A Definição de Um Carioca
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UNIVERSIDAD NACIONAL DE ROSARIO
Facultad de Humanidades y Artes
Escuela de Lenguas
Profesorado en Portugués
Seminario de Literatura
Profesora: Angélica Kaston Ise
Um carioca do século XIX: o cortiço.
Maria de Luján Vallejos
V-0647/5
Año: 2010
A definição de um carioca
Este trabalho intitulado Um carioca do século XIX: o cortiço faz referencia ao
romance naturalista brasileiro O cortiço do escritor Aluísio de Azevedo. A produção
literária do autor, que nasceu em 1857 em São Luís do Maranhão, desenvolveu-se entre
os anos 1882 e 1895. As obras criadas nesse período tiveram diferentes valias dado que
o autor para sobreviver escrevia folhetins românticos entremeados pelos “romances
sérios” (BOSI, 2006:188). Dentre estes últimos encontram-se O Mulato, Casa de
Pensão e O Cortiço. Em 1895, deixa sua labor como escritor para prosseguir sua
carreira diplomática. É assim que cumprindo essa tarefa morre em Buenos Aires em
1913. A obra objeto deste trabalho é fundamental na literatura naturalista brasileira. Esta
obra publicada em 1890, narra a vida de uma comunidade instalada numa moradia
coletiva da periferia da cidade do Rio de Janeiro.
Antes de realizar a análise d’O Cortiço é preciso fazer uma breve referencia ao
período literário em que se inscreve. O início do naturalismo no Brasil aconteceu nas
últimas décadas do século XIX. Tempo em que sucederam várias transformações no
país. A monarquia entrou em decadência, foi abolida a escravatura, houve
transformações na economia. Nesse contexto, a literatura não pode ser indiferente e,
colocou sua ênfase em temas e personagens ligadas á essa realidade.
A narrativa é considerada pela crítica como a obra prima do naturalismo no
Brasil. O escritor foi fortemente influenciado por Zola e Eça de Queiroz. A personagem
principal da narrativa é o próprio cortiço e, através dele se configuram as outras
personagens do romance. Sendo que ele é o lugar onde se entretecem diversos eventos e
histórias, é preciso considerá-lo também dentro da categoria espaço. O trabalho será
organizado, de um lado, através da analise do cortiço enquanto espaço e, de outro lado,
como personagem. Finalmente, se tentará fazer as relações entre ditas categorias.
1.A floresta humanizada
O universo diegético de uma narrativa se propõe como o nível de realidade no
qual agem as personagens, um mundo onde os locais, objetos e atores entram em
relações especiais que só nesse mundo são possíveis. Às vezes, os lugares “reais” têm
referenciais extratextuais tais como Botafogo, a Rua do Ouvidor.
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Sendo que para os autores naturalistas um dos seus objetivos era demonstrar que o
homem é determinado pelo seu ambiente, isto é, os seus comportamentos dependem do
meio em que vivem. Por isso, toda a obra desenvolve-se num espaço bem definido. O
cortiço encontra-se localizado no bairro de Botafogo. Bairro de trabalhadores, operários,
outorgando assim, uma caracterização tanto da estalagem quanto dos moradores. É
assim que “O delineamento do espaço, processado com cálculo, cumpre a finalidade de
apoiar as figuras e mesmo de as definir socialmente de maneira indireta” (LINS,
1976:70) Por outro lado, esta circunstancia poderia presumir ao leitor dos possíveis
acontecimentos que podem surgir entre as personagens. Portanto, o cortiço é, de alguma
forma, uma espécie de projeção das personagens que nele habitam. A estalagem é
metaforizada com a floresta. Nesta última moram inúmeros bichos e animais
conduzidos pelos seus instintos naturais. Há uma clara referência às diversas origens
dos moradores “toda aquela Babilônia desmantelada.” (AZEVEDO:1997, 129)1.
Portanto, os moradores pertencem a diferentes etnias, isto é, há brasileiros, portugueses
e italianos, o que se assemelha a cada um dos tipos de organismo que habitam na
floresta. Parecesse que a ação conjunta de todos eles, evocaria a vida selvagem e,
portanto, temerosa. Este sentimento invade o português, futuro Barão,
“o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o
solo e abalando tudo.” (OC: 11)
É também um espaço de trabalho, de conflitos e de luta. Isto é percebido através
das detalhadas descrições das tarefas realizadas pelas lavadeiras, pelas brigas entre os
moradores da moradia, etc. Mas, também é o espaço das inter-relações pessoais, dos
intercâmbios comerciais e verbais. É um espaço de circulação de pessoas, de
movimentação, é um ir e vir de animais humanizados.
