A CRISE HÍDRICA DE SP NO JORNALISMO ON LINE · A todas aquelas pessoas que reconhecem a...

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IZABEL CRISTINA DE OLIVEIRA A CRISE HÍDRICA DE SP NO JORNALISMO ON LINE Brasília 2015

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IZABEL CRISTINA DE OLIVEIRA

A CRISE HÍDRICA DE SP NO JORNALISMO ON LINE

Brasília

2015

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IZABEL CRISTINA DE OLIVEIRA

A CRISE HÍDRICA DE SP NO JORNALISMO ON LINE

Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de Bacharelado em Jornalismo pela Faculdade de Tecnologia e Ciências Sociais Aplicadas do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB.

Orientador: Prof. Luiz Cláudio Ferreira

Brasília

2015

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IZABEL CRISTINA DE OLIVEIRA

A CRISE HÍDRICA DE SP NO JORNALISMO ON LINE

Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de Bacharelado em Jornalismo pela Faculdade de Tecnologia e Ciências Sociais Aplicadas do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB.

Orientador: Prof. Luiz Cláudio Ferreira

Brasília, 27 de novembro de 2015.

Banca Examinadora

_____________________________

Prof. Luiz Cláudio Ferreira, Me.

Orientador

_____________________________

Profa.Elizângela Monteiro

Examinador

_____________________________

Prof. Bruno Nalon

Examinador

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A todas aquelas pessoas que reconhecem a importância e a urgência da preservação do meio ambiente e contribuem para a promoção da consciência ecológica, por meio do compartilhamento de conhecimentos e práticas colaborativas.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus por mais esta oportunidade de realização pessoal e profissional.

Ao meu marido Ivan e meus filhos Iana e Andre, pela torcida e apoio incondicional

na realização deste sonho.

Ao grande mestre e amigo Luiz Cláudio, pela imprescindível orientação para

realização deste trabalho, e pelo exemplo de comprometimento e dedicação ao

jornalismo e aos seus alunos.

A todos os professores do curso de jornalismo que contribuíram para meu

aperfeiçoamento com conhecimento e amizade.

Aos meus colegas que me receberam com carinho, me deram suporte digital e me

ajudaram a construir um novo olhar para esta realidade em ebulição.

A bibliotecária Marinês L. Nascimento, pela disponibilidade e presteza na instrução

das regras ABNT, para a formatação do conteúdo.

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RESUMO

O presente estudo tem por objetivo analisar a contribuição do jornalismo online na promoção da consciência ecológica do cidadão brasileiro. Para isso, foram selecionadas três reportagens especiais sobre a crise hídrica no Estado de São Paulo, no ano de 2014. Os conteúdos escolhidos foram publicados pelo G1, UOL e Folha, os mais acessados portais de notícias do país. A premissa do trabalho é que os materiais deveriam se mostrar contextualizados a fim de esclarecer a maior parte da opinião pública, sobre a real situação dos recursos hídricos, especialmente da região metropolitana de São Paulo. E levantar qual é a responsabilidade social do jornalista, qual o papel da imprensa com relação à questão ambiental, tendo como recorte o Web Jornalismo e suas características. Para alcançar o objetivo proposto, uma opção foi utilizar referências das estratégias metodológicas de “análise de conteúdo”, descrita por Bardin (2006). De acordo com o pesquisador, a descrição analítica funciona segundo procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Para a avaliação, foram buscadas diferenciações entre os conteúdos, com categorias de abordagem distintas. De forma empírica, as informações dos textos, vídeos, mapas, infográficos e demais recursos multimídia foram divididas em três categorias: Educativa, Factual e Política. Pela compilação dos dados é possível quantificar qual o teor das informações sobre o problema de abastecimento de água no Estado de São Paulo.

Palavras-chave: Água, Abastecimento de água, crise hídrica, São Paulo,

seca, desperdício, consciência ecológica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................7

1 RESPONSABILIDADE SOCIAL DO JORNALISTA..............................................10

2 JORNALISMO E MEIO AMBIENTE.......................................................................13

2.1 MUITA TEORIA, POUCA AÇÃO..........................................................................15

3 AGENDAMENTO E EDIÇÃO..................................................................................18

3.1 TEORIA DE GATEKEEPER.................................................................................18

3.2 TEORIA DO AGENDAMENTO.............................................................................19

3.3 TEORIA DO NEWSMAKING................................................................................19

4 FONTES..................................................................................................................21

5 WEBJORNALISMO................................................................................................24

6 O MÉTODO.............................................................................................................27

7 A ANÁLISE.............................................................................................................30

7.1 REPORTAGEM 1.................................................................................................30

7.2 REPORTAGEM 2.................................................................................................33

7.3 REPORTAGEM 3.................................................................................................37

CONCLUSÃO............................................................................................................40

REFERÊNCIAS.........................................................................................................41

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INTRODUÇÃO

Quando falta água na torneira, surge o alerta na população e o interesse da

imprensa pela cobertura da crise hídrica. O critério decisivo para um fato se tornar

notícia é justamente o da novidade, especialmente para a plataforma digital. A

exceção das catástrofes pontuais, como as enchentes, queimadas, tsunamis e

terremotos, os assuntos ligados ao meio ambiente perdem na corrida de prioridades

com outros temas, nos noticiários diários.

A presente pesquisa tem por objetivo analisar e categorizar as reportagens

especiais de portais brasileiros sobre a crise hídrica na região metropolitana de São

Paulo, a fim de verificar se a mídia nacional tem cumprido o seu papel social de

esclarecer e conscientizar os cidadãos, sobre a real situação dos recursos hídricos

no país. Quantificar se o teor das informações tem viés educativo/ambiental, factual

ou político com o propósito de compreender se o tema está devidamente

contextualizado, na produção dos conteúdos.

O trabalho tem como objeto três reportagens especiais sobre a crise hídrica

no Estado de São Paulo no ano de 2014. São buscadas diferenciações entre os

conteúdos, com categorias de abordagem distintas. A premissa de trabalho é que os

materiais deveriam se mostrar contextualizados a fim de esclarecer a maior parte da

opinião pública.

Segundo arquivos da Agência Nacional de Águas (ANA), quase 97,5% da

água que cobre a superfície da Terra é salgada. Dos 2,5% restantes, 1,73% está

congelada nas geleiras e calotas polares e 0,77% ficam em profundas camadas

subterrâneas. Sobram menos de 0,01% de água segura para uso humano.

Este baixo percentual de água boa disponível é afetado por um agravante: - a

falta de conscientização ambiental por parte dos representantes dos governos, da

agricultura, da indústria e da população em geral. No Brasil, 37% da água tratada se

perdem pelo caminho, com vazamentos e ligações ilegais. A população ainda

desperdiça água lavando carros, calçadas e em banhos demorados. O processo de

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produção obsoleto da indústria nacional consome 18% de água doce e o sistema de

irrigação da agricultura 61%.

A imprensa divulga que o Brasil é o país mais rico do mundo em reservas

hídricas, contendo 13,7% da água doce disponível na Terra, mas não se encontra

numa situação confortável. Pelo menos 40 milhões de brasileiros não têm acesso à

água potável, o índice de desperdício no setor de produção e nas residências chega

a 40%.

A cada ano, a água potável se torna um bem raro no mundo todo. Relatórios

da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgados na imprensa apontam para

um diagnóstico alarmante: a escassez de água potável traz a morte na forma de

doenças. Mais de 2 milhões de pessoas no mundo, a maioria crianças e idosos

morrem a cada ano, por contrair doenças como diarreia e malária. No Brasil, 70%

das internações hospitalares são causadas por essas doenças relacionadas à

contaminação da água.

O consumo de água doce e limpa está cada vez mais crescente e

imprescindível, com o aumento da população, do consumo doméstico, da produção

agrícola e industrial. Somos todos contemporâneos de um impasse civilizatório,

proveniente de um modelo de desenvolvimento que vem exaurindo os recursos

naturais não renováveis do planeta, causando desastres ambientais e impactos

negativos sobre a qualidade de vida da população, principalmente as mais pobres.

Pesquisa realizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia1revela que quase

40% da população demonstra pouco interesse por assuntos de ciência e tecnologia

por não entenderem do que se trata. Porém, 27% dos entrevistados apontaram que

os jornalistas são os que inspiram maior confiança como fonte de informação.

Este percentual demonstra o poder de influência do jornalismo na formação

da opinião pública e reforça a necessidade do engajamento dos veículos de

comunicação na causa ambiental. A revolução trazida pela interação em rede, pela

web e pela telefonia digital deu a cada indivíduo, empresa ou instituição, o poder de

1 A pesquisa divulgada em 13/07/2015 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)

aponta os dados do estudo da série Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil, realizado pelo Centro de Gestão e Estudo Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pela Pasta.

