A CONSTRUÇÃO DO EDUCADOR PELA FORMAÇÃO …um educador que assume sua formação continuada. ......

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A CONSTRUÇÃO DO EDUCADOR PELA FORMAÇÃO CONTINUADA COM BASE NA PRÁTICA ESCOLAR Maíra Maria Prohmann de Lima Solarevicz 1 Resumo O principal objetivo deste estudo foi perceber como professores que atuam no Curso Normal de Formação de Docentes concebem a formação continuada, tentar motivá- los a buscarem-na como recurso para melhorar a prática pedagógica, tentando atender as demandas que surgem a todo momento na função do professor. Espera-se que ao se formar o educador possua segurança no momento de escolher a melhor metodologia, de definir que conteúdos devem ser ensinados e como dominar os alunos sem ser autoritário ou liberal. Na primeira parte do trabalho será feita uma reflexão sobre a função social da escola e de como a educação pode ser o agente transformador da sociedade. Na segunda parte a discussão ocorre no ambiente virtual, com pedagogos que buscam complementar sua formação nos espaços da grande rede através de grupos de estudos. Cada professor envolvido buscou junto a seus pares, em sua escola de atuação, a definição de autonomia, um dos fatores elencados como essencial para um educador que assume sua formação continuada. Na terceira parte serão apresentados os resultados da implementação do Projeto de Intervenção realizado no Colégio Estadual Túlio de França, envolvendo os professores que atuam no Curso Normal e as alunas do 3 º ano do Curso na modalidade Subsequente. Palavras Chave: Formação continuada, autonomia docente, transformação da sociedade. O presente artigo é uma produção obrigatória ao final Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) que mostra os resultados de dois anos de estudos, investigação sobre um dos fatores que recebe destaque na política educacional do Paraná: a formação continuada. O principal objetivo deste estudo foi investigar a forma como os professores que atuam no Curso Normal de Formação de Docentes percebem a formação continuada e tentar motivá-los a buscarem a formação continuada como recurso para melhorar a prática pedagógica, a 1 Graduada em Pedagogia, Especialista em Educação, Professor PDE/PR.

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A CONSTRUÇÃO DO EDUCADOR PELA 

FORMAÇÃO CONTINUADA COM BASE NA PRÁTICA ESCOLAR

Maíra Maria Prohmann de Lima Solarevicz 1

Resumo

O principal objetivo deste estudo foi perceber como professores que atuam no Curso Normal de Formação de Docentes concebem a formação continuada, tentar motivá­los   a   buscarem­na   como   recurso  para  melhorar   a   prática  pedagógica,   tentando atender   as   demandas   que   surgem   a   todo   momento   na   função   do  professor. Espera-se que ao se formar o educador possua segurança no momento de escolher a melhor metodologia, de definir que conteúdos devem ser ensinados e como dominar os alunos sem ser autoritário ou liberal. Na primeira parte do trabalho será feita uma reflexão sobre a função social da escola e de como a educação pode ser o agente transformador da sociedade.  Na segunda parte   a   discussão   ocorre   no   ambiente   virtual,   com   pedagogos   que   buscam complementar  sua  formação nos espaços da grande  rede através  de  grupos de estudos. Cada professor envolvido buscou junto a seus pares, em sua escola de atuação, a definição de autonomia, um dos fatores elencados como essencial para um educador que assume sua formação continuada. Na terceira parte serão apresentados os resultados da implementação do Projeto de Intervenção   realizado   no   Colégio   Estadual   Túlio   de   França,   envolvendo   os professores  que  atuam no  Curso  Normal  e  as  alunas  do  3   º  ano  do  Curso  na modalidade Subsequente. 

Palavras   Chave:   Formação   continuada,   autonomia   docente,   transformação   da 

sociedade.

O   presente   artigo   é   uma   produção   obrigatória   ao   final   Programa   de 

Desenvolvimento  Educacional   (PDE)  que  mostra  os   resultados  de  dois  anos  de 

estudos,   investigação   sobre   um   dos   fatores   que   recebe   destaque   na   política 

educacional do Paraná: a formação continuada. O principal objetivo deste estudo foi 

investigar a forma como os professores que atuam no Curso Normal de Formação 

de Docentes percebem a formação continuada e tentar motivá­los a buscarem a 

formação   continuada   como   recurso   para   melhorar   a   prática   pedagógica,   a 

1 Graduada em Pedagogia, Especialista em Educação, Professor PDE/PR.

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perceberem   a   importância   de   se   manterem   atualizados,   de   completarem   sua 

formação inicial através de cursos, seminários, grupos de estudo, e outros.

  Considerando as mudanças que ocorreram na educação como a

inclusão, o ensino de nove anos, a obrigatoriedade de trabalhar temas

como educação indígena e educação étnico-racial bem como a inserção na

escola de equipamentos tecnológicos cada dia mais avançados, que

melhora a educação mais exigem muito conhecimento do professor.

Observando a atuação dos professores logo após saírem da

academia pode se perceber que embora tenham o conhecimento

específico de sua área de atuação, não possuem segurança no momento

de escolher a melhor metodologia, de definir que conteúdos devem ser

ensinados e como dominar os alunos sem ser autoritário ou liberal.

Qual a melhor alternativa para sanar as dificuldades encontradas

pelos professores na difícil tarefa de ensinar em época de conhecimento

globalizado, informática e inclusão? De que forma a capacitação através

da formação continuada pode auxiliar a atuação do professor? A

autonomia intelectual é essencial à função do educador?

Na primeira parte do trabalho será feita uma reflexão sobre a função social 

da escola e de como a educação pode ser o agente transformador da sociedade. O 

conhecimento deve estar a serviço dos  indivíduos, deve ser um instrumento que 

possibilite   ao  aluno  após  a   sua  apropriação   ingressar   no  mundo  do   trabalho  e 

desenvolver   sua   cidadania.     O   papel   do   professor   é   fundamental,   sua   atuação 

comprometida   com   o   processo   de   formação   e   transformação   dos   educandos, 

proporcionará às práticas educativas as condições para se refletir e agir sobre as 

relações que se dão no mundo do trabalho. O professor deve estimular a crítica em 

seus alunos, evitando a alienação, mas, para isso precisa garantir essa condição 

para si mesmo. 

