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1 A CASA DE D. ALDA Joaquim Manoel de Macedo na sua crônica escrita em 1853, Viagem a Petrópolis 1 , escreve sobre a primeira casa de Petrópolis A casa suíça de que falei, e que hoje está transformada na casa da sra Alda, foi a primeira habitação que houve na terra de que falamos. 2 A casa de d. Alda ficava na rua D. Januária 10 e era a antiga sede da fazenda do Córrego Seco. Por que escolhi a Casa de D. Alda para o simpósio "A bacia do Paraíba, a segunda escravidão e a civilização imperial"? A razão é bem simples. A Casa de D. Alda representa o tema proposto para este Simpósio a expansão da chamada segunda escravidão, com base na produção de café e outras "commodities" para abastecer o mercado capitalista em escala atlântica, através de redes mercantis e financeiras; 2) a expansão do Estado imperial a partir de sua principal base de sustentação social, a classe senhorial, que se forma com esse mesmo Estado; 3) a expansão da civilização imperial, que tem seu centro propulsor na corte, em suas conexões com a civilização européia, dadas pela forma monárquica do regime, pela nobreza meritocrática e pela cultura romântica. Através da Casa de D. Alda estes três processos históricos serão vistos em comum, acompanhando a trajetória de sua família e da sua rede de sociabilidade presentes na elite econômica e social tanto da Colônia quanto a do Império e como é próprio a uma 1 Strzoda, Michelle – O Rio de Joaquim Manuel de Macedo Jornalismo e Literatura no Século XIX. Antologia de Crônicas 2 In op cit pg 123

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A CASA DE D. ALDA

Joaquim Manoel de Macedo na sua crônica escrita em 1853, Viagem a Petrópolis1,

escreve sobre a primeira casa de Petrópolis

A casa suíça de que falei, e que hoje está transformada na casa da sra Alda, foi a

primeira habitação que houve na terra de que falamos.2

A casa de d. Alda ficava na rua D. Januária 10 e era a antiga sede da fazenda do

Córrego Seco.

Por que escolhi a Casa de D. Alda para o simpósio

"A bacia do Paraíba, a segunda escravidão e a civilização imperial"?

A razão é bem simples. A Casa de D. Alda representa o tema proposto para este

Simpósio

a expansão da chamada segunda escravidão, com base na produção de café e outras

"commodities" para abastecer o mercado capitalista em escala atlântica, através de

redes mercantis e financeiras; 2) a expansão do Estado imperial a partir de sua

principal base de sustentação social, a classe senhorial, que se forma com esse mesmo

Estado; 3) a expansão da civilização imperial, que tem seu centro propulsor na corte,

em suas conexões com a civilização européia, dadas pela forma monárquica do regime,

pela nobreza meritocrática e pela cultura romântica.

Através da Casa de D. Alda estes três processos históricos serão vistos em comum,

acompanhando a trajetória de sua família e da sua rede de sociabilidade presentes na

elite econômica e social tanto da Colônia quanto a do Império e como é próprio a uma

1 Strzoda, Michelle – O Rio de Joaquim Manuel de Macedo Jornalismo e Literatura no Século XIX. Antologia de Crônicas 2 In op cit pg 123

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2 sociedade escravocrata, a representação social desta parentela que os nobilitava, os

identificava e os diferenciava.

Filha de Hilário Gomes Nogueira Capitão das Ordenanças de Baependi e de Maria

Josefa do Nascimento, D. Alda nasceu em Minas Gerais. Seu pai em 1789 comprou de

Policarpo Serafim da Silva Coronel Comandante do 1º Regimento da Capitania de São

Paulo, a sesmaria das Três Barras situada no sertão do Caminho Novo que se abriu entre

o Rio de Janeiro e São Paulo. Hilário a adquiriu à vista pagando o valor de 800$000 em

ouro em pó e ouro em barra. A Escritura foi lavrada em Ouro Preto.

Hilário se retirou de Minas por volta de 1792 como consta no processo de Gênere et

Moribus do seu filho, o padre Diniz Hilário Nogueira.

D. Alda casou – se em 1804 com o sargento mor da Milícia de Cunha Brás de Oliveira

Arruda. Deste casamento nasceram 14 filhos.

Pela Casa de D. Alda passou a Inconfidência, a montagem da economia cafeeira, o Fico,

a Independência, a formação da Elite tanto a do I Reinado quanto a do II reinado,

articulado através de diversos casamentos exogâmicos ou socialmente endogâmicos

consorciando diversas redes de sociabilidade.

De fins do século XVIII a 1859, a Casa de D. Alda teve a sua memória, os seus causos

de diversos fatos marcantes da História do Brasil.

Da Inconfidência D. Alda conheceu seu pai Hilário Gomes Nogueira, que tinha tratos

comerciais com João Rodrigues de Macedo. Hilário era o Capitão das Ordenanças de

Baependi pátria do Inconfidente Claro José da Motta, filho de uma irmã do padre

Toledo, com Antônio José da Motta, Capitão do Regimento dos Auxiliares de Baependi

e oriundo de uma tradicional família de Taubaté. Claro foi o único inconfidente

condenado que não foi localizado. Antônio José da Motta era cobrador dos dízimos do

contrato de João Rodrigues de Macedo na região de Baependi e São Paulo.3 A madrinha

de seu irmão Diniz, era Bernardina Quitéria de Oliveira Bello mostrando a estreita

relação que havia entre Hilário e Maria Josefa com o fazendeiro Luís Freitas de

Oliveira Bello, coronel do Regimento Auxiliar de Cavalaria dos Campos Gerais da

3 Ibid., p. 251.

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3 Piedade do Rio das Mortes.No assento de batismo lavrado em 22/01/1786 a madrinha

declarou, ser moradora no registro de Matias Barbosa. Bernardina Quitéria nesse tempo

tinha 5 anos e em 7 de fevereiro de 17914 contraiu núpcias com Joaquim Silvério dos

Reis, o Silverino das Cartas Chilenas, considerado por Márcio Jardim o segundo

homem mais rico da Capitania de Minas Gerais, depois de João Rodrigues de Macedo.

Um dos primos do pai de Mariana Cândida que casou – se com Francisco de Lima e

Silva e Bernardina Quitéria, era o Tenente-Coronel da Cavalaria de Milicias Francisco

Antônio de Oliveira Lopes, réu da Conjura e condenado ao degredo que cumpriu em

Bié, África onde morreu com 50 anos, em 1800.

Este grupo familiar teve mais dois condenados na Inconfidência :

José Aires Gomes casado com Maria Ignácia Oliveira. Condenado a degredo

partiu para a região de Inhambane (Moçambique), aonde veio a falecer com 62 anos, em

1796.

O outro condenado foi o médico Domingos Vidal de Barbosa Lage, morador na

fazenda do Juiz de Fora, situada no Caminho Novo. Ele estudou medicina em

Montpellier e foi testemunha do encontro entre Thomas Jefferson e José Joaquim da

Maia. Cumpriu pena de degredo em Cabo Verde. Faleceu, em 1793, aos 32 anos. Nesta

parentela em que dois tenentes coronéis da cavalaria de milícias e um médico foram

degredados, foram pronunciados, mas não condenados o irmão padre de Domingos

Vidal Barbosa, Francisco Vidal de Barbosa Laje, mais o padre José Lopes de Oliveira,

irmão do fazendeiro de Prados.

A relação de Lucas Antônio sogro de sua filha Alda Rumana com a Inconfidência,

não é subjetiva. Não se faz necessário montar uma rede de sociabilidade para situá –lo

na Conjura. Lucas Antônio foi denunciado a Devassa por Basílio de Brito Malheiro. O

delator havia notado ser Lucas Antônio Monteiro de Barros “amigo intimo de

Alvarenga Peixoto (....) e estivera em conversas com ele e Tiradentes naquele mês de

março de 1789”. Basílio de Brito procuraria conversar depois com Lucas Monteiro,

reservada e “maliciosamente”. O jovem bacharel então confiando naquele amigo que já

4 PINHEIRO, Júlio César da Paz e PINHEIRO, Ana Virgínia da Paz. Joaquim Silvério dos Reis e os aspectos contábeis do Brasil Colonial. Jornal de Contabilidade, nº 283, outubro de 2000, p. 282.

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4 estivera na mesma roda anterior, conta-lhe que sabia de mais coisas: Claro José da Mota

havia dito a ele, Barros, que assistira a uma reunião entre o padre Luís Vieira,

Alvarenga Peixoto, Cláudio Manuel, Tomás Gonzaga, Tiradentes e “outros”, na qual se

tratou do levante “que está para se fazer nas Minas”. 5

Ele formou-se em Coimbra em 1787 e disse Basílio, estar ele “para ir para

Portugal a ler no Desembargo do Paço para se despachar”.6 Quando procurado pela

Devassa já estava em Lisboa “instalado como Juiz”. As suas provas para a magistratura

tiveram como testemunhas o bacharel João Evangelista de Faria Lobato (natural de Vila

Rica), o sargento J. da Silva Brandão e o Bacharel José Bonifácio de Andrada e Silva.

Em 1804, Ouvidor da Capitania de Minas Gerais, levou a Hasta Pública as fazendas

Ponta do Morro e Borda do Campo pertencentes aos inconfidentes Aires Gomes e de

Francisco Antônio de Oliveira Lopes e foram arrematadas por seus familiares.

Lucas Antônio Monteiro de Barros titulado Visconde de Congonhas do Campo, será o

primeiro presidente da Província de São Paulo após a Independência e em 1835

assumiu o cargo de Presidente do Supremo Tribunal de Justiça.

De 1804 a 1838 D. Alda passou em Bananal sendo sua morada, a Fazenda Cachoeira.

Seus pais, Hilário Gomes Nogueira e Josefa Maria do Nascimento moravam em São

João Marcos na Fazenda Santo Antônio da Olaria.

Seu marido, Brás de Oliveira Arruda foi um dos mais importantes fazendeiros do vale

do Paraíba nesta quadra de tempo.Brás fazia parte de um grupo de grandes proprietários

que acumularam capital na economia mercantil de subsistência e investiram no plantio

de café.

Nascido em Itacuruçá em 1770, Brás de Oliveira Arruda vem a falecer de morte

natural em 1828 na sua fazenda Cachoeira em Bananal. Foi capitão de cavalaria e

posteriormente Sargento-mor das Milícias de Cunha. Veio para Bananal em 1776 com

seu pai José Antônio de Oliveira que havia recebido uma sesmaria com

5 JARDIM, op. cit., p. 233. 6 Ibid., p. 234.

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5 “1930 braças de testada nas sobre quadras de Manoel de Sá Carvalho... 7. Brás e

sua mãe também pediram tombamento e medição de mais uma sorte de terra - “sua

viúva Ana Maria de Jesus e seu filho Brás de Oliveira Arruda - Diz Anna Maria, viúva

de José Antônio de Oliveira, que ela é senhora e possuidora de uma sorte de terras com

250 braças sitas na paragem encostada ao Pouso Seco da Comarca de São Paulo na

fazenda chamada “os Negros”, as quais terras houve por compra o dito seu marido de

Francisco José de Castro...”8

Ele retornou de Cunha em 1803 e em 1815 ganhou a patente de sargento-mor com

direito as honrarias, mas sem receber nenhum soldo

Faço saber aos que esta minha Carta Patente virem, tendo

consideração aos merecimentos e mais partes que concorrem na

pessoa de Brás de Oliveira Arruda, capitão do Regimento de

Infantaria de Milícias da Vila de Cunha Capitania de São Paulo

e a achar-se impossibilitado de continuar o meu real serviço por

todos estes respeitos; Sou Servido fazer – lhe Mercê de o

Reformar, como por esta reformo no ponto de sargento mor, do

mesmo corpo, sem que vença soldo algum da minha Real

Fazenda, porém gozará de todas as honras e privilégios, que em

razão daquele posto lhe competirem.9

Em 1804, com 34 anos casou-se com Alda Maria Floriana Nogueira, de 21 anos,

natural de Baependi onde nasceu em 1783, filha do Capitão das Ordenanças da vila de

Baependi Hilário Gomes Nogueira e de Maria Josefa do Nascimento. Essa biografia

sucinta de um fazendeiro “de serra acima” é comum a muitos deles. Herdeiros de

sesmarias adquirem mais terras e se tornam fazendeiros e alguns deles senhores rurais

com foi o caso de Brás de Oliveira Arruda.

