A Cabala Do Dinheiro

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A CABAL DO DINHEIRO (Sintese) Rav Nilton BonderSUMRIO I - PARNASS A CABALA DO SUSTENTO.....................................9 Pr-Requisitos do Guesheft (Negcios)...................14 Dinheiro Real (Nefesh Chayah)...........................17 Voto de Riqueza (Ishuv Olarri)..........................21 II - OS LIMITES DA RIQUEZA Limites da riqueza......................................25 Limites do Tempo - A Cigarra Tinha Razo(B'Tul Zeman)...29 Limite Ecolgico ou Espacial............................33 Moishe, o Cabalista, e o Sustento.......................37 III - ACUMULANDO RIQUEZASAcumulando riquezas noutros mundos......................43 A Cabala e os Ciclos da Riqueza.........................44 Por que eu no tenho....................................53IV - RIQUEZAS PELO QUE NO SE TEM Riqueza pelo que no tem................................57 No-Roubo...............................................62 Roubo de Tempo..........................................64 Roubo de expectativa....................................67 Roubo de iformao......................................70Roubo de Prestgio .....................................74 Tsedak - Aparando Resqucios roubo.....................76 Tsedak como Terapia; Tsedak como "business")..........81V - RIQUEZAS POR TER-SE MENOS Riquezas por ter-se menos...............................89 Reconhecendo a Hospitalidade (ecologia).................90 Presentes e gorjetas....................................95 O Bolso - A Fronteira...................................97 Aprendendo com o Ladro(mau impulso) de cada um de.....102 Propriedade............................................106VI - QUESTES PRTICAS DA RIQUEZA questos prticas da riqueza no mundo de assiyah........111 Por que os Rabinos entenderiam de dinheiro.............112 Aprendendo a Perder - Ierid Tsorech Ali Hi...........115 O Que Pedir?...........................................120 Loteria e Milagres no Sustento.........................125 Sociedades e Contratos.................................128 Dvidas................................................133 Emprstimos e Juros....................................135 Negcios Reais.........................................140 Preos e Lucros........................................142 Dinheiro e Preos Negativos............................145 Competio.............................................152VII - AGENTES DA PARNASS DO SUSTENTOAgentes da parnass do sustento........................155 Maz'l (Sorte)..........................................156 Evocando a Sorte.......................................160 Melechim (Anjos).......................................162VIII - EMPECILHOS RIQUEZA Empecilhos _a riqueza (o sitra Acha)..................167IX - A MORTE E A RIQUEZA Deste mundo nada se leva..............................175X - DINHEIRO NO MUNDO Dinheiro no mundo Vindouro............................181 Referncias Bibliogrficas............................189I PARNASS A CABALA DO SUSTENTO Como parte da trilogia "A CABALA DA COMIDA", "A CABALA DO DINHEIRO" e "A CABALA DA INVEJA", este segundo volume trata primordialmente da relao do indivduo com o seu mundo e o sistema de valorao do universo que o cerca. Inspirado no ditado judaico "De trs maneiras um homem conhecido: por seu COPO, por seu BOLSO e por sua IRA" (KOSS, KISS VE-KAASS), estaremos aqui abordando o BOLSO (KIS-S) e o quo reveladora nossa atitude para com ele. Em todo BOLSO surgem questes de sobrevivncia e suas fronteiras - do excedente, da posse, do poder e da insegurana. Diz esta mesma tradio: "O mais longo dos caminhos o que leva ao bolso". No h meios d e chegar ao bolso sem uma reflexo sobre a vida e seu sentido. Nossa relao com o bolso reveladora de quem somos e onde estamos neste imenso Mercado de valores que a re alidade. Nesse sentido, novamente, a tradio judaica tem muito a contribuir. Famosos de form a caricata por seu amor ao dinheiro, os judeus viram seus patriarcas (Abrao, Isaac e Jac) tornarem-se protagonistas de piadas de avareza e voracidade; tiveram a ttulo de z ombaria seu smbolo mximo de impureza, o porco, elevado categoria de companheiro maior atravs docofre em forma de porquinho; e ganharam longos narizes para farejar e orient-los nos esgotos do subsolo dos sistemas financeiros. Sem querer entrar em consideraes apologticas, que levariam, com certeza, exposio da parcialidade do autor, gostaria de convidar o leitor instrudo nos caminh os deste mundo a compartilhar de uma reflexo mais objetiva e menos julgadora. Falo ao leit or que reconhece que muito alm das classificaes de bem ou mal a experincia humana marcada pela constante correo de nossas intenes na medida em que estas se concretizam em con tato com a realidade. Nossa capacidade de transformar esta experincia em cultura e tra dio e exp-la de tal forma a permitir uma crtica intergeraes, formadora que da moral e da ti ca, possibilita aos seres humanos o autoconhecimento de sua humanidade. Neste sentido os judeus so imprescindveis na memria e experincia do Ocidente. Sobre eles projetaram muitas das fantasias coletivas deste Ocidente. Muitas das vivncias sublimadas e contidas pelo indivduo civilizado tomaram forma neste "outro". Outro que pareceu exorcizvel e que talvez s no tenha sido a partir da conscincia de que o fim do problema-judeu era tambm o fim da soluo-judeu. Adianto a idia de que os judeus talve z no tenham sido um problema do Ocidente, mas soluo deslocada. No me cabe, porm, estender estes pensamentos j elaborados por trabalhos de grande consistncia. A mim interessa ressaltar que "os traos negativos" dos judeus em muitas situaes so reveladores de um esforo cultural exatamente no sentido oposto. Tal qual fantasiamos sobre o rabino que nos bastidores do templo come porco, ou o padre que tem encontros secretos no confes sionrio, ou o lder poltico que tem suas transaes fraudulentas em pores sob a tribuna onde defende o povo, grande a cobrana aos que se propem assumir uma postura que, ao menos nominalmente, desafia nossos instintos e reaes animais. Ou seja, a cultura (que fa z exatamente isto) gera em ns um desejo por sua falncia, pelo desmascarar do anti-hu mano de suas proposies tericas acerca do certo e errado, do construtivo e destrutivo. Os judeus, com sua tradio fundamentada na tica, instauradora de uma tica ocidental, trazem vrios exemplos desta inverso: 1) inventaram a lei fundadora "no m atars", mas a eles atribudo o grande "assassinato" da Histria. Os judeus que atravessaram a Idade Mdia, caracterizada por uma urbanizao sem cuidados higinicos e sanitrios e cujos costumes tradicionais, porm, se destacavam exatamente por seu contedo higinico, so retratados, nesse mesmo perodo, como imundos que se rejubilam em sua imundice. Os judeus possuidores de prescries alimentares severas so os mesmos acusados de antropofagias rituais com crianas crists. Por fim, aos judeus atribuda a reputao da obsesso pelo dinheiro; seu D'us, que no pode ser representado por imagem, toma a forma do logo tipo cifro. E verdade: os judeus respeitam o dinheiro! Percebem neste um contedo revelador da verdadeira distncia entre o corao e o bolso.O verdadeiro sentido do dinheiro, da PARNUSSE, do sustento, tem tratamento tico n a tradio dos judeus que no s foi pioneiro como corajosamente humanista. A CABALA DO DINHEIRO uma tentativa de observar os "insights" dos rabinos sobre a ecologia e a sade das trocas e da interdependncia, reconhecendo, assim, que pelo dinheiro se estabe lecem situaes cotidianas que desmascaram demagogias e iluses e acabam por expor-nos de um a maneira que s a prtica, o empirismo, pode faz-lo. Somos o que reagimos, somos o que acreditamos, e nosso dinheiro uma extenso de nossas reaes, de nossas crenas. Seja pe lo dinheiro que entra ou pelo dinheiro que sai, nossa compreenso do mundo se d; e ele um dos grandes determinadores do que h do lado de fora, do valor que as coisas e as pess oas tm para ns, do valor que temos em relao a coisas e pessoas. Os rabinos fazem extensa reflexo sobre o dinheiro e lhe do um tratamento semelhant e ao ministrado ao corpo. Reconhecem, portanto, alm da importncia da alma e da inteno, a prpria realidade do corpo, meio imprescindvel atravs do qual percebemos quem somos e que rumo devemos