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produzir e compartilhar conteúdos de forma global e imediata. Isso aumenta a

responsabilidade de todos com a ampliação da consciência ecológica e as

mudanças de hábitos de comportamento e consumo na sociedade.

Para resolver as questões ambientais urgentes, que garantirão a preservação

da água no planeta, este estudo trabalha com a ideia de que cada um terá que fazer

a sua parte, inclusive os meios de comunicação.

A Educação Ambiental nasce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mercado, que implica a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para a cidadania ativa considerando seu sentido de pertencimento e co-responsabilidade que, por meio da ação coletiva e organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos problemas ambientais. (SORRENTINO, 2005)

Este trabalho será organizado da seguinte forma: O primeiro capítulo busca

levantar qual é a responsabilidade social do jornalista. O capítulo dois têm o objetivo

de pesquisar o papel do jornalismo com relação à questão ambiental. O terceiro

capítulo apresenta a Teoria do Agendamento como base de fundamentação do

conteúdo e inclui análise das Fontes de Informação. No capítulo quatro, o recorte da

cobertura do tema é focado no Web Jornalismo e suas características. O capítulo

quinto demonstra o método para análise de conteúdo, que será retratado nas

reportagens especiais do capítulo sexto, complementado pela conclusão.

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1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO JORNALISTA

Ao longo dos anos a imprensa foi instrumento de debates e provocações que

motivaram algumas conquistas significativas para a sociedade. Neste histórico, a

questão da responsabilidade social se tornou algo consagrado no meio jornalístico

mundial. Historicamente o jornalismo se estabeleceu como uma prática cuja missão

relaciona-se com a esfera do bem comum e das aspirações coletivas.

No entanto, no último século, a atividade passou por significativa

transformação, que contribuiu para o esvaziamento do seu papel, empurrando-a

para um novo paradigma: o do compromisso com a sua própria sustentabilidade

econômica.

A imprensa manteve-se firmemente agarrada a uma agenda político-financeira estreitamente vinculada aos seus interesses corporativos e aos de seus principais aliados na arena partidária e empresarial, mesmo quando as pesquisas mostraram um aumento do fosso separando as pautas e a opinião dos leitores. (CASTILHO:2007).

Neste contexto, Nelson Traquina identifica dois lados no campo jornalístico:

um polo ideológico, definido como um serviço público que leva às pessoas

informações necessárias para que elas exerçam sua cidadania protegendo-as dos

“eventuais abusos de poder” dos governantes. E um polo econômico associado “ao

dinheiro e a práticas como o sensacionalismo, em que o principal intuito é vender o

jornal/telejornal como um produto que agarra os leitores/ouvintes/à audiência,

esquecendo valores associados à ideologia profissional” (TRAQUINA, 2005, p. 27-

28).

Definido no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros2, o exercício da

profissão é uma atividade de natureza essencialmente social, firmado em artigo, “a

liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica

compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão".

Porém, aquilo que está consagrado pela sociedade e possa até parecer

óbvio, não é definitivo e merece reflexões. Quando os jornalistas produzem um

código de conduta, o objetivo é proteger a sociedade de suas próprias atividades e

2 O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros foi publicado no ano de 2004 pela Federação Nacional

dos Jornalistas

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assegurar ao público seu direito à informação independente, à opinião plural, às

respostas e às correções sempre que se fizerem necessárias.

Dentre os princípios da ética profissional, a responsabilidade social do

jornalista requer atuação em conformidade não só com a ética da categoria, como

também com uma consciência ética pessoal. A informação deve ser compreendida

como uma ferramenta para o bem social e transmitida com responsabilidade para o

grande público, considerando interesses distintos.

Neste sentido, Manuel Carlos Chaparro (1993) parte do princípio de que todo

conhecimento é posto em movimento por inclinações que o orientam. ''Só é notícia o

relato que projeta interesses, desperta interesses ou responde a interesses''. O autor

relaciona os elementos da notícia selecionados como atributos de relevância no

conteúdo jornalístico: Atualidade, proximidade, proeminência, curiosidade, conflito,

suspense, emoção e consequências. Acrescenta mais alguns, que levam o leitor a

se interessar ou não pela informação, como: a notoriedade, surpresa, conhecimento

e dramaticidade.

Isso nos leva a refletir sobre as escolhas que o jornalista faz, diante da

imensurável oferta de fontes de informação. Compromisso com o quê? Com quem?

Quais atores para quem o jornalista dá voz? Qual recorte faz diante de um fato?

Estas escolhas compõem a essência do compromisso com a sociedade.

Os autores americanos Bill Kovach e Tom Rosenstiel sustentam a teoria de que

a primeira lealdade do jornalista deve ser com o cidadão. Em busca da verdade, os

autores estimulam os jornalistas a checarem as informações até se chegar à

verdade dos fatos propriamente dita, este cuidado diferencia a profissão de todas as

outras formas de comunicação. “O princípio mais importante do jornalismo é o

compromisso com a verdade pois o público necessita de informação ética,

democrática e verdadeira para sua própria independência” (KOVACH e

ROSENTIEL: 2003, p. 31).

Para Cremilda Medina (1982)a atualidade, veracidade, clareza e o interesse

público devem ser determinantes para produção de conteúdo. Porém adverte que

alguns critérios assumem status de verdades tácitas, sem aprofundamento crítico.

“Publicada e reconhecida a sua significação, o que era notícia se transforma em

história'' (MEDINA, 1982, p. 21). A autora acrescenta que ''os interesses

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representam para a notícia um termômetro indispensável'' e enumera os que são

considerados relevantes para o público: ''Emoções, superação, dinheiro ou

propriedade, sexo e interesse local''. Neste sentido chama a atenção para o trabalho

das novas gerações de profissionais. “O caminho mais imediato é o uso de apelos

emprestados da publicidade, sobretudo na linguagem de envolvimento da

reportagem”.

Sendo assim, a concepção de que o jornalismo é uma operação meramente

mecânica de meia dúzia de regras, com os tradicionais quem? quê? quando? onde?

como? e por quê? é uma atitude meramente reducionista.

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2 JORNALISMO E MEIO AMBIENTE

No campo da cobertura do tema ambiental, as próximas páginas estão

destinadas a analisar os critérios de visibilidade e contextualização desse tipo de

assunto no jornalismo on-line.

Em junho de 2003, o descarrilamento de 18 vagões de uma locomotiva, em

Uberaba, causou o vazamento de toneladas de produtos químicos no Córrego

Congonhas, provocando a contaminação de toda a rede de abastecimento da

cidade, uma explosão de 1.500 metros de raio, e o maior desastre ambiental da

história de Minas Gerais.

Na coletânea de Sérgio Vilas Boas, “Formação & Informação”, André Azevedo

da Fonseca traça, a partir do recorte de uma realidade concreta, a cobertura de um

desastre ecológico e o problema do abastecimento de água potável na região. O

autor aponta o agravante quando a sociedade carece de informações básicas

acerca da situação dos recursos hídricos de sua cidade. “Já nas primeiras horas as

notícias se tornavam transtornos reais para a população”. Além disso, o episódio

serve para avaliar o papel do jornalismo ambiental e o problema do abastecimento

de água potável, que é mundial.

Se a imprensa quer mesmo ser relevante, deve encarar sua reponsabilidade em participar ativamente na formação ambiental do cidadão, não apenas nas calamidades, mas sobretudo no dia a dia. É preciso ter sempre em conta que a maioria das pessoas depende dos jornais como a única fonte

de informação sobre o meio ambiente.(FONSECA, 2004, p. 115).

De acordo com observação do autor, a imprensa não tem o direito de ser

irrelevante e precisa fornecer subsídios criteriosos ao debate público. Na sua

avaliação, a mídia prefere dar destaque às ecocatástrofes, conquistando a audiência

por meio do enfoque superficial, apressado ou distorcido dos fatos. Os veículos

precisam transmitir conteúdos com a máxima urgência, principalmente nos meios

digitais e é inadmissível perder espaço para concorrentes. “Quando temas

complexos são abordados por profissionais despreparados, o resultado evidente é a

difusão indiscriminada de equívocos e lugares-comuns – e com frequência são

apresentados como informação científica.”

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Em pesquisa, Fonseca apresenta a análise do professor de estatística

dinamarquês Bjorn Lomborg sobre a divulgação de dados ambientais. Segundo o

professor, muitas das afirmações catastróficas sobre o futuro do meio ambiente

contradizem as próprias pesquisas nas quais são fundamentadas. "Com a

proliferação do pânico, essas organizações conseguem influenciar governos e

empresas para garantir verbas para sua causa."

