a Deusa da praia
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Ficha Técnica
Título
A Deusa da Praia
Autores
Agrupamento de Escolas da Corga de Lobão
Ilustração
Alex Silva, 9ºA
Colecção
História de Roda 2
Coordenação
Biblioteca Escolar do Agrupamento de Escolas da Corga de Lobão
Edição
Agrupamento de Escolas da Corga de Lobão
Arranjo Gráfico
Anabela Santos
Impressão e Acabamento
Sinais Criativos, Lda
Tiragem
250 Exemplares
Data de edição, Local
Abril de 2011, Corga de Lobão
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-Nuncavialgotãofascinante!-suspirouosurfistadeolhosper-
didos no vazio.
De formas esbeltas, a juventude sobressaía do seu rosto e os seus
olhosclarosrevelavamasuapaixãopelomar.Enquantoouviaoreben-
tardasondas,oseucorporecortava-senopôr-do-soldohorizonte.
A adrenalina de sentir a força das ondas encantava-o,
como se fosse a primeira vez. Levado pela espontaneidade
doseuespíritorebelde,correuparaasuahumildecaba-
nademadeiraembuscadasuaprancha,acompanheira
das suas aventuras.
Tiago,hájámuitotempo,tinhatrocadoavidaagitadada
cidadepelacalmadaquelapraiadeserta.Etudoporamorao
surf…Quandoestavanomarnadamaislheinteressava,nem
sequerdavacontadashoraspassarem!
Adorava sentir o cheiro amaresia logo pelamanhã e ador-
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mecertodasasnoites,ouvindoobarulhodasondasabaternasrochas.
Tiago entrou na cabana, pegou na sua prancha e correu em di-
recção ao mar que, naquela tarde, estava especialmente azul
.
Surfoudurantehoras…sentindoosolaquei-
mar-lheorostoeaáguafriaemcontactocom
o seu corpo.
Quando, finalmente, se preparava para sair,
houvequalquercoisaquedespertouasuaat-
enção: viu um barco a aproximar-se da costa.
Admirou-se,poisnuncatinhavistoumbarco
tãogrande,decorestãoalegresebrilhantes.
Surfou até junto dele cortando as ondas estupendas. Sentia-se estafado e
ofegante.
Obarcoeramanejadoporumvelhodebarbascompridasquevestiaum
fato de comandante.
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Aoavistarojovemsurfista,ovelhocomandanteconvidou-oasubira
bordo, para comer uma bela mariscada.
Este aceitou, pois estava curiosíssimo para observar o interior do barco.
- Está bem, estou esfomeado. Uma mariscada
vemmesmoacalhar!...-disseorapaz.
- Entre e esteja à vontade. Maria, traz o almoço…
- gritou o comandante.
-Comqueentãoaviajarcomamulher.Ébaril.-
insinuou Tiago.
-Ah!?...Não,Mariaéaminhafilha.
Entretantoaraparigaentroueojovemficoubo-
quiaberto.Eralinda,
esbelta,tinhacabeloscordefogo,tezescuraegrandesolhosverdes.
Parecia uma alucinação…
Nesse momento, tocou o telemóvel… e Tiago acordou sobressaltado…
-Ohnão!Foisóumsonho!
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O telemóvel parou, deveria ser engano. Tiago espreguiçou-se, sentou-se
nabeiradacamaeviuquejáestavaatrasadoparaotrabalho,queficava
aalgunsquilómetrosdapraia.Vestiu-senumápice,pegounumapeça
de fruta emeteu-se a caminho. Foi buscar a suabicicleta e pedalou,
pedalou… Mas, azar dos azares, para além de ir atrasado, furou um
pneu!
-Nãoédestaquechegoaotrabalhoahoras!–desabafou.
Jácomabicicletapelamão,correutantoque,aofimdeumtempo,já
nemsentiaoseuprópriocorpo.Finalmente,chegouaoMuseuMunici-
pal,ondejádeviaterchegadohámuitotempo.Pousouabicicletaeen-
trouacorrer.ÀportaestavaoSr.Amaral,oseuchefe.OSr.Amaral,um
homemmuitosério,encaminhouTiagoparaoseuescritório.
-Outravezatrasado!?Elogohojequetinhasdefazerumavisitaguiada
a pessoas importantes!
-Mas…-tentouTiagoiniciarumajustificação.
-Nemmas,nemmeiomas!Estásdespedido!
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Tiago, cabisbaixo, saiu do museu. Para se animar, decidiu voltar à praia
erefugiar-senosurf.Passadoalgumtempo,qualnãofoioseuespanto
quandoviu,pertodaágua,umvultodeperfildominantequelhelem-
brou a jovem do seu sonho.Atónito, pousou a sua prancha e ficou
encantadocomaimagemquevislumbrava.
Deudoispassosemfrente,parasecertificarquenãoseriauma
miragem.Incrédulo,Tiagoesfregouosolhosediantedelesurgiuuma
mulherangélica,debraçosdelicados,rostocelestialeaspectomístico.