1.1 A espacialidade da estalagem
É possível estabelecer diversas relações para analisar o espaço do cortiço, umas
entre ele e o exterior, e, outras no interior mesmo da estalagem. A primeira relação
abrange duas subdivisões, de um lado o interior e as cercanias da estalagem, e, de outro,
o plano horizontal e o plano vertical. A primeira destas dicotomias relaciona-se com a
1 Em adiante as citas da obra analisadas aparecerão como OC:pág.
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afinidade que tem as outras personagens da narrativa com o cortiço, com a sua morada.
A segunda, é determinada pelo antagonismo existente entre a estalagem e o sobrado.
Esta pertence também a uma das características do cortiço considerado como
personagem e por isso será analisada enquanto tal. Quanto às relações no interior da
moradia coletiva serão consideradas as relações do publico e do privado.
1.1.1 Arredores do cortiço
Os moradores da estalagem mantêm contato direto com os espaços que a
rodeiam, pois eles ou trabalham na pedreira aos fundos, ou compram os alimentos na
venda ao lado. Mas, não são eles os únicos; o dono, João Romão, percorre todos os seus
domínios. E, ele próprio mora ao lado num pequeno ambiente sem nenhum conforto.
Este terá o mesmo destino do cortiço, quer dizer, uma transformação. Nas últimas
páginas da obra vê-se como o câmbio atinge a estalagem, a casa do João Romão e a
venda. Basta perceber como é descrita a entrada da moradia popular, isto é, o espaço
que mediava entre o interno e o externo do cortiço:
Foi abaixo aquele grosso e velho muro da frente com o seu largo portão de cocheira, e a entrada da estalagem era agora dez braças mais para dentro, tendo entre ela e a rua um pequeno jardim com bancos e um modesto repuxo ao meio, de cimento, imitando pedra. Fora-se a pitoresca lanterna de vidros vermelhos; foram-se as iscas de fígado e as sardinhas preparadas ali mesmo à porta da venda sobre as brasas; e na tabuleta nova, muito maior que a primeira, em vez de "Estalagem de São Romão" lia-se em letras caprichosas:
"AVENIDA SÃO ROMÃO" (OC:141)
Nestas linhas vêem-se como as descrições detalhadas são fundamentais para o
entendimento da obra. Este fato, deriva da necessidade de narrar o mais semelhante
possível à realidade já que é uma das preocupações do autor. É assim que a descrição
dos contrastes se relacionam com a largura, os tamanhos e os materiais utilizados na
construção.
O crescimento da estalagem é auxiliado pelas ganâncias que o dono obtém da
venda. Esta se encontra na parte da frente do terreno, sendo passo obrigado para os seus
moradores. Atrás se localiza a pedreira, local de trabalho da maioria dos primeiros
moradores do cortiço. O cortiço era a via de comunicação direta “...de todos os casulos
do cortiço saiam homens para as suas obrigações. Por uma porta que havia ao fundo da
estalagem desapareciam os trabalhadores da pedreira, donde vinha agora o retinir dos
alviões e das picaretas” (OC: 21). Este caminho percorrido diariamente pelos
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trabalhadores é descrito no momento em que João Romão leva Jerônimo à pedreira
“Tinham chegado ao fim do pátio do cortiço e, depois de transporem uma porta que se
fechava com um peso amarrado a uma corda, acharam-se no capinzal que havia antes da
pedreira. (OC:27) A vida dos homens transcorre da pedreira ao cortiço, dos fundos ao
encerramento dos quartos; e, a das mulheres dos cômodos ao pátio, do escuro à luz do
sol. Dentre estas últimas, são as lavadeiras as destacadas pelo narrador. Se bem que elas
são apresentadas individualmente, contudo, conformam uma totalidade. Realizam o seu
trabalho de modo prazeroso, sempre cantarolando enquanto lavam a roupa própria ou
alheia. De certa maneira, elas podem ser consideradas parcialmente determinadas dado
que elas dirigem o seu próprio trabalho. Elas alugam as tinas, água e os sabões. Mas,
mesmo assim, são determinadas pelo meio em que vivem.
1.2. Interioridade do cortiço
Portas para dentro, o cortiço apresenta dois espaços bem diferenciados, um
aberto/público e o outro fechado/privado, o primeiro é representado pelo pátio e o
segundo pelas casinhas.
