A Cidade Colonial e o Paradigma Da Ordem

2
7/21/2019 A Cidade Colonial e o Paradigma Da Ordem http://slidepdf.com/reader/full/a-cidade-colonial-e-o-paradigma-da-ordem 1/2  A cidade colonial e o paradigma da ordem Maria Fernanda Derntl DERNTL, Maria Fernanda. A cidade colonial e o paradigma da ordem. Resenhas Online, São Paulo, 10.10, !itru"iu#, a$r %011 &'ttp())***."itru"iu#.com.$r)re"i#ta#)read)re#en'a#online)10.10)+-%. P/tio do olgio, 2leo 100344 cm. 5o# 6a#t' Rodrigue#, 11 7Acer"o do Mu#eu Pauli#ta8 Ainda pairam #o$re São Paulo do per9odo colonial imagen# de decad:ncia, "a;io e i#olamento, em contra#te com "i#<e# pu=ante# da metr2pole em >ue a cidade #e tran#?ormou depoi#. Ne##a o$ra de Am9lcar Torrão Fil'o, a re"i#ão da 'i#toriogra?ia #o$re a cidade colonial $ra#ileira e a cr9tica a "i#<e# tradicionai# #o$re São Paulo #ão a $a#e para uma an/li#e >ue re##alta a ?un@ão ci"ili;adora atri$u9da ao e#pa@o ur$ano na admini#tra@ão do Morgado de Mateu# 1B4-C1BB-. li"ro tem origem na di##erta@ão de me#trado orientada pela pro?e##ora Maria Stella re#ciani e compartil'a o intere##e de um grupo de 'i#toriadore# da Gnicamp por e3plorar o modo como certo# lugare#Ccomun# e imagen# #o$re a cidade #e con#troem e aca$am condicionando interpreta@<e#. Ne##a per#pecti"a, o tra$al'o de Am9lcar Torrão Fil'o retoma o de$ate #o$re a cidade colonial para mo#trar >ue uma determinada no@ão de ordem ou racionalidade ur$an9#tica ?oi adotada como premi##a no# te3to# pioneiro# #o$re o tema e #eguiu determinando camin'o# interpretati"o#. A op@ão metodol2gica por São Paulo =u#ti?icaC#e pela tend:ncia da 'i#toriogra?ia em con#ider/Cla de#ordenada e "a;ia, tornandoCa, para ?in# de##a an/li#e, um paradigma de certa "i#ão da cidade colonial. tra$al'o iniciaC#e tratando do con'ecido te3to de Srgio uar>ue de Holanda, I Semeador e o Ladril'adorJ, pu$licado originalmente no li"ro Ra9;e# do ra#il de 1+4 e depoi# tran#?ormado em cap9tulo K parte na edi@ão de 1B. Demon#traC#e como, a partir da# imagen# do #emeador e do ladril'ador, ?i3aramC#e cnone# de interpreta@ão opondo, de um lado, a cidade portugue#a, a##ociada K de#ordem e ao cre#cimento orgnico e, de outro lado, a cidade 'i#pnica, a##ociada K ordem e ao plane=amento. # te3to# en"ol"ido# no de$ate #o$re a cidade colonial de matri; portugue#a =/ ?oram o$=eto de "/rio# $alan@o# e re?le3<e# a$rangente#, ainda a##im, o li"ro de Am9lcar Torrão Fil'o tra; uma contri$ui@ão no"a ao di#tinguir #ei# te#e#, ou #ei# per#pecti"a# de an/li#e, com $a#e na :n?a#e em di?erente# a#pecto#, como, por e3emplo, o pragmati#mo da# ordena@<e# ur$ana#, a l2gica medie"al de implanta@ão, a linguagem e#pacial de car/ter $arroco ou a ?un@ão de ordenamento ci"il e ecle#i/#tico. A di"i#ão em te#e# não e#tan>ue, =/ >ue, como