A CONTRIBUIÇÃO DO TREINAMENTO INTERVALADO EM NATAÇÃO...

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PATRICIA ALVES DE ALMEIDA A CONTRIBUIÇÃO DO TREINAMENTO INTERVALADO EM NATAÇÃO ADAPTADA NA PROMOÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DE INDIVÍDUOS COM LESÃO MEDULAR Dissertação apresentada à Universidade de Franca, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Promoção de Saúde. Orientador: Prof. Dr. Cassiano Merussi Neiva. Co-orientadora: Profa. Dra. Rosalina Carvalho da Silva. FRANCA 2009

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PATRICIA ALVES DE ALMEIDA

A CONTRIBUIÇÃO DO TREINAMENTO INTERVALADO EM NATAÇÃO ADAPTADA NA PROMOÇÃO DE SAÚDE E

QUALIDADE DE VIDA DE INDIVÍDUOS COM LESÃO MEDULAR

Dissertação apresentada à Universidade de Franca, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Promoção de Saúde. Orientador: Prof. Dr. Cassiano Merussi Neiva. Co-orientadora: Profa. Dra. Rosalina Carvalho da Silva.

FRANCA 2009

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DEDICO: este trabalho as duas pessoas mais importantes da minha vida, Rafaela e Isabela, aos meus pais e a todos aqueles profissionais que atuam na promoção de saúde de pessoas com deficiência física.

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente, agradeço a Deus pelas oportunidades a cada dia de transformação e de conhecimento, e por ter colocado em meu caminho pessoas tão especiais, sem as quais eu não teria cumprido essa fase importante da minha vida. Ao meu orientador Prof. Dr. Cassiano Merussi Neiva, a quem eu aprendi a admirar, não só pelo brilhante professor que é, mas também como pessoa, à qual serei eternamente grata por ter me proporcionado a oportunidade de desenvolver minha pesquisa em Ribeirão Preto; A minha co-orientadora Profa. Dra. Rosalina Carvalho da Silva, pela inestimável colaboração e disponibilidade na orientação da parte qualitativa deste estudo; À Profa. Dra. Maria Georgina Marques Tonello, pelo estímulo e incentivo profissional e, principalmente, por ter me direcionado para este Mestrado em Promoção de Saúde; À Profa. Dra. Elizabeth de Mattos, pelo exemplo como profissional da área de Esporte Adaptado e pelas valiosas sugestões; Aos professores de estatística, Prof. Ms. Sérgio Arthur Campos e Prof. Dr. José Eduardo Zaia, pela ajuda na análise estatística e pela paciência nos momentos de dúvidas; À fisioterapeuta Valéria R. C. Barbosa, quem me encaminhou os voluntários para a pesquisa e se tornou uma dedicada amiga de trabalho; Ao Prof. Edson E. Pegrussi, professor de natação responsável pela piscina na qual desenvolvi o estudo, pela disponibilidade e apoio durante todo o projeto de natação; Ao estagiário de natação Gabriel M. Fernandes, a quem eu muitas vezes me referia como “meu anjo Gabriel”, pela ajuda constante na coleta de dados; Às secretárias, Renata e Mila, sempre bem humoradas e prestativas, pelo inestimável auxílio com todos voluntários do estudo; A todos aqueles profissionais que, em algum momento, colaboraram com a concretização deste trabalho, em especial, a Profa. Dra. Mônica A. Morraye e ao Prof. Matheus C. Dias, pela atenção e apoio; A psicóloga Edna Cursino, pela coordenação do grupo focal e auxílio na parte qualitativa da pesquisa; Aos meus pais, pela minha formação, por terem me dado tudo o que julgaram ser o melhor possível e por estarem ao meu lado em todas as situações;

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Às minhas filhas, pela paciência e compreensão quando eu ficava horas no computador trabalhando na minha dissertação; À CAPES, pela bolsa de estudo, cujo apoio financeiro foi fundamental para a realização deste estudo. Enfim, um agradecimento muito especial e sincero a cada um dos voluntários. Atores principais desta pesquisa: uns são hoje meus amigos, outros nos falamos sempre e todos ficaram com carinho na minha lembrança.

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A pior deficiência é a deficiência da alienação, do silêncio, que leva os membros de uma sociedade que tem olhos, ouvidos, cérebro em perfeitas condições, enfim corpos biologicamente perfeitos, a não verem, a não ouvirem, a não entenderem e nem pensarem nas necessidades dos seres humanos.

(Extraído do livro “Para além do Corpo Deficiente – Histórias de Vida” de Roberta Gaio)

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RESUMO

ALMEIDA, Patricia Alves de. A contribuição do treinamento intervalado em natação adaptada na promoção de saúde e qualidade de vida de indivíduos com lesão medular. 2009. 170 f. Dissertação de Mestrado em Promoção de Saúde – Universidade de Franca, Franca. Devido à incidência de problemas sociais, como a violência urbana, acidentes automobilísticos e outros, aumenta a cada dia o número de pessoas com deficiência física decorrente de lesão na medula espinhal. A predisposição desses indivíduos à condição de sedentarismo, a doenças cardiovasculares e ao isolamento social prejudica profundamente sua qualidade de vida. Dessa forma, o objetivo do estudo foi verificar a influência de um programa de natação adaptada, em curto período de tempo, na contribuição da melhoria da saúde e da qualidade de vida dessa população. Participaram do estudo 17 indivíduos com lesão medular divididos em dois grupos: experimental (iniciantes em natação) e controle (sedentários). Os sujeitos do grupo experimental foram avaliados e comparados com os do grupo controle, antes e após a realização de um protocolo de treinamento intervalado de natação adaptada, com algumas medidas antropométricas (massa corporal, IMC, circunferências do braço e do abdômen, dobras cutâneas tricipital e supra-ilíaca) e bioquímicas (glicemia, colesterol total, HDL-colesterol, LDL-colesterol e triglicérides). Além disso, o grupo experimental foi avaliado, nas situações pré e pós-treinamento, com relação ao estado de condicionamento físico e a percepção da qualidade de vida, saúde e benefícios do programa de natação. Os resultados obtidos demonstraram que no grupo experimental houve diminuição do tecido adiposo dos braços e da região abdominal, aumento do tecido muscular dos membros superiores e aumento na dosagem de HDL-colesterol, evidenciando uma melhora na fase pós-condicionamento, o que não ocorreu no grupo controle. Já com relação às demais variáveis estudadas o protocolo não promoveu alterações significativas. Em relação à análise do condicionamento físico, os resultados revelados pelo teste de esforço com a utilização da Escala de Borg constataram a eficiência do protocolo de treinamento em elevar a capacidade de deslocamento com a braçada do nado peito e melhorar significativamente (p<0,001) a função cardiorrespiratória. Os resultados apresentados no questionário de qualidade de vida WHOQOL-bref, após o programa de treinamento, demonstraram melhora significativa (p<0,05) tanto no domínio relações sociais quanto na qualidade de vida global. Através da utilização de métodos qualitativos para avaliar a percepção dos benefícios do programa de natação, foi constatado que este proporciona não só benefícios físicos, mas também em relação aos aspectos sociais e psicológicos desses indivíduos. Concluímos com o estudo que a combinação de instrumentos de coleta de dados quantitativo e qualitativo possibilitou-nos inferir que a prática regular de um protocolo de treinamento físico pode contribuir para promoção de saúde e qualidade de vida de indivíduos com lesão medular. Palavras-chave: lesão medular; natação; treinamento intervalado; promoção de saúde; qualidade de vida.

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ABSTRACT

ALMEIDA, Patricia Alves de. The Contribution of Swimming Interval Training to Health Promotion and Quality of Life of Spinal Cord Injury Individuals. 2009. 170 f. Dissertação de Mestrado em Promoção de Saúde – Universidade de Franca, Franca.

Due to the incidence of social problems such as urban violence and car accidents, among others, the number of people with disabilities resulting from spinal cord injury is ever growing. The fact that such individuals tend to lead sedentary lifestyles, develop coronary heart diseases, and be socially isolated deeply affects their quality of life negatively. Thus, the goal of this study was to assess the impact of an adapted short term swimming program, on the quality of life of this population. Seventeen SCI subjects participated in the study, divided into two groups: experimental (beginners in swimming) and control (sedentary). The subjects in the experimental group were assessed and compared to those in the control group before and after an adapted swimming interval training protocol through some anthropometric (body mass, BMI, arm and waist circumference measures, and supra-iliac and triciptal cutaneous folds) and biochemical (blood sugar, total cholesterol, HDL Cholesterol and LDL cholesterol levels, and triglycerides level) measures. Furthermore, the former group was assessed before and after the swimming training in relation to their physical fitness and quality of life perception, health and benefits of the swimming program. The results obtained showed that there was a reduction of fatty tissue in the arms and abdominal region, an increase of muscular tissue in the upper limbs, and increased HDL cholesterol level-an evident improvement in the post training stage, which did not occur in the control group. However, the training protocol did not influence significantly the other variables studied. Regarding the analysis of physical fitness, the results revealed through the Borg scale in endurance test showed the efficacy of the training protocol to increase the ability to move by breast stroke and significantly (p<0,001) improve cardio respiratory functions. The results from the WHOQOL-bref quality of life questionnaire, after the training program, presented a significant improvement (p<0, 05) both in social relations and in global quality of life. By employing quantitative methods to assess the perception of benefits from the program, we noticed that it did not only provide physical benefits but also social and psychological ones as long as SCI individuals are concerned. In conclusion, through this study using a combination of tools for qualitative and quantitative data collection we could infer that doing a regular physical training protocol can contribute to health promotion and quality of life in SCI individuals.

Key Words: Spinal, cord injury, interval training, health promotion, quality of life.

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LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

ACSM: American College of Sports Medicine

ASIA: American Spinal Injury Association

ATP: Trifosfato de Adenosina

bpm: Batimentos por minuto

CA: Circunferência Abdominal

CB: Circunferência do Braço

CID-10: Código Internacional de Doenças

CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

Coord: Coordenadora do Grupo Focal

CP: Fosfato de Creatina

CT: Colesterol Total

CV: Coeficiente de Variação

DP: Desvio Padrão

DSI: Dobra Cutânea Supra-Ilíaca

DT: Dobra Cutânea Tricipital

FC: Frequência Cardíaca

GC: Grupo Controle

GE: Grupo Experimental

GLI: Glicemia

HDL: Fração Colesterol-HDL (lipoproteína de alta densidade)

IMC: Índice de Massa Corporal

IPE: Índice de Percepção de Esforço

Kg: Kilos

LDL: Fração Colesterol-LDL (lipoproteína de baixa densidade)

LM: Lesão Medular

m: Metros

m²: Metro ao quadrado

mg/dl: Miligramas por decilitros

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mm: Milímetros

OMS: Organização Mundial de Saúde

Q1: Questão genérica sobre qualidade de vida do questionário WHOQOL- bref Q2: Questão genérica sobre saúde do questionário WHOQOL-bref

QV: Qualidade de Vida

PDF: Pessoas com Deficiência Física

p: Probabilidade de erro tipo 1

r: Coeficiente de Correlação

s: Segundos

S: Classificação funcional da natação para os nados livre, costas e borboleta SB: Classificação funcional da natação para o nado peito

SM: Síndrome Metabólica

TC: Treinamento Contínuo

TI: Treinamento Intervalado

TRI: Triglycerides

VO2 Volume de Oxigênio

WHOQOL- bref: Questionnaire World Health Organization Quality of Life Abbreviated

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Casuística do Grupo Experimental Tabela 2 – Casuística do Grupo Controle Tabela 3 – Distribuição de freqüência dos sujeitos do GC e do CE de acordo com algumas características gerais verificadas na Anamnese Tabela 4 – Dados Antropométricos do Grupo Controle Tabela 5 – Dados Antropométricos do Grupo Experimental Tabela 6 – Coeficiente de Variação dos dados Antropométricos do GC e do GE Tabela 7 – Média, desvio padrão e significância estatística das Variáveis Antropométricas no GC e no GE, nas fases de avaliação e reavaliação Tabela 8 – Classificação da amostra para o IMC Tabela 9 – Matriz dos coeficientes de correlação de Pearson e seus respectivos níveis de significância dos dados antropométricos para o GE Tabela 10 – Concentração plasmática das variáveis bioquímicas estudadas no GC Tabela 11 – Concentração plasmática das variáveis bioquímicas estudadas no GE Tabela 12 – Número de indivíduos que apresentou valores fora do limite de normalidade para as variáveis bioquímicas estudadas em ambos os grupos Tabela 13 – Comparação das médias e desvio padrão da análise bioquímica do GC e do GE Tabela 14 – Valores individuais, variações, médias e desvio padrão das variáveis no 1º e no 2º Teste de Esforço no GE Tabela 15 – Valores individuais, médias e desvio padrão da FC e da Escala de Borg obtidos no Teste de Esforço Tabela 16 - Resultados do WHOQOL-bref do Grupo Experimental

65 66 88 89 89 90 91 92 94 95 96 97 99 101 104 109

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LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS

Figura 1 – Regiões da coluna vertebral. Figura 2 - Posicionamento da cadeira em cima da balança. Figura 3 - Medida da circunferência do braço. Figura 4 - Ponto de medida da dobra triciptal. Figura 5 - Colete de Flutuação Figura 6 - Escala de Percepção Subjetiva de Esforço. Figura 7 - Braçada do nado peito. Figura 8 - Braçada no nado costas. Gráfico 1 – Comparação da distância média (m) percorrida nos testes de avaliação do condicionamento físico. Gráfico 2 – Comparação do tempo médio (s) de duração nos testes de avaliação do condicionamento físico. Gráfico 3 - Comparação dos resultados médios obtidos na Escala de Borg nos testes de avaliação do condicionamento físico.

22 69 70 71 71 72 74 74 102 103 104

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................14

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................16

1 REVISÃO DE LITERATURA

1.1 DEFICIÊNCIA FÍSICA

1.1.1 Terminologia sobre deficiência.....................................................................................19 1.1.2 Definição.......................................................................................................................20

1.2 LESÃO MEDULAR

1.2.1 Conceito e Anatomia ....................................................................................................21 1.2.2 Etiologia e Incidência....................................................................................................23 1.2.3 Classificação Funcional................................................................................................24 1.2.4 Classificação Neurológica ............................................................................................25 1.2.5 Classificação Clínica.....................................................................................................26 1.2.6 Classificação Esportiva.................................................................................................26 1.2.7 Significado Funcional do Nível de Lesão Medular.......................................................28 1.2.8 Complicações decorrentes da Lesão Medular ..............................................................30

1.3 SÍNDROME METABÓLICA.......................................................................................36

1.4 EXERCÍCIO FÍSICO E PROMOÇÃO DE SAÚDE PARA PDF................................38

1.5 CONDICIONAMENTO FÍSICO..................................................................................40

1.6 TREINAMENTO INTERVALADO............................................................................42

1.7 SISTEMAS ENERGÉTICOS AERÓBIO E ANAERÓBIO .......................................44

1.8 ANTROPOMETRIA E COMPOSIÇÃO CORPORAL...............................................46

1.9 NATAÇÃO ADAPTADA

1.9.1 Fase Inicial de Aprendizagem da Natação....................................................................50 1.9.2 Planejamento e Objetivos.............................................................................................51 1.9.3 Benefícios da Prática da Natação aos Indivíduos com Lesão Medular........................53

1.10 PROMOÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA

1.10.1 Conceitos.......................................................................................................................55 1.10.2 WHOQOL-bref – Instrumento para Avaliar a Qualidade de Vida ..............................57 1.11 AJUSTAMENTO PSICOSSOCIAL 1.11.1 Fase de Reabilitação......................................................................................................60 1.11.2 A contribuição do Exercício Físico e do Esporte..........................................................61

2 OBJETIVOS................................................................................................................63

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3 METODOLOGIA

3.1 AMOSTRA...................................................................................................................64

3.2 DIVISÃO DOS GRUPOS AMOSTRAIS.....................................................................65

3.3 LOCAL..........................................................................................................................66

3.4 PROCEDIMENTOS PARA OS OBJETIVOS 1 e 2....................................................66

3.4.1 Bioquímica Sangüínea...................................................................................................67 3.4.2 Antropometria...............................................................................................................68 3.4.3 Adaptação ao meio líquido............................................................................................71 3.4.4 Teste de Esforço............................................................................................................71 3.4.5 Protocolo de Treinamento.............................................................................................73

3.5 PROCEDIMENTOS PARA OS OBJETIVOS 3 a 5....................................................75

3.5.1 Questionário WHOQOL-bref........................................................................................75 3.5.2 Abordagem Metodológica Qualitativa..........................................................................76 3.5.3 Entrevista com questão aberta.......................................................................................78 3.5.3.1Procedimentos para a coleta de dados da entrevista......................................................78 3.5.4 Grupo Focal..................................................................................................................79 3.5.4.1Procedimentos para a coleta de dados do grupo focal...................................................80

4 LIMITAÇÕES DO ESTUDO....................................................................................81

5 ANÁLISE ESTATÍSTICA.........................................................................................83

6 ANÁLISE QUALITATIVA.......................................................................................85

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO PARA OS OBJETIVOS 1 e 2

7.1 ANAMNESE.................................................................................................................87

7.2 ANTROPOMETRIA.....................................................................................................88

7.3 ANÁLISE BIOQUÍMICA............................................................................................95

7.4 ESTADO DE CONDICIONAMENTO FÍSICO.........................................................100

8 RESULTADOS E DISCUSSÃO PARA OS OBJETIVOS 3 a 5

8.1 QUESTIONÁRIO WHOQOL-BREF.........................................................................108

8.2 CATEGORIZAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE.................................112

8.3 CATEGORIZAÇÃO DOS BENEFÍCIOS DA NATAÇÃO......................................120

CONCLUSÕES.....................................................................................................................127

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................129

REFERÊNCIAS....................................................................................................................130

ANEXOS................................................................................................................................144

APÊNDICES..........................................................................................................................150

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APRESENTAÇÃO

O meu primeiro contato com pessoas que apresentam algum tipo de deficiência física

foi em um estágio em natação adaptada que realizei na Escola de Educação Física e Esporte

da Universidade de São Paulo. Na época, eu era formada em Psicologia e cursava o 2º ano de

Educação Física. Estava procurando um sentido diferente para minha profissão quando fiquei

sabendo desse trabalho coordenado pela Professora Dra. Elizabeth de Mattos, hoje

denominado Natação Inclusiva.

Durante oito meses de estágio, pude entender um pouco a importância da prática da

natação para aqueles indivíduos com as mais variadas dificuldades. Estas não se restringiam

apenas à imobilidade ou à falta de algum membro, nem a movimentos descoordenados e

imprecisos. As dificuldades eram, sobretudo, decorrentes da baixa auto-estima e da falta de

oportunidade de participação social.

Percebi que as barreiras arquitetônicas somadas às barreiras impostas pelo

preconceito prejudicavam profundamente a qualidade de vida de indivíduos com deficiência

física.

Finalizei a graduação com o Trabalho de Conclusão de Curso sobre os benefícios da

natação aos indivíduos com lesão medular. Quando ingressei no mestrado em Promoção de

Saúde tinha como meta pesquisar mais profundamente sobre esse tema e implantar em

Ribeirão Preto um programa de natação para pessoas com deficiência física nos mesmos

moldes que o Programa de Natação Inclusiva.

O grande desafio da minha pesquisa foi “criar” um grupo que não existia, ou seja,

reunir o maior número possível de pessoas com lesão medular para praticar natação durante

várias semanas. Foram meses recrutando sujeitos por meio de panfletos espalhados pela

cidade e por encaminhamentos da Clínica de Fisioterapia da Unaerp e da Terapia Ocupacional

do Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas.

O grupo de voluntários para a pesquisa se formou e, o que já era previsto, a falta de

transporte coletivo adaptado à cadeira de rodas se tornou o principal obstáculo para

viabilização do estudo. Depois de várias tentativas frustradas para conseguir ajuda da

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prefeitura com relação a essa questão, resolvi contratar uma van para fazer o transporte dos

sujeitos todos os dias de avaliação e treinamento da natação.

Ao contrário das dificuldades iniciais, a fase de coleta de dados contou com a

colaboração de vários profissionais, em especial do Prof. Dr. Cassiano M. Neiva, sem o qual

não seria possível realizar esse trabalho, não só por sua competência como orientador, mas

pela oportunidade que ofereceu a todos nós, sujeitos e profissionais, de desenvolvermos a

pesquisa em Ribeirão Preto.

No transcorrer do programa de natação, dei conta da proporção que aquela atividade

estava tomando na vida de cada um dos sujeitos. A convivência semanal facilitou a criação de

vínculos entre os componentes do grupo que viam no esporte uma oportunidade de se

relacionarem, de saírem de uma situação de isolamento social para outra onde se sentiam

aceitos e capazes.

O estudo terminou com o início da época de frio e chuva. Depois de alguns meses, uns

voltaram a fazer natação por conta própria, outros não conseguiram transporte para continuar

indo até a Unaerp e dois sujeitos que não interromperam o treinamento, mesmo após o

término do programa, conquistaram medalhas nos Jogos Regionais de Jaboticabal e Jogos

Abertos de Piracicaba de 2008.

Esta pesquisa significou pra mim não só a possibilidade de obtenção do título de

mestre, mas, acima de tudo, a possibilidade de aprender que, em uma pesquisa experimental

como esta, interferimos na vida das pessoas envolvidas no estudo. O sujeito não é só “um

sujeito” de uma pesquisa, ele tem uma história, expectativas e receios. E nós, pesquisadores,

em algum momento, fazemos parte dessa história e podemos proporcionar, por meio de uma

intervenção, novas experiências, novas formas de enfrentar a realidade com novas esperanças.

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INTRODUÇÃO

Atualmente, o conceito de Promoção de Saúde vem sendo desenvolvido dentro de uma

perspectiva de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e

saúde, incluindo mais participação no controle desse processo. É essencial reorientar os

serviços de saúde e os recursos disponíveis para focalizar as necessidades globais do

indivíduo, como pessoa integral que é, preparando-o para as diversas fases da existência, o

que inclui o enfrentamento das doenças crônicas e causas externas (CARTA DE OTTAWA,

1986).

Devido à incidência de problemas sociais, como a violência urbana, acidentes

automobilísticos e outros, aumenta a cada dia o número de pessoas com deficiência física

decorrente de lesão na medula espinhal. A lesão medular é uma grave síndrome neurológica

caracterizada por comprometimentos da motricidade, sensibilidade e distúrbios

neurovegetativos dos segmentos do corpo localizados abaixo do nível da lesão (MENDES e

ARAÚJO, 2006). A redução das possibilidades de inserção no mercado de trabalho, a

predisposição desses indivíduos à condição de sedentarismo e perda de vitalidade prejudica

profundamente sua qualidade de vida (SILVA et al., 2004).

Segundo Kocina (1997), a ausência de exercícios físicos gerada pela imobilização dos

membros inferiores conduz a mudanças na composição corporal, tais como: redução do

conteúdo de mineral ósseo, da massa muscular esquelética e da água corporal

concomitantemente com o aumento da gordura corporal. Essas mudanças na composição

corporal geralmente são associadas com o desequilíbrio da taxa metabólica (redução da

concentração plasmática de HDL, aumento do colesterol total e de LDL; resistência à

insulina) que somados ao estado sedentário podem resultar em obesidade, diabetes mellitus e

doenças cardiovasculares.

Dentre as patologias com alta prevalência na população de deficientes físicos,

conforme Haddad (1997) coloca, estão as doenças cardiovasculares e outras associadas ao

estado de inatividade física que se configura na Síndrome Metabólica. Segundo Ciolac e

Guimarães (2004, p. 319), a síndrome metabólica “é caracterizada pelo agrupamento de

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fatores de risco cardiovascular como hipertensão arterial, resistência à insulina, intolerância à

glicose/diabetes tipo 2, obesidade central e dislipidemia”.

De acordo com Vall et al. (2006), centros de pesquisa do mundo inteiro vêm

realizando estudos sobre qualidade de vida em diversas condições, com o intuito de promover

intervenções que venham ao encontro a sua melhoria, fato este que se estende aos indivíduos

com lesão medular.

Assim, Silva et al. (2005) afirmam que a prática da natação pode ser usada como uma

estratégia de redução do peso corporal, auxiliando na prevenção de problemas decorrentes do

excesso de peso, combatendo a obesidade que é um obstáculo à conquista da autonomia e da

melhora da qualidade de vida. Além dos benefícios físicos, Hanson et al. 2001 destacam os

efeitos positivos da prática regular de exercícios nos aspectos sociais e psicológicos, à medida

que contribui para a melhora da integração social e do estado mental de indivíduos com lesão

medular.

A natação é considerada por vários autores como um exercício que traz muitos

benefícios aos indivíduos com deficiência física, em especial aos paraplégicos, na medida em

que lhes propicia o abandono temporário de próteses, cadeira de rodas e muletas, e,

consequentemente, a vivência da liberdade de movimento. Em decorrência disso, a natação

apresenta um valor psicológico positivo ao propiciar essa movimentação sem entraves

(PAESLACK, 1978; MEIER, 1981; YMCA, 1987; ADAMS et al.,1985; MAUERBERG-

deCASTRO, 2005; GORGATTI e TEIXEIRA, 2008).

Entre os métodos mais comuns de treinamento da natação destacam-se os métodos:

contínuo, intervalado e fartlek. O treinamento intervalado, segundo McArdle et al. (2003), é o

programa de exercícios em que ocorre um espaçamento dos períodos de trabalho e de

recuperação. Wilmore e Costill (2001) colocam que o método intervalado pode produzir

praticamente os mesmos benefícios que um treinamento contínuo, tendo a vantagem de não

ser considerado monótono como o treinamento contínuo, devido às mudanças de intensidade e

de tempo de trabalho/recuperação.

Além disso, Sabia (2003) complementa que uma das grandes vantagens do

treinamento intervalado sobre o treinamento contínuo reside no fato de o indivíduo conseguir

realizar intermitentemente a mesma quantidade de trabalho e com a mesma intensidade como

se o tivesse feito continuamente, porém o grau de fadiga após o exercício intermitente seria

consideravelmente menor. Fato este que o considera mais adequado para indivíduos iniciantes

em programas de exercícios físicos, pois o mesmo deve ser de natureza progressiva e não

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incluir rapidamente um alto dispêndio de energia para não causar resistência ao treinamento

por parte dos praticantes.

Qualidade de vida, segundo Vall et al. (2006), é uma expressão de natureza muito

debatida entre pesquisadores de diferentes áreas e ocupa cada vez mais espaço na política da

saúde e da população. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (THE WHOQOL

GROUP, 1995), qualidade de vida é a percepção do indivíduo em relação a sua posição na

vida, no contexto da cultura e do sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus

objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Essa definição pressupõe seis domínios

principais: saúde física, estado psicológico, níveis de independência, relacionamento social,

características ambientais e padrão espiritual.

Assim, a atual concepção de saúde engloba a concepção qualidade de vida, não se

atendo simplesmente a ausência de doença. A saúde deixa de ser um estado estático,

biologicamente definido, para ser compreendida como um estado dinâmico, socialmente

produzido. Nesse marco, uma intervenção nesse sentido visa não apenas a diminuir o risco de

doenças, mas a aumentar as possibilidades de saúde e de assegurar meios para que ampliem a

percepção de qualidade de vida (BUSS, 2000).

Shephard (1991) ressalta que se a percepção sobre a saúde melhora, com a redução no

risco de muitas doenças crônicas, há mais probabilidade de aumentar a produtividade de

indivíduos com deficiência física. Assim, o investimento em programas de atividades físicas

que promovam a saúde para essa população tem o potencial de gerar menor custo para o

indivíduo, para a sociedade e para a saúde pública.

Partindo da premissa que a melhora do condicionamento físico contribui para

promoção de saúde e qualidade de vida de indivíduos com lesão medular, conforme sugere a

literatura (CHATARD et al., 1992 ; JANSSEN et al., 1997; DURÁN et al., 2001; JANSSEN

et al., 2002; JACOBS e NASH, 2004; SILVA et al., 2004; BIZZARINI et al., 2005;

CAPOOR e STEIN, 2005; SILVA et al., 2005; ZOELLER et al., 2005; HAISMA et al., 2006;

LAVIS e SCELZA, 2007), propomos elaborar um programa de natação para verificar se um

treinamento intervalado, em curto período de tempo, é capaz de promover em indivíduos com

lesão medular, iniciantes em natação, a melhora do condicionamento físico, de algumas

variáveis antropométricas e bioquímicas, e, conseqüentemente, o aumento da percepção de

saúde e qualidade de vida dos mesmos.

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1 REVISÃO DE LITERATURA

1.1 DEFICIÊNCIA FÍSICA

1.1.1Terminologia sobre deficiência

Não existe um único termo correto de como chamar o “deficiente físico”. Em cada

época e cultura, utilizam-se termos cujo significado seja compatível com os valores vigentes

de determinada sociedade, enquanto esta evolui em seu relacionamento com as pessoas que

possuem este ou aquele tipo de deficiência. Aquele que tinha deficiência era tido como

socialmente inútil, um peso morto para a sociedade, um fardo para a família, alguém sem

valor profissional. Termos como “aleijado, defeituoso, incapacitado e inválido” eram

utilizados com frequência até a década de 80 (Sassaki, 2005).

A partir de 1981, por influência do Ano Internacional das Pessoas Deficientes,

começa-se a escrever e falar pela primeira vez a expressão “pessoa deficiente”. O acréscimo

da palavra pessoa, passando o vocábulo deficiente para a função de adjetivo, foi uma grande

novidade na época. Aos poucos, entrou em uso a expressão “pessoa portadora de deficiência”,

frequentemente, reduzida para portadores de deficiência (Sassaki, 2005).

Por volta da metade da década de 1990, entrou em uso a expressão “pessoas com

deficiência”, que permanece até os dias de hoje. Atualmente, em nossa sociedade, existem

alguns valores agregados à pessoa com deficiência como o “empoderamento” (uso do poder

pessoal para fazer escolhas, tomar decisões e assumir o controle da situação de cada um) e a

responsabilidade de contribuir com seus talentos para mudar a sociedade rumo à inclusão de

todas as pessoas, com ou sem deficiência (Sassaki, 2005).

O reflexo dessa mudança de paradigma encontra-se no próprio modelo de

classificação das deficiências da Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com

Battistella e Brito (2002), em 2001, foi elaborado pela OMS a Classificação Internacional de

Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF, antigamente CIDID - Classificação

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Internacional de Deficiências, Incapacidade e Desvantagens) com a finalidade de registrar e

organizar uma ampla gama de informações relacionadas a diferentes estados de saúde.

A CIF complementa, com suas informações de funcionalidade, a CID-10 (Código

Internacional de Doenças), que apenas classifica e registra a enfermidade sem avaliar o

impacto da doença sobre o indivíduo. Segundo a OMS, a CID-10 e a CIF são

complementares, pois a informação sobre o diagnóstico acrescido da funcionalidade fornece

um quadro mais amplo sobre a saúde do indivíduo ou populações (BATTISTELLA e BRITO,

2002).

Farias e Buchalla (2005) colocam que o termo funcionalidade substitui termos como

incapacidade, deficiência, invalidez e desvantagem, e amplia seu significado para incluir

experiências positivas registrando a potencialidade da pessoa com deficiência. A CIF mede a

capacidade desses indivíduos em superar diferentes níveis de dificuldades relacionadas às

tarefas do cotidiano. Ela não foi criada apenas para registrar a funcionalidade relacionada à

incapacidade física ou sensorial, mas também, para registrar parte das limitações de caráter

emocional e social, descrevendo o impacto transitório ou definitivo decorrente das

enfermidades.

Segundo esse modelo, a incapacidade é resultante da interação entre a disfunção

apresentada pelo indivíduo (seja orgânica e/ou da estrutura do corpo), a limitação de suas

atividades e a restrição na participação social, e dos fatores ambientais que podem atuar como

facilitadores ou barreiras para o desempenho dessas atividades e da participação na sociedade

(FARIAS e BUCHALLA, 2005).

A característica mais importante da CIF está na possibilidade de mensurar o impacto

da doença sobre o indivíduo, sobre seu meio ambiente e sua qualidade de vida (QV). Ou seja,

mede a QV pela funcionalidade e pela condição sociocultural em que o indivíduo está

inserido, constituindo assim um instrumento importante para avaliação das condições de vida

e para a promoção de políticas de inclusão social (FARIAS e BUCHALLA, 2005).

1.1.2 Definição

De acordo com o Decreto nº 5.296 de 2004, o Ministério da Saúde define como

deficiência física:

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... A alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções.

Mattos (1994) sugere a classificação quanto à natureza, ao tempo de duração e à

evolução dos distúrbios motores.

Quanto à natureza: ortopédicos – referem-se aos problemas dos músculos, ossos e/ou

articulações; neurológicos – referem-se às deteriorações ou lesões do sistema nervoso central,

como as lesões medulares, que podem ter origens diversas.

Quanto ao tempo de duração: congênitos ou adquiridos.

Quanto à evolução: progressivos (ex: esclerose múltipla, distrofia muscular),

permanentes (ex: paralisia cerebral, lesão medular) ou crônicos (ex: artrite).

A autora cita ainda alguns exemplos que podem levar à deficiência física: Espinha

Bífida, Amputação, Nanismo, Malformação Congênita, Osteogênese Imperfeita, Distrofia

Muscular, Poliomielite, Paralisia Cerebral, Acidente Vascular Cerebral, Lesões Medulares e

outros.

1.2 LESÃO MEDULAR

1.2.1 Conceito e Anatomia

A lesão na medula espinhal é uma grave síndrome incapacitante caracterizada pela

paralisia dos segmentos e déficit sensitivo, superficial e profundo, abaixo no nível lesionado,

pelas disfunções vasomotoras e alterações autonômicas, pelas alterações esfincterianas e pela

disfunção sexual (GREVE e CASTRO, 2001).

A coluna vertebral pode ser dividida em cinco regiões, segundo sua estrutura

anatômica e neurológica. Cada um dos segmentos dá origem a um par de nervos espinhais,

que fazem parte do sistema nervoso periférico. Regiões da coluna vertebral (Figura 1):

cervical (constituída por 7 vértebras), torácica (constituída por 12 vértebras), lombar

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(constituída por 5 vértebras), sacral (formada pela fusão de 5 vértebras) e coccígea (formada

pela fusão de 4 a 5 vértebras) (GRAY, 1988).

A coluna vertebral serve como duto e proteção da medula espinhal que se divide em:

medula cervical, dorsal, lombar e cauda equina (sacral). Da medula espinhal saem: 31 pares

de nervos, divididos em: 8 pares de nervos cervicais, 12 pares de nervos dorsais, 5 pares de

nervos lombares, 5 pares de nervos sacros e 1 par de nervos coccígeos. Os nervos espinhais

se constituem de uma raiz anterior (função motora) e outra posterior (função sensorial) que,

unidas, formam um tronco, cuja função é transmitir tanto impulsos sensitivos quanto motores.

Além dessas raízes, cada nervo espinhal tem uma raiz do simpático, com funções ligadas ao

sistema vegetativo (GUYTON, 2006).

Figura 1 – Regiões da coluna vertebral

A estrutura neurológica da medula espinhal permite a ela conduzir e transmitir

estímulos sensitivos e receber estímulos motores. A medula espinhal se constitui num centro

nervoso, pois nela também são elaborados vários atos reflexos, que asseguram o tônus

muscular, o trofismo, o controle dos esfíncteres (vesical e retal), as funções genitais e as

funções simpáticas. Com relação a esta última, é importante complementar que o sistema

nervoso autônomo, auxiliado por vários núcleos do tronco cerebral, regula as funções vitais

tais como: a regulação térmica, a respiração, a circulação sanguínea, a procriação, etc.

(GUYTON, 2006).

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O sistema nervoso autônomo é formado pelos nervos simpáticos e parassimpáticos.

Como as fibras do simpático têm sua origem nos cornos laterais da medula torácica e dos

segmentos superiores da coluna lombar (T1 a T2; L1 e L2), e as fibras do parassimpático têm

sua origem nos núcleos do tronco cerebral e na medula sacra, (S2, S3 e S4), estabelece-se uma

profunda relação entre as lesões da medula espinhal e as afecções do sistema nervoso

autônomo (GUYTON, 2006).

1.2.2 Etiologia e Incidência

Segundo Schmitz (2004), quanto à etiologia, as lesões da medula espinhal podem ser

basicamente divididas em duas categorias: lesão traumática e lesão não-traumática. A

primeira resulta de danos causados por algum evento traumático como, por exemplo, um

acidente automobilístico, uma queda ou um ferimento por arma de fogo. Conforme Palmer e

Toms (1988) relatam, o trauma é uma das causas mais comuns de lesão da medula espinhal,

podendo ocorrer tanto por compressão como por contusão.

As lesões de etiologias traumáticas, destacadas por Lianza et al. (2001), constituem

80% das lesões. Elas podem se originar de ferimentos penetrantes por faca ou bala, que são as

fraturas com deslocamento resultando numa transecção de medula, seccionando diretamente

os neurônios medulares. As fraturas-luxações, provocadas por acidentes de trânsito, mergulho

em águas rasas, esportes, quedas e acidentes de trabalho, são decorrentes principalmente de

esmagamento, hemorragia e edema.

Já as lesões não-traumáticas, que incidem sobre a população adulta, resultam

geralmente de uma doença ou influência patológica (SCHMITZ, 2004). Entre as causas não-

traumáticas de lesão (20%) na medula espinhal destacam-se as tumorais, as infecciosas (como

abscessos na medula espinhal e mielites, por exemplo), as vasculares (trombose e embolia), as

degenerativas (espondilose), malformações (como a mielomeningolcele, por exemplo) e

outras afecções como hérnias discais, estenose de canal e siringomielia (LIANZA et al.,

2001).

A lesão medular (LM) incide, sobretudo, em jovens de 18 a 40 anos, do sexo

masculino, sendo a principal etiologia traumática, causada por acidentes de trânsito,

ferimentos por arma de fogo e mergulhos (GREVE, 1999).

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Embora não se tenha dados nacionais sobre a incidência da LM, algumas pesquisas

são realizadas regionalmente. De acordo com achados de Mendes e Araújo (2006), 88% das

lesões pesquisadas ocorreram em decorrência de traumas e 12% foram de origem não-

traumática. Das lesões traumáticas, 36% foram causadas por acidente de trânsito, 32% dos

pacientes foram vítimas de projéteis de arma de fogo, 12% dos pacientes tiveram a lesão em

consequência de quedas e apenas 8% dos casos foram registrados por mergulho em água rasa.

Pesquisas da Rede Sarah (2000) realizadas em Brasília, no período de 1999 a 2000, os

acidentes de trânsito (38,5%) constituíram-se no principal evento gerador de lesões

medulares, cerebrais, ortopédicas e neurológicas, seguidos pelas quedas (15,6%) e em terceiro

lugar as agressões por arma de fogo (13,2%). No Hospital Sarah-Salvador, os acidentes de

trânsitos (38%) mantiveram o primeiro lugar de internação por causas externas, as agressões

por arma de fogo (27,5%) ocuparam a segunda posição, seguindo-se as quedas (21,6%).

1.2.3 Classificação Funcional

O dano da medula espinhal, quer seja resultante de acidente traumático ou doença,

pode produzir tetraplegia ou paraplegia, parcial ou completa, dependendo do nível em que

ocorreu a lesão.

As lesões medulares apresentam duas categorias funcionais: tetraplegia e paraplegia.

Na paraplegia ocorre a paralisia parcial ou completa do tronco, ou parte dele, e de ambos os

membros inferiores, como consequência de uma lesão na medula espinhal torácica ou lombar

ou nas raízes sacrais. A tetraplegia refere-se à paralisia, parcial ou completa dos quatro

membros e do tronco, inclusive dos músculos respiratórios, resultante de lesões na medula

cervical (SCHMITZ, 2004).

De acordo com Souza (1994), conforme o grau de comprometimento da lesão, fala-se

em paresia ou em paralisia. O termo paresia refere-se a um comprometimento parcial, no qual

o movimento fica apenas limitado ou fraco. O indivíduo apresenta, abaixo do nível de lesão,

um padrão abaixo do normal no que se refere à força muscular, à precisão e à amplitude do

movimento, e à resistência muscular localizada. Schmitz (2004) esclarece que, nesses casos,

algum tecido nervoso viável está passando pela região lesionada indo para segmentos mais

distais. O quadro clínico apresentado pelas lesões incompletas é imprevisível devido à mescla

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de funções sensitivas e motoras, abaixo do nível da lesão, com padrões variáveis de

recuperação.

Numa lesão completa, ocorre a paralisia, ou seja, todo o movimento é impossível.

