A DANi;A AFRO EM CURITIBA NA DECADA...
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DERMEVAL FERREIRA DA SILVA
A DANi;A AFRO EM CURITIBA NA DECADA 1985/1995
Monografia apresentada aoCurso de Especializar;ao emHist6ria e Cultura Africana eAfro-brasileira, Educar;80 e896e5 afirmativas no Brasil naUniversidade Tuiuti do Paranapara a obtenc;ao do titulo deespecialista.
J
CURITIBA
Dermeval Ferreira da Silva.
Curitiba, 2007.
Monografia (Trabalho de Conclusiio de Curso de Especializa9iio
em Hist6ria e Cultura Africana e Afro-brasileira, EducaC;8o ac;oes
afirmativas no Brasil.) Universidade Tuiuti do Parana e 0 instituto
de pesquisa Afrodescendencia (IPAD )
TERMO DE APROVAc;:AO
DERMEVAL FERREIRA DA SILVA
A DANCA AFRO EM CURITlBA NA DECADA 1985/199
Esta monografia toi julgada e aprovada para obtenc;ao dlo titulo de especialista emHist6ria e Cultura Africana e Afrobrasileira, Educac;ao e AC;bes Afirmativas no Brasil, noCurso de Historia e Cuitura Africana e Afrobraslleira da Unhtersidade Tuiuti do Parana eInstituto de Pesquisa da Afrodescendencia do Parana.
Curitiba, 20 de fevereiro de 20018
CURSO: Hisl6ria e Cultura Africana e Afrobrasileircl, Educa980 e A90esAfirmativas no Brasil
Universidade Tuiuti do ParanaInstituto de pesquisa da Afrodescendencia do Parana
Orientador. Prof. MS. Jurandir SouzaUniversidade Espirita de Ouritiba
Dedico este trabalho:
A minha esposa: Marlene e 80S meus
Filhos: Carina, Flamarion, Luanda,
Camila, Lucas e a pequena Dandara.
Aos: meus pais.
AGRADECIMENTOS
lnstituto de Pesquisa da Afrodescendencia pelo incentivo
A meu orientador professor. Mestre Jurandir
A meu orix8 Xang6 e aos meus ancestrais, porque sem a forc;8 deles
nunca leria conseguido chegar ate aqul.
A Universidade Tuiuti do Parana e Professores.
Aos meus coregas de curso.
A meu amigo, Giancarlo Martins pelo apoio moral e incentivD.
Toda tarefa, par mais nobre que seja, esta destinada a enfrentar
problemas e obstaculos. E importante avaliar por completa a fina/idade a que
nos propomos e quais sao as fatores que determinam a nossa conduta. E
importante que a pessoa seja verdadeir8, honesta e sensaia. Suas aq6es
devem ser lao boas para os outros quanta para si propria.
Dalai-Lama
RESUMO
A educ8y80 do corpo em movimento devera propiciar ao educandourna tamada de consciemcia e dominic do seu corpo e, a partir dai,contribuir para 0 desenvolvimento de suas possibilidades deaprendizagern. Ela devera permitir ao aluno a exploraC;8o motara, asdescobertas de sua realiz8C;80, vivendo atraves das atividadespropostas, momentos que Ihe deem condic;oes de criar novos caminhosa partir das experi€mcias vivenciadas criando novas formas demovimento, podendo assim, atingir nfveis mais elevados em seuconhecimento. Ex: Quando se trabalha com uma atividade propondo umdesafio a ser vencido, 0 aluno cria mecanismos de superaC;8o doproblema, criando novas formas de movimento e aprendendo novasconhecimentos, os que estamos trabalhando: a dan<;a, com isso,ampliando conceitos, teorias e informa<;oes a respeito de povos, etnias,hist6ria, geografia, e tambem nogoes de cidadania. 0 trabalho tern comoobjetivo geral abordar as rafzes hist6ricas da introdug8o das dangas afrona comunidade compreendida por Curitiba e regiao metropolitana.
PALAVRAS-CHAVE: Expressao corporal, dan~a afro, negros.
SUMARIO
RESUMO .. . ..... vi1 INTRODUi;AO 1
2 REVISAO DE LlTERATURA ... .... . .4
2.1. DANt;:A A REALI DADE ESCOLAR 9
2.2. DANt;:A AFRO .. . 16
2.3.FORMAS DE LlNGUAGEM NA DANt;:A DE ORIGEM AFRICANA 19
2.4.0 AFRO PRIMITIVO E 0 AFRO CONTEMPoRANEO .. ... 19
2.5.DANt;:A AFRO NO BRASIL 21
2.5.1.Dan9as Afro mais divulgadas no Brasil.. . 23
2.5.1.1. Afox" 23
2.5.1.2. Dan9a dos Orixas.. . 24
2.5.1.3. Samba 27
................................. 28
2.5.1.5. Capoeira 29
2.5.1.6. Maculel" .. . 30
2.5.1.7. Manifesla9ao da Danc;a Afro em Curitiba 30
2.6. INSTRUMENTOS MAIS UTILIZADOS 37
2.6.1. Atabaque . . 37
2.6.3.Berimbau 38
2.6.4. Caxixis 38
2.6.5. Agogo 39
2.6.6. Apito 39
2.6.7. Pandeiro 39
3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS .41
3.1. TIPO DE ESTUDO .. . .41
3.2. 0 LOCAL DA PESQUISA .41
3.3.0 PERioDO DA PESQUISA ..41
3.4. PARTICIPANTES DO ESTUDO .42
3.5. COLETA E REGISTRO DAS INFORMAt;:OES .. ..42
4 RESULTADOS E DISCUSSAO .44
4.1. DANi;:A-AFRO: SUBsiDIOS PARRA A SUA COMPREENSAO 57
4.2. PROPOSTA DA DANi;:A AFRO NAS ESCOLAS 59
5 CONSIDERAr,;;OES FINAlS... . . 61
6 REFERENCIAS... . 63
A~m&.. . ~
INTRODU<;:AO
Justificativa
A danc;a remonta a tempos imemoriais - pre-hist6ricos - e e tao antiga
quanta a pr6pria humanidade. Nasceu nas primeiras manifestac;oes da comunhao
mistica do homem com a natureza, como a expressao dinamica das emo<;6es
primitivas do homem-danya-ritmo.
Para manifestar suas emoc;oes e expand i-las exteriormente, 0 homem
primitivo recorreu naturalmente ao movimento, ao ge5to, que e a danc;a em sua
forma mais primitiva e elementar.
Antes de usar a palavra, a homem ja se servia do movimento corporal, do
gesto primitive, pressionado pelo ritmo natural de suas emoc;::oes.Par isso, a
danc;a tern as elementos gerais que S8 manifestam nas danc;as de todos as pavos,
e as elementos especfficos que diferenciam as danyas destes povos.
Na vida do homem primitivo a danc;a presidia a todos os acontecimentos
como nascimento, casamento, mortes, cac;a, guerra, iniciacao dos adolescente,
doenc;as, cerimoniais tribais, vit6rias, paz, primavera, colheita, festa do sol, da lua,
da fertilidade, visando sempre 0 mesmo tim: a vida, a saude, a fertilidade, a
plenitude da for~a.
Esle senlido de dan~a como for~a-magica, que presidia a todos os
acontecimentos individuais ou coletivos do homens primitivos - pn3-hist6ricos ou
hist6ricos - que viveram ou vivem em constante comunhao mistica com a
natureza, pouco a pouco se esvaiu no tempo e no espaC;o. A danca, como toda
atividade humana sofreu 0 destin~ das formas e das instituicoes da existencia
social dos homens.
o tema do trabalho proposto e a manifestacao da danca afro, em Curitiba
na decada compreendida entre 1965 e 1995 com enfase na sua historicidade emCuritiba, assim como 0 seu desenvolvimento artistico-cultural.
As dancas afro, no sui do pais, mormente em Curitiba, foram introduzidas
nas duas ultimas decadas do saido milemio, 0 que faz desta arte uma
manifestacaoartistica e cultural muito recente na regiao em questao.
Segundo fontes historicas, cerca de 3.600.000 africanos escravizadosteriam dado entrada em portos brasileiros entre 1532 e 1850 0 que fez do atual
povo brasileiro uma mescla de racas quiCa inigualavel em outro pais do mundo.
(SILVA, 1994, p. 115)
Sendo nova, poucas ou nenhuma fonte hist6rica existe para que
pesquisadores possam estudar a introducao, desenvolvimento, atuacao e
interferencia desta nova manifestac;ao artistica no meio social de Curitiba, ficando,
portanto, uma lacuna ja no inieio da historia da danc;a afro nesta regiao, 0 que
dificultaria sobremaneira futuras pesquisas.
Do acima exposto, busca-s8 a resposta para a seguinte questaa:
Formula9ao do Problema
A danca afro manifestada de 1985 a 1995 em Curitiba, interferiu no
comportamento cultural da comunidade local? Incentivar a introdUl;:ao, 0
desenvolvimento e a atuacao da danca afro na sociedade curitibana pode se
constituir num elemento-chave para 0 reconhecimento e a visibilidade da
comunidade negra em Curitiba?
Elabora~ao das hip6teses.
A manifestar;80 da Danca Afro contribui para diminuir 0 preconceito com
relac;ao au contra a cultura africana?
A Danca Afro pode tambem ser trabalhada em Escolas?
Atraves da danca afro contribui-se para a divulgaCao dessa cultura?
Objetivos
Objetivo Geral
Buscar as rafzes hist6ricas da introduc;ao das dancas afro na comunidade
compreendida par Curitiba e regiao metropolitana.
Objetivos Especificos
Abordar historicamente a introduc;ao das danc;as afro na sociedadebrasileira.
Ressaltar a influencia e historico das danc;as afro na comunidade curitibana.
Enfocar danC;8 afro nas escolas como proposta metodol6gica deaprendizagem da cultura afro.
As escolas em sua praxis adotando a danca-afro como conteudo das aulaspade contribuir para resgate da cultura afro no Brasil.Os alunos devem conhecerespac;os ande possam vivenciar e trocar experiencias com outros grupos decriant;as que trabalhem em comunidades afro. Assim, a Educayao estaraapresentando ao aluno outras possibilidades de expressao, para que possa
compreender as origens e influencias que conformam a sua identidade cultural.
Na regiao metropolitana de Curitiba as rituais ritmicos afro, remontam,
possivelmente, a epoca da funda9aO da propria comunidade. Porem, nao existem
registros historicos oficiais au mesmo extra-oficiais desta atividade. Sabe-se, no
entanto, pela vivencia nesta comunidade, que as danr;as afro foram, de forma
mais acentuada, introduzidas na decada de 80 do passado seculo, 0 que justifica
o trabalho proposto.
FUNDAMENTACAO TEORICA
A al'aO educativa, quando voltada para a aprimoramento de apenas um
aspecto do desenvolvimento humano, inexiste au e fragmentaria.
A educal'ao planejada de forma a abranger as varios aspectos do
desenvolvimento do homem, e urn dos caminhos a percorrer para a construC;80de um ser humano, nao fragmentado, um homem total.
Nao obstante, a planejamento inadequado das atividades escolares nem
sempre tern suprido as necessidades intelectuais, motoras e espirituais doseducandos, parte pela desinformac;ao dos docentes, parte pela visao reducionistae departamentalizada de especialistas na Educac;aona constru.yaodos curriculos.
Os caminhos que conduzem a formaC;80do ser humano integral necessitampassar par processos que fujam a formalidade das salas de aula, de conteudos
descontextualizados e de relacionamentos insipidos entre professor e aluno.
o hom em de ontem necessitava apenas de informac;oes cafretas,
estruturas rigid as, pensamento analftico e linear e treinamento especial paradesempenhar determinados papeis. Pensamos que uma das ansiedades dohomem de hoje oj a do saber com a corpo inteiro. Quer acreditar que ha muitas
estradas a seguir. Busca caminhos nao exclusivamente racionais, mas tambemintuitivos, posto que entende que as instrw;:6es sao tambem construidas peloconhecimento, logo confiaveis. Acredita na emo~ao e na afetividade comocornponentes concretos na aquisic;:aode conhecirnentos. Necessita aprender urnprocessoque dure a vida inteira.
Ferguson (1980), nos diz de se eduea,ao nao pode ser eonsertada, pode,
ao menos, passar por grandes transforma,6es. Ha que livrar-se do apre,o as
vel has formas de ensina para libertar-se a mente que hoje quer" voar para ver",
A ardua caminhada do educador moderno na busca de metodologia
eficazes para a realiza980 do abjetivo do "aprender a aprender", levou-nos a
referendar a danc;a como urn dos caminhos possfveis de serem seguidos para
uma melhor comunicaC;8o do ser humano com 0 mundo que 0 cerea.