Na segunda parte a discussão ocorre no ambiente virtual, com pedagogos 

que buscam complementar sua formação nos espaços da grande rede através de 

grupos de estudos. Neste espaço a troca de informações e as discussões ficaram 

enriquecidas com a diversidade composta pelos diferentes espaços de atuação dos 

professores de trinta e nove municípios diferentes inscritos no grupo.

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Cada professor  envolvido  buscou  junto  a seus pares,  em sua escola  de 

atuação, a definição de autonomia, um dos fatores elencados como essencial para 

um educador que assume sua formação continuada. O resultado desta pesquisa foi 

interessante, pois demonstrou que a distância entre o  ideal  e o real  é  um longo 

processo. 

Na terceira parte serão apresentados os resultados da  implementação do 

Projeto de Intervenção realizado no Colégio Estadual Túlio de França, envolvendo 

os professores que atuam no Curso Normal e as alunas do 3 º ano do Curso na 

modalidade Subsequente. A intenção inicial era discutir os temas selecionados com 

os professores que atuam no Curso Normal, no entanto no decorrer das discussões 

com   a   Direção,   Equipe   Pedagógica   e   Coordenação   de   Curso   sobre   a 

implementação percebendo o desinteresse dos professores em participar de grupos 

de estudos (pois não precisam mais de pontuação para avanços, estão em fim de 

carreira) optou­se por desenvolver as discussões com as alunas.

A   formação   continuada   como   ferramenta   de   democratização   do   ensino   e 

potencialização da escola na transformação social

Em discussão   com alunos  do  Grupo  de   trabalho  em Rede   (GTR 2009) 

colocou­se em questão a real função da escola pública no atual contexto, percebeu­

se que a escola não pode limitar­se somente a preparar o aluno para a cidadania, 

mas deve ser um espaço de cidadania. Tanto alunos quanto professores precisam 

vivenciar  na  escola  um espaço democrático,  para que ao  fazer  este exercício  o 

aluno  esteja  preparado para   transformar  a  sociedade em que  vive.  A educação 

cumpre a função de socialização e se transforma em fator decisivo da humanização 

do homem. Define­se o processo de educação como o processo de aquisição por 

parte das novas gerações das conquistas sociais realizadas por gerações anteriores.

Segundo LIBÂNEO (2004), a função da escola é preparar o aluno para o 

exercício da cidadania,  torná­lo capaz de interferir  criticamente na realidade para 

transformá­la,   envolvendo­se   diretamente   na   luta   pela   justiça   social   e   pela 

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solidariedade humana, proporcionando serviços e resultados de qualidade, para que 

todos aqueles que passem por ela tenham asseguradas as condições de exercício 

de   liberdade   política   e   intelectual,   interagindo   e   articulando­se   com   as   práticas 

sociais.  A  escola  necessária  para   fazer   frente  a  essas   realidades  é  aquela  que 

garante um currículo de formação cultural e científica, que possibilita o contato com 

a cultura/conhecimento produzido pelo homem ao longo da história da humanidade.

A educação pressupõe que se dê  ao aluno suporte  de  formação para o 

mundo do trabalho, que o mesmo tenha condições de sobressair bem em qualquer 

área que o sujeito tenha aptidões. Deste modo, a função da escola deve ser a de 

articular a formação para a vida e também para o mundo do trabalho, sem perder de 

vista o conteúdo, que é o instrumento que possibilitará a formação do aluno. Não se 

pode ignorar a desumanização que ocorre a nossa volta, nem deixar de cumprir o 

papel de educadores, mesmo quando a correria do dia a dia no trabalho, em casa e 

na vida em geral nos torna indiferente aos problemas sociais.

Os  novos paradigmas da  educação  exigem do  profissional  docente  uma 

nova   postura   ante   as   desigualdades   sociais,   o   modo   de   vida   imposto   pela 

contemporaneidade que exige dos indivíduos uma constante reestruturação de suas 

capacidades   pessoais   e,   principalmente,   profissionais,   a   globalização,   o 

neoliberalismo, a competitividade, o tecnicismo, entre outros fatores, nos faz refletir 

sobre a necessidade de criarmos mecanismos que efetivamente contribuam para a 

construção de uma sociedade mais humana nos modos de educar. 

O   grande   papel   do   Educador   consiste   em   resgatar   a   esperança   na 

educação, no ensino, nos educandos e em si mesmo, a começar pela humanização 

das práticas pedagógicas e de uma efetiva gestão democrática e participativa nas 

escolas,   em   que   todos   se   reconheçam   como   gestores   e   participantes   desse 

processo que é uma construção coletiva.

A  função social  da escola é  a  transmissão assimilação do conhecimento 

produzido   historicamente   pela   humanidade.   Em   posse   do   conhecimento 

sistematizado, o homem se humaniza, modifica a natureza e ao modificá­la também 

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se   modifica.   O   homem é   um   ser   social   que   se   relaciona   com   outros   homens, 

politicamente, religiosamente, culturalmente e assim vai produzindo conhecimentos 

que vão possibilitando ao mesmo uma postura crítica perante a sociedade, numa 

relação responsável com o mundo no qual está inserido. 

Ao   cumprir   com   sua   função   social   a   escola   estará   formando   cidadãos 

críticos e conscientes, agentes históricos, capazes de transformar a sociedade em 

que   vive,   numa   sociedade   mais   justa,   solidária,   responsável,   consciente   e, 

sobretudo feliz. A formação continuada é uma das formas de garantir aos alunos a 

escola   de   qualidade,   pois   prepara   os   educadores   para   exercerem   melhor   sua 

função,   com   educadores   mais   conscientes   e   preparados   os   alunos   acabam 

percebendo que a educação é   importante e melhoram seu desempenho escolar. 

Assim a escola tem maiores chances de realizar sua função.