Abaixo do nível de lesão, há uma perda da capacidade de contração muscular voluntária, por

interrupção funcional ou orgânica em um ponto qualquer da via motora, podendo ir do córtex

cerebral até o próprio músculo (SOUZA, 1994). Além da função motora, não há preservação

de nenhuma função sensitiva. A paralisia é causada por uma transecção completa, compressão

grave ou intensa deterioração vascular à medula. (SCHMITZ, 2004).

1.2.4 Classificação Neurológica

Greve e Castro (2001) esclarecem que a medula espinhal faz a comunicação das

informações motoras e sensitivas entre o cérebro e os órgãos periféricos efetores. Os axônios

dos neurônios sensitivos entram na medula, enquanto os axônios dos neurônios motores a

deixam através de raízes nervosas. Essas raízes são numeradas e nomeadas de acordo com o

forame vertebral através do qual penetram ou deixam a coluna. Cada raiz nervosa recebe

informações de áreas da pele (dermátomos) e inerva dois ou mais músculos, cujo conjunto

inervado por uma mesma raiz recebe o nome de miótomo. Dessa forma, a lesão na medula

espinhal altera essa comunicação, ou seja, altera a condução nervosa das informações

sensitivas e motoras através da área lesionada.

Para determinar de forma precisa e correta os níveis de lesão da medula espinhal, é

necessário que se tenha uma visão clara da função sensitivo-motora comprometida e

preservada do indivíduo lesionado. O exame neurológico para determinar os níveis

neurológicos, motor e sensitivo deve constar da análise dos pontos sensitivos (em cada um

dos 28 dermátonos à direita e à esquerda do corpo humano) e da força muscular (em 10

miótomos à direita e à esquerda).

O exame sensitivo é realizado por meio do teste de pontos-chave em cada um dos 28

dermátonos, do lado direito e do lado esquerdo, sob dois aspectos: sensibilidade tátil e

dolorosa. O resultado é classificado em uma escala de 3 pontos: 0 (inexistente); 1

(sensibilidade parcial ou alterada); 2 (normal); NT (não testável). No exame motor dos

músculos-chave em cada lado do corpo nos 10 miótomos, a escala é composta por graus: 0

(paralisia total); 1 (contração palpável ou visível); 2 (movimentação ativa sem a ação da força

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da gravidade); 3 (movimentação ativa contra a força da gravidade); 4 (movimentação ativa

contra uma resistência moderada); 5 (movimentação ativa normal, total amplitude de

movimento contra grande resistência); NT (não testável).

1.2.5 Classificação Clínica

A American Spinal Injury Association (ASIA, 1994) descreveu uma escala de

deficiência para a definição da extensão das lesões medulares, que se vale da avaliação

motora e sensitiva:

A - Lesão Completa: sem preservação sensitiva ou motora nos segmentos sacrais S4 e S5.

B - Lesão Incompleta: preservação sensitiva não-motora abaixo do nível neurológico até os

segmentos sacrais S4-S5.

C - Lesão Incompleta: preservação motora abaixo do nível neurológico, com a maioria dos

músculos-chave abaixo desse nível com grau menor que 3.

D - Lesão Incompleta: preservação motora abaixo do nível neurológico, com a maioria dos

músculos-chave abaixo desse nível com grau maior ou igual a 3.

E - Normal: funções motora e sensitiva normais.

1.2.6 Classificação Esportiva

Segundo o Comitê Paraolímpico Internacional, os atletas pertencem a seis grupos no

Movimento Paraolímpico: atletas com paralisia cerebral; atletas com LM; atletas com

amputação; atletas com deficiência visual; atletas com deficiência mental e “les autres” (inclui

todos os atletas com alguma deficiência de mobilidade não incluída nos outros grupos)

(INTERNATIONAL PARALYMPICS COMMITTEE, 2008a).

Cada modalidade esportiva tem um sistema de classificação que é definido de acordo

com as demandas motoras da mesma e fazem parte das regras de cada modalidade. Elas são

determinadas por uma variedade de processos, que podem incluir uma avaliação física, uma

avaliação técnica e observações dentro e fora de competição (INTERNATIONAL

PARALYMPICS COMMITTEE, 2008a).

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A natação adaptada tem sua classificação própria que é determinada pelo grau de

deficiência neurológica e de habilidade funcional do indivíduo. Os competidores com

disfunção no aparelho locomotor são classificados segundo suas capacidades para nadar cada

estilo (PÉREZ, 1994).

De acordo com o Comitê Paraolímpico Brasileiro (2008), o atleta é submetido à

equipe de classificação, que procederá a análise de resíduos musculares por meio de testes de

força muscular; mobilidade articular e testes motores (realizados dentro da água), em que vale

a regra de que quanto maior a deficiência, menor o número da classe.

As classes sempre começam com a letra S (swimming) e o atleta pode ter

classificações diferentes para o nado peito (SB) e o medley (SM). Para os nadadores com

limitações físico-motoras, as classes são categorizadas da seguinte forma: S1 a S10 / SB1 a

SB9 / SM1 a SM10 (COMITÊ PARAOLÍMPICO BRASILEIRO, 2008a). Nas provas medley

(SM), aplica-se a seguinte fórmula matemática: SM = (3xS + 1xSB) ÷ 4 (INTERNATIONAL

PARALYMPICS COMMITTEE, 2008b).

Exemplos de padrões motores da classificação funcional da natação (PENAFORT,

2001 apud PARAOLÍMPICOS DO FUTURO):

S1 – Lesão medular completa abaixo de C4/5, ou pólio comparada, ou paralisia cerebral quadriplégico severo e muito complicado;

S2 – Lesão medular completa abaixo de C6, ou pólio comparada, ou paralisia cerebral quadriplégico grave com grande limitação dos membros superiores;

S3 – Lesão medular completa abaixo de C7, ou lesão medular incompleta abaixo de C6, ou pólio comparada, ou amputação dos quatro membros;

S4 – Lesão medular completa abaixo de C8, ou lesão medular incompleta abaixo de C7, ou pólio comparada, ou amputação de três membros;

S5 – Lesão medular completa abaixo de T1-8, ou lesão medular incompleta abaixo de C8, ou pólio comparada, ou acondroplasia de até 130 cm com problemas de propulsão, ou paralisia cerebral de hemiplegia severa;

S6 – Lesão medular completa abaixo de T9-L1, ou pólio comparada, ou acondroplasia de até 130 cm, ou paralisia cerebral de hemiplegia moderada;

S7 – Lesão medular abaixo de L2-3, ou pólio comparada, ou amputação dupla abaixo dos cotovelos, ou amputação dupla acima do joelho e acima do cotovelo em lados opostos;

S8 – Lesão medular abaixo de L4-5, ou pólio comparada, ou amputação dupla acima dos joelhos, ou amputação dupla das mãos, ou paralisia cerebral de diplegia mínima;

S9 – Lesão medular na altura de S1-2, ou pólio com uma perna não funcional, ou amputação simples acima do joelho, ou amputação abaixo do cotovelo;

S10 – Síndrome da cauda eqüina, porém não é considerada paraplegia; pólio com prejuízo mínimo de membros inferiores, ou amputação dos dois pés, ou amputação simples de uma mão, ou restrição severa de uma das articulações coxofemoral.

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Padrões motores da classificação funcional do nado peito específica para indivíduos

com LM ((INTERNATIONAL PARALYMPICS COMMITTEE, 2008b):

SB1 - tetraplegia completa abaixo de C6.

SB2 - tetraplegia completa (C7) ou C6 incompleta.

SB3 - tetraplegia completa (C8) ou C7 incompleta, paraplegia completa (T1-T5).

SB4 - tetraplegia incompleta (C8), paraplegia completa (T6-T10).

SB5 - paraplegia completa (T11-L1).

SB6 - paraplegia completa (L2-L3).

SB7 - paraplegia completa (L4-L5).

SB8 - “walking paraplegia”, com o mínimo de envolvimento de membros.

SB9 - síndrome da cauda eqüina (S1-S2), porém não é considerada paraplegia.

SB10 - nenhuma lesão medular se enquadra nesta categoria.

1.2.7 Significado Funcional do Nível de Lesão Medular

Na elaboração de um programa de atividade física para pessoas com LM, é

imprescindível levar em consideração os grupos musculares funcionais e os não-funcionais

correspondentes ao nível da lesão. Winnick (2004) ressalta a importância do Educador Físico

conhecer os diversos sistemas de classificação das deficiências medulares. A classificação

médica se baseia no segmento da medula espinhal que foi lesionado, já as organizações

esportivas classificam os lesados segundo as capacidades de cada um, a fim de emparelhar

atletas com habilidades semelhantes nas competições.

Para melhor compreensão das complicações e do prognóstico da LM, a descrição do

prejuízo é baseada no nível funcional da perda motora e sensitiva, ao invés da localização

anatômica da lesão vertebral (FREED, 1994).

Gorgatti e Böhme (2008) acrescentam ainda que o impacto real da LM é melhor

compreendido na seguinte análise: Quais os músculos que ainda podem ser usados? Qual a

quantidade de força desses músculos? O que pode ser feito por esses músculos,

funcionalmente, em termos de movimentos e de habilidades motoras?

Na sequência, alguns grupos musculares inervados em diversos pontos-chave da

coluna vertebral, com implicações relacionadas a movimentos e capacidades preservadas

desse nível para cima:

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C1-C3: Segundo Greve (2001), lesões localizadas nesta região tornam os pacientes dependentes de respirador, embora Souza (1994) relate que lesões nas três primeiras vértebras cervicais provocam uma paralisia no nervo frênico, ocorrendo uma parada respiratória e, consequentemente, a morte.

C4: De acordo com Adams et al. (1985), os tetraplégicos apresentam boa função dos músculos esternocleidomastóideo, trapézio e músculos paraespinais superiores. A musculatura da cintura escapular é muito fraca. O indivíduo não apresenta nenhuma função nos membros superiores, no tronco e nos membros inferiores, sendo necessárias órteses para sustentar os membros superiores. Conforme Souza (1994) esclarece, as lesões de C4 a T2 resultam em limitação funcional do diafragma e demais músculos respiratórios, o que implica na redução do volume respiratório e, consequentemente, comprometimento do rendimento esportivo. Já as lesões medulares abaixo de T2 não apresentam este comprometimento. Em função disso, essas diferenças funcionais são consideradas na classificação desportiva.

C5 (músculo-chave = bíceps braquial): O indivíduo apresenta boa função dos rombóides, deltóides e dos principais músculos que fazem a rotação do ombro, apesar de eles serem apenas parcialmente inervados. A flexão do cotovelo é possível, desde que o bíceps e o braquirradial permaneçam parcialmente inervados. São possíveis algumas funções do ombro, com abdução. No punho e na mão não há nenhuma função muscular (ADAMS et al., 1985). O indivíduo pode iniciar na natação, como sugere Winnick (2004).

C6 (músculo-chave = extensor radial do carpo): Os músculos que realizam a rotação do ombro estão completamente inervados. É possível flexionar o cotovelo e há maior força para realizar a flexão e abdução do ombro, visto que os músculos peitorais estão preservados. O indivíduo possui também inervação de alguns músculos do punho (extensor radial do carpo), sendo possível uma discreta dorsiflexão do punho, o que lhe permite pegar objetos grandes e leves. O tetraplégico pode manipular objetos para fins de exercícios recreativos, como bilhar e golfe (ADAMS et al., 1985).

C7 (músculo-chave = tríceps braquial) – C8 (flexor comum profundo dos dedos): O tetraplégico que tem este segmento poupado apresenta função no tríceps, extensores e flexores dos dedos (a inervação varia em cada indivíduo). O tríceps fortalecido propicia a estabilização do cotovelo em extensão, importante para a coordenação e habilidade para o arco-e-flecha e para o tênis de mesa. Porém, atividades que exigem movimentos de apreensão forte não são recomendadas como, por exemplo, a canoagem (ADAMS et al., 1985). São independentes na locomoção em cadeira de rodas e apresentam também mais independência para comer, arrumar-se e vestir-se (WINNICK, 2004).

T1: De acordo com Freed (1994), o indivíduo paraplégico possui toda a inervação preservada das extremidades superiores, porém é desprovido de inervação da musculatura de tronco, para completo equilíbrio sentado, e da musculatura intercostal e abdominal, para suplementar a respiração diafragmática. Ele tem certa autonomia, pois é capaz de vestir-se, alimentar-se, cuidar das suas necessidades de higiene, efetuar transferências (exemplo: da cadeira de rodas para o chão e vice-versa, sem auxílio), dirigir um carro com controles manuais, etc. Winnick (2004) acrescenta que, com relação à prática de exercícios, ele pode realizar qualquer atividade em cadeira de rodas.

T6: Segundo Adams et al. (1985), o paraplégico possui inervação dos músculos antigravitacionais da região superior do dorso, estabilizadores contra o apoio da cintura escapular. Ele pode ser capaz de praticar esportes como boliche, levantamento de peso e esportes de campo, nos quais é imprescindível a força dos membros superiores e a capacidade de manter uma apreensão firme. Freed (1994) acrescenta que o indivíduo tem independência em cadeira de rodas para as atividades da vida diária, podendo receber órteses para ficar em

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pé, mas não se deve esperar que caminhe por causa das demandas de energia inusitadamente aumentadas dessa deambulação.

T12: O indivíduo possui completo controle abdominal, boa função de todos os músculos do tórax, porém, quando a musculatura lombar não está inervada, existe uma fraqueza da região inferior do dorso. Os indivíduos são completamente independentes para as tarefas do dia-a-dia, sendo capazes de marchar com o uso de órteses longas para ambos os membros inferiores. O bom controle do tronco propicia ao paraplégico a execução de atividades de resistência que sobrecarregam a reserva respiratória, como a maratona em cadeira de rodas, por exemplo (ADAMS et al., 1985).

L4: Conforme Freed (1994) relata, o indivíduo possui o uso dos flexores do quadril e extensores do joelho, sendo capaz de ficar de pé sem órteses e caminhar sem suporte externo. Entretanto, em função da acentuada fraqueza dos glúteos aliada com a perda de força nos tornozelos, o indivíduo tende a fazer uma marcha bamboleada. Assim, se não usar órteses de tornozelo-pé e muletas, acarretará um joelho genu recurvatum e esforço anormal da coluna lombar.

S1: O indivíduo apresenta os músculos peroneiros e posteriores da coxa inervados, conseguindo flexionar os joelhos e puxar o pé para cima. Anda sozinho sem muletas, podendo precisar apenas de suportes para o tornozelo e/ou sapatos ortopédicos. Dessa forma, pode realizar as atividades de educação física normalmente (WINNICK, 2004).

1.2.8 Complicações decorrentes da Lesão Medular

As lesões que afetam somente as vértebras da coluna não trazem sérios

comprometimentos como as lesões que afetam a medula espinhal. Entretanto, como a medula

está contida na coluna vertebral, normalmente, as lesões afetam também a medula,

provocando o comprometimento de várias funções orgânicas (SOUZA, 1994).

É imprescindível o conhecimento sobre algumas consequências funcionais da lesão e

suas implicações na prática desportiva, devido às alterações de ordem neurofisiológica e

neurovegetativa que podem representar riscos, nos quais o praticante ficaria exposto a fraturas

ou sérias sobrecargas cardiovasculares. De acordo com as informações a respeito das

implicações da lesão, o Educador Físico pode elaborar um programa desportivo adequado às

possibilidades do praticante e esclarecer ao indivíduo com LM sobre os benefícios e riscos de

determinada prática desportiva (SOUZA, 1994).

Dentre as diversas consequências possíveis, algumas merecem maior atenção no

âmbito da prática de exercícios.

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- Perda da sensibilidade (SOUZA, 1994)

A sensibilidade à dor é um mecanismo de defesa do organismo que fica inutilizado na

paraplegia e tetraplegia, da altura da lesão para baixo. Além da dor, há perda da sensibilidade

ao calor/frio, ao tato, à percepção da posição dos membros afetados (propriocepção), etc.

Em função disso, o atleta pode se fraturar, como por exemplo, em uma queda da

cadeira de rodas, ele continua jogando como se nada tivesse acontecido, pois não sente dor, e

horas depois a fratura se reverte em um quadro infeccioso.

Nas praias ou piscinas, em dias muito quentes, deve-se evitar que o para/tetraplégico

fique sentado ou com os pés descalços muito tempo diretamente sobre o piso ou materiais

quentes, para não lhe provocar queimaduras.

- Úlceras ou Escaras de Decúbito

Palmer e Toms (1988) afirmam que as escaras de decúbito, causadas pela falta de

sensibilidade, são complicações comuns em pessoas com LM. São áreas necróticas de partes

moles, pele ou tecido subcutâneo, causadas pela pressão prolongada e são sujeitas a infecções

que podem migrar para os ossos. As escaras devem ser prevenidas mudando a posição do

corpo e reduzindo a pressão sobre a região de contato, como por exemplo, elevando-se

ligeiramente as coxas e as nádegas da cadeira de rodas pela extensão dos braços apoiados

sobre os pneus da cadeira. Como sugere Souza (1994), o uso de colchões, almofadas d’água

ou outros materiais apropriados são de grande valia para a prevenção de escaras.

Ainda de acordo com Palmer e Toms (1988), o primeiro sinal de formação de úlceras

de decúbito é o surgimento de uma coloração avermelhada na pele em um dos locais de

contato com a cadeira de rodas, leito, etc. As áreas do corpo mais frequentemente

comprometidas são as tuberosidades isquiáticas, os maléolos, o calcanhar, o trocanter maior e

o cotovelo. Perante a facilidade de se prevenir as escaras e devido às suas complicações, se

não forem evitadas e tratadas, o indivíduo com LM deve ser orientado para inspecionar sua

pele e assumir a responsabilidade pelo cuidado com ela.

Souza (1994) coloca que compete aos profissionais de educação física esclarecer aos

seus alunos lesados medulares sobre o risco de ocorrência de escaras, as formas de preveni-las

e detectá-las. Outro aspecto relevante que o autor aborda é a inaptidão temporária para

atividades desportivas de indivíduos com úlceras de decúbito de maior gravidade, até que

sejam liberados pelo médico. Em alguns casos mais graves, as úlceras podem levar à infecção

e esta à morte, se não forem tratadas a tempo.

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- Osteoporose

O repouso prolongado no leito produz não somente atrofia muscular como também

desmineralização óssea (FREED, 1994). Assim, a osteoporose é comum aparecer em

indivíduos com LM, pois a perda de cálcio dos ossos torna-os quebradiços, ocorrendo quando

não há sustentação de peso como no caso deles (PALMER e TOMS, 1988).

Conforme explicita Souza (1994), com a elevação da porosidade, resultante de

alterações fisiológicas e do comprometimento motor em lesados, os ossos se tornam mais

frágeis e propensos a fraturas. Em função disso, o movimento representa um fator importante

na prevenção e tratamento da osteoporose, sendo necessário um trabalho conjunto entre o

médico, o fisioterapeuta e o educador físico. No caso específico da educação física, a natação

seria mais recomendável pela vantagem de ser uma prática esportiva com baixíssima

possibilidade de fraturas.

- Disfunção Vesical e Intestinal

A LM provoca alterações funcionais nos sistemas genitourinário e gastrointestinal, o

que causa complicações como, por exemplo, infecções e cálculos em rins e bexiga, úlceras

gástricas por estresse e disfunções reflexas autonômicas secundárias a impactação intestinal

(SCHNEIDER, 1994).

As estatísticas mostram que a doença renal é a principal responsável pela maioria das

mortes entre os pacientes com lesão da espinha (SOUZA, 1994; BROMLEY, 1997). Assim, o

cuidado assíduo e contínuo da bexiga é essencial para prevenir as complicações. O indivíduo

ao lesionar a medula espinhal não apresenta mais as sensações específicas que indicam a

necessidade de esvaziar a bexiga.

As consequências desse problema variam de acordo com a classificação da bexiga,

citada por Palmer e Toms (1988) em: espástica ou flácida. A primeira desenvolve em

indivíduos com lesão acima da segunda vértebra lombar, levando a bexiga a um esvaziamento

automático, toda vez que seu enchimento atingir certo volume. Já o segundo tipo de bexiga,

como não há inervação dos músculos abdominais, não ocorre a ação reflexa do músculo

detrusor para esvaziar a bexiga. Desta forma, o esvaziamento da bexiga é realizado pela

pressão manual suprapúbica.

Para Souza (1994), além dos problemas de ordem social resultantes da incontinência

urinária, lesados medulares estão sujeitos a frequentes episódios de infecção urinária. Essas

infecções abaixam a resistência orgânica, reduzem o desempenho desportivo e possibilitam o

aparecimento de outros problemas de saúde. Qualquer diminuição inexplicável do rendimento

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desportivo deve ser pesquisada e, no caso de infecção, suspender as aulas ou treinamento até

que o problema seja sanado.

A inervação para a liberação do tônus do esfíncter anal é a mesma que para o

esvaziamento da bexiga. A inervação sensitiva também é a mesma para a percepção da

distensão vesical e do intestino terminal (FREED, 1994).

Devido à lesão da medula espinhal, o esfíncter ou não fecha devidamente, causando

gotejamento, ou não abre suficiente, causando pressão retrógrada nos ureteres e rins

(PALMER e TOMS, 1988).

Souza (1994) relata que nas lesões acima dos centros da medula lombossacra, tem-se

como consequência a retenção de fezes. Já nas lesões das segunda e quarta medulas sacra

ocorre abolição do reflexo anal e, consequentemente, incontinência anal, ou seja, eliminação

involuntária de fezes, quando estas estiverem líquidas ou amolecidas. Com relação a este

problema, o indivíduo deve habituar-se a esvaziar o intestino sempre nas mesmas horas do

dia, de acordo com o ritmo e estilo de vida que leva.

Ainda segundo o autor, após períodos prolongados de retenção de fezes, no dia em que

ocorre o esvaziamento do intestino pode haver uma queda acentuada do rendimento

desportivo. Esse fator deve ser levado em conta nos treinamentos de atletas de alto nível. Com

relação à iniciação à natação, o aluno deve ser conscientizado de que só pode entrar na piscina

se tiver esvaziado o intestino horas antes da aula e tomado banho.

Tanto os paraplégicos quanto os tetraplégicos devem ser treinados para esvaziarem a

bexiga antes de praticarem natação. Bromley (1997) coloca que no caso de pessoas com

bexiga espástica, com treinamento, a ação reflexa de esvaziar a bexiga irá ocorrer na

estimulação dos pontos de gatilho (exemplos: parede abdominal acima da sínfise púbica,

região interna da coxa e outros pontos). Dessa forma, o indivíduo esvazia sua bexiga a cada

duas ou três horas e permanece seco nos intervalos.

- Redução da Capacidade Respiratória

Dependendo do nível da lesão, a função respiratória varia consideravelmente. Há

progressivamente uma perda maior de função respiratória nos níveis mais elevados de lesão.

As alterações respiratórias estão relacionadas com a fase inspiratória e expiratória da

ventilação (SCHMITZ, 2004).

Os três músculos motores principais para a respiração são o diafragma, inervado a

partir de C2 até C4, os músculos intercostais, inervados a partir de T2 até T12, e os músculos

abdominais, a partir de T6 até L1. O indivíduo com tetraplegia exige um alto dispêndio

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energético quando grandes volumes correntes são necessários para satisfazer a demandas

metabólicas aumentadas (FREED, 1994).

Nas lesões até a altura da segunda vértebra torácica (T2), de acordo com Souza (1994),

ocorre uma redução do volume respiratório, o que não acontece se a lesão for abaixo desse

ponto. Porém, Schmitz (2004) ressalta que os músculos abdominais e intercostais contribuem

para a expulsão do ar para fora dos pulmões, dessa forma, a perda desses músculos diminui

significativamente a eficiência expiratória.

Além da função de manter a pressão intratorácica para uma respiração efetiva, os

músculos abdominais também empurram o diafragma para cima durante a expiração forçada.

Com a paralisia dos abdominais, que mantêm a posição correta do diafragma, o diafragma

assume uma posição mais baixa do que a usual no tórax. Essa posição abaixada e a falta de

pressão abdominal, para mover o diafragma para cima durante a expiração forçada, geram

uma diminuição no volume de reserva expiratória. Além disso, a função normal dos oblíquos

externos é deprimir as costelas e comprimir a parede torácica para auxiliar na expulsão

forçada do ar, assim, a paralisia desses músculos influencia a respiração (SCHMITZ, 2004).

De uma forma geral, deve-se levar em consideração que lesados medulares

sedentários, em algumas situações (como em dias muito quentes), apresentam uma

inadequação da função cardiorrespiratória ao esforço físico intenso. Em decorrência disso,

Souza (1994) destaca a importância de elaborar um programa de exercícios com a elevação

gradativa das cargas de treinamento e de calor.

Ainda segundo o autor, tanto os paraplégicos quanto os tetraplégicos bem treinados

têm conseguido resultados significativos no atletismo, basquete em cadeira de rodas e

natação, que permitem supor a adaptação funcional ao esforço físico de maneira semelhante à

obtida pelo treinamento desportivo em pessoas sem deficiência física.

- Disfunção do Sistema de Regulação Térmica

A termorregulação constitui-se numa das funções do sistema neurovegetativo (sistema

nervoso autônomo), o qual compreende duas porções: a simpática (toracolombar) e a

parassimpática (craniana e sacra). Apesar dos mecanismos de termorregulação do organismo,

a temperatura interna pode elevar-se em função da intensidade do esforço físico, da

temperatura ambiente e da umidade do ar. Caso esses fatores estejam elevados, haverá uma

maior sobrecarga térmica para o organismo do indivíduo, podendo até surgir riscos de vida

devido a uma deficiência na dissipação de calor pelo corpo (SOUZA, 1994).

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Após a LM, o hipotálamo não pode mais controlar o fluxo sanguíneo cutâneo ou o

nível de sudorese. Essa disfunção do sistema nervoso simpático resulta em perda das

respostas termorreguladoras internas e, consequentemente, em ausência de sudorese

termorreguladora que elimina os efeitos resfriadores da evaporação normal da perspiração em

ambientes quentes. Indivíduos com lesão incompleta podem apresentar áreas com “ilhas” de

sudorese localizadas abaixo do nível de lesão (SCHMITZ, 2004).

Em função da ausência de sudorese ou da insuficiência para promover a compensação

satisfatória aos efeitos do calor, os lesados medulares estão mais propensos a sofrer de

doenças causadas pelo calor, e a intermação é o extremo do quadro evolutivo dessas doenças.

Os sintomas mais comuns ao estresse térmico são: a sede, o cansaço, a tonteira e distúrbios

visuais. Embora normais, eles precisam ser cuidados para evitar a ocorrência de cãibras,

exaustão e choque térmico (SOUZA, 1994).

Souza (1994) faz algumas recomendações importantes quanto à prática de exercícios

físicos por lesados medulares: ducha fria antes do exercício no calor; ingestão periódica de

líquidos; priorizar a prática desportiva em horários e em ambientes menos quentes; dosar os

esforços segundo a temperatura do dia, duração da atividade e estado de condicionamento

cardiovascular do praticante.

Embora os mecanismos reguladores da temperatura corporal pareçam melhorar com o

tempo, tetraplégicos normalmente apresentam comprometimento duradouro da regulação de

temperatura do organismo quando expostos a extremos ambientais (SCHNEIDER, 1994).

Estudos apontados por Souza (1994) sugerem que pessoas com LM podem conseguir

as mesmas adaptações ao calor que pessoas sem deficiência, se forem adequadamente

treinados. Entretanto, haveria dificuldades na operacionalização dos processos de adaptação

funcional, visto que a fadiga precoce impediria que o organismo fosse estimulado a se

adaptar. O aparecimento precoce da fadiga pode ser contornado por uma programação

esportiva em que as cargas obedeçam a um aumento gradativo, segundo a adaptação do

organismo aos esforços crescentes. Este é um treinamento desportivo com base na

periodização que prepara o indivíduo, gradativamente, para suportar mais volume e

intensidade de atividade física.

O treinamento gradual da resistência aeróbica aliado ao gradual aumento da exposição

ao sol pode ser uma das formas mais eficazes para se promover a adaptação funcional do

indivíduo com LM ao calor. Com isso, a prática esportiva orientada pode ser usada como um

meio de compensar a disfunção do sistema de termorregulação, proporcionando mais

segurança para a vida diária e lazer dessas pessoas (SOUZA, 1994).

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- Espasticidade

Palmer e Toms (1988) definem espasticidade como uma resistência aumentada ao

alongamento passivo, que raramente ocorre em lesões abaixo da segunda vértebra lombar, e

seu grau varia de uma pessoa para outra. Adams et al. (1985) explicam que a espasticidade é

uma característica do tônus muscular anormal acima do nível da lesão, que é desenvolvido por

um padrão de flexão (do joelho, do quadril e do tronco) ou extensão (dos membros e do

tronco). Numa competição, o esforço físico excessivo pode desencadear a espasticidade ou ela

pode ser originada pela alteração de temperatura, infecções urinárias ou úlceras de decúbito.

A performance do atleta em relação aos esportes ou mesmo qualquer atividade física

pode ser prejudicada pelos episódios de espasticidade. Cabe ao profissional de educação física

contrapor a interferência da espasticidade estirando o membro afetado, se bem que muitos

atletas conseguem levantar e reposicionar sua(s) própria(s) perna(s) atingida(s) pelos

movimentos espásticos, utilizando os membros superiores.

1.3 SÍNDROME METABÓLICA

Segundo Ciolac e Guimarães (2004, p. 319), a síndrome metabólica (SM) “é

caracterizada pelo agrupamento de fatores de risco cardiovascular como hipertensão arterial,

resistência à insulina, intolerância à glicose/diabetes tipo 2, obesidade central e dislipidemia”.

De acordo com Lopes (2004), atualmente existem três definições de SM, a definição

publicada em 2001 pelo “National Cholesterol Evaluation Program for Adult Treatment

Panel III” leva em conta critérios parecidos com os da OMS, como obesidade central

(circunferência abdominal > 88 cm para as mulheres e > 102cm para os homens), pressão

arterial alta (> 130/85 mmHg), glicemia de jejum > 110 mg/dl, triglicérides > 150 mg/dl,

HDL-colesterol baixo (< 40 mg/dl nos homens e < 50 mg/dl nas mulheres). Para ser

considerado portador da síndrome, o indivíduo deve apresentar três ou mais das alterações

acima citadas.

O surgimento da doença não está necessariamente determinado pela presença do fator

de risco, pois existem muitas influências que podem alterar a importância de um fator quando

ele é avaliado. Por exemplo, se a dosagem de colesterol total (CT) de um indivíduo estiver

alta (250 mg/dl), essa taxa tem sua importância reduzida se ele apresentar um colesterol-HDL

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de 70 mg/dl. O colesterol-HDL é uma lipoproteína que realiza transporte reverso do

colesterol, ou seja, dos tecidos periféricos (especialmente o do endotélio vascular) para o

fígado e tem sido chamada de “fator protetor” (LUNA, 2006). Os indivíduos que se

apresentam com níveis plasmáticos de HDL-colesterol baixo têm risco de doença arterial

coronária comparável àqueles com níveis elevados de colesterol-LDL (MAGALHÃES et al.,

2002).

Embora a doença cardiovascular sofra influência genética de vários fatores como a

pressão arterial, o colesterol, o peso corporal, o diabetes e outros, a grande vantagem do

reconhecimento da SM consiste na possibilidade de intervenção, como a prática de exercícios

físicos e dieta, em uma constelação de fatores de risco que ameaçam a saúde cardiovascular

do indivíduo (LUNA, 2006).

O estilo de vida sedentário e, especialmente, o baixo condicionamento físico não estão

somente associados à SM, mas também, podem ser consideradas características desta. Os

indivíduos que não praticam pelo menos 3 horas semanais de exercícios físicos, de

intensidade moderada, são 60% mais propensos a desenvolver SM do que aqueles que

praticam (LAKKA et al., 2003).

Conforme pressupostos da I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da

Síndrome Metabólica (2005), a atividade física regular ou o exercício físico diminuem o risco

relacionado a cada componente da SM, à medida que o exercício físico reduz a pressão

arterial, eleva o HDL-colesterol e melhora o controle glicêmico. O baixo condicionamento

cardiorrespiratório, a pouca força muscular e o sedentarismo aumentam de três a quatro vezes

a prevalência da SM.

A taxa metabólica e as necessidades nutricionais são diminuídas em indivíduos com

LM, e essas alterações dependem da quantidade de músculos imobilizados, da altura da lesão,

do tempo e tipo de lesão (KOCINA, 1997). O aumento da massa de gordura e a diminuição da

sensibilidade à insulina em indivíduos com LM alta (C6-T4) foram verificados por Karlsson

(1999), que frizou a importância de elaborar programas de reabilitação que reduzam esses

fatores de risco para doenças cardiovasculares.

Estudos realizados por Silva et al. (2004), com lesados medulares praticantes de

exercícios físicos (basquete ou natação) e lesados medulares sedentários, identificaram

influências positivas do exercício para manter a normalidade de alguns parâmetros

bioquímicos. No grupo de indivíduos sedentários, 16,6% apresentaram triglicérides (TRI)

plasmáticos aumentados e 25% de glicose plasmática também fora dos limites da

normalidade, além de uma tendência a sobrepeso.

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Quintana e Neiva (2008), ao compararem sedentários com deficiência física e

jogadores de basquete de cadeira de rodas, também encontraram resultados positivos da

prática esportiva em relação aos fatores de risco para a SM. O grupo de jogadores de basquete

apresentou menores níveis de deposição de gordura central, melhores resultados quanto ao

controle glicêmico e alterações menos pronunciadas do perfil lipidêmico.

Para indivíduos com LM, além da definição proposta pela OMS de identificar pelo

menos três fatores de risco para constatar a SM, Jones et al. (2004) sugerem verificar também

as medidas antropométricas e de lipídeos. Pois, embora os critérios da OMS sejam adequados

para indivíduos normais fisicamente, eles parecem ser insuficientes para identificar SM em

indivíduos com LM, que possuem uma composição corporal diferenciada da população em

geral. Jones et al. (2003) comprovaram que o IMC pode subestimar a gordura corporal em

indivíduos com LM, visto que embora estes não pareçam estar obesos, apresentam grandes

quantidades de tecido adiposo.

1.4 EXERCÍCIO FÍSICO E PROMOÇÃO DE SAÚDE PARA PDF

Desde a Grécia Antiga, as pessoas com deficiência física (PDF) utilizavam o esporte

com objetivo de reabilitação que, por sua vez, já era praticado na China há 5.000 anos

(LAGERSTROM, 1987 apud SOUZA, 1994, 25).

No entanto, a prática desportiva teve maior incremento no contexto da prevenção e

reabilitação de PDF após a Segunda Guerra Mundial. Na década de 1940, por iniciativa do

neurologista Ludwig Guttmann, responsável pelo centro para lesados medulares do Hospital

de Stoke Mandeville, foi introduzida a prática esportiva nos processos terapêuticos das lesões

medulares como forma de benefício com os efeitos das atividades esportivas no sistema

neuromuscular (SOUZA, 1994).

De acordo com Rosadas (1989), o ideal de Guttmann que era apenas motivar e

diminuir o tédio da rotina do indivíduo com deficiência física acabou estimulando vários

países à organização de jogos para deficientes. Chatard et al. (1992) mencionam que vem

aumentando o número de pessoas com incapacidade física que pratica algum tipo de exercício

físico ou esporte devido aos benefícios que eles trazem para a reabilitação e para o bem-estar.

Os benefícios potenciais da prática de exercícios físicos para indivíduos com

deficiência incluem: aumento do estado mental com uma diminuição da ansiedade e

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depressão; melhora da auto-estima decorrente do aumento do senso de auto-eficiência e da

autonomia; redução do risco de muitas doenças crônicas, em uma perspectiva a longo prazo;

melhora da percepção de saúde, da produtividade e, consequentemente, da inserção no

mercado de trabalho (SHEPHARD, 1991).

Estudos recentes de Stevens et al. (2008) demonstram que existe uma forte correlação

entre QV e nível de atividade física em indivíduos com LM. O engajamento desses indivíduos

em programas regulares de exercícios físicos deve ser incentivado, pois se trata de uma

abordagem promissora, com boa proporção custo-benefício e eficaz na promoção de saúde e

QV. No entanto, como afirmam Wilmore e Costil (2001), o tipo e a intensidade adequados de

exercício variam segundo as características individuais, o nível atual de condicionamento

físico e as preocupações específicas em relação à saúde.

A importância da atividade física regular para a prevenção e recuperação da saúde vem

sendo cada vez mais divulgada pela mídia e comprovada cientificamente. Porém, a cada ano,

milhares de mortes ainda são atribuídas à inatividade física. Doenças crônicas não

transmissíveis, como as doenças cardiovasculares e a diabetes, por exemplo, muitas vezes

estão relacionadas ao estilo de vida adotado pelas pessoas (MAUERBERG-deCASTRO,

2005).

Dentre os prejuízos à saúde associados à obesidade, ainda segundo a autora, situam-se

os problemas emocionais (devido às pressões de padrões sociais, as pessoas obesas

frequentemente sofrem sentimentos de culpa, depressão, ansiedade e baixa auto-estima),

aumento de osteoartrite, aumento da incidência de hipertensão arterial, alterações dos níveis

de colesterol e de outras gorduras do sangue, aumento da incidência de câncer e de morte

prematura.

De acordo com Chatard et al. (1992), a adoção de atividades físicas vigorosas,

incluindo competições, por parte de PDF, pode ter uma enorme contribuição no processo de

reabilitação e na redução de complicações médicas, como as infecções respiratórias. A

natação, segundo o autor, é apropriada como forma de exercício físico para pessoas com

vários tipos de deficiência física.

A redução do nível de atividade física e as alterações adversas na composição

corporal, causadas pela LM, têm consequências metabólicas que podem influenciar o avanço

e a gravidade de doenças coronárias (BAUMAN et al., 1992; JONES et al., 2004; LAVIS et

al., 2007). Os distúrbios no metabolismo dos carboidratos e lipídios, comuns em homens

sedentários com LM, caracterizam-se por aumento da concentração plasmática de CT, de

LDL-colesterol, de TRI, redução de HDL-colesterol, além de aumento a resistência à insulina

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com altos níveis de incidência de diabetes tipo 2 (KOCINA, 1997; JACOBS e NASH, 2004;

JONES et al., 2004).

O número de estudos experimentais que investigam o efeito do exercício físico nos

parâmetros sanguíneos bioquímicos, indicativos de doenças relacionadas a alterações

metabólicas comuns em indivíduos LM, é extremamente reduzido. Duran et al. (2001) e

Jacobs e Nash (2004) apontam que indivíduos com LM que iniciam em programas de

exercícios seguramente melhorarão não só as funções cardiovasculares e musculares, como

também o perfil lipídico e glicêmico.

1.5 CONDICIONAMENTO FÍSICO

Dentre todos os conceitos de condicionamento físico revisados por Ciolac e

Guimarães (2004), eles consideram o condicionamento físico a habilidade de realizar

atividade física de nível moderado a intenso sem cansaço excessivo e a capacidade de manter

essa habilidade no decorrer da vida. Ele é parte integrante da boa QV, em que a realização de

exercícios resistidos e aeróbios, com exercícios de flexibilidade, têm sido indicados para a sua

melhora e manutenção, bem como para a prevenção e reabilitação de doenças

cardiovasculares em indivíduos de todas as idades.

Um programa de condicionamento físico para o sedentário, de acordo com Gobbi et al.

(2005), pode envolver atividades diversificadas de intensidade submáxima, com duração

variável, podendo chegar em torno de 1 hora, e frequência semanal de 3 a 5 vezes. A aptidão

física ou condição física é o resultado do condicionamento físico.

Para a American College of Sports Medicine – ACSM (2007), a aptidão física

relacionada à saúde se refere a capacidade de realizar atividades da vida diária com vigor,

concomitante com a aquisição de capacidades que estão associadas com o baixo risco de

surgimento prematuro de doenças associadas com a inatividade física. Os componentes

envolvidos na aptidão física relacionada à saúde são: resistência cardiovascular, força e

resistência muscular, flexibilidade e composição corporal.

Para a manutenção da saúde e prevenção de uma série de doenças crônicas, é

recomendada, por vários estudos, a realização de pelo menos 30 minutos de atividade física,

seja ela formal ou de lazer, de maneira contínua, de intensidade no mínimo moderada, nível

12 na Escala de Borg, realizada na maioria dos dias da semana, em que haja um dispêndio

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total de 700 a 1.000 kcal por semana (ACSM, 2007; CIOLAC e GUIMARÃES, 2004;

POLLOCK e WILMORE, 1993).

