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A CLIMATOLOGIA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: proposta de uso de cartas sinóticas e imagens de satélite para auxílio na compreensão
da dinâmica atmosférica.
CLIMATOLOGY IN HIGHER EDUCATION: how the contribution of synoptic charters and satellite images helps to understand
atmospheric dynamics.
BRUNO FALARARO DE MELLO1 JULIANA RAMALHO BARROS2
JOÃO PEDRO PEZZATO3 Resumo O uso de cartas sinóticas e imagens de satélite aplicadas ao ensino de Climatologia nos cursos de graduação em Geografia pode ser muito proveitoso e mais bem explorado pelos docentes de Climatologia. Discute-se sua utilização como subsídio pedagógico, proporcionando aos alunos condições de obterem melhor aproveitamento e conhecimentos práticos sobre tempo e clima, bem como condições de melhor compreenderem situações cotidianas a que estão expostos, como as previsões do tempo apresentadas nos meios de comunicação. Outrossim, apresenta-se um estudo de caso em que as cartas sinóticas e imagens de satélite foram apresentadas e trabalhadas com alunos do curso superior de Geografia da Universidade Federal de Goiás como parte da metodologia para o ensino de Climatologia. Palavras-chave: Carta sinótica. Imagem de satélite. Climatologia geográfica. Clima e tempo.
Abstract The use of synoptic charters and satellite imagery applied to education in the context of higher course of geography is infrequent. It is proposed that they be used as an educational tool, providing students with conditions to obtain better use of them and a working knowledge of weather and climate, as well as understanding the everyday situations to which they are exposed, e.g., weather forecast. A case study is presented in which synoptic charts and satellite images have been presented and worked with students of the higher course of geography of the Federal University of Goiás, as part of the methodology for the teaching of climatology. Keywords: Synoptic Charts. Satellite image. Geographic climatology. Climate and weather.
1. INTRODUÇÃO
Ainda que o clima seja parte de nossas vidas, o ensino da Climatologia, seja
em sua vertente acadêmica ou escolar, frequentemente se torna tarefa árdua, em
razão da complexidade dos conteúdos que compõe tal ramo da Geografia. Nesse
sentido, a utilização de ferramentas e materiais didáticos que se mostram atrativos
1 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Rio Claro. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás – UFG – Goiânia. E-mail de contato: [email protected] 3 Docente do programa de pós-graduação em Geografia Universidade Estadual Paulista – UNESP – Rio Claro. E-mail de contato: [email protected]
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aos discentes pode auxiliar na mediação dos estudos e, ainda, revelar algumas de
suas aplicações em outras áreas de conhecimento.
Dessa forma, as cartas sinóticas e as imagens de satélite, atualmente
disponíveis na internet, podem ser importantes aliadas, haja vista que são utilizadas
para representar diversos fenômenos atmosféricos e servem de subsídio para a
identificação e consequente explicação de sistemas como massas de ar, frentes,
zonas de instabilidade etc.
Quando devidamente apresentadas e interpretadas pelo professor de
Geografia, podem converter-se em ferramentas de alto poder didático pela concisão
e clareza das informações nelas contidas, podendo, ainda, ser utilizadas em
conjunto com dados coletados em estações meteorológicas, bem como com mapas
e notícias veiculadas diariamente na mídia, a fim de se construir o quadro climático
de um determinado lugar.
Os trabalhos pioneiros de Monteiro (1969, 1973) em Climatologia Geográfica
trouxeram grandes avanços na compreensão da dinâmica atmosférica, tendo sido
subsidiados pelo uso de cartas sinóticas, que foram e ainda são imprescindíveis a
qualquer análise que se queira fazer do clima de uma localidade, região ou mesmo
continente. Além das cartas sinóticas, é praticamente indispensável, atualmente, o
uso das imagens de satélites meteorológicos. Ambas, combinadas e associadas a
outras informações que se puder obter, como dados meteorológicos coletados em
superfície, fornecem ao pesquisador os elementos necessários para a realização de
sua análise.
