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A CARICATURA DA MEMÓRIA: LUÍS CARLOS PRESTES … · 2020. 10. 16. · Luís Carlos Prestes...
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A CARICATURA DA MEMÓRIA: LUÍS CARLOS PRESTES BIOGRAFADO
NOS TRAÇOS DE PAULO CUSTÓDIO E RENATO CANINI (1985)
Bruno Rafael de Albuquerque Gaudêncio (USP)
O comunista Luís Carlos Prestes (1898-1990) foi uma dos políticos brasileiros mais biografados durante o século XX e neste início de século XXI. Do escritor baiano Jorge Amado em 1942, a sua filha, a historiadora Anita Leocádia Prestes em 2015, é possível identificar no mercado editorial, tanto brasileiro como argentino, uma dúzia de biografias lançadas. Uma destas narrativas biográficas é o perfil “Luís Carlos Prestes”, da autoria de escritor e jornalista Paulo Custódio (1985), contendo ilustrações do caricaturista Renato Canini. O livro foi publicado pela Editora Tchê, na coleção Esses Gaúchos, durante as comemorações do sesquicentenário da revolução farroupilha, em uma parceria com o Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Desta forma, a partir do debate entre biografia, historiografia e memória, pretendemos analisar como seu deu a construção biográfica de Luís Carlos Prestes realizada por Paulo Custódio, observando as relações que o autor criou através das chaves do cômico e da ironia, presentes tanto no texto como nas imagens contidas na narrativa (desenhos e caricaturas). O livro contém um conjunto de oito ilustrações, destas pretendemos analisar quatro da autoria do caricaturista Renato Canini (1936-2013). Para cumprir com tais objetivos, realizaremos um debate entre os campos da biografia, historiografia e memória, através de autores como Pierre Bourdieu (2006), em sua ilusão biográfica; Hayden White (2014), através dos trópicos do discurso (através das chaves cômica e irônica contidas na urdidura do texto); e Paul Ricouer (2007), sobre o tema da memória e esquecimento - além dos usos da caricatura, através dos estudos de iconografia presentes nos estudos do historiador Rodrigo Patto Sá Motta (2002). Discutiremos ainda a ideia de identidade gaúcha presente no conceito editorial da coleção através dos historiadores Sandra Jatahy Pesavento (1989) e Jocelito Zalla (2018). Palavras chaves: Luís Carlos Prestes, biografia, caricatura, memória, Paulo
Custódio.
1. INTRODUÇÃO
Luís Carlos Prestes (1898-1990) foi uma dos políticos brasileiros mais
biografados durante o século XX e neste início de século XXI. É dedicada a ele
a já clássica biografia O Cavaleiro da Esperança, do escritor baiano Jorge
Amado, publicado inicialmente na Argentina em 1942 com o título Vida de Luiz
Carlos Prestes: El Caballero de la Esperanza, com sucessivas edições
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lançadas no Brasil; além das mais recentes biografias dos historiadores Daniel
Aarão Reis (2014) e Anita Leocádia Prestes (2015).
Outra narrativa biográfica dedicada ao comunista, desta vez menos
conhecida, é o perfil “Luís Carlos Prestes”, da autoria de escritor e jornalista
Paulo Custódio (1985), contendo ilustrações do caricaturista Renato Canini,
entre outros ilustradores. O livro, que contém 85 páginas e dividido em cinco
capítulos, foi publicado pela Editora Tchê, na coleção Esses Gaúchos.
Assim, a partir do debate entre biografia, historiografia e memória,
pretendemos analisar como seu deu a construção biográfica de Luís Carlos
Prestes realizada por Paulo Custódio, observando as relações que o autor
criou através das chaves do cômico e da ironia, presentes tanto no texto como
nas imagens contidas na narrativa (caricaturas, principalmente). O livro contém
um conjunto de oito caricaturas, destas pretendemos analisar quatro da autoria
do caricaturista Renato Canini (1936-2013).
Para cumprir com tais objetivos, realizaremos um debate primeiramente
entre os campos da biografia, historiografia e memória, através de autores
como Pierre Bourdieu (2006), em sua ilusão biográfica; Hayden White (2014),
através dos trópicos do discurso (através das chaves cômica e irônica contidas
na urdidura do texto); e Paul Ricouer (2007), sobre o tema da memória e
esquecimento, além dos usos da caricatura, através dos estudos de iconografia
presentes nos estudos do historiador Rodrigo Patto Sá Motta (2002).
Discutiremos ainda a ideia de identidade gaúcha presente no conceito editorial
da coleção através dos historiadores Sandra Jatahy Pesavento (1989) e
Jocelito Zalla (2018).
2. BIOGRAFIA, HISTORIOGRAFIA, MEMÓRIA: UMA BREVE
CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA.