7 CARVALHO, Rodrigues Píndaro de. O Caminho Novo: povoadores do Bananal. Col. Paulística, vol. XVIII. São Paulo: Edição do Governo do Estado de São Paulo, 1980, p. 37-38. 8 Arquivo Nacional-sesmarias – cx 158 n.40C. 9 Arquivo Nacional – 2º Ofício de Notas – Brás de Oliveira Arruda.

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6 No Tombamento dos Bens Rústicos trancrito por Taunay no seu livro História do

Café no Brasil, Brás Arruda está lançado como senhor de uma das mais expressiva

escravarias na Província de São Paulo.

Em Bananal com mais de 30 escravos sobressaiu

Hilário Gomes Nogueira- fazenda das Três Barras – 45

Brás de Oliveira Arruda – fazenda do Pouso Seco e Bom Sucesso – 150.

Em Lorena

Ventura José de Abreu – fazenda da Bocaina – 130 escravos

Em Guaratinguetá

Manuel José de Melo – engenho Conceição 180 escravos.

Em Campinas segundo Taunay, estava o maior fazendeiro de São Paulo.

Dentre todos estes plantadores de cana nenhum por sombra podia se comparar

ao português Coronel Luiz Antônio de Sousa Macedo e Queiroz (1760-1819) dentro em

breve brigadeiro, o homem mais rico da capitania de São Paulo e seu maior lavrador e

um dos mais opulentos vassalos do Brasil joanino. Possuía então os seguintes engenhos

no distrito campineiro: Atibaia com 40 escravos, Monjolinho – 60, Palmeira – 24,

Taquaral 37.10

Tendo como expressão de riqueza o número de escravos, em 1817, o homem mais

rico de São Paulo seria o capitão-mor de Guaratinguetá senhor de 180 cativos e não o

brigadeiro Luis Antônio.

Ele viria em segundo já que o número de seus escravos totalizava 161 cativos.A

.seguir, viria, Brás Arruda com seus 150 no Pouso Seco e Bom Sucesso e Ventura José

de Abreu Capitão Mor de Lorena com 130.

Dentre os maiores escravarias de São Paulo em 1817 o vale do Paraíba já se destacava

com estes três senhores. Somente duas escravarias do oeste paulista passavam de 100

escravos: o do brigadeiro Luiz Antônio e o de Francisco Antônio de Souza dono das

fazendas Boa Vista, Invernada e Morro Grande com 112 escravos.

10 TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. História do café no Brasil. vol 3, cap. VII, tomo I. Rio de Janeiro: Departamento Nacional do Café, 1939, p. 69.

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7 Ana Silvia Volpi Scott diz que “as famílias que possuíram 40 ou mais escravos

no período entre 1798 e 1828 nunca chegaram a ultrapassar os 4,5% da população total

da Capitania de São Paulo, variando entre 1,6 e 4,22 %”11

Ventura José de Abreu, Brás de Oliveira Arruda e Manuel José de Mello são

considerados por ela como exemplos de grandes proprietários no vale; em

Guaratinguetá é

“Manoel José de Mello, que é possuidor do Engenho Conceição, que reúne

14.400 alqueires na vila de Guaratinguetá...”; quanto a Areias e Lorena, “...o maior

proprietário da região é Ventura José de Abreu dono da fazenda da Bocaina que engloba

4.500 alqueires (...) em seguida temos Brás Arruda dono de 5 propriedades que atingem

3.096 alqueires.”12

Os três maiores proprietários do vale estavam acordados em relação ao comércio

de gado em pé cavalares e muares do Continente de São Pedro para o Rio de Janeiro. As

quantidades são expressivas e segundo o capitão general da capitania, equivaliam a 70%

dos negócios feitos com animais.

Segundo Sérgio Buarque de Holanda, Bananal em 1817 ainda um termo da Vila de

Areias, já se destacava na Província de São Paulo.

A ênfase que se possa dar ao papel de Bananal na era do café no

vale do Paraíba paulista é plenamente justificada quando se

considera a extensão e produtividade sem par de suas fazendas.

Pelo tombamento de 1817, quando a povoação não tinha

alcançado a autonomia municipal, havia em suas redondezas, 11 SCOTT, Ana Silvia Volpi. A propriedade da terra e a elite paulista. Os grandes proprietários do vale do Paraíba, Artigo em separata da Dissertação de Mestrado em História Social/FFLCH/USP – Dinâmica Familiar da Elite Paulista (1765-1836): estudo diferenciado de demografia histórica das famílias dos proprietários de grandes escravarias do Vale do Paraíba e região da Capital de São Paulo. São Paulo, 1987, p. 111. 12 idem

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8 para um total de apenas 84 lavradores, 886 escravos, ou seja,

cerca de 10 cativos por lavrador, proporção que só se encontra

em Cunha.13

Sérgio Buarque de Holanda destaca uma importante rede de sociabilidade da qual os

fazendeiros de Bananal estavam inseridos

a afinidade de interesses e a intimidade de relações com alguns

municípios fluminenses e mineiros vizinhos, onde todos os

fazendeiros formavam como uma mesma família, destacavam

Bananal do restante do vale do Paraíba paulista, apesar de todo

ele ter na Corte o seu escoadouro natural.14

Os casamentos no inicio do século XIX no vale do Paraíba em sua maioria eram

destinados a montagem de alianças parentais envolvendo fortuna e poder. Brás Arruda

que se nobilitou através da fortuna amealhada como tratante era uma excelente aliança.

Três irmãos de D. Alda casaram –se na família Barbosa da Silva de Sabará, Comarca

do Rio das Velhas.

Os Nogueira e os Barbosa da Silva já formavam uma antiga aliança. Antes de se mudar

para Sabará, Antônio Barbosa da Silva foi comerciante de Grosso Trato na praça do Rio

de Janeiro. Quando Maria Josefa fugiu de Baependi, pejada de seu primo Hilário Gomes

Nogueira ela foi recebida por Antônio em sua casa na rua Direita enquanto Hilário e

Maria Josefa aguardavam a autorização da Igreja para se casarem. Antônio também

testemunhou a favor do casal no Processo eclesiástico.

Mas, a mais importante aliança matrimonial no grupo Arruda Nogueira ocorreu

quando o moço fidalgo Ignácio Gabriel Monteiro de Barros esposou a filha de D. Alda e

de Brás de Oliveira Arruda, Alda Rumana de Oliveira. Este casamento mereceu um rico

dote:

13 HOLANDA, op. cit., p. 267. 14 HOLANDA, op .cit., p. 268.

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9 50 escravos entre machos e fêmeas.

Além desses lhes deram as seguintes mucamas: Isaura crioula, Antônia crioula,

Maria Mina, Prudência mulata, Flora parda, Josefa cabinda.

Além disso, lhe deram mais o sítio do Resgate com todas as terras mais

benfeitorias que pertenceram ao falecido seu marido na fazenda das Três Barras

conforme consta do seu formal de partilha.

Deram mais 800$000 em dinheiro para a futura da casa bem como as telhas para a

mesma

Uma casa velha e cafezais no mesmo sítio do Resgate

Um par de brincos e brilhantes

Uma bacia e jarro de prata

Uma colcha de damasco

Uma cama de armação com cortinados

Um par de canastras cobertas de moscavia

Um chapéu de sol forrado de seda verde

Um cavalo de estrebaria

Um selim de senhora15

Este casamento levou os Arruda Nogueira a se aliarem as famílias governantes como a

dos Prado, pois Rodrigo irmão de Ignácio Gabriel, esposou Maria Miquelina meia irmã

de Antonio da Silva Prado, o barão do Iguape considerado o mais rico comerciante da

Província.A família Prado pertencia a uma extensa rede de sociabilidade que

entrelaçava a cidade de São Paulo e o oeste da Província, Itu, Porto Feliz, Campinas e

Sorocaba.

Lucas Antônio outro irmão de Ignácio Gabriel, “fecha” o vale e amplia esta aliança, ao

se consorciar com Cecília filha de José Gonçalves de Moraes fazendeiro em Pirahy de

15 Inventário de Brás de Oliveira Arruda.

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10 Cima, município de São João Marcos. A mãe de Cecília era filha de José de Sousa

Breves e irmã de Joaquim José e de José de Sousa Breves.

Brás, um incógnito para a historiografia, está presente na narrativa dos viajantes que

passaram pela Estrada Geral para Minas e São Paulo como Spix e Martius. No ano de

1817, em sua Viagem ao Brasil, eles escrevem que pernoitaram na Fazenda Os Negros

vindos de São João Marcos a caminho de São Paulo:

Os numerosos escravos da fazenda fizeram festas com danças. O

tuntum do atabaque, espécie de tambor, e o ruído do canzá...

perturbaram-nos tanto como o aguaceiro que impelido pelo

vento da tempestade, invadiu por todos os lados o nosso rancho,

obrigando-nos a mudar de lugar muitas vezes.16

Thomas Ender fez um desenho deste rancho, mas o localizou próximo a Areias o

que dificultou a sua identificação que só se tornou possível através deste inventário.

Mas melhor impressão teve Saint Hilaire em 1822. Segundo ele, esta Estrada Real foi a

estrada mais movimentada das que ele utilizou em suas andanças pelo Brasil:

Rancho dos Negros, 27 de abril, 4 léguas e meia --- Região

montanhosa, principalmente na vizinhança do rancho onde

passamos a noite; caminho muitas vezes difícil, matas virgens.

Desde o lugar chamado Rancho Grande, vêem-se muitos

terrenos cultivados, e outros que, outrora cultivados,

apresentam hoje imensas capoeiras.

Os ranchos multiplicaram-se e são mais ou menos tão grandes

quanto os da estrada do Rio de Janeiro a Vila Rica. Aquele a

que chamam Rancho Grande não podia ter nome mais

16 SPIX e MARTIUS. Viagem pelo Brasil. Col. Reconquista do Brasil, vol. 1. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1981, p. 116.

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11 adequado por que, incontestavelmente, é o maior dos que vi

desde que estou no Brasil. É coberto de telhas, bem conservado,

alto acima do solo e cercado de balaustrada.

O dono é um homem imensamente rico, possuidor do mais

importante cafezal da região.17

Ficava o Rancho Grande na fazenda Bonsucesso, vizinha a fazenda da Cachoeira

que era a principal propriedade do sargento-mor. Na Estrada mais movimentada do

Brasil segundo Saint Hilaire, Brás tinha 3 fazendas e dois dos principais ranchos deste

trecho e este viajante considerou seu proprietário sem identificá-lo, como imensamente

rico e possuidor do maior cafezal da região.

Para se ter uma idéia do que representava o seu Monte-Mor, avaliado em

360:959$660, cito um trecho da tese de Riva Gorenstein na qual a autora alude ao

capital necessário para ser um negociante de grosso trato no Rio de Janeiro:

Verificamos que por ocasião do registro das firmas comerciais

na Real Junta de Comércio, o capital declarado dos seus

diretores, variava entre 100:000$000 a 500:000$000, de acordo

com o tipo de atividade que pretendiam exercer. Podemos ter

idéia do que representavam estes capitais, no decorrer do

período joanino, através de sua comparação com a quantia de

100:000$000, determinada pelo Monarca para constituir o fundo

de um Banco para permutação das barras de ouro existentes nas

mãos de particulares, criado na cidade do Rio de Janeiro.18

17 SAINT HILAIRE, Auguste. Segunda viagem a Minas Gerais e São Paulo 1822. Col. Reconquista do Brasil. vol. 11. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1974, p. 105. 18 GORENSTEIN, Riva. O enraizamento de interesses mercantis portugueses; região centro-sul do Brasil (1808-1822), p. 32.

