A CRÍTICA LITERÁRIA NO BRASIL
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A CRTICA LITERRIA NO BRASIL
A CRTICA LITERRIA NO BRASIL
COUTINHO, Afrnio. A CRTICA LITERRIA NO BRASIL
Rio de Janeiro, 1968, Livraria Acadmica, pp. 115-157
Estudo publicado em Revista Interamericana de Bibliografia , Washington april june 64, vol
XIV, N 2.
I .
A dcada de 1950, na literatura brasileira, pode ser considerada como da crtica literria. o
momento em que se adquire a conscincia exata do papel relevante da crtica em meio criao
literria e aos gneros de literatura imaginativa, funo da disciplina do esprito literrio. Sem
ser um gnero literrio, mas uma atividade reflexiva de anlise e julgamento da literatura, a
crtica se aparenta com a filosofia e a cincia, embora no seja qualquer delas. uma atividade
autnoma, obediente a normas e critrios prprios do funcionamento, e detentora de uma posio
especfica no quadro da literatura.
O reconhecimento de tudo isso pode-se afirmar que se fixou naquela dcada, sob forma to
aguda e profunda que justifica para ela a denominao de a dcada crtica , pela descoberta de
sua autonomia e cunho tcnico.
Essa poca uma rplica a outra, de grande importncia na histria brasileira, a iniciada em
1870 com a gerao naturalista, a cujo trabalhos devem os estudos literrios no Brasil a maioria
dos padres predominantes a partir de ento e s postos em cheque nos ltimos quinze anos.
A era da crtica corresponde terceira fase do modernismo brasileiro. Como se sabe, este
movimento, iniciado em 1922 com a Semana de Arte Moderna, em seguida a um perodo
percursor e de preparao, compreende trs fases : a primeira, de 1922 a 1930, fase herica de
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ruptura, de revoluo, de demolio do passado, de polmica e pesquisa esttica, de liberdade
criadora, com predomnio da poesia (Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo, Mrio de Andrade,
Menotti del Piccchia, etc.) ; a segunda, de 1930 a1945, recolhe os resultados da primeira,
substituindo a destruio pela inteno construtiva : a poesia prossegue a tarefa de purificao
de meios incluindo novas preocupaes de ordem poltica e social (Murilo Mendes, Carlos
Drummond de Andrade, Augusto Frederico Schmidt, Vincius de Morais, etc.), mas foi na prosa
de fico que ela mais se destacou, criando um perodo de extraordinria florao e esplendor, a
partir de 1928, com a publicao de A bagaceira, de Jos Amrico de Almeida, e Macunama,
de Mrio de Andrade, e com a grande gerao de ficcionistas - Jos Lins do Rgo, Jorge
Amado, Graciliano Ramos, Raquel de Queirs, Cornlio Pena, Otvio de Faria, Jos Geraldo
Vieira, Lcio Cardoso, rico Verssimo, Joo Alphonsus, etc.; a terceira fase, iniciada por volta
de 1945, assiste a um esforo de apuramento formal e de recuperao disciplinar, abrindo novas
experincias no plano da linguagem, tanto na poesia quanto na fico (Guimares Rosa, Joo
Cabral de Melo Neto, Ldo Ivo, Pricles Eugnio da Silva Ramos, etc.), mas sobretudo no
campo da crtica de cunho esttico e a superao do impressionismo jornalstico, o que leva a
design-la de fase esttica do modernismo.
Ao atingir, assim, os ltimos anos de 50, a crtica brasileira encontra-se dividida em trs grupos.
De um lado, os reacionrios e saudosistas, que efetuavam o seu trabalho e construram fama
sobre um tipo de crtica opinitica, e impressionista, de comentrio irresponsvel e superficial
de divagao subjetiva, sem cnones e rigor metodolgico, sob a forma de militncia dos
rodaps de jornais, e que no se conformam com perder a situao ; o grupo conservador que se
realiza dentro dos ramos tradicionais da biografia crtica, da crtica sociolgica e psicolgica ;
por ltimo, os que buscam um novo rumo para a atividade crtica, na base de um rigorismo
conceitual e metodolgico, de um conceito da autonomia do fenmeno literrio e da
possibilidade da sua abordagem por uma crtica esttica visando mais aos seus elementos
intrnsecos, estruturais, isto , obra em si mesma, e no s circunstncias externas que a
condicionaram . A gerao empenha neste ltimo movimento est levando cabo uma completa
renovao dos estudos literrios e uma reviso crtica da literatura brasileira luz de novos
critrios de carter esttico. Graas a ela, o problema da crtica atinge, neste momento, uma
fase, de auto-conscincia, de domnio metodolgico e tcnico, de repdio pelo autodidatismo e a
improvisao, dando preferncia formao universitria.
Esse movimento de renovao da crtica e da reviso esttica da literatura est vinculado s
tendncias universais que caracterizam a atual fase da histria crtica, na qual se podem citar o
grupo do formalismo ou estruturalismo eslavo, o grupo espanhol de Dmaso Alonso, a
estilstica teuto-sua, o grupo italiano da autonomia esttica, o new creticism anglo-americano,
etc.
II
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A crtica brasileira, durante os quatro sculos de evoluo literria, enquadra-se em uma ou
outra das categorias em que se divide a histria da crtica : didtica, histrica, sociolgica,
psicolgica, biogrfica, filologico-gramatical, impressionista, esttica.
1) As origens da literatura, no Brasil, nas fases barroca e neoclssica anteriores ao advento do
romantismo, conheciam um tipo de crtica rudimentar , praticada sobretudo nas academias e
consiste, de acordo com o dogmatismo neoclssico de origem horaciana , no estabelecimento de
regras ou preceitos atravs dos tratados de potica e retrica to em voga entre os sculos XVI e
XVII. A literatura servia de instrumento ou veculo para a divulgao de mensagens,
especialmente religiosas, e ticas . Era o que faziam os jesutas, como exemplifica a obra de
Anchieta : usar a literatura a fim de conquistar o esprito rude dos selvagens para as verdades do
catecismo cristo. Assim a crtica funcionava sobretudo atravs da aprendizagem retrica e na
mente de quem a exercia um est sempre o cdigo clssico absorvido nos tratados de
perceptstica. Essa atitude reproduz-se nos poetas e prosadores mais ou menos didticos que
encheram as academias. Em suas obras de poesia descritiva, encomistica, hagiolgica,
jaculatria, comemorativa e em prosa historiogrfica ou de narrao de fatos da expanso e
descobrimento, relatos de naufrgios, aventuras e faanhas de viagens , toda essa literatura
produzida durante a poca colonial, sob o signo do barroquismo, e, depois, do neoclassicismo,
est inspirada, quanto ao aspecto tcnico, em princpios crticos oriundos da perspectiva
horaciana. De conformidade com este esprito, surgiram os primeiros crticos e historiadores
literrios brasileiros que atuaram na primeira metade do sculo XIX : Janurio da Cunha
Barbosa (1780-1846), Odorico Mendes (1799-1864), Joo Francisco Lisboa (1812-1863),
Gonalves de Magalhes (1811-1822), Joaquim Norberto de Souza e Silva (1820-1891), Sotero
dos Reis (1800-1871), o Cnego Fernandes Pinheiro (1826-1878), sendo este ltimo realmente
o iniciador da historiografia literria brasileira . a antolgica da crtica e da histria literria
, em a que as obras eram antologias acompanhadas de biografias.