Neste trabalho, apresenta-se uma proposta de utilização de cartas de pressão
atmosférica e imagens de satélites em aulas dos cursos de graduação em
Geografia, especialmente nas disciplinas da área da Climatologia, tendo sido a
mesma aplicada em aulas das disciplinas de Climatologia 1 e 2 do curso de
Geografia da Universidade Federal de Goiás com o objetivo de que os discentes
aprendam de forma mais prática e interessante, bem como que: 1) conheçam o
acesso a dados disponibilizados gratuitamente e suas possibilidades de usos; 2)
entendam melhor o funcionamento do tempo e do clima, sabendo diferenciá-los; 3)
compreendam melhor a dinâmica climática a partir do encadeamento dos elementos
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atmosféricos; 4) trilhem os primeiros passos rumo às pesquisas em Climatologia
Geográfica.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Propõe-se discutir o uso de cartas sinóticas e imagens de satélite
meteorológico, extraídas, respectivamente, dos sítios na internet da Marinha do
Brasil e do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais – CPTEC/INPE.
As cartas sinóticas contêm informações relativas à pressão atmosférica.
Trata-se de cartas de pressão ao nível do mar, cujas linhas de mesma pressão
(isóbaras) estão unidas. As imagens de satélite são obtidas por sensoriamento
remoto a partir de um satélite artificial e exibem o estado da atmosfera em um dado
momento.
A proposta de análise que se toma como referência neste trabalho é a da
Climatologia Dinâmica, contida na assertiva de Sorre (1951, p. 13-14), que define
clima como “o ambiente atmosférico constituído pela série dos estados da atmosfera
acima de um lugar em sua sucessão habitual”.4 Pédelaborde (1970), corroborando a
definição de Sorre, diz que
Uma noção ainda mais larga é aquela de tipo de tempo. Quando uma combinação reaparece frequentemente (não exatamente, claro, mas com constituintes muito semelhantes e produzindo efeitos praticamente iguais), ela constitui um tipo de tempo. [...] Se essa noção de tipo de tempo é bastante larga (variações razoáveis dos diversos valores), concebe-se facilmente que ela se aplica a uma região inteira, e não apenas a um lugar único (PÉDELABORDE, 1970, p. 10, grifos do autor).5
Se por clima compreende-se a sucessão habitual dos diversos tipos de tempo
acima de certa área, por tempo compreende-se o estado momentâneo da atmosfera,
aquele que se pode depreender pelos sentidos.
4 « L’ambiance atmosphérique constituée par la série des états de l’atmosphère au-dessus d’un lieu dans leur succession habituelle » (tradução própria). 5 « Une notion encore plus large est celle de type de temps. Lorsqu’une combinaison réapparaît fréquemment (pas exactement, bien sûr, mais avec des constituants très voisins et en produisant des effets pratiquement semblables), elle constitue un type de temps. [...] Si cette notion de type de temps est assez large (fourchettes raisonnables des diverses valeurs), on conçoit aisément qu’elle s’applique à une région entière et non plus à un lieu unique » (tradução própria).
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Para a compreensão da gênese de diversos tipos de tempo, bem como da
dinâmica climática, a Climatologia Geográfica emprega as cartas sinóticas, ou cartas
do tempo, também conhecidas como cartas isobáricas, a fim de identificar os
sistemas atmosféricos atuantes num determinando momento sobre um dado lugar.
Zavattini (2014) destaca a obra pioneira de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro,
intitulada “A Dinâmica Climática e as Chuvas no Estado de São Paulo”, finalizada no
ano de 1964 e publicada em 1973, na qual o autor utilizou cartas de pressão
atmosférica para compreender a origem das chuvas que ocorrem no território
paulista e, a partir dos resultados obtidos, propôs uma classificação climática.
Além disso, utilizando também os dados de estações meteorológicas e postos
pluviométricos, Monteiro (1973) apontou também a distribuição espacial e temporal
das precipitações sobre o estado de São Paulo e os procedimentos metodológicos
por ele adotados inspiraram várias outras contribuições no âmbito da Climatologia
Geográfica.
