A CRIANÇA E A MORTE - Professora Nadia Veronica · A palavra crise também comporta uma...

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A CRIANÇA E A MORTE

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A CRIANÇA E A MORTE

Definições fundamentais da morte

A morte é irreversível, definitiva e

permanente;

Ela caracteriza-se pela ausência das

funções vitais;

A morte é universal - todas as pessoas,

os animais e as plantas nasceram e, um

dia, morrem..

Capacidade para lidar com a morte

A capacidade de uma criança para lidar

com a morte, como sua capacidade

cognitiva, evolui com o desenvolvimento.

Vários autores consideram que a partir

dos 3 anos, ou mesmo antes, uma

criança pode compreender parcialmente

a morte.

Capacidade para lidar com a morte

Por outro lado, uma criança com menos

de 5 anos ainda não entende as três

definições fundamentais da morte.

Ela considera a morte um estado

temporal como estar dormindo ou

andando, em que os falecidos ainda

podem escutar-nos ou ver-nos ou que

eles ou seus pais nunca irão morrer.

Capacidade para lidar com a morte

Entre cinco e dez anos crianças começam

a entender que a morte é irreversível, mas

acreditam que somente pessoas velhas e

vítimas de acidentes morrem.

Após os 10 anos a criança começa a

entender que a morte é parte da ordem

natural das coisas e que as pessoas

morrem em todas as idades, por diversas

razões.

Capacidade para lidar com a morte

É desejável que os pais, ou outros

familiares, falem sobre o tema com as

crianças antes que elas tenham que se

confrontar com esta realidade. A morte

de um animal ou de um parente distante

podem ser oportunidades para esta

conversa.

O luto

Estágios do luto, de acordo com

E. Kübler-Ross:

Choque inicial;

Negação e isolamento;

Raiva;

Barganha;

Depressão;

Aceitação.

O luto

Nem todas as pessoas apresentam

todos os estágios, ou exatamente

nesta ordem.

O sentimento de esperança também

pode estar presente, paralelamente, a

partir do estágio da "Raiva".

O luto

A compreensão deste processo pode

ajudar o profissional de saúde a

entender estes sentimentos e a auxiliar

estas pessoas de uma forma mais

adequada a esta situação de crise.

O luto

Muitas pessoas abordam as situações de

crise apenas pelo seu lado ameaçador.

A palavra crise também comporta uma

interpretação de oportunidade.

Assim, uma má notícia pode ser também ser

geradora de crescimento pessoal, às vezes

associado a muito sofrimento, mas que pode

ser suportado desde que entendido e

elaborado adequadamente.

SUICÍDIO INFANTIL E EM

ADOLESCENTES

SUICÍDIO INFANTIL E EM

ADOLESCENTES

Em termos gerais, em todo o mundo, a

atual crise social, familiar, econômica e

moral está incidindo desfavoravelmente

no comportamento dos adolescentes,

que ao não encontrarem valores e

sentido na sua vida, buscam o suicídio

como solução

SUICÍDIO INFANTIL E EM

ADOLESCENTES

Estudo realizado na Argentina durante o período 1997-1999:

Acréscimo de 50% nas tentativas de suicídio.

Entre os pacientes com 12 e 18 ano, aqueles cuja causa de internação foram intenção ou tentativa de suicídio, constituíram 25% das internações neste período.

SUICÍDIO INFANTIL E EM

ADOLESCENTES

A idealização ou intenção do suicídio

como uma busca voluntária da perda da

vida começa com a pré-adolescência e

adolescência e freqüentemente surge de

um estado depressivo.

SUICÍDIO INFANTIL E EM

ADOLESCENTES

Crianças por volta dos seis anos de idade estão recém começando a elaborar um conceito rudimentar sobre o que é a morte.

Porém, há crianças com acidentes freqüentes, nas quais atua uma intenção suicida inconsciente, como por exemplo atravessar a rua sem olhar, não medir os riscos de determinadas situações, expor-se a violência.

SUICÍDIO INFANTIL

Fatores de risco

Os fatores de risco tanto de patologias

psiquiátricas como de intenção ou

tentativa de suicídio são múltiplos;

Eles variam de acordo com:

pré-disposição genética e

entorno social.

SUICÍDIO INFANTIL

Fatores de risco

Fatores recorrentes incluem:

desordens afetivas especialmente a

depressão,

ansiedade,

sociopatias,

Consumo de álcool e outras drogas,

transtornos de conduta,

SUICÍDIO INFANTIL

Fatores de risco

Fatores recorrentes incluem:

estresse prolongado,

perdas,

violência física, psicológica ou sexual,

Mau desempenho escolar,

famílias caóticas, alcoólicas e conflitivas.