A   escola   cumprirá   bem   sua   função   e   aqueles   que   ensinam   se tornarão mediadores competentes se for possível realizar a síntese do antigo com o novo,  isto é,  da história passada cultural do país com a  realidade do presente do país,  se a escola  transformar  os homens que a freqüentam em cidadãos que conhecem o passado e, ao mesmo tempo, se integram no presente como agentes históricos na construção do futuro da sociedade. (GRAMSCI in RODRIGUES 2001, p.60) 

Através do conhecimento, o aluno poderá intervir criticamente, participando 

ativamente da realidade na qual está inserido na busca de uma sociedade melhor, 

de   uma   vida   significativa,   se   humanizando   e   relacionando   politicamente, 

socialmente,   religiosamente,   culturalmente,  de   forma a  se  apropriar  do   trabalho, 

entendendo que este é fundamental para sua sobrevivência, é a base estruturada de 

uma nova concepção de história,  o  conhecimento é  a única  forma de garantir  a 

função social da escola, é o instrumento de transformação social.

A prática educativa do professor  deve refletir  sua ação didática coerente 

com o seu exercício de cidadania, não há como um educador ensinar seu aluno a 

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ser crítico se esta não for uma prática em sua vida. O exemplo ainda é a melhor 

forma de se mostrar ao aluno o que se quer ensinar, a ação do professor é o melhor 

método. Uma sociedade só muda através da educação de seu povo, é dever sim da 

escola formar para o mercado de trabalho, porém sempre questionando a atuação e 

os   moldes   desse   mercado.   A   minoria   ainda   domina   o   conhecimento   e   aos 

educadores compete a disseminação e socialização deste conhecimento, através de 

uma prática educativa crítica e plena de cidadania.

É  a  postura  do  professor  comprometido  com o  processo de  formação  e 

transformação   dos   educandos,   que   proporcionará   às   práticas   educativas   as 

condições para se refletir e agir sobre as relações que se dão no mundo do trabalho. 

Esse compromisso e atitude do professor devem implicar uma prática pedagógica 

onde   os   saberes   trabalhados   em   todos   os   níveis,   por   meio   dos   conteúdos 

curriculares, sejam portadores, de um lado, da crítica à alienação e, de outro lado, 

da perspectiva da humanização no trabalho. Esta é a principal função e para atendê­

la os profissionais da educação precisam estar preparados. Sem perder de vista o 

conteúdo, que é o instrumento que possibilitará a formação do aluno.

A   escola   tem   como   perspectiva   trabalhar   a   formação   do   aluno   em   seu 

desenvolvimento   global,   contribuindo   com   a   formação   do   indivíduo   crítico   e 

participativo o qual tenha condições de ter sucesso no mercado de trabalho, sendo 

produtivo   e   realizado,   não   somente   aquele   que   executa   funções   técnicas,   mas 

desenvolvendo   a   capacidade   de   trabalhar   em   grupo,   ser   dinâmico,   ter   boa 

comunicação.   Quando   o   currículo   contempla   a   diversidade,   a   individualidade, 

buscando ir de encontro à necessidade do educando visando um currículo flexível, 

contemplando os princípios da valorização das diversidades, princípios da autonomia, 

princípios da escola democrática, que esteja voltada para preparar o aluno para a 

sociedade,  onde o mesmo possa exercer verdadeiramente sua cidadania e nesta 

perspectiva a escola contempla o trabalho como principio educativo.

A   sociedade   atual   passa   por   constantes   e   aceleradas   mudanças   nas 

transformações  tecnológicas e  industriais.  Quando,  a  função social  da escola  fica 

cada vez mais comprometida ao formar o ser humano para viver e conviver com o 

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mundo social que o rodeia. Sendo, uma busca pela melhoria das condições de vida 

futura, mais humana e mais digna. Percebe­se que, a cada dia que passa, quanto 

mais informações e conhecimento que o mercado de trabalho exige, mais acelerado 

fica   a   busca   por   melhores   formações   humanas   e   profissionais   o   cidadão   se 

compromete.   É   uma correria  acelerada  pela  disputa  de  vagas  nas  empresas  de 

trabalho. Visto que, são valorizados e reconhecidos aqueles que apresentam melhor 

formação   e   aqueles   que   possuem   experiências   antecipadas   na   determinada 

profissão.

 O docente é indivíduo que vive em uma sociedade capitalista, se constrói 

no tecido social no qual está inserido, pode ser o agente que reproduz ou apoiado 

na   sua   formação   pode   ser   o   leitor   crítico   da   sociedade   contemporânea.

Os   professores   fazem   seus   planejamentos  partindo   do   Currículo   Oficial,   mas   o 

Currículo   Oculto   permeia   todas   as   ações   desse   docente   é   consenso   entre   os 

teóricos da educação. Desvincular ou negar as contradições entre o discurso e a 

prática seria quase leviano. O ato de ensinar está carregado de ações subjetivas, 

mas precisa estar pautado no saber elaborado. Vislumbrar essas ações sob olhares 

críticos é fazer a reflexão entre a teoria e a prática como referencial pedagógico. 

O  suporte   para  que  o  docente  esteja  preparado  será   oportunizado  pela 

formação inicial e continuada no decorrer de sua carreira. A escola tem sua razão de 

ser   quando   garante   o   conhecimento   formal   aos   discentes,   está   assim 

instrumentalizando   os   docentes   para   alcançarem   a   emancipação   humana.

Torna­se necessário todo um cuidado pelos Profissionais da Educação quando se 

ocupam do Currículo oculto para veicularem conceitos, princípios, valores, atitudes e 

doutrinas. São criações culturais, econômicas, filosóficas e políticas da sociedade 

que   transcorre   para   a   escola   gerando   contradições   e   conflito.   Culpabilizar   os 

professores por situações arraigadas que vêm ocorrendo desde o Brasil Colônia, é 

querer amputar questões sociais, política e econômica de um país para a escola que 

já está assumindo papéis muito além de suas possibilidades.

O   saber   se   efetiva   quando   os   discentes   atribuem   significado   ao 

conhecimento, isto é, quando conseguem estabelecer relações substanciais entre o 

que está aprendendo e o que já conhece, de modo que o novo conhecimento seja 

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assimilado a sua capacidade de compreensão da realidade e passe a ser utilizado o 

conhecimento prévio em novas ações. Quando o indivíduo não tem acesso aos bens 

culturais, econômicos e sociais, como fazê­lo entender que ele pode ser sujeito de 

transformação e mudança. 

