entidades fundamentais do sistema de au-
togesto iugoslavo sao as Organizaes do Trabalho Associa-
do. Cada trabalhador' ao entrar no trabalho, de uma rganiza-
ao ou seja a partir do momento em que faz uso dos meios so
ciaisde transformao ou de prestaO. de servios, adqui-
re, tambm, o direito de gerir, livremente e em p de igual
dade com os outros trabalhadores, no s o trabalho da or-
ganizaao de que participa, mas ainda as atividades sociais
da mesma ..
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
44/92
.
42
Assim, constitui-se num direito e numa obri
ga~o, a participao dos trabalhadores nessas organiza-
6es. Quando determinado grupo de trabalhadores formar um
todo no sistema de produo e quando o produto gerado pelo
trabalho conjunto puder ser expresso como valor dentro da
organizao ou no mercado, haver condies para a formao
da organizao do i:rabalho associado.
Quando a empresa muito pequena nao se for
mam organizaes bsicas do trabalho associado, mas to so-
mente uma organizao nica participada por todos os traba-
lhadores da empresa. A maioria das empresas e entidades no
econmicas possuem organizaes bsicas, cuja existncia
tun
ca autonoma. Ou seja, elas se vinculam sempre organiza
o do trabalho associado,
De um modo geral, pode-se dizer que as or-
ganizaes bsicas se formam ao nivel das unidades de pro-
duo das empresas, como por exemplo os departamentos e se-
oes. Elas formam o alicerce participat6rio que leva, atra-
vs do sistema de delegados, os interesses trabalh~stas at~
a organizao maior.
A pratica da autogesto atravs dessas or-
ganizaes do trabalho associado, que vem se fazendo desde
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
45/92
43
1950 nas organizaes econmicas, e formalmente estabeleci-
da na Constituiio da forma seguinte:
O sistema scio-econmico socialista da
Repblica Socialista Federativa da Iugoslvia deve se ba-
sear no trabalho livremente associado na propriedade so-
cial dos meios de produo e na autogesto pelos trabalhado:-
resda produo e da distribuio do produto social'das
Or-
ganizaes bsicas e de outras organizaes do trabalhoas~
ciado e da reproduco social como um todo (1).
Essas organizaes do trabalho associado tm
condio de ampliar bastante o ambito de sua aao, alm da
empresa ou da institu:i:aoa que pertencem ..Existindo inter
l.i.gaoessob o aspecto de processo de produao ou de comer-
cializaao em determinadas condies~ pode ....e formar uma o~
gani'zao'c'orn:ple){'ao'trabalho associado.
As relaes internas e externas das organi-
zaoes do trabalho associado so normatizadas atravs de
acordos de autogest'o e estatutos. O papel regulamentador
do Estado fica dessa maneira minimizado, restringindo-se t
somente s linhas gerais de interesse social.
As decises so tomadas pelos trabalhadores
em a$semblias que se reunem de acordo com um periodicida
(11 Ob ~ 27 f pg ..O ..
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
46/92
44
de fixada previamente ou diante de casos extraordinrios.Es
sas assemblias de trabalhadores elegem o conselho dos tra~
balhadores, que
o mais importante rgo de gesto. O Con
selho estabelece o plano de trabalho da organizao, elegeg
do tambm o comit de direo da empresa. A eleio dos mem
bros dos conselhos de trabalhadores das associaes do tra-
balho sempre feita por sufrgio direto e secreto, com man
dato de durao no superior a dois anos. No conselho, tm
que ser representados elementos de todas as partes da orga-
nizao .Ningum pode ser eleito duas vezes consecutivas.
O rgo diretor da organizao eleito pelo conselho dos
trabalhadores em assemblia aberta, com participao mI.ni-
ma, fixada pelos Estatutos ,,'elo m'enos doist'eros do' c'omi.,..
t d, e ge st O d ev e se r co mp ost 'o 'd e' tr 'ah a' lh ado re 's 'i r'e 't am e'n 't e
v'i'rict'adosao'prOcesso de' produo ..
O status do trabalhador, com sua 'partici-
paao nas dec .ses de sua empresa, deixa de ser o de aasaLa
riado, sobretudo porque ele tem condies de influenciar na
determinao do resultado a ser distribuido entre os parti-
cipantes da organizao~ dispondo de meios paia
deliberar
sobre o montante de inverses de cada exercicio. Os
ora-
~entos das empresas iugoslavas no sofrem qualquer interfe-
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
47/92
\
45
rncia do Estado na sua elaborao.