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12 Este Monte Mor sofreu sangrias de monta ao atender diversos pedidos das autoridades

da época como abaixo se vê:

Ilustríssimo Senhor Braz de Oliveira Arruda = Não sendo possível com os

procedimentos Ordinários do Thesouro Publico, ocorrer as despesas extra ordinárias que

exige a manutenção e conservação do Estado. Sua Alteza Real o Príncipe Regente me

Ordenou contrahir um empréstimo de 4 contos de reis com o prêmio de 6 por cento, e

amortização constante das condições justas. O que parte e pro a Vossa Senhoria,

espressando do seu zelo, e amor pelo bem publico, conserva para o seu complemento

com o que lhe aprouver, e puder, enviando me reposta a Mesa do ditto Thesouro onde

se recebem as declarações, e entregas que se fiser em junho a honra de ser com a maior

consideração de vossa mercê Merecedor (sic) muito atento = Rio de Janeiro 20/09/1822

= Martins Francisco Ribeiro de Andrada = Nada mais contem na carta cuja assignatura

nella contida Reconheço verdadeira com a própria a que me reporto a que fis Registar

que conferi subscrevi e assignei. Rio de Janeiro 23/03/1824. Eu Joaquim José de Castro.

Não foi o único pedido vindo do Paço -

Estavão Empressas as Trinas Imperiais – Thesouro Publico = Numero 119 = A

folhas 9 do livro 1º da Receita, e Despesa do Thesouro Publico do Rio de Janeiro que no

corrento anno serve com o Thesoureiro Mor delle, o Conselheiro Jose Caetano Gomes,

lhe fição Carregador em Debito a quantia de hum conto de réis, que recebeo do

Sargento Mor Braz de Oliveira Arruda, por mão de Manoel Francisco de Oliveira por

Thesouro Mor a referida quantia assignou consigo este Conhecimento. Rio de janeiro

em 07/03/1823 = Antonio Homem de Amaral = Jose de Resende Costa = Lousado

Cordeiro = Nada mais contem o conhecimento cujas assignaturas nnella subscrevi

assignei em publico e Pron. Digo assignei. Rio 23/03/1824 = Eu Joaquim Jose de

Castro.

Meo Amigo e Senhor digo Amigo do Coração = Fui Carregado por officio, que

tive da Corte do Rio de Janeiro por ser alli constante, segundo me dizem se o que muito

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13 me lisongia que eu tenho de meu partido, e amizade, a melhor gente desta capitania, se

aprontar, cavaleiros, que devem se achar, athe o dia, 04/04 prossime na mesma corte,

para se principiarem os ensaios das cavalhadas, que devem fazer parte dos Festejos

Publicos, que se perparam naquella capital por occasião dos Felizes Despozarios de

Suas Altesas Reazes = Entre as Pessoas, pois, mais qualificadas, e distintas desta capital

digo desta cappitania, e que por afeiçam me presta sua amizade e Vossa senhoria um

dos primeiros, que me desafiam a minha lembrança pura semelhante dezempenho,

mundando me seu lugar, hum cavalheiro, que seja das milhores famillias dessa villa, e

de maios Posto, se for possivel, devendo eu asegurar a vossa senhoria, porque a semmo

asser eram dellas, que sua magestade El Rey Nosso Senhor, conta já com certesa com os

exforços dos generosos Paulistas, para desempenho desta Frinçam e que reputa hum

obsequio muito particular feito a sua Real Pessoa, cuja Grandesa, e liberalidade há de

ponsiar daquelis que concorrerem para o complemento do seu gosto o que eu possso,

com certesa, afiançar a Vossa Senhoria, por ser assim ensinuado. He esta a occasiam a

mais propria para redobrar a estima, e o credito, que mereçem ao mesmo Augusto

Senhor os habitantes desta capitania, aos quaes Elle he, comparticularidade, afeiçoado.

Estes motivos, que devem mereçer a vossa senhoria, que he possuem de nascimento, e

qualidade, a maior concideraçam, me prometem o felir resultado desta minha comissam,

da qual me vira a maior gloria, a satisfaçam, por isso que ella me foi emcarregada do

modo, que muito me obriga; eu ficarei a vossa senhoria em eterno reconhecimento pella

parte, que me toca, por este favor. Eu tenho a honra de ser com a mais cordial afeiçam, e

especial resquito = De Vossa Senhora muito particular Amigo do Coraçam e

obrigadissimo criado Dom Nuno de Lucio e Sielva = San Paulo 16/02/1818 = Nada

mais continha a carta cuja assignatura eu tabeliam abaixo assignado reconheço

verdadeira a qual me reporto com cujo theor aqui fiz registrar que conferi subscrevi

assignei. Rio 23/03/1824. Eu Joaquim Jose de Castro.

São Paulo 29/05/1818 = Pris (sic) 1 conto e 500.000 reis. A vista desta minha

única via de Letra pagará Vossa Senhoria ao Tenente Antonio Cardoso Nogueira a

quantia de 1 conto e 500.000 reis, valor de Letra igual quantia que por tenho despendido

com o Cavaleiro que por sua conta mandei para o Rio de Janeiro em conformidade da

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14 sua carta de 03/03 do corrente anno, e espero faça prompto pagamento como Preferensa

= D. Nuno Eugenio de Loicio e Seiblitz = Ao Ilustrissimo Senhor Sargento Mor Braz de

Oliveira Arruda = Caminho Novo = Recebi Rio 07/07/1818 = Antonio Cardoso

Nogueira = Nada mais contem em a dita letra cuja assignatura do sacador Reconheço

Verdadeira, e por conferir subscrevi assignei. Rio de Janeiro 23/03/1824. Eu Joaquim

Jose de Castro.

Brás atendeu a todos. Que mecanismos se criavam entre as partes já que os

desembolsos eram destinados ao Estado? Honrarias, vista grossa em casos envolvendo o

judiciário, ser conhecido no Paço? Não se conhecem as reciprocidades entre os senhores

rurais e os seus governantes. Martim Francisco como Ministro do regente e depois

participando do Governo de São Paulo é o que mais aparece nos pedidos dirigidos a este

fazendeiro. Brás manda entregar no Rio de Janeiro uma “ajuda” as despesas reais de

1:000$000. Para ele umas perdas pequenas, equivalentes a três escravos, mas em

prestígio muito: ele era conhecido pelo regente. Mesmo sendo morador no Caminho

Novo ele tinha acesso ao Paço.

Rasa 160 Registro de huma letra paga pelo Sargento Mor Braz de

Oliveira c 80 Arruda apresentado em 23/03/1824.

240

Folha 304

Registro 160 Registro de huma Carta a favor do Sargento Mor Braz de

Oliveira c 80 Arruda apresentada em 23/03/1824.

240

Ilustríssimo Senhor Braz de Oliveira Arruda = Sendo presente a Sua Magestade o

Imperador a oferta que Vossa Senhoria fez para as percerais (sic) do Estado na quantia

de 1 conto de reis Gratuito. O ma(...)ino Augusto Senhor me ordena agradesa a Vossa

Senhoria a seu extremado zello, pello bem da causa publica, a segurando lhe sera feito a

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15 seu oferecimento. Tenho como certa a ocasião a de protestar a consideração com que

sou de Vossa Senhoria admirador muito attento = Rio de Janeiro 13/11/1822 = Martins

Francisco Ribeiro de Andrada = Nada mais contem a carta cuja assignatura nela

conteuda reconheço verdadeira, e com a propria a que me reporto a que ter registar que

conferi subscrevi assignei. Rio de Janeiro 23/03/1824. Eu Joaquim Jose de Castro.

Esses pedidos a Brás trazem uma importante informação sobre a conjuntura

política no período regencial e sobre ele ser pela causa do Brasil. Logo após o Fico, São

Paulo, segundo pedido por ele recebido e enviado por Martim Francisco, estava se

preparando para resistir militarmente caso os partidários das Cortes Lisbonenses fossem

vitoriosos:

o ferro da escravidão que a perfídia das Cortes nos destinava, o

povo, em sua justa cólera, jurou quebrá-los e jurou também o

governo; contribua pois Vossa Senhoria para a defesa de huma

causa também sua, por que he de todos, concorra para a defesa

dos sagrados direitos e mais caros interesses de Vossa Senhoria

e de seus concidadãos. Esta prova do seu patriotismo se faz mais

urgente na presente ocasião em que ( ) de sua Alteza Real deve

marchar para o Rio de Janeiro uma força armada desta Província

para manter o sossego público e conservar neste Reino o

Príncipe idolatrado em quem temos posto toda a nossa confiança

e para convencer ao mundo do entusiasmo e ardente patriotismo

que inflama a todos os honrados paulistanos ( ) da união do

Reino Unido, da tranqüilidade, aumento e prosperidade do

Reino do Brasil.

As contribuições desta parentela a Independência do Brasil não pararam nos

desembolsos pecuniários.

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16 Pedro Gomes Nogueira irmão de D. Alda, cunhado de Brás Arruda, casou –se com

Feliciana filha de Antonio Barbosa da Silva e irmã do Mordomo do Paço Paulo Barbosa

da Silva.

Como Comandante do 1º Regimento da Cavalaria de Milícias da Comarca do Rio das

Velhas, o conduziu em maio de 1822 a São João D´El Rey em apoio ao Regente contra

a sedição de Vila Rica.

Em agosto de 1822, quando D.Pedro partiu para São Paulo devido a Bernarda de

Francisco Ignácio, ele pousou na fazenda da Olaria de Hilário Gomes Nogueira seu pai.

Desta fazenda D. Pedro incorporou a sua comitiva, a Guarda de Honra formada pelos

fazendeiros do vale do Paraíba fluminense e paulista. Da Província Fluminense quatro

foram convidados. Destes quatro, Cassiano e Luis Gomes Nogueira eram seus irmãos,

O tio de Cecília Gonçalves de Moraes Joaquim José de Sousa Breves, e Floriano de

Rios e Sá que se tornará cunhado de Maria da Estrela Pinto Souto Maior mulher de seu

irmão Cassiano.Ou seja, os Guardas de Honra fluminenses de D. Pedro pertenciam a

mesma rede de sociabilidade.

Esta rede incluía não só famílias de Serra Acima. Na cidade do Rio de Janeiro podemos

arrolar Manoel Jacinto Nogueira da Gama o Marquês de Baependi. O pai de D. Alda,

Hilário, era primo irmão do pai de Manoel Jacinto. Quando ele quebrou, Hilário e seus

irmãos compraram uma escrava para cuidar da casa do seu primo. Manoel Jacinto ao

esposar Mônica agregou a esta rede de sociabilidade os poderosos Carneiro Leão.

Seu marido Brás como outros fazendeiros do vale, arrancharam pela Causa do Brasil no

Fico e na Independência, os Leais Paulistas e Leais Mineiros que desceram ao Rio de

Janeiro para enfrentarem se necessário, as tropas portuguesas. Esta tropa formada pelas

Cavalarias de Milícias da Província de São Paulo e Minas Gerais contavam com cerca

de 2.000 cavalarianos prontos a defenderem D. Pedro.

Atesto que mandando da Cidade a Força de tropas de 1.100

praças da 1ª e 2ª linha que marchou daquela Província para esta

cidade debaixo do meu comando em janeiro de 1822, toda ela se

aquartelou na fazenda do Sargento-mor Braz de Oliveira

Arruda.... que prestou as divisões que sucessivas transitavam,

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17 todos os socorros de que elas precisavam.