recon'ece o autor, di?erente# a#pecto# #e entrela@am em alguma# interpreta@<e#. recur#o a e##a cla##i?ica@ão til para apontar lin'a# interpretati"a# de alguma ?orma tri$ut/ria# ao te3to de Srgio uar>ue, me#mo >uando #e pretendeu re?ut/Clo. Na re"i#ão da 'i#toriogra?ia #o$re a cidade colonial, uma da# preocupa@<e# do li"ro mo#trar >ue interpreta@<e# pautada# pela no@ão de Iur$ani#moJ remeteriam a critrio# e padr<e# al'eio# K>uele per9odo. alerta em rela@ão ao ri#co de anacroni#mo pertinente, ma# tam$m #e de"e con#iderar >ue, em$ora o ur$ani#mo #2 ten'a #e con#titu9do como di#ciplina cient9?ica no #culo 1, muito ante# =/ #e apre#enta"a como propo#i@ão pr/tica #o$re a cidade. li"ro apre#enta tam$m uma re"i#ão da 'i#toriogra?ia e#pec9?ica #o$re São Paulo, procurando di#cutir imagen# de "a;io, po$re;a, i#olamento e de#ordem perpetuada# por uma certa tradi@ão interpretati"a. Em$ora o autor e#te=a mai# preocupado com a# ?aceta# ur$ana# de##a# imagen#, pOde contar com te3to# >ue =/ de#en"ol"eram per#pecti"a# #emel'ante#, como, por e3emplo, o cl/##ico tra$al'o de lana la= 1 #o$re o proce##o de mercantili;a@ão de São Paulo. Em contrapo#i@ão a "i#<e# tradicionai#, Am9lcar Torrão Fil'o de#taca di?erente# modo# pelo# >uai# a cidade atuou na o$ra da coloni;a@ão, detendoC#e em tema# da maior atualidade no# de$ate# 'i#toriogr/?ico#, como, por e3emplo, a a@ão da# mara# municipai#, o papel da# elite# coloniai# e o# ne3o# entre ur$ano e rural. Gm de#a?io do li"ro a$ordar a cidade de São Paulo no per9odo de 1B4- a 1BB- #em perder de "i#ta a pro$lem/tica #ugerida pela an/li#e da 'i#toriogra?ia e, ao me#mo tempo, #em recair no# paradigma# u#uai#. Para i##o, a ampla a@ão ur$ani;adora promo"ida pelo go"ernador Morgado de Mateu# na capitania de São Paulo relacionada a medida# re?ormi#ta# implementada# em di?erente# m$ito# da admini#tra@ão. A te#e central >ue a "ila na#cida no #culo 14 como e#pa@o de con"er#ão em molde# =e#u9tico# pa##ou a #er encarada, no #culo 1, como e#pa@o de con"er#ão K ci"ilidade e de #u$mi##ão K autoridade da oroa e da gre=a. ?oco do tra$al'o não #ão a# mor?ologia# ur$ana# Q como a tOnica na 'i#t2ria do ur$ani#mo Q ma# a "i#ão de cidade "eiculada pela# pol9tica# ilu#trada# do go"erno pom$alino. Ainda a##im, elemento# da ar>uitetura e do# tra@ado# ur$ano# #ão importante# para de#tacar di?erente# modo# de repre#enta@ão e impo#i@ão do poder mon/r>uico. No e#t/gio atual de tra$al'o# #o$re a cidade colonial, podemC#e con#iderar #uperada# a# a$ordagen# $a#eada# na dicotomia entre ordem e de#ordem do# tra@ado# ur$ano#. Não >uer di;er, porm, >ue a# propo#i@<e# de Srgio uar>ue de Holanda e#te=am ultrapa##ada#. on?orme ad"erte Am9lcar Torrão Fil'o, a# met/?ora# do #emeador e do ladril'ador, de#en"ol"ida# num te3to de

