A CRIANÇA, A ARGILA E A ARTETERAPIA DO PATROCINIO BASTOS.pdf · 2009-08-05 · Monografia...

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA EM EDUCAÇÃO E SAÚDE A CRIANÇA, A ARGILA E A ARTETERAPIA. JANAINA DO PATROCINIO BASTOS Rio de Janeiro, setembro de 2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA EM

EDUCAÇÃO E SAÚDE

A CRIANÇA, A ARGILA E A ARTETERAPIA.

JANAINA DO PATROCINIO BASTOS

Rio de Janeiro, setembro de 2002

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA EM

EDUCAÇÃO E SAÚDE

A CRIANÇA, A ARGILA E A ARTETERAPIA.

JANAINA DO PATROCINIO BASTOS

Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes como requisito

parcial do curso de Pós - Graduação em Arteterapia em Educação e Saúde,

sob orientação da professora Esther de Araújo Oliveira.

Rio de Janeiro, setembro de 2002

“O espírito faz a mão, a mão faz o espírito. O gesto que não cria, o gesto sem amanhã provoca e define o estado de consciência. O gesto que cria exerce uma ação contínua sobre a vida interior. A mão arranca o tato de sua passividade receptiva, ela o organiza para a experiência e para a ação. Ela ensina o homem a se apropriar da extensão, do peso, da densidade, do corpo. Criando um universo original, deixa em todo ele a sua marca. Mede forças com a matéria, que transforma e com a forma, que transfigura. Educadora do Homem, ela o multiplica no espaço e no tempo”. Focillon, H. (1983, pag. 11)

“A escultura é a necessidade de tocar. Antes mesmo de aprender a olhar, a criança já brande suas mãozinhas vivazes. A alegria quase maternal de possuir a terra plástica entre suas mãos, a arte de modelar, de possuir, agora duráveis entre seus dez dedos, essas formas arredondadas, essas belas maquinas vivas que vê se mover ao redor é esse o desejo que aparece primeiro, satisfeito pelos brinquedos e bonecas”. Camille Claudel.

“Tanto na arte como na terapia manifesta-se a capacidade humana de perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os outros e com o mundo... estabelecendo novas relações entre os elementos, misturando o velho com o novo, o conhecido com o sonhado, o temido com o vislumbrado, trazendo assim novas interações, possibilidades e crescimento”. Ciornai, S. (1988, pag. 31).

SUMÁRIO RESUMO

INTRODUÇÃO _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 05

CAPÍTULO 1 - A ARTE _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 07

1.1 - A História da Arte _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 08

1.2 - A Arte na Atualidade _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 15

CAPÍTULO 2 - A ARTETERAPIA _ _ _ _ ___ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 18

2.1 - A Argila na Arteterapia _ _ _ _ _ _ _ ___ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ 19 2.1.1 - A Argila como Material Expressivo na Arteterapia com Crianças. _ _ 22

2.1.2 - A Utilização da Argila na Arteterapia em Crianças com Transtornos de

Desenvolvimento Global _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ ___ ____ _ _ _ _ __ _ 25

CONCLUSÃO _ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ __ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 27

BIBLIOGRAFIA _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 29

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo evidenciar a utilização da Argila como material facilitador da expressão e das sensações na Arteterapia com crianças. Esta pesquisa apresenta como principais autores: Sara Pain, Carl Jung, Segal, Nise da Silveira, Herbert Read e Graça Proença. Faz uma retrospectiva da Arte e sua História (desde a Idade da Pedra Lascada, isto é, Período Neolítico, até a Atualidade), evidenciando características das Artes em cada fase. Focando a Arteterapia, a mesma promove o auto - conhecimento, estimula o processo criativo, resgata a auto - estima e amplia as percepções que a pessoa tem do mundo . Decorrente da utilização de modalidades expressivas diversas, que servem à materialização de símbolos, as criações simbólicas expressam e representam níveis profundos e inconscientes da psique, propiciando insights e posterior transformação e expansão da estrutura psíquica. Os símbolos, sendo formas de energia psíquica que se manifestam através de imagens, ou seja, imagens simbólicas, ordenam e dão significado as nossas vidas. A Argila, sendo uma técnica expressiva, trabalha a energia que está contida no símbolo, agindo como mediadora ideal dos conteúdos inconscientes . Ao aprimorar o lado artístico, a criança se torna mais perspicaz e sociável, qualidades importantes no futuro.

INTRODUÇÃO

Este trabalho é baseado na tríade: Criança, Argila e Arteterapia. Esta

pesquisa tem como objetivo evidenciar através da literatura e de observação em

um grupo de crianças, a utilização da argila como meio facilitador de expressões e

das sensações na Arteterapia.

Este estudo é relevante visto que a argila é o material plástico que mais

pode facilitar a expressão de afetos, pois está relacionada aos quatro elementos:

água, fogo, terra e ar. O contato contínuo e saudável da criança com a argila

promove os desenvolvimentos motor, emocional e cognitivo. É o momento em que

se trabalha com as emoções, reflete sobre as estratégias utilizadas na criação,

organiza conceitos de tamanho, largura, forma, ângulos e texturas; decide o que,

como e para que vai produzir, objetivando a produção.

Materiais como argila ou outra massa qualquer, por suas características

tridimensionais, estimulam na criança uma maneira de pensar distinta daquelas

requeridas pelas atividades gráficas ou pictóricas. A massa para modelar é muito

adequada às crianças pré - escolares, principalmente na fase pré-esquemática,

em que elas estão buscando um conceito de forma. Um dos aspectos mais

importantes desta fase de desenvolvimento da criança é a sua flexibilidade,

constatada na mudança freqüente de seus conceitos de representar, e a argila

possibilita-lhe variações constantes durante a sua manipulação.

A argila age como transformadora, de um estado de desencontro para um

estado de equilíbrio, podendo trazer à tona conflitos internos indesejáveis. Por ser

moldável, integra o ser com o mundo exterior, mostrando que ele pode adaptar-se

às situações; sendo fluida, recebe projeções é dominada, favorecendo ao

manipulador, a libertação das tensões, fadigas, e depressões, pois é um material

vivo e de ação calmante. No físico, trabalha questões ligadas a estruturação e

coordenação motora. No emocional mobiliza sentimentos e emoções primitivas,

para que possam ser conhecidas e trabalhadas.