Na elaboração de uma sessão de exercícios, o dimensionamento da intensidade

adequada de esforço constitui um fator importante. Diversos indicadores fisiológicos podem

ser utilizados para quantificar a intensidade do esforço do exercício, realizado tanto dentro

como fora do ambiente aquático, tais como a frequência cardíaca (FC), o consumo de

oxigênio (VO2), o índice de percepção de esforço (IPE) e os limiares ventilatório e de lactato

(GRAEF e KRUEL, 2006).

Para Pollock e Wilmore (1993), quando se inicia um programa de treinamento,

recomenda-se o emprego tanto da FC, quanto do IPE. Devido ao fato da escala de IPE

representar um bom indicador geral de fadiga, pode ser usada para avaliar a intensidade das

sessões de treinamento. Os autores recomendam para atividades situadas na faixa moderada, o

IPE de 12 a 13, para atividades de moderada a pesada de 14 a 15 e para atividades muito

pesadas 16 a 17 da escala de IPE. A variação da intensidade do treinamento depende do nível

de condicionamento do indivíduo.

A escala de IPE original foi inicialmente introduzida por Borg, para avaliar o grau de

esforço subjetivo percebido pelo próprio indivíduo que atribui uma nota variando de 6 a 20

(Figura 6). A Escala de Borg é constituída por 15 categorias graduadas de 6 a 20, estando

cada grau ímpar associado a uma descrição verbal que varia de muito, muito leve (grau 7) a

muito, muito difícil (grau 19) (BORG, 1962). Anos depois, Borg recomendou uma outra

terminologia para descrever o grau de esforço percebido (BORG, 1985).

Segundo Borg (1982 apud ARTONI et al., 2007, p.58) o esforço percebido é

decorrente da integração de sinais aferentes provenientes tanto dos músculos esqueléticos

(periféricos), quando do sistema cardiorrespiratório (centrais).

Dentre os indicadores de intensidade do esforço, Graef e Kruel (2006) ressaltam que

tanto dentro como fora do meio aquático, a FC e a percepção subjetiva de esforço são os mais

práticos e de baixo custo. Além disso, de acordo com alguns pesquisadores, existem dados

que indicam que a percepção subjetiva de esforço pode ser usada como um indicador da

intensidade do esforço em exercícios aquáticos (MAGLISHO, 1999; GRAEF e KRUEL,

2006; MENDONÇA e PEREIRA, 2007).

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1.6 TREINAMENTO INTERVALADO

Treinamento intervalado (TI), definido por McArdle et al. (2003), é o método de

exercícios no qual ocorre um espaçamento dos períodos de exercícios e de recuperação. Esse

intervalo de recuperação pode ser ativo ou passivo, dependendo da intensidade do treino que

se objetiva realizar, pois o TI consegue aprimorar a capacidade de diferentes sistemas de

transferência de energia.

A eficiência do TI reside principalmente na escolha correta dos intervalos de

recuperação, uma vez que a relação trabalho/recuperação e suas respectivas demandas

fisiológicas determinam qual o sistema energético a ser priorizado pelo treino (VOLKOV,

2002; ROCHA, 2004).

Para atingir o efeito desejado do treino, os parâmetros da carga nos vários tipos de

trabalho intervalado podem se apresentar da seguinte forma: para o desenvolvimento da

capacidade anaeróbia alática, a intensidade do exercício deve ser máxima, sua duração não

deve ultrapassar 10-15 segundos, as pausas de repouso passivo não devem ser inferiores a 1

minuto e 30 segundos, e os exercícios devem ser executados até que surjam os primeiros

sinais de queda da potência máxima; para o desenvolvimento da capacidade anaeróbia lática,

a intensidade do exercício deve ser submáxima, a duração deve ser de 30 a 60 segundos e a

recuperação ativa pode variar de 1 a 3 minutos; para o desenvolvimento da capacidade

aeróbia, a intensidade do exercício deve ser moderada, a relação tempo de trabalho/repouso

deve ser de 1:1, a quantidade ideal de repetições não deve ser inferior a 10 ou 15 vezes numa

única série e a recuperação deve ser ativa (VOLKOV, 2002).

Segundo Godoy et al. (1997), Wilmore e Costil (2001), o TI pode produzir

praticamente os mesmos benefícios musculares aeróbios que um treinamento contínuo (TC),

tendo ainda a vantagem de não ser considerado monótono como o TC. O débito sistólico,

conforme Rocha (2004) explica, é mais alto durante o período de recuperação do exercício do

que propriamente durante o exercício. Portanto, durante o trabalho intervalado, em que

ocorrem várias fases de recuperação, o débito sistólico alcança o mais alto nível muitas vezes.

Diferente do que ocorre no trabalho contínuo, no qual há apenas um intervalo de recuperação

logo após o término do exercício. Em decorrência disso, durante semanas de TI, a elevação

repetida do débito sistólico máximo resulta num aumento da capacidade do sistema aeróbio.

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Porém, conforme se observa com relação ao TI, é justamente sua capacidade de

desenvolver um trabalho de alta intensidade, priorizando o sistema anaeróbico, é que produz

melhores resultados na redução do peso corporal (NEIVA et al., 1999; PORTO et al., 2008).

Santos et al. (2005) em sua publicação ressaltam que, em relação ao percentual de

gordura, o TI se faz mais eficiente em virtude dos efeitos que o EPOC (consumo excessivo de

oxigênio pós-exercício) tem sobre a atividade relativamente intensa, fazendo com que o gasto

calórico desse tipo de trabalho seja maior do que em um trabalho com intensidade baixa.

Embora Romijim et al. (1993) colocam que assim que o exercício se torna crescentemente

mais intenso, menos gordura é metabolizada por cada caloria gasta, mas um número maior de

gordura total e calorias é utilizado de maneira geral. Em termos de perda de gordura, a

maioria das pesquisas mostra que não é importante a porcentagem de gordura ou carboidrato

metabolizado por caloria durante a atividade, mas sim, o número total de calorias gastas na

atividade.

Em uma pesquisa por King (2001), obteve-se como resultado uma maior eficácia do

TI (a 95% do VO2máx. no intervalo de trabalho e a 30% do VO2máx. no intervalo de

recuperação ativa) do que no TC de baixa intensidade (50% do VO2máx.) com relação à

melhora da composição corporal (redução da porcentagem de gordura), do condicionamento

físico e da taxa metabólica de repouso. Evidenciando, assim, que o TI de alta intensidade

realizado regularmente promove um aumento contínuo no gasto de energia maior que o TC de

baixa intensidade, pelo menos no estágio inicial do treino, visto que os sujeitos eram

sedentários ou realizam muito pouco exercício cardiovascular antes do treinamento.

O TI tem a grande vantagem de ser uma boa estratégia para a adesão aos exercícios

por parte de indivíduos sedentários (SNYDER et al.,1997; MOOKERJEE,1998). Sabia (2003)

compartilha da mesma opinião, considerando o método intervalado o mais adequado para

indivíduos iniciantes em um programa de exercícios para emagrecimento, pois o mesmo deve

ser de natureza progressiva e não incluir rapidamente um alto dispêndio de energia para não

causar resistência ao treinamento por parte de iniciantes em exercícios físicos.

Outra vantagem do TI, segundo Fox e Mathews (1983), reside no fato de que o

indivíduo consegue realizar intermitentemente a mesma quantidade de trabalho e com a

mesma intensidade que o exercício contínuo, porém, o grau de fadiga após o exercício

intervalado seria consideravelmente menor. Nesse sentido e levando-se em consideração os

vários benefícios cardiovasculares que muitos estudos já constataram nos últimos anos, o TI

vem sendo empregado na área da saúde como uma possibilidade terapêutica e reabilitadora.

Essa diretriz, de acordo com Volkov (2002), teve início com os trabalhos do professor alemão

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H. Reindell, nos quais se empregava o TI na reabilitação e no tratamento de diferentes

doenças cardiovasculares e pulmonares.

Com relação à natação, o TI pode ser utilizado como um método mais motivador de

treinamento, em que a distância percorrida na água é dividida em várias partes. Essas partes

são repetidas sequencialmente com um breve intervalo de descanso entre elas. Durante os

nados fracionados, intensidades maiores de esforço são possíveis, porque os períodos

subsequentes de repouso possibilitam a reposição de fosfato de creatina (CP) e a remoção de

parte do ácido lático que se acumulou, sendo que, o metabolismo anaeróbio fornece grande

parte de energia nessa forma de treinamento (MAGLISCHO, 1999).

1.7 SISTEMAS ENERGÉTICOS AERÓBIO E ANAERÓBIO

O metabolismo dos nutrientes pode ser dividido por vias metabólicas, ou seja, existe o

metabolismo dos carboidratos (glicose ou glicogênio muscular e hepático), o metabolismo das

gorduras (ácidos graxos) e o metabolismo das proteínas (aminoácidos). O metabolismo pode

ser dividido também em relação à presença de oxigênio (metabolismo aeróbio) e na ausência

de oxigênio (metabolismo anaeróbio), o que vai definir qual será a via metabólica utilizada

para gerar a ressíntese do trifosfato de adenosina (ATP) será a velocidade e a intensidade do

gasto energético (NEIVA, 2008).

O metabolismo aeróbico refere-se às reações catabólicas geradoras de energia, nas

quais o oxigênio funciona como um aceitador final de elétrons na cadeia respiratória e se

combina com o hidrogênio para formar água. A presença de oxigênio no “final da linha”

determina em grande parte a capacidade para a produção de ATP. Por sua vez, isso determina

em grande parte a possibilidade de manter um exercício de endurance de alta intensidade.

Esse tipo de metabolismo (aeróbio) é, portanto, característico em exercícios e esportes de

longa duração (acima de 5 minutos), contínuos e, portanto, de baixa intensidade (NEIVA,

2008).

O metabolismo aeróbio promove a ressíntese de ATP pela combustão de carboidratos

e gorduras. O metabolismo de carboidratos, após uma cadeia de eventos, libera energia

suficiente para ressintetizar 36 a 38 moléculas de ATP por molécula de glicose. Enquanto o

metabolismo das gorduras é capaz de gerar 147 moléculas de ATP provenientes da

degradação completa de um ácido graxo. E 441 moléculas de ATP, a partir dos componentes

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dos triglicerídeos, e mais 19 moléculas de ATP são formadas durante a degradação do

glicerol, dando um total de 440 moléculas de ATP para cada triglicerídeo catabolizado

(NEIVA, 2008).

O fator de limitação desse sistema é o fluxo de moléculas de oxigênio para as

mitocôndrias. Ou seja, sem oxigênio, essa via metabólica não consegue ressintetizar ATP em

tempo suficiente que a sua demanda exige, ficando restrito a via glicolítica à ressíntese do

ATP (NEIVA, 2008).

O metabolismo anaeróbico refere-se às reações catabólicas geradoras de energia nas

quais o oxigênio não está presente, não sendo possível acontecer o processo total de

degradação da glicose para ressíntese do ATP, devido à alta velocidade de degradação do

ATP e da dificuldade na reposição de energia para trabalho celular. Ou seja, a demanda de

energia é maior que a oferta. (NEIVA, 2008).

O ácido lático é um produto intermediário do metabolismo da glicose. Ele é produzido

quando alguns dos subprodutos desse processo não são metabolizados aerobicamente. Dessa

forma, ele é o produto final da fase anaeróbia do metabolismo. Acredita-se que o acúmulo de

ácido lático nos músculos seja a principal causa da fadiga durante a natação devido aos seus

efeitos no ph. Quando o ph muscular fica com níveis abaixo de 7,0, o indivíduo sofre de

acidose, diminuindo a velocidade do nado (MAGLISCHO, 1999).

Atualmente, está bem estabelecido que durante a realização de exercício contínuo de

alta intensidade o ATP é ressintetizado predominantemente pela glicólise anaeróbia. Nessas

condições, a produção de ATP é limitada e a capacidade de sustentar o exercício de alta

intensidade tende a diminuir, seguido do aparecimento de fadiga muscular. Porém, quando

esse tipo de exercício é realizado de forma intermitente, ou seja, conciliando intervalos de

atividade e de recuperação, há um importante aumento da contribuição do metabolismo

oxidativo no fornecimento de energia, aumentando o tempo de exaustão (SILVEIRA E

DENADAI, 2002).

Nessas condições, as respostas metabólicas durante o exercício intermitente de alta

intensidade parecem ser mais próximas das respostas metabólicas encontradas durante o

exercício contínuo de intensidade moderada, com uma menor utilização de glicogênio, menor

produção de lactato e um aumento na oxidação de lipídios (ESSEN, 1978; SILVEIRA E

DENADAI, 2002).

Assim, de acordo com Neiva (2008), parece claro admitirmos que exercícios dessa

natureza possam promover também um significativo aumento na produção de energia

oxidativa, principalmente na fase pós-exercício, o que não costuma ocorrer após exercícios

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aeróbios realizados isoladamente. Além disso, o autor ainda considera a grande demanda

energética anaeróbia (glicose e CP) ocorrida durante a fase aguda de sua execução. Segundo

ele, ambos os fatores contribuem com uma maior depleção de energia no ciclo circadiano

posterior a sua prática.

Nos últimos anos, o desenvolvimento de técnicas e métodos capazes de determinar a

performance durante o exercício de alta intensidade possibilitaram a grande expansão nas

investigações das respostas fisiológicas durante o exercício intenso. Porém, durante o

exercício intermitente de alta intensidade, essas respostas têm sido amplamente variadas em

função de um grande número de variáveis capazes de modular essas respostas (SILVEIRA e

DENADAI, 2002).

1.8 ANTROPOMETRIA E COMPOSIÇÃO CORPORAL

A relação entre composição corporal desejável, saúde e bem-estar geral tem sido

bastante confirmada por vários estudos recentes que afirmam que a gordura corporal

excessiva aumenta o risco de desenvolver várias doenças, incluindo doenças cardiovasculares,

hipertensão, doença pulmonar obstrutiva, diabetes, artrite e algumas formas de câncer. Assim,

uma composição corporal desejável é de extrema importância para a saúde e o bem-estar de

crianças e adultos (THOMPSON, 2000; GUEDES e GUEDES, 2003; TRITSCHLER, 2003;

ACSM, 2007).

De acordo com Costa (2001), Marins e Giannichi (2003) e Tritschler (2003), o estudo

da composição corporal é importante para a elaboração de programas de aptidão física

relacionada à saúde e ao desporto.

A avaliação da composição corporal, de acordo com Pollock e Wilmore (1993) e

Tritschler (2003), abrange a quantificação das contribuições relativas das principais estruturas

do corpo humano, o que inclui a massa muscular, ossos, gordura, sangue e outros tipos de

fluídos e tecidos. Alguns dos modelos teóricos utilizam o modelo de dois compartimentos que

parte da premissa que o peso corporal total de uma pessoa é a somatória do seu peso de

gordura mais o peso da sua massa corporal magra, que é a massa isenta de tecido adiposo.

Outros, ainda de acordo com Pollock e Wilmore (1993) e McArdle et al. (2003)

utilizam o modelo de quatro compartimentos compostos por: massa adiposa, massa muscular,

massa óssea e massa de órgãos e tecidos restantes. O excesso ou a escassez de um desses

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componentes podem estar relacionados à ocorrência de patologias, fator que reforça ainda

mais a importância de estudos sobre a composição corporal.

Os mais variados métodos são utilizados para avaliar a composição corporal, variando

em sua exatidão, praticidade, instrumentos necessários e custo (TRITSCHLER, 2003). Entre

os métodos indiretos, destacam-se: pesagem hidrostática, análise da impedância bioelétrica,

tomografia computadorizada, ressonância magnética, absortometria de raio-x de dupla energia

(DEXA), medidas antropométricas (medidas de dobras cutâneas e circunferências, e

diâmetros corporais) (POLLOCK e WILMORE, 1993; McARDLE et al., 2003;

TRITSCHLER, 2003).

A avaliação da composição corporal é de grande importância para monitorar riscos à

saúde nutricional e/ou física de pessoas com LM. No entanto, existe uma escassez de

informações antropométricas de referência e nenhuma equação específica para calcular a

composição corporal dessa população (KOCINA, 1997; NICASTRO et al., 2008).

Segundo Mattos e Gorgatti (2003), como os estudos sobre a composição corporal de

indivíduos com deficiência são recentes, muitos deles empregam apenas adaptações dos

métodos convencionais aplicados aos indivíduos normais. No entanto, com relação aos

indivíduos com deficiência física, tais métodos podem ser extremamente comprometidos,

como no caso de indivíduos com LM.

Essa população específica, devido à imobilidade em grande parte do corpo, apresenta

uma redução significativa no conteúdo mineral ósseo nos membros paralisados, menor

proporção de massa magra (muscular e óssea) e altos níveis de gordura corporal, que

conduzem à obesidade e mudanças metabólicas aumentando mais o risco de doenças

cardiovasculares, quando comparada com indivíduos aptos fisicamente (KOCINA, 1997;

MAGGIONI, 2003; SPUNGEN et al., 2003).

O método de absortometria de raio-x de dupla energia vem sendo utilizado em muitos

estudos para avaliar a composição de indivíduos com LM, como se observa nas pesquisas

realizadas por Jones et al. (2003), Maggioni (2003), Spungen et al. (2003), Liusuwan et al.

(2007), Mojtahedi (2008), entre outras referidas por Buchholz e Bugaresti (2005). Entretanto,

trata-se de um método de alto custo e pouco acessível. Diferente da aferição das medidas

antropométricas que são consideradas métodos práticos, de baixo custo e podem ser muito

úteis em várias situações clínicas e de campo (POLLOCK e WILMORE, 1993; McARDLE et

al, 2003; TRITSCHLER, 2003).

A adaptação da técnica antropométrica para essa população do estudo é questionada

por Gorgatti e Böhme (2005). Os autores acreditam que a simples adaptação dessas técnicas

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utilizadas na população em geral não elimina o erro natural que se incorre quando não se leva

em consideração a elevada percentagem de gordura nos membros inferiores e na região do

tronco abaixo do nível de lesão. Além disso, Maggioni et al. (2003) ressaltam a escassez de

informações antropométricas de referência, visto que essas apresentam grande variabilidade

devido a diversidade de metodologias utilizadas para a sua obtenção.

Como a grande dificuldade na avaliação de pessoas com deficiência é o

estabelecimento de índices e tabelas para uso populacional, alguns autores sugerem que sejam

utilizados teste e re-teste para a interpretação das modificações (PITETTI, 1993; FIGONI et

al., 1993; WINNICK e SHORT, 2001; MELLO e PASETTO, 2008).

O cálculo do índice de massa corporal (IMC) representa um procedimento prático para

se avaliar a questão do sobrepeso em indivíduos não-atletas, à medida que basta obter apenas

o registro da massa corporal (kg) e da estatura (m). Com o registro das duas variáveis, aplica-

se a fórmula: IMC=massa corporal(kg)/estatura(m)2 (MARINS e GIANNICHI, 2003).

À medida que o IMC aumenta, o mesmo ocorre com o risco de incidência de várias

doenças, tais como complicações cardiovasculares (incluindo hipertensão), diabete e doença

renal. A categoria mais baixa de risco para a saúde é aquela dos indivíduos cujo índice varia

de 20 a 25kg/m2 e a categoria de mais alto risco é aquela encontrada nos indivíduos cujo IMC

é superior a 40 kg/m2.

Segundo a WHO (1995), a obesidade é definida por IMC ≥ 30 kg/m² e o sobrepeso,

por IMC ≥ 25 kg/m² < 30kg/m². No entanto, o IMC não leva em consideração a composição

proporcional do organismo, pois o numerador da equação do IMC é afetado por outros fatores

além da gordura corporal excessiva, tais como massa óssea, muscular e até mesmo a

quantidade de volume plasmático (McARDLE et al, 2003).

Dessa forma, segundo Tritschler (2003), embora o IMC seja largamente utilizado em

estudos sobre saúde, seu erro padrão é bastante grande, o que limita seu valor enquanto

método de avaliação da composição corporal. Sendo assim, é recomendado interpretar seu

valor com cautela e utilizá-lo somente como uma ferramenta paralela a outros métodos mais

precisos para identificar pessoas que possam apresentar perfis de composição corporal

problemáticos.

Comparativamente à análise do IMC, a obesidade abdominal ou central (gordura

visceral) é a que mais se correlaciona com desvios metabólicos. Ela está associada a inúmeros

fatores que aumentam o risco cardiovascular, entre eles, o baixo nível plasmático de HDL-

colesterol, aumento de TRI e de LDL-colesterol, aumento da pressão sistólica e da pressão de

pulso. A simples medida da circunferência da cintura é o critério mais bem aceito para definir

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a obesidade abdominal, e os valores de circunferência umbilical considerados normais para

homens são < 102 cm e < 88 cm para mulheres (CONSOLIM-COLOMBO e ATALA, 2004).

De acordo com Lohman et al. (1988), a circunferência da cintura é medida no adulto,

apto fisicamente, em pé, usando uma trena colocada à volta do abdômen no plano horizontal,

com os braços do sujeito relaxado, depois da expiração normal.

No entanto, Buchholz e Bugaresti (2005) chamam atenção ao fato de que a exata

localização da pegada da medida da cintura é muito debatida. Estudos de Wang et al.(2003)

demonstraram que as medidas dos valores da circunferência da cintura tem quatro

localizações: imediatamente abaixo da última costela, na cintura mais estreita, no ponto médio

entre a costela menor e a crista ilíaca e imediatamente acima da crista ilíaca. Todas elas têm

igualmente elevada reprodutibilidade e são quase igualmente associadas com a gordura

corporal total e com a gordura do tronco em cada sexo.

Conforme a revisão de literatura realizada por Buchholz e Bugaresti (2005), para

verificar a precisão do IMC e da circunferência da cintura como indicador da obesidade e

risco para doenças cardiovasculares em indivíduos com LM, foi constatado que o IMC é um

indicador inconsistente para ser relacionado com essas duas variáveis. No entanto, existem

evidências que confirmam a relação entre circunferência da cintura, tecido adiposo visceral e

doenças cardíacas.

Estudos recentes realizados por Edwards et al. (2008) também relatam que a

circunferência da cintura pode ser uma medida válida do tecido adiposo visceral encontrado

em indivíduos com LM e serve como uma ferramenta para identificar riscos para doenças

cardíacas crônicas.

Atualmente, a grande tendência dos estudos nessa área é buscar validar equações que

possibilitem predizer com mais fidedignidade a composição corporal de indivíduos com

deficiência física (MATTOS e GORGATTI, 2003).

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1.9 NATAÇÃO ADAPTADA

1.9.1 Fase Inicial de Aprendizagem da Natação

De acordo com Sherrill (1993), as atividades aquáticas adaptadas têm como diretriz

mudar, adaptar ou modificar qualquer estilo de nado, jogo ou atividade para ir ao encontro das

necessidades das pessoas com deficiência. A natação adaptada faz parte das atividades

aquáticas adaptadas. Ela propõe uma modificação das técnicas do nado, sem deixar de seguir

as regras da dinâmica da natação, para indivíduos que não conseguem executar os “padrões”

da natação devido à falta de força muscular, de flexibilidade ou até mesmo falta de resistência

para executar o movimento completo.

No início da aprendizagem do nado, a flutuação é a primeira habilidade que deve ser

ensinada aos alunos com deficiência (A.S.T., 2000; CAMPION, 2000; MAUERBERG-

deCASTRO, 2005).

Para iniciantes em natação, a falta de equilíbrio da água, na fase de adaptação ao meio

líquido, gera mais insegurança. A ansiedade, o medo, a dificuldade de respiração, entre outros

fatores, dificultam os indivíduos com deficiência a encontrar o equilíbrio na água e, assim, o

processo de adaptação se torna mais lento (CAMPION, 2000).

Com a finalidade de ensinar pessoas com deficiência as habilidades básicas na água,

James Mc Millan elaborou um método pedagógico denominado Halliwick. Seu objetivo é

propiciar ao aluno a obtenção de segurança no meio líquido, bem como a liberdade de

movimentação independente. Assim, a partir do momento em que a pessoa estiver dominando

a flutuação, ela poderá aprender a natação por métodos tradicionais. No entanto, essa

metodologia propõe que as habilidades sejam ensinadas na proporção um para um

(aluno/monitor), sem auxílio de materiais flutuantes (A.S.T., 2000).

Já Mauerberg-deCastro (2005) coloca que o indivíduo com LM enfrenta dois desafios

que são a falta de resposta aos impulsos dos membros imobilizados e o peso muscular do

mesmo. Daí a utilidade de se iniciar com materiais flutuantes na fase de adaptação, e o mesmo

deve ser retirado com o tempo para incentivar a independência completa.

Com relação aos estilos de nado da iniciação, Souza (1994) esclarece que entre os

estilos com braçadas simultâneas (peito, costas com braçadas simultâneas e golfinho), os

nados peito e costas são os mais adequados para a iniciação ou reiniciação, no caso daqueles

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que já nadavam antes de sofrer LM. Isso se deve ao fato de que a respiração fica facilitada

pela posição do corpo na água e a movimentação dos braços exige menor coordenação

motora. A ação das sequelas da LM fica menos marcante nesses dois estilos.

O nado costas com braçadas simultâneas permite ao indivíduo com LM uma sensação

de mais independência e segurança. Já os nados com braçadas alternadas (crawl e costas

convencional) apresentam um maior grau de dificuldade para os iniciantes paraplégicos e

tetraplégicos, pois as ações propulsoras dos braços provocam ou predispõem a uma rotação do

corpo do nadador, dificultando seu posicionamento na água e exigindo que a cada braçada ele

redirecione sua trajetória.

O nado peito foi descrito pela primeira vez em 1696 por Thevenot, um escritor

francês, que o descreveu como o nado realizado com a cabeça fora da água e o braço dentro

da água no momento de recuperação que, na época, foi reconhecido como o estilo que

proporcionava excelente estabilidade, inclusive em águas turbulentas (MAUERBERG-

deCASTRO, 2005).

1.9.2 Planejamento e Objetivos

Segundo a YMCA (1987), qualquer programa de natação para populações com

deficiência deve ser ajustado ao número de participantes, à natureza e à gravidade de suas

deficiências. O instrutor deve se concentrar nas habilidades e não nas deficiências físicas, pois

a necessidade de cada aluno deve ser considerada individualmente, mesmo em uma instrução

para o grupo. Cada aluno domina as habilidades aquáticas de maneira diferente, dependendo

do seu potencial e limitação. Dessa forma, o professor deve ajudar o aluno a aprender à sua

própria maneira, no seu ritmo.

Para Burkhardt e Escobar (1985), o planejamento de um programa de exercícios

físicos, de um modo geral, deve levar em conta:

- Interferência de fatores externos no rendimento, por exemplo: temperatura da água (o

frio pode aumentar a contração muscular), ambiente com muitas pessoas (motivo de

dispersão), etc;

- Seleção adequada dos exercícios (processo pedagógico partindo de atividades

simples para as mais complexas);

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- Modificação da carga de esforço de acordo com condicionamento geral do aluno e

com o objetivo específico da aula;

- Presença do sentido lúdico das atividades, sem atingir o extremo de exercícios fúteis

(pois um dos objetivos da natação adaptada é a integração social).

Um programa de natação adaptada deve enfocar o aluno em sua totalidade. Adams et

al. (1985) descrevem cinco objetivos que um programa deve conter:

O objetivo orgânico refere-se às metas que visam aumentar e melhorar a capacidade

funcional dos diversos sistemas do organismo pelo aumento da resistência cardiovascular;

aumento da flexibilidade e da mobilidade das articulações; melhora da força e da resistência

muscular, visando a determinados grupos musculares ou ao condicionamento geral; aumento

da circulação prevenindo a congestão dos vasos.

O objetivo neuromuscular consiste em aumentar as oportunidades para o

desenvolvimento perceptivo-motor como, por exemplo, a coordenação óculo-manual e óculo-

pedal. Os esportes aquáticos fornecem oportunidades para melhorar a capacidade funcional de

muitas deficiências perceptivo-motoras que prevalecem em numerosos deficientes físicos. A

execução de movimentos em vários planos diferentes (exemplo: rotações, flexão do corpo,

etc.) e por métodos diversos é indispensável para o indivíduo fisicamente deficiente que ainda

não explorou tais movimentos. Na piscina, o aluno encontra inúmeras oportunidades nos

jogos, para estimular a coordenação visomotora e para desenvolver várias habilidades.

O objetivo interpretativo se refere à consciência do próprio corpo. O conhecimento do

potencial motor e das possibilidades do aluno é uma parte essencial do objetivo interpretativo.

Na prática da natação, o indivíduo se vê confrontado com um meio multidimensional, no qual

ele pode explorar, descobrir e realizar diversas habilidades motoras ainda desconhecidas. As

atividades que favorecem o desenvolvimento da noção espacial, a percepção do corpo em

relação ao objeto e a noção do próprio corpo podem ser integradas na exploração dentro

d'água.

Ainda com relação ao objetivo interpretativo, este favorece a aquisição dos

conhecimentos relativos ao funcionamento do próprio corpo durante a atividade física,

principalmente dos indivíduos cujas deficiências são recentes (tais como lesão da medula

espinhal, derrame cerebral e amputação causada por acidente). No meio aquático, eles

conseguem entender melhor a maneira como a posição do corpo e as possibilidades motoras

se combinam para garantir a propulsão eficaz do corpo. Essa compreensão interna é

importante para que o deficiente físico tome consciência da relação entre as funções do corpo

e o movimento dentro d’água.

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O objetivo social se evidencia nas diversas formas de recreação. A interação com

outras pessoas é benéfica para alunos deficientes porque desenvolve a sua habilidade de lidar

com os outros. Muitas vezes, essa relação social fica prejudicada em virtude da falta de

variedade dos contatos sociais e também devido ao baixo autoconceito que faz com que o

indivíduo com deficiência física se isole do convívio em grupo. A natação favorece o

desenvolvimento social por ser uma atividade praticada em grupo. Nas aulas de natação para

grupos mistos, os nadadores com deficiência física, muitas vezes, conseguem competir com

seus colegas sem deficiência em pé de igualdade. Esse fato melhora tanto a auto-imagem

como a capacidade de estabelecer contatos sociais.

Com relação ao objetivo emocional, a natação, como qualquer outra atividade física,

proporciona possibilidades diversas de realização e divertimento. Um dos fatores importantes

é que o aluno é capaz de deixar seu dispositivo para se locomover (por exemplo: cadeira de

rodas, muletas, aparelhos ortopédicos), deslocando-se de forma independente dentro da água.

Fato este que eleva sua auto-estima. Somado a isto, como nem todo mundo sabe nadar, a

prática da natação se torna ainda mais gratificante para os alunos fisicamente deficientes.

De acordo com Gorgatti e Teixeira (2008), o indivíduo com LM inicia a prática de

exercícios por diversas razões, tais como: recomendação médica, melhora de

condicionamento físico, estética, bem-estar psíquico, controle ponderal, sociabilização, entre

outros. Desta forma, um programa de exercícios deve ser elaborado tendo em vista, além de

objetivos motores, objetivos mais amplos como proporcionar maior independência e

capacidade de iniciativa para as atividades do cotidiano, reduzir o tempo de fisioterapia,

contribuir para a aquisição de hábitos de vida saudáveis e controlar a porcentagem de gordura,

evitando o ganho anormal de peso.

1.9.3 Benefícios da Prática da Natação aos Indivíduos com Lesão Medular

Atualmente, os exercícios físicos de um modo geral são considerados práticas

benéficas as PDF, podendo acarretar enormes ganhos, tanto no aspecto motor como no social

e psicológico (GORGATTI e TEIXEIRA, 2008).

Com relação aos benefícios que os esportes podem proporcionar aos indivíduos com

LM, vários estudos já comprovaram algumas alterações nos seguintes aspectos: recuperação

ou melhoria de funções fisiológicas atingidas pela lesão (exemplo: circulação sanguínea nos

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membros paralisados); aumento da força muscular do tronco, da cintura escapular e dos

braços; treinamento da coordenação motora; ajuda no treinamento do equilíbrio em posição

ereta ou sentada; treinamento da musculatura que foi parcialmente lesada, no caso de paresia;

melhoria da função respiratória e circulatória. Além de todos esses benefícios, natação

destaca-se por reduzir a espasticidade, encontrada em alguns lesados medulares, quando

praticada em piscina aquecida (PAESLACK, 1978; ADAMS et al., 1985; SOUZA, 1994;

BROMLEY, 1997; MAUERBERG-deCASTRO, 2005).

Na fase de reabilitação, os desportos adaptados aos indivíduos com LM permitem a

utilização das capacidades remanescentes, aprendizagem de novas habilidades, diminui o

número de complicações clínicas associadas à LM e auxilia na transição entre ser “doente” e

“apto”, revertendo possíveis tendências ao ócio, à apatia e ao isolamento (SOUZA, 1994;

GORGATTI e BÖHME, 2008).

A natação assume um lugar privilegiado entre os exercícios físicos, à medida que a

capacidade de movimento torna-se mais fácil na água. Devido à flutuabilidade, cerca de 90%

do peso corporal desloca-se por si próprio no meio líquido, propiciando às PDF abandonar

temporariamente muletas, próteses, cadeira de rodas, etc., e vivenciar a liberdade de

movimentos. Os membros deficientes adquirem mais mobilidade na água. Em decorrência

disso, a natação propicia um valor psicológico positivo ao possibilitar essa movimentação

sem entraves (PAESLACK, 1978; ADAMS et al., 1985; MEIER, 1981; YMCA, 1987;

MAUERBERG-deCASTRO, 2005; GORGATTI e TEIXEIRA, 2008).

Além disso, a natação contribui para prevenção de úlceras de decúbito, permitindo a

permanência temporária fora da cadeira de rodas e, para a prática do ortostatismo, nas lesões

mais baixas, favorecendo a função circulatória (SOUZA, 1994; GORGATTI e BÖHME,

2008).

De acordo com Burkhardt e Escobar (1985), a natação aos indivíduos com paralisias é

vantajosa também nos seguintes pontos: promove a educação para o lazer; mantém a

amplitude dos movimentos, conservando sua função útil; equilibra os desvios da coluna

vertebral; desenvolve a imagem corporal organizada de acordo com a deficiência física,

procurando a funcionalidade.

Souza (1994) enfatiza que nenhuma outra atividade solicita a musculatura de forma

tão geral quanto essa modalidade esportiva, apresentando baixo risco de acidentes e

oferecendo oportunidades de vivências de novas opções motoras na água (mudança autônoma

da posição do corpo e deslocamentos variados). Mauerberg-deCastro (2005) menciona que as

propriedades da água atuam como facilitadores para inúmeras atividades que em solo não

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podem ser realizadas. Essas facilitam a descoberta de outras possibilidades motoras que

podem auxiliar na reabilitação do indivíduo como um todo, pois o sucesso traz consigo

inúmeros fatores que psicologicamente elevam a auto-estima.

A tendência ao sedentarismo observada na maioria das PDF leva ao excesso de peso

que por sua vez prejudica a realização das atividades de vida diária. Segundo Adams et al.

(1985), o consumo de energia durante a prática da natação prolongada é um dos mais

elevados entre todas as atividades esportivas realizadas por indivíduos com deficiência física,

o que constitui um fator importante para combater a obesidade, que é um dos principais

obstáculos à conquista da autonomia e QV.

Além dos benefícios físicos, a natação também melhora a auto-imagem e a auto-

estima do aluno deficiente físico por possibilitá-lo a realizar uma atividade com sucesso,

oferecendo oportunidades de ajustamento pessoal nas relações sociais (BURKHARDT e

ESCOBAR, 1985; YMCA, 1987; SOUZA, 1994; BROMLEY, 1997; GORGATTI e

BÖHME, 2008).

1.10 PROMOÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA

1.10.1 Conceitos

De forma geral, todos se referem à saúde e a QV como se fossem termos bem

definidos, no entanto, são termos revestidos de relevantes dúvidas, principalmente, entre os

profissionais de saúde, em especial, os profissionais de educação física (SILVA et al., 2007).

Atualmente, as propostas de implementação de programas de promoção da saúde e

QV por meio do incremento da atividade física, fundamenta-se principalmente no paradigma

contemporâneo do estilo de vida ativa. Esse entendimento, aceito por vários setores da

comunidade científica, apresenta um referencial teórico embasado na associação da prática de

atividades físicas a melhores padrões de saúde e QV. Entretanto, o homem considerado como

ser histórico sofre influências do seu meio sociocultural, desta forma sua saúde não pode ser

reduzida apenas a uma relação biológica de causa e efeito (ASSUMPÇÃO et al., 2002). O

conceito de promoção de saúde é bem mais amplo do que o conceito saúde, pressupondo

aspectos que vão muito além hábitos saudáveis como o estilo de vida ativo.

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A 1ª Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde resultou na Carta de Ottawa

(WHO, 1986) que, a partir de então, tornou-se o marco referencial para o desenvolvimento

das idéias de promoção de saúde em todo o mundo (BUSS, 2000). Promoção de saúde, de

acordo com a Carta de Ottawa (1986, p.1-2), é definida como:

...O processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle deste processo [...] nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas [...] a saúde é o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, assim como uma importante dimensão da qualidade de vida.

Ainda segundo a Carta de Ottawa, os pré-requisitos para a saúde consistem em

algumas condições como: paz, moradia, educação, alimentação, renda, ecossistema saudável,

recursos sustentáveis, justiça social e equidade. Esses fatores políticos, econômicos, sociais,

culturais, ambientais, comportamentais e biológicos podem tanto favorecer como prejudicar a

saúde.

Czeresnia e Freitas (2003) ressaltam que como a saúde e o adoecer são formas como a

vida se manifesta, dizem respeito a experiências singulares e subjetivas impossíveis de serem

reconhecidas integralmente pela palavra. Assim, entre a subjetividade da experiência da

doença e a objetividade dos conceitos que lhe dão sentido existe uma lacuna. O discurso

médico científico não dá uma significação ampla ao conceito saúde-doença, posto que a saúde

não se posiciona como um objeto a ser delimitado, nem traduzido em conceito científico.

Dentre as várias definições de saúde, por pesquisadores da área da saúde, a definição

proposta por Bouchard et al. (1990, p.175) parece ser bem aceita nos dias atuais:

[...] saúde é uma condição humana com dimensões física, social e psicológica, cada uma caracterizada em um continuum com pólos positivos e negativos. Saúde positiva está associada com a capacidade de apreciar a vida e enfrentar desafios; não é meramente a ausência de doenças. Saúde negativa está associada com a morbidade, e no extremo, com a mortalidade prematura.

Não existe um conceito único de QV, uma vez que esse tema pressupõe aspectos

objetivos e subjetivos da percepção do indivíduo com relação a sua vida cotidiana. O conjunto

dos elementos objetivos como, por exemplo, os fatores socioeconômicos e políticos, se

entrelaçam com os elementos subjetivos, que podem ser expressos na percepção que o

indivíduo tem em relação ao seu modo de vida e ao seu meio ambiente. Dessa forma, para

alguns a QV está relacionada aos bens materiais, para outros à harmonia familiar, a

espiritualidade, a saúde, etc. (BUONFIGLIO et al., 2005).

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Na literatura, de acordo com Mazo (2008), encontram-se inúmeras definições do

conceito de QV que refletem as perspectivas e orientações de cada autor, dependendo da sua

visão de homem, sociedade e mundo. Contudo, apesar das diferentes perspectivas teóricas e

da falta de consenso sobre a temática QV, existe entre os pesquisadores uma considerável

concordância acerca de algumas características como:

- subjetividade: não é subjetividade pura e total, pois há condições externas às pessoas,

presentes no meio, nas condições de vida e de trabalho, que influenciam a QV. O conceito de

subjetividade se dá, pela sua pertinência, a um universo ideológico;

- multidimensionalidade: existe um consenso em considerar que a “vida” compreende

múltiplas dimensões. Segundo o The Whoqol Group (1995), pelo menos três dimensões

devem ser levadas em consideração: a física, a psicológica e a social;

- bipolaridade: o conceito de QV possui dimensões positivas e negativas. Os exemplos

positivos podem ser: o desempenho de papéis, a mobilidade, a autonomia, etc. Como

exemplos de dimensões negativas, pode-se citar a dor, a fadiga, a dependência, entre outros;

- mutabilidade: a avaliação da QV muda com o tempo, pessoa, lugar e contexto social; para

uma mesma pessoa, muda conforme o seu estado de humor.

1.10.2 WHOQOL-bref – Instrumento para Avaliar a Qualidade de Vida

Qualidade de vida é um termo muito utilizado tanto na linguagem cotidiana, por

pessoas da população em geral, quanto no contexto da pesquisa científica, em diferentes

campos do saber, como sociologia, educação, medicina, enfermagem, psicologia, educação

física e demais especialidades da saúde. Na área da saúde, o interesse pelo conceito QV é

relativamente recente, surgindo pela mudança de paradigma do processo saúde-doença e suas

influências nas políticas e práticas nessa área (SEIDL e ZANNON, 2004).