Os rendimentos dos trabalhadores so deter-
minados ap6s a apurao das vendas ou entradas, diante dos
custos de produo, inclusive depreciao. Os recursos para
a acumulao ampliada sao decididos de forma harmnica com
o PLANO SOCIAL, documento quadrienal que estabelece as gran
des. met:as
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
48/92
46 '
nai.sque reunem trabalhadore~ de organizaes~ que prestam
servios de interesse geral para as populaes e os cliente
desses servios, geralmente os trabalhadores, atravis de
suas organizaoes do trabalho associado.
Decises relativas a educa.o,cincia, cul
tura, sade e bem estar sao estabelecidos de forma coleti-
va nessascomunidades, atravis de assembliias de delegados.
Ainda sem funoes polticas definidas, se
formam:comunidades 'locais
a nvel de bairros e pequenas vi
las rurais para discutir assuntos de interesse local, que
se formalizam nas normas de ao coletiva e que nas assem-
bliias se determinam. Muitas dessas prticas e outras su-
gestes so t.raz.daapara conhecimento da COMUNA, a.menor
cilula poltica do paIs~
A COMUNA a entidade sacio-poltica bsi-
ca ..Nela o traba.lhador e . representadoatravs de seus dele-
gados nos trs conselhos que a comp6em ....o Con'selhs'cio-
PoltiCO, formado pelas organizaes partidrias, o Conse-
lho do Trabalho ASSOCiado, formado pelos delegados das or-
ganizaoes autogestoras do trabalho e'o Conselho das Comuni
dades Locais, constituido por representantes eleitos por
essas entidades.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
49/92
47
As Comunas decidem sobre os interesses ge-
rais dos trabalhadores e didadios que residem e trabalham
nas suas reas territoriais. Possuem autonomia financeira
e de deciso, dentro de limites fixados pela Constituiio.Rea
lizam O exerccio do poder a nvel municipal, elegendo um
comit executivo e demais rgos administrativos e judici-
rios.
No dizer de Edvard KARDELJ, fiaComuna e a
forma e o instrumento de urnademocratizaao efetiva da deci
so social e poltica . (1)
Acima das Comunas o sistema scio- poltico
da Iugoslvia se estrutura nas repblicas federadas e nas
provncias autnomas. A existncia da federao iugoslava,
na forma como est assumida( e resultante do longo processo
de
dom.nao
que os eslavos sofreram nos Blc's, que
lhes
.foram impondo caracteres diferenciados, alm de invasoes do
territrio por povos limtrofes. A Constituio estabelece
que: liARepblica Socialista Federativa da Iugoslvia, es-
tado federal com a. forma de urna comunidade estatal de na-
es voluntariamente unidas. e suas repblicas e provncias
socialistas autnomos,do Kossovo o da Voivodina, que
~
sao
partes da Repblica Socialista da Servia, baseado no poder
(11Ob. 7, pg. 150.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
50/92
e na autogesto da classe trabalhadora e de todo o povo tra
ba Lhado rc.
ao
me.smo
tempo uma comunidade democrtica auto-
gestionadado povo trabalhador e dos cidados e de naes e
nacionalidades com direitos iguais . (1)
Apesar da definio constitucional, a Iu-
goslvia com suas seis repblicas revela
.d
.apaz Ldades de de-
senvolvimento, que coloca em dvida a igualdade proclamada.
. .
- -
As provncias autnomas, encravadas no territrio da Sr-
via, so reas onde
h
forte presena de hngaros, na Voivo
dina, e albaneses, no Kossovo, nesse ltimo caso atingindo
cerca de 73% da populao da regio. Muito embora sejam ga~
rantidos direitos iguais a todos os residentes, tem aconte-
cido frequentes atritos com relao a participao nos
or-
gaos governamentais. Os albaneses tm reinvidicado o st.a+us
de repblica para o Kossovo.
O rgo poltico maior de cada repblica iu
goslava e tambm das regies autnomas
a assemblia. for
mada por trs conselhos: o Conselho do Trabalho Associado,
eleito pelos conselhos dos trabalhadores nas comunas,O Con-
selho das Comunas,eleito pelas assemblias comunais e o Co~
selho Scio -pOltico eleito pelos conselhos do mesmo tipo
nas comunas. A assemblia da Repblica ou Provncia Autno-
ma elege o Conselho Executivo, os rgos
administrativos
(1)
Ob.