Sabemos que a crianc;a em fase pn3-8scolar, retira do movimento seus
momentos de maior satisfac;ao, logo torna-S8 evidente que uma atividade que
reuna uma elementos como: 0 movimento, 0 ritmo, a musica, a plasticidade e a
ludicidade naD 56 suprem as necessidades basicas das crianc;as como podem
inteJVir positivamente no seu desenvolvimento global, e nas habilidades
necessarias ao aprendizado da linguagem, da leitura , da escrita e de inumeros
outros conteudos escolares.
Discutir no ambito escolar passa, inicialmente pel a necessidade de clarear
alguns conceitos que estao implicitos no termo.
Evidentemente, a palavra danya envolve um conceito universal dearte ja percebido por lodos que par ela se interessa. Cabe-nos,portanto, elucidar as diferen9as fundamenlais entre a "danya arte"com umfim em si prOpria,e a dan9a que propomos operacionalizarna escola. 0 dicionario nos apresenla 0 verbele danr;a como·"cadencia de passos e sallos ao som e ao compasso de umamusica" (FERGUSON,1980)
Ja para Berge (1988) dan,a signifiea "um eonjunto de teenieas rigorosas,
ali ad as a dons particulares dos bailarinos na elabora9ao de movimentos
harmoniosos" (p.14).
Sob 0 estigma desses eoneeitos, ao longo dos tempos, a dan,a vem
trazendo significados pr6prios de temas pre-elaborados, sedimentados na
cOnCep98:0 do autor das musicas que 0 acompanham, como por exemplo " A bela
Adormecida", cuja partitura foi composta especial mente por Tchaikowski para
este fim, ou com urna significaty80 que, freqOentemente, e a do coreografo, tal
como na mesma obra, atraves dos tempos dantyadas da mesma forma que a
criou Petipa.
Preferimos referenciar Stokoe (1987) quando diz que: "a danc;a e a
resposta corporal a determinadas motiva90es" (p.16)
No entanto, poucas vezes podemos presenciar em cena, urn momenta de
criacao do proprio bailarino que pisa 0 palco, donde concluimos que ha nesta
forma de expressao artistica uma atuacao rna is intencional do que emocional.
Sugerimos, para minimizar essa, a inclusao do conteudo "dantya" como urn
elementos importante nos curriculos de Educacao Fisica da pre- escola e tambem
nas series iniciais do primeiro grau, ja que para esta atividade de ~amador" ou u
daquele que amato, nao ha necessidades de tecnicas rigorosas ou de dons
especiais.
o elemento principal da danc;a na escola consiste em buscar vivencias
corporais intensas, baseadas na alegria pessaal da mobilizatyao.
Para tal, abservamos na nossa praxis diaria, algumas vivencias
fundamentadas nas necessidades do ser humano em geral e das crianc;as em
particular.
1. A necessidade de expressaa autonoma que conduz para fora da inercia e
para fora de si proprio, na comunhao com 0 outro.
Fica-nos evidente a capacidade da criantya para ~aprender a aprender" par
intermedio da experi€mcia e da imaginatyao, a partir de urn mundo muito pessoal
que ela deseja ver compartilhado.
2. A aquisi,ao do respeito as individualidades pela nao exigencia de pre-
requisitos anat6micos au artisticos.
A dan,a de "amador nao exige de seus praticantes atributos especificos,
mas trabalha com aqueles disponiveis na constru,ao de urn saber homogeneo e
compartilhado.
Pedagogicamente, 0 ate de dan,ar na escola devera levar em conta, aon[vel de seus planejamentos e objetivQs, atividades que nao robotizem e nemdesconsiderem as individualidades. E fundamental entender que naD deveraexistir imposi98.o das ideias do professor nem sequer irnitacao. 0 principiapedagogico e 0 do respeito aDs nlveis de idade e interesse, buscando desenvolver
o gosto pela observa,ao do ambiente, das pessoas e dos fatos, por meio do
aprimoramento dos sentidos.
3. Tomada de consciemcia das interac6es entre 0 carpa, a mente e 0
espirito na constrw;;ao da pessoa par inteiro.
Para Berge (1985, p. 25), esta tomada de consciemciaocorre por meio do
"sentido de ser", que significa: ucompreensao psicol6gica da vivencia corporal e
experiemcia fisica e receptividade para aprender.
IS50 significa que a experiemcia e a consciencia das experiencias, efetivas
pelo born uso dos sentidos, refina a qualidade das informa,oes obtidas e,
conseqOentemente, das respostas. 0 aprendizado se constr6i p~r intermedio das
descobertas.
Berge (1988), mencionando Vittoz, explica que esta receptividade realiza-
se em ritmo de alternElncia, a qual no ser human~ e harmoniosa.
As recepc;oes ou descobertas acontecem ao nivel cerebral p~r meio das
sensac;oes ( corpo), e as emissoes ou respostas por intermedio dos pensamentos
( mente). Se ha sobrecarga de emissiio mental, tatalmente havera estata,
nervosismo e esgotamento. Nesse caso, diz ViUoz, ha dispersiio de aten9iio. A
crianya Duve, mas naD compreende. Em resumo, nao S8 faz presente no mundo
do conhecimento. Superar 0 condicionamento habitual dos pensamentos, das
atitudes e dos gestos etetiva-se pela "Consciencia do ser', do estar presente, que
se obtem pela a9iio compreendida, valorizada e repetida.
Pensamos que a receptividade para aprender e resgatada pela reeduca9iio
da percepC;8o auditiva, taW, visual e pela cinestesia que permite 0 envolvimento
absoluto do corpo ern seu dinamismo rftmico.
Sob essas observacoes, e convencidos da necessidade fundamental das
crianyas na mobiliza~o, buscamos, nas suas atividades habituais, urn conteudo
da Educa9iio Fisica Escolar que nao s6 supra as citadas necessidades, mas
contribua tambem com a aprirnoramento das percepc;oes para uma melhor
qualidade de conhecimento.
Sabemos que a crianca e sensivel ao ritmo, a cadencia e a repetic;ao, haja
vista suas reac;6es de apaziguamento diante das cantigas de ninar. Per esse
motiv~, sugerimos um trabalho fundamentado nos elementos ludicos que fazem
parte do seu universe de conhecimento, e que possuem um potencial motriz e
educativo eficazes quando bem operacionalizados.
Sugerimos um caminho a ser trilhado lanc;ando mao de uma lei universal a
qual 0 homem se submete: 0 ritmo. Para tanto, propomos como objeto de estudo
na rela9ao movimento-aprendizado, as atividades propostas pela dan9a praticada
pela educac;ao fisica escolar, calcadas no ritmo musical, pessoal ou da natureza.
Os caminhos a seguir sao os de uma melhor percepc;ao do mundo, com lmagens
claras, nas quais basear linguagens verbais, escrltas ou corporais.
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A danc;a na escola pretende proporcionar condic;:oes de interay80 entre os
sujeitos envolvidos no processo educacional,conscientes da necessidade de
discutir criticamente 0 ambiente, as homens e a vida.
2.1. DANt;:A A REALIDADE ESCOLAR
Pensar um processo educacional, segundo Santin (1990), nao e dar
prioridade a compreensao cognitiva do homem, nem ensinar a trabalhar para
produzir, mas ensinar a viver totalmente.
Sob essa perspectiva, poder~se-ia concluir que 0 melhor sistema
educacional e a pr6pria vida. No entanto, 0 rnundo mademo exige a compreensao
de conteudos especificos que possibilitem 0 suprimento das necessidades,
principalmente as profissionais, as quais estao afetos as seres humanos. Para tal,
fez-se necessaria a organiz8y8o metodol6gica dos diversos conteudos do saber,
departamentalizando-o em diferentes areas de conhecimento. A escota, como
mediadora, nao pode permanecer isenta.
E interessante observar, nesse contexto, que em poucos, momentos a
escola preocupou-se com os ~corpos" profissionais, privilegiando disciplinas
fundamentais para sua subsistencia, (alimenta.,ao, vestuario, habita9aO), sem
entender que a existemcia das profissoes se afetiva na razao direta da existencia
dos corpos. Em outras palavras, 0 trabalho s6 pode ser realizado pelo trabalhador.
Ha na escola 0 saber Matematico, que inicia e termina com a matematica.
Ha 0 saber Ungua, que inicia e termina com 0 conhecimento da lingua. E ha 0
"fazer" Educa~ao Fisica, que enquanto mantenedora do corpo aprendiz e
profissional, mantem-se ainda como moderadora do corpo fisico dos individuos.
II
Se retrocedemos a informa<;:80inicial de que educar e ensinar a viver,percebemos que a escola alastou-se deste proposito. Entendemos a necessidade
do estudo das diferentes disciplinas, pOfem observamos a premencia em torna-las interdiscipHnares, com graus de valorac;aonos curriculos idemticos para todas.
Uma atitude interdisciplinar exige dos sujeitos da ac;ao educativa-
educadores e educandos- alta dose de amor, abnega<;:8o e criatividade na
construy2o de urn homem integral e integrado nurncontexte educacional e social.
Sob 0 pensar de pesquisadores como Ferguson (1987), Senge (1990) e
NOT (1981), concluimos que vale menos contrapor disciplinas, senao torna-Ias
afins.
Urn raciocinio linear, baseado exclusivamente no encadeamento de fataselementares, fundamentados em estfmulo e resposta, 56 obtem resultados emsitua,iies analogas, como afirma NOT (1981).
Haselbach (1989) lornece-nos um modelo apropriado, no qual se evidencia
a interay80 entre a razao e a intuic;aona criayao de urn produto inteligente.Segundo ela, 0 conhecimento tern inicio nas impressoes do mundo exterior, 0 quevale dizer que nada surge do nada, mas de outros conhecimentos ja existentes,sejam eles as relacionamentos humanos, 0 meio ambiente ou a natureza. Essesconhecimentos sao conduzidos pera percepc;ao a consciemcia interior. Aconsciemcia adquirida pelos fatos e alimentada pelas emoc;6es, ideias enecessidades pessoais que sao expressas em ac;6escriativas, gerando um novoprodutode conhecimento para 0 mundo exterior, iniciandoum novo cicio.
Constatamos, assim, a validade do bin6mio razao-intuic;aona metodologiainterdisciplinarde ensino, ja que optar entre "cabec;ae corac;ao"e semelhante aoptar entre caminhar bem com uma perna au enxergar bern com urn alha.Queremos construir um potencial de inteligencia que considere a bilateralidade do
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ser humano, que se expressa em andar com as duas pernas, ver com as daisathos, ouvir com as dais ouvidos e interligar com as do is hemisferios cerebrais.Sabendo, entretanto, que esta orienta9ao nao e utilizado na maior parte dosistema educacional brasileiro, questionando a razao pela qual disciplinas como: a
Educaryao Ffsic8, Artes e a pr6pria Uteratura, sao considerados superfluas nesse
contexto.
Uma possivel res posta e a de que se trata de disciplinas cuja forma,ao nao
esta direcionada aos meiDs de produ9ao, mas a satisfar;ao e ao crescimentopessoal do individuo.
Sob 0 ponto de vista da Educa,ao Fisica, muito se discuti sobre a
importancia da expressao no movimento humano, seja pelo seu valorcomunicativo, pelo desenvolvimento do fisico au pera comunhao destes valores.
Na ultima decada, a valoriza,ao do corpo como receptaculo da unidade do homem
vem sendo discutida nas diferentes sociedades, sejam elas educacionais, sociaisou informais.
A escola nao tern ficado alheia a esse fenomeno, e conteudosprogramaticos tern sido elaborados sob a 6tica da corporeidade, com enfase na
dan,". Contudo, sabe-se que a aplicabilidade desta atividade nao vern atingindo
aos fins a que se propoe; parte pelo despreparo dos profissionais que nela
atuam, parte pete desconhecimento das suas potencialidades e das de seusalunos. Como conseqOencia, observa-se que a danc;a na escola transformou-seem shows para promover a instituic;aode ensino e 0 diletantismo de algunsprofessores. Pensamos que 0 show pode existir, porem, como resultado de urntrabalho elaborado para suprir as necessidade de movimento a que estao sujeitosas escolares, bem como para estimular-Ihes os sentidos para uma percepc;:aomaiscrftica do mundo.