No campo da saúde, são identificadas duas tendências quanto à conceituação do

termo: QV geral, como um conceito mais genérico, e QV relacionada à saúde. Com relação a

esse último, os médicos têm utilizado esse conceito para medir: os efeitos das enfermidades

crônicas, a fim de compreender como uma enfermidade interfere na vida cotidiana de uma

pessoa; os efeitos de numerosos transtornos e incapacidades de pouca e longa duração;

enfermidades em diferentes populações (SEIDL e ZANNON, 2004; MAZO, 2008).

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No primeiro caso, a QV geral inclui aspectos relacionados com a saúde, bem-estar

físico, funcional, emocional e mental, como também aspectos como amigos, família, trabalho

e outros, não se restringindo a pessoas portadoras de algum agravo específico (MAZO, 2008).

Essa concepção mais ampla, aparentemente influenciada por estudos sociológicos,

assemelha-se à conceituação à que foi adotada pela Organização Mundial da Saúde (SEIDL e

ZANNON, 2004), em seu estudo multicêntrico que teve por objetivo principal elaborar um

instrumento que avaliasse a QV em uma perspectiva internacional e transcultural: “a

percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de

valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e

preocupações” (THE WHOQOL GROUP, 1995, p.1405).

Entre os instrumentos genéricos para avaliar a QV, traduzidos para o português, o

World Health Organization Quality Of Life Assessment-100 (WHOQOL-100) e sua forma

abreviada (WHOQOL-bref) já foram testados e validados cientificamente.

O WHOQOL-100 e sua versão abreviada o WHOQOL-bref abordam 3 aspectos

referentes ao constructo Qualidade de Vida: subjetividade (percepção do indivíduo em relação

a sua vida); multidimensionalidade (o constructo abrange várias dimensões da vida); e

presença de dimensões positivas (ex. mobilidade) e negativas (ex. dor) (BAMPI et al., 2008;

OMS, 1998).

O instrumento WHOQOL-100 é constituído de cem perguntas referentes a seis

domínios: físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e

espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais. Devido à necessidade de um instrumento mais

curto, que demandasse pouco tempo para o preenchimento e que preservasse características

psicométricas satisfatórias, o Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolveu uma versão

abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOL-bref (FLECK, 2000).

O WHOQOL-bref (ANEXO 4) consta de 26 questões: duas questões gerais de

qualidade de vida e as demais representam cada uma das 24 facetas que compõem o

instrumento original, distribuídas em apenas 4 domínios (físico, psicológico, relações sociais

e meio ambiente) (Quadro 1) (The WHOQOL Group, 1998b).

Os domínios, representados por facetas, são constituídos por questões formuladas para

uma escala de respostas do tipo Likert, com escala de intensidade (nada-extremamente),

capacidade (nada-completamente), frequência (nunca-sempre) e avaliação (muito insatisfeito-

muito satisfeito; muito ruim-muito bom) (OMS, 1998).

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Quadro 1 – DOMÍNIOS E FACETAS DO WHOQOL-bref. Domínio I – Domínio Físico 1. Dor e desconforto 2. Energia e fadiga 3. Sono e repouso 9. Mobilidade 10. Atividades da vida cotidiana 11. Dependência de medicação ou de tratamentos 12. Capacidade de trabalho Domínio II – Domínio Psicológico 4. Sentimentos positivos 5. Pensar, aprender, memória e concentração 6. Auto-estima 7. Imagem corporal e aparência 8. Sentimentos negativos 24. Espiritualidade/religião/crenças pessoais Domínio III – Domínio Relações Sociais 13. Relações pessoais 14. Suporte (Apoio) social 15. Atividade sexual Domínio IV – Domínio Meio Ambiente 16. Segurança física e proteção 17. Ambiente no lar 18. Recursos financeiros 19. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade 20. Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades 21. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer 22. Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima) 23. Transporte

De acordo com pesquisas realizadas por Fleck et al. (2000), o WHOQOL-bref

apresenta características satisfatórias de consistência interna, validade discriminante, validade

de critério, validade concorrente e fidedignidade teste-reteste, apresentando uma alternativa

útil para ser usada em estudos que se propõem a avaliar QV no Brasil.

Entretanto, a utilização de medidas padronizadas, segundo estudiosos adeptos de

enfoques qualitativos, pode levar a respostas estereotipadas, que têm pouco ou nenhum

significado para a pessoa. Por sua vez, defendem o uso de técnicas como as histórias de vida,

as biografias e outras análises típicas dos enfoques qualitativos que possam trazer mais

contribuições (SEIDL e ZANNON, 2004).

Outros pesquisadores defendem a combinação de medidas padronizadas com análises

de cunho qualitativo, de modo a permitir a emergência de temas que fazem sentido para o

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sujeito, ao mesmo tempo em que se garante a validade e confiabilidade das técnicas que

viabilizam a comparação de resultados de grupos e de indivíduos (SEIDL e ZANNON, 2004).

1.11 AJUSTAMENTO PSICOSSOCIAL

1. 11.1 Fase de Reabilitação

O indivíduo com LM, antes com saúde normal, ao se deparar com sua real situação de

dependência e imobilidade, apresenta reações diversas. Ao recobrar-se do choque traumático

que o levou a lesionar-se, sua reação psicológica se desenvolverá de acordo com a sua

inteligência, idade e temperamento característico. Inicialmente, a pessoa encontra-se

atordoada para realmente entender sua condição. Ela vai se conscientizar da sua inaptidão

gradativamente, ao se dar conta do que pode significar a perda dos movimentos e das funções

urinária, intestinal e sexual (BROMLEY, 1997).

A maioria das pessoas, ao se confrontar com seus membros dependentes, pesados e

sem função, atravessa um período de depressão. A depressão, em vários casos, é expressa por

comportamentos anti-sociais, por vários tipos de queixas físicas, atrapalhando o progresso da

reabilitação. Essa situação pode ser amenizada quando o tempo passa a ser preenchido com o

trabalho ou quando se nota um progresso em relação à independência (BROMLEY, 1997).

Com a alta hospitalar, o indivíduo com LM é transferido de uma vida amparada entre

outros usuários de cadeira de rodas para o mundo dos “fisicamente aptos”, onde ele pode ser

amparado, chamar a atenção ou ser ignorado. Consequentemente, a tendência inicial é fugir

ao contato social até que essa barreira seja superada. É imprescindível um incentivo por parte

da família e dos amigos para o indivíduo com LM sair e tomar parte em atividades sociais

(BROMLEY, 1997).

Para Freed (1994), o ajustamento emocional ocorre depois da alta hospitalar, entre 18

a 24 meses. A terapia de apoio psicológica e o trabalho social podem contribuir muito para

esse ajustamento. Além do que, é essencial o envolvimento da família e dos amigos a fim de

evitar que o lesado medular prejudique a si mesmo sabotando o tratamento e negando sua

realidade no período de depressão. Esse indivíduo somente irá desenvolver uma atitude

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realista e atingir o máximo de sua reabilitação, se estiver consciente do seu potencial de

realização no aspecto físico e das limitações impostas pela deficiência.

1.11.2 A Contribuição do Exercício Físico e do Esporte

Para Pedrinelli e Verenguer (2008), lidar com as diferenças do outro se constitui em

um grande desafio nas relações interpessoais. Atualmente, embora exista uma premissa legal

que assegura os direitos sociais de igual oportunidade, independentemente da condição

diferente que um indivíduo apresente, muitas ações refletem a influência de modelos

precursores como o de destruição (quando pessoas com deficiência eram sacrificadas), de

segregação (quando a única opção era a segregação em instituições especializadas), de cura

ou prevenção (quando pessoas com deficiência eram focalizadas sob a ótica da limitação, da

doença ou da invalidez). Esses modelos ainda influenciam atitudes que colocam as pessoas

com deficiência em desvantagem de oportunidades para a prática de atividades físicas.

Segundo Diehl (2008), a deficiência física pode ser caracterizada por um

comprometimento físico que restringe não apenas os movimentos de um indivíduo, mas

também seu convívio social. Além das barreiras arquitetônicas que impedem seu acesso aos

espaços sociais ou de trabalho, existe a barreira presente no discurso das pessoas revestido de

preconceitos e mitos. Como por exemplo, o estereótipo construído pela mídia de “corpo

padrão”, sendo o corpo “belo” e “perfeito”, o que automaticamente exclui as PDF, visto que

para a grande maioria ser bonito é ser “normal”. Consequentemente, Gorgatti e Gorgatti

(2008) mencionam que muitas PDF tende a se sentirem feias, pouco atraentes e extremamente

limitadas.

O ajustamento psicológico à incapacidade física, de acordo com Lieberman e

Lieberman (2004), é uma experiência pessoal única que depende das experiências, do

temperamento e das percepções que moldam os processos adaptativos do indivíduo. A

“deficiência” está relacionada ao modo como o indivíduo se avalia, e como ele avalia a

condição incapacitante. Assim, se o enfoque repousar nas deficiências, e não nos aspectos

mais ativos, a extensão da incapacidade será ampliada.

Conforme Adams et al. (1985, p. 1) apontam, “os efeitos sociais e psicológicos que

acompanham alguns deficientes podem criar maiores problemas do que propriamente a

incapacidade física”. Apesar das limitações e da aparência física, as PDF possuem as mesmas

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necessidades de ter sucesso, ser reconhecida, aprovada e desejada, como qualquer outra

pessoa sem deficiência. Elas precisam de oportunidades para uma auto-exploração a fim de

envolverem-se com alguma coisa e serem aceitas pela sociedade. Como sugerem Sampaio et

al. (2001), a prática de atividade física pode ser essa oportunidade, à medida que intensifica os

contatos sociais e aumenta a participação na comunidade.

As PDF consideradas individualmente na maioria das vezes são isoladas socialmente,

experimentando uma rejeição e, consequentemente, receio em participar de grupos que não a

sua família. Dessa forma, uma das tarefas principais do educador físico que atua nessa área é

promover a auto-aceitação e a confiança das PDF para que elas desenvolvam habilidades e

talentos que compensem sua deficiência física (ADAMS et al., 1985).

A esse respeito Sampaio et al. (2001) acrescentam que a atividade física e esportiva,

além dos benefícios físicos inerentes a sua prática, acelera a integração do indivíduo com LM

na sociedade. Com a prática da atividade esportiva, sua imagem passa a ser associada à

potencialidade e habilidade e, não à incapacidade, ampliando e melhorando seu convívio

social.

Quando uma pessoa com deficiência domina a habilidade de nadar, ela se coloca em

posição de igualdade praticando a mesma atividade que seus pares não-deficientes, além do

que, ser proficiente em atividades físicas e esportivas dão um grande prestígio social aos seus

praticantes (CAMPION, 2000).

Souza (1994) coloca ainda que o esporte é um meio de reabilitação total do indivíduo

e não apenas de uma função específica. Embora Gorgatti e Gorgatti (2008) descordem que o

esporte adaptado não tem como objetivo a reabilitação, mas sim a competição, concordam

com Souza (1994), Sampaio et al. (2001) e Mauerberg-deCastro (2005) quanto aos enormes

benefícios que a sua prática pode desenvolver, principalmente, nos aspectos psicossociais,

proporcionando uma visível melhora na auto-estima, na autoconfiança, na aceitação da

condição de deficiência, na interação social e de independência.

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63

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

- Verificar se um programa de natação adaptada, em um período de oito semanas, pode

contribuir para a melhoria da saúde e da qualidade de vida de indivíduos com lesão medular.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1 - Analisar quantitativamente a melhora das variáveis bioquímicas (colesterol e frações,

triglicérides e glicemia), das medidas antropométricas (massa corporal, IMC, circunferências

do braço e do abdômen, dobras cutâneas tricipital e supra-ilíaca), e do estado de

condicionamento físico dos participantes com lesão medular do programa de natação (grupo

experimental), em protocolo de treinamento intervalado;

2 - Comparar as variáveis bioquímicas estudadas e as medidas antropométricas do grupo

experimental com indivíduos sedentários com lesão medular (grupo controle);

3 - Identificar as possíveis alterações na percepção de qualidade de vida do grupo

experimental, após o programa de natação, por meio de um questionário geral, padronizado,

de qualidade de vida;

4 - Descrever as percepções apresentadas pelos sujeitos do grupo experimental relativas ao

conceito de qualidade de vida e de saúde; e

5 - Levantar e analisar qualitativamente as percepções relativas aos possíveis benefícios do

programa de natação, com entrevista e de grupo focal após o término do mesmo.

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3 METODOLOGIA

3.1 AMOSTRA

O estudo, de caráter experimental, complementado por uma etapa qualitativa,

envolveu indivíduos com LM da cidade de Ribeirão Preto-SP. Utilizou-se uma amostragem

por conveniência, selecionando membros da população para o estudo que demonstraram

interesse em participar da pesquisa. A escolha da amostra por conveniência foi necessária

devido à dificuldade de entrar em contato com essa população e a dificuldade de adesão a um

programa de pesquisa envolvendo treinamento físico, alvo deste estudo.

A amostra utilizada, não-probabilística, foi composta por sujeitos que foram

selecionados a partir de encaminhamentos recebidos da Clínica Escola de Fisioterapia da

Universidade de Ribeirão Preto, do CER – Centro de Reabilitação do HC – Campus da

Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto e por panfletos distribuídos em locais públicos

com informações a respeito do projeto (APÊNDICE 1).

Participaram do estudo 17 indivíduos com LM, com idade entre 22 e 63 anos, todos do

sexo masculino. A idade cronológica e o nível de lesão não foram considerados como critério

de inclusão devido às limitações em se obter um número satisfatório de indivíduos para

amostra do estudo. Para o grupo controle (GC), adotou-se apenas o sedentarismo como

critério de inclusão.

Todos os sujeitos foram submetidos à anamnese (APÊNDICE 2) e os participantes do

grupo experimental (GE) foram submetidos, também, à exame de eletrocardiograma realizado

pelo Centro Clínico da Universidade de Ribeirão Preto.

Os participantes selecionados foram informados antes do início do estudo sobre os

objetivos e confidencialidade da pesquisa em relação a seu anonimato. Após essa etapa, foram

informados minuciosamente sobre os procedimentos da pesquisa e da ausência de riscos as

suas integridades física e moral. Os sujeitos que concordaram em participar do estudo

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 3) concordando

voluntariamente em participar da pesquisa, sem apresentar nenhuma objeção quanto à

divulgação dos resultados.

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O projeto de pesquisa, que seguiu rigorosamente as normas da Declaração de Helsinki

e as precípuas da resolução CNS 196/96 do Ministério da Saúde, foi regularmente submetido

e aprovado por dois comitês: Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Franca,

protocolo 136/07 (ANEXO 1 e 2), e Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Ribeirão

Preto, protocolo 202/07 (ANEXO 3).

3.2 DIVISÃO DOS GRUPOS AMOSTRAIS

Os sujeitos da amostra selecionada foram distribuídos em 2 grupos: 11 participantes

do GE e 6 do GC. Essa divisão ocorreu espontaneamente pela desistência dos sujeitos em

praticar natação, a qual foi motivada, segundo relatos dos participantes, por insegurança de

estar no meio aquático, ou devido às complicações de controle da bexiga e intestino.

Para inclusão ao GE (treinamento), adotaram-se os seguintes critérios: ter

movimentação completa ou parcial de alguns músculos dos membros superiores que os

capacitem a realizar a braçada dos nados peito e costas; apresentar atestado médico liberando-

os para prática de exercícios físicos; estarem reabilitados quanto à higiene pessoal; não estar

praticando natação; estar pelo menos três meses sem praticar nenhum esporte.

As descrições das características dos componentes de cada grupo seguem nas Tabelas

1 e 2.

TABELA 1 - CASUÍSTICA DO GRUPO EXPERIMENTAL Sujeitos Idade

(anos) Nível de Lesão

Classificação Neurológica

Tempo de Lesão

Etiologia

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

31 35 34 35 22 34 26 26 36 47 63

T10 T12

T12-L1 T4-T5 T7-T8 T12 C5

T12-L1 L1 T12

T3-T4

ASIA A ASIA A ASIA A ASIA A ASIA C ASIA A ASIA B ASIA A ASIA A ASIA A ASIA A

8 anos 9 anos 2 anos 11 anos 2 meses 8 anos 7 anos

10 meses 7 anos 26 anos 9 anos

Acidente Automobilístico Projétil de Arma de Fogo Acidente de Trabalho Acidente Automobilístico Acidente Automobilístico Trauma em Assalto Mergulho em Águas Rasas Queda de Altura Projétil de Arma de Fogo Trauma em Acidente de Trabalho Tumor

Nível de lesão ver Figura 1 ASIA – A (lesão completa); B (lesão incompleta, preservação sensitiva não-motora abaixo do nível neurológico da lesão); C (lesão incompleta, preservação motora abaixo do nível neurológico, com a maioria dos músculos-chave abaixo desse nível com grau menor que 3).

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TABELA 2 - CASUÍSTICA DO GRUPO CONTROLE Sujeitos Idade

(anos) Nível de Lesão

Classificação Neurológica

Tempo de Lesão

Etiologia

12 13 14 15 16 17

26 26 32 25 30 45

L1-L2 C4-C7

L1 T12-L2

L4 L1

ASIA A ASIA B

ASIA A ASIA A ASIA A ASIA A

4 anos 4 anos 8 anos 7 anos 1ano

10 anos

Acidente Automobilístico Acidente Automobilístico Acidente Automobilístico Projétil de Arma de Fogo Queda de Altura Acidente Automobilístico

Nível de lesão ver Figura 1 ASIA – A (lesão completa); B (lesão incompleta, preservação sensitiva não-motora abaixo do nível neurológico da lesão); C (lesão incompleta, preservação motora abaixo do nível neurológico, com a maioria dos músculos-chave abaixo desse nível com grau menor que 3).

3.3 LOCAL

O estudo foi realizado no Campus da Universidade de Ribeirão Preto, em piscina

medindo 17x25m, descoberta, aquecida a 27° C. As sessões de natação do estudo ocorreram

no período da manhã (10h30). A piscina utilizada não apresentava instalações especiais para a

entrada de deficientes físicos, o que obrigou a participação de monitores para o auxílio na

transferência da cadeira para a piscina.

3.4 PROCEDIMENTOS PARA OS OBJETIVOS 1 e 2

Objetivos 1 e 2: analisar quantitativamente a melhora das variáveis bioquímicas

(colesterol e frações, triglicérides e glicemia), das medidas antropométricas (massa corporal,

IMC, circunferências do braço e do abdômen, dobras cutâneas tricipital e supra-ilíaca) e do

estado de condicionamento físico dos participantes com lesão medular do programa de

natação (GE), em protocolo de treinamento intervalado; comparar as variáveis bioquímicas

estudadas e as medidas antropométricas do GE com indivíduos sedentários com lesão medular

(GC).

Primeiramente, os indivíduos foram submetidos à anamnese (APÊNDICE 2), à coleta

de sangue, para análise bioquímica, e à avaliação antropométrica.

A anamnese e o questionário de qualidade de vida (ver em procedimentos para os

objetivos 3 a 5) foram aplicados no mesmo dia, logo após uma breve apresentação da equipe

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que participou do estudo (pesquisadora responsável pelo projeto, fisioterapeuta, professor de

natação da instituição e monitores); a apresentação da proposta do programa de natação;

esclarecimentos sobre os objetivos do estudo e realização de convite para participação do

mesmo; e da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 3) por

parte dos que aceitaram participar do estudo. A anamenese foi realizada pela pesquisadora

responsável individualmente com os sujeitos na sala do Laboratório de Fisiologia do

Exercício e Nutrição Humana – LAFINE da UNAERP.

Os sujeitos foram distribuídos em dois grupos, já descritos, de acordo com as

possibilidades apresentadas por cada um dos entrevistados em participar ou não do programa

de natação.

A coleta de sangue e a avaliação antropométrica foram realizadas em outro dia

conforme a disponibilidade de tempo e de transporte dos participantes.

Na semana seguinte, iniciou-se a fase do experimento no meio líquido composta por:

fase de adaptação ao meio líquido, teste de esforço, protocolo de natação e reavaliação do

teste de esforço. Ao término dessas fases, foram realizadas a reavaliação da antropometria e a

coleta de sangue de cada indivíduo, nos mesmos moldes das avaliações iniciais.

A seguir, cada procedimento será descrito detalhadamente.

3.4.1 BIOQUÍMICA SANGUÍNEA

A coleta de sangue para análise bioquímica dos participantes foi realizada no

Laboratório de Análise Clínicas (LAC) da Universidade de Ribeirão Preto, no período da

manhã.

Na obtenção da amostra sanguínea foram seguidas as recomendações de 12 horas de

jejum, sem consumo de bebida alcoólica nem de medicamentos pelo período de 24 horas. As

amostras foram obtidas do sangue venoso por punção da veia cubital, no período da manhã

com seringa e agulha de 25x8 (MOURA, 1998).

As análises bioquímicas da glicemia de jejum (GLI), dos triglicérides (TRI), do

colesterol total (CT) e frações deste (HDL e LDL) foram realizadas em triplicata,

considerando a média entre elas. Para coleta da amostra sanguínea e análise da glicose foi

utilizado um tubo contendo o anticoagulante fluoreto de sódio, na concentração de 2mg/ml

para inibição da coagulação e glicólise.

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Na determinação de TRI, CT e fração HDL, o tubo utilizado não apresentava

anticoagulante (MOTTA, 2003). Após a coleta da amostra, o sangue foi centrifugado a 2.500

rpm durante 5 minutos, separando-se o soro para as análises bioquímicas.

As análises foram obtidas com a utilização de kits de reagentes Liquiform®

enzimáticos e controle Qualitrol® da LabTest®. Foi utilizado para a leitura das amostras o

equipamento Cobas Mira Plus® - Roche®.

O método de determinação da glicose adotado foi o enzimático colorimétrico da

oxidase. Para o CT, TRI e HDL-colesterol foram aplicados o método colorimétrico

enzimático. A fração de colesterol LDL-colesterol foi obtida pela fórmula de Friedewald

(1972).

3.4.2 ANTROPOMETRIA

Como não existe uma padronização dos valores de referência antropométricos para

indivíduos com LM, alguns autores sugerem teste e re-teste para avaliar as transformações

ocorridas na composição corporal ou no desempenho de pessoas com deficiência depois de

uma intervenção (PITETTI, 1993; FIGONI et al., 1993; WINNICK e SHORT, 2001; MELLO

e PASETTO, 2008). Dessa forma, optamos por apenas comparar algumas medidas

antropométricas e o IMC de um grupo de indivíduos com LM, antes (avaliação) e depois

(reavaliação) de realizarem um protocolo de natação, e, posteriormente, compará-las com os

valores encontrados em outro grupo de sedentários também com LM.

Selecionamos para a análise antropométrica as seguintes medidas: a massa corporal; a

estatura, as dobras cutâneas tricipital (DT) e supra-ilíaca (DSI); a circunferência do braço

(CB) e do abdômen (CA). A DT e a CB foram avaliadas por se tratar de medidas relacionadas

ao membro responsável pela propulsão no meio líquido; CA e a DSI foram avaliadas por

representar a região de maior deposição de gordura subcutânea em homens e por serem

indicadores relacionado a várias doenças cardiovasculares (POLLOCK e WILMORE, 1993;

HUNTER et al., 1997), inclusive em indivíduos com LM (BUCHHOLZ e BUGARESTI,

2005).

Além disso, optamos ainda por selecionar a DT por ser um local que apresenta função

muscular, como sugere Winnick e Short (2001), e outra dobra numa região onde não há

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mobilidade muscular (DSI) para verificarmos se há diferenças na metabolização de tecido de

gordura em áreas distintas com relação à função muscular.

Verificamos também o IMC que, embora questionado como indicador de massa

adiposa e obesidade (POLLOCK e WILMORE, 1993; McARDLE et al, 1998), é largamente

utilizado em estudos sobre saúde de indivíduos não-atletas e válido como uma ferramenta

paralela a outros métodos mais precisos para identificar pessoas que possam apresentar perfis

de composição corporal problemáticos (TRITSCHLER, 2003).

O IMC ou índice de Queletet foi calculado a partir das medidas de massa corporal (kg)

e altura (m), utilizando a fórmula: IMC=peso corporal(kg)/altura(m)² (GASSER et al., 1994).

A estatura foi mensurada por estadiômetro da marca Sanny, com acurácia de 0,1mm,

fixado horizontalmente a 40 cm de uma base rígida. Os sujeitos se posicionaram em decúbito

dorsal. Enquanto um avaliador estabilizava os membros inferiores do avaliado em extensão, o

outro realizava a medida da estatura, sendo esta aproximada para 0,1 cm mais próximo. Cabe

ressaltar que todos relataram que sua altura era maior antes do trauma na medula. Muitos

estavam medindo sua altura pela primeira vez após a lesão.

O peso corporal foi aferido em uma balança digital da marca Marte modelo LC 200,

com acurácia de 0,05 kg. Foi utilizada uma cadeira posicionada em cima da balança (Figura

2) para que o sujeito fosse pesado sem sua cadeira de rodas. A balança foi inicialmente tarada,

com a cadeira em cima, para depois fazer a pesagem dos indivíduos. Tanto para pesagem,

quanto para a aferição das dobras cutâneas e circunferências, os avaliados se posicionaram

sentados, com o tronco desnudo e descalço.

Figura 2 – Posicionamento da cadeira em cima da balança

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Para as medidas das CA e CB foi utilizada uma trena métrica flexível e não elástica,

com mecanismo de retração e travamento, e graduação de 0,1 mm registrando a medida para o

meio centímetro mais próximo.

A medida da CA teve como ponto anatômico de referência a cicatriz umbilical,

colocando-se a fita em um plano horizontal. A medida do braço foi aferida com o mesmo

relaxado (Figura 3), posicionado junto ao corpo, sendo o referencial de medida o ponto

medial entre o acrômio e a cabeça do rádio (MARINS e GIANNICHII, 2003).

Figura 3 – Medida da circunferência do braço

O instrumento utilizado para a mensuração da espessura das dobras cutâneas foi um

compasso plicométrico da Marca Mitutoyo® (Japan) com escala em mm e precisão de 1mm.

As medidas foram tomadas em triplicata, considerando-se a média entre elas.

As medidas de espessura das dobras cutâneas foram coletadas no hemicorpo direito do

avaliado, segundo recomendação da norma internacional (WHO, 1995). O compasso foi

colocado de forma perpendicular à dobra, e o tempo de compressão do mesmo não

ultrapassou 4 segundos. A posição do compasso foi, aproximadamente, a 1cm do ponto de

fixação dos dedos (MARINS e GIANNICHI, 2003).

O ponto de medida da DT foi a parte posterior dos braços (Figura 4), sobre o tríceps,

no ponto medial de uma linha imaginária entre o ponto distal e proximal do tríceps. A DSI

teve como referência a prega oblíqua medida num ponto médio entre a última costela e a

crista ilíaca (MARINS e GIANNICHI, 2003).

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Figura 4 – Ponto de medida da dobra tricipital

3.4.3 ADAPTAÇÃO AO MEIO LÍQUIDO

Após essa primeira etapa de avaliações, os sujeitos passaram por uma semana de

adaptação ao meio líquido. Foram três sessões de adaptação, com duração de 50 minutos. O

tempo das sessões foi distribuído em: alongamentos fora da piscina (APÊNDICE 4),

treinamento de transferência da cadeira para a borda da piscina, exercícios para a

familiarização com o colete de flutuação (Figura 5) e exercícios educativos da braçada do

nado peito e costas.

Figura 5 – Colete de Flutuação

3.4.4 TESTE DE ESFORÇO

Depois da fase de adaptação, os sujeitos foram submetidos a um teste de esforço com

avaliação subjetiva, com a finalidade de se estimar o estado de condicionamento físico de

cada um.

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De acordo com alguns pesquisadores, existem dados que indicam que a percepção

subjetiva de esforço pode ser usada como um indicador da intensidade do esforço em

exercícios aquáticos (GRAEF e KRUEL, 2006; MENDONÇA e PEREIRA, 2007).

Para avaliar estado de condicionamento físico inicial dos participantes do estudo e

qual seria a intensidade do exercício durante as sessões, foi aplicado um teste de esforço com

a utilização da Escala de Borg. A escala leva em consideração o grau de esforço subjetivo

percebido pelo próprio indivíduo que atribui uma nota variando de 6 a 20 (Figura 6).

6 -

7 muito fácil

8 -

9 Fácil

10 -

11 relativamente fácil

12 -

13 ligeiramente cansativo

14 -

15 Cansativo

16 -

17 muito cansativo

18 -

19 Exaustivo

20 -

Fig. 6 - Escala de Percepção Subjetiva de Esforço (Borg, 2000)

O teste de esforço foi aplicado individualmente e consistiu em realizar a braçada do

nado peito, com a utilização do colete de flutuação, o mais rápido possível até a exaustão.

Cada participante fazia um prévio alongamento e recebia explicações sobre a utilização da

Escala de Percepção Subjetiva de Esforço. Iniciava o teste com a autorização verbal do

professor que cronometrava o tempo de execução do teste. No instante de interrupção do

nado, era registrado o tempo de exercício, a distância percorrida, a percepção subjetiva de

esforço de acordo com a Escala de Borg e a FC.

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O tempo de execução do teste foi registrado com cronômetro.

A metragem da piscina, feita com cones na sua borda de 5 em 5 metros, auxiliou no

registro da distância percorrida no teste. Para cálculo da distância total do deslocamento com

a braçada do nado peito, foi aferida com uma trena métrica a distância do ponto onde o sujeito

interrompeu o teste até o cone mais próximo.

A percepção subjetiva de esforço foi avaliada através da Escala de Borg apresentada

plastificada aos sujeitos, como mostra a Figura 6, no momento de interrupção do nado. O

sujeito atribuía uma nota que representasse o grau de esforço subjetivo percebido por ele.

A FC foi monitorada com frequencímetro modelo Polar F6 (POLAR Electro Oi -

Filand).

3.4.5 PROTOCOLO DE TREINAMENTO

O programa de natação foi elaborado seguindo alguns critérios de “exercícios

recomendados para indivíduos com LM”, elaborados por Jacobs e Nash (2004), para

indivíduos paraplégicos: são necessárias de 3 a 5 sessões semanais de exercícios, com duração

de 20 a 60 minutos, numa intensidade de 50 a 80% do VO2pico, utilizando-se tipos de

exercícios como natação, ergômetro de braço, esportes de cadeira de rodas, circuito de

treinamento de resistência, etc.

Segundo os autores, essas referências sugerem que a intensidade alvo do exercício

deve produzir respostas da FC equivalentes a 50-80% da FCpico do indivíduo, sendo que, a

frequência e a duração dos exercícios devem ser aumentadas gradativamente uma vez que é

importante evitar lesões e promover a adesão ao exercício.

Uma semana após o teste de esforço, foi aplicado um protocolo de TI em natação,

durante oito semanas consecutivas, com duração de 40 minutos cada sessão, três vezes por

semana. Cada sessão foi composta de 5 minutos de alongamento fora da piscina (APÊNDICE

4), de 20 a 25 minutos de treinamento e o restante de atividades livres, como natação sem

coletes ou atividades recreativas, até completar os 40 minutos.

Nas três primeiras semanas, os praticantes realizavam as sessões de treinamento na

largura da piscina, ou seja, percorriam a distância de 17 m. A partir da quarta semana de

treinamento, as sessões foram realizadas no comprimento da piscina, 25 m. Esse modelo de

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protocolo foi adaptado ao condicionamento físico do grupo de uma forma geral, e o aumento

gradativo de esforço físico foi elaborado conforme o condicionamento físico da maioria do

grupo.

O protocolo de TI empregou a braçada do nado peito (Figura 7) nos períodos de

trabalho de intensidade moderada a intensa, que corresponderia de 12 a 15 da Escala de Borg,

e a braçada do nado costas (Figura 8) nos períodos de recuperação ativa, com uma pequena

pausa de recuperação passiva na borda da piscina, até completar o tempo de período de

recuperação proposto para cada semana de treinamento.

As sessões foram constituídas por vários períodos de trabalho e de recuperação

durante o tempo estipulado previamente que variou de 20 a 25 minutos:

- 1ª e 2ª semanas: 30” de período de trabalho e 1’30” de período de recuperação durante 20’.

- 3ª semana: 30” de período de trabalho e 1’ de período de recuperação durante 20’.

- 4ª semana: 30” de período de trabalho e 1’ de período de recuperação durante 25’.

- 5ª semana: 1’ de período de trabalho e 1’30” de período de recuperação durante 20’.

- 6ª semana: 1’ de período de trabalho e 1’30” de período de recuperação durante 25’.

- 7ª semana: 1’ de período de trabalho e 1’ de período de recuperação durante 25’.

- 8ª semana: 1’ de período de trabalho e 30” de período de recuperação durante 25’.

Os participantes realizaram as sessões de treinamento coletivamente. Ao som do apito,

todos iniciavam a braçada do peito, cada um em seu ritmo, tentando atingir o número 15 da

Escala de Borg. No segundo apito, todos mudavam de decúbito e realizaram a braçada do

nado costas até atingir a borda.

Figura 7 – Braçada do nado peito Figura 8 – Braçada do nado costas

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3.5 PROCEDIMENTOS PARA OS OBJETIVOS 3 a 5

Objetivos 3 a 5: identificar as possíveis alterações na percepção de qualidade de vida

do grupo experimental, após o programa de natação, por meio de um questionário geral,

padronizado, de qualidade de vida; descrever as percepções apresentadas pelos sujeitos do

grupo experimental relativas ao conceito de qualidade de vida e de saúde; levantar e analisar

qualitativamente as percepções relativas aos possíveis benefícios do programa de natação,

com entrevista e de grupo focal após o término do mesmo.

3.5.1 QUESTIONÁRIO WHOQOL-bref

A aplicação do questionário WHOQOL-bref no GE, antes da implementação do

programa de natação, foi realizada de forma coletiva, pela equipe que participou do projeto.

Como o WHOQOL-bref (ANEXO 4) é um instrumento auto-explicativo, todos os

avaliados receberam o questionário para responderem sozinhos. Quando não entendiam o

significado de alguma pergunta, o entrevistador relia a pergunta de forma lenta, evitando dar

sinônimos às palavras das perguntas (aplicação assistida). Quando o respondente apresentava

dificuldades em ler o questionário devido a limitações na alfabetização, o questionário era

lido pelo entrevistador, evitando a influência sobre as respostas do indivíduo, conforme

recomendações para o procedimento de aplicação da Organização Mundial de Saúde (OMS,

1998).

O reteste do WHOQOL-bref foi realizado individualmente pela pesquisadora

responsável. Isso aconteceu após o término do programa de natação, no período em que os

sujeitos retornaram à universidade, onde foi realizado o estudo, para as reavaliações dos testes

de antropometria e esforço. Posteriormente, foi realizada uma entrevista e duas sessões de

grupo focal com os participantes do GE.

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3.5.2 Abordagem Metodológica Qualitativa

Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, Silva e Menezes (2001)

mencionam que a pesquisa pode ser:

- Quantitativa: de uma maneira geral, as abordagens quantitativas consideram que tudo

pode ser mensurável, quantificável, ou seja, que opiniões e informações podem ser traduzidas

em números, para serem classificadas e analisadas. Essa abordagem requer recursos e de

técnicas estatísticas como percentagem, desvio-padrão, coeficiente de correlação, etc.

- Qualitativa: essa abordagem considera que há uma relação dinâmica entre o mundo

real e o sujeito. Isto é, existe um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a

subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. No processo de pesquisa

qualitativa, a interpretação dos fenômenos e a atribuição dos significados são essenciais. O

ambiente natural é a fonte direta para a coleta de dados, em que o pesquisador, instrumento-

chave, analisa seus dados indutivamente. A abordagem qualitativa, de um modo geral, é

descritiva, tendo como focos principais o processo e seu significado.

A escolha pela abordagem qualitativa como complemento de um estudo experimental

ocorreu devido à possibilidade de compreender os significados que os participantes do estudo

atribuem à QV e à saúde. Além disso, o estudo buscou apreender as percepções que os

participantes apresentaram a respeito dos benefícios que o programa teria proporcionado ou

não.

Tal como esclarecem Pope e Mays (1995), os métodos qualitativos e quantitativos,

embora difiram quanto à forma e à ênfase, não se excluem nem guardam relação de oposição.

A abordagem qualitativa pode contribuir em uma pesquisa quantitativa à medida que oferece

procedimentos de cunho racional e indutivo capazes de trazer uma compreensão mais

ampliada dos fenômenos.

Neves (1996) acrescenta que os métodos quantitativos e qualitativos trazem diferentes

visões da realidade que não se contrapõem, mas sim se complementam, auxiliando o

pesquisador a ter uma visão mais abrangente dos problemas, visto que a abordagem

qualitativa pressupõe um contato direto com o objeto de análise e fornece um enfoque

diferenciado para a compreensão da realidade.

A combinação dos dois métodos é denominada por Morse (1991) de “triangulação de

métodos”. Na fase de coleta de dados, na qual a interação entre os dois métodos é reduzida,

mas se complementam na fase de conclusão, a autora sugere a expressão “triangulação

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simultânea”. Segundo ela, a omissão no emprego de métodos qualitativos num estudo, no qual

se faz possível e útil empregá-los, empobrece a visão do pesquisador quanto ao contexto em

que ocorre o fenômeno.

Para Flick (2004), a pesquisa qualitativa trabalha, acima de tudo, com textos. Isto é, os

métodos para a coleta de dados, como a entrevista e as observações, produzem informações

que são transformadas em textos, por gravação e transcrição. Assim, os métodos de

interpretação partem desses textos.

Resumindo, o processo de pesquisa qualitativa pode ser representado como uma

trajetória que parte da teoria em direção ao texto, e outra do texto de volta à teoria. A

interseção dessas duas trajetórias é a coleta de dados verbais ou visuais e a interpretação

destes em um plano de pesquisa específica (FLICK, 2004).

Os dados verbais são, geralmente, coletados por entrevistas semi-estruturadas ou como

narrativas (entrevistas individuais, discussões em grupo, grupos focais, etc.). Os dados visuais

resultam da aplicação de diversos métodos observacionais, que variam da observação

participante e não-participante à etnografia e à análise de fotografias, filmes, entre outros

(FLICK, 2004).

Na etapa seguinte, esses dados são transformados em textos com a sua documentação

e transcrição. Inicia-se a segunda parte do estudo, a trajetória do texto à teoria ou

interpretação. Conforme explica o mesmo autor, essa etapa consiste na transferência de uma

postura teórica a cada método aplicado, ou seja, existe uma postura teórica implícita em cada

método. Antes de se deparar com os dados empíricos pela primeira vez, a postura teórica do

pesquisador é transformada em um plano de pesquisa.

Ainda segundo Flick (2004), formula-se a questão da pesquisa para procurar uma

resposta para o problema do acesso ao campo e aos indivíduos que serão estudados. Elabora-

se uma estratégia para ser aplicada especificamente para os casos ou grupos de amostragem.

A interpretação de dados é orientada ou para a codificação e a categorização ou para a análise

de estruturas sequenciais no texto, conforme o objetivo do pesquisador.

O objeto de investigação em uma pesquisa qualitativa, segundo Bodgan e Biklen

(1997), é aquilo que os sujeitos experimentam, o modo como eles interpretam as suas

experiências e o modo como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem. O

processo de condução de uma investigação qualitativa revela-se numa espécie de diálogo

entre investigador e sujeitos, por estes não serem abordados pelo pesquisador de uma forma

neutra.

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Os instrumentos de coleta de dados selecionados para o estudo foram a entrevista

aberta, para avaliar os benefícios percebidos pelos sujeitos com LM referentes ao programa de

natação, e o grupo focal, para identificar as percepções a respeito dos conceitos “qualidade de

vida” e “saúde”.

3.5.3 Entrevista com Questão Aberta

De acordo com Minayo (1993), a entrevista é a técnica mais utilizada no processo de

trabalho de campo. A entrevista, numa pesquisa, de acordo com autores que tratam o tema

como Thiollent, Schrader, Michelat, Kandel, Good & Hatt e Hyman, fornece dados de duas

naturezas: os dados objetivos, nomenclatura usada por Lundberg, que se referem aos fatos que

o pesquisador poderia obter por outras fontes como, por exemplo, censos, estatísticas,

registros civis e outros; os dados que se referem diretamente ao indivíduo entrevistado, suas

atitudes, valores e opiniões, ou seja, referem-se às informações no nível mais profundo das

realidades denominadas, pelos cientistas sociais, de “subjetivas”.