27,
pg.
28.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
51/92
49
e judicirios, alm da Presidncia colegiada.
As duas cmaras da Assemblia Federal da
Repblica Socialista Federativa da Iugoslvia sao o CONSE-
LHO FEDERAL, constitudo por delegados das comunidades e or
ganiza6es autogestionriase organizaes polticas, que
se forma com 30 delegados de cada repblica e 20 de cada
regio autnoma e o CONSELHO DAS REPBLICAS E REGIES
AUTO
NOMAS, que se forma por delegados das assemblias daquelas
unidades federadas, cada repblica enviando 12 delegados e
cada regio 8 delegados.
A
Assemblia Federal incumbe entre uma s-
rie de prerrogativas eleger o Conselho Executivo Federal,os
rgos administrativos e judicirios federais, alem da PRE-
.SID~NCIA da REPUBLICA. Es.ta um rgo coletivo; com um re-
p~esentante de cada repblica federada e de cada regio au-
tnoma, eleitos pelo perodo de cinco anos. O Presidente e
o Vice- presidente da rugoslavia exercem seus mandatos por
um ano, fazendo-se o rodzio entre seus membros de
acordo
com normas prprias,
Os rgOs judicirios da Iugoslvia sao tri
bunais regulares, tribunais autogestionrios e
Existem tambm tribunais constitucionais.
militares.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
52/92
50
\ 0
c i o t
com o escopo de manter os princpios fundamentais do
A presena de uma ~j_u_s_t_l_.a_u_t_o_g~e_s_t_i_o_n_a_
socia
lismo iugoslavo, funcionando em todos os nveis, a partir da
comuna, garante a possibilidade de defesa dos direitos dos
trabalhadores autogesto de suas organizaes com a manu-
teno da propriedade social, patrocinada por advogados per
manentes da autogesto, chefiados por um procurador-geral.
o detalhame.nto do mbito de atuao de ca-
da dessas organizaes autogestionrias desde a fbrica ate
os conselhos federais foge s caracteristicas deste traba-
lho. Vale ressaltar, por~( que muito embora possam na pr-
tica fugir as caracteristicas democrticas e participativas
como foram cri.ados f tm cond..cs de oferecer um campo .de
ao social bastante aberto, com possibilidades
reduzidas
de crescimento do apar-at.oburocrtico ( notadamente com a
atuao do sistema de delegao ..
I m U O T E C K R L B O E D E C i E
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
53/92
51
VI - O SISTEMA DE DELEGAO
O alicerce fundamental da democracia socia-
lista iugoslava est no sistema de delegaes que funciona
em todas as organizaes. autogestionarias. A saa compreen-
sao e anlise se afigura como fundamental para a avaliao
da legitimidade operacional da autogestao, como vem
sendo
praticada e proclamada pelos lideres e idelo_cos do pais.
Edvard. KARDELJ afirma que--
II
o
sistema de de-
legao i a caracteristica essencial da democracia socialis
ta autogestionria 11
(l)
Tambim Miodrag ZECEVIC acompanha o pensameE,
to de KARDELJ no sentido de enf at.Laa r a importncia do sis-
tema delegatrio: o sistema de delegao constitue a base
de todo o sistema de democracia socialista autogestionaria
que se desenvolve na Iugoslvia . (2)
O ncleo desse sistema de delegao
na interrelaao entre os trabalhadores e cidadaos e
est
seus
delegados aos rgos colegiados. Diferentemente da democr~
cia representativa clssica em que os representados
ele-
gem deputados com mandatos estabelecidos por um prazo,ina, .
tervel, o sistema delegatrioforma-se com representantes
cujos mandatos podem ser revogados a qualquer momento a
(1) Oh. 6, pg o 176 o.
(2) Ob. 23,
pg. 6/7
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
54/92
52
critrio da base eleitora. e, o mais importante, que perma
necem vinculados a suas atividades originais.
Os iugoslavos se reportam a MARX para jus
tificar a natureza socialista democrtica do seu sistema de
delegao: liAcomuna era composta de conselheiros munici-
pais eleitos por stifrgio universal nos diversos distritos
da cidade. Eram responsveis e substituveis a qualquer mo-
mento. A COMUNA devia ser, no um rgao parlamentar,mas urna
corporao de trabalho executiva e legislativa ao mesmo tem
po el). A COMUNA DE PARIS havia tentado superar a represen
tao poltica das assemblias burguesas.