Para Traquina (2005), a referência a algo negativo é um critério de valor-

notícia.

[...] os autores apresentam alguns fatores para explicar [...] a) as notícias negativas satisfazem melhor o critério de frequência; b) as notícias negativas são mais facilmente consensuais e inequívocas no sentido de que haverá acordo acerca da interpretação do acontecimento como negativo; c) as notícias negativas são mais consoantes com, pelo menos, algumas pré-imagens dominantes do nosso tempo; e d) as notícias negativas são mais inesperadas do que as positivas, tanto no sentido de que os acontecimentos referidos são mais raros, como no sentido de que são menos previsíveis. (TRAQUINA, 2005, p.72 - 73).

Isso demonstra que as notícias e previsões de "ecocatástrofes" pretendem

arrancar emoções dos espectadores e serão construídas como as tragédias, com

personagens no papel de vítimas, vilões e heróis buscando obter melhores níveis de

audiência.

Marcelo Leite (2004) ressalta que a abrangência da cobertura ambiental

depende do levantamento de informações de boa qualidade por entidades

ambientalistas e pesquisadores. “O esforço de jornalistas sensíveis à questão

ambientalistas deve ser no sentido de tornar o tema menos dependente da

ocorrência de desastres, como incêndios florestais e derramamentos”.

O jornalista e biólogo, Eduardo Geraque também reconhece que a imprensa

brasileira e mundial ainda não despertou para o jornalismo ambiental. Para ele, além

das catástrofes, uma cobertura recorrente, aprofundada e multifacetada que

abordasse o aspecto da prevenção e conscientização praticamente não existe. Ele

defende que é preciso enxergar o problema com todas as suas nuances e

transversalidades, para depois exigir dos responsáveis algum tipo de solução. "Faz

parte do ofício, mergulhar no assunto. Entrar na espiral de relações, na teia de

significações, na história humana, no povo ribeirinho, e nos grandes empresários."

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André Trigueiro (2005) chama a atenção para a necessidade de perceber as

questões ambientais de maneira interligada com tudo e com todos, essencialmente

para produção de conteúdo eletrônico.

A falta de preparo dos jornalistas se revela no falso entendimento de que meio ambiente é sinônimo de fauna e flora e na dificuldade de perceber a dimensão transversal dos assuntos ambientais. Agilidade, abrangência, replicabilidade e permanência são as quatro grandes qualidades do jornalismo ambiental online. Tudo dependerá da habilidade daqueles que produzem a informação ambiental em perceber e usar as peculiaridades da internet. (TRIGUEIRO, 2005)

2.1 MUITA TEORIA, POUCA AÇÃO

Quinhentos participantes, incluindo especialistas designados pelo governo de

cem países e representantes de oitenta organismos internacionais,

intergovernamentais e não-governamentais participaram da Conferência

Internacional de Água e Meio Ambiente (ICWE) em Dublin, Irlanda, ocorrida em

janeiro de 1992. Deste encontro, especialistas diagnosticaram a situação futura dos

recursos hídricos no mundo e criaram a Declaração de Dublin e o Relatório da

Conferência.

Nestes documentos, os representantes firmaram o compromisso de reverter a

presente tendência de superconsumo, poluição, e desafios crescentes de secas e

enchentes, a níveis locais, nacionais e internacionais, baseados em quatro princípios

de orientação:

N° 1 - A água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para sustentar a vida, o desenvolvimento e o meio ambiente. N° 2 - Gerenciamento e desenvolvimento da água deverão ser baseado numa abordagem participativa, envolvendo uma maior conscientização dos legisladores e o público em geral. N° 3 - As mulheres formam papel principal na provisão, gerenciamento e proteção da água, como provedoras, usuárias e guardiãs do ambiente para o desenvolvimento e gerenciamento dos recursos hídricos. N° 4 - A água tem valor econômico em todos os usos competitivos e deve ser reconhecida como um bem econômico. (ONU, s/p)

A saúde e o bem-estar, a garantia do suprimento de alimentos, o

desenvolvimento industrial e os ecossistemas correspondentes, estão todos em

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risco, a não ser que a água e os recursos naturais sejam gerenciados mais

efetivamente na década presente e nas futuras, do que foi feito no passado.

O 2º Fórum Mundial de Água, em Haya na Holanda, ocorrido em 2000, e a

Conferência Internacional sobre Água Doce, em Bonn na Alemanha, em 2001,

colocaram a água no centro do debate sobre desenvolvimento sustentável e

estabeleceram metas para melhorar e organizar a gestão dos recursos hídricos

mundiais.

Uma série de discussões prosseguiu em 2002 com a Rio+10, em

Johanesburgo, e em 2003 com o 3º Fórum Mundial da Água, em Quioto, no Japão.

Em seguida, uma Resolução da ONU, assinada por 148 países, proclamou 2003

como o Ano Internacional da Água Doce. O objetivo destes encontros é encorajar

governos, empresas e organizações civis a participar da adoção de mecanismos de

gestão dos recursos hídricos, em suas localidades.

Todos estes encontros receberam ampla cobertura jornalística, que se

desdobraram em centenas de reportagens, publicações, boletins, livros, revistas e

outros documentos de divulgação. No entanto, segundo relatórios da ONU, muito

pouco tem sido cumprido desde então. De acordo com as Nações Unidas, a inércia

das lideranças e a ausência de uma consciência clara da população mundial sobre a

magnitude do problema resultam em um vazio de medidas corretivas necessárias.

Geraque (2004) acredita que o público, apesar de ter aumentado muito nos

últimos 10 anos, continua tímido com relação às problemáticas socioambientais e

mais interessado em política, economia, cultura e esportes. E questiona: "Será que o

meio ambiente não está de alguma forma interligado a todos esses temas?"

No tocante à atuação dos profissionais de comunicação, Geraque ressalta que

o jornalista não pode se sentir perdido na era da informação e globalização. Que as

tecnologias vieram à tona para transformar e facilitar os processos comunicacionais

de maneira geral, mas também distanciam, dispersam e desfocam os temas,

especialmente as questões ambientais, que são multifacetadas. E adverte que a

relação entre a biodiversidade e os meios de comunicação é muito mais do que

atual. Ela é uma pauta para o futuro também.

Neste contexto, o sociólogo alemão Ulrich Beck (1999) considera que a

globalização e o desenvolvimento de novas tecnologias de informação e

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comunicação transformaram a sociedade mundial atual, numa Sociedade de Risco.

Para Beck, os riscos ambientais, químicos, nucleares, genéticos, sociais, políticos, e

individuais, tendem cada vez mais a escapar do controle e da proteção tradicional da

sociedade. Em “O que é globalização? Equívocos do globalismo: respostas à

globalização” (1999), o autor utiliza a expressão Modernidade Reflexiva, para

ressaltar que, diante do risco, a própria sociedade se debruça sobre os seus

problemas, originários especialmente do progresso tecnológico/científico.

Sobre a importância da participação da sociedade nos processos de

comunicação, Márcio Fernandes apresenta o conceito, “jornalismo cívico”, nascido

na década de 1990, nos Estados Unidos. E utiliza como referência de estudo para

analisar o envolvimento da mídia em atividades que buscam melhorar a qualidade

de vida das pessoas, no Brasil.

Por jornalismo cívico, comunitário, de contato com a comunidade ou de interesse público, entende-se que seja a ação de “retomar contato com a comunidade, descobrindo o que os leitores querem e abrindo espaço para

discussões de temas de interesse público. (CASTILHO, 1997, p.17) A partir do estudo comparado dos modelos americano e brasileiro, (2002),

Fernandes concorda que o jornalismo cívico aumentou de forma mensurável o

conhecimento dos leitores sobre assuntos específicos. “Ao fornecermos aos leitores

meios de agir, eles irão agir”.

Observamos jornalismo de profundidade com ressonância mais autêntica com a comunidade, redescobrindo suas comunidades e rompendo alguns velhos estereótipos; Novas páginas, novos empregos, novos critérios, novas declarações de missão [...]; por fim, o jornalismo cívico produziu um ambiente que permitiu aos editores assumirem novos riscos. (SCHAFFER, 2001 s/p)

E defende uma imprensa mais cidadã, pautada num profissionalismo ético em alta

instância, não buscando o erro para denunciar, mas colaborando para que o erro

seja evitado. Fernandes também ressalta que o esquema “emissor-

canal/mensagem-receptor” não funciona mais apenas em um sentido, especialmente

no jornalismo online, onde há interação constante por iniciativa do receptor das

informações.