Segundo Flick (2004), na entrevista centralizada no problema sugerido por Witzel, é

possível coletar dados com relação a um determinado problema para se compreender o foco

da pesquisa. A entrevista é planejada para auxiliar a “corrente narrativa desenvolvida pelo

próprio entrevistado” (2004, p. 100), em que o pesquisador deve apresentar seu interesse

centralizado no problema na forma de questões direcionadas.

3.5.3.1 Procedimentos para a coleta de dados da entrevista

A aplicação da entrevista ocorreu na semana das reavaliações da antropometria, do

teste de esforço, do questionário WHOQOL-bref e da última coleta de sangue. Fizeram parte

dessa etapa do estudo apenas os sujeitos do grupo que participaram do programa de natação.

O contato com os sujeitos foi feito pessoalmente, nos dias das reavaliações e, nesse contato,

foi explicado o motivo da entrevista e marcado o dia que coincidisse com o dia e horário da

semana que estava reservado para o programa de natação, assim todos estariam disponíveis.

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As entrevistas ocorreram no mesmo dia para todos os sujeitos em uma sala da

Universidade de Ribeirão Preto, de fácil acesso à cadeira de rodas.

Foi aplicada uma entrevista que constava de apenas uma questão aberta. A questão

aberta referia-se aos benefícios, percebidos ou não, pelos sujeitos do GE em relação à prática

da natação durante o período de estudo e explorava a respeito das mudanças ocorridas ou não

na QV:

“Quais os benefícios (físicos, psicológicos e sociais) que a natação proporcionou

para você durante esse período? Melhorou sua qualidade de vida?”.

O inquérito foi realizado individualmente pela pesquisadora, que foi a professora

responsável pelo programa de natação. As respostas foram anotadas na própria folha que

continha a questão (APÊNDICE 5). O tempo médio de cada entrevista foi de

aproximadamente 15 minutos.

3.5.4 Grupo Focal

Na concepção de Vaughn et al. (1996), a estratégia de grupo focal é uma técnica

qualitativa que pode ser usada sozinha ou com outras técnicas qualitativas ou quantitativas

para aprofundar o conhecimento das necessidades dos entrevistados.

O Grupo Focal é a reunião de pessoas selecionadas para discutir e comentar sobre um

tema específico (foco no tema), no contexto grupal sob a coordenação de um moderador. O

moderador de um grupo focal assume uma posição de facilitador do processo de discussão, no

qual prioriza os processos psicossociais que emergem, enfatizando o jogo de interinfluências

da formação de opiniões sobre um determinado tema (GONDIM, 2002b).

De acordo com Debus (1994), embora o grupo focal seja uma estratégia metodológica

muito antiga, sua utilização na área da saúde é relativamente recente. Segundo a autora, uma

das suas vantagens é a riqueza de dados, pois como ocorre uma interação em grupo, as

respostas normalmente são mais ricas e amplas. O pesquisador pode observar o debate e assim

obter um conhecimento mais amplo acerca do que acontece com o grupo estudado:

comportamentos, atitudes, linguagem e percepções.

A autora enfatiza a importância do moderador do grupo para facilitar a coleta de

informações e realizar uma dinâmica mais eficaz. O processo de mediação deve abranger os

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seguintes passos: uma breve introdução, preparação, aprofundamento do conteúdo da

discussão e fechamento do grupo.

3.5.4.1 Procedimentos para a coleta de dados do grupo focal

Com o intuito de conhecer as opiniões sobre o conceito “qualidade de vida” e obter

informações sobre a percepção de como o programa de natação contribuiu a esse respeito,

foram formados duas sessões de grupo focal auto-referentes. De acordo com Morgan (1997),

os grupos auto-referentes, usados como principal fonte de dados, servem a uma variedade de

propósitos, entre eles, responder a indagações de pesquisa e avaliar opiniões, atitudes,

experiências anteriores e perspectivas futuras.

Após duas semanas da aplicação da entrevista, foram realizadas duas sessões de grupo

focal, com uma coordenadora colaboradora no estudo, a fim de buscar a compreensão a

respeito da percepção de cada participante sobre QV e saúde.

O grupo, composto pelos participantes do GE, foi dividido em dois. O primeiro grupo

foi formado por sete sujeitos e o outro pelos quatro indivíduos que faltaram no primeiro grupo

focal.

O primeiro encontro ocorreu em uma sala de aula da própria instituição na qual eles

participaram do estudo, de acordo com as recomendações de Giovinazzo (2001) no que diz

respeito à fácil localização pelos participantes, não propiciar distrações externas ou internas,

facilitar a adequada disposição dos participantes e ter sistema de áudio ou vídeo.

Os participantes ficaram acomodados em suas cadeiras de rodas, dispostos na forma

de U, ficando o moderador sentado à cabeceira, de frente para os participantes.

Num primeiro momento, o moderador se apresentou e explicou como funcionaria a

dinâmica. A explicitação das regras do grupo focal seguiu algumas recomendações de Morgan

(1997): só uma pessoa fala de cada vez; evitam-se discussões paralelas para que todos

participem; todos têm o direito de dizer o que pensam. Iniciou-se o grupo com a pergunta: “O

que é qualidade de vida para vocês?”. A partir de então, utilizou como método de moderação

perguntas abertas, sem roteiro estruturado, abordando os temas: qualidade de vida e saúde. A

discussão foi gravada para posteriormente ser transcrita (APÊNDICE 6) e analisada.

O segundo grupo (APÊNDICE 7) ocorreu nos mesmos moldes que o grupo focal 1

acima descrito.

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4 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Por se tratar de uma população isolada socialmente que tem acesso restrito tanto a

prática de atividades esportivas, quanto aos locais públicos, devido à falta de adaptações à

cadeira de rodas, a amostra disponível para o estudo foi reduzida. Esses aspectos dificultaram

o contato com os possíveis voluntários, além do que, por se tratar de pessoas que

normalmente apresentam complicações de saúde decorrentes da LM, muitos não se

disponibilizaram a participar de um estudo experimental de várias semanas.

Outra limitação do estudo no que se refere a cadeirantes é dificuldade de transporte.

Como em Ribeirão Preto os ônibus não são adaptados, as PDF dependem de um número

muito limitado de vans da prefeitura aptas a fazerem seu transporte. Em relação a essa

situação, nós, pesquisadores, contratamos um veículo para transportar os sujeitos até o local

do estudo. No entanto, por esse veículo não ser adaptado, alguns voluntários não conseguiram

fazer a transferência da sua cadeira para o veículo, o que os impossibilitou para sua

participação no GE, mas demonstraram interesse em fazer parte do GC.

A impossibilidade de controlar hábitos alimentares e os constantes problemas de

saúde, como infecções urinárias, resfriados, algias e tendinites nos ombros, além de

problemas digestivos, também se mostraram como fatores limitantes do estudo. A frequência

de alguns sujeitos do GE nas sessões de treinamento foi parcialmente prejudicada por essas

complicações que impossibilitavam sua entrada na piscina em algumas ocasiões.

A falta de cobertura da piscina também foi um fator limitante e que interferiu na

metodologia do estudo, pois, a princípio, o tempo de duração do experimento seria de dez

semanas, entretanto, teve que ser reduzido para oito semanas devido a questões climáticas

(frio e chuva). Fato este que poderia interferir parcialmente nos resultados obtidos.

A utilização da antropometria para determinar a composição corporal foi dificultada

devido à falta de um protocolo específico para essa população, que possui características

próprias, como a diminuição de massa óssea, diminuição de massa muscular abaixo do nível

de lesão e aumento da quantidade de gordura por falta de imobilidade dos membros inferiores.

Além disso, a utilização do DEXA (Dual-Energy X-Ray Absorpiometry), que normalmente é

empregada em pesquisas de avaliação corporal de indivíduos com LM, não foi possível

devido ao alto custo do procedimento.

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Devido a limitações financeiras, não pôde ser realizado o teste de lactato para

avaliação do estado de condicionamento físico, o que, contudo, não comprometeu de forma

significativa a avaliação do estado de condicionamento físico dos sujeitos do GE. A Escala de

Percepção Subjetiva de Esforço de Borg, utilizada no estudo para determinar a intensidade do

esforço, é uma ferramenta válida na monitoração de programa de exercícios, demonstrando

boa correlação com a resposta da frequência cardíaca, lactato sanguíneo, ventilação pulmonar

e consumo de oxigênio durante o exercício (ACSM, 1998).

Os escassos recursos financeiros da pesquisa foram destinados à divulgação do estudo

para recrutar voluntários, ao transporte dos mesmos e às análises bioquímicas, fatores sem os

quais a presente pesquisa seria inviabilizada.

É importante destacar que embora constatadas tais limitações – algumas próprias do

presente estudo e outras comuns aos estudos com esse tipo específico de população – buscou-

se considerá-las no decorrer do estudo, visando atenuá-las quando possível.

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5 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Tratou-se de um delineamento experimental em que um grupo de sujeitos (GE) passou

por um protocolo de natação, e outro grupo (GC), no qual os sujeitos não sofreram nenhuma

intervenção, são comparados entre si em relação a um conjunto de variáveis antropométricas e

bioquímicas, na situação de avaliação e reavaliação.

No GE, também foram verificadas outras varáveis para predizer o estado de

condicionamento físico nas fases inicial (avaliação) e final (reavaliação) do programa de

natação, e verificados os resultados do questionário WHOQOL-bref aplicado nas mesmas

fases.

Os conjuntos de dados resultantes da observação dessas variáveis estudadas foram

inicialmente submetidos a tratamento descritivo, em que foram calculados os valores da

média aritmética, desvio padrão, coeficiente de variação e amplitude total de variação (faixa

de extensão).

Para comparar os dados obtidos na avaliação com os dados da reavaliação, de ambos

os grupos, foi utilizado o Teste t de Student pareado já que, segundo proposição de Triola

(2005), essa é a estatística apropriada desde que os dados amostrais projetam populações

normais. O teste de normalidade empregado foi o D’Agostino and Pearson Normality Test

que acusou projeção normal para todos os grupos de variáveis.

Para comparar os dados da análise bioquímica e da antropometria do GE com dos

dados do GC foi utilizada a estatística t de Student para dados independentes.

Para verificar a existência de correlação entre as variáveis antropométricas do GE, na

situação pós programa de natação (reavaliação), utilizou-se o coeficiente de correlação de

Pearson, proposição de Siegel e Castellan (2006), para situações em que os dados amostrais

não apresentaram dispersão demasiadamente grande e projetam populações normais.

Para avaliar o estado de condicionamento físico dos sujeitos do GE, utilizou-se o teste

de Wilcoxom, específico para dados não paramétricos, para análise e comparação dos valores

obtidos no teste de esforço para a distância, o tempo, a Escala de Borg e também para a

frequência das sessões de treinamento. Já para os valores da FC do teste, utilizou-se o Teste t

Student para dados pareados e paramétricos.

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Para todas as análises, adotou-se um nível de significância de α = 0,05.

A estatística descritiva e os testes estatísticos foram realizados através do programa

Graph Pad Prism 5.0. As tabelas e gráficos confeccionados na planilha excel 2007.

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6 ANÁLISE QUALITATIVA

Para análise das respostas à questão aberta e às respostas obtidas nos grupos focais,

utilizamos uma técnica de análise de conteúdo temática, amplamente indicada para o

tratamento dos dados em pesquisa qualitativa, na área das ciências humanas e sociais. Para

Minayo (1993), o termo análise do conteúdo, significa mais do que um procedimento técnico,

mas uma busca teórica e prática no campo das investigações sociais.

Na análise de conteúdo, segundo Bardin (1979), o interesse vai além da descrição dos

conteúdos. Ele está centrado no que os conteúdos poderão ensinar após serem tratados. Com a

utilização de codificação para as categorias temáticas encontradas procurou-se conhecer as

tendências gerais, em termos de percepções em relação às questões apresentadas aos sujeitos

estudados.

Os dados obtidos na entrevista e nos grupos focais foram organizados de acordo com

os seguintes procedimentos:

- Transcrição do material gravado nos grupos focais

As gravações em fitas de audiocassete foram transcritas com o consentimento e

autorização dos entrevistados.

- Leitura flutuante

Após o término das transcrições, foram realizadas enúmeras leituras de todo material

transcrito para se obter uma visão global do mesmo e definir as categorias de análise. Foram

realizadas também as leituras das respostas obtidas na entrevista com questão aberta que

foram anotadas pela pesquisadora. Essa leitura é denominada flutuante devido ao seu caráter

exploratório.

- Identificação das categorias de análise

Nessa etapa, foi feita a escolha de expressões e frases que deram sentido ao tema QV,

saúde e benefícios do programa de natação proposto pela pesquisa.

- Construção das categorias temáticas

Os dados foram agrupados por semelhança, depois de analisadas as relações existentes

entre os mesmos, com o objetivo de apreender o significado latente da produção dos

entrevistados.

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- Nova leitura do material transcrito

Procedeu-se a uma nova leitura, observando as unidades identificadas na etapa

anterior, com o objetivo de obter uma melhor compreensão dos dados, para assim, identificar

as categorias temáticas pertinentes ao objeto de estudo em questão.

- Categorização do material

As categorias identificadas referentes à QV foram: saúde, sensação de bem-estar e

prazer, autoconceito e auto-estima, relações interpessoais e cidadania.

As categorias identificadas referentes à saúde foram: ausência de doenças, definição

biopsicossocial e preocupação constante com o corpo.

As categorias identificadas referentes aos benefícios da natação foram divididas em

físicos e psicossociais. As categorias referentes aos benefícios físicos foram: melhora da

capacidade respiratória, redução da sensação de dor física, melhora das condições físicas

e/ou motoras e melhora das disfunções decorrentes da lesão. As categorias referentes aos

benefícios psicossociais foram: aumento do convívio social, melhora da saúde mental,

melhora da autonomia e superação de limites.

- Interpretação dos dados

Após a categorização dos dados, estes foram interpretados à luz das teorias e estudos

realizados no campo de investigação em questão, sendo complementados com reflexões e

pressupostos do pesquisador por meio das observações de campo realizadas durante o

processo de participação no programa de natação.

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7 RESULTADOS E DISCUSSÃO PARA OS OBJETIVOS 1 e 2

7.1 ANAMNESE

Devido ao reduzido número amostral do estudo, não foi possível categorizá-lo de

acordo com a faixa etária, tempo e tipo de lesão para análise dos resultados obtidos na

avaliação e reavaliação.

A amostra estudada apresentou em sua totalidade 17 indivíduos com LM do sexo

masculino, com idades variando entre 22 e 63 anos, sendo a idade média correspondente a

33,71±10,14 anos e o tempo médio de lesão de 7,18±5,92 anos, em que 11 sujeitos fizeram

parte do GE e seis do GC. Algumas características dos sujeitos são apresentadas na Tabela 3.

Como o nível e o tipo de lesão não foram fatores de exclusão no GE, mas sim a

mobilidade suficiente para executar a braçada do nado peito e costas, a amostra se mostrou

bastante diversificada incluindo sujeitos com nível de lesão de L2 a C4, em que, dois

apresentam lesão cervical incompleta (ASIA B), nove lesão torácica completa (ASIA A), um

lesão torácica incompleta (ASIA C) e cinco com lesão lombar completa (ASIA A).

Quanto à etiologia da lesão, 16 dos casos estudados são decorrentes de lesão

traumática e apenas um caso a lesão foi causada por tumor, o que não descaracteriza o perfil

do grupo, visto que esse tumor não sendo congênito, o sujeito sofreu as mesmas alterações

psicológicas e sociais na sua vida após a lesão, além dos mesmos prejuízos físicos,

fisiológicos e metabólicos que o restante do grupo. Das causas de origem traumática, sete são

decorrentes de acidente automobilístico, três de projétil de arma de fogo, dois de queda de

altura, dois de trauma em acidente de trabalho, um de mergulho em águas rasas e um de

trauma em assalto.

Nesse sentido, é importante se considerar a heterogeneidade do grupo estudado, no

que diz respeito ao tempo e o nível de lesão, além da idade. Fato este observado em vários

estudos relacionados a essa população (MANNS e CHAD, 1999; JONES et al., 2003;

MAGGIONI et al., 2003; SILVA et al., 2004; SILVA et al., 2005; EDWARDS et al., 2008;

NICASTRO et al., 2008).

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Tabela 3 - Distribuição de freqüência dos sujeitos do GC e do GE de acordo com algumas características gerais verificadas na Anamnese

Características Grupo Grupo Total dos sujeitos Controle Experimental

Faixa Etária (anos) 20-30 3 3 6 30-40 2 6 8 40-50 1 1 2 acima de 50 - 1 1 Nível de Lesão Cervical 1 1 2 Torácica 1 9 10 Lombar 4 1 5 Tempo de Lesão Menos de 10 anos 5 9 14 Mais de 10 anos 1 2 3 Escolaridade 1º grau incompleto 2 3 5 1º grau completo 1 - 1 2º grau incompleto - 1 1 2º grau completo 2 4 6 Superior completo ou incompleto 1 3 4 Estado Civil Solteiro 5 8 13 Casado 1 3 4 Complicações mais freqüentes

Infecção urinária 3 7 10 Espasticidade 1 3 4 Outras 4 2 6

7.2 ANTROPOMETRIA

O presente estudo avaliou algumas medidas antropométricas para predizer a tendência

do grupo em aumentar ou diminuir essas variáveis antropométricas. De acordo com Nicastro

et al. (2008), diversas pesquisas que avaliaram a composição corporal de pessoas com LM por

técnicas distintas da antropometria apresentaram extrema similaridade de resultados com

resultados obtidos por esse método.

Como não existe uma padronização dos valores de referência antropométricos para

indivíduos com LM, que possuem uma composição corporal diferenciada da população em

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geral, como aumento do tecido adiposo e redução da massa óssea e muscular (KOCINA,

1997; MAGGIONI, 2003; SPUNGEN et al., 2003), e os métodos utilizados são adaptações

dos convencionais, os valores referentes à composição corporal dessa população podem ser

extremamente comprometidos (MATTOS e GORGATTI, 2003). Optamos, assim, por aplicar

teste (avaliação) e re-teste (reavaliação) de algumas medidas antropométricas e do IMC.

Os dados obtidos na avaliação antropométrica foram: o peso, a estatura, o IMC, a

dobra tricipital (DT), circunferência abdominal (CA), a dobra supra-ilíaca (DSI) e a

circunferência do braço (CB). Para cada uma das variáveis, com exceção da estatura, foram

calculados a média, o desvio padrão (DP), o coeficiente de variação (CV) e o valor de p,

como indicador da significância da diferença das médias na avaliação (fase pré-programa de

exercícios) e na reavaliação (fase pós-programa de exercícios), tanto para o GC como para o

GE conforme demonstram as Tabelas 4 e 5, respectivamente.

TABELA 4 - Dados Antropométricos do GC Variáveis Avaliação Reavaliação

Média±DP Média±DP p Peso (kg) 68,88±12,41 69,6±13,06 0,1529 IMC (kg/m²) 23,42±2,59 23,66±2,79 0,1525 DT (mm) 12,44±8,05 13,46±9,12 0,1903

CB (mm) 33,08±3,29 32,92±3,32 0,3397

DSI (mm) 20,39±11,64 23,9±16,86 0,1133

CA (mm) 96,83±17,97 97,25±17,27 0,4272

p* - p<0,05 estatisticamente significante

TABELA 5 - Dados Antropométricos do GE Variáveis Avaliação Reavaliação

Média±DP Média±DP p Peso (kg) 68,18±11,93 67,42±11,89 0,1973 IMC (kg/m²) 23,16±3,20 22,89±3,204 0,1823 DT (mm) 9,89±3,76 8,5±3,47 0,0052*CB (mm) 31,33±3,19 32,27±3,39 0,0100* DSI (mm) 13,51±6,54 12,56±6,37 0,0207*CA (mm) 94,32±12,48 92,23±13,09 0,0033*

p* - p<0,05 estatisticamente significante

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TABELA 6 - Coeficiente de Variação dos dados Antropométricos do GC e do GE Grupo Controle Grupo Experimental

Variáveis Avaliação Reavaliação Avaliação Reavaliação CV (%) CV (%) CV (%) CV (%) Peso (kg) 18,02 18,77 17,50 17,64 IMC (kg/m²) 11,07 11,81 13,82 13,99 DT (mm) 64,72 67,73 38,01 40,84 CB (mm) 9,95 10,1 10,20 10,52 DSI (mm) 57,1 70,53 48,42 50,72 CA (mm) 18,56 17,76 13,23 14,19

De acordo com as avaliações antropométricas realizadas, valores obtidos no GE

apresentaram diferença estatisticamente significativa (p<0,05) para as variáveis DT, CB, DSI

e CA da avaliação para a reavaliação. Havendo uma diminuição da DT, DSI e CA, e um

aumento da CB. Nessas variáveis mesmo pequenas diferenças entre as médias na avaliação e

reavaliação se mostraram estatisticamente significativas. Essa condição é justificada pelo

número amostral pequeno e pela ausência de grandes diferenças no CV entre as fases pré e

pós-treinamento para todas as variáveis observadas (Tabela 6).

Tais resultados podem revelar uma diminuição do tecido adiposo do braço e da região

abdominal, após os sujeitos passarem por um programa de exercícios, e um aumento do tecido

muscular dos membros superiores, visto que houve um aumento da CB concomitante com a

redução da DT. Em um estudo comparando homens com LM praticantes de exercícios físicos

e sedentários, os autores puderam notar que o tecido adiposo no grupo que pratica exercícios

físicos ou esportes é menor (7,6%) com relação aos indivíduos com LM sedentários (OLLE et

al., 1993).

O IMC e o peso do GE não sofreram alterações significativas da avaliação para a

reavaliação, o que reforça a nossa idéia do possível ganho de massa magra, uma vez que

houve perda de gordura corporal. Além disso, o número de sessões semanais (três vezes por

semana) e falta de reeducação alimentar dos sujeitos também podem ter contribuído para que

a diminuição dessas variáveis não tenham sido significativas, o que pode ser confirmado por

estudos de Guimarães e Ciolac (2004). Os autores afirmam que programas de exercícios

físicos que priorizem a redução de peso devem iniciar com no mínimo 150 minutos semanais

(30 minutos, cinco dias por semana), em intensidade moderada, e progridam gradativamente

para 200 a 300 minutos semanais, além disso, reeducação alimentar tem um papel importante

para melhorar os resultados na perda de peso corporal.

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Entretanto, como o estudo priorizou a promoção de saúde e não especificamente a

redução do peso ou do IMC, os resultados demonstraram que o protocolo de natação aplicado

três vezes semanais, em oito semanas, é eficiente para a população com LM. O programa de

natação empreendido produziu uma melhora significativa no perfil antropométrico de

indivíduos com LM, provavelmente aumentando o tecido muscular dos membros superiores e

diminuindo o tecido de gordura na região abdominal e nos braços.

Já no GC não houve mudanças significativas da avaliação para a reavaliação em

nenhuma das variáveis, o que era esperado, pois esse grupo não sofreu nenhuma intervenção

no estilo de vida, no que diz respeito a hábitos alimentares e práticas de atividades físicas.

A grande maioria dos estudos para avaliar o perfil antropométrico de indivíduos com

LM é de corte transversal, não experimental, nos quais os sujeitos com LM são apenas

comparados com indivíduos, do mesmo sexo e faixa etária, da população em geral, o que

dificulta nossa análise.

Pesquisas nacionais com o objetivo de verificar a composição corporal de lesados

medulares, com características similares ao do grupo investigado no presente estudo, fazem

apenas a avaliação antropométrica de indivíduos com LM praticantes de atividades esportivas,

também sem nenhuma intervenção com programas de exercícios físicos (GORLA et al., 2007;

QUINTANA e NEIVA, 2008).

Na comparação entre os grupos (Tabela 7), foi observado que os valores médios de

todas as variáveis antropométricas no GE não apresentaram diferença significativa em relação

ao GC na fase inicial (avaliação), indicando a homogeneidade inicial dos grupos com relação

às variáveis verificadas.

TABELA 7 – Média, desvio padrão e significância estatística das Variáveis Antropométricas no GC e no GE, nas fases de avaliação e reavaliação Avaliação Reavaliação

Variáveis GC GE p GC GE p Antropométricas Média ± DP Média ± DP Média ± DP Média ± DP Peso (kg) 68,88±12,41 68,18±11,93 0,4553 69,6±13,06 67,42±11,89 0,3657 IMC (kg/m²) 23,42±2,59 23,16±3,20 0,4335 23,66±2,79 22,89±3,20 0,3157 DT (mm) 12,44±8,05 9,89±3,76 0,1911 13,46±9,12 8,50±3,47 0,0616 CB (mm) 33,08±3,29 31,33±3,19 0,5520 32,92±3,32 32,27±3,39 0,3559 DSI (mm) 20,39±11,64 13,51±6,54 0,0675 23,9±16,86 12,56±6,37 0,0305*CA (mm) 96,83±17,97 94,32±12,48 0,3690 97,25±17,27 92,23±13,09 0,2543 p* - p<0,05 estatisticamente significante

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Verifica-se também na Tabela 7 que a média da variável DSI, na reavaliação do GE,

está significativamente abaixo do valor da reavaliação do GC, o que seria um resultado

positivo esperado após a prática regular de exercícios físicos.

Não existindo diferenças significativas na situação de avaliação, esperava-se encontrar

diferenças significativas entre os dois grupos na situação reavaliação, visto que o GE

apresentou alterações significativas na sua reavaliação. Contudo, isso não ocorreu com as

variáveis DT, CB e CA porque, não obstante, tenham aparecido diferenças até numericamente

maiores entre as médias, os coeficientes de variação destas foram sensivelmente menores do

que o verificado para a DSI no GC na situação de reavaliação (Tabela 6). Essa maior

variabilidade torna o teste menos sensível na caracterização das diferenças como

significativas. No caso específico da DSI a significância se deve a grande diferença observada

entre as médias.

Segundo os critérios da WHO (1995) para a classificação do IMC, verificou-se que, no

GE, não havia nenhum sujeito na fase inicial do estudo com obesidade e apenas 4 valores

foram classificados como excesso de peso (Tabela 8), indicando que o grupo como um todo

(média do IMC 23,16 na avaliação) estava dentro do esperado para os parâmetros de IMC,

conforme apresentado na Tabela 8.

TABELA 8 - Classificação da amostra para o IMC IMC Grupo controle Grupo Experimental

(kg/m2) Avaliação Reavaliação Avaliação Reavaliação Baixo Peso

< 18,5 - - - - Normal

18,5 a 24,9 5 5 7 7 Excesso de Peso

25,0 a 29,9 1 1 4 4 Obesidade I 30,0 a 34,9 - - - -

Obesidade II 35,0 a 39,9 - - - -

Obesidade III ≥40,0 - - - -

Com relação à CA, Vacanti et al. (2004) mencionam que se definem como gordura

abdominal aumentada os valores da CA maiores que 88 cm para as mulheres e 102 cm para os

homens. No GE, nenhum dos sujeitos apresentou valores da CA acima do esperado, nas fases

pré e pós programa de natação.

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Em estudo realizado por Liusuwan et al. (2007), os autores compararam adolescentes

com LM, com espinha bífida, sem deficiência e sem sobrepeso e sem deficiência física com

sobrepeso. A comparação do IMC dos grupos de lesados medulares e indivíduos normais não

apresentou diferença estatística significativa e, em ambos os grupos, o IMC médio também se

mostrou dentro da normalidade (18,5 a 24,9kg/m²). Entretanto, a porcentagem de gordura foi

significativamente maior no grupo com LM do que no GC (indivíduos sem LM),

demonstrando que o IMC, assim como outros autores sugerem (JONES et al., 2003;

BUCHHOLZ e BUGARESTI, 2005), não pode ser usado como um indicador da gordura

corporal em pessoas com LM.

Nossos achados contrariam resultados recentes encontrados em um estudo de perfil

antropométrico em indivíduos adultos brasileiros com LM realizado por Nicastro et al.

(2008). No referido estudo o IMC médio encontrado para ambos os gêneros os classifica

como indivíduos com sobrepeso. É importante destacar que esse estudo tinha uma amostra

bem superior ao nosso (42 sujeitos), além de incluir sujeitos do sexo feminino, o que pode ter

influenciado tal diferença.

Resultados controversos podem ser explicados pelo baixo número amostral de

voluntários com LM para a realização das pesquisas, fato este que, segundo Nicastro et al.

(2008), dificulta as análises dos dados.

A correlação entre as variáveis estudadas também foi verificada. De acordo com os

coeficientes de correlação de Pearson e seus respectivos níveis de significância para o GE na

reavaliação (Tabela 9), nota-se que a maioria das variáveis estudadas estavam

significativamente correlacionadas (p<0,05).

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TABELA 9 - Matriz dos coeficientes de correlação de Pearson e seus respectivos níveis de significância dos dados antropométricos para o GE Peso IMC DT CB DSI CA

Peso - - IMC r = 0,90 p = 0,0002* DT r = 0,64 r = 0,6545

p = 0,035* p < 0,0289* CB r = 0,80 r = 0,8109 r = 0,22 p = 0,003* p < 0,0025* p = 0,52 DSI r = 0,95 r = 0,8747 r = 0,69 r = 0,69 p < 0,0001* p < 0,0004* p = 0,02* p = 0,018* CA r = 0,72 r = 0,8219 r = 0,66 r = 0,58 r = 0,80 -

p = 0,01* p <0,0019* p = 0,026* p = 0,063 p = 0,003* -

O peso e o IMC apresentaram correlação positiva significativa com as demais

variáveis. Isso significa que indivíduos que têm valores mais baixos de peso e/ou IMC

também apresentam menores valores de dobras cutâneas (DT e DSI) e circunferências (CB e

CA). A falta de correlação entre a CB e a DT (r=22) reforça a suposição que a CB aumentou e

a DT diminuiu pelo fato de que houve um aumento de massa muscular nos membros

superiores, o que aumentaria a CB, em detrimento da redução da gordura localizada nessa

mesma região, o que diminuiria a DT.

A CA apresentou uma forte correlação positiva com a DSI (r=0,80), demonstrando que

sujeitos com menores concentrações de gordura central estão propensos a apresentar CA

menor. Porém, para afirmarmos com precisão esse fato, exames mais adequados para a

avaliação da gordura intravisceral deveriam ser realizados, tais como o DEXA, o que não foi

possível realizar em nosso estudo.

A DT e a DSI mostraram-se significativamente correlacionadas (r=0,69), indicando

que, provavelmente, a distribuição de gordura ocorre no corpo como um todo, independente

da área apresentar função muscular, e não apenas em uma região localizada.

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A correlação entre CB e CA não foi significativa, talvez por proporções diferentes na

escala de alteração de cada uma.

De um modo geral, os dados referentes às avaliações antropométricas demonstraram a

eficiência do protocolo de natação em promover alterações desejáveis nos indivíduos com LM

estudados, diminuindo alguns indicadores de risco à saúde.

7.3 ANÁLISE BIOQUÍMICA

De acordo com vários autores, existem evidências que comprovaram uma maior

incidência de fatores de riscos para doenças cardiovasculares em indivíduos jovens com LM

do que em pessoas da população em geral (JANSSEN et al., 1997; DALLMEIJER et al.,

1999; JACOBS e NASH, 2004; JONES et al., 2004; GARSHICK, et al., 2005; ZOELLER et

al., 2005). Atualmente, a diabete, as doenças cardíacas e a redução da função pulmonar

representam as causas mais frequentes de morbidade e mortalidade entre pessoas com LM

(GARSHICK, et al., 2005; LAVIS et al., 2007).

Devido à importância dos fatores de risco mencionados acima para as doenças

cardíacas, as variáveis bioquímicas estudadas no grupo sedentário (GC) e no grupo de

indivíduos iniciantes em natação (GE), foram: a glicemia de jejum (GLI), os triglicérides

(TRI), o colesterol total (CT) e frações, HDL-colesterol e LDL-colesterol.

Os resultados observados em ambos os grupos, na avaliação e na reavaliação (fase

pós-condicionamento do GE), estão apresentadas nas Tabelas 10 e 11.

TABELA 10 - Concentração plasmática das variáveis bioquímicas estudadas no GC GRUPO CONTROLE

AVALIAÇÃO REAVALIAÇÃO Parâmetros Média e Faixa de Cv Média e Faixa de Cv P

(mg/dl) Desvio Padrão Extensão (%) Desvio Padrão Extensão (%) GLI 100±16,77 84 - 125 16,77 91,33±9,05 79 - 102 9,91 0,0689

TRI 93,67±50,37 36 - 181 46,27 97,83±17,20 74 - 127 17,58 0,4153

CT 176,3±52,36 108 - 256 29,69 168,5±26,17 124 - 206 15,53 0,3225

HDL 32,83±4,40 27 - 38 13,4 34,33±3,50 29 - 38 10,20 0,2683

LDL 123±43,11 71 - 182 35,06 114,6±24,11 80,2 - 155 21,03 0,2685

p* - p<0,05 estatisticamente significante Cv - Coeficiente de variação

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TABELA 11 - Concentração plasmática das variáveis bioquímicas estudadas no GE GRUPO EXPERIMENTAL

AVALIAÇÃO REAVALIAÇÃO Parâmetros Média e Faixa de Cv Média e Faixa de Cv p

(mg/dl) Desvio Padrão Extensão (%) Desvio Padrão Extensão (%) GLI 90,36±7,69 81 - 107 8,5 94,36±15,8 61 - 111 16,74 0,1616

TRI 124,5±57,58 43 - 240 46,27 113,6±77,98 17 - 308 68,63 0,2324

CT 164,6±34,47 120 - 226 20,94 176,4±48,04 123 - 289 27,24 0,0660

HDL 34,09±5,87 25 - 43 17,23 43,45±11,74 28 - 64 27,02 0,0110*

LDL 105,7±29,51 63 - 151 27,92 110,2±39,99 68 - 194 36,28 0,2524

p* - p<0,05 estatisticamente significante Cv - Coeficiente de variação

De acordo com os dados observados nas tabelas, verifica-se que a GLI, os TRI, o CT e

LDL-colesterol não apresentaram alterações significativas nos momentos de avaliação e

reavaliação para ambos os grupos. Já no GE, na dosagem de fração de colesterol HDL foram

observadas diferenças significativas (p=0,0110), evidenciando uma melhora na fase pós-

condicionamento, o que não ocorreu no GC.

Os resultados que não demonstraram diferenças significativas, entre as fases de

avaliação e reavaliação do GE, podem ser parcialmente explicados pela falta de controle de

hábitos alimentares e talvez pela curta duração do protocolo de treinamento. Isso porque,

segundo Leon e Sanchez (2001), programas com mais de 12 semanas de duração são capazes

de promover a redução do LDL-colesterol e do TRI, e aumento do HDL-colesterol, o que foi

confirmado por Lavis et al. (2007) na população de LM.

No entanto, de acordo com Kraus et al. (2002) são justamente os níveis mais altos de

exercício que promovem efeitos positivos no perfil lipídico. Fato este observado em estudo

realizado por Durán et al. (2001), em que pacientes com LM submetidos a um programa de

resistência aeróbia, durante 16 semanas, com intensidade do exercício correspondente ao 10

da Escala de Borg, não apresentaram melhora estatisticamente significativa em nenhuma das

variáveis bioquímicas estudadas (CT, TRI, HDL e LDL).

Em estudo realizado por Silva et al. (2004), com o objetivo de comparar os mesmos

parâmetros bioquímicos que o nosso estudo, em indivíduos com LM, os pesquisadores

encontraram resultados semelhantes aos nossos. Os sujeitos praticantes de exercícios físicos

(natação ou basquete) foram comparados com sedentários. Os resultados referentes à

concentração plasmática de LDL-colesterol e TRI não apresentaram diferenças

estatisticamente significativas entre os grupos. Em contrapartida, o HDL-colesterol

apresentou valores abaixo do limite de normalidade em ambos os grupos.

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Alguns pesquisadores constataram que o exercício pode exercer um efeito positivo no

aumento do HDL, porém não está completamente dimensionada a quantidade e a intensidade

do exercício necessária para que isso ocorra (WASHBURN e FIGONI, 1999; SILVA et al.,

2004; CAPOOR e STEIN, 2005).

Rennie et al. (2003) constataram que as atividades mais vigorosas é que estão

significativamente associadas com o aumento da concentração de HDL-colesterol e melhora

de outros fatores relacionados à SM. Os nossos resultados também sugerem que, mesmo em

pouco período de prática de exercícios, se a intensidade for de moderada a intensa, eleva os

valores da concentração sanguínea de HDL-colesterol, o que talvez possa não ter ocorrido nos

estudos de Silva et al. (2004) e Duran et al. (2001) devido à baixa intensidade dos exercícios.

Em nosso estudo, a intensidade do exercício foi capaz de promover alterações significativas

na concentração de HDL-colesterol. Porém, não alterou as demais variáveis, o que poderia

ocorrer caso o protocolo fosse mais duradouro ou se a intensidade fosse mais elevada ainda.

Já a Tabela 12 apresenta a comparação dos grupos controle e experimental no que se

refere à porcentagem de indivíduos que apresentaram resultados da análise bioquímica fora

dos valores estipulados pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome

Metabólica (2005).

TABELA 12 – Número de indivíduos que apresentou valores fora do limite de normalidade para as variáveis bioquímicas estudadas em ambos os grupos

Grupo Controle Grupo Experimental Referência Parâmetros Avaliação Reavaliação Avaliação Reavaliação (mg/dl)

GLI 2 1 1 6 70 -100 TRI 1 0 5 3 < 150 CT 2 1 1 3 < 200

HDL 6 6 9 4 > 40 LDL 3 0 2 3 < 130

De um modo geral, o exercício físico melhora a sensibilidade à insulina e contribui

com a eliminação da glicose na circulação sanguínea (JONES et al., 2004; STEWART et al.,

2005). Em estudo realizado por Bauman et al. (1992), observou-se que a média de

concentração plasmática de glicose foi maior em indivíduos com diabetes tipo 2 do que

naqueles indivíduos com tolerância à glicose normal.

Ainda segundo o autor, o baixo nível de condicionamento físico foi o determinante

mais evidente da menor sensibilidade à insulina em sujeitos com LM sem treinamento. No

entanto, podemos encontrar na literatura que o determinante mais forte da taxa de

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metabolização da glicose foi a composição corporal e, mais especificamente, a massa de

gordura corporal e não o estado de condicionamento físico (JARVINEN e KOIVISTO, 1983;

STEWART et al., 2005).

No nosso estudo, os sujeitos do GE tiveram uma melhora significativa no

condicionamento físico, da fase inicial para a fase pós-condicionamento (Tabela 14), porém, a

média glicêmica do grupo não sofreu alterações significativas (p=0,1616), conforme

apresentado na Tabela 8. Além do que, o número de sujeitos com valores fora da normalidade

aumentou de 1 para 6 na fase pós-condicionamento físico (Tabela 12). Esse aumento da

concentração de glicemia pode estar relacionado com o estado inflamatório (KIMURA et al.,

2001; HARVEY e WILLIAMS, 2002) comum a essa população, apresentado por alguns

sujeitos, na fase de reavaliação, devido à infecção urinária comprovada por exames

laboratoriais.

De acordo com a Tabela 12, o número de indivíduos do GE que apresentou valores

fora das referências para as variáveis CT e LDL-colesterol também aumentou da fase de

avaliação para a reavaliação, o que não era previsto. Em estudo de corte realizado por Silva et

al. (2004) com indivíduos paraplégicos, o número de sujeitos que apresentaram esses valores

bioquímicos fora dos limites da normalidade foi bem menor no grupo que praticava exercício

físico (basquete ou natação), quando comparados ao grupo sedentário.

Nos nossos achados, podemos novamente considerar que um provável padrão

alimentar inadequado (que não foi analisado) pode ter contribuído para as alterações nessas

variáveis, visto que o consumo excessivo de alimentos com alto teor de glicose e lipídios pode

elevar seus valores (PEREIRA et al., 2003).

Mojtahedi et al. (2008) compararam um grupo de jovens atletas com LM e indivíduos

sem deficiência física, mas sedentários, e concluiu que a regularidade da prática de exercícios

pode manter a sensibilidade à insulina em lesados medulares, contudo, a massa de gordura

total e gordura central demonstraram um impacto maior sobre o risco para doenças

metabólicas em indivíduos com LM. Segundo os autores, o mais importante para a prevenção

de distúrbios metabólicos na população de LM é diminuir a massa adiposa e aumentar a

massa muscular.