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A nao observancia desses aspectos deve-se, principalmente, alguns
prindplas evidentes nos curriculas e que merecem ser revistos.
o corpo humano, a despeito da evolug8o filosofica 0 que passa, permanece
preservado e proibido as investiga90es mais intimas. Toda atividade que envolve
Consciemcia Corporal, pressup6e um estudo aprofundado das sensac;oes mais
reconditas do ser humano, e tanto a esea/a, quanta a sociedade em geral,
desestimulam a crianc;a nesse sentido, criando um adulto encourar;:ado e
despreparado para assumir-se na totalidade.
o preconceito de que meninos e rapazes nao devem se expor a grac;a e asemoc;6es que emanam do seu sar. Para estes, reservam-se as atividades
agressivas ou competitivas. Ora, sabe-se que as dancas tradicionais que
remontam a antiguidade foram executadas par ambos os sexos, algumas
exclusivamente pelos homens, e com exigencia de alto grau de energia e fan;a,
caracteristicas estas predominantemente masculinas.
Sob a estigma desses principias, a dan9a na escola, enquanto urn dos
centeudos da Educac;ae Fisica, permanece estagnada e candenada a restringir-
se, exclusivamente, a as papeis burocraticos eu manifestar-se come espetaculo
cujo sujeito e sempre a feminino.
Pensamos, contudo, ser possivel reverter esse quadro, substituindo os
principie acima citados, por eutros que nos parecem mais adequades.
A observa9c3o das limita90es do corpe, atraves da experiencia, leva a
crian9a a entender que pessoas diferentes possuem fermas diferenciadas de se
meverem e de se expressarem. 0 respeite as indlvidualidade devera ser a
conseqOencia esperada;
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As imposic;6es economicas e sociais das familias, nos dias de hoje,
submetem-se as crian9as a espa90s restritos. Sob essas condi90es, tanto 0
desenvolvimento motor, quanta 0 usa adequado dos sentido5 dessas crianc;:asfiearn comprometidos. Sabe·se que e na escola que as crian<;as tern a
oportunidadedo uso do espa90 e da observa9ao, pois I;; passam grande parte do
seu tempo. Cabe, portanto, a ela, tarefa de suprir essas necessidades, evitando,na medida do passivel, a confinamento as salas de aulas. Libertar os escolaresdas restric;:oeshabitualmente suportadas, bern como suprir suas necessidades decomunica~o, expressao e criat;vidade, devera ser 0 processo de planejamentodas atividades escoiares.
A escola tradicional alimenta 0 mito do super·esforc;:o para realizar bern
qualquer larefa. Entretanto, constatamos que 0 corpo humano, tanto sob a pontode vista motor, quanto do inteiectuai, foi "projetado" para tal. Os caminhos
empregados na plena ulilizaeao dos potenciais de aprendizagem devem serrepensados, buscando substituir a for~ pelo prazer em conhecer.
Krishnamurti, citado por Berge (1980, p. 31), diz ainda que: "suas ideiasserao suas, quando nao forem cerebrais, mas fizerem parte de voce mesmo".
Entendermos, nesta afirma9ao, que 0 reencontro do equilibrio, do ser quenao separa mais 0 corpo da mente, se faz por sua presenea total em suas aeoes.Para a sucesso de uma proposta baseada nesses principios, a Educar;:ao FfsicaEscolar pressupoe a organiza9ao de um currfculo fundamentado nessas reflexoes,e a ar;:ao de profissionais que se disponham a buscar formas de operacionaliz8-lotomando como partida os elementos componentes da dan9a na escola.
A expressividade da dan," e, inegavelmente, de extrema importancia navida dos individuos e povos.
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Naturalmente, naa se pade falar em uma dan •• especifica, cama a afra,
sem buscarmos as raizes da pr6pria danca.
Segunda as palavras de Fux (1983, p. 15), "0 que e dan,a? Paesia
encarnada nos intimos impulsos de urn carpa, em seus ritmos e gestos",
Pelos referidos autores percebe-se a import8ncia da dant;a para 0
individuo e para a sociedade em que se insere este individuo.
Segundo, ainda, 0 mesma autor
Vivem no Brasil as mais variados tipas de danyas e bailesfolc\6ricos, desde 0 mais rudimentar, a simples roda de homens emulheres de maDS dadas - a ciranda j do interior pernambucano -ale as mats elaborados de que pode ser examplo a danca debasloes. Nem sempre, porem, urn desses tipas de danya ou bailepode apresentar, na vastidao do territorio naeianal, urn numeraapreciavel de variantes(CARNEIRO, 1974, p. 31)
De acordo com as palavras do autor, a, as vezes, reduzida representac;:ao
de alguma danca, nao se dissemina par todo a paiS, a que vem de encontro ao
tema prapasta, vista que a dan,a afra pade ser incluida neste ral, na que tange aa
lacal escalhida para a estuda prapasta.
2.2. DANCA AFRO
Mesmo a nlvel nacional, as danc;:as afro e mesmo as rituais religiosos da
mesma raiz, sao, amiude, de dificil explorac;:ao hist6rica, como nos reporta Silva
(1994:11)
Reeonstituir 0 proeesso historico de formacao das religioes afro-brasileiras nao e, contudo, uma tarefa facit Primeiro, porquesendo religioes originarias de segmentos marginalizados emnossa sociedade (como negros, indios e pobres em gera!) eperseguidas durante muito tempo, ha poueos documentos ouregislros historicos sobre elas. E, entre esses, os mais freqClentessao os produzidos pelos orgaos ou instituiyoes que combaleramessas religi5es e as apresentam de forma preconceituosa oupouco esdareeedora de suas reaiscaracleristicas.
Grifo do autor
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Percebe-se entao a necessidade do resgate da hist6ria verdadeira de tais
concep96es cu1turais 8, tal necessidade S8 aplica, indubitavelmente, tambem it
danc;a que e parte essencial das reli9i6e5, e naD 56 delas, mas da cultura geral
dos pavos afro, que tern consideravel importancia na forma9ao do pavo brasileiro.
Portanto, concorda-se com 0 autor, limitando-se, porem, a pesquisa, a
ambito regional, pois, a re9iao escolhida, sem duvida, tambem sofreu e safre a
influemcia da cultura negra, em maior OUmenor grau, com rela-;Elo a outras reg iDes
do Brasil.
Ainda, 0 mesma autor S8 refere, nos seguintes termos it dificuldade de
uma analise historica real,nas seguintes termos:
E 0 caso dos autos da Visilac;ao do Santo Oficio da Inquisi¥BO, nosquais estao registrados nos processQS de jUlgamento de muitosadeptos dos cullos afro-brasileiros que foram perseguidos (sob aacusa.yao de praticarem ~bruxaria~) pela 19reja catoJica no Brasilcolonial. Qu, entao, "boletins de ocorrencia" feitos pela policia parareJatar a invasao de terreiros e a prisao de seus membros, sob aacusac;ao de praticarem curandeirismo, charlatanismo, elc.(SILVA,1994:12)
Concomitantemente, OS ritmos e todas as demais manifestac;:6es artfsticas,
como a propria danc;:a, sofreram os prejuizos da cultura reHgiosa, estabelecidos
pelo ignorante preconceito.
E preciso, portanto, mudar a visao antiga de marginalidade e trazer a luz a
verdadeira essencia desses rituais que, em ultima analise, trazem cultura e
educac;:ao em sua generalidade.
Como nos esclarece Santos
17
A maioria dos estudos conhecidos acerca da tradi9.30 africano-brasileira lem sido analisados a partir do aspecto antropol6g1co auda transmissao oral; a linguagem corporal e 0 aspecto educativolem tido pouca consideray8.o entre as estudiosos da area emquestao. Tenho observado e vivenciado essa situay8.o, sobretudona area de dan<;:a-arte-educayao.(SANTOS, 2002:17)
Pelo exposlo pelos autores citados, percebemos a necessidade do
resgate da hist6ria e a possibilidade de proporcionarmos a futuros pesquisadores
e a sociedade, em geral, uma visao real da historia da influencia da cultura afro,em especial, no caso do trabalho proposto, a dan9a, na forma9ao e educa9ao do
nosso pavo.
Os milhoes de africanos que foram trazidos para 0 Brasil eram tripulantes
de navias negreiros, cada qual com suas cren9as, linguas e rituais diferentes, quechegaram entre as seculos XVI e XIX. Nesta caravana incluiam-se reis, rainhas,prfncipes e princesas.
Mais do que africanos para trabalhar como escravos no Brasil-colonia, nosporoes daqueles negreiros, viajavam tradic;oes culturais, religiosas e artisticasdiversas.
Oanc;ascerimoniais, guerreiras e competitivas e, Danc;as liturgicas ao somde instrumentos de percussao que desempenhavam um papel de granderelevancia que, em suas terras de origem praticavam e ainda pratica-se ate hoje.Formas de tuta e danc;a, associadas a uma cerimonia magico-religiosa querecebem denomina90es diferentes, conforme a regiiio: N'Angol6 (em Benguela),
Cambangula (na regiao de Huila, sui de Angola) e Bassula (em Luanda, capital ao
norte). Todas impulsionadas pela firme vontade de cren9a e liberta9ao. Muitas
dessas manifestac;6es religiosas trazidas pelos africanos eram representadas emforma de dan9as, hoje denominadas dancas-afro.
18
No periodo escravocrata do Brasil, as festas dos negros t[nha,aspectos ludicos ou reli9i0505, cujo exemplo mais significativ~ e 0candomble. Oentre as vanas formas de organizayao, a dany8, amusica, a estoria, 0 canto e a indumentana eram bastantesexplorados. Essas manifesla¢es promoviam a integrayao entre asetnias escravizadas, a solidariedade e a organizayao pollticadesses negros. (SANTOS, 2002, p. 18)
A danca afro e considerada a mais antiga manifestar;8IO do ser humano (em
forma de dan9a). Ela nao s6 ainda esta viva, como em pleno processo de
desenvolvimento.
Pade ser definida como uma danca ritmada nos toques de atabaque,coreografada com movimentos de expressao corporal, inspirados nas tribos
africanas que migraram pro Brasil. Descal9Qs, roupas coloridas e muitos adornos.
Movimentos elasticos do tronco, ftexoes e extensoes acentuadas como felinos.
Saltos leves, quase alados. Muita coordena9ao motora e ritmica, expressao de
corpo e rasto.Como guerreiros prontos para 0 ataque, prontos para a dan~a.
Tumbadoras, atabaques, bongos, chiqueres. A dan9a se mostra em sua
manifesta9c3o primeira: a da alegria, do prazer, da comunicavao com 0 divino que
surge naturalmente por intermedio da magia do sam da dan<;a do coravao afro. A
dan9a Afro resulta da junvao de do is estilos de Dan~as: A energia dos movimentos
fortes do Afro, unida a ftexibilidade e ao swing do Jazz contemporaneo. Utiliza
sobretudo as pernas e 0 tronco,passa mensagens com as bra90s e as maos.
Hoje, ha quem afirme que a danr;a dos Orix8, Vonduns e Inskisi seja a base
da Dan9a Afro. Porem essa afirma9ao e fruto do esquecimento ou
desconhecimento da existencia de outras dan~as criadas par negros cat61icos
(M09ambique). por negros escravos (Capoeira), negros e indios (Caboclinhos),
assim como negros e brancos.
19
2.3. FORMAS DE LlNGUAGEM NA DAN9A DE ORIGEM AFRICANA
VERBAL - Canticos e Louvores, Invoca90es
PICTOGRAFICA - Inscri,oes e Desenhos no corpo, Pinturas
IDEOGRAFICAS - Simbolos (bastoes, escudos, peneiras, mascaras,
etc ... ).
VESTUARIO - Adornos e Adere,os (animais, vegetais, minerais).
INSTRUMENTOS MUSICAlS - 0 formato e 0 material usado na confec9iio
dos mesmos.
2.4.0 AFRO PRIMITIVO E 0 AFRO CONTEMPORANEO
o que diferencia 0 tipo de Danc;a em Afro Primitivo e Afro Contemporaneo,
e que em rela9ao aD primitiv~, a simbiose hom em· natureza nao e rompida e
sempre reatualizada do coletivo para 0 individual; ja no contemporaneo, 0 sentido
e inverso, prescindindo de uma complementaridade.
No primeiro momento, parte-s8 do Tempo Mitico para 0 Tempo Historica,
passando-se pelo Tempo Social; no segundo momento, parte-se do Tempo Social
para 0 Tempo Hist6rico.
o Afro Contemporaneo, relaciona-se com a performance eminentemente
tecnica, refere-s8 a estatica da linguagem.
o Tempo MflieD como elo de reunificaC;8o com a origem, nao aparece em
funC;8o da descaracterizaC;8o cultural, e este e a tatar que Ihe confere urn carater
especifico singular - ser contemporaneo.
Como conteudo psiquico, as mitos estao inseridos no contexto cultural que
Ihe e peculiar, sendo, portanto um elemento estruturante da cultura = Grupos
Etnicos.