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3. AGENDAMENTO E EDIÇÃO

As ofertas crescentes de novas tecnologias conectadas à internet favorecem

de forma direta o fluxo de informações, em cadeia global. Por meio de uma

complexa rede de comunicação, diversas notícias fluem nos noticiários da TV, rádio,

jornais, revistas e internet, a todo instante. Na disputa frenética pela audiência, é

possível comprovar que, alguns temas têm prioridade de publicação em detrimento

de outros. Este estudo busca avaliar se as reportagens sobre o meio ambiente ficam

em segundo plano na hierarquização dos temas, dentro dos portais de notícias

brasileiros.

3.1 TEORIA DE GATEKEEPER

Pelos princípios da Teoria de Gatekeeper, o jornalista faz o papel de porteiro,

(gatekeeper em inglês) e atua como um filtro, com o poder de selecionar as notícias,

depurar as fontes e suas ações. Ao eleger determinados fatos e excluir outros, o

jornalista organiza, sistematiza, classifica e hierarquiza a notícia, emoldurando uma

realidade para as pessoas. Essa seleção sugere que a mídia propõe não só o que

pensar, como também como pensar.

Segundo Nelson Traquina (2005), esta teoria discute o papel dos meios de

comunicação na hora de determinar quais são os assuntos que estão no centro de

atenção e de ação públicas.

O processo de produção da informação é concebido como uma série de escolhas onde o fluxo de notícias tem de passar por diversos Gates, isto é, “portões” que são áreas de decisão em relação às quais o jornalista, isto é o gatekeeper, tem de decidir se vai escolher essa notícia ou não. Se a decisão for positiva, a notícia acaba por passar pelo “portão”; se não for, na prática significa a sua “morte”, a notícia não será publicada, pelo menos

nesse órgão de informação”. (TRAQUINA, 2005, p.150).

Felipe Pena (2005) descreve que este conceito foi criado a partir de um

estudo do fluxo de notícias dentro de um jornal, por David White, (1950). Durante

uma semana, o pesquisador acompanhou o trabalho de um jornalista, a quem

chamou de Mr. Gates, cuja função era determinar as reportagens que deveriam ser

selecionadas entre as centenas que chegavam diariamente à redação. E concluiu

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que as decisões foram subjetivas e arbitrárias, dependentes de juízos de valor

baseados no conjunto de experiências, atitudes e expectativas do gatekeeper. White

também observou que o fator tempo era determinante no momento da seleção e

quanto mais tarde chegasse a notícia, mais chance teria de ser descartada. Pena

acrescentou que as notícias filtradas e publicadas passam novamente pela seleção,

para o jornalista avaliar sua progressão, caso surjam desdobramentos e

continuações de fatos que possam se tornar geradores de nova audiência.

3.2 TEORIA DO AGENDAMENTO

Posteriormente, a partir de uma série de pesquisas, Maxwell McCombs e

Donald Shaw (1972) apresentaram a Teoria do Agendamento, ou Agenda Setting, e

reafirmaram o papel da mídia em determinar os assuntos que estão no centro da

atenção pública. Segundo Pena (2005), os efeitos midiáticos na vida social já foram

sugeridos por Walter Lippmann, em 1922, quando estabeleceu uma relação causal

entre a agenda midiática e a agenda pública. Na perspectiva de Lippmann, a

imprensa é a principal ligação entre os acontecimentos no mundo e suas imagens

no nosso imaginário. Ela funciona como agente modeladora do conhecimento e usa

os estereótipos como forma simplificada e distorcida da realidade, que não

percebemos.

Nesta perspectiva, o público tende a dar mais importância aos assuntos que

têm maior exposição nos meios de comunicação, sugerindo assim que é a mídia

quem diz sobre o que fará parte das conversas dos consumidores.

3.3 TEORIA DO NEWSMAKING

Além de passar pela seleção de prioridade e relevância, as reportagens

podem sofrer outras interferências. Em sua obra, Wolf cita a socióloga americana

Gaye Tuchman, que identificou três principais vertentes determinantes no resultado

final do noticiário: “a cultura profissional dos jornalistas, a organização do trabalho e

os processos produtivos.

A hipótese de newsmaking surgiu dos estudos de Kurt Lewin, (1947) sobre os

processos pelos quais uma informação passa até chegar à sua publicação e quais

os fatores que interferem na sua produção.

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Ao citar Tuchman, Wolf destaca que os veículos de comunicação devem

cumprir três obrigações para produzir o noticiário:

“Tornar possível o reconhecimento de um fato desconhecido como acontecimento notável;

Elaborar formas de relatar os acontecimentos que não tenham a pretensão de dar a cada fato ocorrido um tratamento idiossincrático;

Organizar, temporal e espacialmente, o trabalho de modo que os acontecimentos noticiáveis possam afluir e ser trabalhados de uma

forma planificada”.(TUCHMAN, 1978)

A partir das análises de Tuchman, Pena reconhece que o jornalista se torna

submisso a um planejamento produtivo de notícias, com procedimentos próprios e

limites organizacionais. “Embora o jornalista seja participante na construção da

realidade, não há uma autonomia incondicional em sua prática profissional”. Neste

sentido, as preferências pessoais na seleção e filtragem das notícias e uma suposta

intenção manipuladora por parte do jornalista seria limitada pelas imposições do

processo de produção jornalística.

Pena também destaca que diante da imprevisibilidade dos acontecimentos e

da complexibilidade da atividade jornalística, “as empresas precisam colocar ordem

no tempo e no espaço. Para isso, estabelecem determinadas práticas unificadas na

produção de notícias.”

Uma das práticas de que se ocupa a Teoria do Newsmaking é a

noticiabilidade, baseada nos valores-notícia, que são os critérios usados para definir

quais acontecimentos são significativos e interessantes para serem transformados

em notícia.

Porém Tuchman adverte que apesar da notícia ser elaborada de acordo com

a lógica estabelecida pelo formato, há sempre uma recontextualização de seu foco

durante a edição. O que vai ao encontro do entendimento de Peter Berger e Thomas

Luckmann, de que não se pode encarar os pressupostos de processo de produção e

cultura jornalística como determinantes. “Não posso existir na vida cotidiana sem

estar continuamente em interação e comunicação com os outros, não apenas em

relação aos indivíduos, mas também de instituições, culturas e forças sociais".

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4 FONTES

A velocidade sempre foi um “valor” para o jornalismo, porém, o que favorece a

velocidade na transmissão de informações pode conduzir ao automatismo e se torna

contraditório à promessa de precisão desse trabalho comprometido com a apuração

e transmissão de informações confiáveis a um público cada vez mais amplo.

Segundo Nilson Lage (2001, p. 49), a maioria das matérias jornalísticas

possui informações passadas pelas instituições ou personagens que testemunham

ou participam de eventos de interesse público. Cabe aos repórteres selecionar e

questionar esses personagens, colher dados e depoimentos, situá-los em algum

contexto e processá-los segundo técnicas jornalísticas.

Além dos órgãos oficiais, cientistas, pesquisadores e ambientalistas precisam

entrar no rol dos entrevistados. Porém, Felipe Pena (2005) chama a atenção para a

tendência subjetiva da fonte, na interpretação de um fato.

Sua visão sobre determinado acontecimento está mediada pelos “óculos” de sua cultura, sua linguagem, seus preconceitos. E, dependendo do grau de miopia, a lente de aumento pode ser direcionada para seus próprios interesses. (PENA, 2005, p. 57).

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Para Cremilda Medina, a procura dos jornalistas por fontes oficiais e o

limitado uso de outras vozes têm raízes históricas no Brasil.

O autoritarismo institucional, nas ditaduras brasileiras, também reforçou a voz oficial, em detrimento das vozes anônimas, do debate nacional. Verificou-se a extrema centralização das fontes de informação em todos os temas (pautas) que diziam respeito diretamente a qualquer cidadão

brasileiro.(MEDINA: 2000, p.36).

O critério de escolha das fontes passa pelo conceito de representatividade e

credibilidade. Normalmente quem não exerce poder econômico não tem voz. Medina

ressalta a importância da polifonia na imprensa. A seleção das fontes de informação

terá de se enriquecer através da pluralidade de vozes e, ao mesmo tempo, da

qualificação humanizadora dos entrevistados. (MEDINA: 2000, p. 37).

Ao analisar o relacionamento do jornalista com suas fontes, Nilson Lage

ressalta que o resultado de uma consulta à fonte depende, basicamente, da intenção

que essa fonte atribui ao repórter.