O reverendo padre Diniz Hilário Nogueira para mostrar ser do

partido daqueles que queriam o Imperador na sua ................

Enumera várias atitudes que tomou que confirmavam esta

posição e dentre elas, Sertio (sic), que quando desceram os

batalhões de São Paulo para a corte, e os da primeira e segunda

linha, tendo o Reverendo Suplicante muito pesar de não os

receber em sua casa teve sempre a mesma sinto do tempo da

passagem das tropas, aberta, e prevenida de todo o necessário,

por isso que a se justavam muitos oficiais e soldados que

passavam; aos quais tratou de maneira, patenteando assim, e

sem hesitação a terno de cedido a Sagrada e Augusta Pessoa de

Sua Majestade o Imperador.

Ignácio Gabriel Monteiro de Barros, genro de Brás Arruda também teve

importante atuação na Independência. Ele foi ajudante de ordens do Gal labatut na

Guerra da Independência e por gestões de seu pai que tinha sido Juiz na Relação de

Pernambuco, conduziu para a Bahia um trem de guerra com 600 pernambucanos

arregimentados pelos Senhores de Engenho da Mata Sul de Pernambuco.

Um importante sinal do afastamento da elite identificada com a proposta

vencedora da monarquia constitucional em 1822, foi o pedido feito pelo Marquês de

Baependi ao Imperador, em correspondência de 26 de outubro de 1828, de dispensar do

serviço na Guarda de Honra do Imperador, a fim de não ser interrompida a educação

literária de seu filho e do seu sobrinho Nicolau Antônio Nogueira.

Aqueles que “bancaram” a ida do regente a Minas, que fizeram e subscreveram a sua

ficada, que formaram o esquadrão da Guarda de Honra que o acompanhou a São Paulo

defendendo a vida de D. Pedro, que foram testemunhas do momento da Independência,

que comandaram as tropas milicianas — os Leais Paulistas e os Leais Mineiros — para

virem ao Rio sustentarem militarmente o rompimento com Portugal, mais os senhores

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18 de engenho baianos e pernambucanos que se uniram para lutar contra o general Madeira

e abafar os levantes de 1817 e 1824, começaram a manifestar o seu descontentamento.

O desquite estava se aproximando, o Imperador se isolando, se afastando dos que se

consideravam a “ordem”.

Tarquinio de Souza mostra que o Baependi não ficou só declinando das honrarias.

Manoel Jacinto que nunca pecara por excesso de liberalismo, disse ao monarca

A força moral de Sua Majestade O Imperador tem infelizmente

diminuído por efeito das mais atrozes calúnias e com a mais

revoltante injustiça (...) pelo contrário a força moral da Câmara

dos Deputados tem muito consideravelmente aumentado, como

provam os periódicos da oposição e o concurso diário dos

espectadores de suas galerias, ao ponto de lhes ser franqueada a

entrada no salão da Câmara.19

A enxurrada desceu em 1830, ano em que todos se viraram contra o Imperador.

Os mais radicais tinham como porta voz o jornal “Repúblico”, que chamava o Império

de “governo da Boa Vista”, os nativistas não viam com bons olhos o preenchimento de

cargos de mando por portugueses, o exército não gostou da substituição do brigadeiro

Francisco de Lima e Silva do Comando das Armas da Corte para a Província de São

Paulo. Para completar o quadro adverso, é assassinado em São Paulo o jornalista liberal

Libero Badaró, culminando com o fechamento da Câmara em 30 de novembro

rompendo então D. Pedro com a sua principal base política.

Como última cartada uma viagem a Minas, lembrando-se porventura da primeira

estada em Minas, em 1822, que lhe dera noção clara do Brasil que o apoiava e,

persuadia-se D. Pedro que de lá volveria com renovado prestígio e em condições de

enfrentar todas as dificuldades.20

19 SOUSA, op. cit., p. 877. 20 Ibid., p. 887.

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19 Visitou as vilas que foram mais receptivas em 22 como São José D’El Rey, São

João D’El Rey e Lagoa Dourada. Mas em vez de arcos festivos, uma recepção simples.

João Batista Machado responsável em 1822 pelas alegorias mais bonitas da vila de São

João Del Rey o recebeu na sua chácara. Mas o pior estava por vir, e não viria dos

radicais do “Repúblico”, que qualquer gesto que o Imperador fizesse, era tido como

próprio de um regime absoluto. O desquite seria anunciado por um personagem que era

sinônimo da “ordem” — Pedro Gomes Nogueira. Sim, o mesmo Pedro Gomes

Nogueira, cunhado de Paulo Barbosa da Silva, irmão dos Guardas de Honra Cassiano e

Luís, comandante do 1º Regimento da Cavalaria de Milícias da Comarca do Rio das

Velhas, que assegurou o apoio da Câmara de Sabará na ficada do regente e estava com

D. Pedro na sua primeira ida a Minas em 1822, para acabar com a sedição de Vila Rica.

Foi com o gesto deste personagem, honrado na primeira lista de agraciados da Ordem

do Cruzeiro, que o Imperador sentiu que seu governo acabara. Minas anunciou em 1822

que estava com Pedro e agora em 1831 informou-o que o casamento terminara.

A todos que receberam SS.MM. II. naquela ocasião era evidente

que faltava sol nas homenagens, para que pudesse brilhar o

antigo lume da fidelidade sabarense. Em muitos pontos

patentearam-se os receios de SS.MM. II. Imperantes, nesta visita

a Minas e a Sabará, inclusive por que desta vez não fizeram a

sua “aposentação” entre os nobres da Vila, preferindo a

residência que o próprio Ministro acompanhante, Barão de Catas

Altas, possuía na rua Direita..21

Essa frieza na recepção não seria nada comparada ao que viria. Seixas Sobrinho

considera o incidente no Teatro de Sabará como o rompimento da Fidelíssima platéia

sabarense com a Casa de Bragança.22

21

SEIXAS SOBRINHO, José. O teatro em Sabará; da Colônia a República. Belo Horizonte: Bernardo Álvares, 1961. 22 Ibid., p. 96.

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20 Seixas Sobrinho cita o livro de Zoroastro Passos, Em torno da História de Sabará,

ao descrever a recepção ao Imperador no Teatro que,

em espetáculo de gala protocolar, abre-se o nosso teatro.

Enchem-no nobres e plebeus. Passa D. Pedro entre alas

respeitosas, mas silenciosas, e ao se mostrar à frente de seu

camarote, ouve o viva da pragmática: Viva o Imperador Pedro I!

Rápido silêncio se sucede: ligeira indecisão emudeceu os

presentes. Nos camarotes, erguem-se as damas, na platéia

agitam-se as cartolas, e, estuante de energia, chefiado por Pedro

Gomes Nogueira, ouve-se a resposta: “Viva o Senhor D. Pedro

I, enquanto for Constitucional!”

Decorre a apresentação num ambiente de mal-estar. No dia

seguinte, D. Pedro, interrompendo a visita, regressa a Corte.23

Ele chega ao Rio em 11 de março de 1831 e 20 dias depois, entrega o cargo,

acontecendo o desquite.

Se politicamente os Arruda Nogueira ainda estavam presentes em 1831, a morte de Brás

Arruda em 1828 levou D. Alda a um recolhimento social. A partir desta data D. Alda

passou a ser a inventariante do espólio do seu marido. Este inventário surpreende pelo

volume de informações que traz. A implantação e crescimento da cultura cafeeira no

vale do Paraíba na primeira metade do século XIX, é desmentida por este inventário

como também pelo de Luís Gomes Nogueira cunhado de Brás aberto em 1836. Estes

documentos mostram uma sofisticação no viver, uma diversidade nos investimentos e

uma grande escravaria.

Alcir Lenharo, no seu livro As tropas da moderação, ao estudar o tropeirismo e a

sua importância no abastecimento interno, explicita bem o tempo histórico:

23 Ibid., p. 97.

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21 Torna-se necessário, portanto, entender como se faz este

processo e salientar o modo como a economia mercantil de

subsistência cobre o período que vai da crise da mineração à

gestação da economia cafeeira, vazio e desconexo, na visão

tradicional da historiografia.24

Os documentos relacionados com este grupo familiar informam que muitos deles como

por exemplo Luis Gomes Nogueira e José Gonçalves de Moraes, negociavam escravos

novos em Serra Acima. Eles compravam escravos boçais no Rio de Janeiro e os

revendiam em um prazo de 4 anos lançando sobre o valor de venda um sobrepreço de

100% do custo inicial, bastante acima dos 20% de margem que era usual no comércio

inter atlântico segundo o professor Manolo Florentino.

Se formos associar a realização do comércio negreiro a homens rústicos, grosseiros,

vamos nos surpreender. Brás Arruda tinha uma pequena biblioteca iluminista e Luis seu

cunhado, também tinha uma biblioteca. Dentre os livros da biblioteca de Luís, destaco a

História do Brasil de Armitage entre outras obras.

A representação de Brás Arruda surpreende não por ser igual a praticada na Corte,

mas, por ir além. D. Alda governava uma casa que era a Corte em Bananal e que tinha

também a representação de um senhor rural. Na cidade, identificava-se a riqueza através

dos bens e utensílios do serviço da casa e de sua decoração. Quanto ao meio rural,

Taunay tem uma passagem sobre como se identificar a principal atividade de uma

fazenda segundo seus “sinais exteriores” no que ele denomina de manifestações

curiosas da economia naturista. Como na fazenda de gado, onde a vaidade e a

competição residiam no número de cabeças possuídas, na riqueza de alfaias das capelas

e das jóias financeiras; como na fazenda de cultura, onde sentimento igual se traduzia na

extensão das terras e no número de escravos; na tropa o ponto de honra e a

superioridade se encontravam na uniformidade do pelo dos animais, na igualdade de

porte e de resistência das unidades componentes, nos ornatos dos arreios e

24 LENHARO, Alcir. As tropas da moderação. São Paulo: Símbolo, 1979, p. 31.

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22 especialmente da madrinha.25

Brás tinha as três representações — suas alfaias e jóias o identificam como

boiadeiro, o avultado número de escravos para sua época e grande quantidade de terras,

o qualificavam como fazendeiro e senhor de engenho e a sua mulada o inclui na

atividade de tropeiro.

No Rol dos Bens avaliados pelos louvados estão entre os bens de representação.

OURO

- um par redondo e um quadrado de fivelas de ouro para sapato.

- um cordão de ouro

- dois relicários de ouro com cordão grosso e um vidro e outro com dois

vidros

- um rosário inteiro de ouro fino, com uma verônica na ponta.

- Outro com crucifixo na ponta.

- Três pares de botão de ouro mais um solteiro.

- Três voltas de colar de ouro

- Um cordão de filigrana

- Um dedal de ouro

- Um caixilho com seu cordão

- Um palito de ouro

- Uma boceta de ouro

- TOTAL EM OURO: 555$000

PRATA

- Um relógio e sua caixa

- Dois hábitos de prata

25 TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. História do café no Brasil. 8 vol. Departamento Nacional do Café: Rio de Janeiro, 1939, p. 363.

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23 - Um faqueiro de 12 colheres, 12 garfos, 12 colheres de café

- Uma concha de sopa, outra dita de açúcar, uma colher de arroz.

- 12 facas, uma trincha e um garfo tudo pertencente ao mesmo faqueiro.

- Uma caixa que serve de faqueiro

- 12 colheres, 3 garfos, 8 colheres de café e 2 conchas pequenas.