1.2.1. O pátio
O centro do cortiço é o seu pátio; nele atua uma força centrípeta dado que na
maioria dos casos, todas as historias das outras personagens convergem ali. É um
espaço de coesão da vida dos trabalhadores. É um espaço compartilhado por moradores
e por pessoas alheias à estalagem mas que se concentram nele. Nas palavras de António
Cândido “o cortiço é o centro de convergência, o lugar por excelência, em função do
qual tudo se exprime. Ele é o ambiente, um meio – físico, social, simbólico,- vinculado
a um certo modo de viver e condicionando certa mecânica das relações.
(CÂNDIDO,1973:120), temos por exemplo, às manhãs em que os homens se dirigem ao
trabalho e as mulheres realizam as compras indo e vindo para a venda. Outra situação,
que delineia os habitantes do lugar e os evoca como organismos, se produz quando um
vendeiro instala-se no pátio e “Em breve estava cercado por uma nuvem de gente.
(OC:18). Mas, este espaço coesivo opõe a lama e a grama, a obscuridade com a
luminosidade. Eis, por exemplo, o caso da lavanderia que é apresentada através de sons
e de imagens:
E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de
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três e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar. (Ibidem: 9)2
Aqui se descreve como estão dispostos os diversos lugares que representam a
natureza e a superfície que ocupam. Cabe destacar, como através do tamanho dos
jardins é possível evidenciar como um pedaço de terra que não desse proveito
econômico não tinha cabida no cortiço. Nas linhas seguintes, continua a caracterização,
mas de um modo diferente:
E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco. (Idem)
Esta parte da descrição se contrapõe com outra, na qual se deixa de lado o caráter
lamacento, encharcado para dar passo à luz do sol, à representação do tropical:
E as lavadeiras não se calavam, sempre a esfregar, e a bater, e a torcer camisas eceroulas, esfogueadas já pelo exercício. Ao passo que, em torno da sua tagarelice, o cortiço se embandeirava todo de roupa molhada, de onde o sol tirava cintilações de prata.
Estavam em dezembro e o dia era ardente. A grama dos coradouros tinha reflexos esmeraldinos; as paredes que davam frente ao Nascente, caiadinhas de novo,
reverberavam iluminadas, ofuscando a vista. (OC: 22)
O cintilar do sol e os reflexos metálicos da prata evocam características do Brasil,
isto é, o caráter tropical e a exploração dos metais.
A caracterização do que acontecia no pátio, da cotidianidade dos moradores, das
suas ocupações é feita através dos diferentes sons, cheiros, tais como:
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. (OC:17)
Nas linhas acima, narra-se o inicio do dia na habitação popular. O narrador
destaca o cheiro do café como aquele capaz de sobrepor-se aos outros, isto é,
aqueles provenientes da insalubridade que continha o local. Através dos verbos
são descritos os sons simultâneos que provêm tanto das portas quanto das janelas.
2O grifado que aparece nas citações é meu.
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Aqui não se faz menção dos produtores dos sons, só os menciona através do
hipônimo. O som característico do cortiço está conformado por diferentes ruídos
que não só pertencem aos moradores, os animais também contribuem para formar
a unidade sonora:
No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saiam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. (OC:17)
Através da sonoridade percebe-se a movimentação que ali acontecia. Não se faz
diferença entre os ruídos dos seres humanos e dos animais, todos estão apresentados
num mesmo nível. Tanto é assim, que a denominação geral de machos e fêmeas pode
encerrar tanto aos humanos quanto aos animais, não há distinção. Na verdade, são
considerados similares, dada a seguinte frase: “os louros, à semelhança dos donos,
cumprimentavam-se ruidosamente”. Finalmente, o autor acaba afirmando o ruído denso
“O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não
destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço.”
(OC:17).
Outra coisa a considerar nestas últimas citações é a apresentação da voz do narrador
através do uso dos dêiticos cá fora/ lá dentro. A utilização dos mesmos produz uma
maior verossimilhança à narrativa ao tempo que mostra os diversos espaços no interior
da estalagem.
Essa sensação de ruído compacto é causada pela convivência de muitas pessoas.