A biografia produz um tipo de memória sobre os sujeitos, inserindo os
indivíduos em cadeias de filiação indenitárias, distribuindo-os e diferenciando-
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os em relação aos outros. Biógrafos, mesmo com todos os vícios, a exemplo
da chamada ilusão biográfica, no dizer Pierre Bourdieu (2006), produzem um
sentido histórico dos seus personagens.
Pierre Bourdieu (2006) compreende como Ilusão biográfica a ideia de
que “(...) a vida constitui um todo, um conjunto coerente e orientado, que pode
e deve ser aprendido como expressão unitária de uma “intenção” subjetiva e
objetiva, de um projeto (...) que constituiu “(...) uma ordem lógica, desde um
começo, uma origem, no duplo sentido de ponto de partida, de início, mas
também de princípio, de razão de ser, de causa primeira, até seu término, que
também é um objetivo” (p.184). O sociólogo, na verdade, procura criticar um
modelo linear e ortodoxo dos quais as biografias em sua maioria se amparam
em narrativas.
Esta imaginação que a vida é um conjunto coerente parece não ser o
caminho de Paulo Custódio. Fragmentada, caótica, desorganizada, o perfil Luís
Carlos Prestes não procura construir uma utopia da criação de significados
totalizantes. Pelo contrário, a forma desordenada da narrativa de Paulo
Custódio se baseia em uma não linearidade, nem em uma ordem lógica do
sujeito Prestes, como veremos a mais frente nesta análise.
Sabemos que a produção biográfica se insere em um processo de
identificação, distinção, transmissão e sua interiorização como norma, sendo
assim pode ser compreendido como uma forma de arquivamento do sujeito, o
que pode acarretar um debate historiográfico de como a biografia é uma
produção de uma memória como também o esquecimento do sujeito. Neste
sentido, Paul Ricouer (2010) compreende que o retorno do sujeito na
abordagem histórica é indispensável para a pesquisa que se pretende se aliar
a um “trabalho de memória”. A historiografia, nesta lógica, está vinculada a
duas mudanças: a primeira se relaciona à demanda social e política de revisão
dos acontecimentos do século XX; e a segunda à reflexão epistemológica na
qual os sujeitos, as testemunhas, antes escondidas atrás da estrutura,
aparecem como peças importantes para a racionalidade e para a explicação
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histórica. Tal reflexão se assemelha em grande parte ao debate sobre a
narrativa biográfica, amparado na lógica de visibilidade dos sujeitos
biografados.
Hermione Lee (2009) em seus estudos identificou algumas regras para a
escrita da biografia: 1) a narrativa deve ser verdadeira; 2) a narrativa deve
cobrir toda a vida do personagem; 3) nada pode ser omitido; 4) todos os
recursos devem ser revelados; 5) O biógrafo deve conhecer o assunto; 6) o
biógrafo deve ser objetivo; 7) biografia é uma forma de história; 8) biografia é
uma investigação da identidade; 9) a narrativa deve ter algum valor para o
leitor; 10) Não há regras paras biografias. Temos aqui evidentemente um
quadro irônico sobre o fazer biográfico, visto que é impossível dá conta de uma
totalidade do sujeito e nem existe um modelo único e correto de construção
biográfica.
Sobre a relação entre biografia, historiografia e memória, podemos
evidenciar primeiramente o ponto sete, elencado por Lee (2009), quando o
autor afirma que a biografia é uma forma de história e, portanto uma produz
uma memória sobre o biografado; e o ponto dez, quando Lee (2009) afirma que
não há propriamente uma regra para se constrói uma biografia. Aspecto que
pode ser observado no próprio Paulo Custódio (1995), que construiu uma
forma própria de biografar, marcada pela não linearidade, pela colagem de
informações e imagens, em um conjunto não coerente e até certo ponto
desorientado do sujeito Luís Carlos Prestes. Neste sentido, se explica o título
do nosso trabalho, chamado de caricatura da memória, como uma forma de um
retrato exagerado ou propositalmente ridículo do sujeito, como veremos a
seguir.
O perfil de Paulo Custódio (1985) na realidade se constituiu em uma
narrativa em que jogo das às categorias do cômico e do irônico, no dizer de
Hayden White (2014), se sobressaem na elaboração do sujeito Luís Carlos
Prestes, conhecido pela sua seriedade e rigidez de ideias e em posições
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políticas. O que causa uma estranheza e um deslocamento dentro do jogo de
construção biográfica.