Desde a mais tenra idade, a criança gosta de manipular, apertar, furar,

cortar, bater, ações praticadas com grande prazer e satisfação durante a atividade

de modelar.

Utilizando técnicas expressivas, ou seja, a expressão artística, a Arteterapia

trabalha com o simbólico, ou seja, com as imagens simbólicas, que ordenam e

dão significado às nossas vidas.

A importância do exercício da expressão artística não está apenas no

desenvolvimento da criatividade que ela promove, ou no aprimoramento das

formas de percepção por parte das pessoas: a Arte é relevante enquanto objeto

de conhecimento que amplia a compreensão do homem a respeito de si mesmo e

de sua condição de ser coletivo, agente cultural, no mundo.

No que tange ao trabalho com artes é importante lembrar que o corpo é o

ponto de partida desde o qual cada pessoa percebe e sistematiza informações

sobre o mundo. É a partir da vivência e das consciências construídas pelo corpo

que as pessoas se relacionam consigo e com o mundo, e constróem suas formas

de expressão, ou de não-expressão; sendo necessário fazer este elo entre o

motor e o psíquico, dando ênfase à expressão. A arte é um instantâneo do sentir.

CAPÍTULO 1 - A ARTE

“A Arte é uma mentira que nos permite conhecer a verdade”. Picasso.

“ Muitos Homens sábios trataram de responder a pergunta: O que é a Arte? Mas nunca satisfizeram a todo mundo. A Arte é uma dessas coisas que, como a terra, o ar, está ao redor de nós, em toda a parte, mas que raramente nos detemos a considerar. A Arte não é simplesmente o que encontramos nos museus e galerias, ou em cidades como Florença e Roma. Como quer que a definamos, a Arte está em tudo o que fazemos para agradar nossos sentidos”. READ, Herbert (2001, pag. 21).

A Arte encontra-se entre aquelas atividades humanas que restituem a

ligação saudavelmente construtiva entre o individual e o social. Atua como

mediadora do diálogo entre o ser humano e a sua realidade, propicia a aquisição

de conceitos significativos, forma pensamentos, aumenta a percepção e

proporciona os envolvimentos afetivo, social e emocional.

A Arte de cada cultura revela o modo de perceber, sentir e articular

significados e valores que governam os diferentes tipos de relações entre os

indivíduos na sociedade. A Arte solicita a visão, a escuta e os demais sentidos

como portas de entrada para uma compreensão mais significativa das questões

sociais.

A Arte tem como objetivo maior transformar o ser em um indivíduo voltado

para o humanismo, exercitando suas potencialidades motoras, mentais, sociais e

espirituais. Através da Arte, a criança mantém suas tradições e sua cultura.

Para a criança, a Arte é principalmente um meio de expressão. A criança é

extremamente dinâmica: à medida que se desenvolve e modifica sua forma de

encarar o mundo, sua expressão também se modifica.

A Arte desempenha um papel extremamente vital na educação das

crianças. Quando a criança desenha, faz uma escultura ou dramatiza uma

situação, transmite com isso uma parte de si mesma: nos mostra como sente,

como pensa e como vê.

O Ser Humano que não conhece Arte tem uma experiência de

aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força comunicativa

dos objetos à sua volta, da sonoridade instigante da poesia, das criações

musicais, das cores e formas, dos gestos e luzes que buscam o sentido da vida.

1.1. A HISTÓRIA DA ARTE

“A Arte surgiu há 40 mil anos, no Paleolítico, numa revolução que

criou a Humanidade”.(Proença, 2002).

A arte surgiu no meio de comportamentos do Homem Pré - Histórico, como

as técnicas de produção de artefatos, o uso de novas matérias-primas,

nascimento de famílias, tipos de moradia e sepultamentos rituais.

Os Homens do Paleolítico eram nômades, alimentavam - se basicamente

de frutos, raízes, ervas, peixes e pequenos animais capturados com a ajuda de

armadilhas muito rudimentares. Mas com o aperfeiçoamento dos instrumentos,

passaram a caçar animais maiores. O machado foi um dos primeiros e mais

utilizados instrumentos de caça. Com o tempo passou a ser usado para tudo, até

para cavar buracos.

O artista Paleolítico era bastante naturalista e pintava na maioria das vezes

animais tal qual como ele mesmo os via, reproduzindo assim a natureza à sua

volta e as perspectivas pelo qual tomava o animal naquele determinado momento.

Segundo historiadores esse tipo de obra de arte pode ter sido realizada por

caçadores, pois eles acreditavam que poderiam matar os animais desde que

tivessem a imagem do animal ferido fortemente num desenho.

O artista Paleolítico meio que premeditava, buscava traçar o que faria

posteriormente com um animal.

Suas pinturas eram feitas em rochedo e paredes de cavernas, por isso

receberam o nome de pinturas rupestres.

Além de pinturas os artistas do Paleolítico também esculpiam. Grande parte

das esculturas encontradas até hoje mostra que o artista do Paleolítico preferia

moldar figuras femininas bem “avantajadas”.

Idade da Pedra Polida (Neolítico).

“O artista Neolítico era mais representativo, simplificador e

geometrizante, sua arte sugere os seres de forma mais geométrica, além

disso, sua arte também possuía temas voltados à coletividade, devido ao

tipo de vida que era vivida nas aldeias da época”.( Segal, 1991).

O Homem na Idade da Pedra Polida já não vivia só de caça, da pesca e da coleta. Passou

a semear as terras mais férteis e a aguardar a época das colheitas. Foi no Neolítico, portanto, que

surgiu a agricultura e o Homem passou a morar permanentemente num lugar, ou seja, tornou-se

sedentário, construindo assim as primeiras moradias e vilarejos.

A agricultura juntou-se a criação de gado. Domesticaram-se os primeiros

animais, como a cabra e o porco.