Sinais que podem indicar

pensamentos suicídas

Mudanças nos hábitos de dormir e de

comer;

Retraimento com os amigos, com a

família ou com suas atividades

habituais;

Atitudes violentas, comportamento

rebelde ou fuga de casa;

Sinais que podem indicar

pensamentos suicídas

Uso de drogas e de álcool;

Descuido com a aparência pessoal;

Mudanças exageradas em sua

personalidade;

Tédio constante, dificuldade de

concentração, ou queda na qualidade de

seu trabalho escolar;

Sinais que podem indicar

pensamentos suicídas

Queixas freqüentes de dores físicas tais

como dores de cabeça, de estômago e

fadiga, que estão em geral associados

com o estado emocional do jovem;

Sinais que podem indicar

pensamentos suicídas

Perda de interesse em seus

passatempos e outras distrações;

Pouca tolerância a elogios ou prêmios;

Queixar-se de ser “mau” ou sentir-se

“abominável”;

Sinais que podem indicar

pensamentos suicídas

Lançar indiretas como:

“não continuarei sendo um problema para

você”,

“nada me importa”,

“para que incomodar-se” ou

“não vou te ver outra vez”;

Sinais que podem indicar

pensamentos suicídas

Colocar em ordem seus assuntos; por

exemplo: presentear com suas coisas

favoritas, limpar seu quarto, jogar fora

papéis ou coisas importantes, etc;

Ficar muito contente após um período de

depressão.

Sinais que podem indicar

pensamentos suicídas

Ainda que não seja fácil prever com

certeza a conduta futura de uma

criança, suas ameaças ou

advertências não devem ser

subestimadas!

Quando uma criança faz uma

ameaça séria, deve ser tratada

como tal.

Sinais que podem indicar

pensamentos suicídas

• Pais, professores e outros adultos devem falar de imediato com a criança ou adolescente que está em perigo;

• deve-se providenciar uma avaliação imediata com um profissional da saúde mental que tenha experiência com crianças e adolescentes se: • ela nega-se a falar,

• argumenta,

• responde de forma defensiva ou

• continua expressando pensamentos e planos perigosos.

A morte de uma pessoa

próxima

Contando para a criança

Quando uma morte ocorre, alguém com

quem a criança tenha uma história de

confiança e envolvimento deve contar para

ela. Isso a assegura de que ela não está

sozinha e de que há outras pessoas para

lhe prover proteção e cuidado.

Esta informação deve ser dada imediata-

mente para a criança, em linguagem

simples e direta.

Contando para a criança

Pode ser difícil de dizer, especialmente sem

lágrimas. Porém, quem está contando não

precisa esconder os seus sentimentos - pelo

contrário.

Assim a criança aprende a lidar naturalmente

com seus próprios sentimentos.

Quando quem conta pode dizer “Estou muito

triste porque a mamãe morreu”, está

ensinando um recurso importantíssimo para a

criança.

Contando para a criança

Após contar que um ente querido morreu, é

preciso explicar o que acontecerá depois

(velório, funeral).

A criança terá muitas dúvidas - O que ela irá

querer saber dependerá de:

sua idade

sua experiência prévia com a morte.

Contando para a criança

É importante responder as questões o

mais simples e honestamente possível,

evitando o uso de metáforas.

Crianças comumente concluem que de

alguma forma causaram a morte. É

importante dizer que ela não tem culpa

pelo que aconteceu.

Reações da criança à perda

A criança pode negar inicialmente que a

morte ocorreu.

Pode tornar-se agressiva e culpar os

demais pela morte, ou ter raiva da

pessoa que morreu, por deixá-la.

Reações da criança à perda

Pode sentir-se culpada por não ter sido

“boa” para a pessoa que morreu e ficar

deprimida.

Pode desejar ou temer morrer.

Reações da criança à perda

Ainda que a criança possa aparentemente não

estar sofrendo, expressa sua dor de modos

mais sutis, como:

regredir e começar a chupar o dedo, molhar a

cama e agir como bebê;

ficar hostil com os colegas ou tratar seus

brinquedos com violência;

isolar-se;

queixar-se de dores físicas ou outros sintomas

depressivos.

Ajudando a criança a lidar com a

perda

Como os adultos a criança precisa

enlutar-se para aceitar que a perda

ocorreu e continuar com sua vida.