tomar. Convido-os, portanto, a passear por um mundo conhecido, o mundo do nosso bolso. Grande "tour" pelo mundo dos mercados, dos reflexos do dinheiro nas dimenses da e moo, afetividade e espiritualidade. Caminhada por um POMAR que possa fazer com que se afaste de seu dinheiro a pecha demonaca, sombra projetada de nossas prprias almas, e que nos permita aceitar e refletir sobre os limites da riqueza, da solidariedade e da vergonha d e nossa humanidade. O dinheiro em si uma idolatria no s quando amado mas quando desprezado. Explicam os rabinos: "Qual a causa da morte? A vida". Qual a causa do dinheiro? O desejo de justia. Certos elementos tm a capacidade de absorver para si traos da prpria naturez a humana. Estes elementos tornam-se ento muito importantes. Os judeus respeitam o dinheiro. Dinheiro real, que irriga de possibilidades da subsistncia ao tempo livre para o estudo espiritual, que feito fertilizante e sei va, e em ltima instncia - vida. Que dinheiro esse que pode ser assunto de textos sagrados? Que dinheiro esse de que se ocupam os sacerdotes? Que dinheiro esse que vai ser moeda tambm no Mundo Vindouro ou no Paraso? Como lidar com um mercado da existncia que desvaloriza o se ntido, que deflaciona nosso tempo e valores, que inflaciona a insatisfao e que torna rece ssivo o nosso potencial? Respostas a algumas destas perguntas os rabinos nos explicam at ravs de sua busca de uma MOEDA FORTE. PR-REQUISITOS DO GUESHEFT "Aquele que queira viver em santidade, que viva de acordo com as verdadeiras lei s do comrcio e das finanas." (Talmud Bavli, B.K. 30a)"Vamos fazer um guesheft (um negcio)..." uma frase na terra que desencadeia nos cus grande alvoroo. Sagrado o instante em que dois indivduos fazem uso de sua conscincia na tentativa de estabelecer uma troca que otimiza o ganho para os dois . Fazer negcio, nos moldes imaginados pelos rabinos, coloca prova todo o esforo da cultura , da espiritualidade e do senso de que a responsabilidade do indivduo vai muito alm do prprio indivduo. S dois santos podem entrar em guesheft, no evitar guesheft por covardia e sair do guesheft com o mximo de ganho relativizado pelo mximo ganho do outro e o mnimo de transtorno ou consumo para o universo. Este tipo de transao, que pressupe a utilizao no predatria e a satisfao da necessidades dos que interagem, instaura uma nova natureza. Natureza onde no esta mos apenas merc do caos externo de uma sobrevivncia casual ou determinada pela capacid ade puramente fsica de um indivduo, mas sim uma natureza onde os conceitos de justia e a capacidade humana de "perceber" o outro tentam introduzir a presena do sagrado na realidade. A esta nova natureza d-se o nome de MERCADO. Quanto menos desenvolvido no sentido rabnico, mais prximo o MERCADO estar de sua natureza primitiva - uma selva. MERCADO, portanto, onde gira a capacidade de sobrevivncia dos indivduos de acordo com sua prpria percepo do que sobrevivncia. Sua sobrevivncia sua capacidade de arcar com seu sustento fsico e de suas responsabilidades. Estas "responsabilidade s" que so fundamentais para que as trocas se dem num MERCADO rabnico e no da Natureza. A entrada de sobrevivncias que no foram taxadas por suas "responsabilidades" envenen am o MERCADO e somam-se ao carter catico do que pode nos acontecer. To forte a noo rab-nica da proximidade entre o MERCADO da NATUREZA, que a seguinte histria relatada: A um rabino muito justo foi permitido que visitasse o purgatrio (Gehena) e o paraso (Gan Eden). Primeiramente foi levado ao purgatrio, de onde provinham os gri tos mais horrendos dos rostos mais angustiados que j vira. Estavam todos sentados num a grande mesa. Sobre ela estavam as iguarias, as comidas mais deliciosas que se po ssam imaginar, com a prataria e a loua mais maravilhosa que jamais vira. No entendendo por que sofriam tanto, o rabino prestou mais ateno e viu que seus cotovelos estavam in vertidos, de tal forma que no podiam dobrar os braos e levar aquelas delcias s suas bocas. O rabino foi ento levado ao paraso, de onde partiam as mais deliciosas gargalhadas e onde reinava um clima de festa. Porm, ao observar, para sua surpresa, o rabino encontrou todos sentados mesma mesa que vira no purgatrio, contendo as mesmas igu arias, tudo igual - inclusive seus cotovelos, invertidos tambm -, apenas com um detalhe adicional: cada um levava a comida boca do outro". A descrio do purgatrio a de um mundo sem mercado, onde basta uma dificuldade para que toda a capacidade de usufruir o banquete a ns oferecido seja perdida. No paraso h, alm do prazer das iguarias trazidas boca, a eliminao de angstia cada vez que levamos comida boca do outro. Porm, importante perceber que ambos, purgatrio e paraso, mercado e natureza, podem ser confundidos externamente como sendo a mesma situao. Adistncia entre o "insight" de alimentar o outro e no perceber isto grande, muito g rande. Ns verificamos esta distncia todos os dias no nosso cotidiano. DINHEIRO REAL E DINHEIRO COMO TRABALHO CONGELADO No tratado "A tica dos Ancestrais" encontramos: "Onde no h farinha (bens materiais) no h Tora (pois quem no tem como alimentar-se no pode se preocupar com o estudo e o crescimento espiritual). Onde no h Tor no h farinha". A primeira assertiva parece bvia, porm, a segunda no tanto. Sua inteno explicar a origem de farinha, no farinha da natureza, mas farinha do mercado. A Tor, por exer cer o papel de colocar limites s necessidades humanas e s formas de satisfaz-las, e por l embrar as responsabilidades embutidas em toda farinha, possibilita o MERCADO. Importante, porm, perceber que no falamos de dinheiro ou bens quaisquer, pois para a obteno destes no necessria a TOR. No entanto, todo dinheiro realizado honestamente dentro do mercado, longe da natureza, motivo de jbilo e esperana, sinal de vida qu e . Deste dinheiro retirado das trocas justas, otimizando ganhos para todos imediata mente (ou no) envolvidos, obtemos dinheiro real. Dinheiro real garantido por D'us, tem liquide z csmica. Afinal, o que dinheiro? Dinheiro um importante smbolo do acordo - do acordo de que queremos viver no paraso. medida que este acordo se tornou mais slido, atravs das primeiras experincia s de paraso, foi possvel permitir que surgisse uma sobrevivncia que fosse to afastada da natureza e que, na verdade, sequer servia concretamente para sobreviver. Da troca de gnero s, do escambo, os seres humanos passaram a confiar metais raros com peso suficiente pa ra permitir que, digamos, a galinha pela qual trocavam as moedas tivesse o mesmo valor real destas. Quem ficava com as moedas com certeza no as poderia consumir para sua sobrevivncia como uma galinha, mas sabia que tinha algo com valor idntico. Com o tempo, passou-se a con fiar ainda mais num mercado de maneira a substituir as moedas que tinham um valor de rarida de por moedas que no tinham valor algum. Papel ou metais inferiores, alm de no conterem o valor alimentcio de uma galinha, o seu valor real sendo inferior, no teriam valor nomina l igual ao da galinha. Neles havia uma promessa de dez, cinqenta ou mil unidades de galinha. Essa promessa era garantida pelo acordo que se tornava mais assimilado e aceito como resultado de bom senso. Era garantido por D'us. Estes dois tipos de smbolos diferentes do acordo tiveram seus nomes derivados exatamente do estgio de confiana e certeza neste acordo. Ao primeiro, por seu "peso", deu-se o nome de PESOS, LIBRAS, POUND ou SHEKEL (literalmente, "pesos" em hebraico) -pesavam o valor real da galinha - e ao segu ndo, de ZUZ (derivado da raiz ZAZ, em hebraico, que significa "em movimento", "circulante") cujo peso e valor real nada tinham a ver com o da galinha. Zuzim a moeda dos rabinos. Sem valor, ela smbolo do entrelaamento da humanidade, do contrato assumido e de que o mundo compreende a diferena entre "purgatrio" e "paraso". Confiana fundamental de que D'us abona todos os zuzim. Dinheiro, zuzim, portanto, no uma coisa ruim em si, ao contrrio, demonstrao do desejo de organizao, civilizao, convivncia e em ltima instncia de ecologia (ou seja, TORA). O acordo s pode existir quando h crena, f, que normalmente idolatrada em f no mecanismo de investimento, ou f no sistema financeiro, ou f nas instituies govername ntais, ou f no Estado ou patriotismo, mas que, em realidade, s pode existir se houver F, d e forma absoluta. No por