Como as colheitas agrícolas precisavam ser armazenadas, o Homem

passou a modelar vasilhas de argila, que depois eram cozidas no fogo para

adquirir resistência.

Já há 25.000 anos os caçadores faziam pequenas figuras de barro dos

animais que caçavam. Mas o Homem, que então se dedicava à caça e à coleta de

alimentos, não podia transportar consigo vasos pesados e quebráveis. Os

primeiros vasos de cerâmica só começaram a ser fabricado em 7.000 a.C.,

quando surgiu a vida sedentária. A cerâmica está relacionada com o crescimento

de comunidades fixas, agrupadas em aldeias.

As aldeias compunham-se de cabanas, rodeadas por uma cerca protetora,

ou de construções feitas sobre estacas erguidas nas margens de um rio ou de um

lago (palafitas).

Idade dos Metais.

Na Idade dos Metais o Homem aperfeiçoou os seus conhecimentos.

Começou a produzir instrumentos de cobre, substituindo os antigos instrumentos

de pedra, chifre e marfim.

Produziu ainda várias figuras decorativas que tinham como matéria-prima o

bronze.

EGITO

A civilização Egípcia foi uma das principais civilizações da antigüidade. Era

uma civilização já bastante complexa em sua organização social e riquíssima em

suas realizações culturais. Além de crer em deuses, os Egípcios acreditavam

também que depois da morte havia outra vida.

Extremamente influenciados, os Egípcios tiveram a vida, o universo, a

organização social e política e a Arte voltados à religião e aos preparativos para o

“além da vida”.

A Arte Egípcia esteve focada na glorificação dos deuses e do “rei” faraó que

era divinizado, para o qual se erguiam templos e pirâmides monstruosas.

“O povo Egípcio era culto, trabalhador e conhecedor das ciências

exatas, da medicina, do artesanato, do cultivo da terra, e outras” . ( Segal,

1991)

Caracteriza-se a Arte Egípcia através dos seguintes aspectos:

- Lei da Frontalidade - A representação das figuras Humanas seguem normas: a

cabeça é mostrada de perfil, os olhos de frente, as pernas de perfil e o tronco de

frente.

- O tamanho das pessoas representadas variam de acordo com sua posição

social.

Ex: O faraó é representado bem maior que sua esposa, vindo, em seguida o

sacerdote, o escriba, os soldados e o povo.

- As decorações são feitas com hieróglifos, pinturas e relevos.

- As figuras representadas são rígidas, em absoluto repouso.

- A pintura é harmoniosa, assim como a escultura, e a arquitetura. As figuras

masculinas são pintadas em vermelho e as femininas em ocre.

- São utilizadas formas piramidais e simétricas.

- Na arquitetura destacam-se as construções dos grandes templos e tumbas.

Escultura

Os escultores Egípcios representavam os faraós e os deuses em posição

serena, muitas vezes de frente, sem demonstrar nenhuma emoção. Pretendiam

com isso traduzir, na pedra, uma ilusão de imortalidade. Com esse objetivo ainda,

exageravam freqüentemente as proporções do corpo Humano, dando às figuras

representadas uma impressão de força e de majestade.

GRÉCIA

Já “a Arte Grega é voltada para a inteligência, pois seus reis

dedicavam-se ao bem-estar do povo”.( Proença, 2002)

Sempre em busca da perfeição, o artista grego desenvolve uma Arte

intelectual que é predominada pelo equilíbrio, o ritmo e a harmonia. O artista

Grego é racionalista, tem amor pela beleza, exalta o Homem (valorizam

especialmente as ações, na certeza de que o Homem era a criatura mais

importante do universo) e a democracia.

As façanhas dos deuses e heróis, em honra dos quais foram erguidos

templos em todo o mundo Grego, constituíram os temas de quase todas as obras

dos artistas Gregos.

A História da Grécia bem como a sua Arte passaram pelos seguintes

períodos:

- Pré-Helenístico - É a fase da Aprendizagem, de estruturação da Arte.

Desenvolveram-se em Creta, Micenas e Chipre.

- Arcaico - É a fase de definição da Arte.

- Clássico - É a fase de perfeição, em todos os sentidos, da cultura e da Arte.

- Helenístico - É a fase de expansão da Arte para o Egito, Ásia Menor, Síria e

Roma.

Pintura

A pintura Grega destaca-se como Arte decorativa da cerâmica,

representando cenas mitológicas e costumes Gregos. Os vasos Gregos são

também conhecidos não só pelo equilíbrio de sua forma, mas também pela

harmonia entre o desenho, as cores e o espaço utilizado para a ornamentação.

Para servir bem à função, eram utilizados para armazenar mantimentos e para a

realização de rituais religiosos.

Escultura

“ O Antropomorfismo - esculturas de formas Humanas - dominou o

movimento estatutário Grego. Além do equilíbrio e perfeição das formas, as

estátuas adquiriam movimento”. (Segal, 1991)

Na escultura, os Gregos inspiraram-se nos temas rurais, nos sentimentos Humanos, em

cenas desportivas e demais aspectos da vida diária. Os escultores que mais se destacaram foram

Fídias e Miron.

ROMA

“O aparecimento da cidade de Roma está envolto de lendas e mitos. A

formação cultural do povo Romano deveu-se principalmente aos Gregos e

Etruscos”.( Read,2001)

A Arte Romana sofreu fortes influências; a Arte etrusca popular voltada para

a expressão da realidade; e a Arte Grego-Hilenística, orientada para a expressão

de um ideal de beleza.

A Arte Romana fala à alma por meio dos olhos e não pelo intelecto.

Pintura

O mosaico foi muitíssimo utilizado pelos Romanos na decoração dos muros

e pisos em geral.

Escultura

Ao contrário dos Gregos, os Romanos eram mais realistas e práticos do

que idealizadores de beleza Humana - como faziam os Gregos - em suas

esculturas.

Esculpiam com mais êxito os imperadores e os principais Homens da

sociedade nos retratos.