2) O romantismo rompeu esta tradio, como j havia feito, em parte, a literatura arcdica ao
introduzir um sopro de lirismo pessoal na poesia, embora nos demais permanecesse fiel aos
cnones neoclssicos. Coube, porm, ao romantismo, nos meados do sculo XIX, dirigira a
crtica e as idias literrias noutro sentido. A famosa polmica sustentada em 1856 por Jos de
Alencar (1829-1877) com os epgonos de um neoclassicismo retardado e que se firmava no
poema pico de Gonalves de Magalhes, a Confederao dos Tamoios, o marco de uma nova
era na histria da crtica brasileira, situando-se Jos de Alencar no ponto crucial dessa nova
direo.
A grande idia que entra em cena a da nacionalidade literria. A literatura no deveria
realizar-se pelos modelos absolutos das formas tradicionais. Deveria condicionar-se ao meio
onde se produzia, recolhendo aos usos e costumes, as tradies populares , as peculiaridades
idiomticas, os temas e os tipos que constituem a cultura do povo. Tinha que fazer-se
nacional, buscando esse Instinto de Nacionalidade , mais tarde (1873) definido por
Machado de Assis (1839-1908) em um famoso ensaio, que dos mais importantes documentos
da teoria crtica brasileira.
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3) Essa doutrina resultou em um verdadeiro manifesto da independncia literria, claro que,
inicialmente, dirigido contra o predomnio luso. Recm-libertado do jugo portugus (1822) , o
pas tratava de tornar conscientes os motivos dessa autonomia tambm no terreno cultural, de
modo que a reao anti-lusa era o passo imediato necessrio no sentido dessa tomada de
conscincia . Havia sido to forte e profunda a subordinao a Portugal se justifica a violncia
da rebelio, abrindo nossos portos a outras influncias intelectuais , especialmente a francesa.
De qualquer modo , a literatura se lana busca de um carter nacional. Voltou-se a ateno
para o passado colonial na pesquisa do que poderia constituir os traos definidores desse carter
. Essa pesquisa do que seria a literatura brasileira foi o corolrio do grande movimento de
indagao histrica, de valorizao do passado nacional, uma das importantes atividades
desencadeadas pelo romantismo, manifestada na moda dos estudos de histria, etnologia e
lingstica, e corporifica particularmente na fundao do Instituto Histrico e Geogrfico (1838
). Essa onda historicista contaminou os estudos literrios, trazendo ademais a identificao entre
historiadores e crticos, o que assinala os albores da historiografia literria brasileira com
Francisco A. Varnhagen (1816-1878) , exemplo tpico dessa preocupao dos historiadores com
o fenmeno literrio. Desde ento, os estudos crticos de histria literria no Brasil se
realizariam, segundo uma grande famlia de crticos brasileiros, como uma dependncia da
histria geral, poltica e social, utilizando o mtodo histrico, e concebida a literatura como um
reflexo das atividades humanas gerais, um fenmeno histrico. A historiografia e a crtica
literrias, luz desse conceito, que o de um grande setor do pensamento brasileiro at nossos
dias, foram vistas como parte da histria geral, impregnadas, portanto, de historicismo. Ainda
so de atualidade os estudos crticos e historiogrficos que tentam explicar as obras literrias
atravs do conhecimento do ambiente histrico de que emergiram e em funo do qual
surgiram.
Manifestaes desse ideal de nacionalizao da literatura francesa foram os movimentos
indianista ( romntico ) e os que o seguiram - sertanismo , caboclismo , literatura
folclrica e outras formas de brasileirismo literrio, que desaguaram na moderna literatura
regionalista. Em todos predomina a preocupao por encontrar o tipo e o tema brasileiros que
melhor capitalizassem ou realizassem esse nacionalismo literrio.
4) A valorizao da cor local e do pitoresco , resultado do romantismo, iria encontrar na
ideologia realista a substncia doutrinria que frutificaria em expresses de alta qualidade
crtica. O princpio relativista, de origem romntica, segundo o qual o homem varia de
conformidade com os tempos e lugares, sua verdade residindo na diversidade exterior e interior
de costumes, sentimentos, lnguas que o tornam tpico, teria a confirmao na filosofia do
realismo, mormente no postulado positivista do ambientalismo e na famosa teoria determinista
de Taine, que coloca a origem da literatura nos trs fatores do meio, raa e momento. As teorias
de Comte e Taine, o conceito historiogrfico de Buckle, ao lado do monismo de Haeckel e do
evolucionismo de Darwin e Spencer, formaram o substrato doutrinrio da poca realista e
naturalista, aprofundando a imerso na massa nacional, na nsia do caracterstico, tpico,
peculiar, local, que dariam um carter brasileiro literatura. A fico entrou por este caminho, e
a crtica ofereceu sua fundamentao terica, criando uma corrente crtica que se pode
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denominar sociolgica, e cujo mtodo consiste na interpretao da gnese ( da a crtica
gentica) da literatura nos fatos sociais, de acordo com o que sugeriram Taine e seus
continuadores. essa corrente uma das mais importantes no Brasil pelo nmero de seus
representantes, pelo valor de muitos deles e pelo prolongado tempo de permanncia na cena
literria desde a gerao de 1870 em diante.
Tobias Barreto (1839-1889), Silvio Romero (1851-1914), Araripe Jnior (1848-1911),
Capistrano de Abreu (1853-1927), Rocha Lima(1855-1878), Clvis Bevilqua (1859-1944) ,
Valentim Magalhes (1850-1913), Oliveira Lima (1865-1928) , Artur Orlando (1858-1916) ,
so alguns dos mais notveis entre, talvez, dezenas de crticos literrios que se destacaram
segundo os cnones do positivismo naturalista e historicista. A mesma gerao pertenceu Jos
Verssimo (1857-1916), o qual no escapou ao esprito do seu tempo, posto que intentasse
reagir contra as doutrinas sustentadas por seu rival Silvio Romero, em nome de um indefinido
intelectualismo, em que se apoiou possivelmente por notria incapacidade filosfica e
deficincias culturais.
O fato que a tradio dos estudos literrios que representa a monumental obra de Silvio
Romero, a Histria da literatura brasileira (1888) , baseada na interpretao sociolgica da
literatura , isto , na crtica pelo esclarecimento de sua gnese ou dos fatores sociais que lhe
deram nascimento, teve imensa fortuna no Brasil, e , ainda hoje grande o nmero de crticos a
ela filiados. A esse grupo pertence o socilogo Gilberto Freyre (1900), que em trabalhos
literrios aplica critrios extrados das cincias sociais e biolgicas : Perfil de Euclides e outros
perfis (1944) , Jos de Alencar (1952) , Vida, forma e cor (1962) ; o historiador Srgio Buarque
de Holanda (1902) , tambm inspirado , embora de maneira menos sistemtica e mais ecltica
em pressupostos sociolgicos, historicistas e culturais ; diversos crticos de orientao marxista,
entre os quais se destacam Astrogildo Pereira (1890), em Interpretaes (1944) , e Nelson
Werneck Sodr (1911) , em Histrias da literatura brasileira (1938, 4 edio ., 1960 ) para os
quais o valor literrio reside na eficcia com que o escritor soube interpretar os ideais de sua
classe e refletir o seu ambiente histrico, social e econmico ; e o crtico Antnio Cndido
(1918) , sobretudo na sua obra Formao da literatura Brasileira (1959) , com idntica tendncia
ao enquadramento histrico - social como critrio crtico.
