A Crase não foi feita para humilhar ninguém

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“A Crase não foi feita para humilhar ninguém” Ferreira Gullar Crase: A palavra crase provém do grego (krâsis) e significa mistura. Na língua portuguesa, crase é a fusão de duas vogais idênticas, mas essa denominação visa a especificar principalmente a contração ou fusão da preposição a com os artigos definidos femininos ( a, as) ou com os pronomes demonstrativos a, as, aquele, aquela, aquilo, aquiloutro, aqueloutro. Preposição : é a palavra invariável que liga duas outras palavras estabelecendo relações de sentido e de dependência. (Fui a Roma) Artigo : é o que antecede o substantivo e o determina (A menina que fugiu de casa é minha vizinha) 1) Casos em que se exclui a possibilidade de crase: a) antes de palavra masculina b) antes de verbos c) antes dos pronomes demonstrativos essa(s) e esta(s) d) antes de palavras de sentido indefinido (uma, nenhuma, certa, toda, alguma, etc) e) em expressões com palavras repetidas (gota a gota, cara a cara, etc) f) antes de numerais em que a preposição a signifique até (De 20 a 30 de maio, de segunda a sexta-feira, Da 5ª a 8ª série, etc) g) antes de pronomes pessoais e de tratamento (exceto senhora e senhorita) h) antes de pronomes interrogativos (Recorrer a quem?) 2) Como identificar a presença de crase: 2.1 Substituir a palavra feminina por outra masculina. Se surgir “ao”, haverá crase (Ele se referiu à carta = Ele

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“A Crase não foi feita para humilhar ninguém” Ferreira Gullar

Crase: A palavra crase provém do grego (krâsis) e significa mistura. Na língua portuguesa, crase é a fusão de duas vogais idênticas, mas essa denominação visa a especificar principalmente a contração ou fusão da preposição a com os artigos definidos femininos ( a, as) ou com os pronomes demonstrativos a, as, aquele, aquela, aquilo, aquiloutro, aqueloutro.

Preposição: é a palavra invariável que liga duas outras palavras estabelecendo relações de sentido e de dependência. (Fui a Roma)

Artigo: é o que antecede o substantivo e o determina (A menina que fugiu de casa é minha vizinha)

1) Casos em que se exclui a possibilidade de crase:

a) antes de palavra masculinab) antes de verbosc) antes dos pronomes demonstrativos essa(s) e esta(s)d) antes de palavras de sentido indefinido (uma, nenhuma, certa, toda, alguma, etc)e) em expressões com palavras repetidas (gota a gota, cara a cara, etc)f) antes de numerais em que a preposição a signifique até (De 20 a 30 de maio, de

segunda a sexta-feira, Da 5ª a 8ª série, etc)g) antes de pronomes pessoais e de tratamento (exceto senhora e senhorita)h) antes de pronomes interrogativos (Recorrer a quem?)

2) Como identificar a presença de crase:

2.1 Substituir a palavra feminina por outra masculina. Se surgir “ao”, haverá crase (Ele se referiu à carta = Ele referiu ao documento / A secretária escreveu a carta = o documento.)

2.2 Se a preposição a vier de um verbo que indica destino (ir, vir, voltar, chegar, cair, comparecer, dirigir-se...), troque este verbo por outro que indique procedência (vir, voltar, chegar...); se, diante do que indicar procedência, surgir da, diante do que indicar destino, ocorrerá crase; caso contrário, não ocorrerá crase. (Vou a Porto Alegre. Sem crase, pois Venho de Porto Alegre. /Vou à Bahia. Com crase, pois Venho da Bahia).

2.3 Quando houver um pronome demonstrativo (aquele, aquela, aquilo), troque pelo demonstrativo este, esta ou isto. Se antes deles houver a preposição a, haverá crase ( Dirijo-me àquele andar do prédio. = a este / Comprei aquele apartamento do prédio = este)

2.4 Diante do pronome relativo que ou da preposição de, quando for fusão da preposição a com o pronome demonstrativo a, as, ocorre crase. Estes pronomes são sinônimos de aquela, aquelas. Por exemplo:"Essa roupa é igual à que comprei ontem" (é igual àquela que comprei);"Sua voz é idêntica à de um primo meu" (é idêntica àquela de meu primo).

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2.5 Diante dos pronomes relativos a qual, as quais, quando o verbo da oração subordinada adjetiva exigir a preposição a, ocorre crase. Por exemplo:"A cena à qual assisti foi chocante" (quem assiste, assiste a algo).

2.6. Emprega-se a crase antes de numerais que indicam horas (Saiu à uma hora/ O jogo começa às duas horas) Atenção: se houver a palavra desde (que é preposição ) não há crase (Ele está aqui desde as duas horas)

2.7 Diante das palavras moda e maneira, das expressões adverbiais à moda de e à maneira de, mesmo que as palavras moda e maneira fiquem subentendidas, ocorre crase. (Fizemos um churrasco à gaúcha./Comemos bife à milanesa, frango à passarinho e espaguete à bolonhesa./ Joãozinho usa cabelos à Príncipe Valente)

2.8 Nos adjuntos adverbiais de modo, de lugar e de tempo femininos, ocorre crase. (à tarde, à noite, às pressas, às escondidas, às escuras, às tontas, à direita, à esquerda, à vontade, à revelia,etc)

2.9 Nas locuções prepositivas e conjuntivas femininas ocorre crase. ( à maneira de, à moda de, às custas de, à procura de, à espera de, à medida que, à proporção que, etc)

2.10 Há discordância entre os gramáticos sobre o uso da crase antes de adjuntos adverbiais de instrumento (Ferir a faca ou Ferir à faca/ Brinquedo a pilha ou Brinquedo à pilha/Feito a mão ou Feito à mão)

3) Casos facultativos

3.1 Antes de pronomes possessivos (Dirigiu-se a nossa irmã ou Dirigiu-se à nossa irmã)

3.2 Antes de nomes próprios de pessoas (Deu o vestido à Maria ou Deu o vestido a Maria)

3.3 Depois da preposição até ( Irei até à cidade ou Irei até a cidade)

4) Casos especiais

4.1 Palavra casa – sem qualificativo, no sentido de lar: sem crase (Voltarei cedo a casa). Com qualificativo, com crase: Voltarei cedo à casa de meu pai

4.2 Palavra terra – no sentido que se opõe a “estar a bordo”: sem crase ( O navio regressou a terra). No sentido de chão, lugar: com crase. (Jonas voltou à terra onde nasceu)

4.3 Palavra distância – quando indeterminada: sem crase (Leonardo não enxerga a distância). Quando determinada, com crase (Leonardo não enxerga à distância de três metros)