A ARTE CRISTÃ

“Compreende a Arte da Catacumba (galeria subterrânea onde enterravam os mortos). Inicialmente essas pinturas limitavam-se a representações dos símbolos cristãos: pão, peixe, cruz, o bom pastor. Mais tarde o simbolismo tende a desaparecer, dando lugar à representação menos misteriosa; aumentando a retrato, cenas da vida real e assuntos tirados da Bíblia. A Arte Cristã primitiva era executada por Homens do povo (artesãos). Primeiramente tosca e simples nas catacumbas e depois mais rica e amadurecida nas primeiras basílicas. Os templos mantiveram as características da construção Romana”.( Proença,2002)

Quanto à escultura, raríssimas são as estátuas e o baixo relevo Cristão

encontradas em alguns sarcófagos, eram feitas de mármore.

O elemento da Arte Cristã foi o mosaico, feitos nas paredes das basílicas e

templos.

A ARTE BIZANTINA

“A Arte Bizantina teve seu centro de difusão em Bizâncio, mais exatamente na cidade de Constantinopla, e se desenvolveu a partir do século IV como produto da confluência das culturas da Ásia Menor e da Síria, com elementos alexandrinos. O apogeu cultural de Bizâncio teve lugar sob o reinado de Justiniano (526-565 d.C.). Pertence a essa época um dos edifícios mais representativos da arquitetura bizantina: a Igreja de Santa Sofia”.(Proença, 2002)

Este movimento Artístico tinha um objetivo: expressar a autoridade absoluta

do imperador, considerado representante de Deus e com poderes temporais e

espirituais.

A ARTE ROMÂNTICA

“A Arte Romântica é representada pelas basílicas de pedras, com torres redondas e repletas de arcadas. Estendeu-se do século XI à primeira metade do século XII. Seu cenário foi quase toda a Europa, exceto a França que produzia a Arte Gótica. O nome do estilo “Romântico” foi criado, portanto, para designar as realizações arquitetônicas do período, cuja estrutura era semelhante à das construções dos antigos Romanos”.( Proença, 2002).

A ARTE GÓTICA

“A designação do Gótico surgiu no fim da renascença Italiana. Gótico quer dizer “bárbaro”. O estilo Gótico foi na realidade um aprofundamento dos elementos básicos da Arte Romântica, principalmente no que diz respeito à verticalidade. O clima religioso daquela época favoreceu a construção de edifícios bem mais altos, que refletiam o desejo de uma ascensão espiritual”. (Proença, 2002).

A Arte Gótica é a última manifestação da civilização medieval que conseguiu o mais

perfeito equilíbrio de expressão. Originou-se na França e se espalhou por várias regiões. A

primeira manifestação ocorreu no norte de Paris na Ile-de-France pelos anos de 1125 com a

reconstrução da abadia de Saint-Denis feita pelo construtor Abade Suger.

O RENASCIMENTO

“Esse movimento que floresceu na Itália difundiu-se por quase toda a

Europa. Um dos fatores que contribuíram para a difusão foi à invenção da

imprensa pelo Alemão Johann Guttenberg”.(Proença, 2002)

O termo Renascimento desenvolveu-se em 1300 e 1650. Ocorreram nesse

período muitos progressos e incontáveis realizações no campo das Artes,

literatura e das ciências, que superaram a herança clássica. Renascença sugere a

idéia de oposição com a época precedente; mas, na verdade, marca a volta às

fontes do saber antigo, da Arte antiga e o reinicio dos estudos abandonados no

milênio que medeia entre a queda do Império Ocidental do século XV.

O ideal do Humanismo foi sem dúvida o móvel desse progresso e tornou-se

o próprio espírito do Renascimento. O princípio essencial foi o racionalismo.

Voltada ao conhecimento da natureza, a Arte torna-se pesquisa racional das

aparências do mundo externo; mas a conquista do Universo visível encontra um

obstáculo na pesquisa especulativa das leis abstratas da beleza.

Trabalhando ora o espaço, na arquitetura; ora as linhas, na pintura; ou

ainda os volumes na escultura; os artistas Renascentistas sempre expressaram os

maiores valores da época: racionalidade e a dignidade do Ser Humano.

1.2. A ARTE NA ATUALIDADE

"A Arte hoje se constitui por meio de uma rede de elementos interdependentes

conectada inclusive com o "tempo- real" das coisas do mundo". Martins Grosmman Vice-

Diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC - São Paulo).

O contexto da arte na atualidade se apresenta como um sistema complexo,

dinâmico, multi-facetado e multicultural permitindo, portanto, infinita combinação,

apresentando-se de forma plural, com muitas possibilidades de ação, mediação,

interpretação e de fruição.

Quando se fala em Arte Contemporânea não é para designar tudo o que é

produzido no momento, e sim aquilo que no propõe um pensamento sobre a

própria arte ou uma análise crítica. Como dispositivo de pensamento, a arte

interroga e atribui novos significados ao se apropriar de imagens, não só as que

fazem parte da história da arte, mas também as que habitam o cotidiano. O belo

contemporâneo não busca mais o novo, nem o espanto, como as vanguardas da

primeira metade do século XX: propõe o estranhamento ou o questionamento da

linguagem e sua leitura.

A modernidade, nas artes, caracterizou-se pela crítica aos padrões e

valores tradicionais, daí tirou sua força e sua inovação, defendeu a autonomia e a

liberdade do artista ante aos domínios e valores de sua própria época. Estas

foram características que a tornaram profundamente diferentes das produções

artísticas anteriores e, ao mesmo tempo, a determinaram social e historicamente.

Assim, a compreensão das obras de arte deste período, assim como dos períodos

anteriores ou de outras sociedades e culturas, precisam necessariamente

considerar os valores e as contradições dos mundos social e subjetivo em que

foram produzidas, possibilitando através destes muitos “filtros”, que estas obras,

em seus múltiplos significados, transcendam seu próprio contexto, nos falem de

uma “atualidade”, nos comuniquem sua “humanidade”. Do contrário, em nome de

uma estética pura e universal e dos valores de um mundo que construiu formas

profundamente elaboradas de controle individual e de dominação, estaremos

submetendo todos os outros mundos e a nossa própria diversidade.