Cada indivíduo entende a realidade conforme seu próprio contexto e seu próprio estoque de memória. Tomados como hipóteses mais ou menos confiáveis, refletem crenças da pessoa, adquiridas por observação,

informação ou inferência. (LAGE, 2001, p. 54)

Devido à grande importância que têm no processo de produção do conteúdo

jornalístico, Lage classificou as fontes oficiais, oficiosas e independentes, primárias e

secundárias, testemunhais e os experts:

a) Fontes oficiais: são mantidas pelo Estado; por instituições que preservam algum poder de Estado, como as juntas comerciais e os cartórios de ofício; empresas e organizações, sindicatos, associações, fundações etc.

b) Fontes oficiosas: são aquelas que, reconhecidamente ligadas a uma entidade ou indivíduo, não estão, porém, autorizadas a falar em nome dela ou dele, o que significa que o que disserem poderá ser desmentido.

c) Fontes independentes: são aquelas desvinculadas de uma relação de poder ou interesse específico em cada caso.

d) Fontes primárias: são aquelas em que o jornalista se baseia para colher o essencial de uma matéria; fornecem fatos, versões e números.

e) Fontes secundárias: são consultadas para a preparação de uma pauta ou a construção das premissas genéricas ou contextos ambientais.

f) O testemunho é normalmente colorido pela emotividade e modificado pela perspectiva: pode-se testemunhar uma guerra sem presenciar uma batalha, assistindo a um pedaço de uma

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(dificilmente se terá acesso ao todo), ou vendo várias; do lado do vencedor ou do vencido; identificando-se com as vítimas ou com os agressores.

g) Experts são geralmente fontes secundárias, que se procuram em

busca de versões ou interpretações de eventos. (LAGE, 2001)

Felipe Pena analisa que as fontes oficiais são sempre as mais tendenciosas.

"Têm interesses a preservar, informações a esconder e beneficiam-se da própria

lógica do poder que as colocam na condição de “instituição”. Governo, institutos,

empresas, associações e demais organizações estão nessa categoria".

Depois de passar por situações constrangedoras com suas publicações, o

jornal The Washington Post estabeleceu regras para os jornalistas, quanto ao

trabalho com as fontes.

Todas as declarações devem ser transcritas exatamente como foram colhidas pelos repórteres;

Se o repórter quiser utilizar uma fonte confidencial, sua identidade deverá ser revelada a pelo menos um editor;

Entrevistas em off, sem que a fonte se identifique de forma alguma não serão mais publicadas. É recomendável ao repórter que não se envolva mais nesse tipo de conversa;

Informações sem atribuição de fonte, mas com alguma identificação,

podem ser utilizadas desde que respeitada regra 2.(PENA)

No jornalismo online, a internet permite ao jornalista obter rapidamente

uma infinidade de informações para complementar suas matérias e contribuir para

contextualização e aprofundamento dos temas abordados. Mas, por outro lado, essa

prática traz também a padronização do conteúdo por meio do uso frequente das

mesmas fontes.

Elias Machado estudou o ciberespaço como fonte para os jornalistas e

concluiu que:

A criação da tecnologia digital desencadeia um processo de utilização das redes telemáticas que apresenta duas vertentes: a) as redes são uma espécie de ferramenta para nutrir os jornalistas das organizações convencionais com conteúdo complementares aos coletados pelos métodos tradicionais e b) as redes são um ambiente diferenciado com capacidade de fundar uma modalidade distinta de jornalismo, em que todas as etapas do sistema de produção de conteúdos jornalísticos permanece circunscrita aos

limites do ciberespaço.(MACHADO, 2000)

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5 WEBJORNALISMO

Diferentes nomenclaturas têm sido utilizadas para designar esta prática

jornalística, como: ciberjornalismo, jornalismo eletrônico, jornalismo online,

jornalismo digital, jornalismo hipertextual. Para João Messias Canavilhas (2001),

essa nomenclatura está direta ou indiretamente relacionada com o suporte técnico.

Assim como para designar o jornalismo desenvolvido para a televisão, utilizamos

“telejornalismo”; para o rádio “radiojornalismo”; podemos usar “webjornalismo” para

falar o jornalismo feito para a web.

O webjornalismo conquistou uma infinidade de possibilidades de explorar

todas as potencialidades que a internet oferece, desenvolvendo um produto

completamente novo: a webnotícia. Neste sentido, Canavilhas (2001) reconhece

que a utilização de recursos multimídias na produção de conteúdo permite ao leitor

explorar a notícia de uma forma pessoal, por meio da "leitura multilinear.” Por outro

lado, também exige que o jornalista produza a reportagem oferecendo caminhos,

que facilitem a navegação. Neste contexto, nasce um novo perfil de profissional,

produtor de conteúdos multimídia jornalístico – o webjornalista.

O crescimento da www foi rápido e não parou desde então. Pesquisadores

em todo o mundo se interessam em estudar suas características e aprimorar sua

prática. No meio jornalístico, já foram identificados alguns elementos importantes,

como a interatividade, customização de conteúdo, hipertextualidade e

multimidialidade, convergência, interatividade, personalização e memória.

Conforme Mielniczuk (2001) a interatividade diz respeito à capacidade do

webjornalismo de fazer com que o leitor/ usuário sinta-se parte do processo de

produção do conteúdo. Esta prática pode acontecer por meio de e-mails entre

leitores e jornalistas; como é feito em sites que abrigam fóruns de discussões; e/ou

através de chats com jornalistas.

A multimidialidade consiste na convergência dos formatos das mídias

tradicionais (imagem, texto e som) na narração do fato jornalístico; e, a memória

aponta para o acúmulo das informações, fato mais viável técnica e economicamente

no webjornalismo do que em outras mídias. Já a customização do conteúdo ou

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personalização, também denominada de individualização, consiste na existência de

produtos jornalísticos configurados de acordo com os interesses individuais do

usuário.

A hipertextualidade, por sua vez, traz a possibilidade de interconectar textos

através de links e a partir do texto noticioso, apontar-se para outros textos: como

para releases, sites relacionados ao assunto; ou ao material de arquivo dos jornais,

por exemplo.

Dos seus estudos sobre jornalismo on line, Luciana Mielniczuk destaca a

relevância dos links na narrativa hipertextual e apresenta suas características:

interatividade, hipertextualidade, multimidialidade, personalização, memória e

atualização contínua. Segundo a autora essas ferramentas de publicação têm uma

função paratextual que facilita a disponibilização de informações na web.

“Usualmente cada empresa desenvolve o seu próprio sistema, visando atender às

suas necessidades. Esses sistemas se constituem em soluções para otimizar o

trabalho do jornalista e reduzir a necessidade de que ele tenha conhecimentos

técnicos sobre o processo de produção e disponibilização do material na web”

(Mielniczuk, 2003, p. 178).

A análise sobre o papel da web na conscientização ecológica do cidadão

precisa levar em conta também o perfil dos navegantes na internet. Ao estudar o

conteúdo jornalístico nos portais, Pollyana Ferrari descreve a visão de Pierre Lévy

sobre este viés, “O ser humano é preguiçoso e gosta de ter acesso fácil a tudo o que

precisa”. Neste entendimento, ele aponta a existência de dois tipos:

Os que procuram uma informação específica e os que navegam interessados vagamente por um assunto, mas prontos a desviar a qualquer instante para links mais interessantes – sendo estes últimos chamados por ele de navegantes “de pilhagem”, o que me faz chegar à conclusão de que

esta é a navegação típica dos leitores dos portais”.(FERRARI, 2003. p. 20)

A autora também ressalta que alguns veículos começaram a moldar produtos

editoriais interativos com qualidades convidativas e grande abrangência de temas e

personalização. “A viagem é lúdica e o apelo visual e textual falam mais alto”. Porém

adverte que a mídia é nova e está em mutação, por isso o papel do jornalista na

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internet é fundamental, na divulgação de valores e atitudes que promovem um

comportamento dirigido à transformação da realidade, tanto em seus aspectos

naturais como sociais.

[...] Criamos uma sociedade com uma consciência sem história, sem passado, voltada para atemporalidade da “inteligência artificial”. Vivemos a sociedade da informação que não informa, apenas absorve grandes quantidades de dados”. [...] “Os portais são os maiores contribuintes para a formação deste leitor passivo e acostumado a dar uma olhada em diferentes

janelas, mesmo sem se aprofundar em nada”.(FERRARI, 2003. p. 21).

Para a pesquisadora, a internet muda os processos e também os resultados,

impondo novas necessidades de adequação e crítica ao modo de produção.