Com relação ao nível plasmático de colesterol-HDL, o GE apresentou uma evidente

melhora, e dos nove sujeitos que inicialmente encontravam-se fora da faixa de referência,

cinco conseguiram alcançar níveis satisfatórios de concentração plasmática dessa variável

após o programa de natação. Esse resultado reforça o conceito de que indivíduos com LM

ativos têm melhores níveis de HDL-colesterol do que aqueles com LM que não praticam

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exercícios físicos regularmente (KOCINA, 1997; DALLMEIJER et al., 1999; JONES et al.,

2004).

Na comparação entre os grupos controle e experimental (Tabela 13), a dosagem de

fração de colesterol HDL apresentou diferenças significativas (p=0,0433) da fase inicial, em

que seus valores para as variáveis não apresentavam diferença significativa, para a fase pós-

programa de condicionamento físico, evidenciando uma melhor condição do GE em relação

ao GC. Este mesmo resultado pode também ser observado na reavaliação do GE que foi

demonstrado na Tabela 11.

TABELA 13 - Comparação das médias e desvio padrão da análise bioquímica do GC e do GE Avaliação Reavaliação Parâmetros GC GE p GC GE P

(mg/dl) Média e DP Média e DP Média e DP Média e DP GLI 100,00±16,77 90,36±7,69 0,0603 91,33±9,05 94,36±15,80 0,3370 TRI 93,67±50,37 124,50±57,58 0,1449 97,83±17,20 113,60±77,98 0,3180 CT 176,30±52,36 164,60±34,47 0,2925 168,50±26,17 176,40±48,04 0,3588

HDL 32,83±4,40 34,09±5,87 0,3272 34,33±3,50 43,45±11,74 0,0433*LDL 123,00±43,11 105,70±29,51 0,1707 114,60±24,11 110,20±39,99 0,4058

p* - p<0,05 estatisticamente significante

As alterações nos lipídeos frequentemente encontradas em indivíduos sedentários com

LM, como já foram mencionadas anteriormente, em estudos realizados por Jassen et al.

(1997), estão associadas às causas comuns que também provocam essas alterações em pessoas

da população em geral, como a falta de atividade física, o excesso de peso e de gordura

corporal.

Em suas pesquisas, os autores verificaram que nenhuma das variáveis lipídicas

estudadas em indivíduos com LM estava relacionada com o nível de lesão. No entanto, o que

acontece com os indivíduos com LM é que o excesso de peso, decorrente do sedentarismo, e o

envelhecimento propiciam condições favoráveis para o surgimento precoce de valores

bioquímicos alterados. Para tanto, os indicadores mais importantes para o risco de doenças

coronárias são idade, tabagismo, etilismo, tecido adiposo e sedentarismo.

De acordo com Jacobs e Nash (2004), em estudo de revisão de literatura a respeito dos

exercícios recomendados para lesados medulares, não são verificadas alterações no CT, e os

casos de LDL-colesterol seguem os mesmos padrões típicos da população geral e não

necessariamente devido à lesão. O achado mais consistente e que teve um maior consenso

entre os estudos foi o HDL-colesterol baixo na população sedentária com LM, cujos níveis

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estão inversamente associados com os riscos cardíacos. Segundo Silva et al. (2004), alguns

pesquisadores acreditam que a interrupção de comunicação no sistema nervoso autônomo

altera a concentração de HDL-colesterol e, mesmo com um programa de exercícios, essa

concentração tende a permanecer diminuída.

O aumento de risco de ataque cardíaco em sedentários com LM é de 60% a 90% maior

do que em indivíduos aptos fisicamente, do mesmo sexo, idade, peso e altura (KOCINA,

1997). É bem conhecida a correlação entre baixos níveis de HDL-colesterol e aumento do

risco de desenvolver doenças cardíacas. O HDL-colesterol menor que 40mg/dl é por si só um

fator de risco para doenças cardíacas, e o inverso, altos níveis de HDL-colesterol tem

mostrado um efeito protetor (LAVIS e SCELZA, 2007).

O programa de exercícios intervalados, aqui executado com intensidade de moderada à

intensa, pode, mesmo em curto período de tempo, promover alterações positivas nos valores

de HDL-colesterol nos sujeitos estudados. Isso indica que o protocolo utilizado em nosso

estudo pode ser eficiente para a manutenção da saúde cardiovascular desses sujeitos.

7.4 ESTADO DE CONDICIONAMENTO FÍSICO

Em indivíduos com LM, devido à perda direta de controle motor e influência do

sistema simpático abaixo do nível de lesão, a capacidade dos sistemas cardiovascular,

muscular e respiratório encontra-se reduzida. O baixo nível de condicionamento físico

associado à inatividade física aumenta o risco de complicações clínicas e, consequentemente,

a recaída na saúde contribui para a redução da QV dessa população. Dessa forma, a avaliação

da capacidade física pode ser um indicador do potencial do nível de atividade, da participação

social e da QV (HAISMA et al., 2006).

A partir do exposto acima, foi elaborado um protocolo de natação utilizando o método

intervalado de treinamento, no qual o volume, a intensidade do exercício e a relação

trabalho/recuperação pudessem ter um efeito positivo tanto no aumento da capacidade aeróbia

quanto na capacidade anaeróbia, determinando uma intensidade de domínio moderado a

intenso.

Assim, os valores obtidos no teste de esforço para estimar o estado de

condicionamento físico dos sujeitos do GE no 1º teste (avaliação) e no 2º teste (reavaliação),

apresentados na Tabela 14, demonstraram uma grande melhora nesse aspecto, quando o

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tempo (s) de execução do exercício e a distância percorrida (m) são avaliados e comparados

com a Escala de Borg.

Tabela 14 - Valores individuais, variações, médias e desvio padrão das variáveis no 1º e no 2º Teste de Esforço no GE

Sujeitos Frequência sessões (%)

Distância (m) Variação Tempo (s) Variação Escala de Borg

1º 2º 1º 2º 1º 2º 1 95,8 25 500 475 54 1490 1436 15 17 2 70,8 17 250 233 50 1099 1049 15 12 3 50,0 20 58 38 34 135 101 17 15 4 70,8 9 25 16 35 125 90 13 12 5 95,8 35 75 40 79 136 57 18 16 6 87,5 25 50 25 65 115 50 13 15 7 79,2 8 25 17 36 100 64 15 15 8 91,7 31 95 64 70 245 175 18 18 9 75,0 6 75 69 19 160 141 15 17 10 91,7 14 55 41 43 362 319 16 16

11 79,2 9 200 191 33 630 597 15 14 Média 80,7 18,1 128* 109,9 47,1 417,9* 370,8 15,5 15,2 Desvio Padrão 13,9 9,9 142,4 140,8 18,3 468,6 467,6 1,7 1,9

Diferença significativa em relação ao 1º Teste. Wilcoxom matched-pairs signed-ranks test p≤0,05.

Dos 11 sujeitos selecionados para participarem do GE, todos completaram o

programa de treinamento, o que pode ser observado individualmente na Tabela 14, o que

representa um resultado excelente ao programa, visto que um dos maiores problemas em

pesquisas envolvendo indivíduos com LM é justamente a baixa adesão e frequência.

O grupo apresentou uma frequência média de 80,7±13,9, na qual apenas um

indivíduo atingiu o limite mínimo de frequência de 50%, sendo isso ocasionado por

problemas de saúde (tendinite no ombro).

Devido às complicações decorrentes da LM, alguns sujeitos faltaram às sessões de

treino por motivo de saúde, sendo a infecção urinária o problema de maior incidência entre

os lesados medulares do grupo avaliado.

De acordo com alguns autores, o protocolo de TI tem a grande vantagem de ser uma

boa estratégia para a adesão de indivíduos sedentários iniciantes ao programa de exercícios, à

medida que o protocolo permite ser elaborado de forma progressiva e não incluir rapidamente

um alto dispêndio de energia, para não causar resistência ao treinamento por parte dos

indivíduos (SNYDER et al.,1997; MOOKERJEE, 1998; SABIA, 2003). Nosso protocolo

seguiu tais recomendações e podemos constatar sua eficácia em garantir, além dos benefícios

físicos próprios do esforço físico, a adesão do grupo todo ao programa de natação.

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102

Mesmo não tendo sido foco do estudo, pudemos notar ainda que o fato dos sujeitos

realizarem os exercícios em conjunto facilitou a integração do grupo, fato este importante

também para a total adesão de todos os sujeitos ao estudo.

Em relação à análise do condicionamento físico, os resultados revelados após oito

semanas de treinamento demonstraram uma diferença significativa em relação à distância

percorrida na água, quando comparados com a fase pré-treinamento (p<0,001). O aumento

margeou a casa dos 700% e pode ser observado no Gráfico 1.

Gráfico 1. Comparação da distância média (m) percorrida nos testes de avaliação do condicionamento físico

0,00

50,00

100,00

150,00

200,00

250,00

300,00

1° Teste 2° Teste

D

istâ

ncia

(m)

O aumento da distância percorrida pode, em parte, ser explicado por uma melhora da

eficiência mecânica dos membros superiores do nado peito, naturalmente adquirida pelos

sujeitos durante o protocolo. Contudo, a grande magnitude do aumento de distância (700%) e

de tempo (890%) pode ser explicada, provavelmente, por uma grande e determinante melhora

no estado de condicionamento físico. Dois fatores nos apontam para isso: a melhora da

eficiência mecânica dos nados peito e costas dos indivíduos com LM é comprometida em

função da condição dos membros inferiores; e o aumento do tempo de perdurance na

atividade, que representa maior resistência muscular ao esforço, resultado clássico da melhora

do condicionamento.

É importante lembrar ainda que, a grande magnitude da elevação média da distância

percorrida é um pouco comprometida em função do desvio forçado pelos sujeitos 1, 2 e 11.

Entretanto, quando os resultados desses sujeitos são extraídos do cômputo geral, a variação

ainda é maior do que 300%, o que revela uma sensível melhora dessa variável demonstrando

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103

a eficiência do protocolo de treinamento em elevar a capacidade de deslocamento com a

braçada do nado peito.

Em relação ao tempo de duração do exercício após o treinamento, o Gráfico 2 mostra

uma elevação em torno de 890% em relação ao observado no primeiro teste. Mesmo quando

excluídos os resultados dos sujeitos 1, 2 e 11, que elevaram o desvio padrão, o aumento da

capacidade de execução do exercício margeou a casa dos 350%, resultados estes que

demonstram uma melhora significativa (p<0,001) da função cardiorrespiratória, visto que a

condição física inicial dos sujeitos não permitiu que conseguissem manter a braçada do peito

por mais de 1 minuto e 19 segundos, resultado inicial do sujeito 5, que obteve melhor

desempenho no primeiro teste de esforço.

Gráfico 2. Comparação do tempo médio (s) de duração nos testes de avaliação do condicionamento físico

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

800,00

900,00

1000,00

1° Teste 2° Teste

Tem

po (s

eg)

Com relação à Escala de Borg (Gráfico 3), os resultados demonstraram que a

percepção subjetiva de esforço não se apresentou como uma ferramenta sensível para a

avaliação da melhora do condicionamento físico em indivíduos com LM (p=0,743),

especialmente, quando correlacionada com as demais variáveis aqui observadas.

Contudo, é possível considerar também que a manutenção do mesmo nível na escala

entre as duas fases testadas, as quais apresentaram diferenças entre si, ajuda-nos a reforçar a

ideia do ganho de condicionamento físico por esses sujeitos em função do treinamento

empreendido. Os sujeitos na reavaliação conseguiram manter o exercício por mais tempo,

percorreram uma distância maior, e a média da sensação de esforço do grupo não se alterou da

avaliação para a reavaliação, como está demonstrado no Gráfico 3.

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104

Gráfico 3. Comparação dos resultados médios obtidos na Escala de Borg nos testes de avaliação do condicionamento físico

0,00

3,00

6,00

9,00

12,00

15,00

18,00

1° Teste 2° Teste

Esca

la d

e B

org

Com relação à FC aferida no teste de esforço, os dados dos sujeitos estão apresentados

na Tabela 15 a seguir, juntamente com os resultados da percepção subjetiva de esforço

obtidos através da Escala de Borg.

Tabela 15 – Valores individuais, médias e desvio padrão da FC e da Escala de Borg obtidos no Teste de Esforço AVALIAÇÃO REAVALIAÇÃO

Sujeitos FCmáx FC teste % da FCmáx E. Borg FC teste % da FCmáx E. Borg 1 189 189 100 15 157 83 17 2 185 173 94 15 130 70 12 3 186 148 80 17 162 87 15 4 185 197 106 13 187 101 12 5 198 174 88 18 173 87 16 6 186 125 67 13 157 84 15 7 194 116 60 15 107 55 15 8 194 173 89 18 174 90 18 9 184 108 59 15 140 76 17 10 173 138 80 16 148 86 16 11 157 129 82 15 100 64 14

Média±DP 185±11 152±31 82±16 15±2 149±27 80±13 15±2 Não existe diferença significativa da % de FCmáx da avaliação para a reavaliação. Teste t Student dados pareados e paramétricos - p≤0,05.

A média da % da FCmáx do grupo obtida no Teste de Esforço não sofreu alterações

significativas (p=0,76) da avaliação para a reavaliação, o que implica na inadequação da FC

como indicador da melhora do condicionamento físico, visto que o tempo médio e a distância

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105

média percorrida durante o teste aumentaram significativamente após as oito semanas de

treinamento. Não houve também correlação da % de FCmáx do teste e a percepção subjetiva

de esforço obtida pela Escala de Borg, tanto na avaliação (r=0,04) quanto na reavaliação

(r=0,09) do Teste de Esforço.

Embora a FC e a percepção subjetiva de esforço possam ser utilizadas como

indicadores de intensidade de esforço no meio líquido (GRAEF e KRUEL, 2006), em nosso

estudo isso não ocorreu. O fato dos sujeitos não terem mobilidade de membros inferiores e

terem realizado exclusivamente a braçada com o uso do colete de flutuação pode ter

interferido nessas variáveis. Segundo Fox e Mathews (1983), o movimento contínuo dos

membros superiores e dos ombros promove grande estimulação do plexo nervoso braquial, o

que parece estimular o aumento da FC.

Além disso, segundo Graef e Kruel (2006), no meio aquático, tanto durante o repouso

como durante o exercício, a FC sofre influência de fatores como a posição do corpo, a

profundidade de imersão, a temperatura da água, a FC de repouso e a diminuição do peso

hidrostático.

Os resultados da média do tempo e da distância percorrida durante o teste de esforço

devem-se provavelmente a dois aspectos: (1) o baixo grau de mobilidade dos sujeitos e seu

elevado estado de sedentarismo na fase pré-treinamento, o que sem dúvida foi um fator

determinante nos resultados muito baixos nessa fase do estudo; (2) a boa adequação entre

densidade, volume e intensidade do protocolo de TI, o que o torna eficiente em aumentar o

estado de condicionamento de indivíduos com LM. Eficiência essa decorrente também da

grande adaptação ao meio aquático demonstrada por todos os sujeitos, devido provavelmente

ao uso do colete de flutuação, que propicia mais sensação de segurança no meio líquido, e do

aumento da força muscular.

Conforme Zoeller et al. (2005) esclarecem, o ganho de força muscular exerce

influência positiva nos exercícios de potência e resistência aeróbia em indivíduos com

paraplegia. Provavelmente, o nosso protocolo, por ser composto por exercícios em domínio

intenso, com significativo componente anaeróbio, pode ter sido determinante de aumento no

ganho de força muscular, o que, segundo os autores acima, pode interferir positivamente no

condicionamento físico aeróbio, evidenciado em nosso estudo, pelas respostas encontradas no

tempo de duração e na distância percorrida.

Ainda de acordo com os autores, o aumento da força muscular reduz a fadiga muscular

e o indivíduo consegue realizar uma atividade física por períodos mais longos. Tal fato pôde

ser observado pelos resultados de melhora significativa de tempo e duração dos exercícios,

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106

sem paralela alteração da percepção subjetiva de esforço. O que nos indica que o protocolo de

TI em natação empregado no estudo, com os sujeitos lesados medulares, pode ser eficiente

neste aspecto.

Resultados e considerações semelhantes são apresentados por Navarro (1996), em

indivíduos da população em geral. Neste caso, o autor afirma que o TI pode aumentar as

possibilidades funcionais do coração, as quais constituem o principal fator limitador do nível

de produtividade aeróbica. Além de propiciar ao nadador oportunidade de executar o nado

com intensidades mais altas antes do aparecimento da acumulação do ácido láctico e ainda

que, quanto maior for a intensidade do trabalho, melhor também será o aperfeiçoamento da

capacidade anaeróbica.

Jurca et al. (2004), ao pesquisarem a associação entre SM em homens com bom

condicionamento físico e força muscular, concluíram que as chances desses indivíduos com

IMC normal (IMC<25 kg/m²), com sobrepeso (IMC entre 25-30 kg/m²) e obesos (IMC≥30

kg/m²) de desenvolver SM reduzem em 73%, 69% e 62%, respectivamente.

Em estudo com indivíduos com LM, Janssen et al. (2002) afirmam que embora a

capacidade física (o que inclui o condicionamento físico e muscular) seja determinada por

alguns fatores que não podem ser alterados, como idade, sexo e nível de lesão, ela pode

melhorar substancialmente com a prática regular de exercícios físicos e com a diminuição da

massa corporal.

A capacidade física está inversamente relacionada com a fadiga física durante as

atividades diárias. Isso, de acordo com os autores, indica que uma baixa capacidade física

pode levar a altos níveis de fadiga, diminuindo a possibilidade de realização de tarefas diárias

com autonomia, o que prejudica a QV dos mesmos (JANSSEN et al., 2002; CAPOOR e

STEIN, 2005).

Contudo, um número muito limitado de estudos tem mostrado, de uma maneira geral,

os efeitos do exercício especificamente em indivíduos com LM. Por outro lado, nenhum

estudo de intervenção experimental, com indivíduos não-atletas, mostra os efeitos da natação

nas variáveis pesquisadas em nosso estudo, o que dificulta muito a comparação dos nossos

achados com outras pesquisas semelhantes.

O estudo que mais se aproximou dos nossos achados, utilizando a natação como forma

de condicionamento físico, foi o realizado por Silva et al. (2005). Eles verificaram uma

melhora significativa da condição física, das habilidades de vida diária e da independência de

pacientes com LM que iniciaram um programa de natação. O grupo, formado por oito

sujeitos, era atendido na Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação de Brasília e estava em

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107

fase de reabilitação. O programa, realizado durante 4 meses (2 vezes por semana), foi

composto por exercícios que visavam à adaptação e à independência ao meio líquido, e

educativos dos nados crawl, costas e peito. Embora sua metodologia diferisse da nossa com

relação à intensidade e volume de exercícios, ambas demonstraram que a natação promove a

melhora do estado geral de condicionamento físico de indivíduos com LM.

Em outro estudo com sujeitos da população em geral, King (2001) observou que TI

com intensidade submáxima mostrou-se mais eficiente do que o TC, de baixa intensidade,

com relação à melhora da composição corporal (redução da porcentagem de gordura), do

condicionamento físico e da taxa metabólica de repouso.

Isso evidenciou que o protocolo intervalado, com intensidade mais elevada, se

praticado regularmente, promove um aumento contínuo no gasto de energia maior que o TC

de baixa intensidade, pelo menos no estágio inicial do treino, visto que os sujeitos eram

sedentários ou realizam muito pouco exercício cardiovascular antes do treinamento, assim

como no nosso estudo (KING, 2001).

O protocolo intervalado com uso de colete de flutuação também mostrou ser adequado

para programas de natação realizados em grupo e, em especial, de indivíduos com

imobilidade de membros inferiores, pois o grupo respondeu de forma homogênea ao aumento

gradativo da intensidade, não havendo necessidade de prescrição individualizada de programa

de condicionamento físico.

Como o enfoque no nosso estudo não foi analisar especificamente os parâmetros de

VO2 máx. e de intensidade, a falta de um teste específico para avaliar o condicionamento

físico na água e o teste de lactato sanguíneo não prejudicou a interpretação geral dos

resultados. A utilização da Escala de Borg foi suficiente para que atingíssemos nosso objetivo

de verificar a influência do TI em natação, com o uso de colete, sobre a melhora o estado de

condicionamento físico, as alterações de algumas variáveis bioquímicas e medidas

antropométricas importantes para a saúde e QV de indivíduos com LM.

São necessárias mais pesquisas para verificar os efeitos do condicionamento físico de

indivíduos com LM, para análises mais precisas das mudanças positivas na saúde resultantes

de programas de exercícios específicos para essa população.

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8 RESULTADOS E DISCUSSÃO PARA OS OBJETIVOS 3 a 5

Atualmente, segundo Hammell (2004), vem crescendo o interesse em avaliar, tanto

quantitativamente como qualitativamente, a QV de indivíduos com LM para fornecer

subsídios aos profissionais de saúde atuarem na promoção de saúde e QV dessa população. O

autor, em sua revisão da literatura sobre o tema QV após a LM, constatou que a tendência de

pesquisas futuras será utilizar a combinação dos métodos, quantitativo e qualitativo, para

elucidar as diferentes dimensões e complexidade do conceito QV dentro da ótica de

indivíduos com LM.

Gill e Feinstein (1994) concordam que a QV somente pode ser medida adequadamente

pelas determinações das percepções dos indivíduos e pela complementação de instrumentos

desenvolvidos por especialistas, senão, a QV pode continuar sendo medida com a estatística

psicométrica que é acompanhada por uma validade insatisfatória.

Partindo desse pressuposto, a proposta deste estudo foi avaliar as percepções sobre QV

e saúde, utilizando o questionário WHOQOL-bref, validado cientificamente pela OMS,

complementado com a aplicação de um grupo focal sobre os temas em questão.

Paralelamente, aos procedimentos mencionados, foram verificados os benefícios da prática

regular da natação, proposta pelo nosso estudo. Para isso, foram realizados dois

procedimentos metodológicos: a realização de uma entrevista específica para abordar esse

tópico; e a utilização da técnica de grupo focal para complementar os dados coletados nas

entrevistas.

8.1 QUESTIONÁRIO WHOQOL-BREF

O WHOQOL-bref é um instrumento de 26 questões sobre QV, dividido em quatro

domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Além dos domínios, o

questionário apresenta duas questões genéricas de avaliação de QV: “como você avaliaria sua

qualidade de vida” (Q1) e “quão satisfeito(a) você está com sua saúde” (Q2). De acordo com

essa classificação, as médias e os desvios padrão (DP) de cada domínio e das questões

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genéricas, obtidas antes (avaliação) e depois (reavaliação) do programa de natação, estão

apresentadas na Tabela 16.

TABELA 16 - Resultados do WHOQOL-bref do Grupo Experimental DOMÍNIOS, AVALIAÇÃO REAVALIAÇÃO

Q1 e Q2 Média DP Média DP P Q1 4,00 0,77 4,27 0,47 0,1704 Q2 3,82 0,87 3,91 0,54 0,3380 Domínio Físico 26,91 4,13 27,64 2,77 0,2318 Domínio Psicológico 23,73 4,67 25,45 1,97 0,0675 Domínio Relações Sociais 11,45 1,97 12,82 1,47 0,0243* Domínio Meio Ambiente 26,73 4,10 27,27 2,53 0,3009

RESULTADO TOTAL 3,72 0,37 3,89 0,47 0,0057* * p< 0,05 significativo

A construção do instrumento não prevê um escore específico para avaliar a QV como

positiva ou negativa. Não existem pontos de corte sobre o qual se possa avaliar a QV como

“ruim” ou “boa”. Eles se configuram numa escala positiva, ou seja, quanto maior o escore,

melhor a QV (PEREIRA, 2006).

Nos resultados apresentados no WHOQOL-bref, após o programa de natação, tanto o

domínio relações sociais quanto o total das respostas do questionário como um todo

apresentaram melhora estatisticamente significativa (p<0,05).

O estudo, apesar de não ter analisado a influência da idade, do tempo e nível de lesão,

é importante considerar que Hammell (2004) observou que a maioria dos estudos dessa área

verificou que a insatisfação com a vida após a LM está relacionada, principalmente, com as

desvantagens sociais que os indivíduos passam a enfrentar, prejudicando assim a percepção da

sua QV. Além disso, o autor chama a atenção ao fato de que algumas pesquisas constataram

que não há correlação entre QV e nível de lesão.

Como ressaltam Capoor e Stein (2005), com o avanço da idade, indivíduos com LM

podem apresentar redução do nível de independência, o que tem sido relacionada com

estresse, depressão e declínio da QV. No entanto, apesar de relatos de maiores incapacitações,

a percepção da QV aumenta com o maior tempo de duração da lesão.

Vários estudos na área, segundo os autores, constataram que a QV não está

relacionada à gravidade da lesão e é minimamente relacionada com o nível de incapacitação

nas atividades de vida diária, embora essa incapacitação afeta o bem-estar. Para os autores, a

QV está relacionada com a participação em atividades prazerosas, com o sentimento de estar

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contribuindo com a sociedade e realizando atividades de seu próprio potencial. O apoio social

e a habilidade de lidar com a incapacidade propiciam aos indivíduos com LM suporte para

lutar contra as mudanças próprias da idade e facilita o ajuste à incapacitação.

Com relação ao tempo de lesão, outro estudo verificou que um curto período de tempo

de lesão pode interferir de forma negativa nos domínios físico e meio ambiente da QV. Essa

pesquisa utilizou o mesmo questionário aplicado no nosso estudo. A mesma teve um caráter

descritivo e seu objetivo foi verificar a percepção de QV de 111 indivíduos com LM, inscritos

num programa de reabilitação do Hospital Sarah Brasília, entre janeiro de 2005 a maio de

2006.

Bampi et al. (2008), responsáveis pela pesquisa, constataram que os domínios ligados

ao meio ambiente e à saúde física obtiveram os piores escores. Isso, segundo os autores, pode

estar relacionado ao fato de a lesão causar alterações físicas com as quais as pessoas têm que

aprender a conviver. Os autores chamam a atenção para o fato de os sujeitos, em questão,

terem um curto período de tempo de lesão que poderia estar dificultando a sua adaptação.

Em outro estudo sobre QV sob a ótica de pessoas com LM traumática, Vall et al.

(2006) constataram que esses indivíduos têm grande comprometimento de sua QV, em todos

os domínios, principalmente no que se refere aos aspectos sociais. O instrumento utilizado

para avaliar a QV foi o questionário genérico de qualidade de vida SF-36 que, assim como o

WHOQOL-bref, engloba os aspectos físicos, sociais e psicológicos.

Em suas análises, os autores notaram que avaliar aspectos relativos à QV requer que se

procure captar os sentimentos e percepções de si mesmo e do mundo que o cerca, sendo

necessários instrumentos mais fidedignos e que contemplem fatores inter-relacionados.

O mesmo foi ressaltado por Rogerson (1995) no sentido de que a avaliação da QV é

um tanto difícil, visto que para cada indivíduo há uma forma de operacionalizar sua avaliação,

à medida que esta pode variar com o tempo devido às mudanças de prioridades que ocorrem

ao longo da vida.

Dentro dessa perspectiva de mudança de prioridades e de circunstâncias que a vida

pode oferecer, a introdução do esporte e/ou a prática de exercícios físicos pode desempenhar

um papel importante na integração social e na melhoria de QV de indivíduos, com inúmeras

limitações físicas, emocionais e sociais.

Manns e Chad (1999) pesquisaram a correlação entre atividade física e

condicionamento físico com a QV de indivíduos com LM, utilizando o questionário Quality

of Life Profile: Physical and Sensory Disabilities. Os pesquisadores concluíram que embora

não haja correlação entre condicionamento físico e percepção subjetiva de QV, a prática

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regular de exercícios pode ter um papel muito importante nos domínios de independência

física, mobilidade e ocupação em tetraplégicos e no domínio de independência física em

paraplégicos. Como o condicionamento físico foi significativamente correlacionado com o

domínio de independência física, esses resultados sugerem que um alto nível de atividade

física e condicionamento físico são relacionados com um estado funcional melhor, o que

contribui para o aumento da QV de indivíduos com LM.

Recentemente, um estudo semelhante ao anterior obteve resultados diferentes. Stevens

et al. (2008) encontraram uma forte correlação entre o nível de atividade física e QV de

indivíduos com LM. O autor constata que indivíduos com níveis mais altos de atividade física

também apresentam níveis mais altos de escores das escalas de qualidade de bem-estar,

mensuradas pelo questionário genérico Quality of Well-Being Scale.

Apesar dos métodos para avaliar a percepção de QV em pessoas com LM diferiram

entre os estudos, o que pode ter interferido nos resultados encontrados, tanto Stevens et al.

(2008) como Manns e Chad (1999) sugerem que intervenções com o objetivo de promover a

prática de exercícios podem ser eficazes na melhoria da QV dessa população.

Como podem ser observados na Tabela 16, com exceção do domínio meio ambiente

que não é suscetível de mudança pela intervenção de um programa de exercícios, os demais

domínios e as questões genéricas poderiam sofrer alterações estatisticamente significativas.

No entanto, isso não foi constatado na reavaliação, apesar de eles apresentarem escores mais

elevados depois do programa de natação. Tais aumentos contribuíram para a melhora

significativa da QV no cômputo geral, pois as alterações nos domínios implicam nas

alterações na QV global.

Com relação ao domínio físico, Silva et al. (2005) verificaram os efeitos da natação

sobre a melhora da independência funcional, importante para a QV de indivíduos com LM.

Em seus estudos com essa população, utilizando a Medida de Independência Funcional

(Escala FIM) em iniciantes de natação, os autores concluíram que a natação foi efetiva na

melhora do escore motor e da condição física. O que também foi observada em nosso estudo

pela utilização do teste para avaliar o estado de condicionamento físico, e não na percepção

subjetiva dos sujeitos avaliada pelo domínio físico do WHOQOL-bref.

Embora a literatura confirme a contribuição da prática da natação no aumento positivo

dos domínios psicológicos e físicos (TSUTSUMI et al. 2004; SILVA et al., 2005), essa

melhora significativa não pôde ser observada com a utilização de um questionário

padronizado, como o WHOQOL-bref, mas sim, com a discussão proposta pelo grupo focal e

pelo relato na entrevista.

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112

Não obstante, os resultados obtidos nesse estudo indicam que os indivíduos com LM,

iniciantes em natação, após oito semanas de prática regular de natação, apresentaram melhoria

na percepção subjetiva de QV avaliada pelo WHOQOL-bref quando comparada à situação

inicial.

O WHOQOL-bref, como instrumento genérico da avaliação subjetiva da QV,

mostrou-se adequado para verificar de uma forma geral o aumento das relações sociais e da

percepção de QV em indivíduos com LM após uma intervenção com a prática de exercícios

físicos. No entanto, demonstrou ser insuficiente para avaliar os domínios físico e psicológico

que o compõem. Tendo, assim, a necessidade de empregar o método qualitativo para

aprofundar essas questões subjetivas como recomendam alguns autores (GILL e FEINSTEIN,

1994; HAMMELL, 2004; SEIDL e ZANNON, 2004).

8.2 CATEGORIZAÇÕES DE QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE

A abordagem qualitativa empregada para analisar os dados na entrevista e no grupo

focal forneceu mais esclarecimentos e apontou mais aspectos relativos ao conceito QV.

Hammell (2004) verificou, após sua análise sistemática dos estudos sobre a QV

percebida por indivíduos com LM, que algumas pesquisas têm demonstrado uma correlação

positiva entre QV/satisfação com a vida e: auto-avaliação da saúde, percepção de suporte

social, integração social, mobilidade, acessibilidade, situação socioeconômica satisfatória,

percepção de controle sobre a própria vida, estado civil, satisfação com os relacionamentos,

participação e acesso à comunidade, e satisfação com o engajamento profissional. Ao passo

que, os dados para verificar a relação entre idade, tempo de lesão, sexo e raça com a

percepção de QV são conflitantes. Entretanto, nenhum desses últimos fatores é passível de

intervenção.

Já em nosso estudo, de uma maneira geral, encontramos os seguintes aspectos

identificados como referência de QV: saúde, sensação de bem-estar e prazer, autoconceito e

auto-estima, relações interpessoais e cidadania. Tais percepções subjetivas de QV, assim

como de saúde, mais especificamente, foram agrupadas de acordo com as categorizações que

se seguem.

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113

As concepções sobre “Qualidade de Vida” dos participantes dos grupos focais 1 e 2

foram investigadas com a questão “Para vocês o que é qualidade de vida?”. A análise dos

dados deu origem às categorias temáticas descritas abaixo:

I - Saúde – Respostas que definem QV com ênfase em uma vida saudável e nos fatores

associados à mesma. Exemplificando, temos:

“Hoje, a qualidade que a gente tem de vida hoje é, principalmente, saúde.”

“Eu acho que qualidade de vida da gente é saúde.”

“Ter uma vida saudável, tanto na parte espiritual, quanto na parte material.”

“Uma mente saudável.”

“Amigos, família, uma vida bem controlada com atividade física bem feita, saudável, uma boa alimentação.”

“Uma vida com qualidade tem de ser saudável, né? Um ambiente saudável.”

II - Sensação de bem-estar e prazer – Respostas que associam QV com ter a sensação de paz,

disposição para realizar atividades do cotidiano e que destacam a importância dessas serem

prazerosas para quem as executam. Como exemplos, podemos citar:

“Tipo assim... ter vontade, não ter cansaço, você fazer com disposição, o dia inteiro, com alegria, com disposição física.”

“Disposição física”

“Podia ser fazer o cem por cento do que tiver de fazer, com prazer, não a contragosto. Porque se for sem gosto, pra pessoa fazer alguma coisa, a qualidade já caiu. Não está fazendo com prazer.”

“Fazer por prazer, não imposto.”

“Paz de espírito.”

“Paz interior... paz de espírito.”

“...paz e sossego.”

III – Autoconceito e Auto-estima – Respostas que enfatizam a importância das pessoas

superarem as dificuldades de aceitação da sua deficiência e de perceberem-se como

indivíduos capazes, produtivos, antes de buscarem a aceitação social e a superação dos

estigmas. Como exemplos, temos:

“ ...às vezes, a pessoa até ela se aceitar... e tem que conquistar o pessoal que vai te aceitar. Primeiro você tem que se aceitar.”

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“É, este é o primeiro passo. Primeiro aceitação própria e depois a aceitação pela sociedade. Que não acontece, infelizmente não acontece. A sociedade não nos aceita. Esta é a grande verdade. Não adianta tapar o sol com a peneira.”

“...gente vê o cidadão tava falando: “é, tem tudo, as duas pernas, os braços certinhos, e não nada, não tem disposição”. Tipo, fica aquela auto-estima aquilo ali..”

“Eu acho que é isso. Se sentir bem, admirar. Pô, você fazer um... um... uma coisa ali, pô, olha que bom. Isso pra mim foi maravilhoso, a auto-estima...”

“Primeiro, a gente tem que estar bem com a gente mesmo, né? Para depois, estar bem com as pessoas, conviver bem.”

“Primeiramente tem que partir de nós, de dentro pra fora, né? Depois vai abrindo o leque, vai... fazendo amizade”

“Se sentir útil, também, né? O P6 trabalha, o P10 também trabalha.”

“Eu, às vezes,... dá aquele vazio porque não tenho nada para fazer.”

IV - Relações interpessoais – Respostas nas quais os participantes destacam a importância

das relações interpessoais para que se tenha QV. Exemplificando, temos:

“O social, também... Que é o mais importante, talvez. Talvez até mais que a saúde... mesmo se você está doente se você estiver num ambiente social você vai superar isto.”

“Fazer da sua situação, da sua paraplegia, né, da nossa, um pouco... um pouquinho melhor. Passa a ter... uma ligação maior com a sociedade...”

“Conviver bem com os outros, também.”

“Eu pego o ônibus e vou pro cinema, eu vou no trabalho dos meus amigos, fico por lá, almoço na cidade, vou até no calçadão lá, converso com as pessoas, amigos, sabe? Vou no trabalho de um, no trabalho de outro. Não fico em casa. O dia que eu fico é porque... aí tá ruim mesmo.”

V – Cidadania – Respostas que revelam que a QV dos indivíduos com deficiência física

depende da sua mobilização para garantir as condições que possibilitem o exercício da

cidadania, tais como acessibilidade, transporte adaptado, entre outras. As respostas revelam

também descrédito em relação aos políticos. Como exemplos, podemos citar:

“O maior problema nosso é o transporte.”

“Ás vezes, a pessoa tem o transporte, mas não tem o tratamento. Às vezes, tem o tratamento, mas não tem o transporte.”

“Tenho um amigo que o pai dele é marketeiro da..... E ai eu falei pra ele; “eu preciso de algumas coisas.” E eu percebi uma coisa, não adianta eu chegar lá, eu P6 e um grupo e falar: a gente é cadeirante e nós precisamos tal, tal. Eu tenho que chegar, sabe o quê? Com um cara que é amigo pro cara fazer. Faz para o amigo. É igual, trabalho. Ele arruma pro amigo dele “oh, dá pra

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arrumar um trabalho? Põe um amigo meu aí”. Política é tudo desse jeito, ele põe o colega, o amigo. Eu tô articulando dessa forma, entendeu?”

“Se a gente se organizar, for pra mídia. Aí eles falam: Oh, aquele grupo. Pô, aqueles três estão se mexendo. Tem que ter essa consciência política, que vai ter que ser mexendo com eles, cutucando eles, né? Lutando, entrando com liminar, aí a gente vai conseguir. A partir do momento que a gente ficar: “Ah, não isso não acontece, isso não acontece” vai continuar pagando o preço ai”.

“As três primeiras vans que vieram fui eu, o... e um outro cadeirante que é advogado que trouxemos para Ribeirão. Sem se meter em briga com ninguém como ele falou. Nem a mídia, nem nada. As rampas da Av. Saudade, tudo ali fui eu que consegui, tudo na base da amizade com político como o.... Quer dizer, é meio difícil estar conseguindo as coisas, porque eu já fui pra televisão e não consegui nada, também.”

“É que nem eu falo, tem que articular, é partir então pro meio de comunicação e mostrar a necessidade”. Falar: temos necessidade disso, daquilo e daquele outro”.

“Se você falar pra opinião pública ou para o poder público “sem terra”, você já imagina os caras fazendo passeata, quebrando tudo e alguém sendo o líder, não é? Agora, se você fala assim... “cadeirante” é uma pessoa que fica quieta, escondida dentro de casa, que você quase não vê. Então, qual é a diferença? A diferença é que... é um pessoal que age... um pessoal que age, entendeu? Porque me falaram de um grupo que eles foram numa... um grupo de cadeirantes que eles foram numa pizzaria e não tinha como subir. Ai, os caras, os garçons, todo mundo teve que pegar os caras e subir os caras pelas escadas. Construíram uma rampa no restaurante. Então, isso foi uma mobilização. Acho que... acho que aí que acontece.”

“Aquela rampa que tem na Casa da Cultura. Lá onde eles fazem o curso. Lá foi por minha causa. Quer dizer, depois que eu fui lá, né? Fiz um curso lá de música. No dia da nossa formatura, o assessor do prefeito veio, me deu um abraço e falou: “Você é um privilegiado”, e eu falei: “porque?”, “todo mundo em pé e você é o único que tá sentado”. Vem comigo. Vinte e três degraus subindo carregado no colo durante o curso todo e eu sou o maior privilegiado aqui. Só falei isso e voltei pra festa. Fui um mês depois lá e tinha uma rampa lá. Quer dizer, se você não aparece também ninguém vai saber das necessidades”

A partir das respostas obtidas referentes à percepção da QV, podemos notar que de

uma forma geral, elas estão de acordo com os achados encontrados na literatura.

Pagani e Pagani Júnior (2006) destacam que a saúde é apenas um dos fatores que

interferem na QV. Além dele, existem outros aspectos envolvidos da percepção de QV, como

emprego, habitação e situação financeira, entre outros.

No entanto, observamos que, para o grupo estudado, a percepção de saúde mostrou-se

como um forte indicador da percepção de QV. O sentir-se saudável pode ser considerado

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esperado para esse grupo, pelo fato de seus componentes já procurarem anteriormente praticar

atividades físicas para se sentirem melhor.

A partir disso e das colocações dos componentes do grupo sobre a percepção de QV e

saúde... “é o que eu não tenho.”, podemos perceber que a saúde é um quesito tão importante

quanto a questão social pra a percepção de QV desse grupo. Alguns estudos consultados

(BÉNONY et al., 2002; VALL et al., 2006), que colocam a questão social como a mais

relevante para a QV, não estão se referindo a indivíduos engajados em programas de

exercícios físicos como no nosso caso.