A   formação   continuada   segundo   pedagogos   que   buscam   na   grande   rede 

espaços de discussão de suas práticas

No momento da implementação da proposta pude perceber a real limitação 

em que muitos educadores se encontram e  a  dificuldade que encontram em se 

perceberem como autores de sua própria  formação. Surge então a discussão do 

significado de autonomia, tendo­se em vista a concepção de educador defendida por 

Paulo Freire quando se refere a importância da prática pedagógica responsável:

Como professor num curso de formação docente não posso esgotar minha   prática   discursando   cobre   a   Teoria   da   não   extensão   do conhecimento.   Não   posso   apenas   falar   bonito   sobre   as   razões ontológicas, epistemológicas e políticas da Teoria. O meu discurso sobre a Teoria deve ser o exemplo concreto, prático, da teoria. Sua encarnação. Ao  falar da construção do conhecimento,  criticando a sua extensão,   já  devo estar  envolvido  nela,  e  nela,  a  construção, estar envolvendo os alunos. (Freire, 1996, p. 18)

Esta autonomia refere­se ao processo que mostra a disposição de enfrentar 

atividades diversificadas na escola, com compromisso para melhoria da qualidade 

da  educação  e   reflexão  contínua  do  conhecimento,  valores  e,  sobretudo  com a 

autonomia intelectual dos educadores.

Outro   saber   necessário   à   prática   educativa,   e   que   se   funde   na mesma raiz que acabo de discutir – a da inconclusão do ser que se sabe inconcluso ­, é o que fala do respeito decido à autonomia do ser educando. Do educando criança, jovem ou adulto. Como educador, devo estar  constantemente  advertido  com  relação  a  este   respeito que implica igualmente o que devo ter por mim mesmo. Não faz mal repetir afirmação várias vezes feita neste texto – o inacabamento de 

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que nos  tornamos conscientes  nos   fez seres  éticos.  O  respeito  à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não umfavor que podemos ou não conceder uns aos outros. Precisamente porque   éticos   podemos   desrespeitar   a   rigorosidade   da   ética   e resvalar para a sua negação, por isso é imprescindível deixar claro que   a   possibilidade   do   desvio   ético   não   pode   receber   outra designação senão a de transgressão. (Freire, 1996, p. 24)

Realmente,   os   professores   não   percebem   que   a   formação   continuada 

depende de sua força de vontade, pois muitos se consideram "prontos" desde o 

momento da formação e não buscam atualização. Muitos professores consideram 

que autonomia é poder fazer tudo o que se quer, mas autonomia é algo muito maior, 

é poder fazer o que se quer, mas para melhorar a nossa realidade e a dos alunos, 

mas  infelizmente os professores não deram conta de sua  importância para  fazer 

com que a escola pública atinja o seu real objetivo, que é uma boa formação para o 

aluno.   Se   prestassem   a   devida   atenção   a   formação   continuada,   eles   já   teriam 

percebido que muitas vezes os problemas estão dentro de nós, não nos outros. 

A   construção   de   uma   educação   emancipadora   nunca   é   neutra, porque não rendida, mas sempre inovadora. Isto significa a formação de um educador­pesquisador inclusivo, ético e estético, fundado no compromisso   com   a   vida,   na   diferença,   na   justiça   e   eqüidade. (Moreira 2002, p. 23)

Após a discussão com colegas do GTR sobre o tema autonomia profissional, 

eles trouxeram certos relatos que merecem ser socializados: "Ninguém é autônomo 

primeiro  para  depois  decidir.  A  autonomia  vai  se  construindo  na  experiência  de 

várias,   inúmeras   decisões,   que   vão   sendo   tomadas"   (Professor   1).   "As   nossas 

decisões, o nosso modo de ensinar, o jeito de pensar, de sentir, de expressar e de 

agir,  o  nosso viver.  Este  assumir   responsável  é  o   instrumento  que compreendo 

como autonomia"   (Professor  2).   "Ter  autonomia  profissional   significa  assumir  os 

ideais que acredito, ter compromisso ético, político e moral" (Professor 3).

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Nestas falas dos professores pode­se perceber que a maioria dos professores 

não  tinha  refletido muito  sobre  a questão da autonomia,  mas,  depois  de  feita  a 

provocação no GTR, fizeram uma análise e conseguirem entender a importância na 

construção do educador, na formação continuada como mecanismo de fortalecer a 

prática   pedagógica.     Embora   cada   um   pareça   ter   seu   próprio   conceito   sobre 

autonomia profissional muitos percebem o seu significado: o compromisso que se 

espera cada um assuma, consigo, com seu trabalho e com a sociedade onde vive.

Autonomia   pressupõe   saber   refletir   sobre   os   fazeres   pedagógicos, 

modificando aquilo que achar preciso, aperfeiçoando seu trabalho, optando sempre 

pelo melhor, com a certeza de que se há tentativas, há esperança e possibilidades 

de mudança daquilo que tem em vista para mudar. Por outro lado deve ficar bem 

claro ao educador  que a autonomia não vem de um dia  para outro,   leva algum 

tempo   para   ser   construída.   Pois   o   educador   não   é   superior,   melhor   ou   mais 

inteligente por dominar conhecimentos, mas, como o aluno, é participante do mesmo 

processo da construção da aprendizagem.

Para   mediar   a   construção   da   autonomia   e   emancipação   sócio­antropológicas,   os   profissionais   da   educação,   pelo   processo   de formação continuada,  realizam sua reinvenção e passam por uma metamorfose.   Transformam­se,   destruindo­se   como   professores   e construindo­se   educadores­pesquisadores.   Tornam­se, progressivamente, agentes teórico­práticos, docentes que mediam a formação   humana   e   pesquisadores   que   investigam   sua   própria prática e sistematizam os conhecimentos nela produzidos. (Moreira 2002, p. 25)

Os professores entrevistados sintetizam a autonomia como liberdade de ação, 

poder de decisão, responsabilidade com o compromisso assumido e alguns citaram 

também   a   busca   de   formação   continuada,   observou­se   que   os   mesmos   deram 

ênfase   na   questão   de   decidir   o   que   e   como   desenvolver   o   seu   trabalho.  

Muitos   comentaram   a   autonomia   em   relação   ao   ambiente   escolar,   outros 

reclamaram   da   falta   de   autonomia   em   relação   a   questão   da   indisciplina,   por 

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acreditarem que o aluno não pode ser afetado em seu direito mas o professor pode 

ser ofendido e humilhado pelos mesmos.