acaso que encontramos em vrias moedas da famlia dos zuzim (sem val or em si), como no dlar, a estranha citao "In God We Trust" (em D'us confiamos), uma v erso da palavra AMEN (um acrstico em hebraico da frase "El Melech Neeman" o Soberano q ue confivel), que d f a um pedao de papel pintado. D f de seu valor na transao, mas, acima de tudo, deve dar f de que aquele um dinheiro real representativo da sobrev ivncia e de suas responsabilidades - as mesmas responsabilidades que lhe permitem ter um valor que no existe para os que no fazem parte do acordo. Dinheiro real muito diferente do dinheiro da natureza, bezerro de ouro que quand o pensamos que seu valor existe nele, no prprio objeto, e no na preservao do acordo qu e, como veremos adiante, vai alm da segurana dos valores trocados. Preservar o acordo , produzir dinheiro real e corresponder ao mercado no pouca coisa. to difcil quanto possibilitar a era messinica, quanto o ser humano otimizar sua humanidade. Para o dinheiro real, seu valor cresce quando o taxamos de todas as responsabili dades que fazem parte do nvel verdadeiro de solidariedade e civilidade que uma comunida de atinge; seu valor diminui quando fugimos a estas responsabilidades, destino cruel de tod o smbolo que perde sentido. Dinheiro ao mesmo tempo no apenas a troca de bens responsavelmente taxados (farinha), mas algo que simblico tambm de trabalho responsavelmente taxado. Para o s rabinos, dinheiro neste sentido equivale a "TRABALHO CONGELADO". O valor do trab alho seria igual a X (unidades de oferta deste trabalho), multiplicado por Y (unidade s da dificuldade intelectual ou engenharia), multiplicado por Z (esforo fsico incorrido). Esta mult iplicao abstratamente congelada sob a forma de dinheiro. Um dinheiro, portanto, deveria poder representar esta multiplicao em que nenhuma das variveis pode ser "zero", pois, seno , no h dinheiro. Estas variveis tambm no podem assumir valores que tendam a infinito ou prximos a infinito, pois h limites reais no valor de todo trabalho. A tentativa de fazer uma destas variveis tender a infinito inflaciona o mercado ( pouco trabalho e muito dinheiro). Mesmo quando se valoriza desproporcionalmente uma da s variveis (tende a infinito) e outra trazida a valores prximos de zero, ou seja, elas se co mpensam ecriam um dinheiro aparentemente proporcional a medidas de trabalho, deve-se toma r cuidado para no se criar dinheiro falso. Quanto mais desenvolvida uma comunidade, maior s eu cuidado para que no se desalinhem os valores das diferentes variveis em magnitude. Importa nte, no entanto, notar que h limites na quantidade de "trabalho congelado" que podemos ter no banco - limites do tempo da vida humana e da energia de um ser humano. Portanto, riquezas desproporcionais de um nico indivduo oriundas de trabalho significam que muito "di nheiro falso" foi produzido pela sociedade. Deixaremos, no entanto, para refletir sobre isto mais frente, ao falarmos dos limites do sustento e da riqueza.VOTO DE RIQUEZA OU ISHUV HA-OLAM A OBRIGAO DE AUMENTAR O NVEL DE VIDA DO COSMOS "J fui pobre e j fui rico rico melhor." "Melhor rico e saudvel do que pobre e doente." (Ditados em diche) Os rabinos percebiam a pobreza como um drama sem paralelos. Em xodus Rab (31:14) encontramos: "No h nada pior no universo do que a pobreza - o mais terrvel dos sofrimentos. Uma pessoa oprimida pela pobreza como algum que tem sobre seus ombro s o peso de todos os sofrimentos deste mundo. Se todas as dores e sofrimentos deste mundo fossem colocados num lado de uma balana e a pobreza do outro, esta penderia para o lado da pobreza". Para o combate implacvel a este inimigo universal, que para ns tem componentes naturais e humanos, os rabinos desenvolveram o conceito de ISHUV OLAM (busca do "assentamento do mundo"). Segundo este, devemos constantemente tentar elevar a q ualidade de vida de maneira honesta com o mundo. uma obrigao de todo indivduo fazer com que a riqueza, no apenas a sua, se expanda pelo mundo ao seu redor. Como "riqueza" ente nde-se o maior nvel de organizao e transformao possvel do ambiente de tal maneira que tudo que vivo e importante para o que vivo exista sem escassez. Ou seja, quanto mais abun dante for possvel tornar uma necessidade dos seres vivos SEM QUE ESTA REPRESENTE UMA ESCASSEZ de outra necessidade dos seres vivos, melhor. Esta uma obrigao do indivduo melhorar o nvel de vida do universo sua volta. claro que distinguir entre criar abundncia sem criar escassez num universo aberto muito difcil. claro tambm que regra da lgica que, em caso de dvida, melhor beneficia rse de uma no-escassez do que da abundncia. Se transformamos algo em abundncia que gera escassez, estamos criando para ns um duplo trabalho - fazer abundncia e ter que re por, por causa desta abundncia, o que se fez escasso. Por isto o Justo, em caso de dvida, o pta por no criar mais abundncia. MAS SUA OBRIGAO CRIAR O MXIMO DE ABUNDNCIA QUE NO GERA ESCASSEZ. Na linguagem de mercado dos rabinos, este o conceito de "UM NO PERDE NADA E O OUTRO SE BENEFICIA". Conceito este muito importante em todo mercado que visa ser ampliado e enriquecido. E o Justo responsvel para que i stoacontea. Vejamos um exemplo elaborado pelos rabinos. DINA DE BAR-METZRA (lei dos vizinhos) - Segundo a lei judaica, se uma pessoa tem uma propriedade que faz fronteira com a de outra pessoa, esta pessoa tem aut omaticamente o direito de opo de compra. Uma vez que esta venda estar sendo efetuada dentro do v alor de mercado da propriedade, no h perdas para o vendedor, enquanto o comprador ganha co m a transao, uma vez que a ampliao de sua propriedade representa valorizao do seu imvel. Desta maneira um dos participantes se beneficia e o outro nada perde. Maimnides (Mishne Tor, Leis de Vizinhana, 12:5) elabora sobre a questo: "Esta lei no se aplica a mulheres, menores ou rfos que queiram adquirir a terra, pois o conce ito de 'certo e errado' em relao a estas categorias excede em importncia o desejo de um co mprador normal..." Outro exemplo deste tipo de conceito1 encontrado no Talmud: "Reuven alugou seu moinho a Shimon na condio de que este moeria seus gros como forma de pagamento. Aconteceu que Reuven ficou rico e comprou outro moinho onde moer seus gros no lhe custa mais nada. No precisando mais de Shimon para moer, viesse a pedir uma restituio em dinheiro ao invs do acordo de moer, Shimon poderia se recusar. Mas no caso de Shimon ter muitos clientes para moer em seu moinho, de tal maneira que, com o tempo e esforo de moer para Reuven, poderia moer de outra pessoa e no ter nenhuma perda, Shimon seria compelido a concordar com o pagamento. Isto feito para que ele no agisse de maneira semelhante aos moradores de Sodoma, que se recusavam a fazer favores a outros, m esmo quando isto no lhes custava absolutamente nada". Fazer favores uma obrigao cujas implicaes so parecidas ao roubo. Se voc impede algum de ganhar algo, mesmo que no obtenha benefcio deste algo, incorre num roubo do patrimnio potencial da humanidade e dos seres vivos. A responsabilidade do indivduo diz respeito a tudo que ele controla direta ou indiretamente - a posse vai alm de ter, vai at o poder. O fato de voc impedir que algum obtenha algo compara-se a voc retira r alguma coisa de algum. Ao represar o enriquecimento do mercado sua volta sem prej udicar o mundo, voc colabora com a quantidade de escassez e impede que foras de sustento se concretizem nestes lados do cosmos. Desta maneira impede o aumento do nvel de vid a deste cosmos imediato e infringe a lei da busca pelo enriquecimento e assentamento do mundo (ISHUV OLAM). Difcil o esforo de perceber que as coisas relativas a "um no perde e outro se beneficia" so da mesma ordem de "um que toma do outro". Enriquecer preciso. Necessria a luta contra a escassez que permite ao sustento divino chegar a seu recipiente. H, porm, limites a este enriquecimento alm de no faz er mal ao mundo (enriquecer criando outro tipo de escassez)? Ou esta a razo e o sentido da prpria vida? 1 Meir Tamari, W.A.Y.P, p. 36.I OS LIMITES DA RIQUEZA "No to bom com dinheiro, como ruim sem ele." (Ditado em diche) H pouco mencionvamos uma sociedade doente pela incapacidade de ajudar-se no "assentamento do mundo". Ao se negar a auxiliar o outro em questes do tipo "um se beneficia enquanto o outro no perde", os cidados da plancie