5) Ao lado da corrente sociolgica tem sido amplamente cultivada a interpretao psicolgica.
Em vez da ligao com o fator histrico - social, trata de interpretar o fenmeno literrio
mediante a anlise do autor, sua alma, carter, temperamento, e de verificar como os traos de
sua psique tero infludo na gneses de sua obra. Muito mais divulgada, porm, a corrente,
que a esta se vincula, da biografia crtica ou crtica biografia, qui a mais popular no Brasil,
graas influncia de Sainte Beuve, s comparvel a de Taine. No somente as peculiaridades
do autor servem aqui de veculo de acesso compreenso da obra literria, mas tambm toda a
sua vida atravs de um levantamento de sua biografia, nos menores detalhes, e do ambiente
-
histrico em que viveu. Grande no Brasil a difuso da crtica biogrfico - psicolgica, havendo
aparecido, nos seus moldes, alguns livros de mrito que superam a pura biografia. Podem citar-
se neste caso as obras de Lcia Miguel Pereira, Machado de Assis (1936) e A vida de Gonalves
Dias (1943) ; de Hermes Lima , Tobias Barreto, (1943) ; de Homero Pires, Junqueira Freire
(1929) ; Augusto Meyer, Machado de Assis (1938) ; de Slvio Rabelo, Farias Brito (1941),
Itinerrio de Slvio Romero (1944) e Euclides da Cunha (1940) e Monteiro Lobato (1955) ; de
Manuel Bandeira, Gonalves Dias (1952) ; de Pedro Calmon, A vida de Castro Alves (1956); de
Lus Viana Filho, A vida de Rui Barbosa (1941) A vida de Joaquim Nabuco (1952), A vida de
Rio Branco (1959); de Raimundo Magalhes Jr., Artur Azevedo e sua poca (1955), Machado
de Assis desconhecido (1957). Ao redor de Machado de Assis (1958) e outros o sobre Cruz e
Souza e lvares de Azevedo (1961-1962) ; de Josu Montelo, Gonalves Dias (1942) e O
Presidente Machado de Assis (1961) ; de Ivan Lins, Aspectos do Padre Antnio Vieira (1958) ;
de Francisco de Assis Barbosa, A vida de Lima Barreto (1952) ; de Waldir Ribeiro do Val, Vida
e obra de Raimundo Correia (1960), de Sousa Andrade, Histria e interpretao de Os Sertes
(1960); de H. Nbrega, Augusto dos Anjos e sua poca (1960); de Nilo Bruzzi , Casimiro de
Abreu (1957) ; de Eli Pontes, A vida inquieta de Raul Pompia (1935) , A vida de dramtica
de Euclides da Cunha (1938), A vida exuberante de Olavo Bilac (1944). A vida e a obra de
Machado de Assis tm sido objeto de numerosos estudos, seja de um ponto de vista puramente
erudito, seja de interpretao crtico-biogrfico ou psicolgica, seja ainda de anlise crtica
,estilstica, comparatista. Citem-se , alm dos j referidos acima: Peregrino Jnior, Doena e
constituio de Machado de Assis (1938); Astrojildo Pereira, Machado de Assis (1959);
Eugnio Gomes, Machado de Assis (1958); Micimo Tati , O mundo de Machado de Assis
(1961) ; Agripino Grieco, Machado de Assis (1959); Wilton Cardoso, Tempo e memria de
Machado de Assis (1958) ; Fonseca Pimentel, Machado de Assis e outros estudos (1962) ; de
Gondim da Fonseca, Machado de Assis e o hipoptamo (1960); Matoso Cmara, Ensaios
machadianos (1961) ; Otvio Brando , O niilista Machado de Assis (1958) ; Afrnio Coutinho,
A filosofia de Machado de Assis e outros ensaios (1959) e Machado de Assis na literatura
brasileira (1960) ; Eli Pontes , A vida contraditria de Machado de Assis (1939). A vida e a
obra de Jorge Amado foram objeto de estudo de Micimo Tati (1961) e de um simpsio - Jorge
Amado: 30 anos de literatura (1961).
6) Herdeiros do neoclassicismo retrico so crticos literrios que reduzem sua tarefa a uma
simples polcia gramatical, mantendo-se no plano verbal puro, incapazes de compreender o
processo atravs do qual a palavra se torna literria em uma obra de arte, isto , o processo
atravs do qual a palavra adquire sentido esttico literrio. So tambm numerosos os cultores
de uma crtica que se pode , embora impropriamente, chamar gramatical ou filolgica. Para eles,
os escritores se classificam em bons e maus, que sabem ou no sabem escrever , na medida do
uso que fazem do idioma de acordo com os padres gramaticais, e estes crticos tm sido entre
ns um obstculo no somente contra o reconhecimento de uma lngua nacional, seno tambm
contra o desenvolvimento dos estudos de cincia de linguagem e da estilstica, pela
subordinao aos cnones de uma filologia historicista e normativa que tudo vincula s regras
da lngua tradicional. O crtico Osrio Duque Estrada (1870-1972) foi o prottipo desses crticas
gramaticais, atualmente um tanto desacreditados pela reao do modernismo em favor da
linguagem coloquial brasileira e contra a gramatiquice.
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7) O exerccio da crtica literria no Brasil tem sido, em sua maior parte, feito nos jornais, sob
forma militante, condicionado produo literria, que acompanha e julga. verdade que
tambm se realizou em livros e estudos em revistas, j com carter mais profundo. No foi,
todavia, esta uma forma corrente, e o uso estabeleceu para ela a denominao de ensaio.
Assim , praticada na imprensa diria, a crtica no podia deixar de sofrer a influncia do esprito
ligeiro e superficial do jornalismo, o que lhe comunicou um carter circunstancial,
aproximando-a do tipo do review dos ingleses e norte-americanos.
Essa modalidade da crtica aplicada consiste em fornecer uma impresso acerca da obra do
momento. Da que seja comumente como impressionismo, ainda que no consiga atingir o
nvel do verdadeiro impressionismo de Anatole France, Jules Lamaitre , Walter Pater, etc.
Numerosos tm sido os crticos que se empenharam nesta atividade, alguns prestigiando-a
graas singularidade de suas qualidade pessoais, especialmente o bom gosto e a sensibilidade
literria. Citem-se : Jos Verssimo (1857-1916) , Joo Ribeiro (1860-1934), Medeiros de
Albuquerque (11867-1934), Joo do Rio(1880-1921), Agripino Grieco (1888), Humberto de
Campos (1886-1934), Ronald de Carvalho (1893-1935) , Tristo da Cunha (1878-1942), Afonso
A de Melo Franco(1905), Mcio Leo(1898), Eli Prates (1889), Sud Mennucci (1892-1948) ,
lvaro Lins(1912), Wilson Martins (1920), Temstocles Linhares (1905), Carlos D. de
Morais(1902), Moiss Velinho (1901), Odilo Costa Filho(1914) , Guilhermino Csar(1908),
Cndido Mota Filho(1897), Sgio Millet(1898), Oscar Mendes (1902), Lus Delgado(1906),
Carlos Chiachio(1884-1947), Guilherme Figueiredo(1915), Rosrio Fusco(1910), Jos Lins do
Rego(1901-1957), Prudente de Morais Neto(1904), Antnio Cndido(1918), Alcntara
Silveira(1910), Roberto Alvim Correia (1898), Antonio Olinto(1919), Valdemar
Cavalcanti(1912), Brito Broca (1907-1961), Olvio Montenegro(1896-1961), Haroldo Bruno,
Joel Pontes (1926), etc. Na divulgao literria empenha-se Otto Maria Carpeux (1900).