O artista de vanguarda tinha a necessidade de experimentar técnicas e

metodologias, com o objetivo de criar novidades e se colocar à frente do

progresso tecnológico. Hoje, fala-se até em ausência do “novo”, num retorno à

tradição. O artista contemporâneo tem outra mentalidade; a marca de sua arte não

é mais a novidade moderna, nem mesmo a experimentação de técnicas e

instrumentos novos visa à produção de outros significados. Diante da importância

da imagem no mundo, tornou-se necessário para a contemporaneidade insinuar

uma crítica da imagem. O artista reprocessa linguagens aprofundando a sua

pesquisa e sua poética. Ele tem a sua disposição, como instrumental de trabalho,

um conjunto de imagens. A arte passou a ocupar o espaço da invenção e da

crítica de si mesmo.

As novas tecnologias para a arte contemporânea não significam o fim, mas

o meio à disposição da liberdade do artista, que se somam às técnicas e aos

suportes tradicionais, para questionar o próprio visível, alterar a percepção, propor

um enigma e não mais uma visão pronta do mundo. O trabalho do artista passa a

exigir também do expectador uma determinada atenção, um olhar que pensa. Um

vídeo, uma performance ou uma instalação não é mais contemporâneo do que

uma litogravura ou uma pintura. A atualidade da arte é colocada em outra

perspectiva.

O pintor contemporâneo sabe que ele pinta mais sobre uma tela virgem, e é

indispensável saber ver o que está atrás do branco: uma história. O que vai

determinar a contemporaneidade é a qualidade da linguagem, o uso preciso do

meio para expressar uma idéia, onde pesa experiência e informação. Não é

simplesmente o manuseio do pincel ou do computador que vai qualificar a

atualidade de uma obra de arte.

Nem sempre as linguagens coerentes com o conhecimento de nosso tempo

são as realizadas com as tecnologias mais avançadas. Acontece, muitas vezes,

que os significados da arte atual se manifestam nas técnicas aparentemente

“acadêmicas”. Diante da tecnologia, a arte reconhece os novos instrumentos de

experimentar a linguagem; mas, os instrumentos e suportes tradicionais estão

sempre nos surpreendendo quando inventam imagens que atraem o pensamento

e o sentimento.

Mas em que consiste essencialmente a arte contemporânea? Ou melhor,

qual o segredo da arte na atualidade? Pode parecer um problema de literatura ou

de filosofia. É muito mais uma questão de ética do que de estilo, para se inventar

com a arte uma reflexão. Não existem estilos ou movimentos como as vanguardas

que fizeram a modernidade. O que há é uma pluralidade de estilos, de linguagens,

contraditórios e independentes, convivendo em paralelo, porque a arte

contemporânea não é o lugar da afirmação de verdades absolutas.

CAPÍTULO 2 - ARTETERAPIA

“A Arte, por si, possui valor terapêutico. Mas, mesmo tendo sua origem em uma prática milenar, a Arteterapia é recente quanto instrumento de terapia. Iniciou-se no Brasil, por volta de 1950, através da Drª Nise da Silveira, embora nessa época a mesma preferisse chamá-la “Emoção de lidar”. É na Inglaterra que a mesma passa a denominar-se Arte Terapia, mediando outros campos do saber como: Educação, Saúde, entre outros”. (www. arteterapia.com)

“O processo arteterapêutico é um trajeto marcado pôr símbolos, que assinalam e informam sobre um indivíduo (aquele que não se divide face às pressões externas) e que assim procura viver plenamente,

integrando seus talentos, às suas feridas e faltas psíquicas. Trata-se de um processo preferencialmente e predominantemente não verbal. Isto quer dizer que a abordagem e as formas de intervenção, destinam-se ao confronto com conteúdos inerentes a processos psíquicos primários e pré- verbais (que não passam pelo crivo da consciência).” Ângela Philippini (Psicóloga e Arteterapêuta).

“A Arteterapia é uma terapia que através da estimulação da expressão, do desenvolvimento da criatividade. Favorece: * A liberação de emoções, de conflitos internos, de imagens perturbadoras do inconsciente. * Contato com ansiedades, conteúdos reprimidos, medos. * Coordenação motora * Mais e melhores “saídas” no dia - a - dia * O processo de individuação * Equilíbrio físico / mental / espiritual .” (www. Marlytocantins.com.br)

A Arteterapia é o uso da arte como terapia. Consiste na criação de material

sem preocupação estética e sim apenas de expressar sentimentos, possibilitando

e facilitando a comunicação. O que importa na Arteterapia é o significado do que

se faz, o simbólico.

A palavra tem um significado exato, o símbolo não, ele precisa ser

explorado através de imagens, porque o significado dos símbolos não é o óbvio,

mas alguma coisa viva, intensa e enigmática.

Os símbolos são difíceis de verbalizar, porque eles se expressam pôr

analogias, pôr metáforas. O processo simbólico precisa da imagem para que os

conteúdos inconscientes sejam trazidos para o consciente.

Para que as imagens simbólicas se tornem conscientes, a modelagem, a

pintura, as colagens e algumas outras técnicas são usadas para facilitar a

compreensão do significado do símbolo.

A Arteterapia utiliza vários recursos de expressão artística e corporal com o

objetivo de promover o autoconhecimento, estimular o processo criativo, resgatar

a auto-estima e ampliar as percepções que a pessoa tem do mundo. A partir

destas informações, é possível facilitar as transformações e o seu

desenvolvimento como um todo.

O universo dominante em Arteterapia é o da sensorialidade e da

materialidade: texturas, cores, formas, volumes, linhas.

No processo de Arteterapia, encoraja-se a criança a usar sua capacidade

de selecionar, escolher, organizar e sintetizar. Procura-se promover o

desenvolvimento da habilidade de observação: o olhar e refletir sobre o processo

e os trabalhos. Desse modo, espera-se que as crianças aprendam a transpor

esses processos para as suas vidas, expandindo possibilidades criativas

singulares.

É a combinação de fazer e sentir que dá a Arteterapia o seu poder.