de Sodoma e Gomorra realizavam um mercado abominvel, muito semelhante ao purgatrio descrito acima, em que os cotovel os virados no se auxiliavam. curioso, porm, que outro tipo de sociedade, que aparente mente no tinha esta postura, apontado no texto bblico como tendo um "mercado doente" - a gerao da Torre de Babel. Segundo os rabinos, o erro maior desta sociedade foi tornar as atividades sociai s e econmicas um fim em si mesmas. Neste instante, mesmo que descrevendo uma situao de cotovelos virados que sabem alimentar-se dos maravilhosos quitutes servidos no b anquete, no fica caracterizado um paraso. Na histria citada acima, um dos grandes prazeres do paraso no era o simples acesso ao que estava na mesa, mas a capacidade de realizar atravs d estes itens um ato que era ainda mais "prazeroso" a troca. A aproximao de um cotovelo virado c om alimentos pode ser extremamente angustiante se este no sabe o que est fazendo e re pete esta operao sem prestar ateno em nossa capacidade e ritmo como receptores. Podemos nos encontrar sem fome, rondados por colheres e garfos que se aproximam sem parar, f orando-nos a algo que quando crianas experimentamos como sendo de extremo desconforto. Quando os rabinos tentam explicar-nos que as atividades econmicas podem levar santidade, referem-se ao fato de que o corpo que necessita de "instruo" e "elevao". Dizia Reb Shmuel de Sochochov: "A alma no precisa de elevao espiritual - uma vez que pura . o corpo que necessita ser purificado pelo ser humano, uma vez que foi esta a int eno do Criador ao cri-lo". Ou como dizia outro mestre: "Ns no temos uma alma somos uma alma. Temos sim um corpo". Esta estranha diviso entre "corpo" e "alma", que ora faz sentido, ora parece um engodo, talvez possa ser expressa sob a forma de prazer como sendo a diferena ent re prazer "imediato" e prazer "cumulativo". Satisfazer o corpo pode ser realizado com a me sma rapidez que faz-lo sofrer - tudo no passa de uma velocidade de neurnios. E se os neurnios so nossos limites de velocidade por um lado, ou o modo mais rpido de ser recompensad o com experincias (de dor ou prazer), a velocidade das experincias do que chamamos alma so as mais baixas possveis - as vivncias d'alma s "se fecham" ou se tornam perceptveis na medida em que certas etapas de vida so vividas. Enquanto as experincias-corpo se saturam com a repetio de eventos e se traduzem em vivncias de morte, as experincias-alma fazem uma leitura diferente destas experincias e se traduzem em existncia. E existir nos d mu ito prazer,pois arcamos com uma responsabilidade e a desempenhamos. Otimizamos um potencial e criamos riqueza e "assentamento do mundo" para o GRANDE MERCADO DO COSMOS. Tudo isto para dizer que o ENRIQUECIMENTO do corpo s encontra limite no ENRIQUECIMENTO d'alma. Que a abundncia das experincias-corpo no podem se dar pela escassez das experincias-alma. A lei clara: abundncia que gera escassez dupla perd a de esforo e de tempo. Tentemos ento identificar as formas com que a abundncia gera escassez no sentido d a experincia humana ou o que chamamos de limites da riqueza, agora acrescentando a palavra "humana". So estes os limites de: 1) Tempo; 2) Questes Ecolgicas; 3) Questes Morais. Estudaremos estes limites nesta ordem, pois os dois primeiros so conceitos que observaremos de forma mais genrica, enquanto o ltimo nos permitir um melhor estudo do MERCADO e em ltima anlise do "dinheiro" ou da troca. LIMITES DO TEMPO A CIGARRA TINHA RAZO! BTUL ZEMAN "Melhor fazer NADA do que tornar algo em NADA." Ao interpretarem o versculo de Eclesiastes que diz: "Junte-se s formigas, seu preguioso!", os comentaristas explicam que a formiga o smbolo do trabalho desperdia do: "Afinal, necessitam apenas de dois gros de trigo para sobreviver uma estao inteira, mesmo assim trabalham incessantemente para juntar uma fortuna". A pergunta : Ento, fazer o qu? Muito da riqueza acumulada falta de saber o que fazer, ou coisa melhor que fazer . Nossa mortalidade e as questes do sentido da vida fazem com que, nos momentos em que se apresentem espaos de tempo vazios, pensemos que melhor combater a escassez e com isto acumular tempo para quando tenhamos o que fazer. Na tradio judaica, a pergunta "O que fazer?" tem uma resposta - estudar. Tempo algo para ser dividido entre estudo, trabalho e necessidades fisiolgicas (comer, dormir, ir ao banheiro e lazer). Todo excedente de tempo, uma vez atendidas as necessidades fisiolgicas e de trabalho, deve ser destinado a o estudo. Portanto, trabalho ou unidades de escassez convertidas em abundncia tm um limite d entro do limite de tempo existente a um ser humano. O que se entende por estudo literalme nte a dedicao ao estudo da Tor, dos valores que permitem a um ser humano ser mais humano em sua condio de percepo ("insight") e de compaixo (entendendo atravs de sua natureza o outro). Estudo que permite a criao do paraso (lembre-se de que na histria da visita do rabino ao paraso, este encontrou "insight" sob a forma de resolver o problema do cotovelo e compaixo sob a forma do prazer derivado de poder ajudar) e que deve ser imposto culturalmente. A cultura deve ensinar quele que ainda no alcanou os limites de suas necessidades que no um bom negcio dedicar todo o seu tempo ao objetivo de conseguir saci-las. Mesmo que o indivduo se diga diferente da gerao da Torre de Babel, pois vi sa chegar a este limite de suas necessidades e ento parar o estudo, anda assim perte nce a este grupo e incorre no erro de BTUL ZEMAN (desperdcio de tempo). O nosso tempo j tem destino a priori: ser mais e conhecer mais sobre o potencial que somos. Todo tem po dedicado a outra atividade TAMBM uma forma de ser e se conhecer (razo pela qual o mercado santifica), mas com limites reais, quando ultrapassados, representa B'TUL ZEMAN - utilizao indevida de tempo destinado s experincias d'alma. Estas, apesar de se acumularem n o tempo dedicado a outras atividades, s "SE FECHAM" tambm no consumo real de tempo. Por is so, melhor NADA fazer do que transformar algo em NADA. Melhor defrontar-se com o NAD A do que assumir enriquecer alm dos limites e fazer de seu tempo NADA. Suportar o NADA leva o indivduo ao estudo, e o estudo verdadeiro o que no leva a NADA. Uma digresso... UTILIZANDO BEM SEU EXCEDENTE DE TEMPO - O ESTUDO QUE NO LEVA A NADA E importante fazermos uma pequena digresso sobre o estudo, j que este interfere na nossa riqueza e bem de suma importncia para o MERCADO. Um mercado com muito tempo feito de B'TUL ZEMAN (perda de tempo, ou agora que j podemos abrir o jogo -perda de tempo de estudo) vai tambm sendo corrodo de tal forma que os valores reais de seus circulantes decresce. As depresses, as apatias e as perdas de sentido decorrentes de muito B'TUL ZEMAN custam muito a um mercado. O grande negcio, ento, estudar. Mas do que estamos falando? Maimnides dizia que o desenvolvimento de um indivduo se d atravs de sua percepo da "recompensa" ou "remunerao" (Introd. a Mish. Perek Chelek) associada a se u estudo. Comeamos como crianas estudando e aprendendo para obter do professor um to rro de acar. J maiores, estudamos para receber amendoins. Quando adolescentes, estudamo s com o objetivo de obter um sustento. Quando adultos, estudamos para sermos honra dos e desfrutarmos de respeito. , porm, apenas quando chegamos maturidade que estudamos para em nome de qu?). NADA (LISHM Estudamos LISHM (em nome de nada) para existir. E no to estranho, afinal tambm comemos, dormimos e trabalhamos para existir. quando trabalhamos mais do qu e necessitamos para existir que produzimos BTUL ZEMAN - existncia jogada fora. Tambm parece lgico que se estudamos e trabalhamos com o objetivo de atingir abundncias e eliminar escassez, e se atingimos a riqueza, todo estudo e trabalho passam, por definio, a ter o objetivo de obter NADA. Se insistimos em achar que continua sendo objetivo do estudo e do trabalho mais riqueza alm de seus limites, a transformamos algo em NADA. VOLTANDO A B'TUL ZEMAN (perda de tempo)Qual a razo de sermos includos junto com a gerao da Torre se buscamos um dia atingir a riqueza e a sim estudar para NADA? Porque esta riqueza, tal qual a Torr e, que buscava chegar aos cus, no tem parmetro no futuro. Ningum jamais poder ser rico no futuro, pois no h abundncia que supra uma escassez que ainda no existe. Portanto pre ciso