8) De modo geral, pode afirmar-se que o estudo histrico e crtico da literatura no Brasil,
obedeceu, na sua maior parte, a uma orientao historicista, psicolgica, prufundamente
marcada pelas teorias deterministas da Segunda metade do sculo XIX. Essa orientao resulta
de uma concepo da literatura que a considera um produto de foras histricas e sociais
externas a ela e, como tal, um documento de uma poca, uma sociedade, uma raa ou uma
grande individualidade, em vez de a encarar como um monumento esttico. Nisso teve papel
preponderante a influncia de Silvio Romero, crtico e exegeta do passado literrio, alm de
propugnador das idias modernas que marcou profundamente os estudos literrios no Brasil a
partir de 1870 sob o signo do materialismo do naturalismo e do positivismo, divulgados sob a
rubrica da Escola de Recife . O cnone historiogrfico e crtico, desde ento considerado
como verdadeira ortodoxia , consistia em investigar as razes sociais e biolgicas das quais
nascia a literatura , critrio seguidos muito tempo por crticos e historiadores literrios. As obras
de histria literria ps-romerianas seguiram os seus princpios : Jos Verssimo, Ronald de
Carvalho, Artur Mota, Djacir Meneses, Pinto Ferreira, Antnio Soares Amora e outros. O livro
de Brito Broca, A vida literria no Brasil 1900 (1960) uma crnica da vida literria da belle-
poque no Brasil.
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Uma reao contra a doutrina de Silvio Romero estava no ar desde muito tempo. J alguns
crticos inspirados na doutrina simbolista a havia iniciado. Foi o caso de Nestor Victor (1868-
1932) , e sobretudo Henrique Ablio (1893-1932) , autor de Crtica pura (1938) ; de Andrade
Muricy (1895) , Tasso da Silveira (1895) e Barreto Filho (1908) este principalmente na sua
Introduo a Machado de Assis (1947) , na qual rene anlise psicolgica e a interpretao
esttica do fato literrio. Mrio de Andrade (1893-1945) , defendendo os valores estticos da
literatura e mostrando preocupao pelo seu aspecto tcnico, coloca-se como um dos
precursores da reao : Aspectos da literatura brasileira (1943) e O empalhador de passarinho
(1946). Tristo de Atade , o grande crtico da poca modernista, lanou uma semente fecunda a
reivindicar, na obra Afonso Arinos (1922), um expressionismo crtico, como reao contra o
anterior impressionismo, e propondo uma crtica em que predominasse o objeto, isto , a obra
em lugar do sujeito, o crtico, com suas impresses. Na srie de seus Estudos, resultado de
uma crtica militante, tambm demonstrou-se sempre atento aos elementos propriamente
literrios da obra. Igualmente, Eugnio Gomes (1897) , em diversos ensaios de literatura
comparada e estudos crticos aplicados a autores brasileiros, em Espelho contra espelho (1949) ,
Prata da casa (1953), Vises e revises (1958), O romancista e o ventrloquo (1952), Aspectos
do romance brasileiro (1958) , revelou-se perfeitamente na direo da crtica esttica.
Porm a reao deveria aguardar ainda alguns anos para frutificar de modo mais generalizado e
decisivo. Contra a teoria de que a literatura no passa de um epifenmeno da vida poltica e
social e de que a crtica consistia em sua interpretao gentica ou seja de suas razes e sues
elementos extraliterrios , desencadeou-se um movimento a favor da compreenso da autonomia
do fenmeno literrio e de uma crtica esttica fundada na anlise da obra em si mesma e de
seus elementos intrnsecos.
III
Essa reao foi o objetivo de Afrnio Coutinho, na campanha que , a partir de 1948, regressando
dos Estados Unidos, empreendeu em termos positivos, submetendo a processo a velha crtica
brasileira, na seo intitulada Correntes Cruzadas que instalou no Suplemento literrio do
Dirio de Notcias, jornal do Rio de Janeiro, e , depois, em livros como Correntes Cruzadas
(1953), Por uma crtica esttica (1953), Da crtica e da nova crtica (1957), Introduo
literatura no Brasil (1959) , bem como na histria literria que planejou e dirigiu, A literatura no
Brasil (1955-1959) , 4 volumes , na qual aplicou o critrio esttico anlise das obras e
periodizao estilstica .
A campanha que desencadeou tendo em mira a renovao dos mtodos e processos da crtica
literria, bem como por uma reforma dos costumes literrios, de acordo com a mais pura tica
do homem de letras, provocou naturalmente reaes e controvrsias, as quais evidenciaram a
grandeza e a atualidade do problema que procurava enfrentar.
-
Sobre os resultados e esprito desse trabalho, h que citar dois testemunhos. O primeiro de
Alceu Amoroso de Lima (Tristo de Atade ):
A figura proeminente dessa fase crtica mais recente o sr. Afrnio Coutinho, que, estreando em
1935 , durante a Segunda fase do modernismo , deu nos em 1940 o seu estudo sobre A filosofia
de Machado de Assis que chamou a ateno para o seu nome e com os prefcios aos volumes j
publicados da obra coletiva, por ele dirigida A literatura no Brasil , na qual colaboraram cerca
de 50 escritores, marcou um turning point em nossa crtica moderna, (...) Com o
neomodernismo e a campanha de renovao crtica empreendida por Afrnio Coutinho e de
tanta repercusso nas novas geraes, emergiu o estudo do texto, a expresso verbal, a forma,
como sendo o objeto capital da funo crtica . Com isso deslocou-se de novo a crtica no
sentido do objeto (...) . Da o nome de crtica formalista que podemos dar esse tipo mais recente
da crtica literria entre ns, que marca uma tendncia decidida no sentido do abandono do
amadorismo crtico, por uma prtica profissional, mais cuidada, dessa atividade (...) . Ao lado
do nome de Afrnio Coutinho e da obra de que a data, afinal, o incio dessa nova perspectiva em
nossa crtica, devemos mencionar alguns nomes que comeam a revelar-se nesse novo tipo de
crtica que inicia uma era nova , no balano de nossa crtica literria ( A crtica literria no
Brasil in Decimalia, Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, 1958, pp. 15-17) .