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6 O MÉTODO

Para alcançar o objetivo proposto de avaliar a cobertura jornalística sobre a

crise da água uma opção foi utilizar estratégias metodológicas a fim de descrever,

analisar e comparar os conteúdos identificados pelos veículos como “Especial” no

ano de 2014. Para amparar a observação, uma referência é a “análise de conteúdo”,

descrita por Bardin (2006), procedimento elaborado nos Estados Unidos desde o

início do século 20, a partir de um método desencadeado pela contagem e pela

medida.

Bardin ressalta que em toda e qualquer atividade científica, o material a ser

trabalhado deve passar por um processo de categorização. A descrição analítica

funciona segundo procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo

das mensagens.

[...]A partir do momento em que a análise de conteúdo decide codificar o seu material, deve produzir um sistema de categorias. A categorização tem como primeiro objetivo fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados em bruto”. (BARDIN: 2006,p.103)

Dentro do procedimento, estabelece-se relação direta com a estratégia para a análise que a autora denomina como “categorial”. Nessa estrutura, os elementos são dispostos em “caixas” conforme as características comuns avaliadas.

É o método das categorias, espécies de gavetas e rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivas da mensagem. É portanto um método taxionômico bem concebido para satisfazer os colecionadores preocupados em introduzir uma ordem,

segundo certos critérios, na desordem aparente (BARDIN, 2006,p.117)

O método de análise de conteúdo consiste em tratar a informação a partir de

um roteiro específico. Cada fase do roteiro segue regras bastante específicas,

podendo ser utilizado tanto em pesquisas quantitativas quanto em pesquisas

qualitativas.

Bardin divide o roteiro de estudo em 3 etapas:

1) Etapa de pré-análise – Nesta fase inicial, escolhe-se os documentos,

formula-se hipóteses e objetivos para a pesquisa, que pode ser dividida em

subfases, que incluem a leitura flutuante; escolha dos documentos; formulação de

hipóteses e dos objetivos; referenciação dos índices, elaboração de indicadores e a

preparação do material;

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2) Etapa de exploração do material – Aplica-se as técnicas específicas

segundo os objetivos propostos para o estudo. Consiste “nas operações

decodificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente

formuladas”. (BARDIN,2006).

3) Etapa de tratamento dos resultados e interpretações do conteúdo obtido.

Esta fase liga os resultados obtidos ao escopo teórico, e permite avançar para

conclusões que levem ao avanço da pesquisa.

De forma empírica, as informações dos textos são divididas, por esta

pesquisadora, em três categorias:

1. Categoria Educativa:

A fim de identificar se as matérias têm teor educativo, buscou-se conceitos

que instruem, ensinam, acrescentam conhecimento e promovam conscientização

ecológica e mudança de hábitos de consumo da água. Neste contexto, serão

pesquisados termos relacionados à prevenção, economia, controle, consumo,

racionamento, desperdício.

2. Categoria Factual:

Com o objetivo de reconhecer se as reportagens têm abordagens factuais

serão identificados os relatos que se atém aos fatos reais atuais, sem propor

interpretações, nem previsões, nem conexões com fatos semelhantes ocorridos em

outros locais, ou períodos.

3. Categoria Política:

Com o propósito de caracterizar se as reportagens apresentam abordagens

políticas, serão observadas referências aos governos federal, estadual e municipal,

bem como aos partidos políticos, especialmente PT, PSDB e PMDB. Também serão

examinadas de que forma as citações políticas estabelecem relações com a questão

da água.

Para fazer essa divisão, a sistemática inclui avaliar qual a priorização do

conteúdo em cada um dos parágrafos do texto. Isso não quer dizer que em um

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parágrafo que seja prioritariamente educativo não exista informação factual, por

exemplo.

Os questionamentos principais para referenciar este conteúdo são os

seguintes:

a) Sobre o que trata a reportagem?

b) Quais são as principais personagens e fontes do texto?

c) Há materiais multimídia? Quais assuntos?

d) Há links para fora do texto?

e) Há possibilidade de interatividade?

f) Exemplos de palavras que indiciam as categorias (factual, educativa e

política)

Para este estudo, foram selecionadas três reportagens especiais dos portais

mais acessados do país, G1, UOL, Folha. O trabalho tem como objeto a abordagem

do webjornalismo sobre a situação da água dos Estados de São Paulo e

Pernambuco, por meio das seguintes reportagens:

Crise hídrica em São Paulo já gerou mais de 50 ações e inquéritos no MP,

publicada em 18/08/2015, no portal de notícias G1.

Especial Água, TAB, conteúdo produzido semanalmente pela equipe do UOL.

Gente demais. A maior metrópole brasileira chega ao limite, Folha de São

Paulo.

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7 A ANÁLISE

Neste capítulo, são descritas as avaliações dos materiais elencados conforme

esboçado no método.

7.1 Reportagem 1: “Crise hídrica em São Paulo já gerou mais de 50 ações e

inquéritos no MP”. Veículo: Portal de notícias G1

a) Sobre o que trata a reportagem?

A publicação aborda a crise no abastecimento de água potável no Estado de São

Paulo. Chama a atenção logo no título pela questão jurídica do problema. Após

atestar com números de ações e inquéritos na justiça, o lead3 ressalta cortes no

abastecimento como consequência, sugere falta de transparência na divulgação e

informa sobre a abertura de audiência pública para debater assunto.

O corpo do texto segue essencialmente focado no aspecto jurídico da crise

hídrica na região. Cita o pedido negado pelo juiz para interromper a obra de

interligação dos sistemas Rio Grande e Alto Tietê, devido às licenças ambientais. E

acrescenta que a maioria dos processos resultou num Termo de Ajustamento de

Conduta (TAC), sem explicar o que é o Termo.

b) Quais são as principais personagens e fontes do texto?

A reportagem não apresenta declaração de fonte oficial nem depoimentos de

cidadãos. Na elaboração do conteúdo, foram narrados procedimentos adotados pelo

Ministério Público e pela Defensoria Pública, sem citar nomes e afirmações dos seus

representantes. Também foi mencionado o juiz da 3ª Vara Pública, Luiz Manuel

Pires, mas sem pronunciamento entre aspas.

3Lead, é uma expressão inglesa que significa "guia" ou "o que vem a seguir". Em jornalismo é a

primeira parte de uma noticia que fornece ao leitor a informação básica sobre o tema e pretende prender-lhe o interesse.

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c) Há materiais multimídia? Quais assuntos?

Ao final da página, é possível observar teor educativo no pequeno vídeo

“Entenda a crise da água em SP”. O tema é descrito de forma simples, ilustrativa,

bem resumida e didática.

d) Há links para fora do texto?

A partir do diagnóstico da pesquisadora Luciana Mielniczuk, o link precisa ser

encarado como um elemento integrante de uma narrativa verossímil e que pretende

dar conhecimento ao público de fatos correlacionados ao conteúdo apresentado.

Neste sentido, observa-se que a reportagem oferece links para fora do texto,

porém todos são direcionados para publicações do próprio portal de notícias G1. O

que comprova a intenção de segurar o leitor e formar sua opinião em conformidade

com a linha editorial do portal.

O primeiro bloco de links conduz para conteúdos com viés educativo, factual e

político.

Blog: como economizar água

E se o Cantareira secar?

O nível dos reservatórios

Billings é a saída?

Como é a multa por consumo?

Mapa do consumo

A seleção de links no segundo bloco direciona para conteúdos relacionados

aos Órgãos Públicos, como a Agência Nacional de Águas (ANA), o Departamento de

Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE) e a Companhia de

Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Uma das matérias divulga

informações que fazem parte do parecer do Tribunal de Contas do Estado sobre as

contas do governador Geraldo Alckmin (PSDB), mas sem declarações de fontes do

Tribunal e nem do governo estadual.

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Proposta-guia para nova licença do Cantareira sai em setembro

MP quer barrar principal obra contra falta d’água em SP

Sabesp prioriza interligação e deixa obra para tratar esgoto em 2º plano

Após frear consumo, estado de SP volta a gastar mais água no inverno

TCE culpa governo de SP por crise hídrica e diz que faltou planejamento

Não houve produção de fotos para esta reportagem, as imagens que mostram

parte da Represa do Sistema Cantareira e da obra de interligação dos sistemas Rio

Grande e Alto Tietê foram cedidas pelo Estadão e pela Globo News.

e) Há possibilidade de interatividade?