20
Cada grupo etnico desenvolve seus pr6prios mitas em particular, tendo um
mito universal estruturante. Par exemplo:
Mito da Cria,ao ou Origem - E universal e de carater racial, podendo ser
trabalhado particularmente em acordo com a cultura de cada grupo etnico:
Mitos Agnirios - Plantio, Colheita, Fertilidade da terra;
Mitos da Pesca e Carya - Animais, Meio Ambientes naturais OU
Ecossistema;
Mitos Vegetais, Mitos Atmosfericos, Mitos Escatol6gicos - Relacionados a
morte, ao fim da existe!'ncia.
A pratica da Dan,a Afro necessita somente do corpo: cabe,a, tronco,
bra90s e pernas, acrescidos de agilidade, sensualidade e um pouco de manha.
Acompanha urna expressao rftmica que em determinados momentos para ser
produzida vale·se do auxflio de instrumentos musicais, que par suas vibrac;:oesmarcam as passos da danc;:a.
E comprovado que a Dan,a Afro, e uma atividade fisica que fornece muitos
elementos para a formaC;:8o educacional do individuo, ajudando na educac;ao do
movimento, principalmente, para as crianc;as. Entre eles pode·se Gitar: 0 canto, a
poesia, c6digos sociais, identificaC;:80 culturais e componentes das func;:oes
motoras como: coordenac;:ao, ritmo, equilibrio, e ainda, percepcao ao nivel de
corpo, objetos, formas, linhas e cores.
o homem ou a mulher, com a pratica da Dan,a Afro, fortalece sua
musculatura abdominal, como tambem melhora sua capacidade aer6bica. Os
exercicios executados de forma aer6bica visam, principalmente, as modificacoes
21
significativasdo sistema cardiorespirat6ria que S8 caracteriza par urn aumento dascavidades do coral;ao, alem da melhoria das trocas gasosas.
2.5.DAN<;A AFRO NO BRASIL
Ha muito tempo, auve-se falar que a Danca Afro Brasileira nao precisa detecnica para se aprender, que qualquer pessoa consegue executar os movimentose que basta tacar um tambar e sair dan,ando, embalado pelo ritmo. Tais
afirmac;oes refletem 0 usc da discriminac;ao par a danc;a afro nao ser umamodalidade academica e tambem a vergonhosa pratica racista e ainda, 0estere6tipo de inferioridade a qual a cultura negra foi submetida na sociedade.
A Danca Afro e uma atividade que envolve filmo, harmonia, sincronia,farmas, linhas e cores, al8m de ter raizes Gulturais s6lidas. Embora esteja
correndo 0 risco de deteriora9aa, pais em nome do redimensionamento da suapropaga,ao, est'; perdendo sua identidade cultural e cada vez mais, sen do tratada
como mero folclore.
Com a falta de conhecimento mais aprofundado, a Dan9a Afro a cada dia
vem se distanciando das suas caracterlsticas originais. E mais uma vez,condenada a imposiyao para ser aceita, a de ser ministrada nas academiasatraves das tecnicas de afro-moderno, afro-jazz e ou afro-contemporaneo. Comisso, abandonam seus elementos simples e natura is, extraidos da pr6prianatureza - que e a fonte de expressao do corpo primitivo: 0 contato com 0 mar,cachoeiras, rios, pedreiras e principalmente, com a f1oresta, no manuseio dasplantas (folhas, Hores e frutos), como fontes que possibilitam a capta,ao de gestos
e movimentos.
Como se na~ bastasse, a nova tecnica empregada ao ensino da dan9a afro,pressupoe a falta de contato com as cerim6nias afro realizadas nas florestas quenos fazem en tender 0 respeito e 0 sentimento de preservavao ecol6gica, conceber
22
as elementos-dominies dos deuses africanos, pianos de existencia e suas dan~as
especificas. Considerando que a danc;a afro, procura desenvolver um processo de
relat;ao entre 0 praticante e a meio ambiente.
Podemos afirmar que a forca dos movimentos da Danca Afro e transmitida
per tres canais energeticos que sao: a cabeca, 0 Tranco e as Pes.
CABEI;A - Parte superior do corpo que raciocina, que ordena a acao do
resto do corpo. Ponto referencial da natureza: 0 ceu.
TRONCO - Parte media do corpo. Elemento importante na procriacao e
seducao, ajuda a requebrar no andar e no dancar. Ponto referencial da natureza: 0
mar. Podemos estabelecer uma rela~o com as est6rias dos orix8s. Oxum e
lemanja, rainhas da procriacao, seduc;ao, beleza e feminilidade.
PES - Parte inferior do corpo. Elementos que locomovem 0 individuo para a
guerra, a trabalho e a festa. Sao eles que transportam sensac;6es para todo a
corpo atraves dos solados. Os africanos consideram anti natural dan<;ar com
sapatilhas e meias,
2.5.1.Dan~as Afro mais divulgadas no Brasil
2.5.1.1.Afoxe
E de Origem Africana, apresenta no seu contexto elementos ligados areligiosidade dos africanos aqui no Brasil que para estes adeptos principalmente
do Candomble Jeje-Nag6s e quase que uma obrigacao levar 0 axe (energia
positiva) aos festejos que participam.
Os antigos Afoxes ao se prepararem para desfilar, sobretudo no Carnaval,
primeiramente eram preparados espiritualmente, seguindo os Rituals do
23
Candomble nos Terreiros, com oferendas aos Orixas. Atualmente islo naDaconteee, pois muitas pessoas que brincam nos Afoxes naD tern vinculos com 0
Candombh". pois a lideran,a que organizavam tal desfile em muitos locais nao
pertencem mais ao lider religioso (Pai de Santo; Babalaorixa. ou a Mae de Santo
= Yalaorixa.
o Afoxe desfila separado de qualquer outra manifesta,ao. pOis apenas
podem participar quem esta no grupo que. na sua grande maioria. sao hom ens. As
roupas sao 19uais para todos, utiliza-se adere.yos como contas dos Orixas
(conjunto de mi9"ngas que unidas formam um tipo de colar que e preparado com
ervas e Qutros produtos para poder ser utilizado pelo filho do Orixa como sinal de
respeito e proteC;8o,cada Orixa e representado por uma cor ou conjunto de cores
nas contes),mas muitas vezes as contas utilizadas no Afoxe naD apresentam
nenhum prepara espiritual. turbante na cabe9". uma bata (especie de Camisa de
origem africana), calc;8, todas da cor branca simbolizando a paz do Orixa Oxala.
Os Cantos e a dan,a executados durante 0 desfile estao ligados ao
Candomble, 0 canto e em lingua Nage, as instrumentos musicais mais utilizados
sao os 3 atabaques ( ru. rumpi. Ie). agog6 ou gam. xere.
2.5.1.2. Dan9a dos Orixas
E uma danc;a sensual e guerreira. Aparece em todos os estados brasileiros.
Tres Fontes ficararn evidenciadas: a indigena, bern caracterizada pel a
coreograFia dos caboclinhos (ou cabocolinhos) originiuios dos cucurnbis; a
europeia, atraves do pezinho, das tiranas ou dos schottish, e a aFr;cana, via
candomble. umbanda.
24
Dai originaram-se muitos dos passos do .Suas cores, metais, allmentos,
dominios no universa, saudac;6es e as danc;:as, os oriX8S povoam a cultura
brasileira desde 0 tempo da colonizar;ao.
De suas coreografias deve-se ressaltar:
Bravun, de origem keto, 0 ritmo percutido com varetas, danc;:a de Ogun,
orixa do ferro que alimenta-se de varias carnes e, em especial de galinha
d'Angola. Sua sauda~ao e "ogun ie" e a cor 0 azul. A coreografia de Ogun tem a
dan<;a do bravun bern agitada, as passos mais acelerados, brac;os movimentados
para 0 alto, a frente e na horizontal, nesta ultima parte como a cortar lanc;:as e
defender-s8 de adagas com escudo imaginario, aC;Des tfpicas de sua essencia
guerreira.
Oanc;a dos Exus: com dominic nas aberturas de rua e encruzilhadas, suas
cores sao vermelha e preta, as anima is 0 galo, bode e cachorro. 0 metal dos exus
e 0 bronze, a saudac;ao e laro ie. Exu apresenta-se numa danc;a serpenteada, as
maos ora levantadas para 0 orun (ceu), ora para 0 aye (terra) os quais ele
interliga. A comissao de frente nas escolas, em especial a partir dos anos 60,
executa inumeros de seus passos.
Aguere: e a forma coreografica com a qual se expressa Oxossi. Dono das
matas, sua cor e 0 verde e a saudaC;80 "Oke" ou "Oke aro" Metal e 0 bronze. 0
galo e animais de caca sao oferendas preferidas e 0 seu dominio a rua. A danc;:a
de Oxossi e de especial beleza. 0 corpo corcoveia, vai ao chao, para. Os
movimentos das maos simbolizam arco e f1echa, sfmbolos de Oxossi. E tambem a
coreografia de lansa, cujas cores sao vermelha/branca ou amarela. Seu metal, 0
cobre. Domina os ventos, a tempestade e os animais prediletos sao a cabra e a
galinha. A sauda,ao e "eparrei". Alem da rapidez, das fugas e contrafugas
pr6prias de Oxossi, a danc;a de lansa tern como propriedade feminina 0 enlac;:ar
dos brac;os. A partir desses meneios desenvolve-se 0 "iruechim", uma ondulay80
25
f1utuante de maos com as brac;;os erguidos, comumente chamada de quebra-
pratos, e na qual se utiliza urn feixe de fios de rabo de cavalo.
Iruechim: evocaC;;8o aos eguns (espfrito dos martos). simbolizando a vida
lisica que se quebrau. Toda a gra~a do jogo cenico dos bra~os dessa coreografia
e exibida no belo momento do desfile das grandes escolas de samba. Seus
animais sao galo ou do bode e, para sauda-Ia diz-se "arroboboi". Ijexa: e a
animac;;aocoreografica de orixas poderosos, a exemplo de Oshum.
Oxum: que tern as cores do Duro ou azul. Seus anima is preferidos a cabra e
a galinha. Os domfnios: a agua doce e 0 amor sendo-Ihe natural, tambem, 0 mar.
Seus passDs no ijex8 sao milldas, lentos, delicados. Lua, meia-Iua, como
reproduzem as bailarinos classicos ao representa-Ia. Os brac;;os de Oxum
conduzem 0 fitmo do corpo como se fora a puxada de remos, ora para frente, ora
para Iras. Ela repraduz, igualmente, sensual mexidinha dos ombros. orixa da
beleza, do encantamento, tambem Oxum dan~ segurando e batendo a barra da
saia, para onde olha, como a pracura da imagem de sua gra~a no espelho das
aguas. Sua saudac;ao e "ora ieie 0". 0 ijexa e, igualmente, danc;a de Ossanhe
(Ossanha) que se reproduz em passos semicirculares danc;a com as brac;os e
mEIOSmultidirecionados, como a distribuir as folhas e raizes da sua essencialidade
curativa. Para sauda~la diz-se "eu eu 0" Sua cor e ab6bora·clarinha, e ferro a
melal prelerido.
Opanije: coreografia de Omulu, Obaluae, que dominam 0 sol, a terra e,
notadamente, as doenc;as epidemicas. As cores sao preta, branca e vermelha e a
sauda~ao "atot6" Os animais preleridos sao galo, porco ou 0 bode. A dan~a e
exercida atraves de tres passos a urn lado, os brac;os erguidos ao ceu; igual
andamento para 0 outro lado, novamente as brac;os alc;ados. De volta a base,
entao os tres passos serao para frente. Sao urn dos principais movimentos das
alas para se arremeterem a frente sem abrir claras na harmonia do desfile das
escolas de samba.
26
Aluja: dant;;:ade Xango, a mais viril e agressiva de todas as coreografias dos
santos africanos. Dorninador do raio, do fogo e, sobretudo, da justir,;:a, de Xango
sao as cores vermelha e branca e, as vezes, 0 marrorn. Cobre e seu metal e seus
alimenlos preferidos sao 0 carneiro e 0 galo.a saudacao e Ka6-KabieciIi9. Com
guerreiro, a coreografia de xango e dominada pela simula980 de gal pes de
machado, urn de seus simbolos. Num momento, ele rasga a espa<;o para frente,
noulros cruza sua arma com 0 imaginario opositor (0 mal). De forma impetuDsa,
uma coxa a frente, 0 tronco e impulsionado para frente e, em sequencia, para urn
dos lad os a coreografia vai ocupando lodo 0 espaco que Ihe e dado. Para
executa-Ia bern, e preciso eslar bern preparado fisicamente.
