A Confecção do “Set Up” de Diagnóstico Ortodôntico 148

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Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, nº 5 - SET./OUT. - 1999 20 Artigo Inédito o estudo dos modelos (discrepância de espaços, discrepância de Bolton, e verifi- cação de assimetrias), bem como após a realização de um plano de tratamento de- talhado, uma vez que todos os procedi- mentos de montagem do ¨Set Up¨ serão baseados no plano de tratamento. Inicialmente os dentes deverão ser nu- merados para evitar que sejam confundi- dos após terem sido removidos dos mo- delos. Verifica-se então a simetria das ar- cadas com a utilização de uma placa de Schmuth. A linha média dentária do paci- ente deve ser marcada nas bases de am- bos os modelos através de um sulco reali- zado com uma serra de ourives muito fina, e preenchido com cera azul. É importante também demarcar a linha média óssea, preenchendo este sulco com cera verme- lha para diferenciá-lo do anterior. Da mes- ma forma, os primeiros molares serão marcados com pequenos sulcos nas su- perfícies vestibulares das cúspides mésio- vestibulares dos quatro quadrantes. Es- ses sulcos deverão ser prolongados até as bases dos respectivos modelos, se- guindo a mesma inclinação axial do den- te. Todos os sulcos são preenchidos com cera azul para escultura, a fim de que se tornem mais visíveis. Através des- tas marcas pode-se avaliar o que ocor- A Confecção do “Set Up” de Diagnóstico Ortodôntico The Conffection of Orthodontic Diagnostic Set Up Carlos Alberto Estevanell Tavares A Lisa Klein Zanini B A Mestre e doutorando em Ortodontia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Professor do Curso de Especialização em Ortodontia da ABO-RS B Aluna do Curso de Especialização em Ortodontia da ULBRA-RS Unitermos: Diagnós- tico; Modelos; Ortodontia; Set up. Resumo Os autores apresentam, fase por fase, uma técnica para a confecção do ¨Set Up¨ de diagnóstico ortodôntico. Introdução O ¨Set Up¨ é a montagem dos dentes de modelos de gesso baseada em um pla- no de tratamento ortodôntico objetivan- do visualizar a oclusão que será obtida com o tratamento antes mesmo de seu início 4 . Segundo MOYERS, sua realiza- ção permite a avaliação do espaço nas três dimensões, sendo utilizado como au- xiliar de diagnóstico 3 , uma vez que em função dos resultados obtidos neste, o pla- no de tratamento poderá ser confirma- do, modificado, e até mesmo rejeitado. A confecção do ¨Set Up¨ deveria fazer parte de todo planejamento ortodôntico 4 . Preparação Para a confecção do ¨Set Up¨ são fun- damentais dois pares de modelos de ges- so oriundos de excelentes moldagens e re- cortados corretamente, um deles será uti- lizado na construção do ¨Set Up¨ e o outro como modelo de estudo e para compara- ções. A elaboração do ¨Set Up¨ deverá ser iniciada somente após o exame clínico, análise cefalométrica e das fotografias, e Carlos Alberto Estevanell Tavares

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Artigo Inédito

o estudo dos modelos (discrepância deespaços, discrepância de Bolton, e verifi-cação de assimetrias), bem como após arealização de um plano de tratamento de-talhado, uma vez que todos os procedi-mentos de montagem do ¨Set Up¨ serãobaseados no plano de tratamento.

Inicialmente os dentes deverão ser nu-merados para evitar que sejam confundi-dos após terem sido removidos dos mo-delos. Verifica-se então a simetria das ar-cadas com a utilização de uma placa deSchmuth. A linha média dentária do paci-ente deve ser marcada nas bases de am-bos os modelos através de um sulco reali-zado com uma serra de ourives muito fina,e preenchido com cera azul. É importantetambém demarcar a linha média óssea,preenchendo este sulco com cera verme-lha para diferenciá-lo do anterior. Da mes-ma forma, os primeiros molares serãomarcados com pequenos sulcos nas su-perfícies vestibulares das cúspides mésio-vestibulares dos quatro quadrantes. Es-ses sulcos deverão ser prolongados atéas bases dos respectivos modelos, se-guindo a mesma inclinação axial do den-te. Todos os sulcos são preenchidos comcera azul para escultura, a fim de quese tornem mais visíveis. Através des-tas marcas pode-se avaliar o que ocor-

A Confecção do “Set Up” de DiagnósticoOrtodônticoThe Conffection of Orthodontic Diagnostic Set Up

Carlos Alberto Estevanell TavaresA

Lisa Klein ZaniniB

A Mestre e doutorando em Ortodontia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)Professor do Curso de Especialização em Ortodontia da ABO-RS

B Aluna do Curso de Especialização em Ortodontia da ULBRA-RS

Unitermos: Diagnós-tico; Modelos;Ortodontia; Setup.