O segundo testemunho de Eduardo Portela :
Por isto se fez necessrio o estabelecimento imediato de uma nova ordem. Todos, os lcidos, os
que se marginalizaram, reconheciam a falncia do antigo sistema. O ambiente se tornou
propcio instaurao do novo regime crtico. Apoderava-se do pas uma mentalidade nova, a
do conhecimento aparelhado, da concluso cientfica. A fase do amadorismo estava
definitivamente sepultada. O esprito da Universidade comeava a comandar os estudos
literrios no Brasil. Afrnio Coutinho foi o principal servidor dessa causa : a de reformulao
crtica, da renovao metodolgica . Ele mostrou, com intransigncia e s vezes at com
violncia, todo um sistema de idias novas, que se opunha radicalmente quela entidade
inconsequente e amorfa que era a crtica nas mos dos nossos crticos de ento. E ao mesmo
tempo em que lutava para destruir o comodamente estabelecido, a mistificao
institucionalizada, o que parecia definitiva e inarredavelmente instalado no pas, Afrnio
Coutinho afrontava e erguia complexa tbua de valores : a princpio combatida, dificultada, e
logo em seguida confirmada, aplaudida. verdade que ele se inscrevia num movimento de
mbito universal pela renovao dos processos e mtodos de pesquisa e investigao literria .E
no tardou para que essa conscincia e esse mpeto renovador conquistassem toda a nossa
motivao crtica , transformando por completo o nosso modo de operar criticamente e
repercutindo, de maneira particular e positiva, em nossa prpria concepo do fenmeno
literrio. Mas eu no penso que a crtica de hoje seja mais eficaz que a de ontem porque os
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crticos de hoje so mais capazes que os de ontem. No. Acho apenas que, mais do que eles,
temos o tempo a nosso favor. Esse momento a que me referia foi intensamente reflexivo. s
vezes exageradamente reflexivo e doutrinador. O que deu origem a irnicos comentrios,
segundo os quais a crtica desse perodo nada mais era do que crtica da crtica. No tinham,
evidentemente, razo esses implacveis observadores, na sua maioria sobreviventes a velha
ordem que no perdoavam o esfacelamento da sua casa de vidro. No eram capazes de
compreender que uma tomada de conscincia como a que se operou em nossa literatura teria
forosamente de se fazer acompanhar do necessrio e conveniente aparato terico. E tanto foi
oportuno esse comportamento que nos encaminho definitivamente para um exerccio superior
da atividade crtica. Para a crtica que venho chamando totalizante, porque interessada em
compreender a obra literria na sua totalidade. Crtica informada por uma viso totalizadora e
hierrquica do fato literrio. Voltada para uma razo interna da obra de arte, mas lcida de que a
obra no surge no ar. No existe abstratamente. Tem por detrs de si um vasto repertrio de
condicionamentos (Crtica literria : brasileira e totalizante , in Tempo Brasileiro, Rio de
Janeiro, ano I , N 1, setembro 1962, pp. 67-69 ).
Em que consistiu o conjunto de teorias postas em circulao nessa fase ? Eis algumas das idias
fundamentais que integram o arcabouo crtico do movimento renovador :
1) Necessidade da criao de uma conscincia crtica para a literatura brasileira, a fim de
corrigir a atitude acrtica e emprica na criao e no exerccio da leitura ;
2) Valorizao do estudo superior e sistemtico de letras nas Faculdades de Filosofia,
instrumento dessa criao da conscincia crtica;
3) Reconsiderao dos problemas tcnicos da poesia, fico e drama, graas ao mesmo estudo
superior, e, ao mesmo tempo, criao do esprito profissional e de especializao na crtica ;
4) Defesa da perspectiva e abordagem esttico-literria na apresentao crtica, contra o
predomnio do mtodo histrico, embora sem o abandono das contribuies histricas, mas
colocando-as no seu lugar de subsdio, quando teis compreenso da obra ;
5) Valorizao da concepo esttica da crtica , para a qual o que importa, sobretudo, a obra,
o texto, e na anlise do texto de poesia ou prosa- criar mtodos que visem a penetra-lhe at o
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ncleo intrnseco, ou essncia esttica da obra de arte literria, mtodos estes intrnsecos ou
egocntricos em oposio aos extrnsecos ;
6) Estabelecimento de critrio crticos de cunho objetivo, cientficos, isto , critrios que
absorvem cada vez mais o esprito cientfico, introduzindo em seus domnios as revolues
metodolgica e cientfica que lograram outras disciplinas, e o rigorosismo metodolgico
caracterstico do esprito cientfico e das disciplinas que seguem o raciocnio lgico-formal. Mas
sem recorrer aos mtodos das vrias cincias, e sim procurando desenvolver mtodos peculiares
ao objeto de estudo da crtica literria ( o fato literrio ) , ou mtodos literrios, poticos,
estticos ;
7) Relegao para segundo plano da preocupao biogrfica em crtica ; o mesmo em relao
aos fatores ambientais, histricos, sociolgicos, econmicos, supervalorizados pelo
determinismo naturalista ;
8) Reviso dos conceitos historiogrficos, luz desses princpios, com a criao de nova teoria
historiogrfica para a literatura, que ponha em relevo o fenmeno literrio em sua autonomia, e
crie um sistema de periodizao de natureza esttica e pelos estilos individuais e de poca.
Eis os principais pontos, centralizados por um pensamento diretor ou princpio de ordem, o de
que crtica compete antes de dirigir a mirada para a obra em si e analis-la em seus elementos
intrnsecos, precisamente os que lhe comunicam especificidade artstica. Essa a crtica
intrnseca, ergocntrica, ,operocntrica, verdadeiramente esttica, literria ou potica, em
oposio crtica extrnseca, historicista, sociolgica do ltimo sculo. Era mister quebrar o
monoplio da crtica sociolgica no Brasil, sem negar de todo a validade dos diversos recursos
de interpretao e anlise crtica que ela fornecia. O problema , sobretudo, de nfase nos
valores estticos, a partir do princpio de que um fato esttico-literrio exige, como meio mais
adequado de anlise, um mtodo esttico-literrio, inspirado em teoria esttico-litarria. A
primazia h que ser dada s tcnicas criadas de conformidade com a natureza do fenmeno a
estudar, subordinando-se a elas todas as outras que, estranhas embora, lhes possam ser teis.
Crtica literria, sem dvida, aquela que utilizar os mtodos literrios. Ela porfia em
desenvolver seus mtodos prprios, o que a elevar categoria de disciplina autnoma. E esses
mtodos tm carter cientfico.
IV
O movimento da nova crtica, como ficou designado esse esforo por encontrar novos
mtodos e uma nova atitude para a crtica, na base do rigor, cientfico e da anlise da obra
literria em si mesma, isto , no seu valor esttico intrnseco, tornou-se o mais importante na
literatura brasileira no ltimo decnio e continua dando os seus frutos.
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Pode-se, primeiramente, assinalar afirmao, em conseqncia, de uma mentalidade coletiva
entre as novas geraes de estudiosos da literatura, inteiramente infensa concepo anterior
que limitava a crtica a ser a expresso da resposta emocional do crtico quilo que era
considerado, por sua vez, luz de uma filosofia romntica, a expresso da personalidade do
autor, isto , a obra de arte. Essa mentalidade nova cresceu e se consolidou sob a forma de uma
conscincia grupal, de um esprito coletivo. Foi o que se verificou precisamente com a
realizao do Primeiro Congresso de Crtica e Histria Literria, em 1960, na cidade de Recife,
Pernambucano. O conclave culminou toda uma evoluo recente no sentido de pr termo
velha atitude, dominada pelos interesses personalistas, as rivalidades pessoais mesquinhas e os
falsos pressupostos que sacrificavam a objetividade e impessoalidade, o desinteresse dos
estudos literrios entre ns. O Congresso evidenciou a criao de uma verdadeira mentalidade
de scholarship, para a qual o que importa so os problemas da literatura e no os do crtico, e
para a qual os problemas da literatura devem ser resolvidos ou debatidos com a humildade da
verdadeira cincia, na base da cooperao, da compreenso e do respeito pelo que os outros
fazem ou podem fazer, pelo que os outros estudiosos esto realizando no mesmo campo a
merecer a nossa ateno e conhecimento. Assim, o Congresso do Recife, alm do seu aspecto
intrnseco no que concerne contribuio intelectual e tcnica, teve um significado muito mais
amplo, denotando um amadurecimento de nossa conscincia crtica e uma atitude de seriedade
em relao aos estudos literrios.