Emprega ambos os hemisférios cerebrais, utilizam a sensação, percepção,

intuição, sentimento e pensamento. Diz respeito ao indivíduo como um todo,

possibilitando integração e síntese.

O que a Arteterapia tem de mais benéfico e produtivo terapeuticamente é:

expressar, configurar e materializar conflitos e afetos, realizando um conjunto de

atos que podemos designar genericamente como: “O FAZER TERAPÊUTICO”.

2.1 - A Argila na Arteterapia

Na prática da Arteterapia, as técnicas artísticas serão meios através dos

quais se dão as expressões das idéias, assim, como também das palavras.

Permitindo viver o despertar e o encontro com o potencial criativo, onde o simples

ato de criar permitirá a passagem de uma expressão mais espontânea em um

fazer concreto e vivenciado - transformador. Deixando que a liberdade interna

para criar direcione o “fazer”, o desenhar, o construir, o pintar e o modelar,

expressando o que de mais rico existe em nós, seres humanos: a descoberta de

um mundo interno mágico onde o limite é ultrapassado pela própria criação, que

irá desencadear novas possibilidades criativas em todas as situações onde haja

necessidade de transformação e mudança.

Através das técnicas expressivas, as imagens simbólicas vão ganhando

significado e este processo vai permitir que cada pessoa que experiencie, possa

viver mais plenamente, através de um processo de individuação.

O processo terapêutico pode ser desenvolvido de diferentes formas,

podendo ser o desenho livre ou dirigido, a pintura, a colagem, a modelagem, a

tecelagem, a construção e criação de personagens, através de músicas, filmes,

etc.

“O estudo detalhado do material é muito importante em Arteterapia.

Cada um é particular e tem propriedades que mobilizam emoções e

sentimentos de maneiras diversificadas a cada indivíduo”. (Maria de Betânia

Paes Norgren, pag. 15, 1995).

Cada material tem características próprias que estimulam conteúdos a

serem trabalhados, como pôr exemplo, o lápis que estimula a firmeza, a

objetividade. A pintura com aquarela pôr mexer com água, facilita a fluidez do

paciente, estando indicada para se trabalhar com as emoções. A modelagem na

argila ajuda a relaxar a musculatura, pôr proporcionar movimentos de contração e

expansão. Devido a sua constituição ser de fácil reparação, está indicada para se

trabalhar a insegurança, o stress, a criatividade e assim sucessivamente.

A argila tenta religar a imaginação verbal à imaginação sensorial - o objetivo

é sempre o de facilitar e permitir o desbloqueio da expressão imaginativa, fazendo

com que as mãos e as palavras se interpenetrem pela intimidade do barro.

A modelagem propicia, também, o desenvolvimento da coordenação dos

movimentos das mãos e dos dedos, em conseqüência das características físicas

dos materiais a serem modelados: maleabilidade, flexibilidade, resistência e

textura.

Tendo em vista as experimentações sensoriais e as operações mentais que

as atividades de modelagem propiciam às crianças, elas constituem meio

riquíssimo de desenvolvimento da capacidade de criar e de incorporar e reativar

concretamente a noção de tridimensionalidade e de volume, através da percepção

visual, da ação motora e de sensações táteis bastante específicas.

As primeiras manifestações de arte da criança, na modelagem, surgem a

partir de sucessivas experiências com a argila; amassando, furando, batendo,

molhando, observando. À medida que vai se tornando íntima desse material, a

criança descobre que pode transformar um pedaço de barro em linguagem que

expressa idéias e conhecimentos, atribuindo, então, nomes às suas produções.

Exemplificando, as bolinhas e os bastões feitos com argila parecem marcas

registradas das primeiras formas, descobertas e conquistadas pelas crianças

através de seus primeiros movimentos tácteis. Avançando nesse desafio, a

criança vai construindo e organizando melhor o seu pensamento diante dessa

massa de barro. Passa a criar segundo suas idéias, imaginações e fantasias. A

bolinha de argila pode representar a cabeça de uma figura humana e o bastão

pode simbolizar uma cobra ou o que pedir a sua imaginação.

O contato contínuo e saudável da criança na oficina de argila promove os

desenvolvimentos motor, emocional e cognitivo. É o momento em que ela trabalha

com as suas emoções, desenvolver a sensibilidade, reflete sobre as estratégias

utilizadas na criação, organiza conceitos de tamanho, largura, forma, ângulos e

texturas; decide o que, como e para que vai produzir, objetivando sua produção.

Usa a sua arte para estabelecer vínculos sociais e criar sua própria

identidade. Tudo isso lhe dá prazer e felicidade.

É essencial estar atento às potencialidades simbólicas dos materiais, pois a

elas respondemos não só cognitivamente, mas emocionalmente. Por exemplo,

lidar com argila algumas vezes desperta o sentimento de sujo, outras vezes,

desperta uma sensação táctil extremamente prazerosa.

2.1.1- A Argila como Material Expressivo na Arteterapia com Crianças

“A argila age como transformadora, de um estado de desencontro para um estado de equilíbrio, podendo trazer à tona conflitos internos indesejáveis. Pôr ser moldável, integra o ser com o mundo exterior, mostrando que ele pode adaptar-se às situações; sendo fluida, recebe projeções é dominada, favorecendo ao manipulador, a libertação das tensões, fadigas, depressões, pois é um material vivo e de ação calmante. No físico, trabalha questões ligadas a estruturação e coordenação motora. No emocional mobiliza sentimentos e emoções primitivas, para que possam ser conhecidas e trabalhadas”. (WWW. erikanobre.hpg.ig.com.br)

A Argila é a matéria prima de onde tudo pode surgir. É o material básico

que propicia a aproximação e a expressão do inconsciente, onde podemos

plasmar conteúdos do aqui - e - agora, do ontem e do que virá.

A argila é um material maleável, sua temperatura e sua flexibilidade são

mutantes. Sob a pressão da mão, ela se transforma, respondendo ao gesto de

uma maneira imediata e reversível. Aos movimentos do sujeito respondem os

efeitos previsíveis da matéria. As crianças podem fazer facilmente uma bola,

achatá-la, fazer um “salsichão”, cortar, dobrar, colar, reconstituir com gestos bem

precisos e bem diferentes.