ajudar, culturalmente, para que os que ainda no atingiram a maturidade e estejam longe de qualquer segurana material tambm entendam que lhes cabe dividir seu tempo com o es tudo cujo objetivo NADA. Segundo a tradio judaica, at mesmo o salrio o pagamento pelo B'TUL ZEMAN de uma pessoa (perda do tempo que poderia ser de estudo) para que outra possa usufr uir direta ou indiretamente de seu ZEMAN (tempo destinado ao estudo). O tempo um dos limites i mpostos riqueza. Tempo dinheiro, mas nem todo tempo deve ser convertido em dinheiro. LIMITE ECOLGICO OU ESPACIAL A partir da definio de riqueza como abundncia que no gera escassez, pressupemse limites. O sustento congelado na natureza s deve ser transformado em sustento qua ndo necessrio, e no h melhor forma de conservar sustento do que sob a forma de natureza . Ao ter o MANA cado dos cus, os hebreus que tentaram juntar mais do que a poro diria no s tiveram seu excesso apodrecido, bem como atuaram no meio diminuindo sua "VONTADE " de promover sustento. Novamente se aplica a idia de que, quando no necessrio, melhor no fazer nada do que tornar algo em nada. Deve-se tomar muito cuidado, pois lucro p ode ser mera imaginao. Lucro hoje que gera prejuzo amanh no representa riqueza, ao contrrio, um duplo trabalho desperdiado. Muitas vezes somos obrigados a agir desta forma para sobreviver, porm um mercado sofisticado deve planejar-se para evitar este tipo de ocorrncia qu e vai contra a lei de ISHUV OLAM (assentamento do mundo). QUEM RICO? O Talmud se pergunta: Quem verdadeiramente rico? Rabi Iossi dizia: Aquele que tem um banheiro prximo de sua mesa de jantar. Rabi Meir dizia: Aquele que deriva paz de esprito de sua fortuna. (Shabat 25b) Rabi Meir sintetiza o senso comum de que rico quem adquire a mxima qualidade de vida sem gerar escassez para si e para os outros, cumprindo suas responsabilidad es para com outrem, evitando o "desperdcio de tempo" e no descongelando sustento da natureza a cima do necessrio. Rabi Meir chama isto de paz de esprito tirada de uma fortuna. Ou, em ou tras palavras, no fcil ser rico. Uma interessante descrio de um falso rico encontramos em Bahia Ibn Paquda (sculo XI), em seu "Obrigaes do Corao": "Sobre aquele que acha que suas percepes nos assuntos financeiros so seus pensamentos mais sofisticados. . . Seus sonhos o levam s mais incrveis expectativa s, de tal maneira que seus vrios tipos de propriedades no so suficientes. Ele como fogo, que queima com mais intensidade medida que se coloca mais lenha. Seu corao tambm se entusiasma por seus sonhos. Espera com ansiedade pela estao em que a mercadoria de ve ser estocada e pela estao na qual deve ser vendida. Ele estuda as condies do mercado, reflete sobre o barateamento ou encarecimento de bens e fica atento para saber se os preo s esto diminuindo ou aumentando em diferentes partes do mundo. No h calor ou frio, nem te mpestade no mar ou distncia no deserto que o faa desistir de atingir os lugares mais remoto s. Faz tudo isto na esperana de chegar a um fim, numa questo que no tem fim e que pode , sim, gerar muita dor, atribulao e esforo em vo. E se consegue um pouco daquilo que espera va, provavelmente tudo que ter desta fortuna ser o trabalho de cuidar da mesma, admini str-la, tentando salvaguard-la de toda sorte de perigos, at que venha parar nas mos daquele para quem foi decretada". Ser rico exige uma simplicidade que permita no perder os parmetros da razo por que buscamos ser ricos. Ao mesmo tempo, isto no nos libera do ideal desta riqueza, e deve-se ter o mesmo cuidado para no exagerar nesta "simplicidade", da mesma forma que no se deve perd-la de vista. Adequamos nossas necessidades freqncia do que nos dado como sustento, mas no perdemos o objetivo de aumentar o nvel de vida, nosso e dos outro s. O "simplrio" nocivo ao mercado do cosmos. Uma interessante histria nos contada por Sholem Aleichem sobre "Guimpel, o Nada", histria esta sobre um homem simples, que vive uma vida sem ambies, fazendo o seu trabalho de limpeza das ruas. Humilde e sem filhos, nunca tendo entrado em dispu tas, tem at na sua morte um enterro de indigente, onde nem lpide lhe ofertada. Porm nos cus h um enorme alvoroo. Nunca haviam recebido to ilustre alma, e todos acorreram ao tribun al celeste para receber aquela figura to pura. O prprio Criador fez questo de oficiar o julgam ento, enquanto o Promotor Celeste se contorcia de dio pela causa que j percebera perdida . Guimpel foi ento trazido frente aos anjos, o Criador e o Promotor, que foi logo desistind o de fazer qualquer acusao. O Criador ento tomou a palavra e, elogiando Guimpel, lhe disse: "To maravilhoso foste em tua vida que tudo aqui nos cus teu. Basta que peas e ter s de tudo. Vamos, o que quer, alma pura?" Guimpel olhou ento com. desconfiana e, tirando o ch apu, disse: "Tudo?" "Tudo!" respondeu o Criador. "Ento eu queria um caf com leite e um pozinho com um pouco de manteiga." Ao revelar isto, a decepo tomou conta dos cus. O Criador sentiu-se envergonhado e o Promotor no conteve sua risada. Guimpel no era um justo era um simplrio. De ns exigido um mximo. correto que este mximo dependente de inmeras variveis, como vimos acima, mas um mximo. Disto no h sada, e a prpria definio de vida saber administrar o mximo de estudo, o mximo de riqueza e o mximo de respeito aos que (e as coisas que) esto ao nosso redor. Este equilbrio no s traz paz de esprito co moenriquece o mercado e assenta o mundo. MOISHE, O CABALISTA, E O SUSTENTO Certa vez tocou o interfone e a secretria disse: "Rabino?" -"Sim" - "Tem um rapaz que diz que cabalista e quer falar com o senhor. Pode subir?" No todos os dias que eles batem porta. Concordei, e vi entrar um tipo tranqilo, cheio de reverncias. Apresentou-se num ingls trancado: "Meu nome Moishe, sou um cabalista e vim vender-lhe livros". Comeou a mostrar-me seus livros, enquanto eu observava aquele sujeito curioso e tentava dele tirar algumas informaes. Contou-me que havia entrado no pas com mil livros, que haviam sido retidos no aer oporto. Conseguira, no entanto, retir-los mesmo sem guia de importao e sem entender muito d a legislao e seus trmites. Comentou ento: "Difcil fazer livros sobre Cabala. A tudo de ruim acontece. O 'outro lado' faz o que pode para impedir o armazm com teu papel pe ga fogo, mquinas quebram e assim por diante... Mas quando fica pronto, e se transfor ma em PARNUSSE (sustento), a j no pode mais fazer nada". Fiquei pensando naquela considerao. Em certo momento Moishe resolveu buscar em seu bolso o endereo de onde estava hospedado e comeou a esvazi-lo, colocando vrios montes de dlares sobre minha mesa. Perguntei: "Voc anda pelas ruas assim? Voc no sab e que perigoso? H muito assalto por aqui". Fitou-me com curiosidade e disse: "Isso tambm uma regra o que teu realmente teu, ningum pode levar...se PARNUSSE, claro". Soube depois que Moishe andava de nibus pela cidade, oferecendo as obras que havi a trazido consigo. Quando nos encontramos novamente lhe perguntei: "Como voc faz pa ra vender livros em hebraico para pessoas que no tm a menor condio de entend-los?" Ele explicou: "Eu digo que estes livros, mesmo que sejam difceis de ler, so livros bon s de ter, que somente pelo fato t-los na estante em si um convite bno." O que realmente calou fundo foi a atitude determinista de Moishe, que deixava cl aro, acima de tudo, que um grande vendedor estava s soltas pela rua, batalhando arduam ente por seu sustento. Afinal, um certo sustento j est assegurado. Elemento esse que indepe nde do esforo consciente de querer vender ou ganhar mais. Na tradio judaica encontramos este mesmo tipo de postura na discusso entre "livrear btrio" e segula (literalmente, tesouro). Livre-arbtrio o esforo realizado conscientemente para obter ou conseguir algo, enquanto segula "uma fora interior implantada na na tureza da alma que, tal qual a natureza de tudo que existe, no pode ser mudada."2 O sustent o se d ento numa interao entre estas duas foras. Assim como certas partes de nossa atividade pa ra manter nossa vida so ativas - fazer, atacar, fugir -, outras so passivas e acontec em a despeito de nossa conscincia, ainda que por intermdio de um esforo que nosso - respirar, dig erir, sistema circulatrio. Segundo os rabinos, existem em ns movimentos de sustento que so ativos e representam o somatrio dos esforos