Para o trabalho que aqui se descreve, optou-se pela utilização de cartas
sinóticas produzidas pela Marinha do Brasil, que oferece duas por dia, referentes
aos horários 00h e 12h UTC (horário do meridiano central de Greenwich), ou seja,
respectivamente às 21h e às 9h no horário oficial de Brasília.6
Com o intuito de complementar as análises que levam à identificação de
sistemas atmosféricos, optou-se pela utilização de imagens de satélites
meteorológicos, visto que as cartas da Marinha apresentam vazios de informações
em algumas regiões da América do Sul, além de que as imagens possuem melhor
resolução temporal, representam uma tecnologia mais inovadora e também se
encontram disponíveis na internet, podendo ser acessadas com facilidade por
qualquer pessoa.
O CPTEC/INPE disponibiliza diversos tipos imagens de satélite diárias com
intervalo variável (duas a três horas cada qual). As imagens disponíveis, em alta e
baixa resolução, podem ser escolhidas de acordo com o que se objetiva: Infra 4, WV
Realce 1, WV Realce 2, Colorida, T Realçada, Realçada, Colorida BM e Visível.
6 Quando da vigência do horário de verão, os horários são, na hora oficial de Brasília, 22h e 10h, respectivamente.
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Para os fins desta proposta, bastam as imagens do tipo colorida, que se mostram
mais didáticas e adequadas.
A título de exemplo, tomaram-se cartas do tempo e imagens de satélite do dia
03 de novembro (09 e 21 horas) de 2016 – respectivamente, 12 horas do dia 03 e 00
hora do dia 04 de novembro em relação ao meridiano de Greenwich, em que houve
a ação de uma frente fria nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, além
do Atlântico Sul, com consequente episódio de precipitação (Figura 1).
Figura 1. Carta sinótica e imagem de satélite do dia 03 de novembro de 2016, 09h00 (12h00 UTC).
Fonte: Marinha do Brasil.
Fonte: CPTEC-INPE
Os alunos realizaram, ainda, a coleta de dados meteorológicos de superfície
(temperatura do ar – máxima e mínima; precipitação; vento – direção e velocidade;
umidade relativa do ar e pressão atmosférica), em nível diário, do período de 01 a 06
de novembro de 2016, observados na estação Goiânia-GO (Código OMM 83423),
pertencente à rede do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET e localizada no
centro da cidade de Goiânia - GO7.
7 Dados da estação: Latitude (graus) : -16.66; Longitude (graus): -49.25; Altitude (metros): 741.48.
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Os dados meteorológicos, disponibilizados na página do INMET na internet
por meio da realização de um cadastro, foram organizados (Tabela 1) e utilizados
com o objetivo de auxiliar na identificação dos sistemas atmosféricos atuantes sobre
a região onde se localiza Goiânia (local onde ocorrem as aulas) e, ainda, de fazer
com que a turma pudesse ver a relação entre as informações contidas nas cartas de
pressão e imagens de satélites e os registros das condições atmosféricas em
superfície, possibilitando que vejam as repercussões dos sistemas atmosféricos
sobre a localidade em que vivem, bem como o contrário, ou seja, associando
fenômenos ocorridos (precipitações, ventos, aumento/diminuição das temperaturas
etc.) aos sistemas atmosféricos presentes no material apresentado em sala de aula.
Tabela 1. Dados meteorológicos da estação de superfície Goiânia – GO (OMM: 83423) referentes ao período de 01 a 06 de novembro de 2016.
Data Hora Precipit (mm)
TMax (°C)
TMin (°C)
UmidRelat (%)
PressAtm (hPa)
DirVento (grau)
Nebulos
01/11/2016 0 - 24.7 - 90 929.9 0 10
01/11/2016 1200 44.2 - 18.6 93 933.5 27 10
02/11/2016 0 - 32.2 - 87 930.2 9 10
02/11/2016 1200 4.5 - 18.4 64 930.8 9 7
03/11/2016 0 - 31.3 - 87 929.8 0 8.75
03/11/2016 1200 3.1 - 20.1 73 933.1 9 7
04/11/2016 0 - 28.3 - 88 934 9 10
04/11/2016 1200 6.4 - 19.2 85 935 18 10
05/11/2016 0 - 33.2 - 79 933.6 14 10
05/11/2016 1200 0 - 20.2 59 933 9 10
06/11/2016 0 - 26.4 - 65 931.8 9 10
06/11/2016 1200 2.7 - 20.9 73 933.2 14 10
Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia.