Foi, portanto, 1960 um ano crucial no que tange histria da crtica, pela realizao desse
acontecimento fundamental. A importncia da reunio foi reconhecida por Alceu Amoroso de
Lima, ao enviar uma mensagem ao Congresso, alto e nobre documento em que define sua
posio na crtica brasileira, posio primacial pela dimenso de seriedade, elevao e dignidade
que emprestou ao exerccio da crtica, afastando-a em definitivo da palhaada e da
gramatiquice. Ligando significativamente a ctedra e a imprensa, numa atividade de mais de
quarenta anos, sua personalidade respeitvel de decano tambm a maior figura de nossa crtica
moderna, o que geralmente reconhecido atravs do preo e admirao que a cercam.
De qualquer modo, o Congresso marcou o fim da era do individualismo feroz, do esforo
puramente individual, do trabalho no isolamento dos gabinetes fechados, para dar nascimento
ao esprito de equipe e de colaborao cientfica em que uns auxiliam outros, cooperam e
permutam experincias e indicaes a fim de que os resultados sejam mais rapidamente e
melhor atingidos. Essa modificao de mentalidade um produto da educao universitria que
as Faculdades de Filosofia, com o ensino de letras, vm introduzindo no Brasil de vinte anos a
essa parte. O Congresso ratificou-a.
E ratificou-a pelo prprio lugar em que se realizou a Universidade de Recife, sob cujo
patrocnio se deu o conclave. A literatura no Brasil sempre foi produzida custa do
amadorismo. Predominavam o autodidatismo, a ausncia de estudo sistemtico, de mtodo e
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disciplina, a improvisao, a facilidade e superficialidade jornalstica e opinitica. Em crtica,
era sobretudo funesta essa falta de estudo sistematizado, sendo como ela uma atividade
reflexiva.
O Congresso do Recife veio dar um passo decisivo para libertar a literatura dessa mentalidade
amadorista, ao colocar-se sob a gide da Universidade. J a criao das Faculdades de Filosofia,
em 1939, havia sido o fato novo a que se deveu a redireo e reorientao da vida literria
brasileira, pois, antes, era da mocidade estudantil das Faculdades de Direito que se recrutavam
as vanguardas literrias e se constituam os quadros de homens de letras. Embora com pouco
tempo de vida, j possvel, todavia avaliar a contribuio que vm dando as Faculdades de
Filosofia, as quais s tendem a melhorar em influncia benfica medida que se vai
aperfeioando o seu funcionamento e sua qualidade de centros de ensino e pesquisa.
Surgindo na linha da nova conscincia universitria em evoluo o Congresso do Recife,
realizado no seio da Universidade, ao agasalho da Faculdade de Filosofia, deu prova de que o
homem de letras brasileiro, mais especificamente o crtico, o erudito, o historiador literrio,
passaram a pensar em termos universitrios no que respeita ao aprendizado de letras e crtica e
interpretao do fenmeno literrio. uma nova mentalidade que surge e se consolida,
impulsionada pela instituio universitria, e a ela est preso todo o futuro das letras ptrias.
Ligando-se Universidade, o Congresso de Recife colocou-se na senda que as Faculdades de
Filosofia abriram para a literatura. Aceitou a idia nova, que se tornou fato consumado. Enlaou
definitivamente Literatura e Universidade. E iniciou, destarte, a soluo do problema da
educao e da cultura literria.
Ficou tambm evidenciada no Congresso a independncia da atividade crtica, isto , a noo de
que a crtica literria deve ser, antes e acima de tudo, literria, uma atividade autnoma, com
individualidade prpria, no subsidiria de outras atividades intelectuais, como era hbito
corrente entre ns. Cada vez se far mais ntida essa distino : o crtico literrio pode ser
somente isso, e h uma lata dignidade na sua funo, sem que haja necessidade de ser tambm
socilogo, historiador, poltico, jornalista, poeta ou romancista, para ter lugar na repblica das
letras. E como tal ele pode Ter posio de relevo, tanto quanto a do romancista ou poeta. No
precisar dispensar-se por outras atividades, nem outros assuntos, desviando-se ou perdendo-se
no caminho ; tampouco ser o seu trabalho menor em meio aos demais, pois ele tem uma funo
to alta quanto qualquer outro, contanto que saiba manter-se num plano de elevao, dignidade
e fidelidade ao ofcio. Saiba ele , pois, defender-se e defender sua autonomia a posio, em
relao aos demais assuntos, sem subordinao a qualquer deles.
Para conseguir tal objetivo, faz-se mister que a crtica desenvolva e aprimore seu instrumental
de trabalho, tornando-se a viso armada a que aspirava Coleridge. Uma viso armada a
servio da literatura, na anlise compreenso, julgamento ; portanto, crtica literria e no
biogrfica ou autobiogrfica.
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No verdade que nova crtica j seja um corpo acabado de mtodos e teorias, e os seus
adeptos uns conformados com o que lograram at agora como modificao no terreno da crtica
brasileira.
O que prevalece no seu esprito antes um estado permanente da inquietao e busca . Qualquer
deles que for sincero consigo mesmo e com a crtica no poder seno reconhecer que o nosso
processo da velha crtica foi terminado. Mas que resta muito que fazer para atingir a meta final,
a despeito do que j se realizou como contribuio positiva e prtica.
Mas a evoluo est em marcha. Os espritos construtivos, que realmente so os que contam,
no esto satisfeitos ; ao contrrio, continuam a pesquisa. Contudo, a inquietao e o
inconformismo so preciosos. E a esse estado de esprito se deve o que j se realizou, passo de
gigante em relao ao pequeno perodo de tempo que levou para efetuar-se ; mudana radical, se
compararmos o que se fazia antes com as preocupaes e pesquisas atuais.
Por outro lado, posto que se use a denominao de nova crtica para designar a nova atitude de
modo global, os seus adeptos no oferecem unicidade de mtodos nem de idias ou aspiraes.
Caracteriza-os de maneira de maneira geral a atitude de busca. Porm cada qual emprega os
seus prprios meios e segue caminhos diferentes. E isso mais interessante para a riqueza de
resultados e possibilidades de solues. E se pensarmos que fato idntico ocorre em outras
partes, com a escola formalista eslava distinta da estilstica teuto-sua, da escola espanhola dos
grupos anglo-americanos, estes ltimos, por sua vez, bem diversificada dentro do new-criticism,
compreenderemos a vantagem dessa variedade de tentativas e rumos visando ao objetivo
comum de estabelecer a crtica literria como uma disciplina autnoma de abordagem do
fenmeno literrio em si.
V
O estudo da histria da crtica e dos crticos brasileiros do passado mostra que a realizao dos
congressos de crtica o primeiro em 1960, em Recife, e o segundo em 1961, na cidade de
Assis, sob os auspcios tambm da sua Faculdade de Filosofia, como o terceiro em Joo Pessoa
em dezembro de 1962, patrocinado pela universidade local constitui um marco da mudana de
mentalidade que se opera na conscincia crtica brasileira, a despeito dos esforos dos
reacionrios que lutam para manter o estado de coisas de que tiravam partido pessoal. Mas a
reao contra essa atitude forte entre os espritos srios .