Esta situação provoca diversos acontecimentos simultâneos, tal o caso em que João
Romão furioso pelo título que ganhara o seu vizinho arremete contra todos aqueles que
se encontram no seu caminho até que finalmente “— Não! aqui dentro não! Tudo lá
fora! na rua! gritou ele,(...) Lá fora do portão! Lá fora do portão!” (OC:77). Esta
aglomeração de pessoas e, portanto, do que isso gera é comparada com um objeto
cotidiano, a panela. Este objeto representa o cortiço como espaço limitado em que
podem coexistir elementos divergentes que postos ao transcorrer da vida, aos conflitos,
num momento, explodem:
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E o vendeiro empurrou a porta do fundo da estalagem, de onde escapou, como de uma panela fervendo que se destapa, uma baforada quente, vozeria tresandante à fermentação de suores e roupa ensaboada secando ao sol. (OC:30)
Aqui, volta-se a nomear o caráter de ebulição, de excitação que se passava na
estalagem. É como se tudo o que ali acontecia, ficasse em suspense, para explodir em
qualquer momento. Também, é reforçada essa idéia com a palavra fermentação que
implica uma transformação, mas, também pode ser considerada como excitação, como
perturbação do espírito.
Mesmo, nos dias de folga, o movimento era agitado, ficando cheio de gente.
Aparece outro elemento aglutinador que é a música:
“O circulo do pagode aumentou: vieram de lá defronte a Isaura e a Leonor, o João Romão e a Bertoleza, desembaraçados da sua faina, quiseram dar fé da patuscada um instante antes de caírem na cama; a família do Miranda pusera-se à janela, divertindo-se com a gentalha da estalagem; reunira povo lá fora na rua.” (Ibidem: 48)
A estalagem só ficava calma, à noite, no descanso dos seus moradores e do mesmo
cortiço, já que “Uma quietação densa pairava já sobre tudo; só se distinguiam o
bruxulear dos pirilampos na sombra das hortas e dos jardins, e os murmúrios das
árvores que sonhavam.” (Ibidem:49).
1.2.2 As casinhas
Até aqui fora analisado o espaço público, isto é, o pátio. A seguir, será analisado o
espaço fechado/privado. Este está constituído por cada uma das casinhas, as quais são
reconhecidas pelos seus números. Assim temos, a número 8, a número 9 e assim por
diante, ou, pelos nomes de seus moradores. A descrição das casinhas não é
pormenorizada, mas justamente esta ausência, possibilita a sensação de asfixia, de
abafamento. Esta situação se reflete na agitada movimentação no seu oposto, o pátio.
Há uma descrição de alguns elementos que constituem os pequenos cômodos.
Através deles, se pode inferir o condicionamento que as personagens têm desse meio.
Razão pela qual, a maioria vive fora das habitações. Precisamente, dado o caráter
naturalista da obra, não interessa o que se sucede nos quartos, o que interessa é o
comportamento social, decorrente dessa comunidade e das relações sociais, econômicas,
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culturais que nela se entretecem. Portanto, são poucas as descrições das propriedades
dos moradores. Uma das mais marcantes, se produz quando o Bruno atira os pertences
da sua mulher “lançava pela janela cá para fora tudo (...). Uma cadeira fez-se pedaços
contra as pedras, depois veio um candeeiro de querosene, uma trouxa de roupas, saias e
casaquinhos de chita, caixas de chapéus cheias de trapos, uma gaiola de pássaros, um
chaleira..” (OC:56). Outro exemplo, é o cômodo do Jerônimo e Piedade, mas este, ao
contrário, a falta de descrição realça o caráter de pobreza que rodeia as personagens e
que repercute nas suas ações “... E ali, naquela estreita salinha, sossegada e humilde,
gozavam os dois, ao lado um do outro, a paz feliz dos simples, o voluptuoso prazer do
descanso após um dia inteiro de canseiras ao sol. E, defronte do candeeiro de
querosene, conversavam sobre a sua vida...” (OC:33)
Também, é descrito o sentimento de sufoco que provoca em Pombinha o seu
quarto e, portanto, a necessidade de estar ao ar livre. Só é possível cobrir essa carência,
fora do cortiço, atrás dele, ou seja, na natureza:
“As onze para o meio-dia era tal o seu constrangimento e era tal o seu desassossego entre as apertadas paredes do número 15, que, malgrado os protestos da velha, saiu a dar uma volta por detrás do cortiço, à sombra dos bambus e das mangueiras.