Ibin: tern duas vertentes, uma quando aparece como Oxaguian, sua
coreografia tern mais vibra~ao, mas e executada a passos curtos, curtissimos,
para a direita e esquerda, ao tempo em que os brayos mavimentam-se para 0 alto,
elevando sua espada para a ceu. Sao passos semelhantes aos de Ogum,
contudo, regidos pel a brandura, a suavidade Dutra como Oxalufan (0 oxala mais
velho), ao dancar a composiCao do corpo e arqueada. Amparado no Opaxoro (0
centro) ele praticamente caminha, passo a passo, com intervalos vibratorios da
cabeya aos pes. A coreografia de Oxaguian da postura as baianas, acentuando a
rodada do corpo, propriedade do samba.
2.5,1,3,Samba
Genera de can~o popular de ritmo basicamente 2/4 e andamenta variado,
surgido a partir do infcio do seculo xx como aproveitamento consciente das
possibilidades dos estribilhos cantados ao som de palmas e ritmo batucado, e aos
quais seriam acrescentados uma au mais partes, au estancias, de versos
declamatorios.
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Dant;:a popular e musica de compasso binario e ritma sincopadoreveladores de sua ligac;ao original com as ritmos batucados, acompanhados parpalmas, dos bailes folcl6ricos denominados sambas. Palavra provavelmente
procedentedo quimbundo samba (umbigada), empregada para designar danya deroda (de coreografia semelhante a do batuque) popular em todo 0 Brasil,
geralmente com danc;arinos solistas, em que, como ponto de culminancia, aparece
quase sempre a umbigada. Os sambas mais conhecidos sao os da Bahia, Rio de
Janeiro e Sao Paulo. Segundo Luis da Camara Cascudo, pode-se observar ainfiuencia da cidade no samba pelo fato dele ser tambem danyado por par
enlac;ado. Quanta a instrumentac;ao, Mario de Andrade faz uma observac;ao valida
para as demais danyas afro-brasileiras com predominio de percussao: "Osinstrumentos nao obedecem a nenhum criterio seletivo, sendo livre a contribuic;ao
dos tocadores". No Rio de Janeiro 0 samba era inicialmente danc;a de roda entreas habitantes dos morros. Fa; dai que nasceu 0 samba urbano carioca, espalhadohoje par todo 0 Brasil. Sao seus instrumentos0 tamborim, 0 violao, 0 pandeiro, 0cavaquinho, a cuica, 0 surdo, as caixas, etc. Oa mesma forma que 0 batuque, jadesde 0 inicio do seculo XIX, a palavra samba estendeu-se como designacao dequalquer tipo de baile popular. 0 primeiro samba gravado, tido e reconhecido pela
maioria dos pesquisaderes de musica popular, apesar de polemicas paralelastanto em relacao a autoria exclusiva de seus dois autores quanto a prioridade deseu aparecimento publico, intitulou-se "Pelo telefone" e foi assinado per Ernestodos Santos (ver Donga) e Mauro de Almeida, 0 cronista carnavalesco Peru dos
Pes Frios.A primeiragravacao do samba inaugural foi feita para a Casa Edison doRio de Janeiro pelo cantor Baiana, acompanhado pela Banda da Casa Edison eobteve notoriedade publica no carnaval de 1917. Embora considerado por
estudiosos com alguma influemcia do maxixe, 0 samba obteve consagracaonacional na decadade vinte atraves da obra de Jose Barbosa da Silva (ver Sinha),
considerado 0 primeiro sambista a organizar 0 samba profissionalmenteem tornotanto de sua obra, quanto de sua pr6pria personalidade individual. Aindainfluenciado pelo maxixe, mesmo no conjunto das composicoes de Sinh6, 0samba s6 viria a tomar sua forma definitiva, em ritmo, com Ismael Silva e sua
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turma do Estacio (bairro boemio e semiproletario carioca), ao final da decada de
vinle do seculo passado.
2.5.1.4. Axe
As origens do axe estao nos anos 50, quando Dodo e Osmar come9am ataear 0 freya pernambucano em rudimentares guitarras eletricas (batizadas de
guitarras baianas) em cima de uma Fobica (um Ford 1929). Nascia 0 Trio Eletrico,
atraCiio dos carnavais para a qual Caetano Veloso chamou a atenciio em 1968 na
musica Atras do Trio Eletrico. Mais tarde, Moraes Moreira, dos Noves Balanas,teria a ideia de subir nurn trio (que era apenas instrumental) para cantar - foi 0
marco zero da axe music. Paralelamente aD movimento dos trios, aconteceu 0 daproliferaciio dos blocos afro: Filhos de Gandhi (do qual Gilberto Gil faz parte),
Badaue, lie Aye, Muzenza, Araketu e Olodum. Eles tocavam rltmos africanoscomo 0 ijexa, brasileiros como 0 maracatu e 0 samba (as instrumentos eram asdas escolas de samba do Rio) e caribenhos como 0 merengue.
Com a cad€mcia e as letras das musicas de Bob Marley nos ouvidos, 0
Olodum criou 0 samba-reggae, mtisica com forte carater de afirma~o danegritude, que fez sucesso na Salvador dos anos 80 com artistas como Lazzo,Tonho Materia, Geronimo e a banda Reflexus - as musicas chegavam ao Sudesteem discos na bagagem dos que la passavam ferias. Logo, Luis Caldas (do trio
Tapajos) e Paullnho Camafeu tiveram a ideia de juntar 0 frevo eletrico dos trios e 0
ijexa. Surgiu assim 0 deboche, que rendeu em 1986 0 primeiro sucesso nacionaldaquela cena musical de Salvador: Fricote, gravado por Caldas. A modern ida de
das guitarras se encontrava com a tradiyao dos tambores em mistura de altaoctanagem.
Uma nova gera<;:aode estrelas aparecia para 0 Brasil: Lazza, BandaReflexus (do sucesso Madagascar Olodum). Sarajane, Cid Guerreiro (do lIari€!,
gravado por Xuxa). Chiclete com Banana (que vinha de uma tradiciio de bandas
29
de baile, bloeDsafro e trios eletricos) e Margareth Menezes, a primeira a engatilharcarreira internacional, com a ben980 do lider da banda americana de rock TalkingHeads, David Byrne. Pouco tempo depois, 0 Olodum estaria sendo convidado pelo
cantor e compositor americana Paul Simon para gravar participa/y80 no disco The
Rhythm of The Saints.
2.S.l.S.Capoeira
Capoeira e uma heran9a deixada pelos negros bantos vindos de Angola
como escravos. Cultivado e praticado por escravos fugitiv~s, ensinado aos negrosainda cativQS por recapturados voltando aos engenhos, surgiu como uma especiede arte marcial. Para nao levantar suspeitas, os movimentos da luta fcram sendoadaptados as cantorias e musicas africanas para que parecessem uma danc;a.Simbolo de identidade, solidariedade e resistencia, a Capoeira nao deixou de serperseguida depois do fim da escravidao. Na cidade de Salvador, capoeiristas
organizados em bandos provocavam arrua~s nas festas populares e refor~vam
o carater marginal da luta. A Capoeira s6 comeca a ganhar aceitacao par partedas autoridades nos anos 30: Em 1932, Manuel dos Reis Machado, Mestre Bimba,
abre uma academia em Salvador e sollcita 0 registro para que funcionenormalmente. Em 1937, Mestre Birnba recebeu urn convite do entao interventar daBahia, General Juracy MagalMes, para organizar uma roda de uma varia9iio da
Capoeira (chamada "Regional") para 0 Presidente Getelio Vargas, que visitava
Salvador. Oesde entao, a Capoeira ganhou reputacao como arte marcia I nomundo inteiro, assim como por sua funcao social e educativa. Hoje em dia, aCapoeira esta dividida em duas correntes: 'Angola' (a mais antiga; MestrePastinha) e 'Regional' (Mestre Bimba).
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2.5.1.6.Maculele
o Maculele e uma danya guerreira, urn jogo de bastoes de madeira
acompanhados de canticos em linguagem popular, ou em dialetos africanos, com
um instrumental variavel de atabaques, agogos, ganzas, pandeiros e violas.
Trata-se de uma demonstra9ao de ataque e defesa, em que 0 atacante
pode investir contra urn, dois e ate tres dos seus companheiros, usanda apenas
um bastao, ao passo que as atacados S8 defend em com dois deles.
o nome usual para 0 bastao e "grima", palavra que seria uma forma
abreviada de esgrima.
o Maculele vern atravessando numerosas transforma90es. Em alguns
grupos, a luta com bastoes de madeira foi substitufda par faeoes - mudant;a esta
que nao agradou aos defensores tradicionais do jogo.
2.5.1.7. Manifesta9iio da Dan9a Afro em Curitiba
Com a finaHdade de complementar a pesquisa, buscamos mapear, ou seja,
contextualizar alguns grupos e representantes de dan9a-afro de Curitiba.
1. Grupo Afro Cultural Ka-naornbo
o Grupo Afro Cultural Ka-naombo (Vera Paixao), foi criado par urna
militante da Associayao Cultural de Negritude e A9aO Popular - ACNAP. Que,
resolvendo tazer uma festa para angariar fundos para ACNAP, denominou-se
Noite Ka-naombo realizada em cite de junho de mil novecentos e noventa e urn,
31
surgindo assim 0 Grupo Afro Cultural Ka-naombo (coisa de negro em Kimbundu -
Africa).
o Grupo Afro Cultural Ka-naombo, atua com teatro, capoeira e dan~a afro,
passui urna coordenaC8o propria e regimento interno de funcionamento, passu;autonomia para realizar seus trabalhos. Tendo par finalidade resgatar aconsciemcia negra par meio da danc;a e manifestac;5es artisticas cutturais emtodos os segmentos da arte.
o Grupo Afro Cultural Ka-naombo e formado por dan~arinos amadores e
profissionais, percussionistas, coreografo, figurinista, cen6grafo, Huminador,sonoplasta, diretor de arte, produtor musical e de arte, e coordenador geral.
o Grupo Afro Cultural Ka-naombo tem por objetivo desenvolver nos
participantes 0 sentido de responsabilidade social e da paTticipaC;8ocomunitaria;valorizar e divulgar a hist6ria e a cultura africana e afro~braslleira e 0 respeito aQutras divers idades culturais; preservar a dignidade e 0 respeito a muther, tornarum espaco de intera980 para com a comunidade local, visando recuperar a auto-estima de jovens onde tern na comunidade onde e vive a unica oportunidade desuprir a sua invisibilidade e levar 0 conhecimento aos nao negros tornando-semais faci1a processo para que possam entender e conviver com as diferen9as.
Todas as receitas provenientes de suas apresenta90es culturais reverteraoexclusivamente para usa pr6prio de manutenc;aoe pagamento de dan9arinos.
Preparando-os para enfrentar as desafios propostos pelo mercado detrabalho no campo artistico, respeitando as diferen9as individuais, proporcionandauma visaa de aspectos da origem da percussao, treinando-os na arte musical,salientando 0 valor e origem de cada ritmo e assim estimulando 0 processocriativo em composi980 coletivas ou individuais, ampliando e explorando osmovimentos simb6licos. Explorando a percepvao juntas da forma do espa90, do
32
tempo, ou seja, do desenvolver a coordenacclo motora e percepcao ritmica, a fim
de perceber a diferen,a dos ritmos.
o Grupo Afro Cultural Ka-naombo se identifica com a dan<;a tribal, pois
relaciona a dan,a, conflitos, ou seja, guerras (passos ritmados de guerreiros) e 0
afro selvagem que tern maior afinidade a animais silvestres, a dan98 e tipica da
regiao de Moc;ambiqu8, pode ser considerada como forma de marcamos nossa
espa,o, contra toda injusti,a atraves do ritmo denunciando 0 racismo e toda a
forma de preconceito.
A danc;a afro tribal se identifica com as ideologias e representac;6es,
exercendo um papel fundamental na identifica<;ao etnica cultural, devido a
infinidade de dados historicos.
2. Grupo Utamaduni
Proprio da cultura negra 0 Grupo de Musica e Dan<;a Utamaduni (Orlando
Silva), ou Heran<;a Cultural na lingua swahili, nasceu em Curitiba em 1989, sob a
idealizac;ao e direc;ao do percussionista e vQcalista, Orlando Silva.
o grupo tinha um embriao a partir do trabalho desenvolvido por Silva em
Guarapuava, sua cidade natal, em 19S8, ana que marcou 0 centenario da abolic;aono Brasil.
Em Curitiba, com a assessoria de urn mange africano, Dada Pavanananda,
Silva projetou 0 Utamaduni e iniciou uma corrida em busca de percussionistas
para tirar 0 projeto do papel.
o primeiro a integrar 0 Grupo (oi 0 percussionista e capoeirista Marcos
Abdula. A ele se somaram Ezaias Freitas, Aparecida Africana e outros.