Os adultos podem, e devem, expressar

seu próprio luto e falar sobre a pessoa

que morreu.

Ajudando a criança a lidar com a

perda

A criança (ou adolescente) deve ter liberdade para falar ou não sobre o assunto, mas ter a certeza de que haverá alguém próximo, disponível para confortá-la.

Esta é uma situação triste, e a criança precisa expressar sua tristeza - “seja forte, não chore” é uma expressão que não deve ser utilizada!

Ajudando a criança a lidar com a

perda

Mesmo que a criança seja muito

pequena para falar sobre a morte o

adulto pode compartilhar seus

sentimentos - o carinho irá confortar a

criança que sente a angústia na família,

mesmo que ela não entenda o que

aconteceu.

Ajudando a criança a lidar com a

perda

Uma criança cercada pela tristeza precisa ser

reassegurada de que é amada.

Crianças, como os adultos, precisam dividir

sua dor.

Como o funeral permite que as pessoas se

juntem e expressem seus sentimentos, é bom

que a criança participe dele, mas ela não

deve ser obrigada a ir.

Ajudando a criança a lidar com a

perda

Lembrar que a relação da criança com o

falecido muda, mas não acaba.

Assim, deve-se manter fotos e outras

lembranças do falecido para conversar

sobre elas com a criança.

Isto irá ajudar a formar um novo tipo de

vínculo da criança com a pessoa que

morreu.

A CRIANÇA FRENTE À

PRÓPRIA MORTE

Como a criança enferma se vê ao

lidar com a própria morte

Estágios que indicam o grau de

consciência sobre morte que tem a

criança doente: 1. Estou muito doente.

2. Tenho uma doença que pode matar as pessoas.

3. Tenho uma doença que pode matar as crianças.

4. Posso não melhorar.

5. Estou morrendo.

Como a criança enferma se vê ao

lidar com a própria morte

Estes estágios de percepção da morte

estão relacionados à habilidade verbal

da criança, embora antes do domínio da

expressão verbal ela já tenha essa

consciência.

Como enfrentar com a criança a

proximidade da morte:

Em geral deve-se levar em

consideração o desejo dos pais quanto

ao que deve ser informado à criança

sobre suas condições diante da doença,

principalmente diante do agravamento

dessas condições.

Como enfrentar com a criança a

proximidade da morte:

Os profissionais de saúde devem ser cautelosos quanto a pedir permissão dos pais para abordar tais questões com a criança - o ideal é que os próprios pais (pessoas que a criança conheça, ame e confie) o façam.

Como enfrentar com a criança a

proximidade da morte:

Esta é uma situação aterrorizadora para

todos os envolvidos e torna-se ainda

mais difícil quando os pais apresentam

dificuldades de ordem emocional para

falar com seu filho, especialmente

quando a criança pede informação,

direta ou indiretamente.

Como a criança enferma se vê ao

lidar com a própria morte

Alguns aspectos que devem ser

considerados:

Os pais tem papel fundamental como

modelos na determinação da resposta à

criança sobre as questões da doença e do

morrer.

Se os pais respondem com coragem e

expressam tranqüilidade, a criança tenderá

a responder de maneira semelhante.

Como a criança enferma se vê ao

lidar com a própria morte

Alguns aspectos que devem ser

considerados:

Há crianças que se preocupam muito

com o impacto que sua doença causa

nos pais e como sua morte irá afetá-los.

Como a criança enferma se vê ao

lidar com a própria morte

Alguns aspectos que devem ser

considerados:

Resistência diante de más notícias: quem

lida com crianças no enfrentamento de

uma doença potencialmente fatal com

freqüência já teve oportunidade de

constatar o quanto a criança é mais forte

que os pais diante do agravamento de seu

estado e da proximidade da morte.

Como a criança enferma se vê ao

lidar com a própria morte

Alguns aspectos que devem ser

considerados:

Os direitos das crianças: extrema atenção

deve ser dada ao direito da criança em

saber a verdade sobre seu estado.

Considerar o que é de seu melhor

interesse é também função do profissional

de saúde que cuida de crianças diante da

morte.

Como a criança enferma se vê ao

lidar com a própria morte

Alguns aspectos que devem ser

considerados:

A criança que percebe a existência de

um segredo a seu próprio respeito pode

se sentir isolada e abandonada pelas

pessoas de quem depende e em quem

confia, num período em que está mais

vulnerável.