Uma irresistível necessidade de estar só, completamente só, uma aflição de conversar consigo mesma, a apartava no seu estreito quarto sufocante, tão tristonho e tão pouco amigo.” (OC: 90)
Esta situação de não poder estar dentro das suas casinhas o que faz é puxar os
moradores para fora. Por causa disto, os sucessos acontecidos dentro delas acabam se
desenvolvendo no pátio e, portanto, ante o público ali presente.
2. O desenvolvimento da vida de um carioca
Um dos elementos característicos de uma personagem é o próprio nome. Neste
romance a moradia coletiva obtém sua denominação do seu dono. O cartaz da entrada
apresenta o cortiço “Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para
lavadeiras” (OC: 9). Com o desenrolar da história e, com as transformações por ele
sofridas, adquire uma nova denominação “Avenida São Romão” (OC:141). Através do
cartaz se destaca o crescimento sofrido pela hospedagem. Primeiramente, vemos como a
publicidade do local é diferente, há um recorte nas informações proporcionadas aos
possíveis hóspedes. Esta situação pode ser explicada pela importância adquirida pelo
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cortiço entre os moradores do bairro e bairros vizinhos. Tanta é a transformação que o
local deixa de ser uma estalagem para se converter em avenida, em passeio; desse jeito,
a entrada da hospedagem parecesse possuir mais claridade, limpeza e salubridade.
Devemos salientar que ao desaparecer a segunda frase do cartaz da entrada, desaparece
também o caráter de trabalho e, portanto, do emprego da força física para a realização
de tarefas, isto é, o serviço das lavadeiras. A única coisa que fica é o nome, hipérbole do
sentimento ou da concepção que detém o dono de si próprio.
O cortiço começa do nada e transforma-se num ponto de referencia do bairro. O
transcorrer da vida das pessoas é apresentada paralelamente as mudanças sofridas pelo
cortiço. Ele, também, acorda, vive, sofre as mudanças decorrentes do passo do tempo.
Começa sendo um rancho só, mas converte-se –resultado da exploração dos moradores
por parte do negociante português- em um grande negocio. A estalagem se aristocracia,
vai ganhando certo prestígio. É comparável com um organismo; é o próprio narrador
quem o faz. A metamorfose se pode apreciar ao longo do romance. O antropomorfismo
da estalagem evidencia-se em diversas circunstâncias, sobretudo no começo de vários
capítulos. O cortiço tem expressões humanas como “Eram cinco horas da manhã e o
cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas
alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de
chumbo.” (OC: 17) ou, apresenta características próprias dos trabalhadores “No dia
seguinte, com efeito, ali pelas sete da manhã, quando o cortiço fervia já na costumada
labutação”(OC: 31)
A moradia coletiva começou sendo uma larva, isto é, iniciou o primeiro estágio
de desenvolvimento da imensa estalagem, tal como é anunciada nas primeiras páginas
da obra “E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o
ponto de partida do grande cortiço de São Romão.” (OC: 2). Esta situação vai mudando,
de acordo aos movimentos econômicos realizados por João Romão, o dono. O
português punha todo o seu esforço em construí-lo e deste modo, a larva vai crescendo,
vai ganhando espaço, extensão “Hoje quatro braças de terra, amanhã seis, depois mais
outras, ia o vendeiro conquistando todo o terreno que se estendia pelos fundos da sua
bodega; e, à proporção que o conquistava, reproduziam-se os quartos e o número de
moradores. (OC: 3). O ideal do vendeiro português é vencer a concorrência por isso
precisa que o cortiço cresça, bem como o dinheiro no seu bolso “... a criação de uma
estalagem em ponto enorme, uma estalagem monstro, sem exemplo, destinada a matar
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toda aquela miuçalha de cortiços que alastravam por Botafogo. (OC: 7). É assim que
segundo Antonio Cândido no estudo intitulado De cortiço ao cortiço, o local “ligado à
natureza, (...) ele cresce, se estende, aumenta de volume e é conseqüentemente tratado
pelo romancista como realidade orgânica, por meio de imagens orgânicas que o anima e
fazem dele uma espécie de continuação do mundo natural”.(CÂNDIDO,1973:119).
A convivência de inúmeras pessoas num mesmo espaço reduzido e, portanto, o
compartilhar o modo de vida, a ausência de privacidade, dado que tudo é público,
provoca mal-estar, ciúmes, inveja. É assim que duas ações desenvolvidas na e pela
estalagem provocam nela mesma uma mudança. De um lado, temos a invasão feita
pelos policiais e, de outro, o incêndio. É assim relatado “... as conseqüências foram do
mesmo modo desastrosas, porque muitas outras casinhas, escapando como aquela ao
fogo, não escaparam à devastação da polícia. Algumas ficaram completamente
assoladas.” (OC:84). No dia seguinte, tanto o dono quanto os moradores passavam
revista avaliando os prejuízos resultantes “Além do que escangalharam os urbanos
dentro das casas, havia muita tina partida, muito jirau quebrado, lampiões em fanicos,
hortas e cercas arrasadas; o portão da frente e a tabuleta foram reduzidos a lenha.”