33
A pre-estreia do Utamaduni na Secretaria de Estado da Cultura em maio de
1989 marcava 0 inicio de urn trabalho que fez hist6ria na cultura negra em Curitiba
e no Parana. Dois bailarinos de Salvador, Ubirajara Ribeiro dos Santos e
Dermeval Ferreira estavam numa tourne pelo Parana com uma companhia de
dan,a de Salvador.
Dermeval assistiu a pre-estn§ia di Utamaduni e, tanto ele quanto Ubirajara,
trocaram a companhia baiana pelo trabalho paranaense. Mais tarde vieram
Jaciara Ribeiro dos Santos, Nilson Savalu, Telmo Passos e Qutros baianos. Diego
e Luana Esteche, filhos de Orlando Silva e Cristina Esteche, tambem integravam 0
grupo.
Muito mais do que urn grupo de rnusica e danc;:a afro brasileira 0 Utamaduni
se consolidou com um grupo de estudos da historia do negro desde a Africa ate 0
Brasil.
A africanidade passou a ter visibilidade nas calc;:as largas e coJoridas, nos
cabelas tranc;:ados, nas roupas africanas. Tudo isso acabou resultando nurn e5til0
pr6prio com a criac;ao da grite Utamaduni, cujas pe9as eram vendidas nos shows.
o trabalho paranaense atraiu a aten>"o do Olodum, do lie, grupos baianos
conhecidos internacionalmente. As composi90es em linguas e dialetos africanos, 0
ritmo tribal, levou diretores dos grupos citados ate 0 ~Quilombo Utamaduni (como
era denominada a casa onde moravam os integrantes), na Rua Estados Unidos no
Bairro Bacacheri, ao lado do Instituto de Pesos e Medidas (IPEM) em Curitiba, por
varias vezes. Eles queriam as pesquisas feitas pelo Grupo.
o Utamaduni era realmente a referencia da cultura negra em Curitiba.
Faculdades, como a PUC, a Espirita, solicitavam palestras, workshops, que eram
promovidos pelo grupo.
34
o Utamaduni chegou a representar 0 Brasil no Festival Latino Americana doArtesanato e do Folclore em Assun9ao no Paraguai.
o sucesso obtido com 0 Utamaduni influenciou 0 surgimento de Qutros
grupos de danl'as em Curitiba.
Sem local apropriado para ensaios, sem incentivo oficial nenhurn, 0
Utamaduni ensaiava, inicialmente, no Parque Sao Louren90. Pela distancia de
casa, optou-se par ensaiar na residencia dos integrantes, ja que todos moravam
juntos.
o Utamaduni criou tambem a Noite do Axe, um evento que acontecia
mensalmente, sempre na ultima sexta-feira em locais diferentes. Baseava-se num
evento de urna nac;ao africana sob 0 ritmo dos tamhores.
Outra referencia foi 0 convite pela Escola de Samba carioca Unidos da
Ponte para que 0 Utamaduni representasse 0 negro do Parana no des file de
Carnaval na Marques de Sapucai.
Em 19960 Utamaduni transfere resid€mcia para Guarapuava a convite do
ex-prefeito Cesar Franco para fazer urn trabalho social com meninos de rua.
Durante quatro anos 0 grupo Ere (Crianl'a em iorub<i) acompanhou 0 Grupo em
shows pelo Brasil afora, num trabalho exemplar com as crianyas.
Essa mudanl'a de cidade, porem, decretou 0 fim do Utamaduni pela falta de
espal'o e de apoio.
Hoje esse trabalho esta tendo continuidade com a Companhia de Musica e
Danl'a Afro Kundun-Bale- Quilombo Paiol de Telha, tambem idealizado por
Orlando Silva e sua esposa , a jornalista Cristina Esteche.
35
3. Grupo Ginga Total
o grupo desenvolve sua atividades desde 05/08/01 a 6 anos e desde 2003
atua no ParoHn com 0 intuito de resgatar crian98s, adolescentes e jovens a
cultura e cidadania, devol venda para elas a dignidade e alta estima a traves da
descoberta do seu talento , 60 integrantes ativos sendo a grande maiaria criancasentre 7 ate 12 anos.
Locais de atua<;ao
Campos de atua"iio Institulo Salesiano e Colegio Estadual Sanlos Drumomt
e Escola Municipal Itacelina Bittencourt ambos localizam na re9iao do Parolin -
Vila Guaira ).
Objetivos e Premiac;6es
- Revela"ao grupo de dan"a e destaque social de 2004
- Destaque na dan"a e a"ao social de 2005
- Destaque do FERA (Festival de Arte da Rede Estudantil do Parana) no ana de
2006 com 0 tema Reteitura do Fandango.
- Destaque do FERA (Festival de Arte da Rede Estudantil do Parana) no ano de
2007 com 0 tema Somos Todos uma Ra~a ( Diversidade Culturat e Racial)
realizado em Panta Grossa.
- Comunidade Escola (Escola Municipal Itacelina Bitlencourt e Escola Municipal
Belmiro Cesar)
- 0 grupo realizou na Escola Municipal Itacelina Bittencourt com apoio de todo
corpo docente 0 10 Encontro de DanC;8 Resgatando de Valores Culturais e de
Cidadania que reuniu 45 pessoas entre pais,criancas e jovens.
Apresentac;ao realizada com projeto de a~ao social.
- Teatro Guaira (participa"ao na pe~ pai heroi) no ana de 2003
36
- Dan,a Curitiba
- Oesfile "Concurso Beleza dos Palmares~
- Eventos do "AXECIA"
-Teatro Guaira (Semana da Consciencia Negra com 0 Espetaculo da Africa para
o Brasil - Somos Todos uma Ra,a) no ano de 2007.
"Exaltar a Arte e a Cultura Atraves Dam;;a...lsso e Ginga Total".
Modalidades de Dan~a:
• Oan-;a Afro.
• Axe
• Oanc;a Contempon1nea
Dan~a de Rua
• Apresentac;oes Teatrais (Tematicas)
Dire~ao Geral
Adilto Jose de Paulo
Telefones: (41) 3347-3165/8856-5834 Adilto
(41) 8428-2487 Luiz Gustavo
Coordenac;ao
Dayana Maria Assolari de Lima
Jennifer P. Gomes
Joao Paulo Dias da Rocha
Luis Gustavo da Fontes Lima www.gingatotal.com.br
Core6grafos
Adilto Jose de Paulo e Joel Almeida
Ap6s term os explanado 0 trabalho desses tres grupos de dan," afro, fica a
proposta de escolas tambem implantarem grupos de dan9a afro em nas aulas de
educa9ao fi5ica ou como forma de complementar essas aulas. Na pagina 59,
explanamos melhor a forma das escolas adotarem essa pratica esportiva cultural
em seu contexte educacional.
37
2.6. INSTRUMENTOS MAIS UTILIZADOS
2.6.1. Atabaque
Atabaques sao tambores de origem afro-brasileira, nativDs do candomble e
de Qutros estilos relacionados e influenciados pela tradic;::ao africana Yoruba. Seu
usc tradicional era na musica ritual e religiosa, empregados para convocar os
Orixi3s - as divindades do candombJe. Atualmente alguns estilos contemporaneos
do norte HTML tambem 0 utilizam em sua musica. 0 atabaque e tocado com as
maos, com duas baquetas, ou as vezes com uma mao e uma baqueta,
depend en do do ritmo e do tambor que est;; sen do tocado. Outros instrumentos de
percussao genericos (como congas e bongos) sao comuns para 0 samba, baiao, e
Qutros estilos contemporaneos como 0 jazz brasileiro e 0 funk. Atualmente enormal ouvir adaptac;::oes de ritmes brasileiros para esses instrumentos.
2.6.2.Xequere
o afoxe e 0 xequere tradicional sao cabacas, logo existem em diferentes
formatos e tamanhos devido a serem Feitos de urn material natural. Certos 85til05
musicais requerem tipos e tamanhos especificos desses instrumentos. 0 formato
mais comum dos afoxes consiste numa cabac;a redonda que se afunila para
formar urn tipo de cabo. Eles tern contas de plastico tranc;adas a sua volta
amarradas com cordas OU fics. Os xequeres normalmente sao maiores e
produzem urn som mais forte - especialmente no tom grave obtido com a palma
da mao taeanda 0 maior lado da cabac;a. Muitas cabacas feitas atualmente tern
cabos de madeira e pequenas contas de metal, e produzem urn som bern
diferente do original. Apesar disso essa versao maderna do instrumento ja foi
incorporada em varios estilos brasileiros. Existem tantas maneiras de se tocar as
cabavas quanto as variedades em que elas podern ser encontradas. Urn dos
modes seria a mao direita segurar 0 cabo e girar a cabac;:a, enquanto a mao
38
esquerda segura as contas - obtendo-se assim a fricc;ao delas contra 0 corpo da
cabaca. 0 deslizamento das contas quando a cabaca e girada produz acentos e
ritmos. Outro metoda envolve sacudir a cabaca e toear tons com a palma da mao
no corpo do instrumento. Urn terceiro som e obtido segurando-se a cabac;a reta e
sacudindo-a para frente e para tras, produzindo notas curtas e 8gudas
2.S.3.Berimbau
o berimbau foi trazida ao Brasil de Angola com a musica de capoeira dos
escravos Bantu. Apesar de retratar urn confronto, a graciosidade da dam;a da
capoeira lembra 0 bale. Ela posteriormente desenvolveu-se no nordeste brasileiro,
na Bahia e em Qutras regi6es no estado de Pernambuco. 0 berimbau e feito com
urn areo de madeira (chamada biriba), e com urn fio de arame presQ nas duas
extremidades desse arco. Uma cabaya com uma abertura em um dos lad os e
presa a parte inferior extern a do areo, aproximadamente de 20 a 25 centimetros
da ponta do instrumento, com um pedayo de corda. Essa corda e tambem
amarrada em torno do tio de arame, e quando pression ada ela altera 0 som do
mesmo. Os tons do berimbau sao modificados pela aproxima<;:iio e afastamento da
cabaya em relayao ao corpo do musico, assim abrindo ou fechando 0 buraco. as
outros 3 componentes sao uma moeda ou rodela de metal, que e segurada contra
o arame, uma pequena vareta para tocar 0 fio, e um pequeno caxixi. Apesar de
originalmente ter seu uso reservado estritamente a capoeira, 0 berimbau
encontrou seu caminho em meio a outros estilos populares, assim como em varios
idiomas contemporaneos. Alguns musicos ja 0 gravaram ate mesmo como
instrumento solista.
2.6.4. Caxixis
Caxixis sao cestos entrelayados enchidos com pequenas contas, conchas,
pedras ou reij6es. Por serem reitos a mao eles existem em varios rormatos e
39
tamanhos. Originalmente 0 caxixi era usado com 0 berimbau na musica de
capoeira, mas hoje ele e encontrado criando ritmos e cores em diversos 8sti105.
2.6.5. Agogo
o ag096 e urn instrumento Feito com um par de campanas conectadas par
urna haste de metal. Tambem existem conjuntos de 3 ou 4 campanas. Elas sao
usualmente afinadas em intervalos de ter~a, seguradas em urna das maos e
tocadas com urna baqueta pela Dutra. Uma vez iniciado 0 ritmo 0 padrao e em
geral manti do constante, exceto em situac;:oes menes tradicionais, cnde a
improvisa~o de variac;:6es funciona bern.
2.6.6.Apilo
o apito era tradicionalmente feito de madeira, mas hoje usam-se apitos
feitos de metais como 0 bronze. Ele tern buracos nos lados que sao cobertos com
os dedos para produzir diferenles tons. 0 apito e usado tanto para tocar pad roes
ritmicos assim como para anunciar uma nova 589130, a comec;:o, QU 0 final de uma
musica. Em uma escola de samba 0 mestre de bateria e 0 responsavel par esses
sinais. Para ele, 0 apito - juntamente com 0 repinique - funciona como a batuta de
urn maestro. 0 apito e capaz de produzir sons fortes e fracos, long05 e curtos,
abertos e fechados, e todos sao usados para adicionar variedade e cores aDs
padroes tocados. Ele tambem pode toear um padriio repetitivo que funciona como
parte do conjunto do grupo ritmico.