3. A PROCURA DO AUTOR E DO ILUSTRADOR: PAULO CUSTÓDIO E
RENATO CANINI
O leitor deve estranhar o pouco o título deste tópico. O motivo foi à
dificuldade encontrada em conseguir dados do autor do perfil “Luís Carlos
Prestes”, o escritor e jornalista Paulo Custódio. Até o momento o autor deste
artigo não conseguiu encontrar dados pontuais como data de nascimento, local
de nascimento, formação e experiência profissional1. O que encontramos foi
um curto perfil feito cheio de ironia, publicado no próprio livro: “Aos trinta anos
estrear em um livro-solo não é mal, e quando já consta no currículo do
indivíduo duas obras escritas a quatro mãos, ele tem tudo para não se sentir
um fracasso” (CUSTÓDIO, 1985, p.85). Há, portanto, duas sugestões aqui, que
o Paulo Custódio teria supostamente nascido em 1955 e que antes publicou
dois livros em parceria com Mário Goulart2.
Na continuidade Paulo Custódio traz algumas ironias que me parecem
demarcadas por certos preconceitos étnicos: “É o caso do autor que vos fala.
Fracasso, para ele, é aquele negócio que o Woody Allen industrializou com
muito mais talento que seu primo, o também semita Paulo Maluf, tentou vender
a outra atitude, o sucesso” (idem). Fracasso/sucesso, judeu/semita, parece
estranho essa relação construída entre Woody Allen e Paulo Maluf. No mesmo
caminho a frase final do seu minibio: “Como Mandrake, o personagem do
Rubem Fonseca, também ama as mulheres a um nível – pronto, está dito! –
passível de ser catalogado de patológico; ainda não chegou ao ponto de
estrangulá-las” (ibidem).
1 Através das redes sociais encontrei dois amigos do escritor, um dos editores da Editora Tchê nos anos 1980, o escritor Airton Ortiz e o escritor Roberto Cohen. Ambos não souberam relatar nada sobre o escritor e jornalista Paulo Custódio. 2 Acredito que seja justamente Anedotas de Gaúcho, volumes 1 (1983) e 2 (1984), lançado em diversas edições pela mesma Editora Tchê.
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Sobre o ilustrador gaúcho Renato Canini não tive problemas, devido a
sua atuação consistente no campo do humor gráfico brasileiro nos anos 1970 a
200, com páginas e páginas dedicadas a seu trabalho. Canini nasceu em 22 de
fevereiro de 1936 e faleceu em 30 de outubro de 2013. Conhecido pelos
trabalhos no Pasquim e ilustrações da Editora Abril e para a Disney, neste
último destacou-se desenhando o personagem Zé Carioca. Além disso, em sua
carreira, publicou alguns livros, entre eles o Um redondo pode ser quadrado, O
Cigarro e o formigo. Pela editora Tchê colaborou em algumas obras nos anos
1980.
4. A COLEÇÃO ESSES GAÚCHOS: A CONSTRUÇÃO DE UMA
IDENTIDADE GAÚCHA?
A Coleção Esses Gaúchos, que saiu pela editora Tchê, dentro da
comemoração do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, uma iniciativa
do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, com apoio da RBS e o Banco
Europeu. Tal projeto exemplifica uma ideia de uma identidade gaúcha, uma
gauchicidade. A coleção além de Luís Carlos Prestes, lançado em março de
1985, como volume 15, foram perfilados e publicados biografias de Getúlio
Vargas, Barão de Itararé, Lupicínio Rodrigues, Leonel Brizola, Tesourinha,
Érico Verissimo, Elis Regina, Pinheiro Machado, Borges de Medeiros.
A Coleção Esses Gaúchos saiu pela editora Tchê, dentro da
comemoração do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, iniciativa do
Governo do Estado do Rio Grande do Sul, com apoio da RBS e o Banco
Europeu. Tal projeto exemplifica uma ideia de uma identidade gaúcha, porém
podemos perceber que há uma diversidade nesta ideia de ser gaúcho, contida
na coleção, como veremos.
Sandra Jatahy Pesavento (1989) compreende que a figura do gaúcho é
uma fixação de imagens e conceitos sobre Rio Grande do Sul e seu
personagem símbolo, o gaúcho, que reforça imagens, fixando hábitos e
conceitos e exaltando comportamentos considerados típicos, criando um mito
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ou de um estereótipo. Uma noção de história que procura legitimar uma
posição de predomínio e certa hegemonia, considerada por ela como uma
visão tradicional e conservadora.
Para o historiador Jocelino Zalla (2018) as origens do gaúcho remetem
ao século XVIII como o andarengo, errante, sem paradeiro e trabalho fixo,
alguém excluído da ordem pela condição de “vagamundo”. Com o tempo o
termo transformou-se, ganhando uma conotação positiva, com a organização
da estancia e com a identificação como sinônimo de peão e guerreiro. A
questão da consolidação da propriedade pecuária seria o motivo da mudança,
com a subjugação dos gaúchos como mão de obra nas estancias de criação.
Seriam os peões campeiros, que mantinham hábitos, vestimentas, linguajares
e costumes herdados dos antepassados.