A Constituio iugoslava estabelece as ba-
ses do sistema delegatrio, cujas caractersticas
princi-
pais podem ser assim resumidas:
I} Nas organizaoes do trabalho associado,e
nas comunidades autogestoras, atravs de votao secreta e
direta sao eleitos determinados grupos para formar as DELE
GAES ..
2} Os componentes dessas DELEGAOES
conti-
nuam no exerccio de suas funes ou seja, vinculados
bases que o elegeram de forma direta e contnua.
. . .
as
31 o DELEGADO tem um per iodo de mandato de ....
(1)
Ob.
11,
pg.
197 ~
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
55/92
53
finido, mas pode ser destitu.do a qualquer tempo pela assem
blia da organizao ou comunidade.
4) As delegaes so obrigadas a prestar con
ta de suas atuaoes perante as assemblias, sempre que isso
vier a ser exigido.
5) Ningum pode ser eleito para formar uma
delegao de uma comunidade scio-poltica ou de interesses
sociais, se no tiver sido escolhido para uma delegaao nas
organizaes de base.
6} Ningum pode ser eleito delegado por duas
ve zes c ons ecu tiv as.
7).
As DELEGAES formam por eleio as as .
semblias polticas da IugOSlvia, alm das repblicas fe-
deradas e provncias autnomas.
E1;llez de deputados clssicos, que
repre
sentam os partidos poli.ticos, ns temos no nosso sistema de
assemblia as delegaes das comunidades de interesses au-
togestionarios, que, essas sim~ representam o HOMEM REAL,por
tador de interesses concretos, pessoais e sociais . (1)
A atuao desses sistema delegatrio, onde
o delegado est~ sob permanente contato e influincia da base
pode permitir de forma eficaz que se no desenvolva a buro-
(1)
Ob.
6,
pg.
178.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
56/92
54
qratizao das decises, muito embora se possa imaginar qUe
medida que se alcance nveis mais altos dentro do quadro
politicb venha a enfraquecer sobremodo a fora dos delegan
tes das organizaoes bsicas do trabalho e comunas.
Uma democracia real tem, no entanto, condi
oes de um substancial aperfeioamento pois,diferentemente
da
representao clssica onde se outorga plenos
poderes
aos deputaios para representarem de forma-genrica os inte-
resses de suas bases, no sistema de delegaao iugoslavo:: as
situaes e problemas so decididos em contactos permanen-
te com as bases autogestoras e o indivduo ~e mune de ins-
trumentos capazes de permitir aquebra da alienao, que,
evidentemente, ainda pode permanecer em grande extenso nas
imperfeies do sistema des~e tipo.
Na eleio dos delegados aos conselhos das
assemblias, reafirmando sua caracterstica.:' de ditaduracb
proletariado atua basicamente a ALIANA SOCIALISTAi parti-
cipada tambm pela LIGA e SINDICATOS, que forma as listas
de candidatos. As foras armadas tambm tem condiao de no-
mear delegae~.
Efetivamente s uma anlise mais minuciosa
poderia avaliar o grau de influncia dessas organizaes na
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
57/92
\
. \,.
55
atuao das delegaes, onde poderia se desenvolver a aao
de foras burocriticas.
- . . ; .
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
58/92
56
VII - O PAPEL DA LIGA DOS COMUNISTAS.
Nos pases onde a revoluo anti- capitalis
ta teve sucesso, esse movimento social foi conduzido,dentro
da concepo leninista, por uma pequena elite de revolucio-
nrios profissionais, bem treinados na atividade
poltica
clandestina que deveria cumprir seu papel de vanguarda dos
trabalhadores. Essa elite de revolucionrios se.
agrupava,
evidentemente, nos partidos marxistas, estruturados de for-
ma quase militar, obedientes a uma chefia, dentro
daquilo
que ficou conhecido como centralismo democrtico , e que
teve entre outros subprodutos o reino do terror sob STALIN.
O socialismo, que veio a ser buscado por
.aqueles pases, ficou marcado por um estrito controle do
Partido sobre a mquina governamental, .gerando-se uma in-
teira simbio-se entre a organizao poltica e o ..aparelho
estatal. Na Iugoslvia, h.oje, percebe-se uma significativa
diferena em relao quele modelo, com a atuao diferen-
ciada da LIGA, sucessora do PCI, em relao aos outros PCs
no Poder.
