A Consulta Homeopática: Uma Tecnologia de Cuidado

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A Consulta Homeopática: Uma Tecnologia de Cuidado “A medicina não é apenas uma ciência, mas a arte de permitir que nossa individualidade possa interagir com a individualidade do paciente.” Albert Schweitzer 1

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A Consulta Homeopática:Uma Tecnologia de Cuidado

“A medicina não é apenas uma ciência,

mas a arte de permitir que nossa individualidade possa interagir com a individualidade do paciente.”

Albert Schweitzer 1

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RACIONALIDADE MÉDICA E RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE:

UMA ANÁLISE DA COMUNICAÇÃO NA PRÁTICA HOMEOPÁTICA

MEDICAL RATIONALITY AND MEDICAL-PATIENT RELATIONSHIP: AN ANALYSIS OFCOMMUNICATION IN HOMEOPATHIC PRACTICE

Denise Espiúca Monteiro, Instituto Hahnemanniano do Brasil/ IMS/UERJ.Adriana Cavalcanti de Aguiar, FIOCRUZ/ IMS/UERJ

PALAVRAS-CHAVE: Escuta Implicada, Empatia, Cuidado IntegralKEYWORDS: Involved Listening, Empathy, Integral care

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o reducionismo da complexidade do adoecer ao nível biológico; a polarização de normal/patológico e saúde/doença; a “prepo(oni)potência da técnica levando a

objetificação/patologização de sinais e sintomas e a consequenteampliação de categorias nosológicas para intervenção medicamentosa;

a indústria do conhecimento e marketing sobre “ bens e serviços” de saúde a serem consumidos para sua manutenção ou recuperação da saúde.

“A Ciência da Doença”e os Atores da Medicalização Social

( CAMARGO JR., 2003)

Cenário Contemporâneo de Atenção à Saúde

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“Quanto mais se procura a biomedicina, mais o mundo ficamedicalizado e ao mesmo tempo frustrado com os limites deinterpretação dos adoecimentos, a fragmentação do cuidado, asuperespecialização do saber, a iatrogenia dos tratamentos, afrieza e a desarmonia da relação médico-paciente” (TESSER, 2010, p.27).

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"A existência supõe um compromisso prévio com a dor. A arte fundamenta seu pressuposto no fato de que toda aventura da vida é um esforço no sentido de tematizar, estetizar, especular e interpretar o dilema subjetivo no qual se encerra a dor de viver. Nesta perspectiva a maturidade significaria a capacidade de o ser lidar com a dor sem sofrimento. Não há registro de nenhuma grande obra cuja essência não diga respeito ao enfrentamento radical dessa questão."

Victor Hugo

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“...É impossível para o médico compreender a experiência vivida pelo doente

a partir do relato dos doentes, porque aquilo que os exprimem por conceitosusuais não é sua experiência direta, mas sua interpretação de umaexperiência para a qual não dispõe de conceitos adequados”.

La Conscience Morbide

Charles Blondel

1876 - 1939

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Convivemos com uma tríplice cisão - epistemológica,prática e técnica - uma das explicações sócio-antropológicaspara a procura de outras racionalidades médicas (LUZ, 2012).

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“Médicos e pacientes

interpretam a relação saúde-doença de formas diferentes. Além dos aspectos culturais temos de enfatizar que eles

não se colocam no mesmo plano: trata-se de uma relação assimétrica em que o médico

detém um corpo de conhecimentos do qual o

paciente geralmente é

excluído.” (CAPRARA, 2004, p.141)

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54% dos distúrbios percebidos pelos pacientes não são tomados em consideração pelos médicos durante as consultas e 50% dos problemas psiquiátricos e psicossociais são negligenciados.

Em 50% das consultas, médicos e pacientes não concordam sobre a natureza do problema principal e 65% dos pacientes são interrompidos pelos médicos depois de 15 segundos de explicação do problema.