Ao final da atividade, os discentes deveriam ser capazes de reconhecer:
massas de ar e frentes em uma carta isobárica e em uma imagem satelitária;
regiões favoráveis à formação de massas de ar e regiões propícias à formação das
frentes; tipos de tempo associados aos sistemas atmosféricos identificados; a
modificação das massas de ar à medida que se afastam de suas áreas de origem;
os trajetos das massas de ar e frentes que atuam na América do Sul.
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3. RESULTADOS
Primeiramente, deve-se notar que ambas – carta e imagem de satélite –
abarcam todo o continente da América do Sul. É oportuno o docente frisar a
importância da visão de conjunto sobre a atmosfera: os fenômenos relevantes
acontecem em grande escala. Dessa forma, a visão de todo o continente é muito útil
quando se busca a diferenciação entre clima e tempo.
A análise combinada das duas cartas sinóticas, das duas imagens de satélite
e dos dados meteorológicos de superfície permite identificar os principais sistemas
atmosféricos atuantes sobre diferentes áreas da América do Sul.
Inicialmente, solicitou-se aos alunos a leitura de capítulos de livros e textos
sobre massas de ar e frentes, sua formação, seus trajetos na América do Sul e
como são representadas em cartas sinóticas. As referências indicadas foram:
Monteiro (1963), Varejão-Silva (2000), Serra e Ratisbonna (1959), Mendonça e
Danni-Oliveira (2007), quase todas já presentes no plano de curso da disciplina em
questão.
Em seguida, cada estudante elaborou, a partir dos dados da estação
meteorológica, previamente coletados, os gráficos de temperatura do ar, umidade
relativa do ar, pressão atmosférica e precipitação. A essas informações,
acrescentaram-se as direções dos ventos nos dias em questão. Nessa etapa, foi
possível ver como cada elemento responde ao comportamento um do outro, ou seja,
como eles se conectam entre si.
Faz-se oportuno, antes da análise, destacar a simbologia presente nas cartas
sinóticas aqui utilizadas: letra A em azul indica a presença de uma zona de alta
pressão atmosférica, denominada anticiclone, que pode ser de origem polar
marítima ou tropical marítima (nesse caso, será uma massa atlântica se formada no
Atlântico Sul; pacífica, se formada no Pacífico Sul); letra B em vermelho indica a
presença de uma zona de baixa pressão atmosférica, cuja gênese é diversa: se em
zona tropical, trata-se de instabilidades originadas por movimentos convectivos dos
ventos ou área entre duas altas pressões; se em zonas fora dos trópicos, trata-se de
ciclone extratropical, formado pelo choque entre frentes frias e quentes (nesse caso,
haverá sempre a presença de frentes oclusas); frentes frias, destacada nas cartas
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em linha com triângulos azuis; frentes quentes, destacada nas cartas em linha com
semicírculos vermelhos; uma faixa hachurada próxima à zona equatorial indica a
presença da Zona de Convergência Intertropical, área de confluência dos ventos
alísios dos hemisférios norte e sul.