O assunto autonomia intelectual é passível de muitas leituras, cada docente 

pode atribuir intencionalidades e especificidades conforme sua leitura de sociedade 

e   consciência   de   seu   compromisso   enquanto   profissional   da   transmissão   do 

conhecimento   elaborado.   Na   acepção   da   palavra   autonomia   envolve   todo   um 

processo   de   entendimento   do   contexto   escolar,   domínio   das   metodologias, 

conhecimento   científico   e   um   contínuo   repensar   da   práxis   docente.

Definitivamente   não   se   pode   considerar   uma   tarefa   fácil   conciliar   os   conflitos 

internos que permeiam o ambiente  escolar  e  para alguns docentes vislumbrar  a 

autonomia no verdadeiro sentido da palavra chega a ser utopia. 

Autonomia,   para   alguns   é   agir   segundo   convicções   próprias,

  é   ter   liberdade   para   agir,   mas   com   responsabilidade,   as   pessoas   buscam 

autonomia,  mas,  não sabem usá­la.  Para  outros,   ter  autonomia  a  delegação  de 

poder. Segurança por aquilo que está fazendo. Determinar as próprias ações e ser 

responsável por elas. Imposição dada a uma pessoa para delegar responsabilidades 

a alguém. Poder elaborar atividades sem a interferência de outras pessoas.

É  visível  a  dificuldade que colegas professores  têm em definir  autonomia, 

principalmente   quando   se   remete   à   sua   própria   autonomia.   Dizer   que   é   poder 

escolher suas ações e atitudes é   fácil,  mas se conscientizar realmente das suas 

dificuldades   e   limitações   é   algo   mais   complexo.   Normalmente,   se   referem   às 

questões sempre externas ao próprio  indivíduo, àquilo que a escola não alcança, 

que a SEED e NRE não ofertam ou não atendem as reais necessidades, que os 

colegas  não  participam  e  não   levam  a   sério.  Aceitar   as  dificuldades  e  assumir 

responsabilidades  na  busca  de   sua   superação,   enquanto  ator   importante  nesse 

processo é ainda um desafio constante na realidade escolar da escola pública. 

Percebe­se   uma   grande   diferença   entre   as   respostas   dos   educadores 

preocupados com seu constante aperfeiçoamento daqueles que não reconhecem 

sua   importância.   Enquanto   os   primeiros   estão   sempre   em   busca   de   maneiras 

diversificadas   para   que   os   alunos   aprendam   e   se   desenvolvam,   os   segundos 

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consideram que já sabem tudo, não precisam estudar e que cursos só servem para 

elevação de nível. Para esses, os alunos é que não querem aprender, já fizeram 

tudo que seria possível. Nesse sentido, o trabalho com o coletivo da escola vem de 

encontro a essa necessidade de conscientização por parte de todos.

O entendimento sobre autonomia intelectual foi definido também como uma 

posição, postura profissional de tomar certas ações pertinentes não prejudicando o 

próximo e sim tentar fazer uma intervenção sábia, prudente e intermediária. Atitudes 

de responsabilidade e compromisso sabendo que ainda é difícil no âmbito escolar 

ter está autonomia, pois as coisas vem de cima para baixo. 

Almejar  uma  formação  docente  compromissada  com os  sujeitos  que  nela 

estão atuando com o objetivo de preservar o seu saber e  identidade de maneira 

crítica e questionadora, criando seres intelectuais críticos e reflexivos que formarão 

cidadãos emancipados parece ser o  ideal  de  todos os pedagogos envolvidos na 

discussão. Todos concordam que o professor deve assumir sua formação, pois, se o 

processo de autonomia não for buscado, existe o risco de se ter professores cada 

vez mais técnicos, desqualificados, repetidores de idéias e conteúdos empobrecidos, 

o que se refletirá na formação de seus discentes que irão reproduzir a mesma idéia 

na sociedade, ou seja, indivíduos "pobres" de criatividades.

Essa   formação  autônoma  será   alcançada  no  momento  em que  houver   a 

implementação da pesquisa da formação cultural no currículo docente e o incentivo 

a   categoria   com   bons   salários,   valorização   de   seu   trabalho,   possibilitando   a 

formação  inicial  e continuada de boa qualidade e  tempo para que esse docente 

atualize­se,   isto é,  criando um contexto educacional  com princípios democráticos 

formando indivíduos comprometidos com uma prática autônoma.

Para   tanto,   a  prática   social   da  educação  e,  nela,  a   formação  do profissional  da educação estão sendo reinventados,  em processos de formação continuada, e fazem com que tudo o que somos seja mero patamar de tudo o que ainda podemos ser. (Moreira 2002, p. 25)

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Alguns professores entenderam autonomia como a capacidade de resolver 

situações,   solucionar   e   opinar   em  determinados   problemas,   bem  como  em sua 

disciplina, em sua área de trabalho, no seu  local de trabalho enquanto professor 

atuante. Ou ainda, ter liberdade de se expressar, fazer e tomar decisões sozinhos, 

sem ter que obedecer ordens. Quando a própria pessoa é   responsável por seus 

atos, ou seja, tudo o que faz, desde que cumpra com seus deveres sem ultrapassar 

seus limites.

A  autonomia  confunde­se  com  liberdade,  consistindo  na  qualidade  de  um 

indivíduo tomar suas próprias decisões, com base em sua razão individual. Mas que 

na  educação  esta  autonomia   se   limita   em  seguir   normas  e   leis.  Ao   levantar   a 

discussão sobre autonomia intelectual como forma de atuação pedagógica surgiram 

dois pontos de vista interessante: o primeiro refere­se a liberdade de pensar o que 

quiser,   expressar   a   sua   opinião   enquanto   o   segundo   afirma   que   autonomia 

intelectual é ter condição de pensar as coisas do mundo com criticidade, desvelando 

a realidade, a partir do conhecimento adquirido. 

O   interessante   é   que   ficou   evidente   a   diferença   entre   as   definições.   O 

primeiro grupo de respostas demonstra um conhecimento prático, no senso comum, 

cotidiano e o segundo grupo revela um conhecimento elaborado, pensado, refletido. 