KARDELJ
bastante categrico ao afirmar- :
Quebramos a seu tempo - e com muita razo, de resto, a u-
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
59/92
57
niao pessoal do aparelho do Partido e do Aparelho do Esta-
do, porque essa unio era uma fonte de burocratizao da
sociedade e do prprio Partido Comunista . (1)
O
mais recente programa da PCI, aprovado em
1977, expressa a situao atual da organizao da seguinte
forma:
-liA Liga dos Comunistas da Iugoslvia vai
deixando-de ser um fator de poder e convertendo-se em um
fator de formao e de desenvolvimento da conscincia, socia
lista das massas trabalhadoras, que participam diretamente
no poder e atuam de acordo com seus interesses mateirais,e~
pirituais sociais .
(2)
Esse papel do Partido, divorciado do Poder,
ainda que de forma relativa, decorre de todo um processo,his
trico. A atuaao dos comunistas iugoslavos, desde a funda
ao do PC ati o presente, conseguiu captar para a organiza-
ao um prestgio que lhe permitiu agir com um expressivo
grau
de flexibilidade, diante da realidade pOltica do.pais em
mudana.
A receptividade da hoje LIGA dos Comunistas
tem sua raiz no perodo compreendido entre as duas grandes
guerras mundiais, quando a Iugoslvia foi atingida,no so
pela ao blica destrutiva, mas tambm pela ao poltica
I(1) Oh 6, pg. 2O 3
(2) Oh. 24,
pg.
245.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
60/92
58
das grandes pot.encLaa no jogo de poder da Europa ..
Em 1920, o Partido Comunista, recm surgido
de alas dissidentes de pequenos partidos social- democratas
obteve nas eleies gerais, realizadas para formao da
Assemblia Constituinte, cerca de 14% dos votos, ficando no
terceiro lugar na concorrncia com outras agremiaes pol-
ticas, e, conquistando 59 cadeiras no Parlamento. Esse re-
sultado, considerado expressivo, foi obtido no obstante a
agressiva campanha movida contra a militana comunista pelo
governo do rei Alexandre, representante da oligarquia agr
ria e da pequena formao burguesa srvia.
A boa performance do pcr explicada pelos
mritos de seu posicionamento neutro em relao s
velhas
divergncias de natureza tnica, bastante acesas entre os
eslavos meridionais. Muitas minorias nacionais
habitantes
do territrio iugoslavo e outros povos subjugados pela do-
minao srvia, provavelmente enxergavam rio pcr e em seus
lIderes, agentes politicos capazes de expressar com adequa
ao seus interesses sem favorecimento em qualquer uma des-
sas populaes.
Referindo-se a situaao politica da rugosl
via nesse perodo sucedente r Guerra, RusrNOW
confirma
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
61/92
59
essa posiao vantajosa dos comunistas: Em tal situao to-
dos os partidos pollticos de expresso eram partidos tni-
cos, exceto o iniciante Partido Comunista, pan-iugoslavo
' 1 C I . )
Outro ponto de apoio que colaborou na rpi-
da ascensao dos comunistas foi a grande atuao e conseque. .
te respaldo que lograram atingir nas restritas camadas de
intelectuais e de universitrios da Iugoslvia de ento.
Contudo, se as coisas corriam de forma favo
rvel para o PCI e lhe permitiam exercer influencia na vida
polltica do pais, motivavam, por outro lado, o medo das clas
ses,dominantes e, consequentemente, a ao repressora do
governo real, que se fez presente logo aps a publicao
dos
resultados eleitoris. O p c r foi colocado na clandestinida
.de e uma pesada ao policial comeou a se desenvolver so-
bre seus quadros. Muitos militantes foram assassinados nas
prises. Sindicatos proibidos de funcionar. Parlamentares co
munistas cassados em seus mandatos recm-outorgados.Susten-
tao da hegemonia srvia a ferro e fogo.
Durante todo o perodo de 1920 at a II
Guerra, o PCI seria vitima de sistemticas persegui6es e
ficaria na clandestinidade, mas de modo nenhum inativo.
Josip Broz, j conhecido pelo'apelido de TI
(1) Ob. 14, pg. XVII
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
62/92
60
TO, era ento um apagado IJIilitante,chegado a pouco da Fren
te Russa, com passagem pelas prises inimigas como soldado
do Exrcito Austraco capturado e ligeiro treinamento pol-
tico no Partido Bolchevique, hi pouco alado ao poder. Vol-
tara a seu pas croata como um simples opeririol nessa con-
dio, iniciando uma difcil atividade sindical, notadamen--
te em Zagreb e adjacncias.