Para Zalla (2018, p.62) “foram os homens e mulheres de letras, educados
em padrões cosmopolitas e valendo-se de modelos narrativos europeus os
responsáveis pela elaboração do gaúcho como símbolo da identidade coletiva
do Rio Grande do Sul”. Um romantismo ingênuo presente em nomes de
escritores desde o século XIX até recentemente. O Zalla (2018) cita o nome de
José de Alencar, Alcides Maya, Simões Lopes Neto, Cyro Martins, como
exemplos destes produtores.
Entretanto, a Coleção Esses Gaúchos parece diluir essa ideia de uma
identidade gaúcha fixa e estereotipada, o critério parece ser a ideia de
notoriedade dos perfilados, não agenciando propriamente as noções podemos
dizer folclóricos, presos a uma tradição, dos quais falam Pesavento (1989) e
Zalla (2018), em seus trabalhos teóricos sobre o tema.
5. ENTRE O CÔMICO E IRÔNICO: CARICATURAS DA MEMÓRIA
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Imagem 1: Capa do perfil Luís Carlos Prestes.
Comecemos por apresentar a capa do livro Luís Carlos Prestes. Como é
possível observar o livro já traz nela uma caricatura do seu perfilado, feito por
uma artista chamada Ronaldo3 (Imagem 1). Depois do título, uma espécie de
subtítulo definidor do personagem: “O revolucionário. O conservador. O
demônio. O crente. O militar. O antimilitarista. O guerrilheiro. O senador. O
octogenário. O vigoroso. Prestes.”. É possível questionar algumas destas
características enfatizadas pelo autor do perfil biográfico. Por exemplo: o
conservador, o demônio, o crente. A ênfase em lado pelo menos negativo é
evidenciada desde o início. Ainda sobre a capa, a caricatura de Prestes é
demasiadamente negativa, além de velho, há certa ironia, visto que o
personagem é colocado praticamente apenas com a cabeça e mãos. Em uma
delas ele segura PCB, do qual Prestes havia deixado o partido desde 1980, em
sua Carta aos comunistas, o que passo um teor de crença politica do
personagem.
3 Não encontramos informações sobre o caricaturista.
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Imagem 2: Caricatura que antecede o primeiro capítulo
Antes mesmo de iniciar a narrativa biográfica propriamente, o perfil
apresenta uma primeira caricatura de Luís Carlos Prestes (Imagem 2). Da
autoria do ilustrador Renato Canini, ela se configura como bastante
representativa, pelo visto que o caricaturado apresenta características de um
homem velho, com os dedos em riste, vestindo-se muito bem, porém trazendo
pés em formato de caneta, ou seja, quando alguém se expressa impositiva e
altivo. O termo o Velho, apelido inclusive que levou até o resto dos dias, trata-
se, segundo Rodrigo Motta (2002), de uma ênfase conferida a Prestes, desde
os anos 1950, quando este permanece na clandestinidade:
Os retratos e reproduções dele que circulavam até então, inclusive na propaganda anticomunista, mostravam um homem jovem, na faixa dos quarenta anos. (...) De repente, o líder emerge das sombras de uma década de clandestinidade, e os jornalistas são apresentados a um senhor quase sexagenário, embora ainda vigoroso. A imprensa conservadora não iria perder a oportunidade de troçar da idade de Prestes, e partir daí ele passou a ser adjetivado de velho. (p.106-107)
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Esta ênfase na figura do Velho permanecerá, como vemos nos anos
1980, quando Prestes possuía os seus mais de oitenta anos, como é o caso da
época da publicação do perfil biográfico “Luís Carlos Prestes”, da autoria de
Paulo Custódio.
Pensando mais alguns paratextos4 contidos no livro, observamos nos
agradecimentos que o autor agradece a vários amigos que o ajudaram com
fotos e livros, ou a acesso a arquivos e livrarias. Já nas epígrafes identificamos
certos sarcasmos5.
Antes de começar propriamente o perfil chama atenção uma nota do
próprio Paulo Custódio: Luiz Carlos Prestes negou-se a colaborar na
construção do texto:
Prestes recursou-se a responder questionário para este livro argumentando que discordava de seu conteúdo, o qual estaria coonestando – o termo é dele – caso uma entrevista sua fosse nele publicada. Uma das afirmações que ele julgou equivocada foi a de que as mulheres, no comunismo primitivo, também eram repartidas, se não igualitariamente, ao menos de maneira bem mais comunal que a permitida pela nossa sociedade – excetuando as prostitutas.
O texto realmente possibilitava uma má interpretação, por isso a frase “... era dividido igualitariamente...” foi substituída por uma mais apropriada “... eu usufruído por todos...”