2.6.7.Pandeiro
o pandeiro e urn instrumento que requer consideravel tecnica para ser
toea do. Ele e muitas vezes destacado como instrumento solista em escolas de
samba, assim como em grupos contemporaneos cnde ha a participac;:ao de urn
percussionista. Solos tradicionais de carnaval incluem truques teatrais como
deslizar 0 pandeiro ao longo das costas e gira-Io na ponta dos dedos. Um musico
40
de nome Joao Machado Guedes e considerado 0 responSc3vetpeta introduc;ao dopandeiro nas escolas de samba. Pandeiros podem ler peles de couro ou de
plastlco. Etes existem em diferentes tamanhos, com as de 10 e 12 polegadas
sen do as mais comuns. As peles de couro produzem uma qualidade de sam
melhor, mas apresentam problemas de afinagao causados por alterag6es
climaticas, logo as peles de plastico sao mais encontradas. 0 pandeiro e segurado
por uma das maos, enquanto a ponta dos dedos, 0 polegar e a base da outra mao
sao usados para tocar a pele do lade de cima. Os tons abertos e fechados podem
ser obtidos atraves do usc do polegar au do dedo medic da mao que segura 0instrumento. 0 polegar pode abafar a pele do lado de cima, 0 dedo medio pode
abafar 0 lade de baixo.
41
3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
3.1. TIPO DE ESTUDO
Para 0 desenvolvimento da pesquisa realizamos urn estudo explorat6rio descritivo
resultando na analise do fenomeno a ser estudado. Para Gil (1999), a pesquisa
explorat6ria tern como finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e
ideias, tendo em vista a formulac;ao de problemas mais precisos ou hip6teses
pesquisaveis para estudos posteriores. Habitualmente envolvem levantamento
bibliografico e documental, entrevistas nao padronizadas e estudo de casc. Ja a
pesquisa descritiva tern como objetivo primordial a descric;ao das caracteristicas
de determinada popula~.'io ou fenomeno, ou 0 estabelecimento de rela~6es entre
variaveis. Nesse estudo optamos em abordar a danc;a afro em Curitiba no periodo
de 1985-1995.
3.2. 0 LOCAL DA PESQUISA
o estudo foi desenvolvido com alunos e Professores de Oanc;a afro do
Teatra Guaira e Faculdade de Artes do Parana.
3.3. 0 PERioDO DA PESQUISA
A coleta das informa~6es, iniciara com as observa~6es e em seguida com
as entrevistas realizadas durante 0 mes de dezembro de 2007.
42
3.4. PARTICIPANTES DO ESTUDO
Alunos e Professores de danc;a afro, escolhidos atraves de amostragem par
acessibilidade e aceita,ao da participa,ao da pesquisa.
3.S.COLETA E REGISTRO DAS INFORMAC;;OES
Os dados serao coletados atraves de observa96es simples, que segundo
Gil (1999), permitem ao pesquisador observar de maneira espontanea as fatos
que ai ocorrem e que sao de seu interesse. Nesse momento havera interar;;:oessignificativas que facilitaram a aproximacao do pesquisador para realizar a
entrevista semi-estruturada norteada nos seguintes questionamentos:
He quanta tempo trabalha com a dan,a afro?
Voce considera importante trabalhar com a danc;a-afro? Porque?
( ) Sim () Nao
Voce acredita que lecionando a danc;a-afro a cultufa africana esta sendo
divulgada?
( ) Sim () Nao
A cultufa da danc;:a afro quebra urn pouco do preconceito racial?
( ) Sim () nao
Quais as aspectos que podem ser trabalhados com a danr;a afro?
o que facilita ensinar dan,a afro?
43
E 0 que dificulta ensinar danca afro?
A Falta de metodologias e referenciais especificos sobre a danc;:a afra
dificulta 0 trabalho do Professor? Ou e possivel criar referenciais metodol6gicos
proprios?
A danca afro manifestada de 1985 a 19995 em Curitiba, interferiu no
comportamento cultural da comunidade local? Se interferiu como foi?
44
4 RESULTADOS E DISCUssAo
A pesquisade campo loi efetuada a partir de 16 (integrantes) Prolessores e
alunos de danc;a afro que de forma verfdica responderam ao questionario emanexo e atraves desse pede-s8 verificar com precisao a grande importancia dadan<;:aalro.
No momento da lormulacao do questionario loi eletuado a opcao derespostas fechadas e abertas, 0 que S8 enquadrou melhor ao desenvolvimento doquestionario.
Os resultados abaixo determinam a analise realizada na presente amostra:
1)Paravoce 0 que e Dan9aAfro
45
R: E movimento, energia, expressao, fOf98 , sensualidade.
R.Dan,a afro pode ser considerado 0 conjunto de dan,as com a
contribuicao african a em seus centeudos.
DE mo\oimento,Para voce 0 que e a Oa energia, fon;a,
sensualidade
~'
88%
• Dan~a afro podeser considerado 0conjunto dedan9Bs com aconlribui9Boahicana em seus
o Nao responderam
46
2) Hli quanto tempo trabatha com a dan~a afro?
RHa mais de uma decada
R. Desde 1993, portan!o, hB 14 anos.
Hli quanto tempo trabatho com 0dan~a afro
C3~88%
iOHa mais deuma 1decada II_Ha 14 anos
I0 N~o responderam I
47
3) Voce considera importanle Irabalhar com a dan~a - afro? Par que?
R. Porque voce promove uma sintonia entre 0 corpo e a mente, alem de
condicionamento fisico, trabalho com 0 carpa, alem de transmitir uma cultura que
foi tirada de nossos ancestrais, num trabalho de resgate cultural. A dan~a afro
acaba se transformando nurn estl10de vida, disciplinando, ensinando, recuperandoa dignidade e a cidade do povo negro.
R. Porque ela e urn instrumento eficiente para conscientizar 0 Brasil acerca
de suas origens multi- etnicas.
R.Sim, porque ela estar incluida no nossa contexto cultural e como foram
de trabalho cultural.
R.Sim, porque sao nossas raizes, e faz parte da cultura do nossa pais.
R.Toda a cultura africana.
R.E uma maneira de aproximar as pessoas as suas raizes, que muitas
vezes sao esquecidas
R. Depende 0 foco do trabalho.
R.Por ela estar inclufda no nossa contexte cultural, e como forma de
trabalho cultural.
48
Voce consldera Importante trabalhar 0 Porque \I0C~prorrove Iurm sIIltonl8 entre 0
corpoeamenle, al~mdecondlClOOamenlo11s1C0 trabaflocomo
7% corpo,alemde
t~6%6% •:~::::,::-":"'"" If,/\ instrumenlo eficiente
51"< ~6% P'''''"''''"''''·'7(.. ~ BraswaCercadesuas!
~
~6% origensrrulti.t'!tnicas.
~'V6%6% 6% 0~::~~~:s~tar
contexto cultural ecorroforamdeIfabalhocultural.
lodos fDram unanimes de argumentarem que e importante enfocar a etni8
africana, suas origens e tambem urn trabalho de conscientiz8<;80 atraves da
danl'a.
3)A cultura da dan9a afro quebra um pouco do preconceito racial?
9 pessoas responderam que sim
7 pessoas consideraram importante para quebrar 0 preconceito racial.
A cultura da dan~a afro quebra urnpouco do preconceito racial
49
50
4)Quais as aspeclos que podem ser Irabalhados com a dan~a afro?
R: Como respondi acima, voce pode trabalhar a carpo, a mente, a
comportamento das pessoas envolvidas.
R. Os aspectos de informac;oes de contribuic;ao de culturas africanas
assimiladas pela cultura brasileira, e portanto, fundamentais na construc;ao social
do povo brasileiro.
Noc;5es ritmicas, esteticas e de referenciais clara mente identificaveis em
diversas series culturais como por exemple na musica.
R.-Aspectos historicos; danc;a afro e contexte social.
Aspectos especificos: danc;a afro e processo criativo.
R.O resgate da importanciacultural afro descendente.
R.Desconhe,o
R. Nao tenho conhecimento para poder recionaL
R. Tenho pouco conhecimento sabre essa tecnica de danc;a.
R. Nao tenho conhecimento
R.Como ja foi citado, a divulga<;:ao da cultura africana, minimizac;ao do
preconceito raCial,entre outros que desconhe,o par nao trabalhar com dan,a afro.
R.- Aspectos hist6ricos, culturais ..
51
10 Corm respondl aClrrB,
Quais os aspectos que podem ser trabal • d t b Ihvoce po e ra a ar 0afro carpo, a rrente, 0
corrportarrento dasI pessoas envolvldas
10%
'O%~~O%
1D%~ ~1D%
'O%~~:
10%
10% 10%
• Os aspectos deinforrra.;;:oes decontribuic;ao deculturas africanasassirriladas pelacultura brasileira, eportanto, fundamentais
o Noc5es ritrricas,esteticas e dereferenciaisclaramenteidentificaveis em
Em rela~aoaos aspectos que podem ser trabalhados com a dan~a afro asrespostas fcram em relacao aos aspectos culturais, etnicos da cultura africana.
5) Em sua opinirto 0 ensino da hist6ria e cultura Africana e afro-brasileira
facilita ou dificulta 0 ensinar dan~a afro? Como?
R: Ha dOis fatores: 0 primeiro e que a hist6ria da cultura africana e muito
pouca difundida e valarizada. Se fosse mostrada como real mente aconteceu, sem
distorc;:ao au manipulac;:aa, seria um elementa favoravel. oa forma como vem
sendo cantada ao lango dos seculos e totalmente nociva. Fo; necessaria uma lei
(10.639) para que esta seja incluida nas escelas. Fei uma ceisa de cima para
baixo e nao pessoas qualificadas para fazer cumprir a lei.
Quando a hist6ria e mostrada na real ache que facilita 0 ensina da danc;a, porque
acaba atraindo adeptos a partir do conhecimento.
R. Acho que a danc;a afro pode ser um excelente recurso para 0 ens ina da
hist6ria e cultura africana e afro-brasileira, pois temos disponiveis um corpo de
1endas e elementos passiveis de serem re-criados em forma de danc;a.
R.Nao foi respondida.
R.Creio que a partir da organiza9ao de passos e evolu96es que a dan9a
tern, e pertinente criar metedolagias.
53
R.Nao dificulta se 0 objetivo do ensino nao tiver relayao com a danca afro. A
metodologia e criada de acordo com a especifrcidade do objetivo em discussao.
Foram untmimes em concordarem que e uma forma de divulgar a cultura
africana, atraves da danca.
6) A falta de metodologias e referenciais especificos sobre a dan~a -
afro dificulta 0 trabalho do Professor? Ou e passive I criar referenciais
metodol6gicos pr6prios?
. ~fDCertamente que dificulta.A fa Ita de metodologl3s e referen Case Mia
ens ina da danc;a afr embasamento,! fundamento a partir de
I
pesquisas entendo queo professor possa criar
• Acredilo que alU~lmente Io que se necesslla naeducayao de forma geral
I
nao sao mais modeiosmetodol6glcos, mascondi96es de rnolda·los !
os.. im., dificulta. A.P8rtirdeluma refiexi:io pedag6gica
Iconsistente e possi\eJSlm, e necessano eIndlspensa\el.
C~·:%52% ~6'10
~6'10
\J 6%6%
R: Certamente que dificulta. Caso haja embasamento, fundamento a partir
de pesquisas entendo que 0 professor possa criar referenciais, desde que n;:io fuja
do fundamento da cultura.
R: Acredito que atualmente 0 que se necessita na educacao de forma geral
n;:io sao mais modelos metodol6gicos, mas condi¢es de maida-los da forma mais
apropriada para cada situa9ao. Oessa forma na dan9a afro nao seria diferente,
acredito que devemos buscar sempre informa90es que nos capacitem a elaborar a
forma mais adequada de aplicar e repassar os conteudos a que temos aces so.
54
R.Sim, dificulta. A partir de uma reflexaa pedag6gica cansistente e passivel
sim, e necessaria e indispensavel.
R.Apesar de ignarar a tecnica da dan9'l afro cansidera impartante na ensina
em geral tada e qualquer metadalagia de apaia. E casa naa exista uma para
dan,a afra, pader. ser desenvalvida especificamente mediante pesquisa.
RSim, dificulta 0 professor de dan9a afro. Sim, e passive I criar referenciasmetodol6gicas. E par sinal e mais criativo e interessante.
RNao tenho conhecimento especifico.
R.Creia que a partir da arganiza,iia de passas e evalu,oes que a dan,a
tern, e pertinente criar metodologias.
Nessa questao, ainda faltam referencias metodol6gicos e referenciais parapoder realizar as aulas de forma mais dinamica e crialiva.
55
7) A dan~a afro manifestada de 1985 a 1995 em Curitiba, interteriu no
comportamento cultural da comunidade IDeal? Se interferiu como foi?