A estruturao do PCI, apesar do nus da
clandestinidade e das ativas perseguies pOliciais foi con
tinuando a se aperfeioar e a se estender por toda a Iugos
lvia, sob a eficaz bandeira da igualdade dos povos e nacio
nalidades que viviam no territrio nacional.
A invaso dos exrcitos nazi-fascistas se
defrontaria com um govrno dbil, uma burguesia srvia po~
co interessada em cOmbat-la, contrastando com um partido' co
munista motivado para a resistncia, desde a primeira' hora.
A dissoluo e fuga do governo real para o
Exterior, apos tentativa frustrada de negociar com os
agressores, viabilizou ainda mais a ao do pcr em todo o
pas e ampliou seu bom conceito entre o povo iugoslavo.
recrutamento de partisans , nos campos e
nas cidades, seria feito sem consideraes de-ordem tnica
ou nacional e.superando ademais, a condio de classe de
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
63/92
61
cada recrutado que voluntariamente buscaria se organizar
com outros para a penosa resistncia prestes a ser comeada
Comits de libertaao nacional foram sendo
formados por toda a Iugoslvia. Os destacamentos ''partisans'',
basicamente comunistas, tomaram a cada espao liberado a ini
ciativa de estabelecer de forma mais ou-menos autnoma r-
gos provisrios para exerccio do poder poltico, o que
foi- feito' sem referncia a um centro negemnico.
A organizao. capilar e prestigiada dos co-
munistas iugoslavos, sem dvida, proporcionou a vitria e
sua asceno ao poder em nvel nacional, virtualmente sem
.contar com ajuda externa expressiva.
A luta guerrilheira ao temp~ em que retem ...
perava a hab
.L
dade ma rc .aL do povo iugoslavo, o habituava
;.
prtica da democracia direta que tinha que se desenvolver eo
curso dos combates e.na sustentao das condies de
das zonas liberadas.
Os. guerrilheiros chetniks comandados por
MTHATLOVITCH, desprovidos 'da coeso. ideolgica e da organi-
zao comunista, perderiam rapidamente sua capacidade de
vida
ao contra o invasor, resvalando para tentativas colabora-
cionistas, que legitimando ainda mais a ao comunista
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
64/92
,
, ,
62
sempre firme e obstinada, diante dos exrcitos estrangeiros
~
em aao no pal.s.
A luta cruenta contra o nazi-fascismo seria
conduzida ate o fim pelo. PCI e seus partisans
ll
O poder po
ltico seria alcanado num quadro de quebra da dominaaotur
guesa e de ruria econmica. Da fase IIguerrilheira passaria
o PCI, reforado pelo apoio mais largo da Frente Popular pa
ra sua-fase administrativas .
A figura de TITO, glorificada peLo carisma
das vitrias contra os invasores, que comandara de forma
brilhante, emergia para o comando politico nacional com o
decidido intento do seu Partido e da FRENTE de transforma-
rem a sociedade iugoslava.
Nas eleies realizadas logo aps a Liberta
o, alI de Novembro de 1945, para.formaao da nova Assem-
bl.ia Constituinte, os candidatos pr-socialismo, agrupados
sob a liderana comunista na FRENTE POPULAR, obtiveram a
vitria por grande
maLoz La
sobre os' dbe.is agrupamentos po
ltticos da destroada burguesia e oligarquia agrria, viabi
lizando, assim', a proclamao da repblica popular 11
Galgado o poder( aos comunistas iugoslavos
se abria o desafio da reconstruo do pas, tarefa que se
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
65/92
63
complicava diante da concomitante exigncia de formar uma
nova vida social. A idia da autogesto, se existia impli-
cita na mente dos que fizeram a dura luta partisan , nao
se ekpressava como forma de organizao, que pudesse per-
mitir a superao das dificuldades daquele momento cruciaL
O sistema centralista de administrao, vigorante na URSS
e consagrado pelo vertiginoso avano material proporciona:-
do pela aplicao-dos planos quiquenais, -ao lado da capa-
cidade de mobilizao dos exrcitos eda populao para
histrica vitria contra o hitlerismo que proporcionara
a
,
foi tomado como nico caminho capaz de garantir a sobrevi-
vncia do regime que se inaugurava na Iugoslvia. A demo-
cracia partisan era sacrificada em beneficio da forma-
ao de uma mquina estatal burocrtica. Programava-se um
desenvolvimento econmico que se integrasse com o da URSS
e que reconstruisserapidamente o pais.