(Idem). Mas dessa eventualidade, ele renasceu ainda mais forte. E, conseqüentemente,
multiplicavam-se as novas casinhas sem crescer o espaço disponível para tal fim “O
número dos hóspedes crescia; os casulos subdividiam-se em cubículos do tamanho de
sepulturas.” (OC:98)
A segunda situação corresponde a um segundo incêndio da qual resulta a nova
transformação e ampliação da estalagem e, portanto, ainda mais pessoas para encher as
ambições do seu dono. Este incêndio provocado pela ’Bruxa’, parecesse que
movimentou o formigueiro como quem atira água na sua trilha
Fechou-se um entra-e-sai de maribondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo
desespero. (Ibidem: 126)
Nas páginas seguintes da obra são descritos os fatos para o salvamento do
cortiço mostrando como a sua influencia impacta diretamente nas pessoas que o
habitam. De modo que, há uma associação entre o estado de destruição das moradias
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com o estado de desconsolo, de tristeza dos moradores pela perda duas suas
propriedades. As conseqüências do incêndio foram:
O dia passou-se inteiro na computação dos prejuízos e a dar-se balanço no que se salvara do incêndio. Sentia-se um fartum aborrecido de estorrilho e cinza molhada. Um duro silêncio de desconsolo embrutecia aquela pobre gente. Vultos sombrios, de mãos cruzadas atrás, permaneciam horas esquecidas, a olhar imóveis os esqueletos carbonizados e ainda úmidos das casinhas queimadas. Os cadáveres da Bruxa e do
Libório foram carregados para o meio do pátio (OC: 129)
Note-se como se salienta o valor que se dá a quantificação assim como ao valor da
economia como regente da vida das pessoas, sobretudo do português dono do cortiço.
Posteriormente são descritos os começos e avanços das tarefas de construção. Mostra-se
como, no mesmo espaço, convivem o trabalho das lavadeiras, com o dos pedreiros,
através dos sons das cantigas e dos martelos. Toda esta situação provoca, finalmente,
que “ As lavadeiras fugiram para o capinzal dos fundos, porque o pó da terra e da
madeira sujava-lhes a roupa lavada.” (OC: 132)
Concluídas as obras, o cortiço ficou realmente diferente. A descrição a seguir
mostra as mudanças ocorridas:
Mas o cortiço já não era o mesmo; estava muito diferente; mal dava idéia do que fora. O pátio, como João Romão havia prometido, estreitara-se com as edificações novas; agora parecia uma rua, todo calçado por igual e iluminado por três lampiões grandes simetricamente dispostos. Fizeram-se seis latrinas, seis torneiras de água e três banheiros. Desapareceram as pequenas hortas, os jardins de quatro a oito palmos e os imensos depósitos de garrafas vazias. À esquerda, até onde acabava o prédio do Miranda, estendia-se um novo correr de casinhas de porta e janela, e daí por diante, acompanhando todo o lado do fundo e dobrando depois para a direita até esbarrar no sobrado de João Romão, erguia-se um segundo andar, fechado em cima do primeiro por uma estreita e extensa varanda de grades de madeira, para a qual se subia por duas escadas, uma em cada extremidade. De cento e tantos, a numeração dos cômodos elevou-se a mais de quatrocentos; e tudo caiadinho e pintado de fresco; paredes brancas, portas verdes e goteiras encarnadas. (OC: 140)
Estas linhas manifestam o contraste entre o primeiro e o segundo cortiço, entre o que
se poderia dizer entre os diferentes níveis que atinge um organismo no seu
desenvolvimento. O cortiço poderia ser comparado a um organismo hermafrodito pela
reprodução dos quartos, dos pequenos cubículos. Mas, na verdade, o crescimento se
deve à ambição desmedida de seu dono. Se bem houve um crescimento no número de
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quartos não houve melhoras nas condições de salubridade. Isto, reflete-se na quantidade
de latrinas, torneiras e banhos que continua sendo escassa.