ResumoOs autores apresentam, fase por

fase, uma técnica para a confecção do¨Set Up¨ de diagnóstico ortodôntico.

IntroduçãoO ¨Set Up¨ é a montagem dos dentes

de modelos de gesso baseada em um pla-no de tratamento ortodôntico objetivan-do visualizar a oclusão que será obtidacom o tratamento antes mesmo de seuinício4. Segundo MOYERS, sua realiza-ção permite a avaliação do espaço nastrês dimensões, sendo utilizado como au-xiliar de diagnóstico3, uma vez que emfunção dos resultados obtidos neste, o pla-no de tratamento poderá ser confirma-do, modificado, e até mesmo rejeitado. Aconfecção do ̈ Set Up¨ deveria fazer partede todo planejamento ortodôntico4.

PreparaçãoPara a confecção do ¨Set Up¨ são fun-

damentais dois pares de modelos de ges-so oriundos de excelentes moldagens e re-cortados corretamente, um deles será uti-lizado na construção do ̈ Set Up¨ e o outrocomo modelo de estudo e para compara-ções. A elaboração do ¨Set Up¨ deverá seriniciada somente após o exame clínico,análise cefalométrica e das fotografias, e

Carlos AlbertoEstevanell

Tavares

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reu com os molares após a montagemdo ¨Set Up¨. Esta observação será im-portante no planejamento da ancora-gem para o caso.

Outro registro importante é o da po-sição no sentido ântero-posterior do in-cisivo inferior mais projetado (FIG. 1);este é realizado recortando-se um pa-pel cartão, no mesmo plano que a basedo modelo inferior, até que este fiquetotalmente encostado na porção ante-rior da base do modelo e na face vesti-bular do incisivo mais projetado, oucontornando este dente com um fio delatão e depois passando a conforma-ção para o papel cartão. Na porção docartão que ultrapassa por oclusal do in-cisivo, faz-se uma marcaçãomilimetrada paralela à base do mode-lo. Este cartão orientará a posição doincisivo mais projetado na montagemdo ¨Set Up¨. Se o plano de tratamentoestabeleceu recolocação dos incisivos,estes serão montados conforme asmarcas no cartão na quantia determi-nada, se o plano de tratamento deter-minou a projeção dos incisivos, o car-tão deverá ficar afastado da base a mes-ma quantidade de milímetros que os in-cisivos seriam projetados. Registra-seainda no cartão o nome, número, dis-tância bicanina e bimolar do pacientee a quantidade de recolocação dos in-cisivos inferiores.

A remoção dos dentes tem início fa-zendo-se um túnel na altura das raízesdos incisivos na linha mediana, comuma broca esférica n.6. Pode-se reali-zar o “Set Up” retirando todos os den-tes de ambas as arcadas (exceto se-gundos molares), ou por hemiarcos,iniciando-se nestes casos pelo lado demenor intercuspidação dentária. Atra-vés do túnel feito com auxílio da broca,passa-se uma serrinha espiral que é pre-sa ao arco de serra de ambos os lados.Os dentes são serrados tanto no senti-do horizontal como vertical procuran-do-se acompanhar a anatomia dasraízes, e sem tocar nos pontos de con-tato dos dentes para não alterar assuas dimensões mésio-distais (FIG. 2).Os dentes são soltos através de umaleve pressão dos dedos, para que não

FIGURA 1 - Cartão de referência da posição do incisivo inferior mais projetado.

FIGURA 2 - Os dentes são serrados tanto no sentido vertical como horizontal,sem chegar aos pontos de contato.

FIGURA 3 - Os pontos de contato são separados por uma leve pressão digital.

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se perca material no sentido mésio-distal (FIG. 3). Todos os dentes sãoseparados dos modelos com exceçãodos últimos molares, que são manti-dos como referência da dimensão ver-tical para a montagem (FIG. 4).

Após a remoção de todos os den-tes as ̈ raízes¨ recebem uma forma maisnatural, desgastando-se o gesso comuma fresa em forma de pera, evitan-do desta forma interferências quandodo reposicionamento dos dentes (FIG.5). Nas bases dos modelos e na por-ção apical das raízes são feitas reten-ções que são preenchidas com cerautilidade, que será o primeiro meio desustentação para os dentes.

Se estiver planejada a realizaçãode ¨Stripping¨ este deve ser realizadoantes da montagem, medindo-se exa-tamente, com um paquímetro, o quan-to foi desgastado da cada dente. Sehouver espectativa de crescimentomandibular, acrescentam-se lâminascera n.7 na parte posterior do modeloinferior, na quantidade correspondenteao crescimento mandibular previstona análise cefalométrica. Normalmen-te coloca-se uma lâmina de cera paracada milímetro de estimativa de cres-cimento do pogônio duro.