Essa diferença de definições fica ainda mais  interessante quando conhecemos a 

prática pedagógica destes profissionais,  pois revelam esta maneira de pensar as 

coisas no trabalho desenvolvido  na escola, na forma de refletir sobre os conteúdos, 

o planejamento, a sua intervenção em sala de aula. 

Ao pensar a autonomia da escola e do professor deve se pensar o ensino 

aprendizagem, não simplesmente a vontade própria do professor. A ação deve ser 

coletiva  e   vir   de  encontro  aos   interesses  da  escola,   relatados  nas  propostas  e 

projeto pedagógico, e não para atender o objetivo individual do professor, o poder de 

decisão (autonomia) não pode ferir o interesse da coletividade.  

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Para   mediar   a   construção   da   autonomia   e   emancipação   sócio­antropológicas,   os   profissionais   da   educação,   pelo   processo   de formação continuada,  realizam sua reinvenção e passam por uma metamorfose.   Transformam­se,   destruindo­se   como   professores   e construindo­se   educadores­pesquisadores.   Tornam­se, progressivamente, agentes teórico­práticos, docentes que mediam a formação   humana   e   pesquisadores   que   investigam   sua   própria prática e sistematizam os conhecimentos nela produzidos. (Moreira, 2002, p. 25)

A autonomia é  um processo de construção da  identidade das escolas,  ou 

melhor, é o processo de que as escolas dispõem para marcarem o seu espaço de 

atuação. Espaço esse que se alarga ou restringe de acordo com a maior ou menor 

capacidade de as escolas agirem. Autonomia é o educador ser livre para mostrar 

seu intelecto, isto é um sujeito autônomo que pode mostrar seu ponto de vista sobre 

o que pensa.

Muitos professores concordaram que tem autonomia em muitos momentos no 

trabalho,   principalmente   no   planejamento   das   aulas,   quando   questionados   na 

autonomia em relação a si próprios em quanto trabalho, ficaram bastante pensativos 

pode­se concluir  que a grande maioria  não  interpreta a palavra autonomia como 

uma autonomia intelectual para eles. A autonomia em muitos educadores é ainda 

um desafio na sua prática. 

Outros não acreditam em autonomia dentro da escola,  falaram que esta é 

uma farsa, uma vez que entendem autonomia como a liberdade em tomar decisões, 

expressar  opiniões,   fazer   com que  sejam ouvidos.  Há  uma preocupação destes 

colegas com o tema autonomia, já que fazem parte de um sistema que dita regras 

que devem ser obedecidas e cumpridas.

Dia após dia os educadores se deparam com situações que exigem de todos 

uma postura responsável na construção de uma escola pública de qualidade para 

todos. A formação continuada permite avaliar constantemente a sua prática, quebrar 

paradigmas, rever conceitos, através da aquisição e construção de conhecimentos, 

que lhes permite transformar a realidade.

Sobre isso afirma Bona:

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A formação dos professores se configura preocupação central nesse sentido.   Mais   do   que   instruir,   eles   devem   educar,   entendendo educação   como   a   preparação   para   o   exercício   consciente   da cidadania que se faz atuando politicamente na transformação social. O problema é que grande parte dos professores tem como principal orientação o domínio do conteúdo e das técnicas, restringindo sua função ao cumprimento do programa de ensino. (2008, p.7)

Os professores que escolheram o tema Formação Continuada acreditam que 

esta é condição indispensável para que educadores sejam sujeitos epistêmicos, em 

constante busca de conhecimentos. Mesmo cientes que sempre haverá profissionais 

que   não   levam   a   sério   a   sua   formação,   outros   que   acreditam   estar   prontos   e 

acabados, a maioria que tem ciência de sua incompletude está sempre a caminhar 

em   busca   de   novos   conhecimentos   a   fim   de   pelo   menos   fazer   com   que   os 

profissionais da educação da escola em que atuam, passem a rever a sua prática e 

que  estes,   compreendam  e   sintam  a  necessidade  da Formação  Continuada,   na 

construção de uma escola pública de qualidade para todos.

A formação continuada segundo pedagogos que atuam no curso normal de 

formação de docentes

A Formação Continuada tem sido apontada como o melhor caminho para a 

educação atingir a qualidade de ensino desejada. O enfoque teórico desta pesquisa 

tomou   como   base   a   formação   continuada   defendida   por   Antônio   Nóvoa, 

considerando   o   professor   como   um   intelectual   orgânico   (Gramsci)   e   sujeito 

autônomo em sua função de ensinar. Segundo Paulo Freire (1996) entre dizer que 

não sabe, mas pode aprender e mentir que sabe para não perder a pose, o bom 

educador certamente optará  pela primeira, no entanto o despreparo do professor 

não pode tornar­se uma constante. Não se pode admitir como educador um sujeito 

de   omissão,   mas   sim   de   opção.   Ainda   segundo   Freire:   “Ensinar   exige   tomada 

consciente de decisões.” (1996, p. 122)

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 No Estado do Paraná, a formação continuada tem sido ministrada por meios 

dos Grupos de Estudos e dos Encontros de Capacitação no início e meio de ano e 

também pode ser organizada dentro do sistema educacional, conforme Instrução Nº 

02/2004 da Secretaria de Estado da Educação –Superintendência de Educação – 

SUED/SEED. 

Quanto   aos   Grupos   de   Estudos,   muitos   professores   só   o   fazem   porque 

ganham pontos para o avanço, não se preocupando com o conteúdo do que estão 

fazendo e não há um feedback dos trabalhos enviados. Os Núcleos/RH recolhem 

um trabalho do grupo e as fichas de freqüência. 

Quanto a Instrução sobre a hora atividade, a escola pode utilizar 50% das 

horas atividades dos professores para Formação Continuada, mas é difícil obter o 

apoio da direção e dos professores que alegam que já é pouco o temo das horas 

atividades e ainda está se reduzindo com formação continuada e alegam que não 

conta pontos para o avanço. 

A Capacitação do início dos períodos letivos é vista apenas como mais um 

encargo,   uma   obrigação   pela   grande   maioria   dos   professores,   são   poucas   as 

escolas que conseguem desenvolver um debate produtivo, com resultados objetivos 

para seu trabalho pedagógico que por hora se inicia. Normalmente estes momentos 

se tornam um muro de lamentações, uma disputa pelo melhor horário para as aulas, 

ou   uma   demonstração   de   poder   para   alguns   diretores   ou   professores   que   se 

consideram os “donos do pedaço”. 