H uma diferena de mentalidade na crtica brasileira, e a idia do Congresso disso um ndice ,
como idia , mas tambm pelo valor dos debates e das teses e temas discutidos.
-
Aquilo, porm, que o Congresso exprime est , outrossim, patenteado nos trabalhos, teses,
estudos, ensaios, publicados em livros e revistas, nos ltimos dois lustros no Brasil acerca da
literatura brasileira passada e presente.
O exemplo mais frisante e indiscutvel foi a publicao de A literatura no Brasil, concebida e
planejada desde 1951 e lanada entre 1955 e 1959 . A prpria possibilidade de uma obra com
seu programa j revela uma profunda revoluo. E ela no teria sido possvel dez anos antes,
quer no que concerne ao seu princpio de ordem, quer pela sua execuo em equipe, utilizando
cerca de 50 colaboradores especializados.
Em comparao com as obras anteriores do gnero , ressalta a olhos vistos a novidade de seu
plano e de sua base conceitual, tal como se indica na introduo geral devida ao seu grande
organizador e diretor : um princpio diretor de natureza esttica que o conceito esttico ou
potico da literatura, literatura concebida como arte, a arte da palavra, produto da imaginao
criadora, com valor e finalidade em si mesma, dotada de composio especfica e elementos
intrnsecos; a crtica como anlise desses componentes especficos ou estticos; a histria
literria como histria dessa arte no seu desenvolvimento autnomo; a libertao da literatura de
sua subordinao ao histrico, cronologia e biografia ; o primado da obra como norma de
crtica ; a reduo dos gneros literrios aos de especfica natureza literria (romance, conto,
poesia, drama, crnica, epopia, etc.) ; a adoo da periodizao estilstica, fundamentada nas
noes de estilo individual e estilo de poca, com o estudo da literatura brasileira luz de uma
reformulao dos perodos, em barroquismo, neoclassicismo, arcadismo, romantismo, realismo,
naturalismo, simbolismo, parnasianismo, impressionismo, modernismo do que resultou a
reviso e a clarificao de pontos duvidosos, obras e figuras no classificadas ou mal
interpretadas, como a origem da literatura brasileira, Anchieta, Vieira, o barroco literrio
brasileiro, o impressionismo na literatura, Raul Pompia, Graa Aranha, etc.
Naturalmente, pela prpria novidade de sua formulao da historiografia literria, a sua
realizao teve alguns pontos fracos, nem todos os colaboradores tendo compreendido
completamente o sentido das inovaes metodolgicas e conceituais, o que ser sanado, por
certo, em futuras reedies da obra. Mas o impacto que produziu foi grande e hoje o tratado
padro no estudo superior de letras no Brasil.
VI
As tendncias da nova crtica no Brasil esto, portanto, expressas em A literatura no Brasil, no
s no aspecto intelectual, como tambm nos nomes dos crticos que as procuram pr em prtica,
muitos dos quais a integram como colaboradores.
-
O movimento, porm, tem frutificado em trabalhos independentes, inspirados, tambm, na idia
da reavaliao esttica da literatura e da autonomia da fenmeno literrio, bem como de uma
crtica esttica, fundada na anlise da obra em si mesma e de seus elementos intrnsecos, isto ,
na aplicao de critrios estticos aferio das obras.
Essas preocupaes refletem-se em diversos livros ou ensaios recentes, seja referentes crtica
de poesia ou fico, seja literatura comparada ou histria literria.
Alguns desses crticos novos revelarem-se ou impuseram-se como colaboradores de A literatura
no Brasil: Pricles Eugnio da Silva Ramos (1919) , Waltensir Dutra (1926) , Fausto Cunha
(1923) , Franklin de Oliveira (1918), Heron de Alencar (1921), Jos Aderaldo Castelo (1921),
Segismundo Spina (1921) , Domingos Carvalho Silva (1915) , Xavier Placer (1916) , Darcy
Damasceno (1922) , Carlos Burlamaqui Kopke (1916), muito dos quais se afirmam na mesma
direo, em livros ou em colaboraes para peridicos. Assim, Pricles Eugnio da Silva Ramos
publicou : O amador de poemas (1956) e O verso romntico (1960), depois de Ter colaborado
com dois captulos, para aquela obra, sobre a renovao parnasiana na poesia e o O
modernismo na poesia ; Franklin de Oliveira lanou A fantasia exata (1959), depois do
captulo sobre Euclides da Cunha ; Jos Aderaldo Castelo, autor do estudo sobre O movimento
academicista do sculo XVIII, continua suas investigaes no terreno da erudio literria com
Homens e intenes (1960), Aspectos do romance brasileiro (1961) e Jos Lins do Rego:
Modernismo e regionalismo (1961) , que iniciara, alis, com vrios estudos e edio do texto da
polmica de Jos de Alencar em torno da Confederao dos Tamoios; Darcy Damasceno
aprofunda suas anlises da poesia a propsito de Ceclia Meireles, na introduo edio
completa da poetisa lanada pela Editora Jos Aguilar; Domingos Carvalho da Silva prossegue
as suas pesquisas a propsito das origens da poesia brasileira e de outros aspectos de nossa
histria literria; o mesmo ocorre com Segismundo Spina a respeito das formas medievais da
poesia de lngua portuguesa, e Fausto Cunha sobre a poesia romntica ; Xavier Placer aplica-se
ao estudo do poema em prosa no Brasil ; Carlos Burlamaqui Kopke insiste em investigaes
sobre poesia e esttica.
Em direo idntica surgiram obras de Ledo Ivo: O preto no branco (1955) ; Othon Moacir
Garcia : Esfinge clara (1955), Luz e fogo no lirimo de Gonalves Dias (1956), Cobra Norato - O
poema e o mito (1962) ; Osvaldino Marques: O poliedro e a rosa (1952), A seta e o alvo (1957)
e O laboratrio potico de Cassiano Ricardo (1962) ; Dirce crtes Riedel: O tempo no romance
machadiano (1961), Aspectos da imaginstica de Guimares Rosa (1962), O mundo sonoro de
Guimares Rosa (1962) ; Eduardo Portela, revelando-se a mais aguda e mais completa
organizao de crtico da gerao: Dimenses I (1958) e Dimenses II (1969); Adonias Filho
(1915); Modernos ficcionistas brasileiros (1958); Cavalcanti Proena (1905): Roteiro de
Macunama (1955) e Augusto dos Anjos e outros ensaios (1959); Rolando Morais Pinto,
Graciliano Ramos, autor e ator (1962); Antonio Hauaiss (1915): Crtica avulsa (1960), Seis
poetas e um problema (1960); Celso Cunha (1917): Estudos de potica trovadoresca (1961) .
Outros, ainda que sem livros publicados, destacam-se pela mesma atitude crtica : Assis Brasil,
Mrio Faustino, Fbio Lucas, Rui Mouro, Afonso vila, Osmar Pimentel, Brulio do
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Nascimento, Adalmir da Cunha Miranda, Jos Guilherme, Lus Costa Lima, Walmir Ayala e
outros.