A participação em eventos prazerosos, nos quais os indivíduos realizem atividades de

seu próprio potencial, pode ser tão importante para uma vida saudável após a LM, quanto para

o bem-estar físico desses indivíduos (CAPOOR e STEIN, 2005). Como podemos observar em

algumas falas, essa questão foi discutida por alguns sujeitos, apontando a relação entre

sensação de bem-estar e prazer e percepção de QV.

As relações interpessoais e a auto-estima também se mostraram relevantes para a QV.

Bénony et al. (2002) ressaltam que o apoio social tem um efeito positivo direto no reforço da

auto-estima e estimula indivíduos com LM a adotar padrões saudáveis de comportamento o

que influencia na percepção subjetiva geral de QV. No geral, de acordo com Santiago et al.

(2005), as PDF tendem a ver seus potenciais desconsiderados e sentem-se rotuladas como

“incapazes” pela sociedade, o que pode gerar sentimentos negativos e afetar seu bem-estar

psicológico.

Tzonichaki e Kleftaras (2002) pesquisaram a correlação entre auto-estima, satisfação

com a vida e solidão em pessoas com paraplegia. Eles puderam observar que níveis mais altos

de auto-estima estavam relacionados a maior satisfação com a vida e menor sentimento de

solidão. Como podemos notar em algumas falas, nossos estudos confirmam os achados dos

autores referidos, à medida que também podemos observar uma relação entre auto-estima e

integração social ao abordarmos a questão da QV. Segundo alguns sujeitos, sentimento de

auto-aceitação deve ser construído primeiro, para depois haver uma integração social.

Duggan e Dijkers (1999, 2001 apud HAMMELL, 2004, p.495) observaram em

pesquisas qualitativas que, para indivíduos com LM, altos níveis da percepção de boa QV

estão relacionados à satisfação nos relacionamentos, ao desempenho de papéis sociais

significativos, à segurança financeira e material, e às oportunidades de desenvolvimento de

ocupações valorizadas por eles.

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A importância das relações interpessoais e do suporte social na percepção da QV,

verificada na discussão dos sujeitos avaliados, também pode ser confirmada pelos dados

obtidos no questionário de qualidade de vida WHOQOL-bref.

Outro aspecto importante, considerado como um atributo para se alcançar uma boa

QV, para essa população, é a acessibilidade a locais públicos. Isso também pode ser

verificado pelas respostas agrupadas na categoria cidadania. A falta de rampas e adaptações

adequadas à cadeira de rodas, segundo os sujeitos, prejudica os meios para o exercício da

cidadania e participação social.

De acordo Capoor e Stein (2005), essas barreiras arquitetônicas interferem nas

condições para se alcançar boa QV, sendo que, como acrescentam Bampi et al. (2008), as

barreiras sociais, assim como as mudanças físicas, também podem interferir na avaliação que

os indivíduos apresentam após sofrer uma LM.

As adaptações na casa, no local de trabalho, bem como o meio de transporte adequado

são fatores importantes para diminuir o impacto das barreiras arquitetônicas e aumentar

significativamente a independência e a QV nessa população (CAPOOR e STEIN, 2005).

Para indivíduos com LM, o fato de estarem engajados em atividades profissionais está

diretamente relacionado ao sentimento de estar contribuindo para a sociedade ou à sensação

de sentir-se útil, produtivo. Isso parece ser muito relevante para uma boa percepção de QV

(HAMMELL, 2004), o que também foi observado nas falas de nossos sujeitos.

Diante da associação feita pelos participantes dos grupos focais entre QV e saúde foi

apresentada a esses a questão: “O que é ter saúde”. As respostas obtidas foram agrupadas nas

categorias descritas abaixo:

I – Ausência de doenças – Respostas que revelam uma concepção de saúde cuja ênfase é a

ausência desta devido às disfunções causadas pela lesão e/ou a mais atenção dada à saúde para

evitar doenças. Exemplificando, temos:

“Saúde é o que eu não tenho. Depois que eu fiquei paraplégico, eu... eu sinceramente falando não tenho saúde... Tenho problema de... problema urinário, problema de intestino, tenho uma série de problemas. Eu não tenho saúde.”

“... sem ter que tomar remédio, sem ter que tomar antibiótico, sem passar por médico, pra mim saúde é isso.”

“Eu até os 21 anos entrei no hospital só pra trabalhar, né? Não tomava nem aspirina pra dor de cabeça, pra nada. Tinha uma saúde perfeita, né? Perfeita entre aspas, porque perfeita nunca é.”

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II - Definição biopsicossocial – Respostas nas quais os participantes definem saúde

associando a esta o bem-estar do indivíduo nas áreas física, mental e social. Exemplificando,

temos:

“Basicamente o que a gente falou até agora. Saúde social, saúde física, saúde mental...”

“... estar bem no dia a dia... tá dando uma palestra aqui sobre... tá podendo nadar, jogar, poder ir no shopping... se eu não tenho saúde quase não dá porque... fico trancado em casa.”

“Pra mim é ter disposição pra saí, bebe com os amigos, ir no churrasco, né!”

“Procurar uma vida melhor, o mais saudável possível... e, hoje, tenho um pensamento comigo que estou me preparando pra uma velhice saudável, mesmo estando nesta cadeira de rodas, né? Principalmente minha cabeça, estou trabalhando muito”

“... a meu ver, é a pessoa ter uma boa alimentação, ter preparo físico, você entendeu?... deixaria o lado do sedentarismo, né?... fora isso ter uma vida social ao mesmo tempo, também, com divertimento. Englobando tudo isso. Eu creio que dá para chegar numa qualidade de vida, você entendeu?”

III – Preocupação constante com o corpo – Respostas relacionadas à necessidade de controle

dos mecanismos que interferem no bom funcionamento do corpo. Alguns exemplos são:

“... Se alimentar bem, dormir bem, pra mim saúde é isso.”

“Pra gente saúde é uma preocupação constante, né? Porque quer queira quer não, a gente tá sempre na berlinda de ter uma infecção, de ficar doente. Saúde pra a gente não é mais uma questão de querer ou não ter saúde, tem que ter e acabou. Tem que estar sempre indo no médico, tem que estar sempre controlando infecção. A saúde da gente não é mais aquela coisa “ah, eu não quero cuidar da minha saúde”. Mesmo se não quiser você tem de fazer.”

“...por incrível que pareça. A cadeira não é o que me, me irrita mais. A infecção, a questão da urina, de ter que usar bolsa, isso é o que me irrita mais do que a própria cadeira. Quando uma pessoa que não é cadeirante fala assim: “ah, o cara tá ali sentado...”. Eu também achava isso, mas as complicações que vem de infecção, de ficar doente, são o que mais chateia do que o próprio ficar sentado.”

“ ... depois que passei a ser cadeirante, que sofri este traumatismo, aí minha saúde eu tive que passar a controlar no dia a dia... tive de controlar a alimentação, tive de controlar tudo pra manter uma vida.”

“O controle que ele falou aí, constante, de doença. Você pode ver. Eu mesmo, vou direto no laboratório. Cada dois meses agora, um mês eu faço os exames controlando tudo e... coisa que a gente não fazia, a gente levava assim...”

“ter uma alimentação, manter...cuidar do corpo, é... ter horário para o sono...”

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Observamos nas falas acima que a percepção de saúde está relacionada a vários

aspectos como: a percepção de bom funcionamento do corpo; a disposição física; a

preocupação com a alimentação e com o sono; e, até mesmo, com a questão do sedentarismo.

Além da imobilidade dos membros inferiores, os problemas secundários decorrentes

da lesão como, por exemplo, as constantes infecções urinárias, parecem afetar diretamente a

percepção de saúde desses indivíduos. Daí a necessidade mostrada por alguns de preocupação

constante aos cuidados com o corpo. O que pode ser também verificado por um estudo sobre

os fatores emocionais e subjetivos da QV em sujeitos com LM. Bénony et al. (2002), com a

utilização do Rorschach (teste projetivo de personalidade), constataram que indivíduos com

LM apresentam grande preocupação com o corpo.

Na percepção de alguns sujeitos, a participação em atividades sociais também

pressupõe estar saudável. Para Bénony et al. (2002), o baixo apoio social é um fator de

vulnerabilidade à saúde de indivíduos com LM, existindo uma concordância geral entre os

sujeitos analisados de que a satisfação com o apoio é mais importante que a quantidade de

apoio disponível. Em seu estudo, eles puderam observar uma grande necessidade de vínculos,

a insatisfação com relação à sexualidade, com a sua condição física e com a falta de

atividades de lazer no tempo livre.

Já com relação à sexualidade, podemos observar que os participantes da nossa

pesquisa não mencionaram, diretamente, nenhum aspecto referente ao tema. Apesar disso,

notamos que na comunicação não falada, tais como, risadas, olhares e brincadeiras, os

participantes deixam a entender, nesse outro tipo de comunicação verbal, que existe a

preocupação com a sexualidade.

De modo geral, tanto nas discussões do grupo focal 1 quanto do 2, notamos que os

repertórios verbais explicativos parecem pobres. Os participantes verbalizaram o mínimo

necessário para a comunicação no grupo. Não há, portanto, uma grande riqueza de

vocabulário e de construção conceitual das ideias propostas para a discussão. Isso foi

constatado apesar do grupo estudado, na sua maioria, ter razoável nível de escolaridade, três

possuem 2º grau completo e quatro nível superior completo ou incompleto (Tabela 3).

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8.3 CATEGORIZAÇÃO DOS BENEFÍCIOS DA NATAÇÃO

Na análise qualitativa, foram contemplados os dados obtidos nas entrevistas

individuais e nos grupos focais 1 e 2.

De acordo com Jacobs e Nash (2004), os indivíduos com LM não sofrem apenas de

alterações específicas decorrentes da lesão na medula espinhal, mas também, de alterações

significativas nos aspectos físicos, sociais e psicológicos.

Os indivíduos com LM, segundo Lavis e Scelza (2007), podem se beneficiar tanto dos

efeitos fisiológicos e metabólicos do exercício como da diminuição do estresse e depressão,

melhorando a percepção da sua QV e da sua saúde. Para Hanson et al. (2001), a predisposição

ao estresse e à depressão na população de lesados medulares está relacionada à restrita

participação social. Dessa forma, como destaca Shephard (1991), o esporte e/ou a prática de

exercícios físicos são fatores que influenciam de forma positiva a socialização.

A partir das reflexões acima e da análise das respostas relativas à percepção dos

sujeitos sobre os efeitos do programa de natação na sua saúde e QV, foram elaboradas duas

grandes categorias temáticas: “I - benefícios físicos” e “II - benefícios psicossociais” da

natação.

A categoria “benefícios físicos” englobou as seguintes subcategorias:

I.1 - Melhora da capacidade respiratória – respostas que enfatizam a melhora da capacidade

respiratória e a associam com uma melhor disposição para realizar atividades da vida diária

e/ou com a qualidade do sono. Como exemplos, temos:

“Melhorou a parte respiratória, na disposição para o dia-a-dia.”

“Aumentou o fôlego, por exemplo, pra transar.”

“Melhorou bastante... a respiração.”

“...comecei a dormir mais.”

“Ajudou muito no condicionamento físico.”

“E o condicionamento físico em geral está ótimo; eu toco melhor o saxofone. O sono melhorou um pouco, também.”

“Melhorou... capacidade respiratória.”

“... a gente, depois que a gente fez natação, a gente for ver, bastante assim... disposição para fazer o dia a dia da gente.”

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“... eu notei que eu tinha problema até para dormir, principalmente, se eu deitasse de costas, de bruços, eu perdia até a respiração, acordava. Melhorou bem isso ai..”

“Na época melhorou muito meu sono...”

I.2 - Redução da sensação de dor física – Respostas que apontam como benefício físico do

programa de natação a redução da sensação de dores pelo corpo. Exemplificando, temos:

“...melhorou as dores no corpo.”

“Depois que eu comecei o trabalho melhorou bastante. Eu tinha dores musculares nas costas. Me doía bastante, mas melhorou. É muito bom.”

I.3 – Melhora das condições físicas e/ou motoras – Respostas que enfatizam o aumento de

massa e/ou força muscular, além de melhoras na coordenação motora e no peso corporal.

Como exemplos, podemos citar:

“... melhorou a minha condição física, é visível, os meus braços aumentaram, as pessoas até comentaram.”

“... transferência de cadeira, porque aumentou a força nos braços.”

“A movimentação das pernas melhorou muito, dentro da água ela se movimenta.”

“Melhorou a flexibilidade, coordenação,...”

“Deu pra perder uns quilinhos...”

“É, eu já perdi uns quilinhos, engrossei os braços.”

“Melhorou bastante o porte físico, a força,...”

I.4 - Melhora das disfunções decorrentes da lesão – Respostas nas quais os participantes

revelam que com a prática da natação observaram uma melhora das disfunções vesicais,

intestinais e/ou circulatórias. Melhoras estas que em alguns casos resultaram também na

melhora do sono. Como exemplos, temos:

“O físico em geral, melhorou o intestino, bexiga...”

“Melhorou o intestino... estou usando menos coletor.”

“Depois que entrei na natação, deixei de usar o coletor. Melhorou muito a parte fisiológica, o meu intestino voltou a funcionar diariamente.”

“A minha perna que ficava muito inchada diminuiu bastante. O corpo ficou mais leve.”

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O que pode ser identificado nas falas dos sujeitos, na entrevista e no grupo focal, e

interpretado nas categorias em relação aos benefícios físicos da natação pode ser resumido: na

melhoria da capacidade respiratória; na redução da sensação de dor física; na melhoria das

condições físicas e/ou motoras; e melhoria das disfunções decorrentes da lesão. Isso indica

que mesmo em curto período de tempo, oito semanas, a prática regular da natação pode

melhorar a percepção de saúde dos praticantes com LM.

A vasta literatura a respeito dos benefícios proporcionados pela prática de exercícios

e/ou da natação por indivíduos com LM já foi bem discutida ao longo deste trabalho, tanto na

revisão de literatura quando nas discussões dos resultados avaliados quantitativamente.

Alguns dos benefícios físicos puderam ser constatados pela avaliação antropométrica e

bioquímica e também pelo teste para avaliar a melhora do condicionamento físico.

A categoria “benefícios psicossociais” englobou as seguintes subcategorias:

II.1 - Aumento do convívio social – Respostas que revelam o quanto o convívio social

proporcionado pelo programa de natação foi significativo para os participantes, pois

possibilitou a superação do isolamento social, a ampliação da rede social, a reflexão sobre sua

condição atual. Como exemplos, podemos citar:

“A convivência com os amigos... conheci pessoas diferentes.”- P2

“Amizades.” – P3

“Melhorou... fora as amizades, as oportunidades sociais, o convívio... Melhorou em todos os sentidos.” – P4

“A natação trouxe bastante amizades...” – P5

“O que foi mais importante foi a parte social, de contato com os colegas, das amizades... Ter convivido com o pessoal... até no dia a dia vendo a situação de outro você chega em casa fala: “meu problema não é tão grave, assim.” Uma coisa que... melhora porque quando você tá preso no seu mundo tudo é terrível, tudo é difícil, e tudo fica mais... maior, né? Quando você vê outra pessoa, tem gente, tem muitos casos aí que a pessoa nem saia de casa, pra mim foi muito importante.” – P6

“A turma foi boa, as brincadeiras...”- P7

“Eu conheci mais gente, melhorou meu bem-estar... o contato com o grupo era legal, porque era muito divertido, né!” – P8

“Fiz mais amizades.” – P9

“Melhorou bastante... em tudo na vida social, na saúde, na relação com o pessoal... Esse convívio que ele tá falando é muito bom. Porque o ser humano tá vivendo uma época virtual que não tem mais esse contato físico, essa conversa que nós estamos tendo aqui, não. E o ser humano não foi feito pra

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isso não. Foi feito para a convivência, qualquer humano, qualquer ser vivo.” – P10

“melhorou... o contato com os amigos no transporte. Fiquei conhecendo as pessoas. Praticamente não saia de casa. Melhorou muito minha qualidade de vida... Este curso que a Patrícia me deu foi muito bom. Foi bom, realmente. Foi bom porque ajudou a gente fisicamente, e socialmente falando. Houve uma ligação maior entre nós, entre pessoas... de diferentes idades...”” – P11

II.2 – Melhora da saúde mental – Subcategoria que engloba as respostas que apontam como

benefícios associados à prática da natação fatores significativos para a constituição identitária

do participante, tais como, desenvolvimento da auto-estima, o perceber-se produtivo na

prática de esportes e a melhora da saúde mental como um todo.

“... que a gente vê o cidadão... tava falando: “é, tem tudo, as duas pernas, os braços certinhos, e não nada, não tem disposição”. Tipo, fica aquela auto-estima aquilo ali...”

“Ser bem quisto, bastante, ...”

“Isso me deu... senti uma diferença na saúde, saúde mental, né?“

“... melhorou o físico, melhorou a mente, melhora tudo, né?”

“O meu dia é produtivo quando venho na natação; eu tenho algo pra fazer...”

“É o esporte, eu vou investir nisso... Até então, eu não investia no esporte, né? Era muita badalação, muita bebida, isso... mas, hoje em dia, o meu propósito é o esporte mesmo.”

II.3 - Melhora da autonomia – Respostas nas quais os participantes destacam a conquista de

uma maior autonomia como benefício do programa de natação.

“Agora, eu vou no clube e consigo me virar sozinho.”

“Só o fato de eu poder entrar na água quando eu quiser, em qualquer lugar, que nem eu fazia antes, para mim, já é muito já.”

“Voltei a aprender a nadar sozinho, sem colete.”

II.4 - Superação de limites – Respostas que revelam que a participação no programa de

natação possibilitou a superação de limites impostos pelo medo e/ou decorrentes da lesão

sofrida.

“... porque eu cheguei aqui na cadeira e eu estou andando...”(aluno com lesão incompleta ASIA C)

“Consegui ter mais controle na água, não ficar apavorado; perdi o receio.”

“Eu não sabia nadar.”

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“Por exemplo, eu consegui nadar, antes não conseguia.”

“Se não fosse a natação, eu estaria na cama agora... Melhorou meu bem-estar”.

A questão da melhoria da integração social decorrente da prática regular de exercícios,

explanada anteriormente pela análise das categorias QV e saúde e do questionário WHOQOL-

bref, pode ser confirmada nas falas dos participantes do programa a respeito dos benefícios do

mesmo.

Como verificamos na literatura (HANSON et al., 2001; BÉNONY et al., 2002;

HAMMELL, 2004; VALL et al., 2006) e também em nossos resultados, a falta de integração

e participação social pode ser a grande “vilã” da diminuição da percepção de QV de

indivíduos com LM. Nesse estudo, tanto pela perspectiva qualitativa quanto pela quantitativa,

constatamos que para a grande maioria dos sujeitos avaliados houve um aumento da

integração social na prática da natação. Resultado este estatisticamente significativo

constatado no questionário WHOQOL-bref.

Observamos também que foram criados vínculos de amizades e de convívio entre as

pessoas envolvidas no estudo de uma forma geral (motorista da van, monitor de natação,

eventuais colaboradores e até mesmo a pesquisadora).

Os sujeitos que eventualmente apresentassem problemas de saúde (resfriado, tendinite,

infecção urinária e disfunções intestinais) e não pudessem entrar na piscina, não deixaram de

comparecer e “assistir” seus colegas fazendo o treinamento. Embora tenham recebido falta na

sessão de treinamento, estavam “participando” do lado de fora da piscina, incentivando os

colegas e os esperavam para conversarem depois da sessão.

Por exemplo, o sujeito 11, cujos depoimentos foram enfáticos na melhora da sua

condição como um todo (social, psicológica e física), relatou que com exceção da casa da

filha que visitava apenas nos fins de semana, o programa de natação proporcionava um outro

ambiente social, no qual ele tinha prazer em integra-se.

A partir do programa proposto foi formado um grupo de relacionamentos, o que pode

ser evidenciado tanto nos relatos das discussões do grupo focal, quanto nas reuniões sociais

(churrascos, festinhas de final de projeto de natação, festinhas de fim de ano, etc.). Fato este

até certo ponto esperado, pois, conforme Shephard (1991) menciona, entre os benefícios

potenciais da prática regular de exercícios se incluem ganhos sociológicos à medida que os

sujeitos com deficiência física participam de novas experiências, adquirem novas amizades,

além de contribuir no combate ao preconceito.

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Com relação à percepção de saúde, Shephard (1991) ressalta que esta reside num

continuum que se estende a partir da boa saúde a enfermidade. O indivíduo se coloca nesse

continuum dependendo do seu estado mental. Nos indivíduos com deficiência física ativos, o

perfil desse estado mental é relativamente normal. Porém, pode haver depressão grave entre

os deficientes inativos, assim como na população em geral, o que leva a uma percepção

insatisfatória. Se o envolvimento com a prática de exercícios e/ou esporte melhora esse estado

mental, pode haver um aumento da percepção de boa saúde. O que pode ser evidenciado com

o programa proposto pelo estudo.

Ainda segundo o autor, o relato mais freqüente após exercícios vigorosos é a sensação

de bem-estar, porém a explicação psicofisiológica exata para essa sensação permanece

obscura. Essa sensação de bem-estar pode ser explicada por alguns fatores, tais como: alívio

do estresse, da ansiedade e depressão; melhoria da auto-imagem; aumento da disposição

física, etc.

Nos relatos dos sujeitos avaliados, com relação à melhoria do estado mental,

observamos que o programa de natação proporcionou, para alguns sujeitos, além da melhoria

da auto-estima e disposição física, como cita Shephard (1991), o aumento da sensação de

sentir-se produtivo, da autonomia e da sensação de superar limites, questões estas importantes

para esse tipo específico de população.

Hanson et al. (2001) estudaram os efeitos do esporte no nível de integração de

indivíduos com LM, atletas e não-atletas. Eles constataram que os escores medidos pelo

CHART (Craig Handicap Assessment and Reporting Technique) apresentados pelos atletas

foram significativamente maiores nos quesitos: independência física, mobilidade, ocupação e

integração social.

O programa de natação contribuiu para estimular alguns de seus participantes a se

mobilizarem em atividades esportivas, apesar da proposta original não ter sido a de preparar

atletas e, sim, verificar os efeitos de um programa de exercícios na promoção de saúde e QV

de seus praticantes. Como exemplos, temos o sujeito 8 que ao ser questionado, no grupo

focal, sobre... “o que hoje na sua vida é mais importante”, ele respondeu que... “é o esporte, eu vou

investir nisso”... O sujeito 9 que aprendeu a nadar com o programa proposto, também

comentou (em outra situação) que não iria parar de praticar natação ao término do mesmo. Os

sujeitos 1, 6 e o 7 também continuaram a praticar natação em outro local quando o programa

de pesquisa se encerrou.

Um outro resultado relevante do estudo, embora não tenha sido o objetivo do mesmo,

foi a conquista de medalhas na natação por alguns sujeitos que fizeram parte do nosso GE. O

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sujeito 1 (classificação esportiva S5), que obteve o melhor desempenho do teste de

condicionamento físico, conquistou medalha de ouro na categoria 50 m nado costas e prata na

categoria 50 m nado peito e o sujeito 8 (classificação esportiva S5) conquistou medalha de

ouro na categoria 50 m nado livre e bronze na categoria 50 m peito nos Jogos Regionais de

Jaboticabal (julho de 2008). Nos Jogos Abertos de Piracicaba (novembro de 2008), o sujeito 1

recebeu a medalha de bronze na categoria 50 m nado costas.

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CONCLUSÕES

O protocolo intervalado de natação, com intensidade de moderada a intensa,

empreendido aos sujeitos do estudo com LM, durante oito semanas, proporcionou alterações

antropométricas e bioquímicas desejáveis, diminuindo alguns indicadores de risco à saúde.

Essas alterações referem-se a um provável aumento do tecido muscular dos membros

superiores, diminuição do tecido de gordura na região abdominal e nos braços, e alterações

positivas nos valores de HDL-colesterol, resultados não apresentados pelo GC. Além disso,

houve uma melhora significativa do estado de condicionamento físico dos sujeitos do GE.

Contudo, as variáveis IMC, GLI, CT, LDL-colesterol e TRI não se mostraram

sensíveis ao protocolo, o que pode ter ocorrido pela falta de controle de hábitos alimentares e

pelo curto período de duração do protocolo de treinamento.

A eficácia do protocolo de treinamento se deu: 1) pelo aumento gradativo da

intensidade do esforço (dosagem adequada da relação trabalho/recuperação); 2) pelo uso do

colete de flutuação; 3) pela possibilidade dos sujeitos realizarem o treinamento em grupo, o

que serviu como estratégia de interação social.

O uso do colete se mostrou adequado e eficaz para iniciantes em natação, sem

mobilidade de membros inferiores, pois todos os sujeitos tiveram rápida adaptação ao meio

líquido e bom desempenho das braçadas durante as sessões de natação.

Todos esses fatores colaboraram para que o protocolo intervalado de natação

garantisse 100% de adesão dos sujeitos ao programa proposto.

Podemos concluir, também, pelos resultados obtidos no questionário de qualidade de

vida WHOQOL-bref, que o referido protocolo de treinamento aquático, mesmo em curto

período de tempo, contribuiu para a melhora da percepção de QV e para um aumento

significativo da integração social de indivíduos com LM, o que foi confirmado também

através da abordagem qualitativa.

A análise qualitativa nos forneceu subsídios para compreendermos as percepções às

concepções de QV e saúde, peculiares de um grupo de indivíduos com LM, grupo este que

apresenta limitações não só físicas, mas no âmbito da sua vida social e psicológica. Somado a

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isso, a abordagem qualitativa nos esclareceu quanto à percepção dos benefícios referentes ao

protocolo de treinamento físico proposto pelo estudo.

A combinação de instrumentos de coleta de dados quantitativo e qualitativo

possibilitou-nos inferir que a prática regular do protocolo de treinamento aquático aqui

empregado pode contribuir para promoção de saúde e QV de indivíduos com LM.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados do presente estudo sugerem implicações práticas para a melhoria da QV

e para a promoção de saúde de indivíduos com LM, uma vez que foram encontrados

resultados positivos relativos ao perfil antropométrico e bioquímico, ao aumento do estado de

condicionamento físico e da integração social, concomitante com o aumento da percepção

subjetiva de QV da amostra estudada.

Apesar de considerar as limitações do presente estudo, o protocolo adaptado às

condições físicas apresentadas pelos sujeitos mostrou-se adequado a indivíduos com LM

iniciantes em natação. Somado a isso, o fato do protocolo de natação ter sido aplicado em

grupo serviu como estratégia de facilitação de interação social, que foi considerada, pelos

participantes, como um dos pontos positivos do programa.

De uma perspectiva geral, nossos achados sugerem que intervenções que tenham como

objetivo a prática regular de exercícios físicos podem ser eficazes para a promoção de saúde

de indivíduos com deficiência física, contribuindo para a melhoria da percepção de QV desse

segmento marginalizado da população e para sua inclusão social.

Evidentemente, são necessários mais estudos referentes à promoção de saúde da

população estudada, sendo importante que os mesmos incluam diferentes abordagens

metodológicas, uma vez que foi a partir da combinação de duas abordagens, qualitativa e

quantitativa, que obtivemos subsídios para as nossas análises. A combinação de metodologias

utilizadas no presente estudo não é usual e pode contribuir para futuras pesquisas com essa

população.

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ANEXO 1

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ANEXO 2

QUALIFICAÇÃO DO DECLARANTE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Objeto da Pesquisa (Nome):...................................................................................................................

RG:...........................................Data de nascimento:........ / ........ / .............. Sexo: . M ( ) F ( )

Endereço: ........................................................................ nº ............................ Apto: ........................

Bairro:.............................................Cidade:...............................Cep:.....................Tel.:.........................

______________________________

(nome por extenso) Assinatura do Declarante

Representante Legal:...................................................................................................................................

Natureza da Representação: ......................................................................................................................

RG:.......................................... Data de nascimento:......./........./.......................... Sexo: M ( ) F ( )

Endereço:.............................................................................nº.....................................Apto:......................

.Bairro:.............................................. Cidade:........................Cep:..............Tel.:.......................................

______________________________

(nome por extenso) Assinatura do Declarante

DECLARAÇÃO DO PESQUISADOR DECLARO, para fins de realização de pesquisa, ter elaborado este Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), cumprindo todas as exigências contidas no Capítulo IV

da Resolução 196/96 e que obtive, de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e

esclarecido do declarante acima qualificado para a realização desta pesquisa.

Franca, de de 200.....

______________________________

(nome por extenso) Assinatura do Pesquisador

OOBBSSEERRVVAAÇÇÃÃOO IIMMPPOORRTTAANNTTEE:: Nos casos em que haja qualquer restrição à liberdade ou aos esclarecimentos necessários para o adequado consentimento, deve-se ainda constar do termo as observações mencionadas nas alíneas “a”, “b”, “c”, “d”, “e”, “f” do inciso IV-3 da Resolução CNS nº 196, de 10/10/96, que se relacionam com a pesquisa.

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ANEXO 3

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ANEXO 4

WHOQOL - ABREVIADO Versão em Português

PROGRAMA DE SAÚDE MENTAL ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE GENEBRA

Coordenação do GRUPO WHOQOL no Brasil Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck

Instruções Este questionário é sobre como você se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde eoutras áreas de sua vida. Por favor, responda a todas as questões . Se você não tem certeza sobre que resposta dar em uma questão, por favor, escolha entre as alternativas a que lhe parece mais apropriada. Esta, muitas vezes, poderá ser sua primeira escolha. Por favor, tenha em mente seus valores, aspirações, prazeres e preocupações. Nós estamos perguntando o que você acha de sua vida, tomando como referência as duas últimas semanas . Por exemplo, pensando nas últimas duas semanas, uma questão poderia ser:

Nada

Muito pouco Médio Muito Completamente

Você recebe dos outros o apoio de que necessita?

1 2 3 4 5

Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você recebe dos outros o apoio de que necessita nestas últimas duas semanas. Portanto, você deve circular o número 4 se você recebeu "muito" apoio como abaixo.

Nada

Muito pouco Médio Muito Completamente

Você recebe dos outros o apoio de que necessita?

(1) 2 3 4 5

Você deve circular o número 1 se você não recebeu "nada" de apoio.

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Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a melhor resposta.

muito ruim

ruim nem ruim nem boa

boa muito boa

1 Como você avaliaria sua qualidade de vida? 1 2 3 4 5 muito

insatisfeito

insatisfeito nem satisfeito nem insatisfeito

satisfeito muito satisfeito

2 Quão satisfeito(a) você está com a sua saúde?

1 2 3 4 5

As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas semanas.

nada

muito pouco

mais ou menos bastante extremamente

3 Em que medida você acha que sua dor (física) impede você de fazer o que você precisa?

1 2 3 4 5

4 O quanto você precisa de algum tratamento médico para levar sua vida diária?

1 2 3 4 5

5 O quanto você aproveita a vida? 1 2 3 4 5 6 Em que medida você acha que a sua vida

tem sentido? 1 2 3 4 5

7 O quanto você consegue se concentrar? 1 2 3 4 5 8 Quão seguro(a) você se sente em sua vida

diária? 1 2 3 4 5

9 Quão saudável é o seu ambiente físico (clima, barulho, poluição, atrativos)?

1 2 3 4 5

As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de fazer certas coisas nestas últimas duas semanas.

nada

muito pouco

médio muito completamente

10 Você tem energia suficiente para seu dia-a-dia?

1 2 3 4 5

11 Você é capaz de aceitar sua aparência física?

1 2 3 4 5

12 Você tem dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades?

1 2 3 4 5

13 Quão disponíveis para você estão as informações que precisa no seu dia-a-dia?

1 2 3 4 5

14 Em que medida você tem oportunidades de atividade de lazer?

1 2 3 4 5

As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas.

muito ruim

ruim nem ruim nem bom

bom Muito bom

15 Quão bem você é capaz de se locomover? 1 2 3 4 5

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muito

insatisfeito

insatisfeito nem satisfeito nem insatisfeito

satisfeito muito satisfeito

16 Quão satisfeito(a) você está com o seu sono?

1 2 3 4 5

17 Quão satisfeito(a) você está com sua capacidade de desempenhar as atividades do seu dia-a-dia?

1 2 3 4 5

18 Quão satisfeito(a) você está com sua capacidade para o trabalho?

1 2 3 4 5

19 Quão satisfeito(a) você está consigo mesmo?

1 2 3 4 5

20 Quão satisfeito(a) você está com suas relações pessoais (amigos, parentes, conhecidos, colegas)?

1 2 3 4 5

21 Quão satisfeito(a) você está com sua vida sexual?

1 2 3 4 5

22 Quão satisfeito(a) você está com o apoio que você recebe de seus amigos?

1 2 3 4 5

23 Quão satisfeito(a) você está com as condições do local onde mora?

1 2 3 4 5

24 Quão satisfeito(a) você está com o seu acesso aos serviços de saúde?

1 2 3 4 5

25 Quão satisfeito(a) você está com o seu meio de transporte?

1 2 3 4 5

As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou experimentou certas coisas nas últimas duas emanas. nunca

algumas

vezes freqüentemente muito

freqüentemente sempre

26 Com que freqüência você tem sentimentos negativos tais como mau humor, desespero, ansiedade, depressão?

1 2 3 4 5

Alguém lhe ajudou a preencher este questionário?.................................................................................................. Quanto tempo você levou para preencher este questionário?..................................................................................

Você tem algum comentário sobre o questionário?

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APÊNDICE 1

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APÊNDICE 2

DADOS PESSOAIS Nome: ______________________________________________________Data:__________ Data de nascimento:______________ Idade:_______________________Sexo:__________ Escolaridade: ___________________________________Transporte: _________________ Estado civil:_____________________Profissão:___________________________________ Endereço: __________________________________________________________________ Telefone res:_____________________cel:___________________com:_________________

ANAMNESE Nível da lesão:_________Asia: _______Causa:____________________________________ Tempo de lesão:_________________ Início da reabilitação:_______________________ Quais as atividades de reabilitação que está fazendo no momento?___________________ ___________________________________________________________________________ Pratica alguma atividade física atualmente?______________________________________ Quais os esportes que já praticou?______________________________________________ Sabe nadar?________________________________________________________________ Atualmente, quais as complicações diárias que você apresenta decorrentes da lesão?____ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Tem bexiga espástica ou flácida?_______________________________________________ Qual o seu grau de sensibilidade?_______________________________________________ Quais as cirurgias que você já foi submetido?____________________________________ ___________________________________________________________________________ Já sofreu alguma outra lesão ósteo-muscular?____________________________________ Atualmente apresenta dores no corpo?__________________________________________ Utiliza algum medicamento?___________________________________________________ Adquiriu alguma doença nos últimos anos?______________________________________ Possui alguma restrição à prática de atividade física?______________________________ Tem problemas articulares?___________________________________________________ Sente dores de cabeça com freqüência?__________________________________________ Sente falta de ar ou palpitações?_______________________________________________ Fumante Não ( ) Sim ( ) Ingere bebida alcoólica Não ( ) Sim ( ) Diabetes Não ( ) Sim ( ) Disfunção hormonal Não ( ) Sim ( ) Hipertensão Não ( ) Sim ( ) Osteoporose Não ( ) Sim ( ) Problema Cardíaco Não ( ) Sim ( ) Epilepsia Não ( ) Sim ( ) Colesterol alto Não ( ) Sim ( ) Doença hereditária Não ( ) Sim ( )

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APÊNDICE 3

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (Conselho Nacional de Saúde, Resolução 196/96)

Eu, ___________________________________, RG__________, abaixo qualificado(a), DECLARO para fins de

participação em pesquisa, na condição de sujeito objeto da pesquisa, que fui devidamente esclarecido do Projeto

de Pesquisa intitulado “A contribuição do treinamento intervalado em natação adaptada na promoção de saúde e

qualidade de vida de indivíduos com lesão medular”, desenvolvido pelos pesquisadores do Laboratório de

Fisiologia e Nutrologia Experimentais em Exercício – LAFINE da Unaerp, Cassiano M. Neiva, R.G. 12.486.884,

C.P.F. 099.020.958-01, residente à rua Vilma Giannotti Martinez, nº22 – Presidente Prudente, telefone 16-

81212069, e Patrícia Alves de Almeida, R.G. 11.219.270-1, C.P.F. 145.597.558-33, telefone 16-91389696,

quanto aos seguintes aspectos:

As informações que seguem estão sendo fornecidas para a participação voluntária nesta pesquisa, cujo objetivo principal é investigar se a execução de um programa de treinamento de natação, durante 10 semanas, pode contribuir para a redução da porcentagem de gordura, da taxa de glicemia, de triglicerídios e de colesterol em indivíduos com lesão medular. A pesquisa visa, ainda, verificar o papel da natação na contribuição do estado geral de saúde dos mesmos, através da aplicação de um questionário. Visto que, a importância desse estudo reside no fato de que entre as patologias com alta prevalência na população de deficientes físicos estão as doenças associadas ao estado de inatividade física e a natação pode ser usada como uma estratégia de prevenção e combate a estas doenças, contribuindo assim para a qualidade de vida dessa população. A metodologia para obtenção de dados nesta pesquisa consiste em utilizar além desse questionário, um formulário com informações pessoais, exercícios adaptados de natação, com colete de flutuação, e avaliações (medidas e coleta de sangue) cujas respostas serão indicadores que levarão os pesquisadores ao cumprimento do objetivo principal do estudo em questão. As informações obtidas serão analisadas em conjunto com as dos demais participantes, não sendo divulgada a identificação dos mesmos. O presente estudo é orientado pelo Prof. Dr. Cassiano Merussi Neiva, professor de Fisiologia do Exercício da Unaerp, pela Profa. Patrícia Alves de Almeida, mestranda em Promoção de Saúde, por estagiários e professores colaboradores do projeto. Em qualquer etapa do estudo, o participante terá acesso aos pesquisadores responsáveis, para esclarecimento de eventuais dúvidas, e terá a liberdade de retirar seu consentimento do estudo, sem nenhuma penalidade ou prejuízo. Será oferecido o transporte para aos participantes, não havendo despesas pessoais em nenhuma fase do estudo, como também, não há compensação financeira relacionada à sua participação. Os pesquisadores garantem que não há riscos de qualquer natureza para os participantes, desde apresentem atestado médico liberando para a prática da natação e sigam corretamente as instruções dos professores.

DECLARO ter sido suficientemente informado a respeito dos procedimentos e propósitos do estudo, ficando

claro quais são seus riscos, benefícios e garantias de confidencialidade. Quando necessário para o

desenvolvimento da pesquisa, concordo coma a doação de material biológico (sangue, urina ou saliva).

Assim, concordo voluntariamente em participar desta pesquisa.

_____________________________________ Ribeirão Preto, de de 2008.

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APÊNDICE 4 Aquecimento antes de iniciar a sessão de treinamento: - Alongamentos de membros superiores, tronco e pescoço;

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- Alongamento dos tornozelos e balanços dos braços.

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2a

1b

2b

3b

1c

2c

3c

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APÊNDICE 5 QUESTÃO ABERTA: Quais os benefícios (físicos, psicológicos e sociais) que a natação proporcionou para você durante esse período? Melhorou sua qualidade de vida? Sujeito1 - “Melhorou a parte respiratória, na disposição para o dia-a-dia. Quanto à parte social, eu já tinha amigos do basquete. (mais alguma coisa?) Agora, eu vou no clube e consigo me virar sozinho.” Sujeito 2 - “Melhorou minha qualidade de vida. Aumentou o fôlego, por exemplo, pra transar (aumentou sua capacidade respiratória, o que mais?). A convivência com os amigos... conheci pessoas diferentes.” Sujeito 3 - “Melhorou bastante o porte físico, a força, a respiração; melhorou as dores no corpo (o que mais?) As amizades. Melhorou a qualidade de vida de uma forma geral.” Sujeito 4 - “Melhorou. O físico em geral, melhorou o intestino, bexiga; comecei a dormir mais. Fora as amizades, as oportunidades sociais, o convívio. A minha perna que ficava muito inchada diminuiu bastante. O corpo ficou mais leve. Peguei até uma corzinha.” Sujeito 5 - “A natação trouxe bastante amizades, saúde, porque eu cheguei aqui na cadeira e eu estou andando; divertimento. Melhorou mais a minha qualidade de vida.” Sujeito 6 - “O que foi mais importante, foi a parte social, de contato com os colegas, das amizades. Fora isso, melhorou a minha condição física, é visível, os meus braços aumentaram, as pessoas até comentaram.” Sujeito 7 - “Voltei a aprender a nadar sozinho, sem colete. Consegui ter mais controle na água, não ficar apavorado; perdi o receio. Ajudou muito no condicionamento físico. A turma foi boa, as brincadeiras...” (aluno ficou tetraplégico incompleto com mergulho em águas rasas) Sujeito 8 - “O meu dia é produtivo quando venho na natação; eu tenho algo pra fazer. (melhorou o quê no seu dia?) Melhorou tudo, eu me alimento melhor, eu me sinto melhor. Se não fosse a natação, eu estaria na cama agora. Eu conheci mais gente, melhorou meu bem-estar”. Sujeito 9 - “Deu uma melhorada (no quê?) Melhorou o intestino, transferência de cadeira, porque aumentou a força nos braços. Estou usando menos coletor. Fiz mais amizades. Aprendi a nadar.” Sujeito 10 - “Melhorou bastante. Em tudo na vida social, na saúde, na relação com o pessoal. Eu me sinto muito bem. Depois que entrei na natação, deixei de usar o coletor. Melhorou muito a parte fisiológica, o meu intestino voltou a funcionar diariamente. (o quê mais?) A movimentação das pernas melhorou muito, dentro da água ela se movimenta. E o condicionamento físico em geral está ótimo; eu toco melhor o saxofone. O sono melhorou um pouco também.” Sujeito 11 – “Melhorou tudo: físico, psicológico e social. (me dá um exemplo) Por exemplo, eu consegui nadar, antes não conseguia. Melhorou a flexibilidade, coordenação, capacidade respiratória; o contato com os amigos no transporte. Fiquei conhecendo as pessoas. Praticamente não saia de casa. Melhorou muito minha qualidade de vida.”