Como a maioria das publicações online do G1, a página oferece a possibilidade

de compartilhamento nas redes sociais, com direcionamento direto para o Facebook,

Twitter, Google e Pinterest. Também disponibiliza espaço para comentários de

responsabilidade exclusiva de seus autores, que não representam a opinião do site.

f) Exemplos de palavras que aparecem no vídeo e no texto e indiciam as

categorias definidas no método:

Educativa: “A cultura do uso racional e inteligente da água precisa continuar

com chuva ou sem chuva”, afirmado no final do vídeo.

Factual: “Desde fevereiro de 2014”’, “Até o momento”, “está em andamento”,

“apura denúncias”, “As investigações dos promotores resultaram em nove

ações”, “Uma das ações do MP aceita pela Justiça”, “a Promotoria quer

interromper a obra”, “O MP contestou na Justiça”, “o juiz não aceitou o

primeiro pedido do MP”, “a Justiça voltará a analisar o pedido”. “Desde

março”, “audiência pública na quinta (20) e sexta-feira (21)”. “Inscrições até às

18h, do dia 18 de agosto”, descritos no texto.

Política: “Então a culpa é só de São Pedro?”, “O governo de São Paulo negou

o racionamento por meses em 2014”, “O governo disse que a falta de

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abastecimento foi pontual”. [...] “As obras só foram divulgadas durante o

período de crise”, relatados no vídeo.

As informações analisadas nesta reportagem nos permitem afirmar que a

abordagem é essencialmente factual na manchete e no corpo do texto, com um leve

viés educativo e político no vídeo.

7.2 Reportagem 2: Especial Água – TAB, conteúdo produzido pelo portal de

notícias UOL.

a) Sobre o que trata a reportagem?

Essa publicação on-line chama a atenção de maneira bem mais contundente

para a questão do abastecimento de água na Grande São Paulo. Logo no título, nem

considera o problema como uma crise, que poderia ser passageira. Delibera de

maneira categórica de que: “Tem, mas acabou”.

A manchete destaca a ideia do, “por quê podemos morrer de sede”, com a

justificativa de viés político. Logo na primeira linha ressalta que, “O Governo do

Estado de São Paulo, que negou durante meses o racionamento de água,

finalmente admitiu: não vai ter água para todo mundo o tempo inteiro na cidade”.

A partir deste viés político, o conteúdo se desenvolve imperativo e alarmante,

com afirmações como, “Tudo o que a população se acostumou a fazer está com os

dias contados”, “como se a torneira fosse uma miniatura das cataratas do Iguaçu” e

“a combinação de água potável com preço baixo não tem futuro”.

Uma parte do texto ameniza o tom “exagerado”, com referências históricas da

cidade. “Os primeiros paulistanos usaram os rios Tietê e Tamanduateí, hoje dois

esgotos fedorentos, como uma sofisticada rede de abastecimento e defesa”. Neste

caminho tenta explicar a origem da escassez hídrica, contextualizando, “foi essa

água, distribuída em rios e córregos, que impulsionou o crescimento e

desenvolvimento dessa megalópole ao longo dos últimos quatro séculos”. Aponta a

causa do problema “São Paulo tomou uma decisão dura e, vista de hoje, radical:

colocou os rios embaixo da terra”. E salienta também que além da escassez hídrica,

estas decisões provocaram alterações nas condições climáticas da cidade.

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Em seguida, o aspecto político é reforçado com críticas à gestão pública.

Sugere que a Sabesp, empresa controlada pelo Governo de São Paulo, “já sabia

que a seca estava por perto - e não fez muita coisa”. Alerta que a má administração

da companhia ocasiona consequências graves como o desperdício, “um em cada

quatro litros de água é perdido pela Sabesp no caminho”. Reprova sua gestão ao

afirmar que “ela acabou fazendo um serviço ruim tanto para ela quanto para os

acionistas”. E aponta o culpado com o resgate histórico de que “o estado é

governado pelo PSDB desde 1994 - então, não houve aquele problema tradicional

de um partido sabotar os projetos de outro”, deliberadamente.

O autor ameniza a crise quando sugere que a salvação poderia vir da

tecnologia utilizada em outros países. “Nanotecnologia, Bill Gates e dessalinizadores

são trunfos para a humanidade seguir hidratada”, como no trecho: “Pesquisadores

da Índia estão usando nanotecnologia para filtrar água, matando bactérias e

limpando impurezas”. E também na passagem: “Outras tecnologias, desenvolvidas

na Europa, apostam em compostos químicos para tratar água a preços cada vez

mais baixos, reduzindo o custo pela metade”.

O texto do Uol também apresenta a inovação tecnológica no tratamento de

água salgada como uma novidade e cita exemplo de outro país, “em Dubai, a aposta

é em dessalinizadores potentes, capazes de transformar milhões de litros de água

do mar em líquido pronto para beber”. No entanto, o relato não menciona projetos

brasileiros semelhantes, como o sistema de dessalinização de água salobra no

semiárido nordestino, desenvolvido pela Embrapa e implantado em parceria com

instituições federais, estaduais, municipais e sociedade civil. Informações sobre

experiências brasileiras como esta estão disponíveis nos portais dos Órgãos

públicos.

b) Quais são as principais personagens e fontes do texto?

As fontes relacionadas são a Sociedade Americana para o Avanço da

Ciência, um estudo do IPCC, o painel sobre mudanças climáticas da ONU,

(Organização das Nações Unidas) e o químico Adilson Nunes Fernandes, da

SABESP. As citações são de José Galizia Tundisi, uma das maiores autoridades

brasileiras em ecologia retirada de um artigo, escrito para um grande estudo feito

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pelo Instituto Socioambiental, e Cláudio Pereira de Oliveira, geógrafo e vice-

presidente da ABAS (Associação Brasileira de Águas Subterrâneas). Todas essas

consideradas fontes oficiais.

c) Há materiais multimídia? Quais assuntos?

A programação visual da publicação “Especial Água” é bem elaborada e impactante,

com aplicação intercalada de pequenos textos, belas imagens tratadas, vídeos,

mapas, ilustrações e infográficos. A força dos recursos multimídia corresponde ao

aspecto leve e atrativo de conteúdo, indicado pelo jornalismo online.

O trabalho de vídeografismo é didático. O roteiro é simples, objetivo e

educativo. O áudio é estimulante com aplicação de diversos efeitos sonoros. As

imagens recortadas da internet são de origens diversas, como da agência de

notícias BBC, ONU e internautas anônimos.

d) Há links para fora do texto? Não.

e) Há possibilidade de interatividade?

É possível compartilhar a página UOL diretamente com o Google + ,Facebook

e Twitter. Também é possível curtir, acompanhar pelo Facebook e receber o

conteúdo por e-mail. Mas não existe espaço para comentários e nenhuma

interatividade instantânea com o internauta.

f) Exemplos de palavras que indiciam as categorias:

Educativa: “Não vai dar mais para lavar a louça como se a torneira

fosse uma miniatura das cataratas do Iguaçu”, “a mangueira não

pode mais ser vassoura”, “o banho é só para tirar o suor”, “chegou a

hora da agricultura e da indústria trabalharem contra o desperdício”,

“isso tem de mudar”, “a prevenção”, “ah, sempre é bom reforçar:

reciclagem também ajuda”, “mais um ponto na gincana da

economia”, “também vale, claro, ter mais cuidado”, “daria para

melhorar? Sim”, “por isso que o cuidado tem de ser constante”,

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“você só pode abrir poço com autorização”, “se todo mundo sair por

aí cavando poço sem rumo, uma hora vamos arrebentar os lençóis”.

“isso é ilegal”, “o problema nunca foi bem de falta de água. O

grande problema é a relação da população com ela”, “chegou a

hora da população de São Paulo mudar sua relação com a água. A

era do banho ostentação precisa acabar”, “se a população não

fechar a torneira enquanto estiver lavando louça”, “se não substituir

a mangueira pela vassoura”, “se as indústrias e a agricultura não

ajudarem”, “se o governo não fizer as campanhas de informação

que precisam ser feitas, vai faltar água de novo”.

Factual: “Ao longo dos últimos anos”, “onde hoje fica”, “ao longo dos

últimos quatro séculos”, “dos últimos 1200 anos”, “no começo de

2014”, “feito em 2010”, “em 2012”, “no verão de 2009/2010”

Política: “O Governo do Estado de São Paulo”, “o despreparo do

governo”, “Sabesp, empresa controlada pelo Governo de São

Paulo”, “políticas no governo e na administração da Sabesp”, “o

estado é governado pelo PSDB desde 1994”, “o Governo Federal”,

As informações analisadas nesta reportagem “Especial Água” do portal de

notícias UOL, nos permitem afirmar que a abordagem é predominantemente

educativa.

7.3 Reportagem 3: “Gente demais. A maior metrópole brasileira chega ao limite”, do

site da Folha.

a) Sobre o que trata a reportagem?