O movimento da poesia concretista, provocando uma intensa agitao de idias crticas e
poticas, tem dado lugar a valiosas manifestaes crticas e poticas, tem dado lugar a valiosas
manifestaes crticas pela pena de Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Dcio Pignatari,
Jos Lino Grunewald, Ferreira Gullar, Mrio Chamie, Pedro Xisto, sem falar em estudos de
Cassiano Ricardo e Manuel Bandeira, e de alguns dos anteriormente citados. O filsofo Euralo
Cannabrava (1908) tem dedicado numerosos trabalhos ao estudo da poesia e da teoria crtica
esttica.
Essas diversas manifestaes referem-se a estudos de aspectos da obra literria, ora visando
anlise de sua estrutura interna atravs dos gneros, ora temtica, aos elementos componentes,
forma-contedo, aos artifcios poticos (esquema mtrico, nica da narrativa, imaginstica,
caracterizao, estilo, vocabulrio, convenes dramticas), etc. rimtico e prosdico ,
metforas , estrutura estrfica, padro rtimico, etc.) , aos artifcios narrativos.
De modo geral, a nova atitude desacreditou a crtica exclamativa, procurando ensinar a ler a
literatura, interpretar seu significado intrnseco, descobrir como a linguagem funciona na obra
literria, em suma, o que literatura, que existe nela e como atua.
A nova mentalidade estende-se organizao de edies de autores, crtica ou simples. um
fato evidente a melhoria de padro nas edies brasileiras de modo geral, destacando-se as
editoras Jos Olmpio, Civilizao Brasileira, Companhia Editora Nacional, Martins, Saraiva,
Melhoramentos, Globo, Brasiliense, Agir, So Jos, Acadmica e outras. Mas no campo da
edio crtica ou simplesmente de texto crtico que se revela a influncia da nova atitude que as
atuais geraes de estudiosos alimentam em ralao ao tratamento dos textos de autores como
base indispensvel ao bom estudo crtico.
Esto neste caso as edies da Editora Jos Aguilar, com a sua coleo em papel bblia de
autores brasileiros e portugueses, Biblioteca Luso-Brasileira, devendo mencionar-se de Castro
Alves, aos cuidados de Eugnio Gomes, a de Ceclia Meireles por Darcy Damasceno, a de
Alphonsus de Guimares por Alphonsus de Guimares Filho, a de Gonalves Dias por Antnio
Houaiss, a de Raimundo Correia por Waldir Ribeiro do Val, a de Jos de Alencar por
Cavalcanti Proena, a de Machado de Assis por Galante de Sousa, etc. Tambm merece
referncia a coleo de Livros DO Brasil da Companhia Editora Nacional, que inclui edies de
Gonalves Dias, Castro Alves, Fagundes Varela, etc. A obra de Machado de Assis tem sido
objeto de especial carinho por parte dos modernos editores. Hajam vista as edies da Aguilar,
em trs volumes, a da Editora Cultrix, sem falar na edio oficial, do Instituto Nacional do
Livro, dirigida por uma comisso de tcnicos sob a gide da Academia Brasileira de Letras, com
o objetivo de estabelecer o texto cannico da obra machadiana. A literatura de Anchieta foi
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tambm extremamente cuidada em edies do Museu Paulista e do Arquivo Nacional do Rio de
Janeiro, com reproduo fac-similar e leitura dos textos. A Casa Rui Barbosa vem cumprindo
modelarmente a sua misso de publicar a obra do seu patrono em edies completas ou seletas
do melhor padro; por outro lado, o Centro de Pesquisas da mesma instituio vem lanando
edies do Marques de Maric e Casimiro de Abreu por Sousa da Silveira, de Araripe Jnior
por Afrnio Coutinho, do Livro de Vita Christi pelo Pe. Augusto Magne, e outras obras numa
coleo de textos da lngua portuguesa. O Instituto Nacional do Livro tem ocupado numerosas
edies crticas, como a das obras de Toms Antnio Gonzaga, de Bernardo de Guimares,
Alvarenga Peixoto do Bosco Deleitoso, sem falar em obras de referncia bibliogrfica relativas
a Machado de Assis, Gonalves Dias, o teatro no Brasil, etc., devidas sobretudo a Galante de
Sousa. Edio valiosa foi a obra completa de Lima Barreto, da Livraria Brasiliense, aos
cuidados de Assis Barbosa, Antnio Houaiss e Cavalcanti Proena. Mesmo quanto a edies
correntes e comerciais notria a preocupao de editores em fornecer boas edies, como as
de poetas contemporneos Manuel Bandeira, Ribeiro Couto, Cassiano Ricardo, Murilo
Mendes, Carlos Drummond de Andrade, etc., pela Livraria Jos Olmpio, bem como a de Jos
Lins do Rego e Gilberto Freyre, pela mesma editora, as de Jorge Amado, Graciliano Ramos,
Guilherme de Almeida e Jos Geraldo Vieira, pela livraria Martins ; a de rico Verssimo pela
Livraria do Globo ; a de Alceu Amoroso Lima pela Livraria Agir, etc. Diversas imprensas
universitrias tm republicado textos raros ou editado obras inditas, como as da Universidade
da Bahia e do Cear.
Na crtica erudita, mxime de aplicao exegese textual e interpretao de autoria, merece
destaque o nome do mestre Afonso Pena Jnior (1878), cuja obra A arte de furtar e o seu autor (
1946) clssica ; nesse terreno tem realizado obras de vulto o erudito portugus Rodrigues
Lapa, sobretudo em relao aos poetas da pliade mineira.
Aliando a erudio e a crtica interpretativa, destacam Augusto Meyer (1902), em A Sombra da
estante (1947), Prosa dos pagos (1960), Preto & branco (1956) e Josu Montelo (1917) , em
Estampas literrias (1956) e Caminho da fonte (1959) . o caso de Guilherme Csar em
Histria da literatura do Rio Grande do Sul (1956), bem como o de Mrio da Silva Brito em
Histria do modernismo brasileiro (1958).
De modo geral, o movimento editorial brasileiro da atualidade, quer pelas editoras comerciais,
quer pelos diversos servios oficiais, testemunha a modificao de mentalidade no que tange ao
tratamento do texto e ao cuidado editorial. A Ecdtica desperta o interesse de estudiosos que
procuram dedicar-se ao estudo de seus segredos e tcnicas. No de menor importncia a
ateno especial dada aos aspectos de normalizao relativos apresentao do trabalho erudito,
redao, disposio grfica, sinalizao, uniformizao das referncias e documentao,
graas ao esforo da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (Rio de Janeiro) e a rgos
especializados como Instituto Brasileiro e Documentao Rio de Janeiro ) e aos cursos de
Biblioteconomia e Documentao institudos pelas Universidades. Cria-se, dessarte, uma
conscincia documental e bibliogrfica, paralela nova conscincia profissional que se alastra
entre os estudiosos, eruditos, crticos, historiadores, inimiga do diletantismo, autodidatismo e
improvisao.
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BIBLIOGRAFIA
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Curso de crtica. Rio de Janeiro, 1956.
Alceu Amoroso Lima . A crtica literria no Brasil, Decimlia (Biblioteca Nacional, Rio de
Janeiro ), 1958.
Wilson Martins. A crtica literria no Brasil. So Paulo, Departamento de Cultura, 1952.
Xavier Marques. Evoluo da crtica literria no Brasil, in Ensaios. Rio de Janeiro, vol. I,
1944.