- 9 facas de cabo de prata

- Um jarro e uma bacia de prata lavrada

- Um par de castiçais de aljofares

- Um par de castiçais de prata (um quebrado)

- Um par de bugias de prata

- Um aparelho de prata para chá e café (uma cafeteira, um bule, uma leiteira, um

açucareiro e uma taça de lavar

- Uma salva redonda e lisa

- Duas salvas redondas e menores

- Duas salvas de prata redondas e mais pequenas

- Duas salvas pequenas com roda sendo uma rendada.

- Duas salvas lavradas de aljôfares sendo uma menor.

- Uma salva e uma tesoura.

- Um copo de água

- 11 colheres, garfos e chá, uma concha de sopa e uma de açúcar.

- 2 castiçais grandes com serpentina

- 3 pares de esporas

- Um par de estribos

- Uma faca de cabo de prata

- Uma cabeçada, rédeas e rabicho com chapas de prata

- Um freio

- TOTAL EM PRATA: 1:864$ 180

- TOTAL EM OURO, PRATA E PEDRA: 2:867$340

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24

Brás, em uma época em que cronistas como o Marquês de Gabriac relatou que os

fazendeiros de Bananal viviam nesta época com o pé na lama,possuía além de jóias

peças de representação social como as fivelas de sapato, os botões e o palito de ouro. D

Alda Maria também se representa nas pedras e nos seus cordões, no seu rosário e no seu

dedal.

A prata serve não só para sinalizar valor e um entesouramento. As descrições das

peças de prataria traduzem o viver, a sofisticação de quem as possui. A sofisticação dos

hábitos entre os moradores do interior é pouco conhecida.

Leila Algranti26 ressalta a pobreza de meios durante as refeições. Garfos e talheres

são poucos nominados nos inventários e ela considerou diferente o inventário de

Domingos de Abreu Vieira que possuía “faqueiro de dúzia de facas, colheres e garfos

com sua caixa forrada de veludo carmesim e de lixa por fora com sua fechadura e

chave.”

Como podemos ler a prataria de Brás Arruda e D. Alda?

Em primeiro lugar um refinamento nas suas refeições. Em segundo se conhecer

seus hábitos. As conchas são destinadas a alimentos determinados. A trincha e o garfo

para grandes peças. A fazenda da Cachoeira podia ter suas candeias queimando

mamona, mas os diversos castiçais de prata trazem uma informação importante; o uso

contínuo de velas objeto raro e caro mesmo nas cidades.

Valendo 2:133$400 os Louvados listaram como Madeiras os móveis da Fazenda

Cachoeira . Mais um item que revela a sofisticação do viver do Sargento Mor e de D.

Alda.

- 24 cadeiras de jacarandá e assento de palhinha

- 2 cadeiras de jacarandá e assento de palhinha com embutidos casados.

- Duas marquesas de jacarandá forradas de sola.

- Uma marquesa de jacarandá forrada de palhinha.

- Quatro marquesas de jacarandá forradas de tábuas

26 ALGRANTI, Leila Mezan. Famílias e vida doméstica. In: História da vida privada. São Paulo: Cia das Letras, 1997.

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25 - Duas marquesas de peroba.

- 4 camas de lona de campanha de armas.

- 4 leitos largos de jacarandá com armação

- Uma mesa que serve para jantar com 9 palmos.

- Uma mesa pequena recortada.

- Duas mesas de 6 palmos.

- Uma mesa mais pequena.

- Uma mesa de 5 palmos.

- Uma mesa grande com duas gavetas e sua guarnição.

- Quatro pares de canastra cobertas de sola.

- Dezoito caixas de vinhático.

- Um armário pequeno

- Uma estante com prateleiras e gavetas.

- Um oratório de jacarandá, com arremate de talha, com um crucifixo grande,

uma N. Sra. da Conceição, um S. Antônio com coroa e esplendores de prata.

- Uma cantoneira.

- Dois carrinhos e seus arreios.

Pela descrição dos estilos de móveis existentes nesta época, os móveis de Brás

Arruda pertenciam ao período denominado D. Maria I que influenciou a confecção do

mobiliário de 1780 a 1825. 27

As mesas e armários listados são do tipo holandês e as gavetas é uma das

características mais marcantes neste gênero de mobiliário. Os armários aparecem neste

período: os de uso doméstico eram destinados às cozinhas e salas de jantar; grandes,

fortes e muito resistentes, eram utilizados para guardados e nas salas para as louças e

cristais.28

Brás e D. Alda à mesa e nas roupas não deixam a desejar a nenhuma casa senhorial do

Rio de Janeiro.

27 MACHADO, Paulo Affonso de Carvalho. Antigüidades do Brasil. Rio de Janeiro: ed. particular, 1983, p. 161. 28 Ibid., p. 152-153.

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26 - Doze dúzias de pratos de guardanapos

- Duas dúzias de pratos travessa

- Seis terrinas com tampa

- Seis bules brancos

- Dois bules de louça preta.

- Dois açucareiros.

- Quatro dúzias de xícaras e pires.

- Doze urinóis

- Duas bacias de água às mãos.

- Quatro dúzias de cálices para vinho.

- Duas dúzias de copos para água.

- Cem garrafas de vidro.

- Dois espelhos toucadores pintados.

- Um espelho inglês com gavetas.

Em Roupas, Toalhas de Mesa Roupas de Cama e Tecidos foram listados

- 16 lençóis de linho.

- 24 lençóis de pano de linho finos e grandes.

- 26 lençóis de pano de linho fino, porém mais pequenos.

- 12 lençóis de algodão do norte finos.

- 2 toalhas grandes de mesa de Guimarães.

- 2 toalhas grandes de mesa de algodão de Açores.

- 20 toalhas grandes de mesa de algodão do norte.

- 12 toalhas de mão bem obradas .... de cambraia com seus fachos.

- 12 toalhas de mão de pano de linho fino bom para as mãos.

- 6 toalhas de mão, sendo de algodão do norte.

- 3 travesseiros de Marroquim.

- 20 travesseiros de linho riscado e de holanda rosa.

- 57 travesseiros pequenos de linho riscado e de holanda rosa.

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27 - 23 fronhas grandes rendadas e finas.

- 57 fronhas pequenas.

- 40 guardanapos de Guimarães.

- 9 colchas finas de chita.

- 9 colchas de chita mais ordinárias.

- 1 colcha de Damasco.

- 2 colchões de riscado grande.

- 2 colchões grandes cheios de lã.

- 2 colchões de riscado grandes e cheios de capim.

- 3 colchões de riscado porém mais pequenos e cheios de cabelo.

- 7 colchões de riscado porém mais pequenos e cheios de capim.

- 24 colchões de riscado de algodão e todos cheios de capim.

- 12 cobertores ingleses.

- 1 vestido de seda feito de guarnição de renda.

- 4 vestidos de seda de várias cores.

- 1 vestido de cambraia com guarnições e bordados de ouro.

- 1 vestido de cambraia bordado com prata e retrós.

- 1 vestido de cambraia lavrada e de barra dura.

- 1 vestido de escócia com guarnição.

- 1 vestido de cassa lavrado.

- 2 vestidos de cassa fino e bordado.

- 1 vestido de cassa fino e bordado de fachos

- 2 vestidos de cassa fina e lisa

- 1 vestido de cassa fina e lisa porém rico

- 3 vestidos de chita.

- 10 vestidos de cassa lavrados e riscados.

- 14 anáguas da Bretanha ..... e paninhos de bordados, rendas e pegamentos

- 12 camisas de cambraia bordadas e rendadas.

- 2 vestidos de seda pretos guarnecidos.

- 2 xales de lã de camelo grandes.

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28 - 4 xales de casimira de cores.

- 4 xales de toquim e seda.

- 7 mantas de seda de diferentes cores e de bom gosto.

- 1 chale de cambraia rico e bordado.

- 20 lenços de seda para chales.

- 4 capotes de pano fino e casimira.

- 24 pares de meias de seda. (12 com meio uso)

- 1 xale de escomilha preto

- 1 xale toquim preto.

- 2 xales de toquim e (garços)

- 6 lenços de seda pretos.

- 6 pares de meia pretos.

- 1 vestido de senhora montar a cavalo de pano azul, com a

- casaquinha ricamente bordada de retrós.

- 1 vestido de senhora montar a cavalo de pano preto fino e liso.

- 6 pares de sapatos de seda de diferentes cores.

- 6 pares de sapatos de cordovão de lustro.

- 2 chapéus de senhora em bom uso.

- 2 pares de botina.

- 1 sobre casaca de pano azul de gola, traseiros e canhão

- bordados de retrós

- 1 farda de pano fino.

- 1 sobre casaca... preta.

- 7 casacas de pano fino e diferentes cores.

- 6 pares de calças de pano fino.

- 4 pares de calça... e sarja.

- 4 pares de calças de sarja.

- 2 pares de calção de pano.

- 8 jaquetas de várias qualidades.

- 24 coletes de fustão de várias qualidades.

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29 - 6 coletes de sarja de seda.

- 50 camisas da bretanha, morim fino em bom uso.

- 12 ceroulas de linho fino e novas.

- 6 pares de calças de brim em trançado.

- 1 chapéu apresilhado novo.

- 1 chapéu apresilhado já usado.

- 2 plumas escarlates.

- 2 chapéus redondos de pelo.

- 12 pares de meia de linho cumpridas novas.

- 12 pares de meia de linho cumpridas novas.

- 12 pares de meia de lã.

- 24 lenços brancos de pescoço.

- 24 lenços finos de algibeira.

- 4 lenços de seda preto para pescoço.

- 1 banda de retrós.

- 1 estojo de barba com 4 navalhas.

- 1 capote de escocês forrado de baeta. (roupa de viagem)

- 1 poncho de pano fino forrado de baeta (elas são trajes de viagem mais

conhecidas como capa paulista ou dos paulistas. Roupa de tropa, de viagem.)

- 2 pares de botas.

- 2 pares de botinas.

- 2 pares de sapatos ingleses.

- 2 cortinados de chita com dossel e fachos

- 1 chapéu de sol grande forrado de seda.

- 2 chapéus mais pequenos e forrados.

- 1 ..... de sacha com repartição e minuetes

TECIDOS:

- 5 peças de paninho.

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30 - 4 peças de morim fino.

- 2 cortes de vestidos para meninas.

- 2 peças de cambraia de algodão.

- 1 corte de vestido de toquim preto.

- 9 cortes de vestido de chita finos e diferentes.

- 1 corte de vestido de cetim branco.

- 5 peças de pano de linho fino.

- 1 pano fino azul bordado de amarelo que serve para coberta de uma mesa.

A representação de um fazendeiro se estendia aos seus animais de sela e Brás tinha para

seu uso

- 1 Selim inglês de gosto francês e seus arreios.

- 1 Selim inglês de gancho próprio para senhoras e seus arreios.

- 1 Selim brasileiro próprio para senhoras com manto de couro

- de onça pintada, veludo vermelho bordado de galão.

- 1 sela de pajem arreada

A indumentária, os móveis, a prataria, as peças de ouro e pedras preciosas tornam-

se itens fundamentais para se entender as estratégias e a importância de Brás no seu

universo. A professora Niza da Silva apresenta uma lista das “peças de indumentária e

seus materiais”29 levantada nos inventários do Rio de Janeiro.

Lá estão os mesmos tecidos utilizados na fazenda Cachoeira em Bananal local

considerado rude, sem conforto e sem representação social. É importante ressaltar que

Brás Arruda dentre os fazendeiros do vale é um dos que mais se destacavam em bens de

representação social. Poucos fazendeiros tiveram o mesmo esmero no trajar, ou nas suas

alfaias tanto no I quanto no II Reinado e contam-se nos dedos os que chegaram a este

29 SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Cultura e sociedade no Rio de Janeiro (1808-1821). Col. Brasiliana. v. 363. 2ª ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978, p. 36.

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31 grau de sofisticação neste tempo.