A modelagem apela diretamente ao corpo: às sensações transmitidas pela

extremidade dos dedos, à modulação da pressão e tensão muscular, à

diferenciação profunda dos gestos, ao maior compromisso de toda a postura e da

dinâmica do corpo que modela. Paralelamente, a atividade corporal de

representação pela modelagem desencadeia mais rapidamente uma resposta

emotiva, uma ressonância afetiva mais ligada ao trabalho que a seu resultado.

A forma redonda (em bola ou achatada) e a haste são os primeiros

significantes modelados. A construção das unidades significantes supõe uma

capacidade de passar pelo nom. sens para chegar à expressão do sentido. Jogar

para criar diferenças pelo único prazer de inverter signos facilita o acesso aos

diversos sistemas baseados na articulação, como a linguagem. Essa atividade é

interessante de ser proposta no enquadre de tratamentos fonoaudiológicos

justamente para observar se os problemas de articulação e de construção com

unidades diferenciadas são específicos ou se eles envolvem um sistema mais

amplo.

A modelagem consiste em uma construção de representações complexas

realizadas a partir da combinação desses primeiros elementos, não significativos,

mas significantes. Com bolas e hastes pode-se representar um mundo: figuras

humanas, o sol, pássaros. Para dar significação a um elemento é preciso colocá-lo

em um contexto: a mesma haste será, aqui, um braço, lá, um raio ou uma pata. O

sentido objetivado de um gesto plástico é, então, função de uma consigna

morfológica cujas relações são: a inclusão, a tangência, a sobreposição, a

simetria, as posições relativas, etc.

A utilização da argila permite com que o sujeito tome consciência de um

conjunto de comportamentos e de sentimentos reativos às propriedades do

material. O trabalho sobre este vivido e as associações que emergem tanto nas

representações quanto no discurso o devolve, seguidamente, às experiências

arcaicas fixadas às significações subjetivas ligadas a certas condições do

processo em modelagem: a retroação, a participação da força muscular, a

diferenciação entre análise e síntese...

Em geral, o paciente projeta sobre o corpo modelado seu próprio corpo

fragmentado, imaginário, descontínuo, desequilibrado.

Tomando a Argila como material intermediário, verifica-se que a

plasticidade permite o livre movimento das mãos, enquanto a energia vem subindo

das camadas mais profundas da interioridade da pessoa, até que esses

movimentos se afunilem, em alguma forma que vai nascendo espontaneamente.

Quase tudo pode ser materializado ali. Como será representado dependerá da

dinâmica de cada um. O ego participa, ajudando a executar, mas não deve ser

controlador.

A Argila permite a observação cuidadosa dos movimentos das mãos.

Enquanto parte importante do processo de representação das imagens interiores

as mãos executoras têm seus movimentos orientados pôr forças inconscientes,

como se algo bem lá no fundo da pessoa tivesse encontrado a oportunidade para

se expressar. Esses movimentos podem ser lentos ou rápidos; delicados, até

mesmo receosos e vacilantes, ou brutos e agressivos. Podem ainda brincar de lá

para cá ou ficarem meio que brecados, soluçando aqui e ali na argila. São

redondos, fluidos, ou diretos e cortantes. Alguns parecem sentir um prazer sensual

nesse contato, enquanto outros resistem e sentem nojo ou aflição. Cada qual com

o movimento que surge, cada movimento uma fração muitas vezes pequena, mas

significativa da interioridade da pessoa. Porém, esses movimentos refletem a

maneira como ela se comporta em relação aos conteúdos internos. Quer dizer:

pelos movimentos das mãos podemos perceber como o material interior é

recebido, pois pôr mais inconscientes que sejam esses movimentos, o ego está

participando desse processo. Então, é como na imaginação ativa: observa-se o

movimento inconsciente dando expressão a ele, e tenta-se não interferir.

Há momentos em que a pessoa percebe uma forma saindo de suas mãos

que não esperava: surpreende-se em se dar conta de que há um movimento que é

independente de sua vontade, que é maior do que seu ego e que se manifesta

quando a atmosfera está aberta para receber.

O esforço de realizar um trabalho com a argila é o esforço de trazer à tona

o que está pôr baixo de tudo. É o que faz a ligação com o mais profundo. Já está

plasmado no material concreto da argila, através dos movimentos espontâneos

das mãos, o conteúdo que permite à pessoa se conhecer melhor e ter uma

compreensão maior do momento presente e do que ela está trazendo. A

elaboração inconsciente continua e juntamente com o movimento da vida, dos

acontecimentos do dia- a- dia, algo lá dentro começa a se modificar e aos poucos

poderá ser assimilado.

A sensação de estar em contato com o barro pode ser muito gratificante ou

não; pois a argila é amorfa e pode 0fazer com que se pense nos excrementos.

Seguidamente, ela encara a contrapartida da forma, a inércia absoluta, o enorme

poder do possível. A argila, mais que uma página branca, demanda ser

transformada, para adquirir da significação, para deixar de ser o que é enquanto

matéria.

No caso de negação e resistência a argila, oferta-se outro material; pois, de

início, não devemos impor materiais. Existindo aceitação, aos poucos se inclui o

barro.

A argila está ligada a nosso universo quotidiano. Ela é símbolo de

nascimento, de vida, de morte. Por isso, nossos afetos nela se projetam muito

mais espontaneamente que em outro material modelável tal como os materiais

sintéticos. Precisamente porque a argila é um suporte a nossos afetos. É

interessante analisar as diferentes atitudes suscetíveis de se desenvolver frente a

ela, assim como os diferentes modos de aproximação que se pode propor em um

ateliê terapêutico.

A Argila é estruturada e é usada para dar uma forma concreta ao nosso

inconsciente e facilitar a expressão simbólica dos conflitos e angústias.

Abrir-se para a argila é abrir-se à possibilidade de transformação.