2.1. O zoomorfismo
Uma das características do naturalismo é a zoomorfização, isto é, a redução do
homem ao nível de animal que age de acordo com seus instintos.. É assim que os
moradores do cortiço, comparados com as formigas, moram num formigueiro. Da
mesma maneira que este, o cortiço proporciona proteção aos seus moradores. Mas os
residentes também cuidam do seu lar ante as possíveis invasões dos outros. Como no
caso, em que a policia tenta entrar, “De cada casulo espipavam homens armados de pau,
achas de lenha, varais de ferro. Um empenho coletivo os agitava agora, a todos, numa
solidariedade briosa, como se ficassem desonrados para sempre se a polícia entrasse ali
pela primeira vez. (OC: 82). Em vários trechos, foram comparadas as casinhas com o
casulo, isto é, o envoltório feito pelo bicho-de-seda. Mais uma vez, refere-se à
estalagem como um organismo e, portanto, caracterizam-se aos moradores como
insetos. Várias são as comparações com as diversas moradias dos animais. Como por
exemplo, o caso em que o Bruno conta que foi traído pela sua mulher, o narrador o
compara com o formigueiro. O marido não calou a traição da mulher, resolve
compartilhar o que acontecia, como se cada ação individual, privada repercutisse na
vida de todos os moradores- na verdade, todo o que rodeia o homem o determina. É
assim que o Bruno contou o acontecido e “O escândalo assanhou a estalagem inteira,
como um jato de água quente sobre um formigueiro...” (OC: 56)
2.2. O cortiço vs outras moradias
A habitação popular São Romão tem opositores: o sobrado do Miranda e
posteriormente, um outro cortiço “Cabeça-de-gato”. O primeiro apresenta algumas das
características que a estalagem vai revelar num futuro, enquanto que o segundo,
representa as mesmas condições que tem –num primeiro momento- a moradia coletiva
São Romão. É através dos pensamentos do dono que se caracteriza o outro cortiço como
uma “nova república da miséria” (OC: 98)
2.2.1. O Cortiço vs o sobrado
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Então, o primeiro adversário é o sobrado. A característica em comum é que tanto o
dono do sobrado quanto o da moradia coletiva são portugueses. Mas, esta característica
não os unifica, ao contrário, os distancia abismalmente dado que entre eles existe
primeiramente uma relação de desigualdade social e econômica. Esta situação pode ser
equiparada à apresentada pelas suas respectivas moradias. O Miranda, dono do sobrado,
pertence a um nível social superior ao João Romão. A moradia vertical que metaforiza a
ascensão social, se contrapõe com o cortiço desde a fachada e os seus materiais de
construção até a mobília. A habitação popular representa uma extensão, metáfora dos
seus moradores, os quais coincidem no seu nível social e que estão determinados a
continuar na mesma situação. A única personagem que vai conseguir reverter esta
situação é o dono do cortiço, João Romão movido pelo desejo de possuir dinheiro e,
posteriormente, poder e reconhecimento social.
O sobrado permite às personagens que nela moram ter um olhar por cima dos outros
através das suas janelas. Toda vez que se produzia algum acontecimento, os moradores
do sobrado apareciam nas janelas vendo os outros se divertirem ou brigarem como se
fosse um grande espetáculo circense.
2.2.2. O Cortiço vs Cabeça-de-Gato
O concorrente da estalagem São Romão é outro cortiço nomeado Cabeça-de-Gato.
Entre eles, se estabelecem uma espécie de competição, de rivalidade que pode ser
analisada de acordo as idéias do evolucionismo de Charles Darwin. Esta
conceitualização implica a lei do mais forte. Na obra é possível verificar duas situações
que refletem esse pensamento. De um lado, temos a exploração do homem pelo homem,
isto é, aquele abuso que realiza João Romão por sobre os moradores e, de outro lado , a
luta entre os cortiços do bairro. Contudo, a rivalidade entre os cortiços provoca nos seus
moradores, uma identidade comum. Esta situação se reflete, sobretudo, no momento de
dar apoio a um vizinho. Os “carapicus”, por exemplo, protegiam o‘Jerônimo’ enquanto
os “cabeças-de-gato”, o ‘Firmo’. A luta entre as duas estalagens, finalmente, deu-se
uma vez morto o capoeirista a mão do português ‘Jerônimo’. A estalagem São Romão já
se encontrava agitada pela briga entre ‘Rita Baiana’ e ‘Piedade’ por causa do marido
desta última. Mas, ao ouvirem os ‘carapicus’ que os outros se aproximavam,
imediatamente, formaram filas para defender a sua moradia. Contudo, o combate não
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chegou ao fim por causa do incêndio que principiava. Os carapicus tentavam apagar o
fogo, os outros empreenderam a retirada. Depois disto, não houve outra batalha entre os
dois cortiços. O efeito do fogo foi a transformação da estalagem. Converteu-se na
Avenida São Romão. Portanto, finalmente, vence, ao cortiço Cabeça-de-Gato e aos
outros do bairro.