O viver e o vestir comum às classes abastadas do Rio de Janeiro são também

vistos no inventário deste senhor rural.As despesas relativas à representação social de

Brás Arruda, já são correntes, inclusive havendo deslocamento de escravos do eito para

servirem a casa grande, em um momento considerado como de acumulação de capital e

reemprego dos lucros nas plantações. Uma das selas citadas no rol é designada como

sela de pajem.

Brás Arruda tinha todos os “sinais” de quem pertencia aos “principais” da terra,

inclusive possuindo espadas, que identifica o fidalgo. Professores, artistas, negociantes

e artesãos não tinham direito à espada segundo Marrocos. Na indumentária de Arruda,

está o trajo que se usa no beija mão “ .....casaca preta, colete branco, calções e sapatos

pretos; traz um sabre recurvo e dourado, do cumprimento de um pé, e chapeau à claque

sob o braço.”30

O vestir identifica a origem social e o estamento a que pertence

a diferenciação social da indumentária se faz simultaneamente

através da forma (certas peças constituem sinais de que o

indivíduo pertence a um determinado grupo social) e através dos

materiais (certos tecidos são exclusivos de alguns grupos

apenas, de nível de fortuna mais elevado).31

Tecidos listados no inventário de Braz:

- linho

- casimira

- seda

- sarja

- fustão

30 SILVA, op. cit., p. 24. 31 Ibid., p. 30.

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32 - sarja de seda

- brim em trançado

- linho riscado

- holanda rosa

- chita

- chita mais ordinária

- riscado

- riscado de algodão

- cambraia

- escócia

- cassa

- bretanha

- cambraia

- lã de camelo

- toquim

- retrós

- escocês forrado de baeta

- pano fino forrado de baeta

- marroquim

- pano

- escomilha

- moscavia

Nizza da Silva relaciona as vestimentas e as jóias de Elias Antônio Lopes.

Comparando com as vestimentas de Brás Arruda, Elias estava mal-ajambrado. Segundo

a autora, Elias possuía 3 casacas, Brás tinha 7 e mais duas sobre casacas. Em número de

ceroulas Brás também era superior: 12 contra 3 deste comerciante de grosso trato e

quanto a pescocinhos, Brás tinha 24 e Elias 13.

Ligado ao negócio de gado e pontas de mula chucra mesmo tendo várias moradias

no Rio de Janeiro tinha como principal endereço a fazenda Cachoeira. Outro sinal de

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33 sua posição social eram as suas seges: “Ter sege ou carruagem própria era sinal de uma

graduação social elevada.”32

Continuando a comparação entre os bens de Elias e o de Brás, a louça da casa de

Elias foi avaliada em 56$080 e a roupa da casa em 150$160. No inventário de Brás, o

item louças e vidros tinha a importância de 139$920 e na de roupas 2:466$000. Apesar

de que Elias era solteiro e Brás era casado e pai de 14 filhos.

Em prata Elias tinha peças que totalizaram 910$690. Brás 1:924$700.

ELIAS

1prato e jarro que pesa 12 marcos/14oitavas

1 par de serpentinas pé ouvado 14 marcos/7 oitavas

1 par de serpentinas de prata mais pequena 9 marcos e 62 oitavas.

2 pares de castiçais 8marcos 15 oitavas

1 par de castiçal 3 marcos 61,5 oitavas

outro com 4 marcos 4 marcos 13 oitavas

mais dois com 5 marcos e 2 oitavas

1 salva grande de prata de 3 pés e 1 dita

pequena irmã que pesam 6 marcos e 31,5 oitavas

4 salvas pequenas de prata irmãs com 3 marcos e 18 oitavas

2 pratos e duas tesouras de espevitar 1 marco 56 oitavas

1 talher de 2 galhetas e 2 saladeiros de cristal dourado pesando a prata 3 marcos e

12,5 oitavas.

11 colheres de prata para sopa, de meias canas

11 garfos de prata, de meias canas

1 colher de prata de tirar sopa

11 colheres de prata de chá

1 escumadeira de prata 10 marcos 20 oitavas

32 SILVA, op. cit., p. 56.

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34 11 facas com cabos de prata

Faca e garfo de trinchar

1 faqueiro coberto de lixa preta, forrado de veludo carmesim espiguilhado de ouro

12 colheres de prata para sopa, de pérolas e cabeça virada.

12 garfos de prata

12 colheres de prata para chá

1 escumadeira

1 mola de prata

1 colher de prata 8 marcos 34 oitavas

12 facas de prata

faca e garfo de trinchar

1 faqueiro coberto de lixa preta, forrado de veludo carmesim espiguilhado de ouro

1 colheres de prata para sopa meias canas inteiras

12 garfos de prata

12 colheres de prata para chá

1 colher de prata para açúcar

1 escumadeira de prata

1 colher de prata

1 colher de arroz 9 marcos e 33,5 oitavas

11 facas com cabo de prata

faca e garfo de trinchar

1 faqueiro de lixa preta, forrado de veludo carmesim

espiguilhado de ouro.

5 cabos de facas velhas 1 marco 40 oitavas

Brás Arruda

1 relógio sabonete e caixa de prata - 6$000

2 hábitos de prata - $160

1 faqueiro com 12 colheres, 12 garfos

de colheres para café, uma concha de

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35 sopa, outra dita para açúcar, uma colher

para arroz tudo com peso de 540 oitavas - 129$600

12 facas, 1 trincha e um garfo tudo

pertencente ao mesmo faqueiro - 33$600

Uma caixa que serve de faqueiro - 4$000

12 colheres, 3 garfos, 8 colheres para

café, 2 conchas pequenas com peso de

428 oitavas -102$720

9 facas de cabo de prata avulsas - 18$000

1 jarro e uma bacia de prata lavrada com

com peso de 784 oitavas de ouro -188$160

1 par de castiçais de aljôfares com peso

de 217 oitavas - 52$080

1 par de castiçais sendo um quebrado com

212 oitavas - 50$800

1 par de bugias de prata com peso de

368 oitavas - 88$320

1 aparelho de prata para chá e café

compondo de 1 cafeteira, 1 bule, 1 leiteira

1 açucareiro e 1 taça de lavar com peso de

1.480 oitavas - 355$200

1 salva redonda grande e lisa com peso de

260 oitavas - 62$400

1 salva redonda e menor com peso de

148 oitavas - 35$520

1 salva redonda menor com peso de

134 oitavas - 32$160

1 salva redonda mais pequena com peso

de 86 oitavas - 26$640

1 salva de prata redonda mais pequena

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36 com peso de 62 oitavas - 14$880

1 salva redonda em roda com peso de

161 oitavas - 38$640

1 salva de prata redonda mais pequena

rendada em roda com peso de 128

oitavas - 30$720

1 salva de prata lavrada de aljôfares

com peso de 62 oitavas -14$880

1 salva menor e lavrada de aljôfares

com peso de 58 oitavas -13$920

1 salva e um tesoura ....... com peso

de 102 oitavas - 24$980

1 copo para água com peso de

de 70 oitavas - 16$800

11 colheres, 11 garfos, 1 concha de sopa

dito colheres de chá e 1 concha de açúcar - 43$680

2 castiçais grandes com serpentinas com

peso de 1568 oitavas - 376$320

1 par de esporas de prata lisa com peso

de 44 oitavas - 10$560

1 par de estribos de prata com peso de

316 oitavas - 75$840

1 faca cabo de prata com bocal e

ponteira - 4$000

1 par de esporas de prata com peso de

81 oitavas - 19$440

mais um par de esporas de prata com

peso de 71 oitavas - 17$040

1 cabeçada, rédeas e rabicho com

chapas de prata - 20$000

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37 1 freio velho com o peso de 73 oitavas - 17$640

Há várias diferenças entre esses senhores; entre elas, por exemplo, o serviço para

café que não existia entre os bens de Elias. Como ele faleceu em 1815 e o café só cresce

de importância econômica a partir de 1822, possivelmente não era usual este item, mas

um serviço para chá deveria constar e não somente esparsas colheres.

Nizza da Silva reconhece “que a compra de objetos de prata (variados e

abundantes) não correspondia de maneira nenhuma a um requinte na maneira de viver,

mas apenas a um investimento seguro.”33

A prata neste inventário, além de investimento seguro, mostrava um requinte no

viver e também a sua representação senhorial através da arreada, do copo de viagem, da

faca reconhecida por Maria Graham como de uso das classes superiores e das esporas.

Brás enfeixava em sua representação social, os hábitos e sinais comuns ao mais

importante grupo social de sua época e vistos principalmente entre os moradores do Rio

de Janeiro, juntamente com os trajes e adereços de um rico tropeiro/fazendeiro como as

canastras cobertas de sola ou de marroquim, as camas de lona de campanha, um capote

de escocês e um poncho de pano fino forrado de baeta, vestuário de viajantes com

posses.

Em um inventário de fazendeiro as selas tem que ser avaliadas. Destacam-se os

selins ingleses para senhoras, a ressalva de haver um selim brasileiro próprio para

senhoras e uma sela de pajem arreada.34 O cavalo, a sua arreata e os trajes do seu

cavaleiro foram fatores de representação social em todo o Estado do Brasil.

O inventário de Brás Arruda é liquidado em 1838. D. Alda informa ser a sua moradia

a fazenda da Cachoeira em Bananal.

Entretanto, em 1840 ao se qualificar no inventário de sua mãe Josefa Maria do

Nascimento, D. Alda informou aos Autos que era moradora em Botafogo, Corte.

33 SILVA, op. cit., p. 54. 34 Sela arreada é a que já está montada, isto é, com a barrigueira, a cilha e os loros. Se não o fosse, se diria estar no casco.

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38 Em 1859, abre – se o Inventário de D. Alda Maria Nogueira.Apresentam-se como

herdeiros os seguintes filhos e genros:

1 Ana Arruda de Oliveira

Inventariante

2 D. Alda Rumana de Oliveira Monteiro de Barros

Maior de Idade

3 Brás de Oliveira Arruda

Maior de idade

4 Américo de Oliveira Arruda

Maior de Idade – Vendeu toda a Legitima.

5 – Manoel de Oliveira Arruda

Maior de Idade

6 – Marcos de Oliveira Arruda

Maior de Idade - Vendeu toda a Legitima.

7 – Pedro de Oliveira Arruda

Maior de Idade – Vendeu toda a Legitima.

8 - D. Maria Barbosa Arruda

Casada com Antonio Barbosa da Silva

9 - D. Maria da Glória Arruda – Falecida

Foi casada com Brás Fernandes Carneiro Vianna

e por ela representam seus filhos adiante nomeados.

10 – Domiciano de Oliveira Arruda – Falecido

e por ele representam seus filhos adiante nomeados

11 – João de Oliveira Arruda também falecido

e por ele representam também seus filhos adiante nomeados

12 – Luiza Arruda da Silveira também falecida

e por ela representam seus filhos adiante nomeados.

Ausentes estavam José e Antonio, falecidos sem descendência.