2.1.2 - A utilização da Argila na Arteterapia em Crianças com

Transtornos de Desenvolvimento Global

Símbolo da matéria primordial, mistura de terra e água, a argila se oferece

como uma massa ideal que facilita a dialética entre o EU e o inconsciente. Graças

a ela, o EU pode ser atualizado pelas mãos que ao se juntar às palavras darão

corpo e significado ao material inconsciente do analisado. Tendo a argila como

ponte entre o “mundo interno” e o “mundo externo”, as emoções cristalizam-se em

imagens dando livre curso às intenções terapêuticas inerentes ao movimento do

ser.

“A argila, dada sua flexibilidade e maleabilidade, é empregada com o

objetivo de facilitar o rompimento da armadura protetora que impede os

indivíduos de se aproximarem de seus sentimentos, na busca da solução do

que se busca”. (Sara Pain,1996).

Nos pacientes mais comprometidos, particularmente nos autistas, a argila

pode despertar seja pulsões orais, ligadas ao olfato, seja a compulsão gestual

(pressionar, fragmentar, estender) sem controle ocular, reações que se gostaria de

qualificar como agressivas ou destrutivas, mas que são, mais seguidamente, pré-

simbólicas.

O poder de transformação da matéria inerte, assim como o contato direto

com suas propriedades sensíveis podem despertar temores nos fóbicos e

ansiosos. Eles têm necessidade de um certo tempo para começar a tocar ou dar

forma à argila. A intervenção da palavra, enquanto aspecto tranqüilizador, é muito

importante para fazer com que esses pacientes tenham uma atividade que lhes dê

muitas satisfações com o tempo.

As predisposições paranóicas podem fazer com que surjam fantasmáticas

ambivalentes, do tipo persecutório anímico (acreditar ser capaz de dar a vida ao

objeto ou de fazer uma criação perfeita) ou do tipo perseguidor animista (acreditar

estar possuído pelo objeto). A questão é manter essas fantasmáticas enquanto

tais, isto é, inofensivas, insignificantes na realidade. Em todo caso, os sentimentos

de estranheza frente às transformações da matéria perturbam o processo de

apropriação da obra e produzem um efeito psicótico, de separação entre o autor e

a produção.

Nos quadros histéricos, os sentimentos ligados à criatividade podem-se

transformar em sentimentos de desprazer com o material ou em dificuldade de

passar da manipulação à configuração muito sexualizada. A reação é bem

diferente daquela dos fóbicos, mais centrada sobre o objeto que sobre os efeitos

corporais que ele provoca.

O neurótico do tipo obsessivo, geralmente, muito atraído pelo trabalho na

argila, reage seguidamente com violência às transformações imprevistas do

material, enquanto ele é moldável e com ansiedade frente a sua fixação pela

secagem. Entretanto, a possibilidade de simbolização feita com um ponto entre as

sensações (táteis, motoras), os sentimentos (euforia, ansiedade, medo, raiva,

inibição) e as representações já se constitui um percurso terapêutico.

Nos contornos da argila, em sua água, sua cor, seu perfume, sua moleza

ao manusear, sua possibilidade de ser seca, dura, inflexível... De ser, em suma,

tudo aquilo que a revela como o objeto ideal, propício à modelagem de nossos

fantasmas, ao alargamento da consciência e ao fortalecimento do EU.

CONCLUSÃO

A Arte promove uma nova dignidade, uma nova ordem, um projeto de vida

diferenciado; antena o indivíduo ao seu tempo; reabilita sensibilidades; discute o

homem e seu meio através da dimensão simbólica; amplia mecanismos de

observação, de compreensão e visão do mundo.

O conhecimento da Arte abre perspectivas para que o indivíduo tenha uma

compreensão do mundo na qual a dimensão poética esteja presente: a Arte

ensina que é possível transformar continuamente a existência, que é preciso

mudar referências a cada momento, ser flexível. Isso quer dizer que criar e

conhecer são indissociáveis e a flexibilidade é uma condição fundamental.

É através do imaginar, do criar, do realizar, do refletir, do modelar a sua

existência, que a Arteterapia possibilita a transformação, a metamorfose da

crisálida em borboleta.

Arteterapia é a arte pela arte, deixa a criação em segundo plano, para

analisar acima de todo o processo de criação (pintura, desenho, teatro, etc).

Fundamenta-se em artes em todos os níveis e técnicas de terapias diversas,

constituindo em delicada construção artesanal que resgata, ativa e expande

possibilidades criativas, promove o autoconhecimento, resgata a auto-estima,

privilegia a possibilidade de expressão e comunicação e amplia as percepções

que a pessoa tem do mundo. Emprega ambos os hemisférios cerebrais, utiliza a

sensação, percepção, intuição, sentimento e pensamento. Diz respeito ao

indivíduo como um todo, possibilitando integração e síntese.

No processo de Arteterapia, procura-se promover o desenvolvimento da

habilidade de observação: o olhar e refletir sobre o processo e os trabalhos. Desse

modo, espera-se que as crianças aprendam a transpor esses processos para as

suas vidas.

O objetivo da Arteterapia é de que cada um faça o seu processo de

individuação, trazendo as imagens simbólicas para a consciência, através das

técnicas expressivas, barro, pintura, colagens, desenhos, etc. e dando-lhes um

significado.

As mãos capturam a função simbólica no inconsciente e, com ajuda da

argila, se penetra no núcleo das emoções.

A argila tenta religar a imaginação verbal à imaginação sensorial - o objetivo

é sempre o de facilitar e permitir o desbloqueio da expressão imaginativa, fazendo

com que as mãos e as palavras se interpenetrem pela intimidade do barro.

A Argila permite a estimulação tátil, o trabalho muscular, a estruturação

postural assim como a capacidade de concretizar e de planejar. É estruturadora e

é usada para dar uma forma concreta ao nosso inconsciente. Atua nas sensações

físicas e viscerais, como também no sentimento e cognição.

A Arte deve contribuir para o desenvolvimento humano e melhorar a

estrutura da sociedade. Ao aprimorar o lado artístico, a criança se torna mais

perspicaz e sociável, qualidades importantes no futuro.

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