conscientes; e tambm passivos que so um "tesouro"embutido em nossas almas que explicado da sorte ao tino comercial. Conhecemos este fenmeno na medida em que experimentamos certas intuies conscientes , que so o limite do que somos e do que nos feito. Tal qual a viso ou a audio so limites de atividades simpatticas ou parassimpatticas - vejo independentemente d e controlar a viso, mas a direciono -, tambm o "livre-arbtrio" e a segula se integram de maneir a consciente, permitindo que os compreendamos mas no os apreendamos nas experincias de nossas vidas. O que Moishe quis dizer que a segula (tesouro) de um indivduo no pode ser 2 Rav Kook, 66. bloqueada ou prejudicada pelo "outro lado" enquanto o "livre-arbtrio" pode. Moish e tambm quis apontar para o fato de que PARNUSSE (sustento) no pode ser roubado. Pode-se tomar algo de um indivduo, mas o sustento algo que j leva em conta as possveis perdas ou sombras que acompanham uma pessoa. Portanto, mercadorias ou moedas podem ser lev adas, mas o sustento no. Da mesma maneira, um livro que pode ser atrapalhado na sua fei tura fica imune uma vez que expressa uma forma de sustento. No devemos, portanto, deixar-no s abater por segmentos desastrosos da histria de nossa PARNUSSE. Acompanhe esta histria de Reb Nachman: Numa certa localidade vivia um homem pobre que ganhava a vida cavando barro, que vendia. Um dia, enquanto cavava, encontrou uma pedra preciosa. Tentou avali-la ma s acabou descobrindo que ningum em sua cidade e cercanias tinha dinheiro suficiente para c ompr-la, to grande o seu valor. Teve ento de viajar a Londres para t-la avaliada num mercado condizente. Sendo muito pobre, precisou vender at os seus pertences, e com estes fundos conseguiu chegar at o porto. L chegando, percebeu que no teria condies de adquirir a passagem para a Inglaterra. Procurou ento o capito do navio e apresentou-lhe a ped ra preciosa. O capito ficou muito impressionado e permitiu que embarcasse no navio, pensando que o dono de tal pedra tratava-se de uma pessoa muito rica e respeitvel. O capito alojou-o na primeira classe do navio com todos os luxos rendidos aos muitos ricos. O homem, bem instalado, exultava-se com sua pedra preciosa, em especial durante as refeies, por que faz bem digesto alimentar-se de bom humor e moral elevado. Aconteceu, porm, que adormeceu um dia ao lado de sua pedra quando esta estava sobre a mesa. Um dos serviais entrou no quarto para limpar a mesa e, no percebendo a pedra, sacudiu a toalha pela janela no mar. Quando o homem acordou e percebeu o que havia acontecido, ficou to desesperado que quase perdeu a cabea. O que o capito faria com ele agora que no podia pagar a v iagem e o alojamento? No hesitaria sequer em mat-lo. Resolveu, por fim, permanecer de ' bom humor como se nada houvesse ocorrido. Era comum nestes dias que o capito passasse algum as horas junto deste homem, at que certa vez disse: 'Sei que voc um homem inteligente e hon esto. Eu gostaria de comprar trigo para vender em Londres, mas tenho medo de ser acusa do de desviar fundos do tesouro do Rei. Permita ento que esta mercadoria seja comprada em teu nome e eu te remunerarei'. O homem concordou. Logo aps chegarem a Londres, o capito subitamente faleceu e todo o seu trigo ficou com o homem. Trigo este que valia bem mais do que a pedra preciosa original". O Rabino completou dizendo: "A PEDRA PRECIOSA NO FOI FEITA PARA PERMANECER COM O HOMEM, e a prova de que no ficou com ele. O TRIGO tinha como destino ser seu, e a prova de que permaneceu com ele. A RAZO QUE O FEZ CHEGAR A SER BEMSUCEDIDO PORQUE SOUBE SE CONTROLAR EM SEU INSUCESSO". O insucesso uma expresso momentnea de uma PARNUSSE, um sustento, no entanto seu ciclo maior - da segula, do tesouro permanece inalterado. Se algum t empo for dado a ele, ir reconstituir-se. Diz-se em diche: "Um grama de sorte vale mais do q ue um quilo de ouro", ou talvez "Uma boa segula vale mais do que uma deciso acertada no mundo dos negcios". Segula no sorte, a integrao profunda de quem somos e nossa importncia e intensidade para o meio que nos cerca. Pode ser compensada por grandes esforos, m as quem tem um "tesouro" considervel perceber que as coisas lhe chegam com mais facilidade . claro, uma boa segula no garante que se seja rico, visto que para isto necessrio t ambm conhecer a arte de interagir com o Mercado e poder transform-la em riqueza. A CABALA E OS CICLOS DA RIQUEZA A cabala relativa ao dinheiro diz respeito maneira com que se realiza nossa troc a no Mercado. Como vimos anteriormente, no diz respeito apenas ao que recebemos mas ta mbm de que maneira o que recebemos est em harmonia com o que era possvel receber. Talv ez isto soe como uma grande racionalizao, afinal sabemos de nosso cotidiano que aqueles qu e consideramos ricos nem sempre (ou em muitos casos) esto preocupados com qualquer forma de harmonia. No nos cabe provar aqui de que no so ricos, da mesma forma que os rabi nos, ao tentarem abordar teologicamente o assunto "Tsadik ve-Ra Lo, Rasha ve-Tov lo" - "justo com uma vida ruim, perverso com uma vida boa" , evitam elaborar qualquer sistema lgico que o explique. Neste mundo em que vivemos h injustia e, por mais triste que isto nos parea, na dimenso concreta da vida, no h qualquer punio ou cobrana automtica por parte de qualquer forma de justia (chok hagemul - Lei do Retorno). To difcil viver com isto que nos dizem os salmos: "O tolo no entender". Tal como na abordagem da reencarnao os rabinos nos explicam que h sempre retorno, que h volta de tudo a tudo, da mesma forma a justia visita suas injustias desde outro plano de tempo e realidade. Se galxias podem ter-se transformado em molculas humanas e molculas huma nas em galxias, tudo retorna, sendo que o raio de rbita destes retornos s vezes to imens o que nos parecem retas, tangentes, a olho (experincia) nu. Estes gigantes raios de retornos e revisitaes a situaes e condies so por algumas tradies denominados "carma". Carmas so custos reais de qualquer Mercado. Eles so identificados hoje com maior facilidade nas questes ecolgicas, onde j comeamos a perceber a reverberao daquilo que parecia no nos atingir o raio era muito grande, m as j no o mais. Antes o senhor de terras que desmatava suas florestas parecia usufruir benefcios sem custos. Hoje estes custos so to concretos que seus descendentes podem vir a ma ldiz-lo, ou o estado cobrar multas reais, ou mesmo vir a morrer de cncer de pele ou de. pu lmes por seus atos. Mesmo aquele que usufruiu quando o raio da rbita do retorno parecia te nder a infinito pagou seu preo em escurido. E como isto carece de explicao (tsarich Iun!)...Quando agimos em desconhecimento no pagamos pela "lei do retorno", mas o prprio desconhecimento, nossa prpria escurido, em si preo, custo e sombra. Quando agimos c om conhecimento, a sim, incorporamos os custos cobrados pela lei do retorno. Repito, tal qual os rabinos deixaram claro, isto no uma explicao racional que funcione, mas uma descrio muito aproximada dos fragmentos de nossa prpria clareza e m meio s escurides circundantes, do que ocorreria levando-se em conta outros planos da existncia. Riqueza real tambm um processo complexo, muito alm do simples ato de estar no lugar certo na hora certa. Difcil entender isto, mas tem a ver com as rbitas de re torno mais alongadas, quase imperceptveis, e os quatro mundos (dimenses) do sustento. A cabala utiliza-se da diviso em quatro mundos para alertar-nos sobre as vrias dimenses da realidade. Esta diviso nos auxilia a reconhecer quo parcial nossa perce po s conseguimos apreender conscientemente os ciclos de "recebimento" de raios muito pequenos de retorno. MUNDO UNIVERSO INTERIOR REALIDADE MANIF. EM SUSTENTO ASSI Mundo Funcional IETSIR Mundo da Formao BRI Mundo da Criao ATSILUT Mundo das EmanaesPESHAT Lgico REMEZ Alusivo DERASH Simblico SOD Secreto MENTAL EMOCIONAL ESPIRITUAL DE CONEXO NECHES Bens Materiais SEGULA Tesouro ZECHUT Mrito LISHM Sem representao de ganho No mundo da Assi, utilizamos a lgica para determinar os ganhos e custos de menor raio de retorno. Estamos preocupados em obter ganhos rapidamente minimizando cus tos que possam tambm retornar rapidamente. Este o mundo material com suas prprias complexidades, to grandes quanto a prpria mente. No mundo da Ietsir, estamos lidando com o tesouro interno ou, como vimos acima, nossa