Como essa afirmação é ciência materialista clássica (mais precisamente, Engels em seu A origem da família, da propriedade privada e do estado, onde o companheiro de Marx afirma que a monogamia surgiu em decorrência da propriedade privada, a qual gerou o direito de herança, cujos legendários viram na posse exclusiva de uma mulher a única maneira de ter certeza que estariam legando seus bens a seus filhos legítimos) acredito que foi a linguagem um tanto dúbia e irreverente que desagradou Prestes.(CUSTÓDIO, 1985, p. 12)
4 Paratexto “é aquilo que por meio do qual um texto se torna livro e se propõe como tal a seus leitores, e, de maneira mais geral, ao público” (GENETTE, 2009, p.9). São exemplos: capa, anexos, página de rosto, prefácios, posfácios, entrevistas, dedicatórias, epigrafes, etc. 5 Primeiro por usar Paulo Francis, em uma frase conhecida retirada do seu O afeto que se encerra, que diz: “Pessoas que me conhecem no meu atual ceticismo se surpreendem que eu pudesse ser ou tenha sido, comunista na juventude (...) Respondo com outra pergunta: como é possível não ser, ou não ter sido comunista no Brasil (...)?” (p.7). Depois estranhamente coloca duas frases enigmáticas, uma de Anatole France: “Vou falar de mim a propósito de Shakespeare” e outra de sua avó (isso mesmo!): “Que guria ruim pra passar fome essa!”, além de justificar nas seguintes palavras: “Minha avó, lá pela década de 30, comentando a tremedeira de uma das suas filhas, às dez horas da manhã, com fome)” (idem)
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Imagem 3: Ilustração do primeiro capítulo
A lustração do primeiro capítulo “A Coluna da Esperança, é a última que
morre?” (imagem 3) expressa em traços em primeiro plano o próprio Prestes
sério, contendo em segundo plano outros dois militares, supostamente
comandantes tenentistas como ele. Enquanto a ilustração possui traços sérios,
o título do capítulo percebe-se traços de ironia, um das categorias que Hayden
White (2014), que se apropria de Frye, para compreender as estruturas dos
enredos dos textos de natureza literária ou histórico. Isso na analogia contida
na ideia da esperança, do cavaleiro da esperança, com a Coluna, conhecida
como Coluna Prestes e no dito popular da esperança que seria a última que
morre.
Antes mesmo de se deter a chamada Coluna Prestes, Paulo Custódio
(1985) faz uma reflexão sobre o comunismo. “O Comunismo é antigo. Tudo
que existia “antes”, de alimentos a peles, de frutas a mulheres – e homens –
era usufruído por todos os membros da tribo. Se o chefe ficava com mais, é
outra história.” (p.14). E continua: “O fato é que a igualdade é um dos sonhos
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mais antigos da humanidade, tão antiga quanto à vontade de ter mais, e aqui
começa o problema” (Idem). Percebe-se claramente que o autor não possui
qualquer simpatia pelo comunismo, se utilizando de ironias e de certa forma,
sensos comuns, sobre o que seria o chamado comunismo primitivo. Para o
biógrafo, o capitalismo seria algo inerente ao homem desde o seu início
enquanto espécie. Isso fica mais claro no mesmo parágrafo quando afirma:
“Surgindo o capitalismo ressurgiu sua antítese inevitável, agora armado de todo
um instrumental teórico e prático criado pelo próprio capitalismo, sistema que,
segundo seus adversários, comunistas ou não, cria o veneno que o destrói”
(p.14)
Depois Paulo Custódio chega ao seu personagem: “No Brasil, falar em
comunismo é falar em Prestes” (p.14). Há aqui uma vinculação direta entre a
doutrina comunista e o sujeito Prestes, assim como ocorrerá em tantas outras
biografias ou estudos, seja com a doutrina, seja com o Partido, no caso o PCB.
O biógrafo apresenta o seu personagem em poucas linhas, aludindo à
noção da identidade gaúcha, que já debatemos no tópico anterior, vinculado a
ideia conservadora:
Gaúcho ás antigas, às direitas, como se dizia, engenheiro por vocação e militar por necessidade – sua mãe viúva passava por grandes dificuldades para educá-lo e às suas quatro irmãs; o Colégio Militar era gratuito, dava prioridade para os órfãos de militares e ainda fornecia alimentação e vestuário para alunos pobres -, idealista no bom sentido, real, adotou uma doutrina que dá uma visão total do mundo, explicações brilhantes para o passado, presente, e previsão com boas possibilidades de acerto para o futuro da humanidade, e que exige uma disciplina de seus seguidores, disciplina física mas principalmente mental, de saber raciocinar com contradições sem perder o centro da questão” (CUSTÓDIO, 1985, p.14)
.