A publicação da Folha aponta as causas da escassez de água na Grande São

Paulo, com resultados de apurações em áreas de ocupações irregulares, de

desmatamento e agropecuária. Alerta que esses impactos “agravam os minguados

mananciais da Grande São Paulo e a deixam sem reservas para enfrentar

estiagens, que podem se agravar se o clima continuar mudando”.

A investigação dos repórteres descobre regiões às margens de rios e represas

degradadas pelo crescimento desordenado. Faz a denúncia de invasão patrocinada

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pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) de uma área com mais de 40

nascentes que abastecem a Guarapiranga. E dá o tom político ao apontar como

responsável o prefeito Fernando Haddad do PT, que revogou o decreto que

transformava a área em parque, e aprovou o novo Plano Diretor com a figura jurídica

das Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis). “A Nova Palestina tomou um pedaço

da área total de preservação de 1,1 milhão de m²”, [...] a ocupação irregular dos

mananciais acaba por levar o esgoto e o lixo domésticos para o reservatório de

abastecimento”.

Em seguida, o conteúdo retrata o desmatamento em áreas rurais fundamentada

em dados do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), que estuda há mais de 30

anos o ambiente natural de regiões como a do Cantareira. “De acordo com

levantamento feito pela ONG, 49% do entorno da represa foram ocupados por

pastos. Outros 38% ainda são florestados, e em 8% a mata está em recomposição.

Os restantes 5% estão tomados por eucaliptos”.

Também alerta para as mudanças climáticas na capital paulista, citando a

formação do conhecido efeito de ilha urbana de calor. “Quanto mais cresce e se

adensa, a cidade, impermeabilizada por grandes massas de asfalto e concreto,

armazena mais radiação solar. Com isso, aquece a atmosfera sobre ela, superando

em até 3°C a temperatura da zona rural que a circunda, o que favorece a formação

de nuvens e a precipitação”.

b) Quais são as principais personagens e fontes do texto?

Sobre a questão da ocupação das áreas de nascentes, a reportagem ouviu

somente o engenheiro da empresa contratada pelo MTST para urbanizar a área de

300 mil m², próxima à Guarapiranga. Para apresentar o impacto do desmatamento e

da agricultura no abastecimento de água, foram citadas declarações do biólogo do

Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), ONG que estuda ambientes naturais de

regiões como o Cantareira. Também são mencionadas fonte oficiais como a

secretaria estadual do Meio Ambiente, Sabesp, Ministério da Ciência, Tecnologia e

Informação, Agência Nacional de Águas (ANA) e a OMS (Organização Mundial da

Saúde)

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c) Há materiais multimídia? Quais assuntos?

A reportagem multimídia traça uma radiografia da crise hídrica na Grande São

Paulo por meio de textos apurados, imagens tratadas, mapas, infográficos

explicativos e vídeos com depoimento de moradores da região. E conclui que, “a

recuperação ambiental, a conservação dos mananciais e a redução do desperdício

formam o tripé capaz de impedir que a água acabe em áreas muito populosas”.

d) Há links para fora do texto? Não.

e) Há possibilidade de interatividade? Não. Porém é possível compartilhar a

publicação no Facebook e Twitter.

f) Exemplos de palavras que indiciam as categorias

Educativa: “O solo florestado funciona como uma esponja e favorece a

lenta infiltração da água para o lençol freático, que ajuda a encher as

represas”, “sem a cobertura das árvores, a água escorre mais rapidamente

pelo terreno – causando erosão – e provoca enchentes mais à frente”, “a

recuperação ambiental, a conservação dos mananciais e a redução do

desperdício formam o tripé capaz de impedir que a água acabe em áreas

muito populosas”, “quando chove, a água se infiltra, e só uma pequena

parte escorre barranco abaixo”, “quanto mais cresce e se adensa, a

cidade, impermeabilizada por grandes massas de asfalto e concreto,

armazena mais radiação solar”, “com isso, aquece a atmosfera sobre ela,

superando em até 3°C a temperatura da zona rural que a circunda, o que

favorece a formação de nuvens e a precipitação”, “limpar um litro de água

contaminada custa ao menos dez vezes mais do que tratar um litro

produzido em área com floresta. agravado pela despreocupação dos

brasileiros com seus mananciais”, “o desperdício de água é enorme entre

paulistanos e paulistas”, “o mesmo raciocínio vale para a reutilização”,

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“captar água da chuva para lavar garagens e carros ou regar o jardim é

providência óbvia, mas pouco praticada em São Paulo”.

Factual : “início 2014”, “em novembro de 2013”, “no final de março de

2014”, “milhares de pessoas que ocupam a Nova Palestina”, “produzem

cerca de 6 milhões de metros cúbicos de água por dia”, “60 % dos

municípios paulistas são atendidos pela Sabesp”, “46% dos municípios”, “5

milhões de pessoas nas regiões”, “a atual estiagem”, “estão há dois anos”,

“com a atual crise na região metropolitana”, “o consumo nos 33

municípios aumentou 26%”, “enquanto a produção de água tratada

cresceu apenas 9%”, “o crescimento anual da população foi de cerca de

150 mil pessoas”, “os padrões de consumo se elevaram”, “Sabesp fornece

6 milhões de m³ / dia”, “metade vem de fora da região metropolitana”, “2,8

milhões de m³ / dia”, “hoje, o consumo é de 175 litros”, “a perda é de

24,4%”, “valor abaixo da média nacional (40,7%)”. “Alemanha (11%) e

dos EUA (16%)”, “entre 2008 e 2013”, “a Sabesp deixou de investir 37%

do previsto em obras”, “os cerca de 12 mil poços artesianos da região já

retiram 864 mil m³/dia”, “um volume de água equivalente à metade da

vazão reduzida”, “na crise do sistema Cantareira”, “1,7 milhão de m³/dia”,

“antes, a retirada era de 2,7 milhões de m³/dia”, “produzem em torno de 6

milhões de m³/dia”, “o São Lourenço, que custará R$ 2,2 bilhões

adicionará 432 mil m³/dia – um terço do 1,5 milhão de m³ que a estatal

desperdiça por dia”.

Política: “O prefeito Fernando Haddad (PT)”, “MTST”, “em lugar de

campanhas mais incisivas de conservação, o governo opta por buscar

água em locais cada vez mais distantes”, “em vez de mais represas,

precisamos de uma gestão sustentável dos recursos hídricos”, “ex-

secretária do Meio Ambiente (governo Mário Covas)”.

A partir do levantamento e análise das informações, observa-se que a reportagem

mantém uma abordagem equilibrada entre o viés educativo e o factual.

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CONCLUSÃO

Este trabalho partiu do incômodo com o crescimento da degradação do meio

ambiente, comprovada pelo aumento de lixões, poluição do ar, do solo e das águas,

tráfico e riscos de extinção de espécies da fauna e da flora, desmatamentos e

diversos desastres ambientais como enchentes, secas, incêndios, erosões,

desabamentos de encostas e rompimentos de barragens de resíduos tóxicos.

A interrupção do abastecimento de água para a população da região

metropolitana de São Paulo serviu como objeto de estudo, e atendeu o objetivo de

analisar a cobertura do jornalismo on line, no momento de crise hídrica, em 2014.

A análise das reportagens especiais dos portais de notícias mais acessados

no país G1, UOL e Folha de São Paulo nos permite concluir que o jornalismo na web

consegue produzir conteúdos atraentes que favorecem a conscientização dos

internautas sobre a situação dos recursos hídricos na região.

De forma empírica, a utilização do método análise de conteúdo como

referência possibilitou a categorização das informações nos textos, vídeos, mapas,

infográficos pelo viés educativo/ambiental, factual e político.

O resultado do levantamento e avaliação das categorias identificadas serviu

de base para atestar que o jornalismo on line oferece conteúdos de natureza factual,

com predominância educativa.

Como reconhecido pelos autores expostos no trabalho, a utilização de

recursos multimídia nos textos e nas imagens são determinantes na produção para a

web. O avanço das tecnologias contribui para disseminação das informações entre

os cidadãos. A variedade de efeitos de luzes, cores, formas e sons torna-se

fundamental para atrair a atenção dos internautas jovens, formadores de opinião que

poderão compartilhar ideias e promover a conscientização ecológica.

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REFERÊNCIAS

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LÍQUIDO E INCERTO, futuro dos recursos hídricos no Brasil.

Gente demais. A maior metrópole brasileira chega ao limite

Disponível em: http://arte.folha.uol.com.br/ambiente/2014/09/15/crise-da-agua/gente-

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