Grande nfase passaria a ser dada a ativi-
dade de organismos' como a policia politica e secreta, ao
exercito e ao aparelho burocrtico do prprio PCI.Dogmati~
mo stalinista e culto
personalidade de TITO
vam a cena iugoslava no aps. guerra at 1948.
Duas foras passariam a ameaar o socialis
acompanha-
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
66/92
64
mo iugoslavo: uma interna, a burocracia iniiante que se as
senhorava do poder, aumentando seu nivel de vida em rela-
o s massas e distanciando-as das grandes decises nacio-
nais; -outra externa, o stalinismo, desconfiado da aao de
um PC, que. pouco contara com as .baionetas d Exrci to Vermelho
para chegar ao Poder.
A contrapartida dessas foras se faria sen-
tir na pressao das bases: Observou-sercada vez
maior, a indiferena dos produtores em relao ao
em grau
traba-
lho, cresceram os custos de produo, decaiu a
qualidade
dos produtos e diminuiu sua variedade, enquanto a circulao
como fase importante da reproduo social foi levada a in-
terrupes absurdas etc. diz BlLANDZIC.
(1)
...ambm no seio da direo do PCI, corno ex-
prime TITO j~ revelndo sua inteno de mudana de rota em
relao ao que lhe era imposto pela cartilha de STALIbT e do
COMINFORH: O ataque ao p r representava o primeiro confli
to aberto entre
o
conceito burocr~tico do estado socialista
e as vias de desenvolvimento do socialismo no mundo, que
havia se edificado na Unio Sovitica, sob a direao de
STALIN - que, diga-se de passagem, de modo nenhum r esuLt.ouso
mente
de
um ~culto personalidade - e uma abordagem anti-
(1) os.7, pg. 22.
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
67/92
65
dogmtica e democrtica um conceito humano da sociedadeso
cialista, que se havia manifestado j antes e, sobretudo,
depois da Guerra na atividade do Partido Comunista da Iu-
goslvia- .
U 1
A presso ideolgica contra o PC iugoslavo
culminaria com a referncia do COMINFORM quando da expul-
so daquele, em 1949, de que. o PCI era um ninho de assas-
sinos
e
espi'es a servio de --overnos capitalistas.
O rompimento com o stalinismo e com STALIN
deixava o Partido diante de urna exigncia fundamental: a da
procura de uma forma de ao politica, que renovasse sua
fora de modo a viabilizar urna superao do desafio forma-
do.
E
a opo teria que ser, forosamente, pelo lado de uma
maior democratizao das organizaes econmicas, que lhes
restaurassem a eficincia opercional, mediante urna maior
e mais interessada participao, de seus integrantes.
O experimento iugoslavo com seu caminho
independente e novo para o socialismo, era fruto da neces-
sidade, no da convico ,
(2)
observa Rusinow, de forma cri
tica.
O prprio Partido se obrigava a conter o
dogmatismo vigente, a se tornar mais flexivel.e tolerante
(1) Ob. 7, pg.
22
(2)
Ob.
8
pg. 83
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
68/92
66
diante de pontos de vista discordantes.
A represso do estatismo burocrtico em be-
nefcio de um sistema de autogestao social, inicialmente cir
cunscrito, e de forma limitada, s fbricas, foi a resultan
te do desligamento da Iugoslvia do bloco de paises, que
compunham o COMINFORM, e seguiam obedientemente as diretri-
zes de STALIN.
A nova concepao -acerca do papel do Partido
foi revelada no seu VI Congresso, reunido em novembro de
1952 -
o Partido deveria separar-se do Estado e da tomada
de decises do dia a dia politico, continuando, porm, a
atuar como uma fora de liderana poltica e ideolgica .U)
Como um simbolo da mudana que se pretendia
operar;a denominao do Partido passou a ser LIGA DOS COMU-
NISTAS DA TU,90SLVIA, por indicao de Milovan Djilas,
com
/
o objetivo de estimular uma identificao, a maior possvel,
com a LIGA da qual MARX fez parte - a I Internacional.
Naquela histrica reunio partidria ficou
tambm assinalado que
lia
obrigao e o papel dos comunistas
era pOltico e ideolgico, no trabalho de educar as massas'~
(2) A
nova LCI procurava um campo de ao que no lhe dava
o comando da vida econmica do pas, nem do Estado, por seu
(1) Ob. 14, pg. 73.