No   caso   específico   a   ser   analisado:   o   Curso   Normal   de   Formação   de 

Docentes do Colégio Estadual Túlio de França de União da Vitória faz necessário 

ressaltar que este Colégio possuía o curso do Magistério durante várias décadas e 

foi encerrado com a implementação do PROEM (Programa de Expansão do Ensino 

Médio) no Governo Lerner.

O   Curso   Normal   perdeu   parte   da   construção   de   sua   identidade   com   a 

suspensão do funcionamento do curso na maioria das escolas paranaenses, pois 

não aconteceram mais cursos, nem outro tipo de formação para os docentes que 

nele   atuavam.   Estes   profissionais   foram   encaminhados   para   as   Equipes 

Pedagógicas e forçados a absorver as políticas educacionais adotadas pela SEED 

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naquele período. Perdeu­se a identidade de grupo, desfez­se toda uma caminhada 

coletiva   que   vinha   sendo   construído   durante   muitas   décadas   pelo   coletivo   de 

professores do curso.

Mesmo   com   o   curso   tendo   continuado   em   14   escolas   do   Paraná   os 

professores efetivos desse curso estiveram desenvolvendo atividades diversas como 

professor   adaptados   e   neste   período   acabaram   ficando   sem   atualização,   pelo 

menos na área de formação de docente. Esse é o fator determinante que comprova 

a  necessidade de que  todo educador  que atua  no Curso  Normal  busque a  sua 

formação continuada, para dar conta de acompanhar as mudanças que ocorreram e 

vem ocorrendo no contexto educacional tanto na legislação como em novos estudos 

que   vem  contribuindo   com   o  aprender. Afinal   o   curso  não   se   resume  a   formar 

docentes,   mas   investe   na   atualização   e   capacitação   preocupando­se   com   a 

formação do ser como todo.

Com   o   retorno   do   curso   iniciou­se   um   novo   processo   de   formação   dos 

docentes que atuavam no curso, pois nem todos os professores voltaram a atuar, 

alguns   se   aposentaram,   outros   fizeram  a   opção   por   ficar   nas   equipes   em   que 

atuavam. Deste modo, muitos professores novos pegaram aulas extraordinárias ou 

como PSS (Processo Seletivo Simplificado), todo início de ano era uma troca de 

professores, alguns não se adaptaram ao trabalho com alunos­futuros professores. 

A grande maioria destes professores nunca havia lecionado no curso do Magistério.

O grupo efetivo de atuação no colégio constitui­se de seis professoras: três 

delas em final de carreira (com o tempo para aposentadoria completado), das três 

restantes uma é professora PDE em 2008. As demais professoras são pedagogas 

em outras escolas, com aulas extraordinárias no curso, ou PSS que não sabem se 

continuam atuando nele no ano seguinte. Portanto ao tentar formar um Grupo de 

Estudos neste colegiado para discutir  a Formação Continuada esta pesquisadora 

não encontrou o retornado esperado.

As colegas em fim de carreira, já pretendiam solicitar a aposentadoria para o 

final  do ano  letivo de 2008 ou  início  de 2009,  as professoras mais novas estão 

envolvidas   com   suas   escolas   de   atuação   e   acabaram   não   querendo   se 

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comprometer,  pois  não  tem tempo, ou ainda não são efetivas e não recebem a 

pontuação que interessa aos efetivos. Além desses fatores o grupo está  bastante 

desmotivado com a situação do curso que enfrenta um “certo” abandono no colégio, 

não há um envolvimento real destes professores nas atividades gerais do colégio, 

parece   existir   um   abismo   separando   o   Curso   Normal   das   demais   turmas, 

principalmente no que se refere aos professores.

Sendo   assim   ao   implementar   o   projeto   do   PDE   as   atividades   foram 

redirecionadas   as   alunas   da   3   ª   série   do   período   noturno   do   Curso   Normal 

Subsequente, por ser uma clientela composta de jovens com formação acadêmica, 

que já possuem ensino médio completo e algumas já atuam na área da educação, 

sendo assim demonstraram maior   interesse em participar de um estudo sobre a 

formação continuada.

Não   se   pode   recriminar   o   professor   por   não   manter­se   em   formação 

constante, pois apesar das boas intenções o grande número de aulas e situações 

encontradas para que dê conta, além da pressão natural do dia a dia, os priva até da 

leitura prazerosa. Embora até reconheçam que necessitam de maior fundamentação 

para contribuírem para efetivas mudanças em suas salas de aulas, não encontram 

motivação para buscá­las.

Apesar   de   estarmos   tratando   de   pessoas   que   lidam   diariamente   com   o 

conhecimento existem professores que não gostam de ler, de se atualizar, talvez 

este seja um dos motivos pelo qual a formação continuada acaba falhando. Embora 

se tenha tentado motivar os colegas para este estudo, a forma de como conseguir a 

adesão destes professores permanece como uma incógnita.

Acredita­se que a maioria dos profissionais é  comprometida e no momento 

atual   se   faz  necessária   a   formação   continuada  para   atuação  em  sala  de  aula, 

principalmente   no   Curso   Normal.   Pois   além   do   aluno   estar   mais   exigente,   a 

sociedade   vive   um   momento   de   ruptura   do   regime   de   acúmulo   rígido   de 

conhecimento pronto e acabado para um regime de acumulação  flexível,  onde o 

conhecimento se renova constantemente. 

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As políticas públicas de formação de professores do Paraná  têm avançado 

muito com relação a formação continuada, pois está havendo maior conscientização 

por   parte   dos  mesmos   com   relação  a   importância  de   se  manter   em  constante 

atualização. É evidente que a questão da pontuação para o avanço preocupa muito 

os professores ainda, mas não é  somente isso que faz com que os profissionais 

participem da  formação continuada,  pois  eles  estão percebendo necessidade da 

mesma para seu crescimento profissional. 