Como a criança enferma se vê ao

lidar com a própria morte

Observação importante:

Embora todos os pacientes tenham o

direito de saber, nem todos têm a

necessidade de saber”.

A criança pode fazer perguntas diretas e

repentinas, surpreendendo os pais que,

desprevenidos, ficam sem saber o que

dizer.

Como a criança enferma se vê ao

lidar com a própria morte

É importante estar preparado, levar

muitos aspectos em consideração,

inclusive o que a criança já sabe, o

que ela suspeita e o que ela quer

realmente saber.

Este último aspecto é crucial, pois é o

sinalizador do que, quanto e como

podemos lhe oferecer em informação.

Conversando com a criança

Lembrar que a criança não é cega aos

sinais não-verbais , como linguagem

gestual, tom de voz e algumas

expressões utilizadas pela família ou

equipe.

Conversando com a criança

Frequentemente a criança busca uma pessoa

com quem possa falar abertamente e essa

pessoa tende a ser o profissional, pois ela tem

a percepção de que deve ‘proteger’ seus pais

dessa conversa difícil.

Este senso de proteção vem da observação

sobre como é difícil para eles falar

abertamente sobre o que acontece.

Conversando com a criança

Frequentemente, ao invés de utilizar de

perguntas abertamente expressas a respeito

de suas inquietações, a criança utiliza

linguagem simbólica para se comunicar ou

até mesmo novos sintomas, não relacionados

diretamente à doença em si, para manifestar

o que a preocupa e as interpretações que faz

a respeito das informações que recebe.

Conversando com a criança

A criança internada pode presenciar a morte

de outras crianças no hospital, o que a leva,

inevitavelmente, a querer saber sobre esses

acontecimentos que, de maneira geral, são

escondidos ou disfarçados no cotidiano

hospitalar.

Esta atitude colabora grandemente para

aumentar a ansiedade da criança, que tenta,

ela mesma, buscar respostas para se situar

diante desses acontecimentos.

Conversando com a criança

Devolver as pergunta à criança muitas

vezes é uma maneira de encorajá-la a

expressar seus sentimentos.

Por exemplo, se a criança pergunta:

‘Eu vou morrer?’,

um recurso produtivo poderia ser perguntar-

lhe:

‘O que faz você pensar que vai morrer?’

Conversando com a criança

A criança pode ter construído uma

série de explicações para suas

condições de saúde ou pode estar

apenas querendo entender porque os

pais sofrem e choram tanto.

A criança poder fazer perguntas pela

primeira vez e reapresentá-las se a

resposta não for satisfatória.

Sugestões para facilitar o

desenvolvimento do assunto

Buscar ocasiões para conversar com a

criança, enquanto brinca, desenha ou

faz outra atividade com ela.

Perguntar à criança qual é o tipo de

apoio que ela gostaria de receber.

Sugestões para facilitar o

desenvolvimento do assunto

Deixar claro que ela pode sentir medo,

raiva ou alguma forma de sofrimento,

sem que isso acarrete outro problemas.

Estar atento a verbalizações e

comportamentos que sejam indicadores

de problemas, como: medo, solidão,

depressão.

Sugestões para facilitar o

desenvolvimento do assunto

Abordar os assuntos considerados tabu,

ser honesto ao responder essas

perguntas.

Dispor de tempo e atenção em

abundância.

Garantir que a criança possa usufruir de

alguma privacidade, para poder expressar

suas emoções ou até mesmo ficar quieta,

sem ser perturbada.

Sugestões para facilitar o

desenvolvimento do assunto

Ao fim, sugerir e apoiar que ela escreva

cartas de despedida, ou que faça

desenhos para presentear as pessoas

importantes em sua vida.

Uma comunicação aberta e honesta sobre

o tema da morte com a criança, que

respeite, tanto quanto possível, sua

capacidade emocional e intelectual é

fundamental.

Sugestões para facilitar o

desenvolvimento do assunto

Ouvir, aceitar, partilhar, abraçar e

acariciar são a essência dessa

comunicação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao lidar com a criança gravemente

enferma, o profissional da saúde

vivencia experiências importantíssimas

que o levam a refletir profundamente

sobre o impacto que sua ação tem sobre

essa criança e seus familiares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A possibilidade de cuidar de si, quanto

às suas respostas emocionais e

cognitivas, não deve, portanto, ser

desprezada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O preparo técnico desse profissional é

fundamental, mas vale a pena

considerar o quanto ser profissional de

saúde o expõe a situações cujo

enfrentamento requer mais

do que o domínio da técnica.