A Agenda do MédicoX

Agenda do Paciente(CAPRARA & RODRIGUES, 2004)

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À luz da literatura da Comunicação e Saúde, investigamos a prática

Homeopática, com a premissa de que esta racionalidade prevê uma escuta do

sujeito voltada a compreensão de seu modo singular de viver (e sofrer) balizador

de a sua semiótica, indispensável à diagnose e terapêutica, conferindo-lhe

características, que podem contribuir para a integralidade do cuidado.

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O Papel do Médico

-P: Eu tenho uma curiosidade. Vocês se formam em médico?”(D. Turmalina)

-A: E você só trabalha aqui? ( D. Ágata)

- A: Você toma homeopatia quando fica doente? ( D. Ágata)

- A: Quero saber como você pode ser assimcalminho. Posso te chamar de você, né? Agente tem que se consultar só com médicohomeopata [...].Os doutores de hojeconsultam em 5 minutos.

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- P: O médico [o outro homeopata com quem se consultou] não me examinou!

- M: Depende da necessidade, filha.

- A: Mãe, ele não me examinou!

- M: É que seu problema é dos nervos. Também não é assim, não queira falar mal do profissional não.

- A: É vai ver que como eu cheguei com a receita pronta ele achou que eu só queria a receita mesmo. [...] Médico também é um psicólogo.

- M: É às vezes é preciso a gente se fazer de psicólogo, e outras trabalhar junto com o psicólogo, tem casos que é preciso fazer psicoterapia de apoio, só o remédio homeopático não dá conta (...)e se consegue evitar que eles tomem remédios alopáticos, que sejam encaminhados para o psiquiatra.

(Dr Jaspe e D. Turmalina)

O Papel do Médico

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- P: Ela foi a benção [médica gastroenterologista]. Quebrou todos aquelesdiagnósticos que estavam sobre mim, e que eu dizia: não aceito, nãoaceito, vou encontrar um médico! Orei muito. Ela me escutou, examinou edisse que não acreditava em todos aqueles diagnósticos porque senão eunão teria chegado aos 63 anos![...] Olha, ela chegou e alegrou minha vida!(D. Esmeralda)

A congruência entre a prescrição médica e a crença do pacientesobre o conceito de saúde é elemento central para o seguimento dasorientações (BALLESTER, 2010).

O Papel do Médico

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“O médico que quiser desenvolver com o paciente uma relação terapêutica não pode demonstrar tédio ou impaciência, mesmo porque para muitos pacientes sua história pessoal só começa a ter algum significado com o aparecimento da doença” (ISMAEL, 2002, p. 67).

Da Ausculta Aplicada a Escuta Implicada

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Capacidade Empática

- M: Você disse que está precisando tomar decisões importantes e difíceis esta semana, e foi por isso então que teve essa contratura. Você está conseguindo dividir essas dúvidas e decisões com alguém? [...] E o seu marido nessa situação? Também participa?

- P: [...] Deixo ele fora disso e pego essas pancadas todas prá mim. [...] Eu fico entre a cruz e a espada porque eu estou participando de uma coisa contra a minha vontade, [...] Eu procuro as pessoas para falar, mas não as que vão me botar para baixo. Procuro ver a pessoa mais forte, que receba melhor. [...] Uma pessoa que possa me dizer uma palavra boa.

(Dra Safira e D. Ametista)16

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“Quando comecei meu tratamento há 18 meses, me sentia muito fragilizada fisicamente e extremamente exausta mental e emocionalmente.Durante estes meses de consulta, confirmei que muitas doenças são criadas por nós, pelos nossos medos, inseguranças e como defesa para não experimentarmos tudo que a vida nos oferece.

A confiança, o respeito e a cumplicidade que surgiu entre nós durante meu tratamento, foi fundamental para que os remédios receitados tenham propiciado um resultado muito mais eficaz pelo menos para mim. Acho que ainda tenho pontos que precisam de tratamento, mas tenho a certeza de que o conjunto do seu estudo, experiência e dedicação aos seus pacientes, fará com que eu possa conseguir mais equilíbrio e harmonia nos meus corpos físico, mental, emocional e espiritual. Muito obrigado por esta experiência.