capacidade potencial de transformar-nos em sustento. Esta dimenso se expres sa como sustento no tempo e na oportunidade a partir do somatrio do nosso passado emocion al. O raio da rbita de retorno maior neste caso, porm ainda bastante perceptvel aos sentimento s e, em certa medida, mente. Tem a ver com certas expresses como: "aquele sujeito. . . tu do que tocar vira ouro". No mundo da Bri, participa de nosso sustento o "Mrito" (Ze-chut), acmulo dos mritos da herana espiritual de nossos antepassados. Zechut pede por definio. O conceito de sustento de grande complexidade. Pode dizer-se que se obtm sustento escrevendo-se livros. Porm no podemos nos alimentar, abrigar ou medicar com livros . No Mercado tornou-se possvel sustento pelo ensino, pelo lazer, pelo servio, pela inte rmediao e outras tantas formas que na Natureza so desconhecidas. Nem mesmo a simbiose da Na tureza ou a troca ecolgica entre as espcies se aproxima do sentido humano de Mercado. Na Natureza existem apenas formas de colaborao a nvel do sustento vital; no Mercado, p orm, encontramos isto a nvel emocional e espiritual. Portanto, hoje, quando nos susten tamos, de alguma maneira devemos isto a uma intrincada e irresgatvel sucesso de "mritos". Da mesma forma que no posso estar hoje comendo e respirando se meus antepassados no tivessem se alimentando ou mantido relaes sexuais, no sei mais reconhecer se devo esta possibilidade influncia de livros que foram escritos, circos montados ou particip ao dos correios. Quando algum passa seu tempo escrevendo um livro, h um mrito embutido nes te ato da mesma forma que h mrito numa outra pessoa que passa este mesmo tempo trocando fraldas. Ambos os casos estabelecem relaes com o Mercado que nos tornou e torna po ssveis. Nossos antepassados, desta maneira, codificaram mritos e os colocaram no Mercado; estas influncias-mritos so como um "carma" positivo que nos permite estar existindo . H muita fora nesta dimenso e percebemos isto quando a evocamos. Nas oraes judaicas centrais, quando assumimos a postura de estar diante da divindade, pedimos sempre, como primeira apresentao, que sejamos identificados com o descendentes dos patriarcas e matriarcas e de seus mritos. O que realizaram no pa ssado est, de alguma forma (ciclos de rbitas muito extensas), codificado em quem somos e de que maneira nos comportamos no Mercado. Estes mritos so o alicerce maior de nossa espci e, alicerces de onde retiramos nosso sustento - nossos direitos (mritos) como parte do Mercado. Devido sua forma, Zechut s percebido ao nvel subjetivo e coletivo sob a forma de h erana cultural. Porm, compreender de que forma as intenes individuais e nossa prpria interferncia no passado (vidas pregressas?) influenciam o nosso sustento concreto do dia-adia, difcil de vislumbrar. As emoes apreendem um pouco desta realidade, enquanto o esprito privado destas mesmas emoes e do silncio da mente para poder expressar esta percepo. No universo da Atsilut, encontramos o fazer por fazer destitudo da expectativa de qualquer ganho. Isto nos secreto, facultado ao que no diferenciado, ao que UNO e conectado ao divino como sendo parte de Suas prprias emanaes. Para estas ltimas duas dimenses no dispomos de instrumentos de percepo. Pescamos sem redes - quando conseguimos, quase em nossas mos, nos escapa. NO POSSO OU NO QUERO DIGRESSO SOBRE O INCOMPREENSVEL impossvel entender o sustento sem compreender as intrincadas relaes com o processo de vida. Todo "rico" ou todo aquele em sustento reconhece nveis muito su tis de relao de troca com o Mercado da vida. Da ouvirmos em relao ao sustento a constante preocupao com a sorte, com a sensao de que algo est do nosso lado ou contra ns. Mesmo os maiores prisioneiros das dimenses mais concretas referentes ao sustento perceb em em sua experincia diria a atuao de "foras estranhas" que participam ativamente de seu proces so de sustento. Mais adiante veremos isto mais especificamente. Falemos um pouco sobre o nofalvel, para que possamos compreender tambm os nveis de sustento neste plano. Um dos confrontos mais comoventes registrados a nvel de discusso sobre o incompreensvel ocorreu h pouco mais de dois sculos. O Baal Shem Tov, uma das figura s mais importantes do renascimento espiritual judaico na modernidade, foi procurad o por um distinguido rabino de sua poca com o intuito de questionar sua postura em torno d e elementos intuitivos e msticos. Isto propiciou um encontro clssico entre as duas maiores ten dncias que dividem os seres humanos - os que percebem a vida como impregnada do prprio Mistri o que a possibilitou existir e aqueles que, apesar de reconhecerem o Mistrio, no o percebem como um agente constante do dia-a-dia e da "realidade". As diferenas entre os seres hu manos esto na gradao, na magnitude de percepes e crenas parecidas. Isto permite a distino entre o racionais-lgicos e os intuitivos; os que enfatizam os elementos caticos deste univ erso daqueles com uma viso mais determinista; ou mesmo aqueles que expressam sua crena em termos de Mistrio ou de D'us daqueles que percebem menos a presena ou interferncia do inexplicvel em sua vidas. O encontro do Baal Shem Tov com esse rabino representava, at mesmo dentro de uma viso particular a religiosa -, um debate destas mesmas duas tendncias. O relato de ste encontro, em linguagem muito especfica dentro da tradio judaica, possui um carter to universal que poderia ser traduzido de maneira a expressar qualquer confronto de ntro de outra tradio ou sistema de percepo e pensamento humano. Em certo momento a discusso recai sobre a experincia pessoal e sua traduo em termos de percepes. O Baal Shem Tov relata uma histria do Talmud (Berachot 54b) em que: ...Rabi Akiva viajava com um jumento, um galo e um lampio durante a noite e tento u alojar-se numa hospedaria de certo vilarejo. O dono da hospedaria no quis acolh-lo, fazendo com que Rabi Akiva se dirigisse a um bosque prximo, onde montou um pequeno acampamento. Durante a noite seu jumento foi devorado por um leo e Rabi Akiva nem se abalou. P ensou: "Talvez tenha sido melhor assim". Pouco mais tarde seu galo foi atacado por uma pantera e uma forte brisa acabou por apagar seu lampio. Rabi Akiva no se perturbou: "Talvez tenha sido melhor assim". Na manh seguinte, ao voltar para o vilarejo, ficou sabendo qu e este havia sido atacado durante a noite por um bando de assaltantes que mataram e saquearam o local. Percebeu ento que, se seu jumento e galo no tivessem sido devorados e seu lampio ap agado, teriam revelado com seu rudo e luminosidade sua posio. Havia, realmente, sido melho r assim. Para o Baal Shem Tov este era um exemplo de uma ordenao que apenas aparentemente fruto do caos ou do "azar". No satisfeito, o Baal Shem Tov insistiu em apresentar seu ponto de vista atravs de outro exemplo. Relatou ento sobre um de se us vizinhos que despertou certa noite com a picada de um mosquito. Ao levantar-se, notou que de sua lareira haviam cado brasas no cho. Buscou ento um balde d'gua para apagar o que poderia ter sido uma tragdia. Nesse instante, o teto sobre sua cama ruiu. Se esti vesse dormindo, teria sido certamente atingido. Para o Baal Shem Tov estas ocorrncias e outra rnirade de experincias que todos ns vivenciamos apontam para nveis de interferncia que esto alm do acaso, do livre-arbtri o e do instinto. Por sua vez, o rabino que seguia a apresentao do Baal Shem Tov tambm percebia todas as dificuldades que qualquer ser humano com um pouco de crtica e i ntelignciapode levantar com relao a estes acontecimentos. Mais que isto, o rabino percebia u m enorme perigo em abrir as portas para o incompreensvel. Sua reao foi dizer ao Baal Shem To v: "No posso, no consigo acreditar que as coisas possam ser assim". O impasse lgico milenar estava novamente formado. Assim teria permanecido como mais uma tentativa em vo de criar pontes entre estas duas percepes. A resposta do B aal Shem Tov nesse momento foi: "Voc no pode, no! Voc no quer". O rabino no tomou aquelas palavras muito a srio e partiu. Cavalgava retornando a sua casa pela flor esta, j quase ao escurecer, quando passou por um campons cuja carroa havia tombado e tentava des vir-la. Desesperado por perceber que no conseguiria desvir-la sozinho, o campons acenou par a o rabino pedindo ajuda. O rabino, devido a sua idade, pelo adiantado da hora