A década de 60 foi de extrema importância para o cinema mundial

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A década de 60 foi de extrema importância para o cinema mundial. Novas ondas se formavam e se afastavam com criatividade de algumas estéticas que dominavam até então. Esse dito “cinema moderno”, saído de duas guerras mundiais e que clamava por reformulações de valores, era delineado por países como França, Índia, Alemanha, Brasil e Tchecoslováquia. Mais do que prosseguimento, pelo formalismo de muitos longas e pela abordagem que eles seguiam, por vezes expressavam um verdadeiro rompimento. O cinema japonês refletiu esse mesmo momento, em que ansiava uma produção que respirava jovialidade e uma reflexão da sua história anterior ao mesmo tempo que clamava pela atenção ao período em que o país se encontrava, com todos os problemas políticos e questões que a situação socio- econômica trazia. Porque os tempos já eram outros e essa geração que se iniciava num Japão sessentista e que era acometido por mudanças, encontrou como deflagrador as produtoras que começavam a abrir portas para os jovens recém-formados que queriam trabalhar. Os estúdios dominavam o cenário da produção japonesa, Segundo Lucia Nagib, no livro “Em Torno da Nouvelle Vague Japonesa”, os grandes estúdios Shochiku e Nikkatsu, que dominavam o cenário da produção cinematográfica japonesa, sofreram uma decaída no que se refere ao número de pessoas que assistiam aos filmes devido à chegada da televisão que possibilitou um acesso audiovisual muito mais fácil para a população. Nessa ânsia de produzir um cinema mais jovem e atrativo, os estúdios davam chances para as novas caras que iam surgindo, investindo em um cinema mais confluente com essa nova sociedade do pós-guerra e que sofria com a intensa ocidentalização ajudaria a implantar um novo cinema japonês, quebrando a ditadura dos estúdios, mas começando justamente sob a tutela deles. Há que se destacar como a Nouvelle Vague Japonesa se desenvolveu num âmbito diferente dos novos cinemas. Não havia ainda um cinema independente expressivo como na França e as primeiras produções dessa geração foram todas dentro dos grandes estúdios. A movimentação acontecia internamente e os jovens diretores que iam sendo contratados exerciam mais a profissão por necessidade de sobrevivência nesse Japão pós-guerra e sofrendo uma americanização intensa, do que propriamente por causa de uma paixão avassaladora para com a sétima arte.

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A década de 60 foi de extrema importância para o cinema mundial. Novas ondas se formavam e se afastavam com criatividade de algumas estéticas que dominavam até então. Esse dito “cinema moderno”, saído de duas guerras mundiais e que clamava por reformulações de valores, era delineado por países como França, Índia, Alemanha, Brasil e Tchecoslováquia. Mais do que prosseguimento, pelo formalismo de muitos longas e pela abordagem que eles seguiam, por vezes expressavam um verdadeiro rompimento. O cinema japonês refletiu esse mesmo momento, em que ansiava uma produção que respirava jovialidade e uma reflexão da sua história anterior ao mesmo tempo que clamava pela atenção ao período em que o país se encontrava, com todos os problemas políticos e questões que a situação socio- econômica trazia.

Porque os tempos já eram outros e essa geração que se iniciava num Japão sessentista e que era acometido por mudanças, encontrou como deflagrador as produtoras que começavam a abrir portas para os jovens recém-formados que queriam trabalhar. Os estúdios dominavam o cenário da produção japonesa,

Segundo Lucia Nagib, no livro “Em Torno da Nouvelle Vague Japonesa”, os grandes estúdios Shochiku e Nikkatsu, que dominavam o cenário da produção cinematográfica japonesa, sofreram uma decaída no que se refere ao número de pessoas que assistiam aos filmes devido à chegada da televisão que possibilitou um acesso audiovisual muito mais fácil para a população. Nessa ânsia de produzir um cinema mais jovem e atrativo, os estúdios davam chances para as novas caras que iam surgindo, investindo em um cinema mais confluente com essa nova sociedade do pós-guerra e que sofria com a intensa ocidentalização

ajudaria a implantar um novo cinema japonês, quebrando a ditadura dos estúdios, mas começando justamente sob a tutela deles.

Há que se destacar como a Nouvelle Vague Japonesa se desenvolveu num âmbito diferente dos novos cinemas. Não havia ainda um cinema independente expressivo como na França e as primeiras produções dessa geração foram todas dentro dos grandes estúdios. A movimentação acontecia internamente e os jovens diretores que iam sendo contratados exerciam mais a profissão por necessidade de sobrevivência nesse Japão pós-guerra e sofrendo uma americanização intensa, do que propriamente por causa de uma paixão avassaladora para com a sétima arte.

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E foi através deste ultimo que me aproximei da produção da Nouvelle Vague Japonesa. Depois de assistir “A Marca do Assassino” de Seijun Suzuki e me encantar por esse cinema incrivelmente criativo, valorizando o poder transgressor da imagem e sem muitas amarras narrativas, procurei aprofundar ainda mais sobre a filmografia do diretor e topar com suas contribuições para esse período. Dessa forma, encarei a matéria Projetos A2 como uma grande oportunidade para embarcar nessa época do cinema do Japão, que eu conhecia apenas pela visão dos diretores mais consagrados como Akira Kurosawa, Kenji Mizoguchi, Yasujiro Ozu e Mikio Naruse, que basicamente construíram o cinema clássico do país.

Pesquisando de antemão sobre o tema na Wikipédia² selecionei os quatro diretores que me pareceu e que são cotados como os principais contribuintes para a geração – Shohei Imamura, Nagisa Oshima, Hiroshi Teshigahara, Yoshishige Yoshida, Masahiro Shinoda e Seijun Suzuki - e selecionei seus principais filmes para traçar as principais características do momento e analisá-lo somente nos anos 60, que foi a década em que a Nuberu Bagu encontrou maior impulso e efervescência criativa. Além de selecionar alguns livros para ler como o “Em torno da nouvelle vague japonesa” da Lucia Nagib, que se mostrou a principal obra que eu iria seguir, “Eros plus Massacre – An Introduction to the Japanese New Wave” do David Desser e “O crisântemo e a espada: padrões da cultura japonesa” de Ruth Benedict.