Nomomentoemqueseaproximavadela,umaintensaondaenvolveu-
anaimensidãodomar,paranãomaisaparecer,naqueledia.Perplexo
comosucedido,Tiagoatirou-seàágualutouincansavelmente,masem
vão,contraasondas,enquantoosúltimosraiosdosolpoenteilumina-
vam a praia..
Quando deitou a cabeça na almofada, não obstante o seu
cansaço, não conseguia deixar de pensar no sucedido, ansioso por vol-
tar à praia e retomar as suas buscas.
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Natardeseguinte,assimquepousouospésnaareia,nãoqueria
acreditarnoqueosseusolhosviam:eraamesmafiguraangelicaldo
diaanterior,que,destavez,lheacenavadelicadamentecomoseocha-
masse.
-Vem!Nãotenhasmedo…-disseela.
Tiago, hesitante, aproximou-se… e, a“Deusa da Praia”, como
Tiago a designou, diz:
-Olá!SouaEstrela,etu,quemés?
-EusouoTiago,umsurfista.Quefazestu,nestapraia,tãode-
serta?
-Eugostodeconhecersítiosparadisíacos–afirmouela–eesta
praia tem uma energia calma e serena…
-Éverdade!Vemdaí,queeuvoumostrar-temelhorestesítio…
De repente, veio uma onda, e Estrela voltou a
desaparecer.Tiago ficou confuso… e pensou:
“Seráqueelamedeixouafalarsozinho?”.Sem
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conseguir perceberaatitudedeEstrela,passeouàbeira-marnaquele
pôr-do-sol singular.
UmnovodiacomeçoueTiagofoilibertarasuaenergianomar,
apanhandoondaatrásdeonda,atrásdeonda…Aoregressaracasa,
voltaaverovultoda“DeusadaPraia”.Determinadoadescobriroque
sepassounodiaanterior,correunasuadirecçãoeperguntou-lhe:
-Oqueaconteceuontem?Porquemedeixastesozinho?
Estrelaficoupensativa,nãosabiacomocontaraTiagooqueelaerana
realidade.
-Sabes,Tiago,nãoéassimtãosimples.Oqueeutevou
dizervaiserdifícildecompreender,noentanto,aquivai…Eu
souumasereia,daíomeunomeserEstrela.Fugidecasade
meupaiporqueprecisavadeconhecersítiosnovos.Cada
vez queme vias, aproximava-se o pôr-do-sol,
e nós, sereias, temos
de voltar ao mar nesse
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momento.Desdeoamanheceratéaopôr-do-sol,podemosandaremterra.Depoisdisso,
transformamo-nos em sereias.
Tiago,incrédulo,nemqueriaacreditarnoqueestavaaouvir.Seriaverdade?Seriaum
sonho?Afinal,oqueéqueeraaquilo?
Estrelaapercebeu-sedasuaconfusãoedisse-lhe:
-Voltacáamanhãeexplico-tetudomuitomelhor,masaparecedemadrugadaparater-
mos mais tempo para falar.
Eleacenoucomacabeça,semtermuitanoçãodoqueestavaafazer.Depois,retomou
oseucaminhoparacasa.
No dia seguinte, voltou à praia, com intenção de saber a verdade acerca da sereia.
Comocombinado,chegoudemadrugada,masnãoaencontrou.Subitamente,quando
voltouosolhosemdirecçãoàsrochas,Estrelamirava-ocomumolharsedutor.
Tiagotentouaproximar-separasaberoqueEstrelalhetinhaprometidomas,aochegar
maisperto,elaesquivou-separaumaespéciedeportal,nofundodomar.
Então,envoltocomoqueporumanuvemdemagia,Estrelapegoudelicadamentenamão
deTiagoelevou-opelosconfinsdomar.Tiagoestavafascinadocomoquevia…
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Naquelelugarmaisafastadodapraia,aáguaeramaisazuletranspar-
ente.Corais,anémonas,algascoloridas,búzios,peixesdetodasascores
encantaram-no.
-Uau!Omardeslumbra-me!Asondas…todaestavidamefas-
cina - exclamou Tiago. Não posso viver afastado do mar!
-Esteéolugarondecostumoestar–disseasereia.
-Masdiz-me,comoconseguesserorahumana,orasereia?
-Não sei – respondeu Estrela.Quandoo sol se põe fico com
muitocalor,atiro-meàáguae tudoacontece.Aonascerdosol, sinto
faltadear,saioparaterraeficoassim.
-Járeparastequeambostemosumaatracçãopelomar?
Olharam-se e souberam que não podiam viver nem longe do
mar, nem longe um do outro. Tiago conseguiu emprego como guarda-
nocturno do Museu Municipal. Durante o dia surfava sob o olhar de Es-
trela que era a companheira ideal. À noite, também ela saia para o “seu
mundo”.