description

au

Transcript of A Cidade Colonial e o Paradigma Da Ordem

Page 1: A Cidade Colonial e o Paradigma Da Ordem

7/21/2019 A Cidade Colonial e o Paradigma Da Ordem

http://slidepdf.com/reader/full/a-cidade-colonial-e-o-paradigma-da-ordem 1/2

 A cidade colonial e o paradigma da ordem Maria Fernanda Derntl

DERNTL, Maria Fernanda. A cidade colonial e o paradigma da ordem. Resenhas Online, São Paulo, 10.10, !itru"iu#, a$r %011

&'ttp())***."itru"iu#.com.$r)re"i#ta#)read)re#en'a#online)10.10)+-%.

P/tio do olgio, 2leo 100344 cm. 5o# 6a#t' Rodrigue#, 11 7Acer"o do Mu#eu Pauli#ta8

Ainda pairam #o$re São Paulo do per9odo colonial imagen# de decad:ncia, "a;io e i#olamento, em contra#te com "i#<e# pu=ante# da

metr2pole em >ue a cidade #e tran#?ormou depoi#. Ne##a o$ra de Am9lcar Torrão Fil'o, a re"i#ão da 'i#toriogra?ia #o$re a cidadecolonial $ra#ileira e a cr9tica a "i#<e# tradicionai# #o$re São Paulo #ão a $a#e para uma an/li#e >ue re##alta a ?un@ão

ci"ili;adora atri$u9da ao e#pa@o ur$ano na admini#tra@ão do Morgado de Mateu# 1B4-C1BB-.

li"ro tem origem na di##erta@ão de me#trado orientada pela pro?e##ora Maria Stella re#ciani e compartil'a o intere##e de um

grupo de 'i#toriadore# da Gnicamp por e3plorar o modo como certo# lugare#Ccomun# e imagen# #o$re a cidade #e con#troem e aca$am

condicionando interpreta@<e#. Ne##a per#pecti"a, o tra$al'o de Am9lcar Torrão Fil'o retoma o de$ate #o$re a cidade colonial para

mo#trar >ue uma determinada no@ão de ordem ou racionalidade ur$an9#tica ?oi adotada como premi##a no# te3to# pioneiro# #o$re o

tema e #eguiu determinando camin'o# interpretati"o#. A op@ão metodol2gica por São Paulo =u#ti?icaC#e pela tend:ncia da

'i#toriogra?ia em con#ider/Cla de#ordenada e "a;ia, tornandoCa, para ?in# de##a an/li#e, um paradigma de certa "i#ão da cidade

colonial.

tra$al'o iniciaC#e tratando do con'ecido te3to de Srgio uar>ue de Holanda, I Semeador e o Ladril'adorJ, pu$licado

originalmente no li"ro Ra9;e# do ra#il de 1+4 e depoi# tran#?ormado em cap9tulo K parte na edi@ão de 1B. Demon#traC#e como,

a partir da# imagen# do #emeador e do ladril'ador, ?i3aramC#e cnone# de interpreta@ão opondo, de um lado, a cidade portugue#a,

a##ociada K de#ordem e ao cre#cimento orgnico e, de outro lado, a cidade 'i#pnica, a##ociada K ordem e ao plane=amento.

# te3to# en"ol"ido# no de$ate #o$re a cidade colonial de matri; portugue#a =/ ?oram o$=eto de "/rio# $alan@o# e re?le3<e#

a$rangente#, ainda a##im, o li"ro de Am9lcar Torrão Fil'o tra; uma contri$ui@ão no"a ao di#tinguir #ei# te#e#, ou #ei#

per#pecti"a# de an/li#e, com $a#e na :n?a#e em di?erente# a#pecto#, como, por e3emplo, o pragmati#mo da# ordena@<e# ur$ana#, a

l2gica medie"al de implanta@ão, a linguagem e#pacial de car/ter $arroco ou a ?un@ão de ordenamento ci"il e ecle#i/#tico. A

di"i#ão em te#e# não e#tan>ue, =/ >ue, como recon'ece o autor, di?erente# a#pecto# #e entrela@am em alguma# interpreta@<e#.

recur#o a e##a cla##i?ica@ão til para apontar lin'a# interpretati"a# de alguma ?orma tri$ut/ria# ao te3to de Srgio uar>ue,

me#mo >uando #e pretendeu re?ut/Clo.

Na re"i#ão da 'i#toriogra?ia #o$re a cidade colonial, uma da# preocupa@<e# do li"ro mo#trar >ue interpreta@<e# pautada# pela

no@ão de Iur$ani#moJ remeteriam a critrio# e padr<e# al'eio# K>uele per9odo. alerta em rela@ão ao ri#co de anacroni#mo

pertinente, ma# tam$m #e de"e con#iderar >ue, em$ora o ur$ani#mo #2 ten'a #e con#titu9do como di#ciplina cient9?ica no #culo

1, muito ante# =/ #e apre#enta"a como propo#i@ão pr/tica #o$re a cidade.

li"ro apre#enta tam$m uma re"i#ão da 'i#toriogra?ia e#pec9?ica #o$re São Paulo, procurando di#cutir imagen# de "a;io,

po$re;a, i#olamento e de#ordem perpetuada# por uma certa tradi@ão interpretati"a. Em$ora o autor e#te=a mai# preocupado com a#