O biógrafo na verdade vai disparando informações e análises sobre seu
personagem, de maneira desorganizada, misturando temporalidades e
contextos, não seguindo uma linha linear. Em certo momento falando da
origem das revoltas de 1924 afirma: “O velho começou cedo” (p.15). Confunde
marxismo com revolta diante das injustiças sociais “(...) o comunismo de
Prestes começou em casa, empírico, através da simples indignação contra
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injustiças” (p.15). Tal afirmação não condiz em nada com os próprios
depoimentos de Prestes, quando este avisa que seu primeiro contato politico
com o marxismo se deu no exílio na Bolívia e na Argentina, no término da
“Grande Marcha”
Além de desorganizado, com trechos que exemplificam certos
anacronismos, o texto em si é confuso, nos quais Paulo Custódio oscila
diferentes vozes, trazendo citações não identificadas, que confundem mais do
que esclarecem a trajetória política de Luiz Carlos Prestes. Às vezes o próprio
Prestes fala, outras vezes parte dos autores em que o autor dialoga.
Em certo momento do texto Paulo Custódio se apropria das reflexões do
comandante tenentista João Alberto, um dos principais nomes da Coluna
Miguel Costa Prestes, nos anos 1920, autor nos anos 1950 do livro “Memórias
de um Revolucionário”. Percebe-se claramente que o biógrafo se apropria de
certo ressentimento de João Alberto, quando coloca diversas citações do livro
citado: “Ele era assim mesmo – dizia-me – cheio de caprichos, contraditório”
(p.19) ou como este “(...) convertera-se em materialista dogmático” (idem) e
neste “Aquele novo personagem que se estava apresentando em Prestes não
me agradava” (Ibidem)
A ênfase é no momento em que Prestes tenta convencer os antigos
colegas da Coluna Invicta a não se apoiarem ao golpe getulista em 1930. Uma
frase de João Alberto exemplifica o isolamento de Prestes nesta tentativa:
“Parecia um fanático, transbordando de violência contra os adversários e
amigos da véspera e colocando todos, sumariamente, na classe dos
exploradores do povo” (p.20). Portanto, há uma ênfase demasiada nas
memórias de João Alberto em certo teor anticomunista.
Além de João Alberto, Paulo Custódio bebe na fonte de Jorge Amado,
no seu clássico O Cavaleiro da Esperança, mas de forma tímida, o que nos
leva a compreender o seu perfil biográfico de Prestes como uma espécie de
colagens de textos, fragmentado, descontínuo. Em relação ao livro O Cavaleiro
da Esperança, Paulo Custódio escreveu:
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Este livro, publicado pela primeira vez em 446, como parte de uma campanha para tirar Prestes da cadeia, tem uma história própria, devido à fidelidade com que espelha uma época e um país, através do estilo do autor, representativo de um estado de espírito. Foi acusado de mistificador de Prestes, sendo material informativo de
primeira qualidade. (p.26)
Paulo Custódio (1985) compreende que “Prestes é um tipo de homem
que só ascende ao poder em épocas de crise radical, tipo revolução russa,
emergindo em meio aos escombros de um sistema agonizante” (p.26).
Imagem 4: Ilustração do segundo capítulo
No capítulo 2, chamado “Do “intento louco”, conluio”, temos mais uma
ilustração de Canine (Imagem 4), que alude a prisão e julgamento de Luís
Carlos Prestes. Na ilustração temos Prestes triste e abatido, sendo observado
com atenção e certo espanto pelos presentes. A semelhança do capítulo 1,
permanece a ironia do texto, que já começa mais uma vez procurando
descontruir o marxismo e o comunismo. Vejamos: “Quando lhe pediram uma
definição do comunismo como condição para apoiá-lo, no breve período
6 Na verdade a primeira edição argentina é de 1942 e a brasileira é de 1945.
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parlamentar do PCB, em 45/47, Prestes respondeu que se dissesse o que é
comunismo ficaria mal, ou, simplificando, a ignorância política do povo é um
prato cheio feito para o anticomunismo” (p.35). E continua comentando:
Realmente: Imagine-se o leitor convencendo a massa da corrupção inerente ao capitalismo e da inevitabilidade de um regime popular, conseguindo o poder e sendo imediatamente obrigado a tomar atitudes que contradizem, a curto prazo pelo menos, o que no dia-a-dia pode significar muito, as belas promessas de paz e pão para todos” (CUSTÓDIO, 1985, p.35)
O autor procura demostrar que o marxismo foi um erro, optando pela
ironia: “Este foi o drama dos bolcheviques e tem sido em boa medida o que
todas as revoluções socialistas, da chinesa à cubana, e continuará sendo
enquanto permanecer teoria a maravilhosa tese do socialismo ser uma
consequência natural da derrocada do capitalismo desenvolvido...” (p.35).