A frase do Dalai Lama abaixo retrata bem o que o tratamento com você tem feito por mim . O carinho e atenção com que você me trata, me ensina a buscar minhas respostas, minha cura e a encontrar meu caminho.

G.R.V, em tratamento desde 201117

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“A escuta se faz nos interstícios, entre vozes e silêncios, entre forças e formas, exercitá-la é nosso desafio (in)terminável, (im)possível, posto que é nas

errâncias dos processos de formação que a escuta se abre como arte, como modo de compartilhamento de experiências” (HECKERT, 2007, p.212).

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A relação médico-paciente é sabidamente um dos determinantes da resolução dos problemas de saúde, e grande parte da efetividade médica resulta da satisfação das pessoas durante o processo de tratamento. Esta satisfação não se limita ao aspecto técnico-científico da medicina, mas inclui também a qualidade do vínculo, comunicação interpessoal e o modo como se estabelecem essas relações.

Luz, 1997

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Arte e ciência oferecem uma à outra um enorme poder e, nesse encantamento mútuo, deixaram muitas vezes de se perguntar: poder de quem, poder por que, poder para que? (AYRES, 2009, p.60)

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A homeopatia ao privilegiar a escuta do sujeito e acolher o seu modo singular de sofrer como elemento central de sua semiologia e de sua terapêutica, revela-se uma doutrina do vitalismo da palavra, da construção de sentido que uma narrativa é capaz de conferir às experiências humanas vitais, inacessível a qualquer procedimento tecnológico de diagnóstico e terapêutica, indispensável aos que cuidam da saúde em suas mais altas e nobres pretensões humanísticas.

Rosembaum, 2004

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Ao abrir-se a incorporação de subjetividades, a prática homeopática permite evoluir para construção de um espaço potencial de compreensão, de atribuição de significados e sentidos, capazes de resgatar a dimensão do cuidado na ação terapêutica respeitando a individual subjetividade.

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“Assim, tanto é certo que devemos escutar, principalmente, a descrição feita pelo paciente de seus sofrimentos e sensações, e levarmos em conta especialmente as expressões com que ele tenta nos comunicar seus sofrimentos – pois as versões de seus amigos e acompanhantes são usualmente alteradas e erroneamente descritas; igualmente é certo, por outro lado, que em todas as doenças, mas especialmente nas crônicas, a investigação do quadro, completo e preciso, bem como de suas peculiaridades, requer cuidado, tato, conhecimento da natureza humana, prudência especial na investigação, e paciência no mais alto grau.”

Samuel Hahnemann, 1810

O Organon da Verdadeira Arte de Curar23

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O cuidado seria mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo; representaria uma atitude interativa de ocupação, preocupação, de responsabilização e envolvimento afetivo para consigo mesmo e para com o próximo .

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“O prognóstico e o curso de uma enfermidade pode estar determinando pela organização da relação médico-paciente.O fármaco mais utilizado e menos conhecido na prática médica é o próprio médico.”

Isaac León Luchina25

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“A responsabilidade do médico é ajudar o paciente a buscar dentro e fora de si as condições para iniciar uma vida diferente que se situa além da patologia.”

Minerva, 200426

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Ser útil e não prejudicar.

Estar para o outro, semelhante na certeza da carne e na promessa do espírito.

Receber a missão de ser e estar para o outro em qualquer hora ou lugar.

Honrar o compromisso assumido e na vocação da cura pela compaixão instruído,

Observando isento de preconceitos a dor de um seu irmão adoecido.

Minimizar o sofrimento de ser humano, ser faltante e desvalido

Enlaçando no olhar que acolhe, o aflito, o agonizante, o oprimido.

Ouvir com o coração, a voz do corpo em sua dinâmica essência

Percebendo em cada caso único e singular, o digno de curar.

Alcançar os mais altos fins de sua existência

Testemunhando na mágica energia do encontro, os milagres e mistérios da vida.

Amar intensa e permanentemente, com devoção e sabedoria, o sacro ofício da Medicina.

Denise Espiú[email protected]

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