e pel o inusitado da situao, respondeu impulsivamente: "Sinto muito, mas no posso". Ao que retrucou o campons: "No pode ou no quer?" Quando o rabino escutou estas palavras no apenas ajudou o campons, como retornou ao Baal Shem Tov, com quem a conversa prosseguiu de outra forma. Esse rabino tor nou-se um dos maiores seguidores do Baal Shem Tov. Muito da dificuldade com o incompreensvel, com aquilo em que acreditamos, no se deve ao fato de no podermos aceitar, mas de no querermos. No h linguagem ou raciocnio que possa explicar a postura defendida pelo Baal Shem Tov, a no ser a experincia. Esta nos permite perceber que nosso problema no "poder" mas "querer". No queremos aceitar q ue nossos atos tenham conseqncias e reverberaes que prosseguem alm de nossa conscincia e possibilidade de control-los. No queremos aceitar que nossas portas no nos atribu em controle do que possa existir, conviver ou penetrar em nossos espaos. No queremos ver que nossas necessidades transcendem o que pode ser adquirido, que nossas certezas e suposies possam ser mera iluso. O Baal Shem Tov em sua sapincia e viso percebe que seu melhor argumento o tempo e a experincia onde os fragmentos dos quebra-cabeas fazem sentido. O sustento e a riqueza so caminhos muito importantes para a percepo destas dimenses de realidade. Quem batalha por seu sustento sabe - h nele algo de estranh o e milagroso. No mercado, nestas trocas do Dinheiro real, h muito espao para descober tas e revelaes. Afinal, j sabia o Baal Shem Tov: como estas so em sua essncia trocas de experincia com o mundo, nelas est o poder de ensinar o que as palavras e o pensame nto no permitem. apenas desta maneira que desmascaramos nossas pretensas incapacidades e expomos nossas verdadeiras dificuldades em querer. POR QUE EU NO TENHO? DIGRESSO SOBRE UM PARADOXO HUMANO O Baal Shem Tov, neste confronto com o rabino, isola uma espcie de antdoto contra a experincia que nos faz perceber a proposio "justo com uma vida ruim, perverso com u ma vida boa". Este antdoto demonstra que realidades desastrosas momentneas podem muito bem representar etapas de um processo maior de ordenao. O antdoto , portanto, nunca perm itirse valer apenas de um retrato, um instantneo da realidade. unicamente em meio a uma realidade dinmica que podemos perceber e avaliar situaes. Este antdoto inclui, com c erteza, uma dosagem grande de f e de compreenso dos ciclos de raios mais extensos. No entanto, h um perigo ainda maior do que perceber a injustia em nossa experincia diria e que, muitas vezes, ao contrrio, entendido como seu nico possvel antdoto: "jus to com uma vida boa, perverso com uma vida m", ou trabalhar com suposies de justia. Qua is so as situaes em que temos o direito de perceber algo justo por merecimento? Quando que poderemos perceber que algo nos chega por mrito? Como pode Rabi Akiva, na histria acima relatada, agradecer por todos os sinais (ou coincidncias) que o levaram a sentirse resguardado por uma fora maior (hashgach - superviso celeste)? De que maneira pode uma pessoa r ica fazer uma leitura de sua riqueza como lhe sendo merecida? H um terrvel perigo em tudo isto. Perigo que aumenta o nvel de percepo de "justo com uma vida ruim, perverso com uma vida boa", exatamente ao perceber a realidad e contrria "justo com uma vida boa, perverso com uma vida ruim". Do que estamos falando? Certa vez, ao terminar uma cerimnia de enterro num dia chuvoso, a viva, ao ser cumprimentada por mim, exclamou: "Rabino, at D'us est chorando". Sua aluso chuva lo go encontrou uma contrapartida. Algum ao meu lado sussurrou: "Quer dizer que quando morre algum e o dia de sol, D'us est rindo?" O mesmo explica Elie Wiesel com relao aos sobreviventes do holocausto nazista. Se algum que se salvou atribui isto participao divina, de que D'us olhou por ele, ter d e suportar o peso de afirmar que D'us no olhou por todos os que perderam a vida. Ou seja, a postura grega de que "sorte quando a flecha atinge o outro" aprofunda e revigora a percepo de "justo com uma vida ruim, perverso com uma vida boa". Acrescenta-se, com este tipo de viso de mundo, maior caoticidade vida. A f vai contra a f e se desvela seu pior ini migo. Passa a ser instrumento de autoglorificao. Portanto, na situao especfica que analisamos, cada pobre que se acha justo e que amarga o sofrimento da misria e cada rico que se acha justo e se regozija na abas tana, aumenta os nveis de percepo de caoticidade e no mundo. Ampliar estes nveis quer dize r sabotar a estabilidade do Mercado. Basta tambm enfatizar apenas um destes aspecto s para que haja dois tipos de distoro: 1) pobre achar-se to justo ou que sua pobreza seja expr esso do destino, acarretando, assim, manipulaes como as exercidas por certas ideologias re ligiosas, e encontramos as manipulaes em muitos perodos das religies, ou de religies; 2) rico ach arse to justo e que sua riqueza seja expresso do destino, acarretando, assim, posturas mais radicais como a de certas ideologias do comunismo. Na verdade, h um paradoxo: quanto mais percebemos o mundo como o Baal ShemTov nos recomenda, onde a manifestao divina est presente em tudo constantemente, ma is podemos entender este mundo como catico. O pobre deve entender-se pobre porque as sim que , e no por mero acaso, e o rico deve perceber-se rico tambm como um processo alm do acaso. Ao mesmo tempo, se no percebemos a presena desta manifestao, nos tornamos materialistas e elevamos o acaso e o oportunismo regncia final do Mercado. Com is to tambm acrescentamos caoticidade ao universo. Ento o que fazer... afinal, se correr ... se ficar...? A olho (experincia) nu, ou na superfcie, no vamos conseguir sair deste paradoxo: quanto mais f, menos f. E f, como vimos, o elemento essencial para qualquer Mercado . Porm o Baal Shem Tov no estava se referindo a uma f que busca, como objetivo, enten der por que o mundo justo ou injusto. Ele se referia a uma f que busca na experincia p rofunda entender para que serve o justo e o injusto das situaes que vivenciamos. Qual o se ntido que tem cada instantneo, justo ou injusto, da realidade no desenrolar das caminhadas individuais e coletivas? este sentido que permite a cada um saber quando sua experincia fruto de uma "interveno" ou quando mero acaso. A capacidade de filtrar e de dar autencidade a a lguns fenmenos e a outros no, no uma patologia ou uma irracionalidade, mas o exato local onde "cus e terra se beijam", onde a alma toca o corpo. esta a experincia ntima que faz a viva entender a chuva como choro, enquanto o sobrevivente rejeita sua experincia como circunstancial. O prprio Baal Shem Tov lembra que so os nossos "olhos" e "ouvidos" que devem ser treinados a enxergar a realidade nossa volta. Como o midrash nos alerta (Gnesis R aba, X): "Temos que ser capazes de visualizar o sutil, de ver os anjos enquanto influenci am o crescimento de cada lmina de grama no cho. Temos que v-los quando se postam ao seu lado e lhe incentivam: cresce! cresce! Enquanto no conseguirmos perceber esta dimenso d e ordem, enquanto no mergulharmos mais profundamente na sutileza das situaes em que n os encontramos, continuamos presas do paradoxo e, portanto, imobilizados. Nossas pe rcepes devem ser checadas com a acuidade de quem percebe no crescimento das plantas, de tudo, energias que a seu lado lhe incentivam. Se visto com estes "olhos", ento "justo" talvez tenha um significado diferente e similarmente "perverso", "bom" e "ruim" tambm. Com certeza, o Mercado se fez e se faz, em todas as suas imperfeies, com grande influncia destes "olhos". Assim sendo, as perguntas "por que no tenho?" e "por que tenho?" encontram respostas na distribuio de nossos potenciais pelos diversos mundos do sustento. No entanto, importante perceber que "ter" no uma medida absolutamente positiva e que o fato d e "ter" pode representar perdas muito srias em outras dimenses do sustento. Ter pode anula r oudesgastar mritos ou "tesouros". Podemos, assim, consumir muito da nossa herana pes soal e ancestral em codificaes materiais a custos bastante elevados. Nem sempre aquele que tem, tem. Nem sempre aquele que no tem, no tem. Porm, aquele que realmente tem, este abenoado. Exploraremos formas de aquisio de riquezas que se distribuem pelas diversos planos do sustento, sem necessariamente expressarem -se no mundo concreto e material da Assi.