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APÊNDICE 6

TRANSCRIÇÃO DO GRUPO FOCAL 1

O Grupo Focal 1 foi constituído por alguns sujeitos do GE (participantes 1, 2, 3, 4, 5, 9 e 11). A atividade teve início com a apresentação da pessoa responsável pela coordenação do Grupo

Focal (Coord), a psicóloga Edna, e com breve explicação sobre a atividade. O grupo focal foi realizado em uma sala da Universidade de Ribeirão Preto. No entanto, essa

sala, escolhida por ter fácil acesso a cadeira de rodas, ficava ao lado de outra que estava sendo reformada. Assim, o barulho ao lado atrapalhou a escuta da gravação da entrevista em alguns momentos, prejudicando a transcrição da mesma em alguns momentos.

Outro fator que inferiu na transcrição da gravação foi a euforia do grupo ao se reencontrar, após duas semana do término do programa. Por mais que a coordenadora pedisse para falar um por vez, em vários momentos as falas foram simultâneas e fugiam do assunto. As falas paralelas e brincadeiras, não pertinentes ao tema, não foram transcritas. Coord: Eu quero que vocês digam a primeira palavra que vem na cabeça de vocês quando alguém fala em qualidade de vida. (silêncio: cerca de 5 segundos) Coord: Sem censuras, não precisa se censurar, a primeira palavra que vem, “qualidade de vida”. (todos riem) P3 - Ah, Sem censura dá problema, hein? (risos). Ai, quero ver o que vocês vão falar. P1 - Vamo ver vai, quem começa? P3 - É verdade. P1 - É tipo assim, ter a nossa atividade a mais do dia a dia, fácil né? Tipo assim... ter vontade, não ter cansaço, você fazer com disposição, o dia inteiro, com alegria, com.... P2 - Disposição física... P1 - Podia ser fazer o 100% do que tiver de fazer com prazer, não a contragosto. Porque, se for sem gosto pra pessoa fazer alguma coisa a qualidade já caiu. Não está fazendo por prazer. P4 - Fazer por prazer, não imposto. (falas e risos) P1 - Vai, fala. (risos) P3 - Tá, eu falo. (várias falas ao mesmo tempo e risos)

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P3 - O que a gente teve, né, essa avaliação aí que a gente teve todo esse tempo, a gente viu que a gente se recuperou mais, a gente teve... , se dedicou mais, assim... a vida da gente, que a gente tá condicionado a uma cadeira de rodas, que a gente sabe, superou muita coisa. Hoje, a qualidade que a gente tem de vida hoje é, principalmente, saúde. Saúde, tudo, a gente, depois que a gente fez natação, a gente for ver, bastante assim... disposição para fazer o dia a dia da gente (interrompido) P4 - O social, também. P3 - É, o social também. P4 - Que é o mais importante, talvez. Talvez até mais que a saúde. Coord - O que é qualidade de vida? A primeira palavra que vem na tua cabeça quando você escuta isso. P2 - Então, mas a pergunta não era essa, então. Coord - Eles estão detalhando mais, né? Mas pode ser assim uma palavra que vem... P3 - A primeira palavra que eu acho assim que vem é saúde. Eu acho que qualidade de vida da gente é saúde. P4 - Tá, mas mesmo se você está doente se você estiver num ambiente social você vai superar isto. P3 - Certo,... a não ser que você supe, superasse... (mais de uma fala ao mesmo tempo)... Fazer da sua situação, da sua paraplegia né, da nossa um pouco (barulho, assobio)... um pouquinho melhor. Passa a ter, passa a ter uma... vamos supor assim... P4 - “Supositoriamente” falando... (risos) (fala incompreensível ao fundo) P3 - Passa a ter uma... ligação maior com a sociedade, mais espontânea. P4 - É porque você fica normalmente preso, querendo ou não, você não tem... P3 - Você ter ligação maior com a sociedade é até normal. Ás vezes, as pessoas que andam normal, às vezes não tem uma ligação. Acho que isso ai... Isso aí é relativo, tipo... P4 - Não, tá. É relativo, mas só que a partir do momento que... se acontece um... tipo um acidente e ninguém morre, aí começa... (??) (Obs: sujeito 4 ficou paraplégico em um acidente de moto) (várias falas simultâneas) P3 - É, para você. P4 - ... às vezes, a pessoa até ela se aceitar... e tem que conquistar o pessoal que vai te aceitar. Primeiro você tem que se aceitar. P11 - É, este é o primeiro passo. Primeira aceitação própria, e depois a aceitação pela sociedade. Que não acontece, infelizmente não acontece. A sociedade não nos aceita. Esta é a grande verdade. Não adianta tapar o sol com a peneira. P2 - É verdade.

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(Falas ao mesmo tempo) P2 - Só o Marquinhos mesmo. (Obs: o Marquinhos não fazia parte do GE) P1- Na natação, também, quem ficou dentro da piscina, que a gente vê o cidadão tava falando: “é, tem tudo, as duas pernas, os braços certinhos, e não nada, não tem disposição”. Tipo, fica aquela auto-estima aquilo ali... P11 - Este curso que a Patrícia me deu foi muito bom. Foi bom, realmente. Foi bom porque ajudou a gente fisicamente, e socialmente falando. Houve uma ligação maior entre nós, entre pessoas... de diferentes idades... (mais de uma fala ao mesmo tempo) P5 - E amizade, né? Que... acaba fazendo, com a gente. Um churrasco que fez na casa do P3, né? Foi ótimo. (brincadeira relacionada ao churrasco) P5 - E outros, né? Aquele carneiro que você falou que ia matar e não matou. (risos) Coord - Vocês acham que com o fim do trabalho da Patrícia, com o fim do trabalho de natação, a amizade vai continuar? A convivência de vocês vai continuar? Participantes (vários) – Vai. Vai. P4 - Pode ser que fique mais raro, mas com certeza vai. Mais raro da gente se encontrar, mas não... P2 - Alguns aqui quer ser jogador de basquete, da equipe de basquete... (risos e conversas paralelas ao mesmo tempo com assuntos que fogem ao tema) P3 - Porque ele não vai na casa de pobre, né? Ele não vai. P11 - Mas, ele foi na sua casa! (Risos e falas ao mesmo tempo) P3 - (??) assim... a gente... igual nóis tá aqui. Se eu vou na casa dele ele vai lá na minha casa. O Sr. P10 a partir de agora a gente sempre vai passar lá, tudo, entendeu? A gente tem que ter contato assim, direto. P11 - Graças a Deus, foi muito bom. Aliás, esse curso que a Patrícia me deu aí, não foi só fisicamente que ele melhorou. Melhorou muito, melhorou em todos os aspectos. P4 - Melhorou em todos os sentidos. P11 - Melhorou em todos os sentidos, foi uma coisa maravilhosa. (falas ao mesmo tempo) P11 - Deu pra perder uns quilinhos.

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P1 - É, eu já perdi uns quilinhos, engrossei os braço... P2 - Tá recuperando, viu? Fazia cada pratão lá. P1 - Ah é? (Falas ao mesmo tempo; brincadeiras entre eles) P5 - Não, vamo fala da qualidade... de saúde. Coord – E o que é saúde para vocês. Vocês falaram que qualidade de vida, primeira coisa, tem que ter saúde, tem que ter auto-estima. O que é saúde, numa palavra? P4 - É outra palavra que engloba tudo. P4 - Basicamente o que a gente falou até agora. Saúde social, saúde física, saúde mental... P11 - Você tem saúde? Fala a verdade. P? - O que é saúde para você? P11 - Saúde é o que eu não tenho. Depois que eu fiquei paraplégico, eu... eu, sinceramente falando, não tenho saúde...(toca o celular de um dos participantes).. Tenho problema de... problema urinário, problema de intestino, tenho uma série de problemas. Eu não tenho saúde. Posso falar que eu tenho saúde? P4 - Não seria assim, também, não. P2 - Isso aí é muito radical, Sr. P10. P11 - Não to sendo radical, tô falando a verdade. Coord - O que é saúde para você? P1 - Ah, é..(falas simultâneas)... estar bem no dia a dia...(fala de outro participante: ... tá dando uma palestra aqui sobre... (?)... tá podendo nadar, jogar, poder ir no shopping..(falas ao fundo)..se eu não tenho saúde quase não dá porque... fico trancado em casa. Coord - O que é saúde para você? P2 - Pra mim é ter disposição pra saí, bebe com os amigos, ir no churrasco, né! (Patrícia: Não falou nada, Roque... – sujeito 9) (falas simultâneas) Coord - Ir em churrasco, né ? P2 - É, ir em churrasco. Coord - O que é saúde? P9 - Saúde? Saúde pra mim é levantar de manhã todo dia... P11 - Fazer uma caminhada...

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P4 - Bom humor. P3 - É... sem ter, sem ter..nem, sei lá... sem ter que tomar remédio, sem ter que tomar antibiótico, sem passar por médico, pra mim saúde é isso. Se alimentar bem, dormir bem, pra mim saúde é isso. (Brincadeiras entre eles) Coord - E a auto-estima, o que é? (silêncio...) (falas diversas simultaneamente) P3 - Você levantar cedo e...apesar de tudo que a gente passa, que a gente tem, você se sentir bem, né ? Você ter uma boa... uma boa convivência com as pessoas, os familiares, tudo, eu acho que isso é auto-estima. Eu acho que é isso. Se sentir bem, admirar. Pô, você fazer um...um...uma coisa ali, pô, olha que bom. Isso pra mim foi maravilhoso, a auto-estima... (falas diversas e toca o celular de um dos sujeitos) P? - Eu acho que é fazer o que nunca tinha feito antes... (falas diversas) P11 - Não pode ter vergonha, tem que se aceitar. Coord - A auto-estima também é isso, né? É aceitação, é você descobrir o que você tem de bom, né? P? - Então é a descoberta que você tem que fazer, de coisas de bom... P3 - Para você assim, o que é? Você que entende mais, o que é auto-estima ? Coord - Não vou falar senão vou contaminar. Até já falei um pouquinho demais. (falas diversas) Coord - Bem, vocês pensando no que vocês definiram como qualidade de vida, né? Em uma palavra, se for para vocês definirem qualidade de vida antes de começar o trabalho com a Patrícia, o trabalho de natação, que palavra vocês associariam com qualidade de vida? Só uma palavra, antes do trabalho. P2 - Basquete P11 - Muito buraco. Coord - Antes do trabalho. P11 - Ah, antes do trabalho? Coord - É P11- Péssimo. Coord - Péssimo. E você?

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P4 - Péssimo? Deixa eu pensar... Gênio pensando... Coord . - Você? Antes do trabalho. Coord - A primeira que vem, sem censura, a primeira palavra que vem na cabeça. Qualidade de vida. A minha qualidade de vida antes do trabalho com a Patrícia. P2 - Eu já pensei. Coord - Pode falar. (várias falas, brincadeiras entre eles e risos) P4 - Antes, eu, o meu esporte era beber...? Não, antes eu não tinha esporte. Qualidade de vida era sem esporte, no caso. P11 - É o que eu falei, péssima. Coord. - Mas, procura resumir em uma palavra a sua qualidade de vida antes do trabalho com a Patrícia. P3 - Antes de fazer o trabalho com ela não era nada bom. Coord - Mas traduz o “nada bom” e o “bom”. P3 - As minhas crianças... Coord - O que estava presente na sua vida que fazia ela, a qualidade de vida ser boa? E o que estava presente na sua vida que fazia a qualidade de vida ser “nada bom”? P3 - Os meus filhos. Coord - Seus filhos? P? - Para mim faltava o que para nós... (falas simultâneas e comentários da vida familiar) P3 - Eu sentia falta deles, de oportunidade... (falas simultâneas) (uma fala ao fundo, não consegui entender) Coord - Agora, pensem em uma palavra que significa, depois desse tempo, dessas semanas ai, praticando natação, desse trabalho todo com a Patrícia, dessa convivência entre vocês, resume em uma palavra o que está presente na vida de você que significa que melhorou a qualidade de vida de vocês? Pode ser mais de uma. Se tiver mais de uma. P5 - Amizade. P3 - Ser bem quisto, bastante, é... eu tinha um problema de fôlego... (risos) P3 - Depois que eu comecei o trabalho melhorou bastante. Eu tinha dores musculares nas costas. Me doía bastante, mas melhorou. É muito bom. P2 - Eu conheci o Zé. E outra, a convivência com ela, também. O Sr. P10, também.

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(várias falas) P11 - E, apesar dela ter me posto lá embaixo, mas... Patrícia (Explicação sobre a numeração dos sujeitos que não foi a colocação no desempenho, mas o número de cada sujeito por ordem alfabética. Ao final do programa, eu entreguei uma ficha para cada um, com os sujeitos numerados, com o resultado individual de desempenho nos testes de esforço.) P3 - Um cara desses que não sabe nadar, ficou em segundo lugar... P11 - Oh!!! O que você tá reclamando, ai? Eu fui o último, não tô falando nada, pô. Eu fui o último não tô reclamando de nada. (várias falas) Coord - Vamos lá gente, e vocês que ficaram quietos? O que está presente na sua vida hoje que... P9 - A amizade, a natação, que eu não sabia nadar. P11 - É... eu acho que após o curso que a Patrícia me deu melhorou em todos os aspectos. Melhorou fisicamente, melhorou socialmente falando, melhorou em todos os aspectos. Foi muito bom. O que eu já falei antes e volto a repetir, foi muito bom. P4 - Não é questão de puxa saquismo, não... P11 - Não, não. Se ela não estivesse aqui eu ia falar a mesma coisa. P4 - Ninguém estava esperando que acontecesse. Talvez quem começou, começou pensando uma coisa, mas saiu uma coisa totalmente diferente, é... superando expectativas. P2 - E teve o Gabriel, também. P? - Essa é a parte dele. P? - É (risos) P? - Daniel ??? P? - a Renata ??? P? - Deixa ele lá. (várias falas, brincadeiras entre eles, não significativos para a análise)

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APÊNDICE 7

TRANSCRIÇÃO DO GRUPO FOCAL 2

O Grupo Focal 2 foi constituído por aqueles sujeitos do GE que não puderam comparecer no primeiro grupo focal (participantes 6, 7, 8 e 10). O sujeito 8 chegou atrasado.

A coordenadora do segundo grupo foi a mesma psicóloga que participou do primeiro Os procedimentos inicias de apresentação e explicação da dinâmica do grupo seguiram os mesmos moldes do primeiro grupo focal.

O segundo grupo focal também foi realizado em uma sala cedida pela Universidade de Ribeirão Preto.

Coord - Eu queria que vocês me dissessem a primeira palavra que vem na cabeça quando vocês pensam em qualidade de vida. P10 - Paz de espírito (silêncio...) P6 - Paz interior P7 - Respeito, liberdade, paz e sossego. P6 - Paz de espírito Coord - Tem alguma outra? Se for desmembrar o que é paz de espírito, quando é que a gente tem paz de espírito? P10 - Ter uma vida saudável, tanto na parte espiritual quanto na parte material. P7 - Conviver bem com os outros, também. Coord - Para você? P6 - Uma mente saudável Coord - Mente saudável? Coord - Mais alguma coisa gente? (silêncio...) Coord - Vai desmembrando estas palavras que vocês falaram, paz de espírito, convivência. O que é preciso para a gente ter uma boa convivência? P7 - Primeiro a gente tem que estar bem com a gente mesmo, né? Para depois estar bem com as pessoas, conviver bem. P10 - Primeiramente tem que partir de nós, de dentro pra fora, né? Depois vai abrindo o leque, vai... fazendo amizade.

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Coord - Se fosse pra vocês definirem qualidade de vida. O que que é? O que é pra vocês? Porque é uma coisa “subjetiva”, né? Mas se vocês fossem definir: qualidade de vida é isso, isso e isso. O que está presente na vida de quem tem qualidade de vida? P7 - Amigos, família. Coord - O que mais? P10 - Amigos, família, uma vida bem controlada com atividade física bem feita, saudável, uma boa alimentação. Coord - Não vai falar nada, Júnior, sobre qualidade de vida? P7 - Se sentir útil, também, né? O Júnior trabalha, o Valter também trabalha. Coord - E saúde, como vocês definem saúde? P6 - Pra gente, saúde é uma preocupação constante, né? Porque quer queira quer não, a gente tá sempre na berlinda de ter uma infecção, de ficar doente. Saúde pra a gente não é mais uma questão de querer ou não ter saúde, tem que ter e acabou. Tem que estar sempre indo no médico, tem que estar sempre controlando infecção. A saúde da gente não é mais aquela coisa “ah, eu não quero cuidar da minha saúde”. Mesmo se não quiser você tem de fazer. P7 - Você sabe, algumas coisas eu não mudei, não. Tipo assim. Eu fui pescar há uns dois finais de semana atrás. Aí, eu queria entrar na água, coisa que eu fazia quando eu nadava. Minha mãe não queria deixar. Aí, eu falei com meu pai. E a água tava gelada, tava gelada!! Eu sabia que eu ia ficar resfriado no outro dia, mesmo assim eu entrei. Resfriado também acho que não entra em coisa de doença, né? Resfriado, gripe. Coord - Esse cuidado com a saúde você não tinha antes, essa preocupação de prevenir, de evitar uma doença, alguma coisa assim? De ir com mais freqüência ao médico para ver se estava tudo bem com você? Isso você não tinha antes? P7 - Não, Não. Ia uma vez só no ano. Nunca tive assim. Eu ainda, não tenho assim, não tenho muita infecção. Mas, aí que muda, porque minha mãe também fica em cima, né? Eu também não ligo muito, mas ela fica em cima. Se dá uma febre, já fica preocupada, entendeu? Isso acho que mudou muito. P6 - Eu te falo uma coisa assim, por incrível que pareça, a cadeira não é o que me, me irrita mais. A infecção, a questão da urina, de ter que usar bolsa, isso é o que me irrita mais do que a própria cadeira. Quando uma pessoa que não é cadeirante fala assim: “ah, o cara tá ali sentado...”. Eu também achava isso, mas as complicações que vem de infecção, de ficar doente, são o que mais chateia do que o próprio ficar sentado. Coord - E pra você Valter, como é essa questão da saúde? P10 – Eu, até os 21 anos, entrei no hospital só pra trabalhar, né? Não tomava nem aspirina pra dor de cabeça, pra nada. Tinha uma saúde perfeita, né? Perfeita entre aspas, porque perfeita nunca é. Mas, depois que passei a ser cadeirante, que sofri este traumatismo, aí minha saúde eu tive que passar a controlar no dia a dia. Procurar uma vida melhor, o mais saudável possível. Tive de controlar a alimentação, tive de controlar tudo pra manter uma vida saudável e hoje tenho um pensamento comigo que estou me preparando pra uma velhice saudável, mesmo estando nesta cadeira de rodas, né? Principalmente, minha cabeça, estou trabalhando muito. Eu tive umas situações, tive uns problemas atrás aí depois de quase vinte e sete anos, eu achava que eu não ia mais passar por traumas tanto do jeito que eu passei, mas eu mesmo me auto controlei, que aprendi as técnicas que a gente aprende na

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faculdade por ai, né? Foi difícil, mas consegui. De um mês e pouco pra cá tô super tranqüilo. Tá voltando a vida ativa que eu tinha, novamente. É, são as fases da vida, né? São coisas que demorou pra acontecer comigo. Era pra ter acontecido no inicio do meu trauma, veio acontecer agora, tudo bem. Ninguém escapa disso, e hoje, estou me preparando pra uma velhice saudável, né? P10 - O controle que ele falou ai, constante, de doença. Você pode ver. Eu mesmo, vou direto no laboratório. Cada dois meses agora, um mês eu faço os exames controlando tudo e... coisa que a gente não fazia, a gente levava assim... Coord - Pensando na questão da saúde e, principalmente, como você falou, em relação à saúde mental, ao lado mais psicológico, vocês receberam algum apoio ou buscaram algum apoio pra estar lidando melhor com as limitações? P10 - Eu busquei uma vez, lá no H.C. O médico falou: “Valter, você some daqui senão você vai acabar ficando é louco”. Quer dizer, eu procurei porque eu achava que eu precisava de um apoio, né? Depois, eu procurei de novo, quando eu estava estudando. Estava na faculdade e como eu tinha meus clientes para atender também, na clínica, essas coisas, fui obrigado a ter o amparo do outro lado porque, senão, não ía aguentar, né? Curso de musicoterapia que eu fazia, né? Daí eu procurei. Depois eu procurei particular, fora também. Achava que tava tudo normal, tudo bem, tava controlado, mas nunca tá, né? Nem que seja (fala incompreensiva, baixa) se eu tivesse continuado, talvez quando surgiu os problemas que eu tive esses tempos atrás ai, talvez eu estaria mais preparado, né? Coord - Mais preparado? P10 - Mais preparado, né? Embora eu sabia que um dia vinha. Um dia ia vir, mas, do jeito que veio eu não estava preparado para receber. Coord - E aívocê buscou novamente ajuda? P10 - Não, ai... Coord - Foi sozinho ? P10 - Foi sozinho. Apliquei umas técnicas em mim mesmo. Foi super difícil, foi duro, chutei até a própria sombra, modo de falar, né? Abri a boca pelos quatro cantos da terra pra descarregar mesmo o que tinha que descarregar. Acabou, acabou. Ai, eu passei a fazer a separação, né? Entre água e óleo, né? No modo de falar, modo de falar não se misturam, né? Então, faço a separação de tudo passando pelo meio, tranqüilo, mantendo o equilíbrio, tanto na sociedade como na minha vida particular, familiar. Coord - O fato de você ter um certo conhecimento que você adquiriu no curso de musicoterapia te ajudou muito? P10 - Me ajudou e muito, viu? Falar a verdade me ajudou bastante. E o fato também que me ajudou muito quando eu sofri o acidente. Eu ainda dei o meu diagnóstico pro médico do acidente, pro médico da emergência. Eu era enfermeiro, trabalhava com enfermagem. Falei “foi coluna, não sei a altura, mas eu sei que não vou andar mais”. Fui dando o diagnóstico pro médico. E o meu pé? Ele falou: não sei pegou, me deu anestesia. Foi o que salvou minha vida, também, na época, né? Ensinei como me socorrer porque na época não tinha resgate, não tinha nada disso. Então, quer dizer, o conhecimento que a gente vai adquirindo que ajuda. Porque eu tô fazendo isso? Nada é por acaso, alguma coisa você vai usar. Coord - Uma questão que a gente colocou para o outro grupo e queria colocar pra vocês é assim: “Depois da natação, o que vocês acham que melhorou pra vocês?”.

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P10 - Vixe, muita coisa, viu? Principalmente, a... eu notei que eu tinha problema até para dormir, principalmente, se eu deitasse de costas, de bruços, eu perdia até a respiração, acordava. Melhorou bem isso ai. Fazer exercício respiratório dentro da água, puxar o ar, soltar. Até hoje eu ainda faço isso deitado. Hoje já deu uma boa... melhorou o físico, melhorou a mente, melhora tudo, né? Tanto que hoje estou fazendo com a Valéria e deu uma boa melhorada de novo, né? Agora precisa passar pra cá, pra criar coragem pra passar pra cá. (Obs: Valéria é a fisioterapeuta da Unaerp que o encaminhou para o programa de natação; passara para “cá” refere-se a piscina semi-olímpica da universidade) Patrícia - Pra gente voltar, né? P10 - Melhorou bastante, viu? Eu prefiro fazer a natação do que como eu fazia academia antes. Hoje em dia, achei que está bem melhor. Porque a natação eu só faço, quer dizer, na academia é só para os braços. Aqui pelo menos dentro da água eu mexo até as pernas. Então, quer dizer, tá mais completo. Coord - E você Márcio, o que você acha que melhorou pra você de uma forma geral. Não só o aspecto físico, de uma forma geral: o psicológico, o social, o físico, depois que você fez a natação aqui? P7 - Ah, sei lá. Só o fato de eu poder entrar na água quando eu quiser, em qualquer lugar, que nem eu fazia antes, para mim já é muito já. Nem quando eu andava, eu nunca nadei aquela metragem que eu te falei que eu nadei. E mais o pessoal que a gente conhece, né? Mais amigos que a gente junta. Sei lá. (Obs: o sujeito 7 fraturou a cervical em um mergulho em águas rasas) Coord - E pra você Júnior? P6 - Melhorou muito. Porque na época melhorou muito o meu sono, né? È isso que aconteceu. Porque assim, eu sou uma pessoa que tenho que estar sempre com algumas regras, assim, né? Senão extrapolo. Porque a minha vivência já é uma vivência de noite, né? De música, de agitar, então, era a noite inteira acordado e dormir... pouco. Isso me deu... senti uma diferença na saúde, saúde mental, né? Porque o sono melhorou, as “pilhas” que eu achava que tinha já deu uma amenizada. Fiz teste agora em Batatais e para mim ficou muito claro a diferença que faz na minha vida. (Obs: o teste a que o sujeito se referiu foi em relação a natação, para verificar se ele poderia participar dos jogos regionais) P6 - E também assim, só que... uma coisa que também foi muito importante para mim neste período da natação foi ter vindo na van, com o pessoal. Ter convivido com o pessoal. Porque é... o ser humano ele é criado pra ver a situação do seu umbigo, né? Então... aí você compartilhando, você vendo uma...até no dia a dia vendo a situação de outro você chega em casa fala: “meu problema não é tão grave, assim.” Uma coisa que... melhora porque quando você tá preso no seu mundo tudo é terrível, tudo é difícil, e tudo fica mais... maior, né? Quando você vê outra pessoa, tem gente, tem muitos casos aíque a pessoa nem saia de casa, pra mim foi muito importante. P10 - Uma coisa eu falo. Esse convívio que ele tá falando é muito bom. Porque o ser humano tá vivendo uma época virtual que não tem mais esse contato físico, essa conversa que nós estamos tendo aqui, não. E o ser humano não foi feito pra isso não. Foi feito para a convivência, qualquer humano, qualquer ser vivo. Então, o que ta faltando na humanidade hoje que ta tudo revoltada é esse carinho, esse relacionamento. Sentar numa calçada e bater papo como fazia antes. É importante a troca de experiência, troca de afeto. Coord - E vocês continuam tendo contato com as pessoas, com o grupo? P10 - Alguns não, alguns a gente não tem visto mais depois que parou a natação, porque... o P7 mesmo, hoje que eu fui ver ele. Fazia muito tempo, né? P7 - O maior problema nosso é o transporte.

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P10 - Às vezes a pessoa tem o transporte, mas não tem o tratamento. Às vezes tem o tratamento, mas não tem o transporte. Essa é a dificuldade de qualquer pessoa que tem uma enfermidade, uma patologia, não importa se cadeirante ou não. P6 - A questão do convívio, o Marcinho mesmo sabe disso porque ele vinha na van. A van, ela já tinha... já tinha um...já era um caso a parte da natação porque já tinha as brincadeiras até com o próprio motorista, com o pessoal, né? Já tinha as brincadeiras da van e tal. E era bem legal, mesmo. A van já era uma aula a parte, né? P7 - Quantas vezes eu ficava esperando para na hora que entrar perguntar qual é a palhaçada do dia? P6 - Porque na van já tinha as brincadeiras. Já tinha um outro que contava piada sempre. O próprio motorista já estava acostumado. Cada dia falava de um, de outro, tal. Então, acho que esse lado social, do convívio, isso... isso pesa muito, né? P7 - É verdade. P6 - Eu, às vezes,... dá aquele vazio porque não tenho nada para fazer. Não tenho nada pra fazer eu não fico em casa. Não fico em casa. Eu pego, porque eu consigo pegar o ônibus. Eu pego o ônibus e vou pro cinema, eu vou no trabalho dos meus amigos, fico por lá, almoço na cidade, vou até no calçadão lá, converso com as pessoas, amigos, sabe? Vou no trabalho de um, no trabalho de outro. Não fico em casa. O dia que eu fico é porque... aítá ruim mesmo. (Obs: sujeito 6 consegue ficar em pé para apoiar e, desta forma, mesmo o ônibus não sendo adaptado, consegue entrar) Coord - E os churrascos da turma? Toda essa falta de transporte, essa dificuldade não teve em nenhum churrasco? Vocês conseguiram se reencontrar depois do fim do grupo? (falas sobre o churrasco) P6 - Eu fui num aniversário sábado e aíeu encontrei até algumas pessoas que eu não encontrava que é o P3, entendeu? Foi legal, foi muito bom. P6 - É... tipo assim... é que... igual a gente, eu tava indo pra Batatais com o pessoal esses dias e a gente comeu jabuticaba, a gente parou pra comer abacaxi numa barraca lá. Esse convívio, essa troca, é muito importante. Pra mim é importante porque... assim, eu já conversei com a Patrícia sobre isso ai, às vezes, os meus problemas, eles tomam uma proporção pra mim que não existe, entendeu? Sou meio egoísta quanto a isso. Eu acho que sou o centro do mundo e, preciso... e... o que está acontecendo comigo? E aíquando eu tô convivendo, que nem quando tava no churrasco eu falei, falei mesmo pro... Roque, né? O cara veio lá de não sei onde, mora sozinho, não tem família, vende CD e olha a alegria dele. Eu tenho minha casa, tenho minha mãe, tenho um “brother” que fica enchendo o meu saco toda hora. (falas sobre a natação em Batatais - acabou o projeto, mas alguns alunos continuaram a fazer natação em Batatais para se prepararem para competir nos jogos regionais, enquanto a Unaerp não libera para o grupo voltar ao programa). Coord - E esta questão do transporte, Patricia? A gente vivenciou um momento de eleições. Vocês se interessaram em ver se algum candidato tinha uma proposta? Porque todo mundo fala de transporte. (falas sobre a questão do transporte e a possibilidade do grupo continuar a praticar natação) Coord - Procuram conversar, tentar se organizar enquanto grupo, ir e conversar. O que vocês pensam? P6 - Eu peguei... eu consegui, consegui?! O que eu fiz foi tentar falar com algumas pessoas assim, conversar. Tenho um amigo que o pai dele é marketeiro da Darci Vera. Ela ganhou, né? E ai, eu até

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encontrei ele um dia e falei porque é amigo, não é pessoa que eu vou ter que tentar falar, ter que mandar um recado. E aí eu falei pra ele; “eu preciso de algumas coisas.” E eu percebi uma coisa, não adianta eu chegar lá, eu P6 e um grupo e falar: a gente é cadeirante e nós precisamos tal, tal. Eu tenho que chegar, sabe o quê? Com um cara que é amigo pro cara fazer. Faz para o amigo. É igual, trabalho. Ele arruma pro amigo dele “oh, dá pra arrumar um trabalho? Põe um amigo meu ai”. Política é tudo desse jeito, ele põe o colega, o amigo. Eu tô articulando dessa forma, entendeu? P6 - E na forma também que tem um... um...Tem uma pessoa que foi na reunião com a gente, num churrasco lá, que eles tem a proposta de um patrocínio, ai. E ele falou, ele falou pra gente usar a mídia. Na hora que tiver a oportunidade desce a lenha. Quando tiver na mídia desce a lenha. Fala: “Óh, tô caindo na sarjeta, ai”, entendeu? Se conseguir, se articular só assim. Se a gente se organizar, for pra mídia. Aí, eles falam: Oh, aquele grupo. Pô, aqueles três estão se mexendo. Tem que ter essa consciência política, que vai ter que ser mexendo com eles, cutucando eles, né? Lutando, entrando com liminar, aí, a gente vai conseguir. A partir do momento que a gente ficar: “Ah, não isso não acontece, isso não acontece” vai continuar pagando o preço ai. P10 - Esse negócio que... quer dizer... eu não vejo com relação ao vale transporte, né? Até outro dia, eu estava lembrando. As três primeiras vans que vieram fui eu, o Eduardo e um outro cadeirante que é advogado que trouxemos para Ribeirão. Sem se meter em briga com ninguém como ele falou. Nem a mídia, nem nada. As rampas da Av. Saudade tudo ali fui eu que consegui, tudo na base da amizade, com político, como o Morandini. Essas coisas todas aí, conversando, que nem estamos conversando aqui, né? Com advogado, porque ele fazia as cópias lá... Quer dizer, é meio difícil estar conseguindo as coisas, porque eu já fui pra televisão e não consegui nada, também. P10 - É que nem eu falo, tem que articular, é partir então pro meio de comunicação e mostrar a necessidade. Falar “temos necessidade disso, daquilo e daquele outro”. P6 - Porque eu vejo, eu vejo uma coisa assim. Eu vejo que nem muitos com que eu conversei falou assim: “ah, mas não vira, ah, isso não vira”. Mas, a gente pensa assim: “porque quando... porque que quando você fala assim... “sem terra”. Se você falar pra opinião pública ou para o poder público “sem terra”, você já imagina os caras fazendo passeata, quebrando tudo e alguém sendo o líder, não é? Agora, se você fala assim... “cadeirante” é uma pessoa que fica quieta, escondida dentro de casa, que você quase não vê. Então, qual é a diferença? A diferença é que... é um pessoal que age... um pessoal que age, entendeu? Porque me falaram de um grupo que eles foram numa... um grupo de cadeirantes que eles foram numa, não... o pessoal, eles foram numa pizzaria e não tinha como subir. Ai, os caras, os garçons, todo mundo teve que pegar os caras e subir os caras pelas escadas. Construíram uma rampa no restaurante. Então, isso foi uma mobilização. Acho que... acho que aí que acontece. Agora se a gente ficar “ah, tá beleza”, os caras não estão nem ai... P10 - Aquela rampa que tem na Casa da Cultura. Lá onde eles fazem o curso. Lá foi por minha causa. Quer dizer, depois que eu fui lá, né? Fiz um curso lá de música. No dia da nossa formatura, o assessor do prefeito veio, me deu um abraço e falou: “Você é um privilegiado”, e eu falei: “porque?”, “todo mundo em pé e você é o único que tá sentado”. Vem comigo. Vinte e três degraus subindo carregado no colo durante o curso todo e eu sou o maior privilegiado aqui. Só falei isso e voltei pra festa. Fui um mês depois lá e tinha uma rampa lá. Quer dizer, se você não aparece também ninguém vai saber das necessidades. Se não mostrar os privilégios, na hora dos prós e contra. Eu sou assim... sou daqueles que esperam a oportunidade, né? Não fico batendo de frente, não. Coord - Todo esse ativismo, essa mobilização tem a ver com qualidade de vida, né? P10 - É tudo qualidade de vida, né? Por isso que eu procuro conseguir as coisas com sorriso porque nem sempre a gente vai conseguir com a cara feia, né? Coord - E pra você que chegou agora, P8, o que significa qualidade de vida?

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P8 - Ah, qualidade de vida acho que já fala, né? Acho que uma vida com qualidade. Uma vida com qualidade tem de ser saudável, né? Um ambiente saudável. Então eu vejo assim, você ser uma pessoa saudável. Coord - O que é ser saudável? P8 - Saudável no meu conceito, a meu ver, é... a pessoa ter uma boa alimentação, ter preparo físico, você entendeu? Não exorbitante igual o pessoal que faz academia, mas uma atividade, você entendeu? Não que... deixaria o lado do sedentarismo, né? E... então, ter uma alimentação, manter...cuidar do corpo, é... ter horário para o sono, fora isso ter uma vida social ao mesmo tempo, também, com divertimento. Englobando tudo isso eu creio que dá para chegar numa qualidade de vida, você entendeu? Já aqui em Ribeirão a qualidade de vida é mais complicada por causa da qualidade do ar, né? Em SP quando chove a qualidade de vida é melhor, o ar fica melhor, né? Só que tem a poluição, né? Quer dizer não dá pra gente ficar querendo tudo. Tem que ter um equilíbrio, né? E junto com a natureza também eu acho. Nada assim distante da natureza porque é... nos grandes centros urbanos é difícil, você vê que assim.... tem que ter um preparo muito legal, até psicologicamente para ter qualidade de vida na cidade grande. Porque é muito estressante. Basicamente é isso. Coord - O que você acha que mudou após o trabalho com a Patrícia? P8 - Ah, o trabalho com a Patrícia. O trabalho da Patrícia assim a meu modo de ver, até pra muitos foi pra perder o medo da água, mesmo. Já eu não tinha esse medo, você entendeu? Eu não tinha esse medo, não é pra mim isso ai. Mas muitos aqui do pessoal que eu acompanho, que são grupo meu, porque sou para atleta, né, e acompanho todos as atividades tanto de natação quanto do basquete que... eu sou um cara que tem 1 ano e 3 meses de lesão então eu sou da turma mais recente. Então, quer dizer eu tive que.... eu falo perder o medo porque muita gente tinha medo da água, não era o meu caso. Só que como eu.... para quem faz mais ou menos o raciocínio porque eu não era lesado, eu passei a ser um lesado, eu não nasci lesado, então tem essa diferença. E a pessoa sente, a pessoa tem que se adaptar a sua vidinha. (sujeito 8 logo após o término da natação, iniciou no basquete de cadeira de rodas) P8 - Sou lesado. Quem sabe que eu sou lesado é minha família. Porque é o que eu tava conversando... (assuntos pessoais que fogem do tema, fala dos amigos que fez antes do acidente) ... então eu tô nessa atividade agora, porque... o que que mudou na minha vida? Eu sai do meu sedentarismo, de cima da minha moto... cai de um telhado e pulei numa piscina olímpica. Eu quando... saindo de casa agora eu pensei nisso: “o ser humano sempre encontra barreiras, né?” Então, hoje eu acho que eu tô entendendo um pouco melhor, porque eu tive esta lesão. Pra mim... saber... ultrapassar meus obstáculos na minha vida assim, como as barreiras. Porque, o ser humano é ótimo para (falou baixo, ficou incompreensível a fala) o melhor animal para reclamar, entendeu? O ser humano é bom para reclamar. Agora se a gente for reclamar da vida, né? È muito complicado, você entendeu? (Obs: sujeito 8 ficou paraplégico em uma queda do telhado) (Fala dos relacionamentos familiares e assuntos não pertinentes ao tema) Coord - E o contato com o grupo durante o trabalho com a Patrícia, como você avalia? P8 - Ah, durante... o contato com o grupo era legal, porque era muito divertido, né! É tipo... que nem a professora comentou eu sou um dos mais comunicativo e tem um outro rapaz que chama Cesinha também. Então eu e ele... nós fazia a festa. (Fala de assuntos diversos fora do contexto, da sua estadia no Sara) Coord - A coisa mais importante na sua vida hoje...

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P8 - É o esporte, eu vou investir nisso. (fala de problemas familiares) Coord - O fato de você ser um lesado hoje, você acha que te levou a uma maturidade maior, a ver a vida de um outro jeito? P8 - Ah, é diferente... é diferente. Não sei te explicar... mas é uma mudança drástica. Até então, eu não investia no esporte, né? Era muita badalação, muita bebida, isso, aquilo. Até o dia que eu sofri um acidente de carro... me machuquei feio, tal, isso e aquilo... Hoje em dia, eu vou... eu bebo socialmente. Mas, hoje em dia, o meu propósito é o esporte mesmo. P8 - Aí, começou a natação e eu tô até hoje. E ai, ontem nós fizemos um... o professor nosso pediu lá “escreve o que você é, como você é e tal, tal tal...”. Aí, outro colega lá que acho que... não escreve muito certo assim, eu falei: “eu escrevo pra você se você quiser.” Aí, ele falou assim... “Comecei na natação e não pretendo parar.” Aprendeu a nadar aqui com a gente, no grupo aí.

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