A civilização da floresta
Ao longo do trabalho, pode se perceber que o cortiço, como espaço onde sucedem
quase a totalidade das ações tem um papel preponderante. É ele quem determina a vida
dos seus hospedes e também a do seu dono e dos seus vizinhos. Tudo o que sucede
ocorre condicionado pelos limites da estalagem. E, quando os acontecimentos sucedem
fora, as conseqüências destes atos repercutem no interior da estalagem.
É o cortiço quem condiciona os homens, é ao redor e por causa dele que se
estabelecem e desenvolvem várias das relações entre as personagens. Além disso, o
cortiço mantém necessariamente relações com outros espaços com os quais se
confronta, como no caso do sobrado e o cortiço Cabeça-de-gato, e com os que se
complementa, como a venda e a pedreira. Estas conexões são decorrentes do entretecido
social, cultural e econômico que vigorava nessa época. Considerando a outra habitação
popular e o sobrado, podemos pensar que eles representam, respectivamente, o ponto de
saída e de chegada do projeto de João Romão. O primeiro seria o início da estalagem,
onde o importante era juntar dinheiro, ou seja, o aspecto econômico. O negociante
português procurou, de todas as formas possíveis, economizar o dinheiro e os materiais
para a construção da fileira de casulos. Os lucros obtidos não o conformaram. A
competitividade com o Barão Miranda, fê-lo procurar um status social superior. Como
resultado das suas ambições, muda os seus costumes e, depois, todos os seus negócios e
a sua própria moradia. É assim que o seu lar fica, ainda, com mais luxo do que o
sobrado ao lado. Esta situação é decorrente, portanto, do seu desejo de transformar-se,
também, em barão.
Quanto à consideração do cortiço enquanto organismo, vemos que ele cresceu, se
desenvolveu e finalmente transformou-se. Isto, poderia ser considerado como a morte
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do cortiço dos trabalhadores da pedreira e das lavadeiras, enfim, dos pobres. A mudança
de inquilinos, por outro lado, demonstra a procura de um novo status social no qual não
há lugar para os antigos moradores. O desenvolvimento da estalagem com a sua
crescente ocupação do terreno representam, também, a proeminente urbanização da
cidade. Este processo implica a luta com a natureza, vencê-la e dominá-la. Já no final da
narrativa não há espaço para a grama e para a terra. Estas são substituídas pelo concreto.
Conseqüentemente, também, não há lugar para os trabalhadores que se relacionam com
o natural tal o caso das lavadeiras.
A comparação do cortiço com o formigueiro permite várias relações. De um lado,
podemos considerar que os seus moradores compartilham a característica de serem
trabalhadores. Por outro lado, os habitantes se comportam como insetos desnorteados ao
acontecer algum acontecimento imprevisto. Finalmente, as formigas invadem terrenos;
atitude semelhante é realizada, então, pelos diversos cortiços na cidade do Rio de
Janeiro.
O cortiço tem uma localização central dado que ele fica entre os espaços que
possibilitam a sobrevivência dos seus moradores. Não é por acaso está conformação, ele
antecede à pedreira e fica por trás da venda. Após o incêndio o comércio e a moradia
coletiva são transformados conforme a ascensão do dono enquanto que a pedreira
continua a mesma. Podemos pensar metaforicamente, que ele representa o processo de
modernização do Rio de Janeiro e, portanto, do Brasil. A pedreira representaria o
trabalho manual, a utilização da força enquanto que a venda, o comércio e a força do
dinheiro.
No percurso deste trabalho, observa-se como a estalagem é colocada em primeiro
plano como lugar coletivo em detrimento dos espaços individuais. Por causa disto,
temos a sua consideração como personagem. Além disso, o cortiço possui as
características do antropomorfismo: nasce, desenvolve-se e age como um ser humano.
Isto, conjuntamente com o determinismo que ele encarna, faz dele a personagem
principal desta narrativa.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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