(2) Ob. 14, pg. 75 ..
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
69/92
67
'aparelho administrativo, mas permitia influenciara vida so
6 i ~ i
pelo trabalho subjetivo.
Renunciando a seu papel de dirigente da
vida nacional o partido 'comunista tornava-se o animador mo-
desto, mas o mais importante da vida nacional . (1)
Em consonancia com as novas funes da LIGA,
fora das organizaes scio-polticas, a nao ser pelo aspec
to ideolgico, um papel especial foi determinado para a
FRENTE POPULAR. No IV Congresso dessa organizao, onde par,
ticipavam milhes de cidados,. muitos no comunistas, mas
partidrios do socialismo como forma de vida mais democrti
-'ca, mudou +se tambm seu nome para' AL'IANA'SOCTALISTA DO' PO-
, VO TRABALHADOR DA' IUGOSLVIA . Era final de inverno em 1953.
Estruturava-se uma 'audaciosaexperiencia poltica,. sem mo-
delos mais prectsos que asrp,idas referencias de MARX a
Comuna de Paris.
O' impulso econmico da Iugoslvia,. obtid
nessa fase, foi atribudo a serie de medidas que liberaram
as organizaes do controle centralizado do Partido. No en-
tanto, esses procedimentos seriam refreados com as medidas
disciplinadoras tomadas contra Nilovan OJlLAS, uma dos Se-
cre,trios da LIGA, que avanara. demas .adamerrt.e propondo o
u: os ,
17
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
70/92
68 ~ I
.P
I
~
ASSEI:vlBLIA
I?
Presidncia
da
sidente
da DA R.S.F.Y.
R.S.F.Y .
.F. Y .
I
de:e~, ,so
< I
J
.Id~~
-~~
vQ
- ;~W lt
_ P c: c e
~ - - ~ - I
2
CI
L. lav()....
+
Repblicas
onselho ~ . Conselho
das
-
Federal e Provncias
~
. . .
1
o~
,
I
,
ir\
. / JJ.
...J
rgaos
Conselho
rgos
dministrativos
Executivo
Judicirios
ederais
'-:.
Federal
Federais
~ ;lfl :.-. .c .AJ.o lu,;-ciopoltico
I
Conselho do
Trabalho Associado
J
Conselho das
Comunas
1 ASSEI:v1B~IADA \
I
I
b. J
,}. :-P
[com, t Executivo
. ~ _ L .
I L
COMUNA lL-,c;::o=m:;:u:;:n=a=l=:;
- I I ~
r
i 1 1
iL-----.----L:::::::+::=: ~1(Orgaosdministrativos
I
~a comuna .
I
I ~
I
lrgos judicirios da
J
I -~ ~
Icomuna
I I .~--~~~--------------~
onselho ~ Conselho do '-'
1
Conselho das \
::>ciopoltico Trabalho Associado lcomunidades locais
. . l a - . . . . .
1 1 ~ r l _ _ _ ~ _ _ _ _ _ ~ 1 T f I ~
81egae~ das Delegaes das [Delegaes das comun~
rganizaoes i organizaes aut~ dades locais
::>ciopolticas : gestoras de base
h ~ J ~ ~ ~ l t
1
II
Organizaes aut~ Comunidades
gestoras de base locais
rganizaes
ociopolticas
-
7/17/2019 A Autogesto Iugoslava
86/92
84
Explicao do grfico da pgina anterior.
o
Sistema de delegaao que
fundamento
da
aut.oq
es
t.o
iugoslava funciona atravs das
as
semb
L .as.Co
mo se pode vr pelo grfico, de baixo para cima, as organi
z ae s s c io po lt ic as < . a LCI, A ALIANA SOCIALISTA,os SIN
DICATOS, a UNIO DA JUVENTUDE e a UNIO DOS EXCOMBATENTES)
elegem suas delegaoes a nivel municipal, mesmo fazendo
as organizaoes autogestoras de base e as comunidades lo..,..
cais. Formam-se assim trs conselhos, o Scio.,...politico,
do Trabalho Associado e
das Comunidades Locais que com-
pem, por sua vez, a.A.ssemblia da Comuna. Essa elege um
Comit Executivo Municipal, rgaos ..dministrativos da co ....
muna e tambm seus rg'os judicirios ..
As assemblias das comunas participam da
eleio,. atravs de delegados, do Conselho Federal, uma
das cmaras da Assemblia da Repblica Socialista Federa-
tiva da Iugoslvia ..Mas