Relação dos Bens para o Inventário da falecida Dona Alda Maria Nogueira:

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39 1 – duas fazendas de café, denominadas Barra e União, sitas no Termo de Piraí,

Província do Rio de Janeiro com escravos, casas, terras. - 630:939$000

2 – Trastes em Petrópolis 1:482$000

3 – 13 escravos na Corte 14:900$000

4 – Prata e Jóias 3:395$000

5 - 138 apólices da dívida pública 138:000$000

6 - 47 apólices da ditas do Rio de Janeiro 23:000$000

7 – 240 ações do Banco do Brasil 60:000$000

8 – Dívida de D. Maria Josefa de Castro 48:800$000

9 – Dívida por crédito de Antonio Barbosa da Silva 30:000$000

10 – Dinheiro na casa de Antonio Alves Souto. 14:598$000

11 – Produto da praça dos trastes no Rio de Janeiro 4:154$000

12 – Saldo da Conta de Jerônimo José de Mesquita

até 31/12/1859 85:459$047

13 – Dividendo das ações do Banco, apólices geral

e da Província do último semestre de 1859 7:005$000

14 – saldo da conta de Fernando Sobral 65$800

Estes eram os bens que declarou D. Alda Maria em testamento lavrado no ano de

1854. Antonio ainda aparecia como herdeiro e ele vai ser lido somente em 18 de abril de

1859. A evolução no patrimônio da família Arruda e a sua permanência entre as grandes

fortunas do Império é a primeira informação que sobressai. Não é uma informação

desnecessária. Uma fortuna amealhada até 1828 e dividida por 14 herdeiros, mesmo

tendo a viúva permanecido com 50% da legitima, não se imaginaria que ela a refizesse,

a aumentasse e a atualizasse.

Brás em 1828 legou aos seus filhos e esposa um monte mor de 360:959$660 que

foi repartida em duas: D. Alda ficou com uma metade – 180:479$830 e a seus outros 13

herdeiros – 13:883$063 para cada um pois José já havia falecido.

D. Alda permaneceu senhora da antiga fazenda da Barra e dos seus sítios. Em

1859 é ainda o seu principal bem – 630:000$000 e os seus cativos mantém a proporção

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40 usual: em torno de 50% do total do Monte Mor.Mas sua escravaria traz uma

informação: a idade elevada dos “africanos” mostra que ela não estava mais investindo

na sua propriedade. Mesmo tendo havido a cessação do tráfico negreiro em 1850, os

cativos tinham entre 10 a 20 anos de residência. A Barra e a União foram formadas de 3

sesmarias e metade destas terras ainda eram em mata virgem havendo possibilidades de

uma grande ampliação de área plantada na área não utilizada pela sua proprietária.

Portanto nem plantios novos nem escravos novos. Para onde ia o lucro?

Em 1859, D. Alda deixou para seus 12 filhos a importância de 1:063:798$247 em

fazendas, casas, trastes, jóias, prata, escravos, títulos de divida pública e dinheiro

investido em Casas Bancárias. D. Alda não estava interessada em lavoura, o que era

reconhecido até por seu genro Brás Fernandes Vianna. O lucro auferido nos seus

negócios, ela estava direcionando para outros ativos, preferindo os dividendos das

apólices e das casas bancárias do barão de Mesquita e do Souto.

FAZENDAS:

D. Alda era uma proprietária absenteísta. A fazenda tinha um administrador

contratado, mas este não é o principal sinal. O mobiliário denota a sua ausência sendo

ele mais para uma casa de morada e não de uma casa de vivenda :

6 quadros dourados e velhos

4 espelhos grandes com molduras douradas

1 espelho americano

5 ditos ordinários

3 pares de manga de vidro

4 vasos com flores e mangas de vidro

Um par de vasos de porcelana, dourados

2 pares de frascos de cima de mesa, de cristal com defeito.

Um par de castiçais de casquinha velhos, com mangas de vidro.

Um galheteiro de casquinha velho.

Um vidro de segurar papéis.

4 consolos de jacarandá

2 aparadores de jacarandá ordinários

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41 Uma mesa redonda de meio de sala

Uma dita de madeira ordinária pequena com uma gaveta

12 cadeiras americanas de palhinha

Uma marquesa de jacarandá de palhinha

2 ditas de jacarandá, estragadas

4 ditas ordinárias

4 camas de armação antigas

Uma mesa redonda de quarto

Lavatórios ordinários

Uma mesa de jantar elástica

Duas ditas ordinárias

Uma dita de abas

Um armário grande

8 cadeiras de palhinha ordinárias

3 ditas de pau

Uma talha

Toda a louça, talheres e vidros usados

4 bandejas

uma dita pequena

2 sofás com assento de sola

2 mesas ordinárias, de abas

2 cômodas de jacarandá, boas

Uma dita ordinária

2 meia ditas

Um toucador de mogno

Um oratório e pertences para dizer missa

6 castiçais de prata, pesando 768 oitavas

Os instrumentos de trabalho também denotam a ausência do senhor :

Ferramentas de carpinteiro

Tenda de ferreiro

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42 76 foices

10 machados

2 peças de um alambique

3 carros em bom estado

3 carretões em bom estado

Um carro de puxar pedra

18 tachos de cobre, de diferentes tamanhos muito usados

2 fornos de torrar farinha

2 bacias de arame

8 panelas de ferro

3 caldeiras de ferro de cozinhar comida para os porcos

Um trem de cozinha, ordinário

2 caixões de guardar mantimentos

As louças não são discriminadas, os móveis em sua maioria usados ou ordinários,

salvando-se só os castiçais de prata. Não há artesãos em atividades dirigidas ao

fazendeiro, mostrando que D. Alda por lá pouco aparecia.

Mas ela era uma senhora requintada. A descrição de suas roupas e jóias em 1828

eram iguais às usadas no Rio de Janeiro pelas mais abonadas. Em 1859 como seria a sua

representação?

A viúva de Brás Arruda continuava pertencendo à alta roda da Corte. Depois de

1848, quando é liquidada a Praieira no Recife, e os conservadores dominaram a cena

política, o Império passou a viver o seu apogeu social. Há um mundanismo que torna a

Corte a grande referência social do país, como colocou o jovem deputado baiano João

Alfredo ao ser recebido no salão da Baronesa da Bela Vista. A alta sociedade do Rio se

encontrava nestes salões muitos deles de pessoas relacionadas com D. Alda. Morales de

los Rios lista aqueles mais importantes e dentre eles podemos citar os dos conhecidos de

D. Alda: o da Marquesa do Paraná, esposa de Honorio Hermeto Carneiro Leão padrinho

de Brás, seu neto, filho de Alda Rumana e Ignácio Gabriel, de Brás Carneiro Nogueira

da Costa Gama e de seu pai o Marquês de Baependi o primeiro padrinho de casamento

de seu irmão Cassiano e o segundo filho do primo irmão do seu pai, do Visconde de

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43 Congonhas do Campo sogro de sua filha Alda Rumana, do Visconde de São Salvador

de Campos tio do seu genro Brás Carneiro Vianna, do barão de Bonfim pai do barão de

Mesquita com quem ela tinha negócios confiando a ele altas somas de dinheiro e claro o

de Paulo Barbosa da Silva tão envolvido com sua parentela desde os idos em que

Antonio pai de Paulo, ainda comerciante na rua Direita, acolheu sua mãe fugida de

Baependi enquanto aguardava a autorização de casamento.

Se a fazenda não é mais o local de sua residência, como seria a sua casa na Rua

das Laranjeiras 16 – A?

Esta casa não é descrita, mas pelo número de serviçais, carros e ferramentas

tratava-se de uma chácara. Ela tinha para seus deslocamentos um carro de 4 rodas e uma

caleche. Para o serviço da casa, uma carroça, que revela a necessidade de cocheiras e

pastinho. Seus móveis são os usuais das residências apalacetadas. Destaco alguns itens

que indicam ter esta residência uma sofisticação no seu viver e no seu cotidiano:

os mochos de pau continuavam a serem de uso dos seus cativos.

uma caixa de retrete. Um item “moderno” na higiene desta senhora.

15 quadros decorados

distintos móveis segundo suas funções – para guarda louça, para guarda vestidos.

Mesas para jogo e tabuleiro de gamão.

Uma cadeira de balanço

Um aparelho de louça branca com pó de pedra para jantar com 185 peças

Um aparelho de louça azul para jantar com 167 peças

Copos para água, vinho e champagne

Um lote de louça azul – pombinho (são os Wilow ou a louça dos Salgueiros ou

dos dois pombinhos)

Xícaras e pires em profusão

Para o serviço da casa havia

Um cesto de vime para roupa

sacos com painas (para travesseiros)

encerados para as mesas que serviam para passar roupa

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44 Trem de cozinha com almofarizes, lampiões, barris para água,

Para o Jardim enxadas e uma solitária pá.

Como lembrança da origem da fortuna, uma canastra de couro velho, lançada a

um preço ínfimo. Os móveis dizem que D. Alda recebia. A inventariante declarou duas

mobílias: uma de mogno e outra de jacarandá que existiam na sala; Pela quantidade de

louça e de aparadores, pelo lote de porcelana para chá e café,pela garrafa dourada e

prato para ponche, mais os 15 pratos de porcelana,6 compoteiras e uma máquina para

café de porcelana , que ela recebia à tarde e convidava para jantares com muitos

convivas; que gostava de música possuindo um compasso; que lia e que jogava

aparecendo listado, um lampião de mesa que é uma peça não fixa e também mesa para

jogo e tabuleiro de gamão; que gostava de se cuidar vistos nos seus diversos toucadores

e espelhos; que continuava profundamente religiosa visível nos paramentos para missa

incompletos, nas suas santas e nas suas disposições testamentárias. Para o serviço da

casa 12 escravos domésticos e por serem “escravos de dentro” foram bem lançados. A

serviço de uma senhora como D. Alda evidentemente usavam fardas e elas aparecem no

inventário, mas só as velhas. Estas fardas vinham com um padrão e cores que

identificavam a família Arruda. Nos botões dourados não seria surpresa estar gravado

um A e um N entrelaçados, bem heráldicos, bem rebuscados, dando “ares” ao cativo,

nobilitando-o: ele era um cativo de um Arruda, ou melhor, de D. Alda Maria Arruda

Nogueira. Estas cores e padronagem eram usadas nos outros semoventes: a testeira da

madrinha de tropa da fazenda da Barra e União e a cabeceira dos seus bois de carro a

portavam, identificando a quem pertencia os animais e cargas.

1 – Antonio Manoel, pardo, idade 40 anos, sapateiro, tem uma costela quebrada

1:000$000

2 – Lourenço crioulo , 24 anos, cozinheiro, padece da vista 1:400$000

3 – Policarpo, crioulo, 20 anos, copeiro 1:500$000

4- Luiz Monjolo, 65 anos, serviço de casa 200$000

5 – Mauricio rebolo, 40 anos, cocheiro, com um pé quebrado 1:000$000

6 – Izabel, conga, 30 anos, serviço de casa (falecida) 1:200$000

7 - Clara, conga, 32 anos, engomadeira 1:000$000

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45 8 – Madalena, crioula, 40 anos, cozinheira 1:200$000

9 – Margarida, parda, 20 anos, costureira 1:400$000

10 – Mada , crioula, 15 anos, costureira 1:400$000

11- Guilhermina, crioula, 15 anos, costureira 1:400$000

12 – Amélia, parda, 10 anos 900$000

Ser “escravo de dentro” era um grande diferencial entre os cativos. Cozinheiras ou

cozinheiros, despenseiros, copeiros — todos personagens colocados, na escala social,

acima dos negros do eito, a ponto de cantarem os jongueiros: “Nego do eito vira copeiro

/ Não oia mai pra seu parceiro”35.

Em Bananal ouro e prata sobressaiam no inventário de Brás Arruda e no de sua

esposa o mesmo ocorreu. A prata listada na fazenda da Cachoeira foi um importante

sinal da importância social do casal. Em uma época que os historiadores colocam como

de acumulação de capital no vale, Brás e Alda Maria já possuíam bens dirigidos a sua

representação social com um valor alto de avaliação. Em 1859 D. Alda continua

destinando a prata, jóia e ouro uma boa soma.

A prata é toda voltada para peças do “serviço da casa”. Os avaliadores não

economizaram na sua descrição:

Um faqueiro de prata de lei pura com 96 peças, outro com 24 garfos e colheres,

mais dois com 6 dúzias de facas, garfos e colheres de sobremesa e 2 dúzias de facas só

com os cabos de prata.

