A canção

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A canção, “Queixa”, de Caetano Veloso, apresenta componentes formais e temáticos que a inserem na categoria de cantiga de amor. Composta em quadras e redondilhas entrecruzadas, arrematadas por um refrão reforçador do motivo da cantiga: a “coita” do eu-poético pelo amor não merecido, causa do um “penar” já cantado por outros tantos trovadores à moda de D. Diniz: “Tam grave dia que vos conhoci,/ por quanto mal me vem por vós, senhor!” A tormenta do vassalo diante da impossibilidade de alcançar seu objeto de desejo, na música de Caetano Veloso, é simbolizada pela “serpente”, metáfora da paixão sedutora à que o eu-lírico sucumbe. O sentimento, antes “delicado”, polido por um código de honra cortês, é agora conflitado entre a superioridade da senhora e a divindade jovial da princesa entre as quais se interpõe um componente de perdição, a carnalidade da mulher, a quem compete parte da culpa por essa “coisa que mete medo”, a paixão inflamada e reprimida, o “avesso do sentimento”, traduzindo um amor fatal. Na música “Sozinho”, de Peninha, os elementos da cantiga de amigo, são incorporados no modo como o eu-lírico se dirige à pessoa amada distante, embora aqui os papéis estejam inversos: o eu-poético que se ressente da solidão não é mulher, e sim o homem. A voz masculina já não se manifesta cheia de cerimônias como na cantiga de amor. E a impossibilidade de realização amorosa se dá pela ausência da musa e não por proibições de classe ou pela condição adulterina do amor imposta pelo sacramento matrimonial.

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A cano, Queixa, de Caetano Veloso, apresenta componentes formais e temticos que a inserem na categoria de cantiga de amor. Composta em quadras e redondilhas entrecruzadas, arrematadas por um refro reforador do motivo da cantiga: a coita do eu-potico pelo amor no merecido, causa do um penar j cantado por outros tantos trovadores moda de D. Diniz: Tam grave dia que vos conhoci,/ por quanto mal me vem por vs, senhor! A tormenta do vassalo diante da impossibilidade de alcanar seu objeto de desejo, na msica de Caetano Veloso, simbolizada pela serpente, metfora da paixo sedutora que o eu-lrico sucumbe. O sentimento, antes delicado, polido por um cdigo de honra corts, agora conflitado entre a superioridade da senhora e a divindade jovial da princesa entre as quais se interpe um componente de perdio, a carnalidade da mulher, a quem compete parte da culpa por essa coisa que mete medo, a paixo inflamada e reprimida, o avesso do sentimento, traduzindo um amor fatal.

Na msica Sozinho, de Peninha, os elementos da cantiga de amigo, so incorporados no modo como o eu-lrico se dirige pessoa amada distante, embora aqui os papis estejam inversos: o eu-potico que se ressente da solido no mulher, e sim o homem. A voz masculina j no se manifesta cheia de cerimnias como na cantiga de amor. E a impossibilidade de realizao amorosa se d pela ausncia da musa e no por proibies de classe ou pela condio adulterina do amor imposta pelo sacramento matrimonial.