MontagemA montagem do ̈ Set Up¨ inicia pe-

los incisivos inferiores cuja posição tan-to em relação à linha média como nosentido ântero-posterior são determi-nadas pelo plano de tratamento, emontados com auxílio da marca dalinha mediana e do cartão de referên-cia (FIG. 6). A seguir são montadosos caninos, observando-se a distân-cia inter-caninos original e o plano detratamento, então são colocados ospré-molares e finalmente os primeirosmolares, observando-se a distânciainter-molares. Se o espaço para a co-locação dos primeiros molares não forsuficiente os segundos molares são re-duzidos na sua superfície mesial emquantidade suficiente para permitir acolocação mais distal dos primeiros.

Evidentemente dentes com extra-ção planejada devem ser eliminados

FIGURA 4 - Os últimos molares não são removidos dos modelos.

FIGURA 5 - Preparo da porção radicular dos dentes, obtendo-se uma formamais natural.

FIGURA 6 - Início da montagem pelos incisivos inferiores com o auxílio docartão de referência

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da montagem. No caso de algum dentenão ter erupcionado, este poderá sersubstituído por outro com dimensõesidênticas, conforme o previsto pelométodo de predição. Nesta fase os den-tes estão afixados somente com ceraarticulação o que permite uma certamovimentação sem a necessidade deremovê-los, aproveitando-se para dara forma ideal ao arco inferior.

Os dentes do arco superior sãomontados com base no plano de tra-tamento e sobre os dentes do arco in-ferior, com a melhor intercuspidaçãopossível, com sobremordida e sobres-saliência ideais e as relações molaresconforme determinado no plano detratamento. Após terem sido monta-dos os dentes superiores e a oclusãoconsiderada a melhor possível, seráadicionada cera n.7 para fixar os den-tes nas posições definitivas. Faz-seentão a escultura da ¨gengiva¨ comauxílio de espátulas de cera n.7 e n.31,Le cron e lamparina de Hanau. Parao acabamento deve-se imergir os mo-delos em solução de sabão por 2 ho-ras, polir com algodão embebido emsabão e secar por 48 horas (FIG. 7).

Análise do ¨SET UP¨Analisando-se o ¨Set Up¨ pode-se

observar se a sobremordida e a so-bressaliência estão corretas; se a in-tercuspidação dos dentes posterioresficou excelente; se as distâncias inter-caninos e inter-molares forammantidas; se a recolocação dos incisi-vos ficou de acordo com o plano detratamento; se houve perda de anco-ragem em nível de primeiros molaresou os mesmos foram deslocados nosentido distal em relação as marcas;se as linhas médias estão coinciden-tes; se ¨Stripping¨ foi necessário e emque quantidade; e se forem necessári-as exodontias e de quais dentes; tudoisto dando uma idéia do resultado or-todôntico final a ser obtido.

ConclusõesUma visão concreta dos resultados

obtidos através de um determinado pla-no de tratamento estará à disposição

FIGURA 7 - ¨Set Up¨ finalizado (caso com extrações dos primeiros pré-molaressuperiores e um incisivo central inferior).

Referências Bibliográficas

01 - BOLOGNESE, Ana Maria et al. Set-up :uma técnica de confecção. Rev Socie-dade Brasileira de Ortodontia, v.2,n.8, p.245-249, 1995.

02 - KESLING, Harold D. The diagnostic setupwith consideration of the thirddimension. Am J Orthodontics,v.42, n.10, p-740-747, Oct. 1956.

03 - MOYERS, R. E. Ortodontia. 3.ed. Rio deJaneiro : Guanabara Koogan, 1979.p.323-324, p.323-324, 1979.

04 - MUCHA, José Nélson; MENEZES, Leonar-do Soares de. Confecção de ¨Set-up .̈Rio de Janeiro : UFRJ, 1988. /Relatórioapresentado ao curso de mestrado emOrtodontia, Rio de Janeiro, 1988.

AbstractThe authors present, step by step,

a technic for the conffection of adiagnostic set up.

Uniterms: Casts; Diagnostic;Orthodontics; Set up.

para uma conclusão à respeito do mes-mo. Através do ¨Set Up¨ pode-se avali-ar diversas opções de tratamento paraum mesmo paciente, executando-se di-ferentes montagens de dentes. O re-

sultado obtido poderá então ser expos-to ao paciente de forma muito maiscompreensível do que apenas uma ex-planação teórica daquilo que se pretendecom o tratamento ortodôntico.