Visualizou-se também a passagem de uma frente fria sobre o Sul, Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil entre a manhã do dia 03 e a manhã do dia 04 de novembro
de 2016 (Figura 2), cuja repercussão imediata foi ocorrência de chuva. Essa frente,
vista na carta do dia 03, às 09 h, atua sobre uma grande área, desde 14º S 56º W
até uma zona de baixa pressão (cujo símbolo é a letra B em cor vermelha) em 35º S
43º W, no Atlântico Sul. A essa baixa pressão associa-se uma pequena frente
quente e na sequência outra frente fria (zona em processo de oclusão), que se
estende até um centro de baixa pressão já em oclusão (ciclone extratropical) em 50º
S 40º W. Como se pode aferir pela imagem de satélite correspondente, tal sistema
forma um contínuo de nuvens que atravessa o Atlântico Sul e se liga a instabilidades
na Região Norte do Brasil, passando pelos estados de Santa Catarina (litoral),
Paraná (sudeste-noroeste), São Paulo (em sua totalidade), Minas Gerais (Triângulo
Mineiro) e partes dos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Na mesma carta sinótica encontram-se três anticiclones: um localizado no
meio do Atlântico Sul, de 1030 hPa (hectopascal) de pressão, outro de 1022 hPa de
pressão, cujo centro de atuação está em 28º S 57º W, entre a Argentina, Paraguai,
regiões sul e centro-oeste do Brasil, e um terceiro, de 1026 hPa de pressão,
posicionado no Pacífico Sul na altura do paralelo 30º S, na costa do Chile. É preciso
distingui-los, pois não são todos da mesma origem. Os dois primeiros são
anticiclones migratórios polares, originários do extremo sul da América do Sul, em
área oceânica, também denominados de massa polar atlântica, úmida, estando o
segundo já em via de tropicalização; o último é de origem subtropical, cuja área-
fonte se localiza entre os paralelos 28º e 32º S, no Pacífico Sul. Essa é a origem da
massa tropical pacífica, úmida por excelência, pois oceânica.
Na imagem de satélite correspondente destaca-se uma faixa de nuvens que
se estende desde a Amazônia, abarcando os estados do Amazonas e Mato Grosso,
até a parte meridional do Atlântico Sul. Cotejada com a carta sinótica, infere-se
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tratar-se de instabilidades ligadas a massas tropicais, conforme a notação de baixa
pressão destacada sobre a região amazônica na carta sinótica. Na mesma imagem
é notável a predominância de céu limpo em ambos os lados da faixa de nuvens, fato
que se deve à atuação dos anticiclones migratórios polares.
Figura 2. Carta sinótica e imagem de satélite do dia 03 de novembro de 2016, 21h00 (0h00 UT).
Fonte: Marinha do Brasil.
Fonte: CPTEC-INPE
A carta sinótica seguinte, dia 03 de novembro, 21 h, destaca que a frente fria
avançou sobre a região sudeste, adentrando o território mineiro e fluminense. Nota-
se em 35º S a mesma zona de baixa pressão ainda em processo de oclusão,
cercado por duas áreas de alta pressão. A área de alta pressão que está à direita foi
interpretada na carta anterior (09 h) como sendo uma massa polar atlântica em
processo de tropicalização. Na carta das 21 h não se pode mais observar os
contornos dessa alta pressão, o que indica ter já se concluído o processo de
tropicalização e estar essa massa diluída na massa tropical atlântica, cuja área-fonte
fica no centro do Atlântico Sul. No centro do Brasil verifica-se a ação de
instabilidades tropicais, e na Região Sul há o predomínio da massa polar atlântica,
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representada na carta pela alta pressão (A maiúsculo, em azul) de 1020 hPa, na
retaguarda da frente que está sobre a Região Sudeste e o Atlântico.
Uma faixa de nuvens se destaca desde a Amazônia até o sul do Atlântico na
imagem de satélite do dia 03, às 21 h. Diferentemente da carta sinótica, que permite
a análise e interpretação dos sistemas atuantes, a imagem de satélite só permite
verificar que essa extensa faixa de nuvens predomina sobre o continente sul-
americano no sentido noroeste-sudeste, prolongando-se pelo oceano.
O importante a salientar é que a frente fria destacada nas duas cartas, ligada
a instabilidades tropicais na Região Norte, e visível na faixa de nuvens das imagens,
foi a causa das chuvas havidas nos dias 03 e 04 de novembro, bem como a massa
polar que estava na retaguarda a responsável pela queda de temperatura sentida na
sequência.
Durante o processo de análise das cartas, chamou-se a atenção dos alunos
para alguns sistemas que frequentemente são citados em noticiários, como é o caso
da zona de convergência intertropical, a faixa persistente de nebulosidade sobre a
região equatorial, formada pela convergência dos ventos alísios, que explica a
sempre elevada pluviosidade na região amazônica.