Ironiza também o fato de Prestes ter aderido à doutrina marxista recebendo na
Bolívia alguns livros, dentre eles Estado e Revolução, de Lênin: “Prestes era
completamente ignorante o marxismo e hoje inveja a facilidade com que os
jovens têm acesso à sua bibliografia” (p.35).
A semelhança do primeiro capítulo persiste os mesmos problemas: texto
quebrado, com ausência de continuidades, uma mistura de temporalidades e
espacialidades, um jogo de citações, sem datas e páginas e muito menos
autoria. Além disso, imagina respostas de Prestes a questões do passado e do
presente da narrativa: “Nessa época, se alguém perguntasse a Prestes sua
opinião sobre os julgamentos promovidos pelo PCUS é certo que ele apoiaria”
(p.39). Paulo Custodio ensaia alguns elogios a Prestes, porém sua construção
é uma visão caricatural, e mais derrotada. Um exemplo desta compreensão é o
trecho seguinte:
Prestes é um vitorioso diante da vida, manteve-se firme em vários terremotos, sempre consciente de suas limitações, apreendendo, e hoje, octogenário, é um dos políticos brasileiros mais respeitados e solicitados a dar opiniões. Num país dominado por tipos astutos, oportunistas e vaidosos, é um homem austero, derrotado politicamente, se visto de maneira superficial, e ganhador como indivíduo, vitória que só obtém quem viveu e vive intensa e coerentemente (p.41).
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Entretanto, a ironia persiste por toda a narrativa: “É recomendável não
falar mal do regime soviético na frente de Prestes. Seja a crítica da esquerda
ou direita, ele reage” (p.42). O autor cita uma reportagem saída no jornal O
Estado de São Paulo para exemplificar.
Figura 5: Ilustração do capítulo 3
No capítulo 3, temos na ilustração uma caricatura de Prestes, sorridente
e velho, com uma sombra negra, que talvez remeta a um futuro “negro” quanto
aos seus objetivos. Saído da cadeia, do qual esteve preso entre 1936 a 1945,
solto, consegue eleger-se Senador da República, mas dois anos depois o PCB
é cassado, voltando o partido e o próprio Prestes à clandestinidade. Paulo
Custódio (1985) continua produzindo uma narrativa que procura descontruir o
seu personagem. O autor afirma que Prestes “cansou de dar ‘coices’ em
jornalistas que lhe faziam perguntas que ele achava idiotas ou mal
intencionadas, capciosas” (p.48). E justifica: “Novamente a proximidade entre o
tão-proclamado caráter desabrido gauchesco e a franqueza, preto no branco,
proletária ou camponesa” (Idem). Custódio observa nessa franqueza também
algo positivo, quando exemplifica o caso das críticas que fez a Maluf e
Tancredo (segundo Prestes ambos eram do mesmo nível), durante a posse da
nova diretoria do sindicato dos bancários de Porto Alegre, em 1985 ou quando
chegando do exílio em 1979 no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, fez
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duras críticas a ditadura, listando os nomes dos assassinados pelo regime,
mesmo sendo ela responsável por sua anistia.
Paulo Custódio vai ao caminho do psicologismo: “No dia-a-dia é outra
coisa. Um tipo vil e bem educado agrada mais a muito mais pessoas por viver
numa medida mais condizente com o cotidiano, do que o idealista que acredita,
algumas vezes excessivamente na própria virtude, e descamba com relativa
facilidade para a intolerância” (p.48). E arremata: “Psicologismo à parte. O fato
é que a simpatia, ou habilidade para agradar, exerce papel importante na
carreira dos indivíduos de qualquer ideologia; Stalin era tão ou mais cercado de
bajuladores que Hitler ou Reagan ou quem quer que esteja por cima” (Idem).
Além da franqueza, Custódio coloca o orgulho como outra característica da
personalidade de Prestes: “Outro grande momento prestista foi quando recusou
a defesa de Sobral Pinto após sua prisão, em 36” (p.49) e justifica ironizando:
“O orgulho era necessário a Prestes, que teve a sorte de ganhar um advogado
católico, religião com milenar experiência em lidar com orgulho da miséria
humana” (Idem).
Prestes, para Paulo Custódio, é um sujeito duro, quase insensível, do
qual as fotos sorrindo são quase impossíveis de encontrar, como uma
descrição de uma foto com as irmãs: “uma das raras fotos de Prestes foi tirada
ao lado das duas, durante o exílio em Buenos Aires, logo depois da Coluna.
Elas jogam no time ‘comunistas, graças a Deus’” (p.50). E segue na narrativa
exemplificando em outras fotos, como no comício de Vargas: “Prestes, sorrindo
contido, simples, sem populismo” (p.50) ou em momentos na época da Coluna
Prestes ou quando junto da bancada do PCB em 1946: “ar austero,
ligeiramente melancólico – ou será rigidez natural de quem está posando/”
(p.51)
Paulo Custódio insiste em um movimento que possa criticar a
experiência comunista e demostra uma compulsão que as ideias de Prestes
são fracassadas, visto que o capitalismo superou os limites do socialismo.