?aceta# ur$ana# de##a# imagen#, pOde contar com te3to# >ue =/ de#en"ol"eram per#pecti"a# #emel'ante#, como, por e3emplo, o

cl/##ico tra$al'o de lana la= 1 #o$re o proce##o de mercantili;a@ão de São Paulo. Em contrapo#i@ão a "i#<e# tradicionai#,

Am9lcar Torrão Fil'o de#taca di?erente# modo# pelo# >uai# a cidade atuou na o$ra da coloni;a@ão, detendoC#e em tema# da maior

atualidade no# de$ate# 'i#toriogr/?ico#, como, por e3emplo, a a@ão da# mara# municipai#, o papel da# elite# coloniai# e o#

ne3o# entre ur$ano e rural.

Gm de#a?io do li"ro a$ordar a cidade de São Paulo no per9odo de 1B4- a 1BB- #em perder de "i#ta a pro$lem/tica #ugerida pela

an/li#e da 'i#toriogra?ia e, ao me#mo tempo, #em recair no# paradigma# u#uai#. Para i##o, a ampla a@ão ur$ani;adora promo"ida

pelo go"ernador Morgado de Mateu# na capitania de São Paulo relacionada a medida# re?ormi#ta# implementada# em di?erente#

m$ito# da admini#tra@ão. A te#e central >ue a "ila na#cida no #culo 14 como e#pa@o de con"er#ão em molde# =e#u9tico# pa##ou

a #er encarada, no #culo 1, como e#pa@o de con"er#ão K ci"ilidade e de #u$mi##ão K autoridade da oroa e da gre=a. ?oco do

tra$al'o não #ão a# mor?ologia# ur$ana# Q como a tOnica na 'i#t2ria do ur$ani#mo Q ma# a "i#ão de cidade "eiculada pela#

pol9tica# ilu#trada# do go"erno pom$alino. Ainda a##im, elemento# da ar>uitetura e do# tra@ado# ur$ano# #ão importante# para

de#tacar di?erente# modo# de repre#enta@ão e impo#i@ão do poder mon/r>uico.No e#t/gio atual de tra$al'o# #o$re a cidade colonial, podemC#e con#iderar #uperada# a# a$ordagen# $a#eada# na dicotomia entre

ordem e de#ordem do# tra@ado# ur$ano#. Não >uer di;er, porm, >ue a# propo#i@<e# de Srgio uar>ue de Holanda e#te=am

ultrapa##ada#. on?orme ad"erte Am9lcar Torrão Fil'o, a# met/?ora# do #emeador e do ladril'ador, de#en"ol"ida# num te3to de

Page 2: A Cidade Colonial e o Paradigma Da Ordem

7/21/2019 A Cidade Colonial e o Paradigma Da Ordem

http://slidepdf.com/reader/full/a-cidade-colonial-e-o-paradigma-da-ordem 2/2

cun'o en#a9#tico e tom program/tico, não pretendiam me#mo apre#entar conclu#<e# ?ec'ada#, ma# tra;iam tipo# ideai# >ue #2 #eriam

encontrado# em #ua ?orma pura no mundo da# idia#. Ne##e #entido, como #e ": ne##e li"ro, #ão imagen# >ue permanecem #ugerindo

pol:mica# e ainda podem "ir in#pirar no"a# interpreta@<e# #o$re o ?ato ur$ano.

notas

NE 1

Pu$lica@ão original( DERNTL, Maria Fernanda. A cidade colonial e o paradigma da ordem. Pós, São Paulo, n. %4, FAG GSP, de;. %00, p. %BC%B-.

NE %

A pu$lica@ão em !itru"iu# aconteceu em a$ril de %011, em procedimento de acerto da periodicidade da re"i#ta Resenhas Online.

1

LA5, lana. A trama das tensões( o proce##o de mercantili;a@ão de São Paulo colonial 141C1B%1. São Paulo, Humanita# FFLHCGSP)Fape#p,

%00%.

sobre a autora

Maria Fernanda Derntl, ar>uiteta, me#tre e doutora em Hi#t2ria e Fundamento# da Ar>uitetura e do Gr$ani#mo pela FAGGSP, pro?e##ora ad=unta da

FAGCGN.

legenda

P/tio do olgio, 2leo 100344 cm. 5o# 6a#t' Rodrigue#, 11

Acer"o do Mu#eu Pauli#ta