A perspectiva de voltar  a estudar num sistema como o adotado pelo PDE 

assusta um pouco no início, mas provoca e atrai ao mesmo tempo, a oportunidade 

de voltar aos espaços acadêmicos, de discutir  com os professores questões que 

somente fazem parte do cotidiano de um professor e, muitas vezes nem passam 

pela cabeça de um acadêmico que estuda algo em perspectiva de futuro, puderam 

enriquecer o conhecimento de ambos.

A   qualidade   do   corpo   docente   é   determinante   para   qualidade   do   ensino 

oferecido.  Isto,  no entanto não é  algo automático e certo ao final  da graduação. 

Encontram­se   nos   professores   em   início   de   carreira   diferentes   problemas   de 

adaptação com o cotidiano de sala de aula, a troca de experiências com os outros 

educadores em grupos de estudo pode trazer benefícios para ambos. 

O que não pode se admitir  são profissionais despreparados, acomodados e 

que não admitem a necessidade de buscar conhecimentos e melhorar sua prática, 

senão pela sua responsabilidade pessoal, pela questão social da educação. Nesse 

sentido Gramsci afirma:

Se   o   corpo   docente  é   deficiente   e   o   nexo   instrução­educação   é abandonado, visando a resolver a questão do ensino de acordo com esquemas abstratos nos quais se exalta a educatividade, a obra do professor   se   tornará   ainda   mais   deficiente:   ter­se­á   uma   escola retórica,   sem   seriedade   (...)   e   o   verdadeiro   será   verdadeiro   só verbalmente, ou seja, de modo retórico (2004, p.44).

Os pedagogos parecem estar um pouco a frente deste debate, pois lidam com 

a    questão  da   formação  continuada  com certa   tranquilidade,  acostumaram­se  a 

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pensar   nesta   formação   para   seus   professores   e   desta   forma   é   inevitável   que 

preocupem­se consigo, com sua formação também. Por isso, o grupo envolvido no 

GTR trouxe muita contribuição para o estudo, pois  tratava­se de pedagogos que 

além de atuarem em escolas públicas, lidarem diretamente com a formação de seus 

professores, consideram a formação continuada imprescindível para sua atuação, e 

a encaram como compromisso assumido por eles.

Junto aos colegas do GTR foram selecionados três temas centrais para as 

discussões do grupo: a inclusão, a gestão democrática e a formação continuada em 

si. Durante seis meses foram selecionados textos, filmes e materiais sobre os três 

temas,  que   foram apresentados às  alunas envolvidas  permeando as  discussões 

sobre a  importância deste conhecimento para a atuação das  futuras docentes o 

resultado foi muito bom, a participação de todas foi muito efetiva, e, o crescimento 

profissional ficou assegurado, bem como o interesse pela formação continuada. 

Considerações finais

Acredita­se que o ser humano enquanto ser vivo constrói­se a cada dia e 

assim vai dominando cada vez mais o seu espaço. Somente através da formação 

continuada o professor estará se construindo como educador, da possibilidade de 

discussão referente a assuntos inerentes a prática pedagógica com embasamento 

teórico. O momento de trocas de experiências com os colegas pedagogos da rede 

estadual   no   GTR   contribuiu   significativamente   para   a   relação   teoria­prática.   O 

trabalho realizado com professores ocorreu de forma bastante consistente, tendo em 

vista o apoio teórico no qual as discussões  estavam pautadas, bem como a forma 

na qual o assunto era abordado foi  fundamental para o sucesso das discussões, 

assim como do próprio curso.

Fazer  o  GTR  foi  uma experiência diferente,   inovadora,  pois,  possibilitou  a 

leitura os relatos dos colegas de profissão de regiões diferentes, constatar que suas 

angústias também fazem parte das minhas preocupações, ou seja, com algumas 

especificidades os conflitos escolares são inerentes na rede.

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A busca de literatura pertinente sobre o tema em questão me fez repensar 

minha   pratica   pedagógica,   muitas   vezes   o   conflito   é   fator   de   crescimento 

profissional. Essa situação de não estar atrelada horário para participar, estar em 

casa para fazer as atividades, a autonomia que o GTR proporciona é uma situação 

que precisa ser elogiada. Faz­se necessário ressaltar o uso da mídia interativa para 

a formação continuada. Caso a mantenedora oportunize outro GTR certamente irei 

participar, pois avalio como muito produtivo todo o processo.

Esse   curso   me   proporcionou   um   enriquecimento,   principalmente   na 

elaboração   de   projetos,   que   poderão   ser   utilizado   no   seu   cotidiano   escolar.

O Grupo de Trabalho em Rede é uma oportunidade de capacitação que possibilita 

ema   interação   maior   entre   pessoas   de   lugares   distintos,   mostrando   que   os 

problemas que enfrentamos na escola são os mesmos. As expectativas que tinha 

sobre o grupo de estudo e o interesse dos professores garantiu o sucesso deste 

GTR, dando subsídios para que o trabalho efetivo na escola melhore cada vez mais. 

  O   GTR que   oferece   a   oportunidade   de   formação   continuada,   com   a 

disponibilidade de tempo que temos, esse diferencial   já  é  muito  importante   bem 

como a  qualidade  dos   textos  estudados,  as  questões de   trabalho  propostas,  as 

trocas de  experiências e   os  projetos  de   intervenção que contribui  com a nossa 

atuação.   Quiçá   todo   educador   pudesse   aproveitar   essa   oportunidade   que   nos 

permite a formação e informação tão necessária para o crescimento profissional.

Referências

BONA JÚNIOR, Aurélio. O ensino de filosofia e o pensamento educacional de Antônio Gramsci: algumas aproximações. Revista Cavaqueira, ano1, n.1,União da Vitória: FAFIUV, 2008.

FREIRE,   Paulo.  Pedagogia   da   autonomia:   saberes   necessários   à   prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Col. Leitura.

GRAMSCI,  Antonio.  Cadernos  do cárcere,   volume 2.  3   ª    Ed.  Rio  de  Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

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LIBÂNEO,   J.   C.  A   aprendizagem   escolar   e   a   formação   de   professores   na perspectiva da psicologia histórico­cultural e da teoria da atividade.  Educar, Curitiba, n. 24, p. 113­147, 2004. Editora UFPR

MOREIRA,   Carlos   Eduardo.  Formação   continuada   de   professores:   entre   o improviso e a profissionalização. Florianópolis: Insular, 2002.