Enfatiza as diferenças de modelos de industrialização dos Estados Unidos e da
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URSS e em certo momento se pergunta: “Um Brasil Socialista diminuiria em
quanto à remessa de lucros das empresas americanas para sede?” (p.51)
No capítulo 4, chamado “O Materialismo, o comunismo, o capitalismo, o
Brasil”, Paulo Custódio parte mais do contexto, do que o personagem. Todavia,
em certo momento procura interpretar seu personagem que palavras mais
sérias: “Prestes é um personagem de Shakespeare. As situações limite são
comuns em sua vida: as batalhas da Coluna, a separação brutal de Olga, a
tortura psicológica do isolamento, as derrotas – falando num nível superficial –
políticas acachapantes, material precioso para dramaturgos” (p.60). O autor
deve estar a remeter-se a figura dramática ou trágica de Prestes. E continua:
“Seus exílios, clandestinidade, prisão, decepções, desaparecem diante de uma
realidade maior, para a qual estes fatos menores certamente contribuíram
decisivamente; a pujança de um ancião de 87 anos, sem rancores, pois
considera tudo isso ‘fruto do processo histórico” (Idem).
Custódio demostra que Prestes meio que justifica esses fatos trágicos
em sua vida, como uma etapa de uma vitória futura do socialismo. A autocrítica
também aparece, visto que o mesmo Prestes assim escreveu “Acho que cometi
muitos erros, mas só não erra quem não faz. É o pior dos erros” (p.61). O
biografo ensaia uma análise: “O materialismo tem um preço: a solidão. Não é
agradável sentir que estamos sós. O comunismo, visões ufanistas à parte, se
der certo talvez seja isso: um sistema feito para e por um ser incompleto,
caminhando para o esclarecimento, consciente de si e da sua solidão” (p.61).
O biógrafo de certa forma justifica a solidão de Prestes pelas opções
políticas que ele seguiu. Não esconde o seu anticomunismo, mesmo
admirando algumas das características morais do seu personagem. Cita Alceu
do Amoroso Lima (o da década de 1930), quando afirma o crítico que o
comunismo atrofia do conceito de justiça em detrimento da liberdade ou Paulo
Francis, que preferia se jogar pela janela a morar na URSS. Tal movimento é
justificado por Custódio, pois ele pretender tenta aprofundar o tema da
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fidelidade de Prestes a URSS. O autor se pergunta qual o legado de Prestes?
O responde: “o mesmo de todos nós: a luta” (p.64)
É a suposta aridez de Prestes, acusado de ser um homem sem amigos, aqui mostrando o seu lado oculto: uma pessoa que mergulhou até o fundo da condição humana nas suas facetas mais trágicas, uma separação do mundo em comum comparável à dos monges mais ascetas, e que voltou à tona com uma clara consciência do relativismo do valor dos homens, na alma a certeza de que a morte é apenas um acidente fortuito na vida, certeza indispensável para se deixar de temê-la, e que esta vida merece ser vivida apenas enquanto for possível nela criar fatos. (p.65)
No quinto e último capítulo, Depoimentos históricos, três documentos
prestistas e depoimentos atuais, há como diz o próprio nome uma lista de
depoentes, como Graciliano Ramos, Astrogildo Pereira, Lourenço Moreira
Lima, Agildo Barata, Jorge Amado, Cordeiro de Farias, Plínio Corrêa de
Oliveira, Juarez Távora, Mário de Andrade, bem como trechos do seu
pensamento em discursos ou manifestos escritos pelo próprio. A arrumação
dos depoimentos chama atenção. Muitas ex-lideranças da Coluna Prestes ou
do PCB que se tornaram-se ao longo do tempo, não exatamente inimigos, mas
ressentidos com o líder comunista. Há ainda depoimentos atuais, como Tarso
Genro e Moacir Sclyir.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta forma, ao analisar como seu deu a construção biográfica de Luís
Carlos Prestes realizada por Paulo Custódio, observamos o anticomunismo do
biógrafo em relação ao biografado, utilizando-se das chaves do cômico e da
ironia, presentes tanto no texto como nas imagens contidas na narrativa
(caricaturas, principalmente), como forma de elaborar um Prestes como um
homem velho, sério, rígido, que cometeu vários erros em sua trajetória. As
caricaturas e desenhos de Renato Canini dialogam também neste sentido,
mesmo de maneira um pouco mais sútil. Por último, a forma como Custódio
monta a biografia, de forma fragmentada, não linear e descontínua, é forma
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moderna, que de certa maneira foge do que Pierre Bourdieu (2006) chama de
ilusão biográfica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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