Só de prata de lei são as 2 conchas de sopa e as 2 de arroz; 1 dúzia de colheres

para sopa, pra chá e as 3 conchas para açúcar. A seguir vêm as diversas bandejas, as

serpentinas, as salvas, os castiçais, um paliteiro de prata (que desenho teria? De Flor?),

aparelhos de chá, lamparinas e claro um jarro e a sua bacia. Lembrando o rol da

Cachoeira, um prato e um tesoura utilizados para velas. A suspeita é reforçada por ser

considerada pelos avaliadores como muito velha.

Em ouro e brilhantes D. Alda não economiza. O valor de suas peças, 7:912$220,

podia comprar mais uns 7 bons escravos, mas ela gostava das boas coisas. Ela indo a

35 MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. O café. Exposição O Café. São Paulo: Banco Real, 2000, p. 40.

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46 uma soirée no Cassino Fluminense devia ser algo. No seu pescoço e orelhas levava

1:550$000, além da beleza que devia ser: Um colar com círculos de brilhantes em todo

a vista e um par de brincos do mesmo colar. Tinha também um medalhão com retrato e

circulado de brilhantes,um colar e brincos de ouro e duas pulseiras, mais fita de ouro

com uma peça de brilhante, brincos, alfinete de topázio, relógios de ouro e prata,

correntes de ouro e uma boceta de ouro para o seu rapé.

Mas D. Alda como seu marido Brás fez do seu inventário uma “caixinha de

surpresas”. Arrolado como mais um bem, uma única casa além de suas fazendas e

residência na Corte.

Esta casa está localizada em Petrópolis, Rua D. Januária, 10. Por que ser uma

surpresa?

Depois de um levantamento iconográfico e com a ajuda do Museu Imperial, as

minhas suspeitas se confirmaram. D. Alda adquiriu esta casa da família do engenheiro

Julius Koeller, construtor da cidade e morto em acidente com arma de fogo não muito

explicável.

Esta é a surpresa? Não, não é. A rua D. Januária 10 na verdade é a casa da fazenda

do Córrego Seco de onde se originou Petrópolis e que pertenceu inicialmente a Pedro I.

Esta casa ela freqüentava como todos de boa cepa a partir da primeira epidemia de

febre amarela em 1850 e que deixou sua filha Alda Rumana viúva. Infelizmente ela não

existe mais. Foi derrubada em 1942 tornando-se um dos endereços mais famosos da

Cidade Imperial.

D. Ana informou que a casa era assobradada (...) construída de madeira e pedra,

com 118 palmos de testada e 181 de fundo, 7 janelas na frente, 3 salas, 13 quartos,

cozinha e dispensa, uma varanda ladrilhada de tijolos de mármore, divisões de pau a

pique, portas de madeira e todo o terreno que lhe pertence , de 40 braças de testada e

1134 palmos de fundo, tudo por 18:000$000.36

Os trastes da casa mostram ter sido utilizada, de ter tido o seu cotidiano. A casa

além das peças arroladas próprias ao dia a dia, possuía uma representação vista nos

36 Inventário de Brás de Oliveira Arruda. nº 409 cx 1127, galeria A Fundo SJ. AN.

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47 copos para champagne, cálices, compoteiras, louças, pratos travessas, sopeiras e tigelas.

Para sua higiene, tinha uma banheira de folha e um lavatório.

As suas disposições testamentárias é uma geografia da sua vida, dos lugares pelos

quais passou construindo sua memória, seu poder, seu prestígio. No Rio ela não deixou

de se lembrar da Ordem Terceira de São Francisco de Paula e da Igreja de Santo

Antônio dos Pobres para a Igreja de Nossa Senhora da Glória próxima a sua residência

na Corte deixou 1:000$000. Legou também a Matriz do Bom Jesus do Bananal

2:000$000 e um par de serpentinas, a Nossa Senhora da Aparecida em Guaratinguetá

1:000$000, e a Sant ' Ana do Piraí mais 1:000$000. Não destinou nada para a matriz de

São João Marcos e de resto fez o comum a outros inventários de pessoas endinheiradas:

capelas de missa e esmolas para os pobres.

A partir daí os Arruda Nogueira, se espalham, os trastes da casa vão a leilão, os

irmãos ausentes passam procuração plena para Ana a Inventariante representá-los no

Rio de Janeiro. Tudo para que a partilha seja rápida.

Os valores finais encontrados para os herdeiros são pequenos, pois a maioria deles

vendeu em vida as partes que lhe cabiam na fazenda da Barra e União para Matias Roxo

e Antonio Gonçalves de Morais.37

Pode-se acompanhar a trajetória de alguns deles por serem moradores em

Bananal. Marcos recebeu Zaluar em sua fazenda da Cascata, Brás de Oliveira Arruda

continuava fazendeiro cabendo a ele o Pouso Seco, mas ao contrário dos seus pais

estava tão apertado que vendeu a sua parte para Fernando Gomes Nogueira em 1861

por que não convém a eles outorgantes esperar a solução desta sobre partilha

concordaram vender como de fato vendem ao outorgado o direito e a ação que tem aos

bens desta sobre partilha (...)38

Manoel, Antonio Barbosa da Silva, e os filhos de Domiciano informam ser

Bananal seus domicílios. Os demais estão espalhados – Barra Mansa, São João Marcos

e Rio de Janeiro.

37 A Fazenda da Barra é hoje Barra do Piraí. 38 Inventário de Brás de Oliveira Arruda. nº 409 cx 1127, galeria A Fundo SJ. AN.

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48 E D. Alda Rumana, que se casou com o moço fidalgo Ignácio Gabriel Monteiro

de Barros, que ganhou de dote o sítio do Resgate e Ignácio por ser cabeça do casal, a

vendeu em 1833 a José de Aguiar Toledo, mudando-se desde então para o Rio de

Janeiro?

A 6 de junho de 1859, ela deu-se por citada no inventário de sua mãe. Neste

mesmo ano, ela fez o seu testamento legando tudo para seu único filho. Mas como boa

Arruda, o seu testamento não foi usual. Ela liquidou todos os seus bens, vendendo a

Fazenda Monte Café em Sapucaia, e se mudou para Paris onde virá a falecer.

A Fazenda Monte Café desmembrou -se da Sesmaria do Rio Preto em um

negócio articulado por seu cunhado Antônio Augusto Monteiro de Barros Juiz de

Órfãos e Ausentes do Rio de Janeiro. Outra fazenda originária desta sesmaria a Lordelo

coube ao compadre Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês do Paraná.Como boa

Arruda, Alda Rumana deixou a sua “caixinha de surpresas”. Antes de vender a Monte

Café contratou o fotógrafo Marc Ferrez para fotografar a Monte Café. Estas fotos, e as

fotos feitas por diversos fotógrafos da casa de D. Alda, os sketchs de Enders, as

narrativas dos viajantes são o maior legado deixado pelos Arruda Nogueira.

De Bananal a Paris. Ao ler pela primeira vez o inventário do sargento-mor Brás

de Oliveira Arruda, não imaginava o campo que se abriria. Ele permitiu mostrar o

caminhar de um grupo social que se enredou desde o século XVIII, se organizou

politicamente, que participou de diversos acontecimentos políticos do I e II Reinado,

mantendo sua hegemonia por décadas. Economicamente sempre estiveram entre os mais

ricos da Colônia e do Império e socialmente criaram uma das mais importantes redes

sociais do centro sul. Se a primeira sucessão não os desestabilizou a saída de cena de D.

Alda os fracionou. As fazendas de Piraí que por tantos anos pertenceram aos Arruda

Nogueira passou de mãos. Os trastes da rua das Laranjeiras vendidos em hasta pública

era um sinal da pressa e da necessidade dos herdeiros vistos também nas vendas das

suas legitimas e das partes que lhes cabiam na Barra e União. A próxima década seria

um sinal de que o “mundo” construído por seus pais e por eles mantidos começava a

acabar. A crise da borboletinha, praga que destruiu muitos cafezais, o peso da idade

chegando as suas escravarias, os seus cafezais envelhecendo e as terras se esgotando. As

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49 pressões políticas refazendo o poder, aparecendo o primeiro sinal do esgotamento do

modelo imperial — os ligueiros. Para culminar o Souto quebra. O banqueiro dos bem

nascidos e bem afortunados ao falir leva consigo várias boas famílias que confiavam

seus dinheiros a esta casa bancária.39

Este mundo que começou a ser construído em fins do século XVIII e que iniciou o seu

declínio na década de 60, está representado na Casa de D. Alda.

A casa da Rua D. Januária 10, um endereço que não mais existe em Petrópolis, guardou

entre suas paredes a memória de um grupo familiar que participou da Inconfidência, da

Independência, da construção do Estado Nacional e da montagem da plantation cafeeira

no Vale do Paraíba. Pelo matrimônio e compadrio fez alianças com os principais grupos

parentais do centro sul.

Nos deixou um rico legado. A iconografia feita de suas propriedades no decorrer do

século XIX.

BIBLIOGRAFIA

39 Há uma estória oral que me foi passada por descendentes dos Almeida Vallim que a falência do Souto foi causada pela retirada de D. Maria Joaquina de Almeida de uma alta soma que emprestou para seu genro Manoel comprar a Fazenda da Bocaina que era de Domiciano de Oliveira Arruda. Sua viúva casou-se com Gustavo de Coppet que a vendeu para Vallim.

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FONTES PRIMÁRIAS

Arquivo do Foro de Bananal

Inventários

Sargento Mor Brás De Oliveira Arruda, 1828

Tenente Coronel Luís Gomes Nogueira, 1836

Justificação –

Capitão Hilário Gomes Nogueira Justificante, 1825

Embargos entre partes, 1820

SM Brás de Oliveira Arruda - embargante

Francisco da Cunha Muniz - embargado

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Embargos, 1822

D. Antônia Maria de Jesus – embargante

Capitão Hilário Gomes Nogueira – embargado

Libelo de força entre partes, 1822

Antônio Pereira Lima e sua mulher – autores

O SM Brás de Oliveira Arruda e sua mulher – réus

Justificação, 1825

Reverendo Vigário Diniz Hilário Nogueira

Notificação entre partes, 1825

D. Maria Josefa do Nascimento – viúva do Capitão Hilário Gomes Nogueira e seus herdeiros – autores

José de Aguiar Toledo e sua mulher – réus

Libelo Cível Entre Partes, 1826

O Alferes Luiz Gomes Nogueira

O Alferes Antônio José Nogueira

Notificação, 1826

Antônio José Nogueira

Luiz Gomes Nogueira.

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Ação de Reconhecimento , 1827

O capitão Hilário Gomes Nogueira

Bento Fernandes de Faria

Arquivo Nacional

Sesmarias

A Brás de Oliveira Arruda.

Oficio de Notas

Registro de um papel de liberdade que dá Alda Maria Nogueira a José dos Santos em 6.02.1830.

Inventário

De Brás de Oliveira Arruda nº 409 . cx 1127. Gal. SDJ

Graças Honoríficas

De Pedro Gomes Nogueira

Lucas Antônio Monteiro de Barros

Latas Verdes nº 2503.

Biblioteca Nacional

Seção de Manuscritos

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Documentos Biográficos - Graças Honorificas

C 267 -5

Alda Maria Nogueira para seus filhos Domingos e José em 17.01.1829.

C 830 – 51

Coronel Pedro Gomes Nogueira

C – 25 – 2

Joaquim José de Sousa Breves

C – 4-16

Antônio Barbosa da Silva

C – 675 – 10

Cassiano Gomes Nogueira

Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo

1808

Processo de habilitação de Genere e Moribus de

Gomes Antônio do Nascimento e

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Diniz Hilário Nogueira

Códice 2 – 22 - 892

Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro

Banho de

Hilário Gomes Nogueira

Maria Josefa do Nascimento - 1781