Em boa parte do território nacional, o que inclui a região Sul, Sudeste, Centro-
Oeste, bem como toda a fachada atlântica brasileira até, ao menos, 13º S, onde se
encontra a cidade de Salvador, a ação da frente polar atlântica é facilmente
detectada nas cartas sinóticas e imagens de satélite. Nos estados da região Norte e
Nordeste, embora não se visualize a ação direta da frente polar, notam-se sempre a
ação de baixas pressões relacionadas a instabilidades em massas tropicais na baixa
atmosfera. Muitos desses sistemas se ligam aos sistemas frontais, formando uma só
faixa de nuvens.
Observou-se que a explicação dos fenômenos atmosféricos se torna mais
nítida e mais assimilável quando as informações contidas nas cartas sinóticas e
imagens de satélite são trabalhadas de modo a aliar a teoria já dada previamente às
informações nelas contidas e, mais ainda, se for possível associar todas essas
informações a eventos meteorológicos noticiados na mídia local e vivenciados pelos
próprios alunos, que são incentivados a darem seus depoimentos. Com isso,
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objetiva-se tornar o conteúdo de Climatologia mais didático e atraente, de modo que
as aulas se tornem momentos de interatividade entre o docente e os discentes, bem
como estes, por meio de exemplos de eventos climáticos extraídos do cotidiano,
tenham a correta percepção do clima e do tempo.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As cartas sinóticas e as imagens de satélite, juntamente com os dados
meteorológicos coletados em superfície, obtidos com muita facilidade, podem se
transformar em poderosos instrumentos didáticos ao professor de Geografia ao
tratar de assuntos relacionados à Climatologia (ciclo hidrológico, solos etc). Seu uso
permite que a dinâmica da atmosfera seja vista, explicada e compreendida, mas,
para isso, é preciso que os futuros docentes sejam capacitados para trabalharem
com tais instrumentos em suas aulas durante sua formação no curso de graduação.
Faz-se oportuno apresentar as mais diversas possibilidades aos discentes
dos cursos de licenciatura em Geografia, no sentido de que possam ter maior
autonomia em seu próprio processo de aprendizagem e, futuramente, proporcionar o
mesmo aos seus alunos.
Espera-se, com a proposta aqui apresentada, contribuir para a formação
docente na Geografia e para uma maior difusão dos conhecimentos na área da
Climatologia, que, muitas vezes, por ser vista como um ramo de difícil compreensão,
que se liga a outras áreas, acaba sendo deixada de lado pelos futuros docentes que,
quando vão para a sala de aula, não se sentem preparados para lidar com os
conteúdos a ela ligados e acabam perdendo a oportunidade de revelar aos seus
alunos uma face extremamente atraente da Geografia.
REFERÊNCIAS
CENTRO DE PREVISÃO DE TEMPO E ESTUDOS CLIMÁTICOS/INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. Divisão de satélites e sistemas ambientais. Disponível em <http://satelite.cptec.inpe.br/acervo/goes.formulario.logic?i=br>. Acesso em: 07 de novembro de 2016. MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos. 206 p. 2007.
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MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. A dinâmica climática e as chuvas no estado de São Paulo: estudo geográfico sob a forma de atlas. São Paulo: Instituto de Geografia da Universidade de São Paulo, 1973. ______. A frente polar atlântica e as chuvas de inverno na fachada sul-oriental do Brasil (Contribuição metodológica à análise rítmica dos tipos de tempo no Brasil). São Paulo: Instituto de Geografia da Universidade de São Paulo, 1969 (Série Teses e Monografias nº 1). MARINHA DO BRASIL. Serviço meteorológico marinho. Disponível em: <http://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/prev/cartas/cartas.htm>. Acesso em: 07 de novembro de 2016. PÉDELABORDE, Pierre. Introduction à l’étude scientifique du climat. Paris: Société d’Édition d’Enseignement Supérieur, 1970. SORRE, Maximilien. Les fondements de la Géographie Humaine. Tome Premier – Les fondements biologiques. Essai d’une écologie de l’homme. Livre Premier – Le Climat et l’homme. Paris: Librairie Armand Colin, 1951. ZAVATTINI, J. A. O uso das cartas sinóticas nos estudos de Climatologia Geográfica. In.: SILVA, C. A.; FIALHO, E. S.; STEINKE, E. T. (org.). Experimentos em Climatologia Geográfica. Dourado-MS: Editora da UFGD, 2014. p. 243-269.