A danf;<!afro manifcstada de 1985 a 1995 em cl 0 Acredito que influencioucomportmento local da comun~ no comportamento do
Inegro que ate entao seenclausurava entrequalro paredes paradisculir a aboli9ao
• Nao posso responder aesla pergunta (apenas'vi\i em Curitiba entre2000 e 2003), nao seicomo era antes de euchegar 1.3.
o Acho que a comunidadeafro descendente ainda !e muito timida em ICurlliba, e de-..eriainlerferir e se auto-
R: Acredito que infiuenciou no comportamento do negro que ate entao se
enclausurava entre quatro paredes para discutir a abolj~ao.A partir da criayao do
Grupo Utamaduni (do qual sou criador e era 0 diretor) 0 negro sentiu a
necessidade de viver a sua negritude a partir da cultura (musica e dan9a), de
resgatar a indumentaria africana, de tranyar 0 seu cabelo. 0 Utamaduni foi muito
mais do que urn grupo de musica e dan,a afro. Ele ditou comportamento queprevalece ate as dias atuais.
R. Nao posso responder a esta pergunta (apenas vivi em Curitiba entre 2000 e2003), nao sei como era antes de chegar la.eu
R. Acho que a comunidade afro descendente ainda e muito timida em
Curitiba, e deveria interferir e se auto-promover de maneira mais ampla.
R. Acredito que sim, pOis hoje e muito comum principalmente entre
mulheres, a pratica do samba no pe bern como a dan93 coreografada dos grupos
deAxe.
56
R.Admiro a dan", afro, assisti algumas demonstra~6es. Mas por nao terconhecimento, fica diffeil opinar.
R.Sim interferiu. Quando chegue; em Curitiba nao via um afro descendentenas ruas da cidade, hoje em dia vejo mais manifestac;oes artfsticas nas ruas
(eapoeira,rap,ete.) e em alguns lugares especifieos. E lembro que um dos
primeiros passoseomecoupelas pessoasque eram Iigadas a dan", afro.
R.Acho que a comunidade afro descendente ainda e muito tfmida em
Curitiba, e deveria interierir e S8 auto promover de mane ira mais ampla.
R.Acredito que sim, pois hoje e muito comum, principalmente entre
mulheres, a pratiea do samba no po, bem como as dan",s eoreografadas dos
grupos de musica Axe.
Nessa questao, pelas respostas pereebe-se que a danca-afro no periodo
1985 a 1995, muito contribuiu para 0 negro assumir uma postura mai5 participativa
e a9il na divulgac;ao des sa cultura tao rica que e a africana.
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4.1. DANCA-AFRO: SUBsiDIOS PARA A SUA COMPREENSAo
Em relaCY2loa pesqUlsa, percebe·se que as Professores estao integrados
com a tematica, mas, que ailid8 :'03mU;~Gque sa ccr.quistar, pCis, a.5 iaSPGS~as am
geral permanece sempre 0 percentual de 50% sem respostas (dos 16 integrantes
entrevistados), comprovando que a danCY8afro ainda e desconhecida, e faltando
referenciais te6rieos e metodol6gicos para consolidar 0 ensino da dany8 afro.
A dany8 afro-brasileira manifesta-s8 atraves de movimentos variados,
/isrdados dos anc6strais e, pOi meio desses movimantGs, e passivel expresser as
sentimentos etnicos em sua plenitude e importtmcia. A vivencia tern como objetivo
tamar conhecida a cultura afro-brasileira, sua his!6ria, religiao, valores e
costumes, resgatando sua importancia hist6rica na formaC;8o cultural brasileira.
o que e esse fen6meno que tomou conta dos bloeos afro e alguns espac;os
artisticos ao qual chamam dB Daii<;a Afro?
o negro educau-se ouvindo dizer que 0 seu corpo era feio e grosseiro, que
nao podia dan-;:arcltissico por tei 0 quad iii largo e 05 pes chatas, alem de sua cor
ser incompatrvel para representar principes e princesas_ Para ele ficou destinado 0
samba, 0 maculele, a capoeira, au seja, 0 folclore. Embora essas manifesta90es
culturais tenham sido incorporadas como parte legitima da cultura nacional, as
grupos folc:6ricos.
As expressoes culturais e religiosas da matriz africana trazem processos
educativos que dizem respeito ao proprio exercicio das apresenta~6es no
momento da festa e dos rituais religiosos. Esses processos se revelam na musica,
na dan<;a, no toque dos instrumentos enos gestas. Sa'D elementos impressos no
corpo e expressos atraves da pratica e da tradiC;8a oral.
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Outra fonte de conhecimento se encontra nas organizac;:6es negras
formadas no seculo XX, especialmente nas que se mantem na
contemporaneidade, a exemplo dos movimentos negros e dos movimentos demulheres negras. Tambem e necessario considerar a forma<;ao nas universidadesbrasileiras de Nucleos Afro-Brasileiros e similares, compostos em grande parte poracademicos(as) negros(as). Merece destaque a cria9ao, em 2000, da Associa9ao
Brasileira de Pesquisadoras e Pesquisadores Negros (ABPN) que realiza
encontros bianuais.
Hoje assistimos a negro danc;:arcoreografias nos desfiles de carnaval ou emcasas de espetaculos. IS50 constitui urna forma de revidar a discriminac;ao sofridapor varies anos, ou sera rna is uma armadilha, criada pelo sistema racista, paraque a negro permaneC;8 no gueto.
o interesse de uma educar;ao vinculada as praticas socials e culturals
aparece como relaC;aoa dominac;ao por vias culturais, que sao abrac;adas comvias civilizatorias e de progresso, pautadas per uma visao linear e etnocentrica dehist6ria e de cultura.
Uma retomada de vozes que ficaram silenciadas per opressoes historicas efundamental e necessaria para uma compreensao democratica de educac;ao. Paraisso 13necessario tomar como imprescindivel para 0 entendimento desses saberesos nexos entre educac;ao e cultura, considerando que uma nao existe sem a outra,ambas sendo alimentadas e alimentando-se na arte e na memoria.
o respeito as diferenc;as e urn ponto crucial na construc;ao de umasociedade mais humana, cuja concep9ao de humanidade seja fundada na
diversidade pois " 0 que nos faz mais semelhantes au mais humanos sao asdiferen9as".
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4.2. PROPOSTA DA DAN<;:A AFRO NAS ESCOLAS
Primeiro fcram os "Parametros Nacionais Curriculares" (peNs), que
orientam a promocao da igualdade em um dos lemas transversais, Pluralidade
Cultural. Uma outra conquista significativa para 0 ensino foi a lei federal n' 10.639,
cuja documento determina que a historia da Africa seja tratada em perspectiva
positiva, nao privilegiando somente as denuncias e miserias que atinge 0
continente. Mas, sera que a cria<;ao de leis e a maneira correta de levar esse tipo
de questao para as aulas?
Segundo Cabral (2003) 0 proprio governo mostra-se preconceituoso no que
diz respeito a diversidade cultural. Afirma tambem, que assim como aS afro -
descendentes, todas as pessoas tern 0 direito de ter suas tradic;:oes e culturas
estudadas na escola; 0 problema e a falta de formacao dos professores e
ausencia de materiais de apoio atualizados.
Nesta perspectiva, ficam not6rios alguns erros sobre 0 ensino da cultura
afro-brasileira nas escolas como, por exemplo, abordar a historicidade a partir da
escravidao; em vez de aprofundar-se nas causas e consequemcias da dispersao
dos africanos pelo mundo e abordar a historia da Africa antes da escravidao.
Assim, nos educadores, devemos reconhecer a existencia do racismo no Brasil e
a necessidade da valoriza<;ao e respeito aos negros e a cultura afro-brasileira.
"que 0 ensino de dan<;a afro deve estar em sintonia com 0 projeto politico -
pedagogico de transformac;ao social materiaHzado pela institui<;ao escolar, mesmo
considerando que nem a escola, nem a danc;a tern poderes para transformar
radicalmente a realidade social". (FALCAO, 2003, p.56)
Nesse sentido, a dan<;a afro sera tratada, nesta pesquisa, como urn
processo e nao simplesmente como urn produto. Esse pressuposto requer do
educador urn compromisso politico, considerando que nao basta ter um caminho e
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saber caminhar, mas uma formac;ao s6lida cientlfica e tecnica para que bonsresultados no meio educacional sejam alcan9ados.
Para Frigorio (1989) a referencia principal do ensino-aprendizagem da
danca afro na escola, dentro dessa perspectiva, e a aluno e naD a danca par elepraticada (obviamente sem ne913-la). Oessa forma, 0 ensina da danc;a afro, comocontetido curricular, naD tern 0 compromisso de aperfeic;oar a tecnica dos ge5t05em rela1;aoa um padn30 preestabelecido, mas exercita~lacom objetivos crfticos.
Desse modo, 0 que mais importa, na visao de Frigerio (1989), 0 0 aluno e
suas relac;6escom a conteudo proposto. 0 educador deve mediar essa relac;ao,cnde, professor e alune identificarao seus elementos centrais. A partir dai
professores e atunos elaborarao juntos um plano de entendimentos, cnde
decidirao estratogias e os diferentes papeis que cada participante assumira no
processo.
Portanto, a dan98 afro, tem como principio a pedagogia da luta, nao se trata
de uma reprodu9ao de modelos. Em vez de copiar gestos, rituais e fundamentos,
o processo de ensino/aprendizagem apresenta como desafio a ampliac;ao deconhecimentos em relac;ao a danc;a e ao mundo, atraves de uma abordagemcritica que questionam a adaptac;ao e a submissao e visam ao esclarecimento, aautonomia e a competencia.
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5 CONSIDERA<;:OES FINAlS
Concluimos que a dan,a afro e uma das mais antigas formas demanifestacao cultural praticada no Brasil. Algumas deja conhecidas
internacionalmente, como 0 samba e a capoeira. Alem do valor cultural nos
profissionais de educacao fisica podemos utilizar essas danc;as como forma de
atividade fisica.
Hoje assistimos 0 negro danyar coreografias nos desfiles de carnaval ou emcasas de espetaculos. 1550 constitui uma forma de revidar a discriminacao sofridapar varios anos, OU sera mais uma armadilha, criada pelo sistema racista, para
que 0 negro permane!,fa na periferia.
Falar em Oanc;aAfro requer compreensao do comportamento da sociedade
em que vivemos. Existem simbolos e signos que valorizam a cultura negra, mas
que ganham dimensiio de mero folctore quando apropriados pelo discurso oficial,
particularmente aquele ligado a propaganda e ao turismo. E possivel, pois,
entender-se um pouco porque foi criado os ritmos afro. A Dan,a Afro, entre as
dEkadas de 60 e 70, manteve-se tfmida e discreta, hoje, se exibe, despertando
curiosidade e exotismo, constituindo um dos melhores exemplos do confinamento
a que 0 negro foi submetido.
Em rela9ao a pesquisa aplicada, percebe-se que a dan9a afro ainda
caminha lentamente, tendo que conquistar ainda seu espa90, pais, as Professores
e alunos na maiaria das perguntas, ficaram sem responder um percentual de 50%
das perguntas.
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Eo dig no de nota verificar que para Curt Sachs "A dan,a oj a mae das artes.
Os padroes rftmicos dos movimentos, 0 sentido plastico do espaCo, a
representacao de urn mundo visto e imaginado sao caisas que 0 hom em eria, em
seu proprio corpo~.
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REFERENCIAS
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STOKOE, Patricia & HARLF, Ruth. Expressao corporal na pre - escola.2.ed.Sao Paulo: Summus, 1967.
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ANEXOS
Curitiba, __ de dezembro de 2007.
Prezado Professor ou aluno de Dan9a, venho atraves desse trabalho, pedir
a gentileza para participarem dessa pesquisa referente a danr;a afro em Curitiba
na decada de 1985-1995, para poder concluir 0 meu curso de Especializa9ao em
Hist6ria Africana e Cultura Afro-brasileira, Educa~ao aeoes afirmativas no Brasil na
Universidade Tuiuti do Parana.
Ha quanto tempo trabalha com a dan9a afro?
Voce considera importante trabalhar com a danca-afro? Porque?
( ) Sim () Nao
Voce acredita que lecionando a danca-afro a cultura africana esta sendodivulgada?
( ) Sim () Nao
A cultura da danca afro quebra um pouco do preconceito racial?
( ) Sim () nao
Quais os aspectos que podem ser trabalhados com a dan9a afro?
o que facilita ensinar danca afro?
E 0 que dificulta ensinar danca afro?
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A falta de metodologias e referenciais especificos sabre a dan9a afrodificulta 0 trabalho do Professor? Ou e passivel criar referenciais metodol6gicosproprios?
A dan~a afro manifestada de 1985 a 19995 em Curitiba, interferiu no
comportamento cultural da comunidade local? Se interferir como foi?